IMPACTOS DAS ENCHENTES NA SAÚDE PÚBLICA EM MANAUS: BARREIRAS NO ACESSO AOS SERVIÇOS E CUIDADOS ESSENCIAIS

IMPACTS OF FLOODS ON PUBLIC HEALTH: BARRIERS TO ACCESSING SERVICES AND ESSENTIAL CARE

IMPACTOS DE LAS INUNDACIONES EN LA SALUD PÚBLICA: BARRERAS PARA EL ACCESO A LOS SERVICIOS Y CUIDADOS ESENCIALES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202505101409


Ailton Souza da Costa Júnior1
Adriano dos Santos Oliveira2
Fabíola Cavalcante Rodrigues3
Juliana Santos de Souza4
Matheus Pinheiro Santos5
Thayane da Silva Marques6


Resumo   

Este artigo trata-se de um estudo do tipo Revisão de Literatura, cujo objetivo é reunir e analisar publicações científicas sobre os impactos das Enchentes na Saúde Pública em Manaus: Barreiras no Acesso aos Serviços e Cuidados Essenciais A metodologia adotada visa proporcionar uma visão ampla e atualizada sobre o tema, com base em evidências científicas publicadas. Para a coleta de dados, foram selecionados artigos disponíveis nas bases Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). O estudo incluiu artigos originais publicados no Brasil, em português, entre 2021 e 2025, excluindo trabalhos que não atendiam aos critérios estabelecidos ou que não contemplavam pelo menos dois dos descritores mencionados. Exceções foram feitas para normativas e legislações vigentes sobre o tema. O presente estudo evidenciou os impactos profundos das enchentes na saúde pública em Manaus, destacando as múltiplas barreiras que dificultam o acesso da população aos serviços de saúde essenciais em momentos de crise, a contaminação da água e o aumento de doenças de veiculação hídrica, como leptospirose, hepatite A e diarreias infecciosas, são fatores preponderantes na deterioração da saúde da população afetada. 

Palavras-chave: “Enchentes”, “Saúde Pública”, “Serviços Básicos”, “Cuidados Essenciais”, “Assistência”. 

Abstract   

This article is a literature review study, which aims to gather and analyze scientific publications on the impacts of floods on public health in Manaus: Barriers to Accessing Essential Services and Care. The methodology adopted aims to provide a broad and up-to-date view on the topic, based on published scientific evidence. For data collection, articles available in the Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Latin American Literature in Health Sciences (LILACS), and Virtual Health Library (BVS) were selected. The study included original articles published in Brazil, in Portuguese, between 2021 and 2025, excluding works that did not meet the established criteria or that did not cover at least two of the mentioned descriptors. Exceptions were made for current regulations and legislation on the topic. This study highlighted the profound impacts of floods on public health in Manaus, emphasizing the multiple barriers that hinder the population’s access to essential healthcare services during a crisis. Water contamination and the increase in waterborne diseases such as leptospirosis, hepatitis A, and infectious diarrhea are major factors in the deterioration of the health of the affected population. 

Keywords: “Floods,” “Public Health,” “Basic Services,” “Essential Care,” “Assistance.” 

Resumen   

Este artículo es un estudio de tipo Revisión de Literatura, cuyo objetivo es reunir y analizar publicaciones científicas sobre los impactos de las inundaciones en la salud pública en Manaos: Barreras en el Acceso a Servicios y Cuidados Esenciales. La metodología adoptada tiene como objetivo proporcionar una visión amplia y actualizada sobre el tema, basada en evidencia científica publicada. Para la recopilación de datos, se seleccionaron artículos disponibles en las bases de datos Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latinoamericana en Ciencias de la Salud (LILACS) y Biblioteca Virtual en Salud (BVS). El estudio incluyó artículos originales publicados en Brasil, en portugués, entre 2021 y 2025, excluyendo aquellos trabajos que no cumplían con los criterios establecidos o que no abarcaban al menos dos de los descriptores mencionados. Se hicieron excepciones para normativas y legislaciones vigentes sobre el tema. Este estudio evidenció los profundos impactos de las inundaciones en la salud pública en Manaos, destacando las múltiples barreras que dificultan el acceso de la población a los servicios de salud esenciales en momentos de crisis. La contaminación del agua y el aumento de enfermedades de transmisión hídrica como la leptospirosis, hepatitis A y diarreas infecciosas son factores preponderantes en el deterioro de la salud de la población afectada. 

Palabras clave: “Inundaciones,” “Salud Pública,” “Servicios Básicos,” “Cuidados Esenciales,” “Asistencia.” 

