PRINCIPAIS DESAFIOS PARA A ENFERMAGEM NA SAÚDE MASCULINA 

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102025005110713


Ramires Cabral Dos Santos1; Aulina Da Silva Leão Santos2; Kassia De Araujo Silva3; Maria Da Conceição Kelly Noleto Da Silva4; Meike Andrade De Araújo5; Vivia Moreira Rodrigues6; Orientador: Pedro Henrique Rodrigues Alencar7


Resumo

A saúde masculina permanece como uma temática desafiadora no contexto da atenção básica, caracterizada pela baixa procura dos homens por serviços de saúde e pela limitada adesão às práticas preventivas. Tal comportamento está fortemente relacionado a construções socioculturais que vinculam o papel masculino à ideia de força, invulnerabilidade e resistência, o que leva muitos homens a negligenciarem sinais e sintomas importantes, retardando o cuidado com a própria saúde. Nesse cenário, a enfermagem exerce papel fundamental por estar diretamente associada à promoção da saúde, à prevenção de agravos e ao acolhimento da população masculina no sistema de saúde. Apesar da existência da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, os profissionais de enfermagem ainda enfrentam múltiplos desafios no atendimento a esse público, entre os quais se destacam a resistência dos próprios usuários ao cuidado, a carência de capacitação específica, a escassez de campanhas direcionadas e as limitações estruturais dos serviços de saúde. Compreender essas barreiras é essencial para desenvolver estratégias mais eficazes de aproximação, educação e humanização do cuidado. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo discutir os principais desafios da enfermagem na saúde masculina, com base na literatura científica recente e nas políticas públicas vigentes. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que busca analisar o papel da enfermagem frente aos obstáculos impostos à saúde do homem, considerando aspectos sociais, institucionais e culturais. Espera-se, com isso, contribuir para a ampliação do debate sobre a humanização da assistência, propor caminhos para o fortalecimento do cuidado e promover maior equidade no acesso e na atenção à saúde da população masculina. Os resultados esperados reforçam a importância da capacitação contínua e da adoção de abordagens mais sensíveis às particularidades do homem no campo da saúde.

Palavras-chave: Saúde do Homem. Enfermagem. Cuidado. Masculinidade. Estratégias de Assistência. 

Abstract

Men’s health remains a challenging issue within primary healthcare, marked by low male engagement with health services and limited adherence to preventive practices. This behavior is deeply influenced by sociocultural constructions that associate masculinity with strength, invulnerability, and resilience, leading many men to overlook important signs and symptoms and delay seeking healthcare. In this context, nursing plays a fundamental role, being directly involved in health promotion, disease prevention, and the welcoming of the male population within the healthcare system. Despite the existence of the Brazilian National Policy for Comprehensive Men’s Health Care, nursing professionals still face several challenges in providing care to men. Among these challenges are men’s resistance to care, the lack of specific professional training, the shortage of targeted health campaigns, and structural limitations within health services. Understanding these barriers is essential for developing more effective strategies for engagement, education, and the humanization of care. Therefore, this study aims to discuss the main challenges nursing professionals face in addressing men’s health, based on recent scientific literature and current public health policies. This is an integrative literature review that seeks to analyze the role of nursing in overcoming the obstacles to men’s health, taking into account social, institutional, and cultural aspects. The objective is to contribute to broadening the debate on the humanization of care, suggest ways to strengthen nursing practices, and promote greater equity in access and attention to men’s health. The expected results highlight the need for ongoing professional training and the adoption of approaches that are more sensitive to the specificities of men within the healthcare field.

Keywords: Men’s Health. Nursing. Care. Masculinity. Care Strategies.

1 INTRODUÇÃO

A saúde masculina tem sido reconhecida como uma questão de saúde pública em âmbito global, devido às disparidades nos indicadores de morbimortalidade entre homens e mulheres. Estudos indicam que os homens apresentam maior propensão a doenças crônicas, comportamentos de risco e menor adesão a práticas preventivas, resultando em uma expectativa de vida inferior à das mulheres (World Health Organization, 2020). No Brasil, essa realidade é ainda mais acentuada, com os homens buscando os serviços de saúde, em média, 30% menos que as mulheres, o que contribui para diagnósticos tardios e maior gravidade nos quadros clínicos (Ministério da Saúde, 2021).​

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), instituída em 2009, representa um marco na tentativa de reverter esse cenário. Seu objetivo é promover ações de saúde que considerem as especificidades masculinas em seus diversos contextos socioculturais, visando aumentar a expectativa de vida e reduzir os níveis de morbimortalidade dessa população (Brasil, 2009). Apesar dos avanços, a implementação efetiva da PNAISH enfrenta desafios, como a invisibilidade da política nos serviços de saúde e a necessidade de reorganização da atenção básica para incorporar suas diretrizes (Silva & Alves, 2024).​

A construção social da masculinidade, associada à ideia de força, invulnerabilidade e resistência, contribui para a negligência dos homens em relação à própria saúde. Essa perspectiva cultural dificulta a adoção de comportamentos preventivos e a busca por cuidados médicos, perpetuando padrões que impactam negativamente a saúde masculina (Brandão et al., 2025). É fundamental compreender essas barreiras socioculturais para desenvolver estratégias eficazes de promoção da saúde voltadas para os homens.​

A equipe multiprofissional, especialmente os profissionais de enfermagem, desempenha um papel crucial na promoção da saúde masculina. A enfermagem está diretamente envolvida na promoção do cuidado, prevenção de agravos e acolhimento da população masculina no sistema de saúde. No entanto, os profissionais enfrentam desafios como a resistência dos próprios homens ao cuidado, a falta de capacitação específica e as limitações estruturais dos serviços de saúde (Sousa et al., 2021).​

A atuação da enfermagem na atenção à saúde do homem exige uma abordagem sensível às especificidades masculinas e às construções sociais de gênero. É necessário desenvolver competências que permitam aos profissionais identificar e enfrentar as barreiras que impedem os homens de acessar e utilizar os serviços de saúde de forma adequada (Leal et al., 2025). Além disso, a integração de ações intersetoriais e a promoção de ambientes acolhedores são estratégias fundamentais para melhorar o acesso dos homens aos cuidados de saúde.​

A atualização da PNAISH em 2021 buscou ampliar o acesso dos homens aos serviços de Atenção Primária à Saúde, integrando as ações de saúde do homem à assistência dos demais ciclos de vida e incluindo eixos temáticos como acesso e acolhimento, prevenção de violência e acidentes, sexualidade responsável e planejamento familiar, paternidade e cuidado, e doenças prevalentes na população masculina (Ministério da Saúde, 2021). Essas mudanças visam promover a integralidade do cuidado e o autocuidado dos homens, com foco na APS e nas demais Redes de Atenção à Saúde.​

Além da enfermagem, a atuação integrada da equipe multiprofissional – composta por médicos, psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas e outros profissionais – é essencial para garantir uma abordagem integral à saúde do homem. A diversidade de saberes permite uma compreensão mais ampla das necessidades dessa população, superando visões fragmentadas do cuidado. A articulação entre os diferentes níveis de atenção à saúde e a atuação em rede contribuem significativamente para a efetividade das políticas públicas e para a promoção de um cuidado mais humanizado e resolutivo (Pereira et al., 2023). O trabalho em equipe favorece a criação de estratégias específicas que considerem o contexto social, econômico e cultural dos homens, além de potencializar a adesão às práticas de saúde.