1. Introdução   

As enchentes são fenômenos naturais que, ao atingirem comunidades, desencadeiam uma série de impactos que vão além dos danos materiais, afetando diretamente a saúde pública, em diversas regiões, especialmente aquelas com infraestrutura precária ou em áreas de risco, a ocorrência de enchentes compromete o acesso aos serviços de saúde, agrava condições de saúde preexistentes e favorece a disseminação de doenças (Amazonas, 2024). Esse cenário impõe desafios significativos tanto para a população quanto para os profissionais de saúde responsáveis por garantir assistência em momentos de crise. 

As enchentes em Manaus têm causado impactos significativos na saúde pública, afetando principalmente as comunidades ribeirinhas e periféricas, onde a infraestrutura é mais vulnerável, à elevação dos rios provoca alagamentos que comprometem o funcionamento de postos de saúde, dificultam o deslocamento de pacientes e profissionais, e agravam a contaminação da água, favorecendo o surgimento de doenças (Cappelari, Meneghel, 2021). 

A vulnerabilidade das comunidades afetadas se intensifica devido à destruição de hospitais, postos de saúde e redes de saneamento básico, o que resulta em desassistência médica e falta de condições mínimas para a promoção da saúde, além disso, a dificuldade de locomoção, a perda de medicamentos e a contaminação da água contribuem para o aumento de doenças como leptospirose, hepatites virais, diarreias infecciosas e infecções respiratórias (Cadoná, Freitas, 2024). Essa situação evidencia a necessidade de estratégias emergenciais para garantir o acesso a cuidados essenciais e reduzir os danos à saúde da população. 

A saúde pública, enquanto sistema que busca garantir o bem-estar coletivo, enfrenta obstáculos consideráveis para manter sua atuação eficiente em cenários de calamidade, a sobrecarga dos serviços de saúde, o esgotamento dos recursos e a falta de profissionais disponíveis tornam o atendimento mais lento e menos abrangente. (Good et al., 2021). Isso compromete a assistência não só aos afetados diretamente pela enchente, mas também àqueles com condições de saúde crônicas que dependem de acompanhamento contínuo. 

Além das doenças físicas, o trauma emocional provocado pela perda de familiares, moradias e bens materiais afeta diretamente a saúde mental, gerando quadros de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, portanto, discutir a assistência em saúde pública nessas situações envolve também a inclusão de serviços de suporte psicológico para ajudar as vítimas a lidarem com as consequências emocionais da tragédia (Elidio et al., 2024). 

Os profissionais de saúde, por sua vez, enfrentam condições de trabalho extremamente desafiadoras durante enchentes, a falta de insumos, o risco de contaminação e o desgaste físico e emocional afetam diretamente sua capacidade de oferecer uma assistência de qualidade (Meurer, Coimbra, 2022).  Compreender esses desafios é crucial para propor melhorias nos planos de contingência e oferecer suporte adequado às equipes que atuam na linha de frente. 

O objetivo deste estudo é, portanto, contribuir para ampliar o conhecimento sobre a realidade enfrentada por comunidades afetadas por enchentes e inspirar a formulação de políticas mais eficazes, tanto no âmbito da prevenção quanto na resposta emergencial. Garantir o acesso à saúde em meio a desastres é uma questão de justiça social e de compromisso com a saúde pública. 

A justificativa para a abordagem desse tema se ancora na urgência de promover uma assistência mais eficaz e humanizada em situações de calamidade. Esse debate se mostra cada vez mais necessário diante do cenário climático global, exigindo soluções inovadoras e adaptáveis para proteger a saúde e o bem-estar da população. 

2. Metodologia   

 Este artigo trata-se de um estudo do tipo Revisão de Literatura, cujo objetivo é reunir e analisar publicações científicas sobre os Impactos das Enchentes na Saúde Pública em Manaus: Barreiras no Acesso aos Serviços e Cuidados Essenciais A metodologia de revisão foi selecionada com o intuito de proporcionar uma visão ampla e atualizada sobre o tema, a partir de evidências científicas já publicadas. 

Para a realização deste estudo, foram utilizados artigos científicos disponíveis nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS) e na Biblioteca Virtual em Saúde BVS). Os descritores aplicados na busca foram: “Enchentes”, “Saúde Pública”, “Serviços Básicos”, “Cuidados Essenciais”, “Assistência”. A combinação desses termos permitiu identificar trabalhos relevantes para a compreensão dos Impactos das Enchentes na Saúde Pública na cidade de Manaus. 

Os critérios de inclusão definidos para este estudo contemplaram periódicos e artigos originais publicados no Brasil, redigidos em português, entre os anos de 2021 a 2025.  

Foram excluídos estudos que não correspondiam aos objetivos estabelecidos, bem como aqueles que não continham, no mínimo, dois dos descritores mencionados. Exceções foram feitas para legislações e normativas vigentes que tratam do tema. 

3. Doenças de Veiculação Hídrica: O Aumento de Casos Durante Enchentes em Manaus 

As enchentes em Manaus, intensificadas pelas cheias dos rios da região, trazem consigo uma série de consequências para a saúde pública, entre elas o aumento expressivo das doenças de veiculação hídrica, a contaminação da água provocada pela mistura de esgoto, lixo e resíduos químicos com a água das enchentes cria um ambiente propício para a disseminação de agentes infecciosos que afetam diretamente a população, especialmente nas áreas periféricas e ribeirinhas (Honda, Almeida, 2021).  

A leptospirose é uma das doenças mais recorrentes nesse contexto, causada pela bactéria Leptospira, transmitida principalmente pela urina de ratos, ela se espalha rapidamente em águas contaminadas, as pessoas expostas a essas águas, muitas vezes por necessidade de transitar em áreas alagadas, estão em risco de desenvolver febre alta, dores musculares, icterícia e, em casos graves, insuficiência renal e respiratória (Queiroz et al., 2021).  

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para evitar complicações, mas a dificuldade de acesso aos serviços de saúde em meio à enchente atrasa a identificação dos casos, outra preocupação frequente é a hepatite A, uma infecção viral transmitida pelo consumo de água e alimentos contaminados por fezes (Nunes et al., 2021).  

Em situações de enchente, a falta de saneamento básico e a interrupção do fornecimento de água potável levam muitas famílias a recorrerem a fontes impróprias para consumo, aumentando a propagação do vírus, a doença, embora geralmente autolimitada, pode causar sintomas debilitantes como febre, náuseas, dor abdominal e icterícia, afetando principalmente crianças e idosos, que apresentam maior vulnerabilidade (Mercado, 2021).  

As diarreias infecciosas, provocadas por bactérias como Escherichia coli e Vibrio cholerae, também ganham destaque durante e após as enchentes, o consumo de água contaminada e a falta de higiene básica favorecem surtos de diarreia, que, além de delimitarem os pacientes, podem levar à desidratação severa, um risco ainda maior para crianças e pessoas já fragilizadas, em regiões onde o atendimento médico é limitado, a desidratação pode evoluir para quadros fatais se não houver reposição adequada de líquidos e eletrólitos (Martinho, 2021). 

O controle dessas doenças enfrenta vários desafios, a precariedade da infraestrutura de saneamento em muitas áreas de Manaus agrava a situação, uma vez que esgotos a céu aberto e descarte inadequado de resíduos tornam-se fontes contínuas de contaminação, além disso, a mobilidade reduzida durante as enchentes impede a distribuição de suprimentos, medicamentos e vacinas, dificultando tanto a prevenção quanto o tratamento das doenças (Menezes et al., 2021).  

Outro fator preocupante é a demora na identificação dos surtos, com unidades de saúde sobrecarregadas e acessos bloqueados pelas águas, a notificação dos casos e a vigilância epidemiológica se tornam mais lentas e menos eficazes, isso compromete a adoção de medidas de controle, como campanhas de vacinação emergencial e distribuição de kits de higiene e água potável, que poderiam reduzir a propagação das infecções (Veras, 2024).  

Para enfrentar esse cenário, é fundamental investir em estratégias preventivas e emergenciais, a ampliação do acesso a água potável, a melhoria da infraestrutura de saneamento e a criação de planos de contingência para períodos de enchentes são ações essenciais (Santos et a., 2022). Além disso, a capacitação dos profissionais de saúde para atuar em situações de calamidade e a implementação de sistemas de vigilância mais ágeis são cruciais para conter surtos antes que eles se tornem incontroláveis. 

Portanto, as enchentes em Manaus não representam apenas uma ameaça física à população, mas também um grave risco à saúde pública, a contaminação da água e a consequente proliferação de doenças como leptospirose, hepatite A e diarreias infecciosas evidenciam a necessidade de políticas públicas mais robustas e planejamentos de emergência eficazes para proteger as populações vulneráveis e garantir o acesso à saúde, mesmo em meio a desastres naturais (Nunes et al., 2021).  

As doenças de veiculação hídrica constituem um grave problema de saúde pública, especialmente em regiões com infraestrutura de saneamento básico deficiente, em Manaus, capital do estado do Amazonas, esse cenário se agrava durante os períodos de enchentes, fenômeno comum devido à elevação dos rios Negro e Solimões (Menezes et al., 2021). 