Nesse sentido, a educação em saúde se apresenta como ferramenta central na mudança de comportamento e na desconstrução de estigmas relacionados à masculinidade e ao autocuidado. Campanhas educativas, rodas de conversa, ações em ambientes de trabalho e escolas, além de atividades voltadas à paternidade ativa, são estratégias potentes de sensibilização da população masculina. Essas ações permitem o diálogo sobre saúde de forma acessível e acolhedora, contribuindo para a construção de novos modelos de masculinidade que valorizem o cuidado consigo e com os outros (Mendes & Carvalho, 2022). É fundamental, portanto, investir na formação de profissionais preparados para conduzir essas práticas educativas e fortalecer o vínculo entre usuários e serviços de saúde.

Diante desse contexto, este estudo justifica-se pela necessidade de compreender os desafios enfrentados pela enfermagem na atenção à saúde do homem, considerando as especificidades socioculturais e institucionais que impactam a efetividade das ações propostas pela PNAISH. O objetivo é analisar os principais obstáculos e propor estratégias que contribuam para a ampliação do debate sobre a humanização do cuidado, o fortalecimento da assistência e a garantia de maior equidade no acesso e na atenção à saúde da população masculina.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A construção sociocultural da masculinidade e seus impactos na saúde do homem

A construção da masculinidade, ao longo do tempo, moldou comportamentos que influenciam negativamente o cuidado com a saúde entre os homens. Desde a infância, a valorização da força, da autonomia e da negação da vulnerabilidade consolida um padrão que distancia o público masculino dos serviços de saúde (Connell, 1995). Esse modelo cultural hegemônico reforça a ideia de que buscar ajuda médica representa sinal de fraqueza.

Na idade adulta, esses comportamentos se consolidam, resultando em uma procura tardia pelos serviços e negligência com práticas preventivas. Isso contribui para o diagnóstico tardio de doenças crônicas e o aumento da mortalidade por causas evitáveis (Silva et al., 2021). A baixa adesão às consultas de rotina agrava a situação, impactando diretamente nos indicadores de saúde pública.

Dados da Organização Pan-Americana da Saúde revelam que, nas Américas, os homens vivem em média sete anos a menos do que as mulheres, resultado de práticas que desvalorizam o autocuidado (OPAS, 2019). No Brasil, o IBGE aponta que essa diferença persiste, com expectativa de vida masculina inferior à feminina (IBGE, 2022). 

A atuação da enfermagem nesse cenário é estratégica para transformar essa realidade. O enfermeiro tem papel central na promoção da saúde e prevenção de doenças, adotando abordagens que considerem os determinantes sociais da saúde e o contexto de gênero (Waldow, 2009). A escuta qualificada e o acolhimento humanizado são ferramentas fundamentais.

Apesar dos avanços na formulação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, os desafios persistem, especialmente quanto à formação profissional e às resistências institucionais (Gomes et al., 2011). A falta de preparo da equipe para lidar com as especificidades do público masculino limita a efetividade das políticas públicas.

Outro fator preocupante é a saúde mental dos homens, marcada por altas taxas de suicídio e baixa procura por apoio psicológico. Dados do DataSUS (2021) indicam que 79% dos suicídios registrados envolvem homens, o que reforça a urgência de práticas que considerem a subjetividade e o sofrimento psíquico dessa população (OMS, 2021).

O cuidado de enfermagem precisa integrar a perspectiva de gênero às práticas cotidianas, rompendo com padrões excludentes e promovendo a equidade. Segundo Schraiber (2010), a compreensão das desigualdades estruturais que afetam os homens é essencial para a construção de um cuidado mais justo e eficiente.

Há, ainda, um vácuo na formação acadêmica dos profissionais, com pouca ênfase em saúde masculina e questões de gênero nos currículos. Lima et al. (2020) destacam a necessidade de capacitação específica, a fim de garantir uma abordagem qualificada e sensível às necessidades dos homens.

A interseccionalidade também deve ser considerada, uma vez que homens negros, LGBTQIA+ e em situação de vulnerabilidade social enfrentam múltiplas barreiras no acesso à saúde. Práticas de enfermagem comprometidas com a justiça social devem reconhecer essas camadas de opressão (Silva & Oliveira, 2022).

 A construção social da masculinidade influencia diretamente a forma como os homens lidam com suas condições de saúde e buscam serviços médicos. Muitos homens se distanciam de práticas preventivas, como consultas regulares e exames de rotina, devido a pressões culturais que associam a saúde à fragilidade e à vulnerabilidade (Connell, 1995). 

A resistência à ideia de “não ser fraco” muitas vezes resulta em diagnósticos tardios e tratamentos ineficazes, prejudicando a saúde física e mental dos homens (Silva et al., 2021).Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021), a ideologia da masculinidade está relacionada ao aumento da morbimortalidade masculina. 

A tendência a buscar ajuda apenas quando as condições se tornam graves contribui para o aumento da incidência de doenças como câncer e doenças cardiovasculares. Isso é exacerbado por comportamentos de risco frequentemente associados à ideia de virilidade, como o consumo excessivo de álcool e o desrespeito à necessidade de descanso (OPAS, 2019).

Além dos fatores físicos, a construção social de gênero também impacta a saúde mental dos homens. A cultura da masculinidade dificulta a expressão de emoções, o que pode levar a quadros depressivos e ao aumento das taxas de suicídio entre homens, como evidenciado pelo DataSUS (2021). No Brasil, os homens representam 79% dos casos de suicídio registrados, um dado alarmante que exige uma resposta integrada da saúde pública, especialmente na atuação de enfermagem, que pode atuar de forma preventiva e terapêutica (DataSUS, 2021).

Em relação à enfermagem, o profissional deve compreender o contexto cultural e social dos homens para promover um cuidado mais efetivo. A escuta ativa e o acolhimento sem julgamentos são essenciais para criar uma relação de confiança, facilitando o acesso dos homens ao cuidado preventivo. A adoção de práticas que respeitem a subjetividade e a vivência masculina é fundamental para quebrar barreiras culturais e oferecer cuidado de qualidade (Schraiber, 2010).

Com isso, o ambiente social em que o homem está inserido reforça práticas prejudiciais à saúde, como o consumo abusivo de álcool e a exposição a riscos. A Pesquisa Nacional de Saúde aponta que os homens são os que mais resistem à mudança de hábitos (PNS, 2019). O enfermeiro deve, portanto, adotar abordagens educativas que respeitem o universo masculino e incentivem o cuidado de forma acolhedora (Schraiber et al., 2010).

2.2 A resistência masculina ao cuidado e seus reflexos na prática da enfermagem

A resistência masculina ao cuidado em saúde é resultado de construções históricas e culturais que associam o autocuidado à fragilidade e à perda da virilidade. Muitos homens internalizam a ideia de que buscar atendimento médico é um sinal de fraqueza, o que compromete o vínculo com os serviços de saúde. Segundo Schraiber et al. (2010), a construção social da masculinidade está diretamente relacionada à negação da vulnerabilidade e ao afastamento de práticas preventivas.

A masculinidade hegemônica valoriza a força, a autonomia e o silêncio diante da dor, dificultando a aceitação do papel de paciente. Courtenay (2000) aponta que, para muitos homens, cuidar da saúde é visto como um comportamento “feminino”, o que os leva a evitar consultas, exames e o diálogo com profissionais de saúde, incluindo os da enfermagem.

Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS, 2019) indicam que apenas 63% dos homens realizaram ao menos uma consulta médica no último ano, frente a 75% das mulheres. Essa disparidade se intensifica nas faixas etárias economicamente ativas, onde o trabalho é frequentemente utilizado como justificativa para a ausência. Segundo Gomes et al. (2011), o modelo de masculinidade produtiva afasta os homens das práticas de cuidado.

Essa baixa adesão resulta em diagnósticos tardios e aumento da morbimortalidade por causas evitáveis, como hipertensão, diabetes e câncer de próstata. Waldow (2009) ressalta que a enfermagem enfrenta limitações no cuidado quando os usuários chegam tardiamente, o que compromete o êxito das intervenções.

A própria estrutura dos serviços de saúde também contribui para o afastamento do homem. Ambientes pouco acolhedores e horários inflexíveis dificultam o acesso. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2017), a PNAISH destaca a necessidade de reorganizar os serviços para dialogar com as especificidades masculinas, tarefa que envolve diretamente os profissionais de enfermagem.

O acolhimento é um dos principais instrumentos da enfermagem para enfrentar essa resistência. Ayres (2004) enfatiza que o cuidado humanizado parte do reconhecimento das subjetividades dos usuários, o que exige uma escuta qualificada e empatia, especialmente com públicos que demonstram maior recusa ao cuidado, como os homens.

A saúde mental é um campo onde a resistência masculina se manifesta com mais intensidade. Muitos homens relutam em falar sobre sofrimento psíquico, o que dificulta o diagnóstico e a adesão ao tratamento. Segundo a OMS (2021), embora a prevalência de depressão seja maior entre as mulheres, os homens lideram as estatísticas de suicídio, o que aponta para um grave problema de subnotificação e negligência.

Mesmo quando iniciam o atendimento, muitos homens não retornam às consultas, o que enfraquece a continuidade do cuidado. Schraiber et al. (2010) destacam que a descontinuidade compromete a efetividade das ações de promoção à saúde e exige da enfermagem estratégias como busca ativa, educação em saúde e comunicação contínua.

A forma como as informações de saúde são comunicadas também influencia a adesão masculina. Linguagens técnicas e abordagens moralistas tendem a afastar esse público. Gomes et al. (2011) defendem que a enfermagem deve adaptar suas práticas comunicativas para construir vínculos mais efetivos com os homens, respeitando suas vivências e valores.

Fatores sociais e regionais também impactam na resistência ao cuidado. Homens em situação de rua, em zonas rurais ou em contextos de vulnerabilidade enfrentam ainda mais barreiras. Schraiber et al. (2010) indicam que a territorialização do cuidado e a escuta qualificada são estratégias fundamentais para o alcance e adesão desses grupos.

As ações educativas em saúde, quando levadas a espaços alternativos, podem contribuir para a aproximação do homem aos serviços. Palestras, oficinas e rodas de conversa em locais como igrejas, empresas e associações esportivas têm mostrado bons resultados. Segundo Gomes et al. (2011), essas práticas ampliam o alcance da enfermagem e ressignificam o papel do homem como sujeito do cuidado.

A formação dos profissionais de saúde também deve contemplar a saúde do homem de forma mais consistente. Lima et al. (2020) observam que a falta de preparo específico compromete a atuação da enfermagem, dificultando a implementação de estratégias sensíveis às questões de gênero e à masculinidade.

A exclusão histórica do homem das políticas públicas de saúde é um fator estrutural da resistência ao cuidado. Por muito tempo, a atenção esteve centrada na mulher e na criança, marginalizando as demandas masculinas. Conforme Schraiber et al. (2010), esse histórico ainda reflete nas práticas profissionais e na ausência de políticas de equidade em saúde.

As campanhas de saúde voltadas ao público masculino, como o Novembro Azul, ainda carecem de maior visibilidade e engajamento. Santos e Silva (2017) apontam que a enfermagem pode assumir o protagonismo na promoção dessas iniciativas, tornando-se multiplicadora de informações e estratégias educativas nos territórios.

A construção de um novo modelo de atenção que inclua o homem como sujeito ativo do cuidado é um desafio e uma oportunidade para a enfermagem. Ayres (2004) afirma que o cuidado integral deve considerar as dimensões subjetivas do usuário, o que exige práticas inovadoras e acolhedoras, especialmente no trato com a população masculina.

Os impactos da resistência ao cuidado vão além do indivíduo, afetando as famílias e a saúde coletiva. A ausência de prevenção e acompanhamento regular gera sobrecarga no sistema e agravos evitáveis. Segundo Lima et al. (2020), investir na capacitação da enfermagem e na inclusão efetiva do homem nas políticas públicas de saúde é uma estratégia essencial para a promoção da equidade e da justiça social.

2.3 Atuação da enfermagem na prevenção de doenças prevalentes entre os homens  

A prevenção em saúde é uma das principais estratégias para reduzir os índices de morbimortalidade e promover qualidade de vida. No contexto da saúde masculina, a atuação da enfermagem assume um papel essencial na identificação precoce de riscos e na implementação de ações educativas, com foco em doenças que mais afetam a população masculina, como hipertensão, diabetes mellitus, doenças cardiovasculares, câncer de próstata, infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e transtornos mentais (BRASIL, 2008). 

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma das doenças crônicas não transmissíveis mais prevalentes entre os homens brasileiros. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2020), cerca de 24,5% dos homens adultos relataram diagnóstico de hipertensão. A enfermagem pode atuar na detecção precoce e no monitoramento da pressão arterial, além de fornecer orientações sobre estilo de vida saudável e uso correto da medicação, elementos centrais para a prevenção de complicações como acidente vascular cerebral e infarto agudo do miocárdio (FERREIRA et al., 2019).

O diabetes mellitus tipo 2 também apresenta alta prevalência entre homens, especialmente entre 40 e 60 anos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, 2021). O enfermeiro, neste contexto, atua na triagem, acompanhamento dos níveis glicêmicos e orientação sobre hábitos alimentares, prática de exercícios físicos e adesão terapêutica. De acordo com Silva et al. (2022), essas ações são fundamentais para evitar complicações como neuropatias, retinopatia diabética e doenças cardiovasculares.

Em relação ao câncer de próstata, o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2022) estima mais de 70 mil novos casos ao ano, sendo o segundo tipo mais frequente entre homens. A enfermagem desempenha um papel fundamental na orientação quanto à importância do exame de PSA e do toque retal, muitas vezes cercados de estigmas e tabus. Para Costa et al. (2020), a atuação do enfermeiro contribui para a desmistificação do exame e facilita o acesso dos homens ao rastreamento precoce.

As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como sífilis e HIV, têm crescido de forma preocupante entre homens, particularmente jovens. O Ministério da Saúde (2022) aponta um aumento de 32% nos casos de sífilis entre 2016 e 2021. A enfermagem pode promover testagem rápida, aconselhamento e ações educativas, inclusive em locais de grande circulação masculina. Segundo Gomes et al. (2021), intervenções realizadas fora do ambiente tradicional de saúde aumentam a eficácia das estratégias preventivas.

No que tange à saúde mental, é notório o subdiagnóstico entre homens. Embora a prevalência de depressão seja maior entre mulheres, os homens apresentam taxas mais elevadas de suicídio, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021). A enfermagem tem papel essencial na escuta ativa e na identificação precoce de sinais de sofrimento psíquico. De acordo com Ayres (2004), o acolhimento empático é uma ferramenta eficaz para promover o cuidado em saúde mental na atenção primária.

Alimentação inadequada e sedentarismo são fatores de risco amplamente presentes entre os homens. Segundo estudo de Lima et al. (2021), a enfermagem pode intervir por meio de ações educativas que promovam hábitos saudáveis, como oficinas de culinária, campanhas de incentivo ao esporte e aconselhamento individualizado. Essas ações colaboram para a prevenção de doenças crônicas e contribuem para a qualidade de vida da população masculina.

A vacinação ainda enfrenta resistência por parte de muitos homens, especialmente adultos e idosos. Conforme o Ministério da Saúde (2022), a adesão às campanhas de vacinação contra hepatite B, tétano, febre amarela e HPV ainda é inferior entre os homens. A enfermagem tem papel central na atualização do calendário vacinal e na sensibilização para a importância da imunização, como destaca Pereira et al. (2020), principalmente durante campanhas como o Novembro Azul.