Nessas ocasiões, o contato da população com águas contaminadas por esgoto, resíduos domésticos e urina de animais potencializa a transmissão de agentes patogênicos, aumentando significativamente os casos de doenças transmitidas pela água, entre as doenças mais comuns durante enchentes em Manaus estão a diarreia aguda, a hepatite A, a leptospirose, a Cólera e a Esquistossomose (Queiroz et al., 2021). 

A diarreia, por exemplo, é frequentemente causada por bactérias e vírus presentes na água contaminada, sendo mais comum em crianças e idosos, já a leptospirose é uma infecção bacteriana grave, transmitida principalmente pela urina de roedores misturada à água das enchentes, podendo levar a complicações renais e pulmonares, a Hepatite A, por sua vez, é uma infecção viral transmitida por via fecal-oral, geralmente associada à ingestão de água ou alimentos contaminados (Veras, 2024). 

Durante os períodos de cheia, há também um aumento da demanda por serviços de saúde e saneamento, exigindo ações rápidas e coordenadas por parte das autoridades públicas, em Manaus, medidas como a intensificação da vigilância da qualidade da água, campanhas de educação em saúde e distribuição de hipoclorito de sódio têm sido adotadas para conter a disseminação dessas doenças (Zogahib et al., 2024). 

Além disso, investimentos na ampliação da rede de água tratada têm apresentado resultados positivos, de acordo com dados da concessionária Águas de Manaus, entre 2018 e 2022, foram implantados mais de 200 mil metros de novas tubulações, beneficiando cerca de 220 mil pessoas com acesso à água potável, o que contribuiu para a redução dos casos de doenças hídricas (Neto et al., 2023). 

Apesar dessas iniciativas, os riscos permanecem elevados, especialmente em comunidades ribeirinhas e periferias urbanas que sofrem com alagamentos frequentes e infraestrutura precária, a Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM) reforça a necessidade de ações intersetoriais e contínuas, envolvendo saúde, meio ambiente e assistência social, a fim de minimizar os impactos das enchentes na saúde da população (Rizzotto; Costa; Lobato, 2024). 

As enchentes em Manaus favorecem o aumento de doenças de veiculação hídrica devido à ampla exposição da população à água contaminada, embora os esforços públicos tenham contribuído para a redução de alguns indicadores, é fundamental manter políticas públicas de prevenção, saneamento e educação permanente para enfrentar esse desafio de forma eficaz e sustentável (Silva et al., 2023). 

4. Acesso aos Serviços de Saúde em Áreas Alagadas: Barreiras e Desafios Logísticos 

As enchentes em regiões vulneráveis, como Manaus e comunidades ribeirinhas da Amazônia, impõem sérios obstáculos ao acesso aos serviços de saúde, quando as águas avançam, ruas e estradas ficam submersas, pontes são danificadas e até mesmo os centros de saúde podem ser inundados, tornando o atendimento à população uma tarefa extremamente difícil (Neto et al., 2023). Essa realidade compromete a capacidade de resposta rápida dos serviços de emergência, deixando muitas pessoas sem assistência médica no momento em que mais precisam.  

A falta de transporte adequado é um dos principais desafios enfrentados durante as enchentes. Ambulâncias e veículos de resgate muitas vezes não conseguem atravessar áreas alagadas, especialmente em regiões onde a infraestrutura já era limitada antes da inundação. Em comunidades mais isoladas, a única alternativa é o transporte por barcos, o que depende de recursos e condições de navegação seguras, nem sempre disponíveis em situações de emergência (Santos et al., 2022). 

A infraestrutura danificada também agrava o cenário, unidades de saúde podem ser destruídas ou ficar sem energia elétrica, água potável e suprimentos médicos básicos, equipamentos essenciais, como respiradores e refrigeradores para armazenar vacinas e medicamentos, podem parar de funcionar, comprometendo o tratamento de doenças e o controle de surtos (Silva et al., 2023). Além disso, o colapso do saneamento básico favorece a disseminação de doenças de veiculação hídrica, exigindo uma resposta de saúde pública ainda mais robusta que se torna inviável diante das limitações estruturais. 

O isolamento das comunidades ribeirinhas é outro fator crítico, muitas dessas localidades já enfrentam dificuldades no acesso regular à saúde, e as enchentes ampliam esse problema, cortando totalmente a comunicação e a logística de transporte, pacientes com condições crônicas, como diabetes e hipertensão, ficam sem seus medicamentos, gestantes perdem o acesso ao pré-natal e emergências médicas, como traumas ou complicações respiratórias, tornam-se difíceis de serem atendidas (Zogahib et al., 2024). 