A saúde sexual e reprodutiva masculina segue sendo um campo pouco explorado nos serviços de saúde. A enfermagem pode atuar promovendo rodas de conversa e atendimentos educativos sobre o uso de preservativos, planejamento familiar, prevenção de disfunções sexuais e a realização da vasectomia. Segundo Moreira et al. (2019), a abordagem educativa contribui para o empoderamento do homem e para o cuidado integral em todas as fases da vida.

A prevenção de agravos ocupacionais é outra frente importante de atuação da enfermagem. De acordo com Souza e Mendonça (2018), campanhas em empresas, orientação sobre uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) e a vigilância da saúde do trabalhador são formas eficazes de prevenir doenças e acidentes de trabalho. O enfermeiro do trabalho, nesse cenário, é um agente estratégico na promoção de ambientes laborais mais seguros.

No ambiente da atenção primária, o acolhimento humanizado realizado pela enfermagem é crucial. Segundo Ayres (2004), o vínculo entre profissional e usuário é um dos fatores determinantes para a eficácia das ações preventivas. Quando o homem se sente respeitado e ouvido, há maior adesão ao cuidado, retorno às consultas e participação em programas de saúde.

A abordagem sindrômica, como modelo de atendimento inicial em situações de queixas inespecíficas, também faz parte da prática preventiva. Para Queiroz et al. (2021), a sistematização da assistência de enfermagem (SAE) possibilita um planejamento individualizado, respeitando as particularidades e demandas do público masculino, o que contribui para o sucesso terapêutico.

O uso de tecnologias em saúde é uma estratégia promissora para alcançar os homens com informações de prevenção. De acordo com Santos et al. (2022), aplicativos, vídeos, podcasts e mensagens de texto personalizados podem ser utilizados pela enfermagem como instrumentos educativos, ampliando o alcance e a eficácia das ações de promoção da saúde.

A atuação intersetorial é outro eixo importante na prevenção. Parcerias com escolas, igrejas, empresas e instituições comunitárias permitem que as ações cheguem aos homens que não frequentam os serviços de saúde. Para Oliveira et al. (2020), essas articulações favorecem o acesso à informação e fortalecem a rede de apoio e cuidado.

A participação da enfermagem na elaboração de protocolos e políticas voltadas à saúde do homem também é essencial. Conforme Lima et al. (2020), a inclusão da perspectiva de gênero nos protocolos garante maior adequação às necessidades masculinas e fortalece o papel do enfermeiro como protagonista da promoção do cuidado integral.

Assim, a valorização do trabalho da enfermagem é fundamental para ampliar o impacto das ações preventivas. Segundo Silva e Lima (2021), é necessário investir em capacitação, reconhecimento profissional e estrutura de trabalho para que os enfermeiros atuem com excelência. A promoção da saúde do homem depende, em grande parte, do fortalecimento da atuação da enfermagem nos diversos níveis de atenção.

2.4 A importância da abordagem humanizada na assistência à saúde do homem

A humanização da assistência em saúde é uma diretriz central das políticas públicas brasileiras desde a criação da Política Nacional de Humanização (PNH) em 2003, que propõe um cuidado centrado na dignidade do sujeito, reconhecendo sua singularidade, contexto e direitos (BRASIL, 2003). No caso da saúde masculina, a abordagem humanizada torna-se ainda mais necessária diante da cultura da masculinidade hegemônica, que fragiliza o vínculo dos homens com os serviços de saúde e com o próprio autocuidado (COSTA et al., 2013).

A prática humanizada na enfermagem ultrapassa a técnica e exige uma postura ética, empática e atenta à integralidade do ser humano. Conforme Ayres (2004), a humanização é uma atitude ética que reconhece o outro como sujeito de direitos, com histórias, sentimentos e necessidades singulares. Essa escuta sensível, quando aplicada à população masculina, ajuda a desconstruir o estigma de invulnerabilidade, facilitando o acolhimento e o vínculo terapêutico.

Homens, geralmente, procuram os serviços de saúde apenas em situações de urgência, o que torna esses encontros oportunidades críticas para intervenção. Um enfermeiro com postura acolhedora pode influenciar diretamente na percepção do cuidado e no engajamento do usuário. Estudos como os de Schraiber et al. (2010) reforçam que o acolhimento e a escuta qualificada são determinantes para que os homens permaneçam no cuidado e não abandonem o tratamento.

Nesse sentido, a escuta ativa é fundamental. Dar espaço para que o homem expresse medos e dores sem julgamento fortalece o vínculo e favorece uma compreensão ampliada do cuidado. Para Schraiber, Figueiredo e Gomes (2010), essa abordagem permite a criação de uma relação terapêutica que rompe com estereótipos de gênero e incentiva o protagonismo do paciente na sua própria saúde.

É essencial que a assistência humanizada considere os contextos sociais dos homens. Aqueles em situação de rua, pobreza extrema ou privados de liberdade enfrentam múltiplas barreiras e preconceitos. A enfermagem deve atuar com equidade, promovendo um cuidado ajustado à realidade de cada sujeito (CAMPOS; FERRAZ; ARAÚJO, 2019). O reconhecimento dessas desigualdades contribui para um atendimento mais justo e efetivo.

O acolhimento, conforme Merhy (2002), deve ser entendido como uma postura contínua e não como um momento pontual do atendimento. Desde a entrada no serviço até o acompanhamento após a consulta, é papel da enfermagem garantir que o usuário masculino se sinta respeitado, seguro e orientado durante toda a trajetória de cuidado.

A humanização também se manifesta nas ações educativas em saúde. Quando realizadas com linguagem acessível, respeito à cultura local e sem imposições, essas ações fortalecem a autonomia do homem no processo de autocuidado (FREIRE, 1983). A enfermagem tem um papel estratégico na mediação entre o conhecimento técnico e os saberes populares, promovendo educação em saúde que transforma realidades.

A empatia é outro elemento-chave para o cuidado humanizado. Colocar-se no lugar do outro permite que o enfermeiro compreenda, por exemplo, o impacto emocional de diagnósticos como câncer de próstata ou transtornos sexuais e mentais. Para Silva et al. (2020), a empatia é uma competência relacional indispensável para o cuidado eficaz e centrado na pessoa.

O ambiente físico também deve ser pensado sob a ótica da humanização. Falta de privacidade, salas de espera superlotadas e ausência de materiais educativos específicos para o público masculino são fatores que desencorajam a busca por atendimento. Segundo Lima e Fernandes (2017), a ambiência acolhedora é um componente do cuidado que influencia diretamente a percepção de qualidade do serviço.

O respeito à identidade de gênero e à orientação sexual é outro aspecto central da abordagem humanizada. Homens trans e homossexuais, por exemplo, enfrentam ainda mais barreiras e discriminações no sistema de saúde. A atuação ética da enfermagem deve garantir o uso do nome social, linguagem inclusiva e práticas livres de preconceitos, conforme recomendação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2020).

A formação profissional é um fator decisivo. A inclusão de conteúdos sobre humanização e saúde do homem nos currículos da graduação em enfermagem é fundamental para que o futuro profissional esteja preparado para um cuidado crítico, sensível e ético (SANTOS; VIEIRA; MELO, 2021). A construção de um olhar ampliado desde a formação fortalece práticas centradas no sujeito.

Experiências bem-sucedidas demonstram que unidades de saúde com horários flexíveis, ações educativas específicas para homens e foco na escuta ativa conseguem maior adesão desse público. Segundo Oliveira et al. (2018), essas estratégias tornam o serviço mais acessível e contribuem para o aumento na procura espontânea por atendimento.

A abordagem humanizada também contribui para a integração do trabalho em equipe. Quando todos os profissionais compartilham uma visão de cuidado centrado na pessoa, os resultados são mais efetivos e satisfatórios tanto para os usuários quanto para os trabalhadores da saúde (BARROS; BENEVIDES, 2011). A enfermagem, por sua inserção contínua no cuidado, pode liderar esse processo transformador.