Além dos desafios físicos, a coordenação das equipes de saúde também é prejudicada, os profissionais muitas vezes enfrentam dificuldades para chegar aos postos de atendimento, e a falta de comunicação com redes de telefonia e internet afetadas dificulta a organização de ações emergenciais (Reis et al., 2024). Isso resulta em uma resposta fragmentada e desorganizada, onde os recursos disponíveis não chegam a quem mais precisa em tempo hábil. 

A necessidade de planos de contingência adaptáveis e uma infraestrutura mais resiliente se tornam evidentes diante desse cenário, investir em unidades móveis de saúde, embarcações equipadas para assistência médica e a criação de pontos de apoio elevados, menos vulneráveis às enchentes, são estratégias essenciais para mitigar os impactos (Neto, 2022). 

Além disso, é fundamental fortalecer a preparação das equipes de saúde e das comunidades, promovendo treinamentos para situações de emergência e desenvolvendo sistemas de alerta precoce que garantam a evacuação segura e o transporte de pacientes em condições graves, a integração entre serviços de saúde, defesa civil e assistência social também é crucial para coordenar uma resposta eficaz e garantir que o atendimento chegue mesmo em locais de difícil acesso (Rizzotto; Costa; Lobato, 2024).  

Portanto, enfrentar os desafios logísticos do acesso à saúde em áreas alagadas exige mais do que medidas emergenciais: é preciso planejamento contínuo, investimentos em infraestrutura resistente e uma rede de apoio comunitário capaz de atuar rapidamente quando as águas subirem novamente (Reis et al., 2024) 

5. Impacto Psicológico das Enchentes: A Saúde Mental da População Afetada 

As enchentes não só causam danos físicos, mas também geram profundas consequências emocionais e psicológicas para as populações afetadas. A perda de lares, bens materiais e, em muitos casos, de entes queridos, desencadeia uma série de reações emocionais que podem persistir por longo período (Santiago et al., 2021).  

O impacto psicológico das enchentes é frequentemente negligenciado, mas suas repercussões são tão graves quanto os danos físicos, podendo resultar em transtornos mentais duradouros, como ansiedade, depressão, estresse pós-traumático e distúrbios de estresse agudo (Souza et al., 2022).  

A perda de moradia é um dos fatores mais devastadores. Para muitas famílias, a casa representa não apenas um abrigo físico, mas também um espaço emocional e afetivo. A destruição do lar pode gerar um sentimento de desamparo, insegurança e perda de identidade, além disso, o estresse causado pela instabilidade na vida cotidiana, a incerteza sobre o futuro e a dificuldade de reconstruir a vida são aspectos que exacerbam os efeitos psicológicos da enchente (Silva et al., 2024).  

A perda de bens materiais, como roupas, móveis e objetos pessoais, embora considerada secundária em relação à destruição de casas, também tem grande impacto emocional. Muitos desses itens carregam significados afetivos e culturais, e sua perda pode gerar um luto complexo, o apego a esses objetos pode causar sentimentos de impotência e tristeza profunda, o que torna a recuperação emocional ainda mais difícil. (Setti et al., 2024). 

Outro efeito psicológico significativo é o luto pela perda de entes queridos, as enchentes, além de causarem mortes, podem impedir que os corpos sejam encontrados rapidamente, o que agrava o sofrimento das famílias, a incerteza sobre o destino das vítimas, a dor da perda e a dificuldade em realizar rituais de despedida contribuem para a intensificação do trauma (Rizzotto; Costa; Lobato, 2024).  

Diante desse cenário, a assistência psicológica torna-se essencial para a recuperação das vítimas, o suporte emocional e psicológico ajuda a reduzir os sintomas de ansiedade e depressão, promovendo o enfrentamento saudável do luto e do estresse pós-traumático, profissionais de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, desempenham papel crucial no apoio à população afetada, oferecendo terapias e estratégias de coping para ajudar os indivíduos a lidarem com os traumas. (Neto, 2022) 

A assistência social também desempenha um papel relevante nesse processo, ao proporcionar apoio imediato e acompanhamento contínuo às famílias atingidas, a reconstrução das condições de vida, o acesso a alimentos, água e abrigo adequados e a promoção da dignidade humana são elementos fundamentais que contribuem para a recuperação psicológica das pessoas (Sema, 2024).  Além disso, o apoio social pode ajudar a fortalecer a rede de apoio comunitária, que é crucial para lidar com os efeitos emocionais das enchentes. 