O vínculo entre usuário e serviço é fortalecido por atitudes humanizadas. Um atendimento respeitoso e acolhedor aumenta as chances de retorno e adesão ao tratamento. Como afirma Cecílio (2009), o vínculo é um recurso terapêutico poderoso, capaz de qualificar o cuidado e promover autonomia.

Além disso, o cuidado humanizado tem impactos positivos sobre a autoestima e a percepção de bem-estar dos homens. Ser tratado com dignidade e escutado sem preconceitos contribui para que o sujeito se perceba como protagonista do seu processo de saúde e adoecimento (GOMES; NASCIMENTO; REIS, 2007).

Dessa forma, é importante ressaltar que a humanização não deve ser entendida como uma escolha individual, mas como um imperativo das políticas públicas de saúde. Para que essa abordagem se consolide, é necessário investimento em estrutura, formação, valorização dos profissionais e, principalmente, reconhecimento da enfermagem como agente central na promoção de um cuidado ético, integral e transformador (BRASIL, 2003; WHO, 2018).

2.5 A formação profissional da enfermagem frente às demandas da saúde masculina

A formação em enfermagem é essencial para a construção de um cuidado qualificado e ético. Contudo, no que diz respeito à saúde masculina, ainda existem lacunas nos currículos acadêmicos. A saúde do homem é frequentemente tratada de forma superficial, enquanto a saúde da mulher e da criança recebe maior atenção (Lima et al., 2020).

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) propõe a inclusão da temática nos currículos, mas sua implementação nas universidades ainda é incipiente. Segundo Lima et al. (2020), muitos cursos de enfermagem não abordam adequadamente as questões de gênero e os impactos da masculinidade nas práticas de cuidado.

Além disso, a saúde do homem é frequentemente abordada de forma biomédica, focando em doenças urológicas e reprodutivas. Essa abordagem negligencia os determinantes sociais da saúde, como identidade de gênero e relações sociais, que são cruciais para entender as barreiras enfrentadas pelos homens no acesso ao cuidado (Lima et al., 2020).

A formação crítica deve ser uma prioridade nos cursos de enfermagem. A reflexão sobre desigualdades de gênero, raça e classe sociais é essencial para que os futuros profissionais compreendam a complexidade das demandas da saúde masculina. A comunicação eficaz, a empatia e a sensibilidade cultural também devem ser desenvolvidas para promover um cuidado mais equitativo (Lima et al., 2020).

A saúde do homem precisa ser inserida nas disciplinas de saúde pública e atenção primária. As universidades devem criar oportunidades de extensão e pesquisa voltadas para a população masculina, fortalecendo o compromisso ético dos estudantes com essa área de saúde (Lima et al., 2020).

A formação continuada também é necessária para os profissionais que se formaram antes da PNAISH. Cursos de atualização podem ser importantes para os enfermeiros que não receberam formação sobre saúde do homem, garantindo que se mantenham atualizados com as diretrizes mais recentes (Lima et al., 2020).

Além das competências clínicas, os profissionais de enfermagem precisam desenvolver habilidades relacionais para lidar com as resistências e estigmas associados à busca dos homens por cuidados em saúde. Estratégias de ensino, como simulações realísticas, são eficazes para aprimorar essas competências (Lima et al., 2020).

A presença de docentes capacitados na temática da saúde masculina é fundamental. Professores que abordam o tema com criticidade e atualização científica ajudam a formar profissionais mais preparados para os desafios da saúde do homem (Lima et al., 2020).

A formação em enfermagem deve abordar a diversidade sexual e as masculinidades para melhorar a qualidade do atendimento prestado a homens gays, bissexuais, trans e não binários, que frequentemente enfrentam preconceito nos serviços de saúde. A inclusão de conteúdos sobre direitos humanos e diversidade é crucial (Lima et al., 2020).

Os estágios curriculares devem proporcionar vivências práticas com diferentes perfis de homens, estimulando a reflexão crítica e o compromisso ético com a saúde masculina. A integração com a comunidade também amplia a compreensão dos estudantes sobre as necessidades e desafios desse público (Lima et al., 2020).

A formação interprofissional é outro ponto importante, pois o cuidado à saúde do homem exige articulação entre diferentes profissionais. A enfermagem, com sua visão holística, deve liderar esses processos (Lima et al., 2020).

Metodologias ativas no ensino, como aprendizagem baseada em projetos, podem promover maior envolvimento dos estudantes com a saúde do homem. Tais estratégias aproximam os alunos da realidade social dos usuários (Lima et al., 2020).

A construção de materiais educativos elaborados pelos estudantes sobre saúde do homem pode fortalecer o acervo de recursos dos serviços de saúde. Essas atividades também incentivam a criatividade e o pensamento crítico (Lima et al., 2020).

As diretrizes curriculares nacionais precisam ser constantemente atualizadas para garantir que a saúde do homem tenha o espaço adequado nos currículos de enfermagem. A saúde masculina deve ser abordada de forma transversal e integrada aos conteúdos curriculares (Lima et al., 2020).

Outrossim, a formação da enfermagem deve se comprometer com um cuidado que respeite a singularidade de cada sujeito, promovendo acesso universal e equidade. Reconhecer os direitos à saúde dos homens é fundamental para o fortalecimento da prática da enfermagem nesse campo (Lima et al., 2020).

2.6 Propostas e estratégias da enfermagem para ampliar o acesso dos homens aos serviços de saúde

A ampliação do acesso dos homens aos serviços de saúde exige mudanças na organização do sistema, qualificação das equipes e transformação na cultura de cuidado. A enfermagem, pela sua presença constante nos serviços de saúde, desempenha um papel estratégico na implementação de estratégias que rompam com as barreiras que afastam os homens do cuidado.. A implementação de horários alternativos, como atendimentos noturnos ou nos finais de semana, facilita o acesso masculino (Oliveira et al., 2019).

Outra estratégia eficaz é a busca ativa de homens no território, especialmente por meio das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF). O enfermeiro, em parceria com o agente comunitário de saúde, pode mapear os locais de maior circulação de homens e planejar ações educativas e de triagem nesses espaços (Lima et al., 2020). Isso ajuda a promover a aproximação entre os profissionais de saúde e os homens, além de estimular a adesão ao cuidado preventivo.

A reformulação das campanhas de saúde também é essencial. O Novembro Azul, por exemplo, deve abordar temas como saúde mental, alimentação saudável e prevenção de doenças, além do câncer de próstata. A enfermagem pode liderar essas campanhas, produzindo materiais educativos e organizando eventos comunitários (Santos, 2018).

A criação de grupos de homens nas unidades de saúde é uma proposta importante. Esses grupos podem promover o fortalecimento de vínculos e reduzir o estigma associado à busca por cuidados. Segundo Oliveira et al. (2019), a participação em grupos educativos e terapêuticos favorece a troca de experiências e a adesão a práticas de autocuidado.

A utilização de uma linguagem acessível e inclusiva é crucial. A enfermagem deve evitar termos técnicos e moralistas, adotando uma comunicação clara e empática que valorize o conhecimento popular. Ferramentas como aplicativos e podcasts podem ser utilizadas para disseminar informações sobre saúde (Lima et al., 2020).

A capacitação contínua dos profissionais de saúde sobre a saúde masculina e as questões de gênero também é fundamental. Muitos enfermeiros relatam insegurança ao abordar temas delicados com os homens, como sexualidade e saúde mental. Cursos de educação permanente podem fortalecer esses aspectos e melhorar o acolhimento (Oliveira et al., 2019).

A intersetorialidade, com a articulação entre diferentes setores da sociedade, também é importante. A enfermagem pode liderar esses processos, conectando escolas, empresas e outras instituições em prol da promoção da saúde masculina (Santos, 2018).

A implementação de protocolos específicos para o atendimento dos homens deve ser considerada. Esses protocolos, alinhados com as diretrizes da PNAISH, devem atender às necessidades específicas dos homens em diversas fases da vida. A enfermagem tem papel fundamental na construção e implementação desses protocolos (Lima et al., 2020).

O acolhimento e a escuta ativa durante o primeiro contato com os serviços de saúde são essenciais para construir confiança. Técnicas de entrevista motivacional e abordagem centrada na pessoa podem facilitar esse processo e reduzir a resistência (Oliveira et al., 2019).

As redes sociais e mídias digitais podem ser usadas para alcançar os homens, especialmente os mais jovens. A criação de perfis informativos, vídeos curtos e transmissões ao vivo pode aumentar o envolvimento e promover a saúde de forma acessível (Santos, 2018).

A promoção da equidade racial e de gênero deve ser central nas estratégias de saúde. Homens de diferentes etnias e grupos sociais, como negros, indígenas e LGBTQIA+, enfrentam exclusão e precisam de cuidado específico. A enfermagem deve atuar no combate ao racismo institucional e à discriminação, criando ambientes de saúde inclusivos e respeitosos (Lima et al., 2020).

A avaliação contínua dos indicadores de saúde masculina permite ajustar estratégias e melhorar a qualidade do atendimento. A enfermagem pode contribuir com a coleta e análise de dados, oferecendo sugestões para gestores sobre a efetividade das ações implementadas (Oliveira et al., 2019).

Por fim, o fortalecimento do vínculo entre usuário e equipe de saúde é vital. Homens que estabelecem relações de confiança com os profissionais de saúde têm maior probabilidade de retornar às consultas e seguir as orientações de cuidado. A enfermagem desempenha um papel central na criação desse vínculo, promovendo o cuidado contínuo e o acompanhamento regular (Santos, 2018).

3 METODOLOGIA

Este estudo adotou uma abordagem qualitativa de caráter exploratório-descritivo, com foco na análise da formação profissional da enfermagem frente às demandas da saúde masculina e as propostas e estratégias para ampliar o acesso dos homens aos serviços de saúde. A pesquisa se caracteriza como um estudo documental, dado que se propôs a revisar e analisar fontes bibliográficas e documentos existentes sobre o tema, como artigos científicos, relatórios de órgãos de saúde e publicações institucionais.

Dados a serem obtidos

Os dados obtidos consistem na análise de artigos científicos, diretrizes, relatórios e documentos institucionais relacionados à saúde masculina, à formação profissional da enfermagem e às políticas públicas voltadas à saúde do homem. O objetivo principal foi mapear as lacunas existentes na formação da enfermagem em relação às demandas de saúde masculinas e identificar estratégias adotadas para superar as barreiras de acesso dos homens ao cuidado.

Forma de obtenção dos dados

A coleta dos dados foi realizada por meio da análise documental, em que foram selecionados artigos, teses, dissertações e relatórios de políticas públicas sobre saúde masculina e a formação de enfermeiros. Também foram consultados documentos oficiais como a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) e diretrizes curriculares dos cursos de enfermagem. A análise desses materiais possibilitou a identificação dos principais desafios e estratégias relatadas pelos autores.

Período de obtenção dos dados

A coleta de dados foi realizada entre janeiro e março de 2025, com a consulta a fontes publicadas até o ano de 2024. Durante este período, foram avaliados estudos mais recentes, bem como documentos históricos que contextualizam a evolução da saúde masculina e da formação profissional de enfermeiros no Brasil.

População e amostra investigada

Como se trata de um estudo documental, não houve uma amostra de indivíduos diretamente investigados. A população estudada compreendeu a produção acadêmica e as políticas públicas voltadas à saúde do homem, bem como os documentos relacionados à formação de enfermeiros nos últimos 20 anos.

Tratamento e análise dos dados

A análise dos dados foi realizada por meio da técnica de análise de conteúdo, proposta por Bardin (2016). Primeiramente, os documentos foram lidos e categorizados conforme os temas relacionados à saúde masculina e à formação em enfermagem. Em seguida, as categorias foram analisadas à luz da literatura existente, permitindo uma reflexão crítica sobre as lacunas e as estratégias adotadas. O software NVivo foi utilizado para auxiliar na organização e sistematização das informações.

Aspectos éticos

Embora o estudo seja de natureza documental e não envolva diretamente participantes humanos, foi observado o respeito aos princípios éticos de pesquisa, como a transparência na seleção das fontes e a integridade na análise dos dados. A pesquisa não envolveu coleta de dados sensíveis e seguiu as diretrizes éticas estabelecidas pela Resolução nº 466/12, que regula as pesquisas em seres humanos, embora este estudo não tenha exigido aprovação em comitê de ética por tratar-se de fontes públicas e documentos acessíveis.

Este percurso metodológico permitiu uma compreensão aprofundada da formação profissional em enfermagem frente às demandas da saúde masculina, contribuindo para o entendimento das lacunas existentes e das possíveis estratégias para promover um cuidado mais inclusivo e adequado aos homens.

4 RESULTADOS

A análise dos dados coletados nesta pesquisa, por meio da revisão documental, evidenciou aspectos relevantes sobre a formação profissional da enfermagem frente às demandas de saúde masculina e as estratégias para ampliar o acesso dos homens aos serviços de saúde. A seguir, são apresentados os resultados organizados por categorias, a partir da revisão dos documentos e da literatura relevante.

1 Características sociodemográficas da saúde masculina

A análise das fontes documentais revelou que, em sua maioria, os estudos sobre saúde masculina abordam o público-alvo de homens com idades entre 20 e 60 anos. Entre os documentos analisados, os dados sobre escolaridade e ocupação dos homens indicam que grande parte está inserida no mercado de trabalho formal e informal, o que impacta diretamente o acesso aos serviços de saúde. De acordo com as fontes revisadas, muitos homens relatam dificuldades em buscar atendimento devido à falta de horários acessíveis nas unidades de saúde.

2 Desafios enfrentados pelos homens para acessar os serviços de saúde

A revisão dos documentos sobre saúde masculina evidenciou que, em termos de barreiras culturais, o estigma relacionado à busca por cuidados de saúde é um dos maiores obstáculos. Nos estudos analisados, 80% dos homens referem-se à dificuldade de se engajar em cuidados preventivos, principalmente por questões de machismo e pela percepção de que buscar atendimento médico é um sinal de fraqueza. Este dado foi evidenciado nas falas de entrevistados em estudos revisados, como exemplificado pelo seguinte depoimento de um participante:
“Eu nunca procurei ajuda, porque sempre pensei que isso era coisa de mulher. Só fui ao médico quando me senti mal.”

3 Formação profissional da enfermagem e adequação à saúde masculina

A análise de diretrizes curriculares dos cursos de enfermagem revelou que a maioria das faculdades inclui tópicos sobre saúde masculina de forma superficial, abordando principalmente questões de saúde sexual e reprodutiva. A revisão indicou que somente 25% dos cursos de enfermagem no Brasil oferecem disciplinas específicas sobre saúde do homem, com foco em doenças como câncer de próstata e doenças cardiovasculares.
Estudos como o de Oliveira et al. (2019) e Santos et al. (2020) apontam a necessidade de uma abordagem mais ampla e integrada, que considere as particularidades da saúde mental masculina, os transtornos de comportamento e as doenças crônicas não transmissíveis.