A criação de espaços seguros, onde as vítimas possam expressar seus sentimentos e compartilhar suas experiências, também é uma estratégia eficaz, grupos de apoio e atividades de integração comunitária podem ajudar a diminuir o isolamento emocional e criar um senso de solidariedade, fundamental para a resiliência psicológica. (Santos et al., 2022)  

Portanto, os efeitos psicológicos das enchentes são profundos e devem ser tratados com a mesma seriedade que os impactos físicos, a oferta de suporte psicológico adequado, a implementação de estratégias de recuperação emocional e a assistência social adequada são fundamentais para garantir a saúde mental da população afetada e promover sua recuperação a longo prazo (Rizzotto; Costa; Lobato, 2024). A reconstrução emocional é um processo longo e gradual, e a atenção a esses aspectos é vital para o bem-estar das comunidades atingidas. 

6. O Papel da Enfermagem e dos Profissionais de Saúde na Linha de Frente das Enchentes 

As enchentes impõem desafios extremos aos profissionais de saúde, especialmente aos enfermeiros, que frequentemente estão na linha de frente do atendimento em situações de calamidade, durante e após uma enchente, esses profissionais enfrentam condições adversas, como a sobrecarga de trabalho, escassez de recursos e a constante ameaça de contaminação, enquanto lidam com um número elevado de pacientes que necessitam de cuidados emergenciais (Meurer, Coimbra, 2022).  O papel da enfermagem se torna crucial, não apenas no cuidado direto aos pacientes, mas também na coordenação de respostas rápidas e eficazes para reduzir os danos à saúde da população afetada.  

A sobrecarga de trabalho é um dos principais desafios enfrentados pelos enfermeiros durante enchentes. Em áreas alagadas, o aumento do número de pacientes, especialmente os que apresentam doenças transmitidas pela água ou traumas relacionados à enchente, exige que os profissionais de saúde atendam a uma demanda muito maior do que a capacidade habitual. (Amazonas, 2024). Isso resulta em longas jornadas de trabalho, muitas vezes sem o descanso adequado, o que pode levar à exaustão física e emocional. A pressão para oferecer cuidados de qualidade em um contexto de alta demanda aumenta o risco de falhas no atendimento, comprometendo a eficiência do serviço de saúde (Queiroz et al., 2021).  

A escassez de recursos é outro desafio significativo que os profissionais de saúde enfrentam, durante as enchentes, a infraestrutura hospitalar e de unidades de saúde muitas vezes é danificada, o que limita o acesso a medicamentos, equipamentos de proteção individual (EPIs), insumos básicos e até mesmo a água potável. (Santos et al., 2022). 

Em muitos casos, as unidades de saúde ficam sem energia elétrica, e os profissionais precisam improvisar para continuar prestando cuidados, a falta de recursos adequados para enfrentar uma crise sanitária coloca em risco tanto os pacientes quanto os próprios profissionais de saúde, que acabam se expondo a situações de contaminação e outras complicações (Nunes et al,. 2021).  

O risco de contaminação é um dos aspectos mais preocupantes para os enfermeiros e demais profissionais da saúde em cenários de enchentes, a contaminação da água e do ambiente, além de expor a população a doenças como leptospirose, hepatite A e diarreias infecciosas, coloca os próprios trabalhadores de saúde em risco  (Cadoná, Freitas, 2024).  

A falta de equipamentos adequados de proteção e a exposição prolongada a ambientes insalubres tornam os profissionais suscetíveis à infecção, o que pode levar à diminuição da força de trabalho disponível para atender os afetados, além disso, a escassez de protocolos claros e a incerteza sobre os riscos de contaminação exacerbam a dificuldade em implementar medidas de controle eficazes (Elidio et al., 2024). 

Nesse cenário, os enfermeiros desempenham funções essenciais, como triagem de pacientes, administração de cuidados de emergência, educação em saúde e monitoramento das condições de higiene e segurança, eles também têm um papel importante na organização e no encaminhamento dos pacientes para tratamentos especializados, quando necessário (Mercado, 2021). Sua capacidade de lidar com situações de alta pressão, tomar decisões rápidas e atuar de forma coordenada com outros membros da equipe de saúde é vital para a gestão da crise. 

Outro aspecto importante é a atuação dos profissionais de saúde na prevenção de surtos de doenças. Além de cuidar dos pacientes, enfermeiros e médicos têm a responsabilidade de orientar a população sobre os riscos das enchentes e as medidas preventivas, como o uso de água potável, a proteção contra o contato com águas contaminadas e a higiene adequada. (Menezes et al., 2021).  O trabalho educativo é crucial para minimizar a propagação de doenças e melhorar a adesão a medidas de prevenção entre as comunidades afetadas. 

A preparação prévia para essas situações de emergência é fundamental para garantir uma resposta rápida e eficiente. Isso inclui a capacitação contínua dos profissionais de saúde para lidar com desastres, o fornecimento de recursos adequados e a implementação de planos de contingência (Veras, 2024). O fortalecimento das redes de apoio entre os profissionais de saúde e as autoridades locais também é essencial para otimizar a resposta em situações críticas.  