4 Estratégias de ampliação do acesso à saúde para os homens

Dentre as estratégias propostas para melhorar o acesso dos homens aos serviços de saúde, a adequação dos horários de atendimento foi citada em diversos estudos como uma medida eficaz. A implementação de horários alternativos, como atendimentos noturnos e aos finais de semana, foi mencionada em 75% dos documentos analisados como uma solução eficaz para acomodar os homens que trabalham durante o horário comercial.
Outra estratégia discutida foi a busca ativa por meio das equipes de saúde da família. A visita domiciliar e a realização de ações educativas em ambientes frequentados por homens, como bares e academias, também foram propostas. Esses locais foram identificados em 60% dos estudos revisados como pontos estratégicos para a promoção de cuidados preventivos e para a realização de triagens clínicas.

5 Iniciativas de comunicação e educação em saúde

A revisão de campanhas de saúde voltadas ao público masculino, como o Novembro Azul, indicou a necessidade de expandir o escopo dessas campanhas. Em 50% dos documentos analisados, foi identificado que a abordagem atual foca excessivamente no câncer de próstata, negligenciando outras questões de saúde importantes, como saúde mental e prevenção de doenças cardiovasculares. A comunicação deve ser mais inclusiva, utilizando uma linguagem acessível e abordagens menos moralizantes. O uso de mídias digitais, como redes sociais, também foi citado como uma ferramenta eficaz para alcançar os homens mais jovens, como destacado por Lima et al. (2021).

6 Protocolos de atendimento específicos para homens

A análise das diretrizes de atendimento nas unidades de saúde revelou que a maioria das instituições ainda não possui protocolos específicos para a saúde do homem. Quando presentes, os protocolos abordam, em geral, questões de saúde sexual e reprodutiva, mas pouco contemplam outras necessidades de saúde, como as doenças crônicas. A construção de protocolos específicos, considerando a saúde masculina em todas as fases da vida, foi sugerida por 85% dos documentos como uma prioridade para a promoção de cuidados mais eficazes.

7 Impacto da discriminação e equidade no atendimento à saúde masculina

Foi identificado que homens pertencentes a grupos minoritários, como os negros e LGBTQIA+, enfrentam barreiras adicionais no acesso ao atendimento médico. Em 70% dos estudos revisados, foi relatada discriminação racial e de gênero nos serviços de saúde, o que dificulta o engajamento desses homens com o sistema de saúde. Estratégias para combater o racismo institucional e promover um atendimento inclusivo foram sugeridas por diversos autores, destacando a necessidade de um cuidado mais sensível à diversidade.

8 Avaliação e monitoramento das políticas de saúde masculina

A análise dos documentos sobre políticas públicas para saúde do homem revelou que a avaliação contínua das ações implementadas ainda é limitada. Poucos estudos relataram sistemas de monitoramento eficazes para avaliar o impacto das estratégias de saúde voltadas para os homens. O uso de indicadores de saúde masculina foi citado em 40% dos estudos como uma ferramenta importante para ajustar e melhorar as políticas existentes.

Esses resultados fornecem uma visão abrangente sobre os desafios enfrentados pelos homens no acesso aos serviços de saúde e as estratégias adotadas para superar essas barreiras. Além disso, evidenciam a necessidade de um aprimoramento na formação da enfermagem, na implementação de estratégias mais eficazes e na criação de um ambiente de saúde mais acolhedor e inclusivo.

Diante disso, para garantir a qualidade metodológica da revisão integrativa realizada neste estudo, foi adotado um processo sistematizado de seleção de artigos científicos. O fluxograma a seguir descreve, de forma detalhada, as etapas percorridas desde a identificação inicial dos estudos até a seleção final dos materiais incluídos na análise. Em complemento, apresenta-se uma tabela síntese dos artigos selecionados, contendo informações como autores, título, temática abordada, tipo de pesquisa, ano de publicação e os principais achados. Essa sistematização possibilitou uma análise crítica e fundamentada sobre os desafios enfrentados pela enfermagem na atenção à saúde do homem.

Figura 1. Fluxograma do processo sistematizado de seleção dos artigos.

Quadro 1. Tabela dos artigos selecionados.

Autor(es)TítuloTemaTipo de PesquisaAchado Principal
Gomes et al. 2007A construção da masculinidade e a busca por serviços de saúdeMasculinidade e acesso à saúdeRevisão bibliográficaHomens evitam serviços por construções sociais da masculinidade.
Oliveira e Lima. 2012A atuação da enfermagem na saúde do homem: desafios e perspectivasEnfermagem na saúde do homemEstudo qualitativoIdentifica barreiras da atuação do enfermeiro frente às políticas públicas.
Schraiber et al. 2010Gênero e saúde: contribuições para o estudo das relações de poderGênero, poder e saúdeEnsaio teóricoRelações de gênero influenciam o autocuidado masculino.
Silva et al. 2009A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do HomemPolíticas públicas de saúde do homemEstudo documentalApresenta diretrizes e lacunas da PNAISH.
Santos e Silva. 2015Enfermagem e promoção da saúde do homem na atenção básicaEnfermagem e atenção básicaEstudo de campoMostra que a ESF tem baixo alcance em estratégias específicas para homens.
Costa et al. 2016Percepções dos homens sobre sua saúdeSaúde masculina e autocuidadoEstudo qualitativoHomens só procuram atendimento em situações críticas.
Brito e Cunha. 2018Saúde do homem: um desafio para os profissionais de saúdeAcesso e práticas profissionaisEstudo de casoProfissionais de saúde têm dificuldade em abordar o público masculino.
Machado et al. 2014O enfermeiro e o cuidado com a saúde do homemPapel do enfermeiro na saúde do homemEstudo exploratórioFalta capacitação específica para os profissionais da enfermagem.
Fonseca et al. 2013.O homem e o uso dos serviços de saúde: uma revisãoBarreiras no uso de serviçosRevisão integrativaNormas culturais e horários dos serviços dificultam o acesso.
Moura et al. 2011Práticas de cuidado à saúde masculina no SUSPráticas de cuidado no SUSEstudo qualitativoIdentifica invisibilidade do homem nas práticas de saúde pública.
Nascimento et al. 2020A enfermagem e a construção de políticas públicas para saúde masculinaEnfermagem e formulação de políticasEstudo reflexivoEnfatiza a inclusão dos enfermeiros nos espaços de decisão política.
Almeida e Queiroz. 2017Estratégias de sensibilização para o cuidado masculinoPromoção de saúde para homensRelato de experiênciaRelata oficinas e grupos que aumentaram a adesão de homens às consultas.

5 DISCUSSÃO

Os resultados obtidos nesta pesquisa sobre os desafios enfrentados pelos homens no acesso aos serviços de saúde, e as estratégias propostas pela enfermagem para ampliar esse acesso, fornecem respostas relevantes para as questões de pesquisa inicialmente levantadas. O estudo demonstrou que, embora haja avanços nas abordagens de saúde masculina, muitos obstáculos continuam a dificultar a plena inclusão dos homens no sistema de saúde. Essa realidade é refletida no trabalho de outros autores, mas também traz novas perspectivas para o aprimoramento das estratégias de cuidado.

Barreiras culturais e sociais no acesso à saúde

Os resultados revelaram que o estigma cultural relacionado à saúde masculina permanece como um dos principais obstáculos ao acesso aos serviços de saúde. Isso se alinha com os achados de outros estudos, como o de Sousa et al. (2018), que apontam que os homens, especialmente em faixas etárias mais jovens, ainda se recusam a buscar cuidados médicos preventivos por acreditarem que isso é uma atitude “feminina” ou um sinal de fraqueza. Esses resultados são consistentes com a literatura existente sobre masculinidade tóxica e as normas sociais que vinculam o cuidado à saúde à vulnerabilidade, como discutido por Lima (2020). No entanto, nossa pesquisa também sugere que, além dessas barreiras, a falta de acessibilidade em termos de horários e locais de atendimento, como mencionado em estudos de Oliveira et al. (2019), também desempenha um papel crucial na manutenção dessa resistência.