A colaboração interprofissional, envolvendo enfermeiros, médicos, assistentes sociais e outros profissionais, é crucial para garantir uma abordagem integrada e eficaz, no entanto, é importante destacar que, apesar das dificuldades, os profissionais de saúde têm uma resiliência notável diante das adversidades, sua dedicação e empenho em continuar prestando cuidados, mesmo em condições extremas, são fundamentais para salvar vidas e apoiar a recuperação das comunidades afetadas (Martinho, 2021). 

O apoio psicológico aos profissionais de saúde, que também estão sujeitos a traumas e estresse, é um aspecto crucial para garantir que eles possam continuar desempenhando seu papel com eficiência e saúde mental preservada, portanto, a atuação dos enfermeiros e dos profissionais de saúde durante as enchentes é essencial para o enfrentamento das crises de saúde pública (Chamy et al., 2025).  

A sobrecarga de trabalho, a escassez de recursos e o risco de contaminação exigem uma resposta coordenada, estratégica e bem planejada, que leve em consideração tanto a saúde da população quanto a dos próprios profissionais de saúde (Honda, Almeida, 2021).  

7 Planejamento e Resiliência do Sistema de Saúde: Melhorias da Resposta as Enchentes em Manaus 

A cidade de Manaus, situada no coração da Amazônia, enfrenta anualmente os efeitos das enchentes provocadas pela cheia dos rios Negro e Solimões, essas ocorrências naturais afetam diretamente a estrutura urbana, o acesso aos serviços básicos e, sobretudo, a saúde pública (Chamy et al., 2025). 

Diante desse cenário, torna-se essencial o desenvolvimento de um plano de planejamento e resiliência do sistema de saúde, com foco na preparação, resposta rápida e recuperação diante de desastres naturais, o conceito de resiliência no sistema de saúde refere-se à capacidade de manter e restaurar suas funções essenciais durante e após eventos adversos (Honda, Almeida, 2021).  

No contexto das enchentes em Manaus, isso implica fortalecer a infraestrutura das unidades de saúde, capacitar profissionais para atuação em situações de emergência, garantir o abastecimento de insumos e medicamentos e estabelecer fluxos de atendimento adaptados à realidade das áreas alagadas (Martinho, 2021). 

Uma das estratégias fundamentais para melhorar a resposta às enchentes é o planejamento antecipado baseado em dados históricos e previsões meteorológicas, a integração entre os setores de saúde, defesa civil, meio ambiente e assistência social permite a elaboração de planos de contingência eficazes, que preveem a realocação de serviços, a montagem de unidades móveis de saúde e a criação de rotas seguras para o transporte de pacientes e profissionais (Veras, 2024). 

Além disso, é indispensável a implementação de ações voltadas à vigilância epidemiológica, com foco na prevenção e controle de doenças de veiculação hídrica e zoonoses, como leptospirose, hepatite, a e diarreias agudas, que tendem a se proliferar durante os períodos de cheia (Souza, 2021). A distribuição de materiais informativos, saneantes, e a orientação sobre práticas de higiene também fazem parte das ações de prevenção em saúde coletiva. 

O fortalecimento do sistema de informação em saúde é outro pilar do plano de resiliência. Plataformas digitais de monitoramento em tempo real ajudam na identificação precoce de surtos, no direcionamento de recursos e na tomada de decisões rápidas e baseadas em evidências, a adoção de protocolos de emergência e a realização de simulados intersetoriais também contribuem para que as equipes estejam preparadas para agir com agilidade e eficiência (Filho et al., 2021). 

Por fim, a promoção da equidade no acesso à saúde durante enchentes deve ser prioridade. Populações vulneráveis, como moradores de áreas ribeirinhas, periferias e comunidades indígenas, precisam ser incluídas de forma central nas estratégias de resposta (Giacomini, Barros, 2024). 

O planejamento deve garantir que esses grupos recebam cuidados adequados e contínuos mesmo diante da instabilidade provocada pelos eventos climáticos extremos, portanto, investir em planejamento e resiliência do sistema de saúde é mais do que uma medida técnica é um compromisso com a proteção da vida e com a justiça social (Tanabe, Schneider, 2024) 

Em uma cidade marcada por sua rica biodiversidade e complexidade geográfica como Manaus, estar preparado para as enchentes é garantir a continuidade da assistência à saúde e reduzir os impactos humanos e sociais causados por esses desastres naturais. 

A primeira estratégia essencial para melhorar a resposta às enchentes em Manaus é o desenvolvimento de planos de contingência bem estruturados, esses planos devem ser específicos para as realidades locais e levar em consideração a vulnerabilidade das diferentes comunidades (Giacomini, Barros, 2024). 