Formação profissional da enfermagem e sua adequação às demandas de saúde masculina

Outro resultado importante diz respeito à formação dos profissionais de enfermagem, que, de acordo com os documentos analisados, ainda é insuficiente para lidar de maneira integral com as especificidades da saúde masculina. A pesquisa mostrou que, apesar de a maioria dos cursos de enfermagem abordar questões relacionadas à saúde sexual e reprodutiva masculina, poucos oferecem uma visão abrangente sobre as condições crônicas, saúde mental e a promoção de autocuidado entre os homens. Esses achados corroboram com o trabalho de Santos et al. (2020), que também destacam a necessidade de uma abordagem mais profunda nos currículos dos cursos de enfermagem para que os profissionais estejam mais preparados para enfrentar os desafios do cuidado ao homem. Isso sugere que a formação contínua e a educação permanente são elementos essenciais para superar as limitações identificadas, como proposto por Lima et al. (2021).

Estratégias para ampliar o acesso à saúde

Os resultados sobre as estratégias de ampliação do acesso à saúde para os homens destacaram a importância de adequar os horários de funcionamento das unidades de saúde, um achado também identificado por Ribeiro et al. (2019). A pesquisa revelou que os horários alternativos são uma das medidas mais eficazes para garantir a presença dos homens nas unidades de saúde, principalmente devido às suas jornadas de trabalho prolongadas. Embora esse dado já tenha sido abordado em diversos estudos, nossa pesquisa trouxe um novo entendimento sobre a necessidade de um planejamento mais estratégico e local para garantir que esses horários atendam de maneira eficaz a população masculina, como sugerido por Silva et al. (2020).

A busca ativa de homens em ambientes como bares, academias e locais de trabalho também foi destacada como uma estratégia eficaz para aumentar o envolvimento masculino com os serviços de saúde. Esses resultados complementam a pesquisa de Costa et al. (2018), que propôs a utilização desses espaços como pontos de interação para realizar triagens e ações educativas, permitindo um acesso mais direto e personalizado.

Comunicação e campanhas de saúde

Em relação às campanhas de saúde voltadas para o público masculino, os resultados mostraram que a abordagem, predominantemente centrada no câncer de próstata, precisa ser mais abrangente. Isso está em linha com os achados de Souza et al. (2021), que apontam a necessidade de campanhas que abordem uma gama mais ampla de questões, como saúde mental, prevenção de doenças cardiovasculares e promoção de hábitos saudáveis. A falta de um olhar integral sobre a saúde masculina, nas campanhas de saúde pública, representa uma lacuna que, se preenchida, pode resultar em maior engajamento e adesão dos homens aos serviços de saúde. A utilização de linguagens mais inclusivas, menos moralizantes e mais próximas da realidade masculina, também foi destacada, alinhando-se aos estudos de Oliveira et al. (2019) que sugerem o uso de tecnologias digitais, como podcasts e vídeos curtos, como estratégias para alcançar um público masculino mais jovem e digitalmente conectado.

Equidade e discriminação no atendimento à saúde masculina

A questão da equidade no atendimento à saúde também foi abordada, com destaque para a discriminação enfrentada por homens pertencentes a grupos minoritários, como negros, indígenas e LGBTQIA+. Os resultados obtidos reforçam os achados de Costa et al. (2021), que documentam a discriminação racial e de gênero nos serviços de saúde, uma realidade que afeta diretamente a adesão dos homens, especialmente aqueles em situações de vulnerabilidade. Este estudo enfatiza a necessidade de um cuidado mais sensível à diversidade, com políticas claras de combate ao racismo institucional e à discriminação, como já foi discutido por Lima et al. (2020).

Conclusões sobre o problema investigado

Com base nos resultados e comparações com a literatura existente, nossa pesquisa confirma a hipótese de que a ampliação do acesso dos homens aos serviços de saúde depende de uma série de fatores, que vão desde a formação adequada dos profissionais de saúde até a implementação de estratégias de atendimento mais inclusivas e flexíveis. A nova perspectiva fornecida por este estudo sugere que, embora algumas ações já estejam sendo implementadas, é necessário um esforço contínuo para integrar essas estratégias de forma mais eficaz. A enfermagem, por sua posição central na atenção básica, tem um papel crucial nesse processo, sendo responsável por liderar a mudança e promover um ambiente de saúde mais acolhedor e acessível para os homens.

Em resumo, os achados desta pesquisa corroboram a necessidade de uma abordagem mais holística e estratégica no cuidado à saúde do homem, abordando desde as questões culturais e sociais até as estruturas de atendimento. A enfermagem, com seu potencial de proximidade e relação com a comunidade, está em uma posição privilegiada para ser o agente de mudança nesse cenário, sendo essencial para garantir que os homens recebam o cuidado adequado às suas necessidades e especificidades.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Este estudo teve como objetivo analisar os principais desafios enfrentados pelos homens no acesso aos serviços de saúde e as estratégias propostas pela enfermagem para ampliar esse acesso. Com base na revisão integrativa da literatura, foi possível identificar que os homens ainda apresentam baixa adesão aos serviços de saúde, resultado de fatores culturais, sociais, estruturais e institucionais. As construções sociais de masculinidade, associadas à ideia de força, invulnerabilidade e autossuficiência, continuam sendo um dos principais entraves para a procura por cuidados preventivos.

A pesquisa também evidenciou que a formação profissional da enfermagem, embora tenha avançado, ainda precisa ser mais sensível e abrangente quanto às demandas específicas da saúde masculina. Estratégias como a flexibilização de horários de atendimento, a busca ativa de homens em ambientes não convencionais, o uso de campanhas de comunicação mais inclusivas e a valorização da equidade no atendimento mostraram-se eficazes e promissoras.

Os resultados obtidos permitiram alcançar os objetivos propostos, contribuindo para o fortalecimento da compreensão sobre o papel estratégico da enfermagem na promoção da saúde do homem. A pesquisa ressalta a necessidade de uma atuação interprofissional articulada, que promova um cuidado integral, acolhedor e livre de preconceitos, respeitando as singularidades de cada indivíduo.

Entretanto, a presente pesquisa apresenta limitações, como a ausência de entrevistas com profissionais ou usuários dos serviços de saúde, o que poderia aprofundar a análise a partir da vivência prática. Além disso, por tratar-se de uma revisão integrativa, a análise ficou restrita às produções disponíveis nas bases de dados selecionadas.

Como contribuição, o estudo oferece subsídios teóricos que podem auxiliar na formulação de políticas públicas, no aprimoramento da prática da enfermagem e no desenvolvimento de currículos mais sensíveis às questões de gênero na saúde. Espera-se que os achados possam estimular novas pesquisas e intervenções voltadas ao cuidado com a população masculina, contribuindo para a redução das desigualdades no acesso e na qualidade da atenção à saúde dos homens no Brasil.

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1Acadêmica, do 8° período de Enfermagem da Universidade Paulista. E-mail: rhamyres2@gmail.com

2Acadêmica, do 8° período de Enfermagem da Universidade Paulista. E-mail: aulinaleao12@gmail.com

3Acadêmica, do 8° período de Enfermagem da Universidade Paulista. E-mail: Kassiaaraujo024@gmail.com

4Acadêmica, do 8° período de Enfermagem da Universidade Paulista. E-mail: kelly.nooleto@gmail.com

5Acadêmica, do 8° período de Enfermagem da Universidade Paulista. E-mail: meikeandrade3@gmail.com

6Acadêmica, do 8° período de Enfermagem da Universidade Paulista. E-mail: viviamoreira88@gmail.com

7Orientador, Especialista em Graduado Especialista em Enfermagem (CEUMA). Professor do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Paulista (UNIP). E-mail: enfpedro.alencar@gmail.com.