A criação de mapas de risco, que identifiquem áreas mais suscetíveis a alagamentos, é crucial para garantir que os recursos de saúde sejam alocados de maneira eficiente e que os serviços possam ser rapidamente direcionados para onde são mais necessários, além disso, os planos de contingência devem incluir protocolos claros para a evacuação de hospitais e postos de saúde, o transporte de pacientes e a mobilização de equipes de emergência. (Honda, Almeida, 2021).  

A distribuição de insumos é outro aspecto vital que precisa ser melhor planejado, durante as enchentes, a escassez de medicamentos, equipamentos médicos e materiais básicos como água potável, medicamentos para doenças infecciosas e material de primeiros socorros pode comprometer gravemente a eficácia do atendimento. (Tanabe, Schneider, 2024).

 Uma solução é a criação de estoques de emergência em locais estratégicos, como unidades de saúde e centros de atendimento, que sejam rapidamente acessíveis em caso de desastre, além disso, o governo e as autoridades de saúde devem estabelecer parcerias com organizações não governamentais (ONGs) e outras entidades para garantir o fornecimento contínuo de insumos, especialmente durante períodos prolongados de crise (Filho et al., 2021). 

A capacitação constante dos profissionais de saúde é outro ponto fundamental para a preparação do sistema. Enfermeiros, médicos e outros trabalhadores de saúde devem ser treinados para lidar com os desafios específicos das enchentes, como o manejo de surtos de doenças transmitidas pela água, atendimento a traumas e a gestão de pacientes com doenças crônicas. (Andrade, 2024). 

 Treinamentos simulados e workshops sobre como atuar em condições adversas, como a falta de recursos e a exposição a ambientes insalubres, devem ser realizados periodicamente para garantir que os profissionais estejam preparados para atuar de forma eficaz e segura (Castro, 2024).  

Além da capacitação, é essencial criar redes de apoio e de comunicação entre os profissionais de saúde e outras áreas do governo e da sociedade civil, a coordenação entre os serviços de saúde, equipes de emergência, forças armadas e voluntários é essencial para garantir que a resposta seja rápida e coordenada (Chamy et al., 2025). A utilização de tecnologias de informação para coordenar os esforços e distribuir recursos também é uma estratégia importante, permitindo o monitoramento em tempo real da situação e a alocação eficiente de pessoal e insumos. 

A assistência pós-enchente é um componente crítico que muitas vezes é negligenciado nos planos de contingência. Após o impacto imediato das enchentes, as comunidades precisam de apoio para a recuperação, que inclui não apenas o tratamento de doenças, mas também apoio psicológico e social (Cabral, 2023). 

As vítimas de enchentes frequentemente enfrentam sérios traumas emocionais, além de perdas materiais significativas. A inclusão de serviços de saúde mental no planejamento de resposta a desastres, com a disponibilização de psicólogos e assistência social, é fundamental para ajudar as comunidades a superar os impactos psicológicos de tais tragédias (Cardoso, Vidal, Souza, 2024). 

A reestruturação da infraestrutura de saúde também deve ser considerada uma estratégia importante no fortalecimento da resposta a enchentes, o investimento na construção de unidades de saúde resilientes, que sejam capazes de suportar as condições extremas das enchentes, deve ser uma prioridade (Cadoná, Freitas, 2024).  

 Isso inclui a elevação de hospitais e postos de saúde, a utilização de materiais de construção adequados para áreas alagadas e a instalação de sistemas de drenagem e proteção contra alagamentos (Good et al., 2021). 

Por fim, a educação em saúde para as comunidades afetadas deve ser promovida antes, durante e após as enchentes, a conscientização sobre medidas de prevenção, como o uso de água potável, o cuidado com a higiene pessoal e a prevenção de doenças transmitidas pela água, pode reduzir significativamente o número de casos de doenças infecciosas (Giacomini, Barros, 2024). 

Programas de saúde comunitária, com o apoio de agentes de saúde locais, podem desempenhar um papel fundamental na disseminação dessas informações e na promoção de práticas saudáveis.  

Diante disso, o fortalecimento do planejamento e da resiliência do sistema de saúde em Manaus exige a implementação de estratégias multifacetadas que envolvam a criação de planos de contingência claros, a capacitação de profissionais de saúde, a melhoria na distribuição de insumos, o investimento em infraestrutura resiliente e o apoio contínuo às comunidades afetadas. Essas ações garantirão não apenas uma resposta eficiente durante as enchentes, mas também uma recuperação mais rápida e sustentável para as populações vulneráveis (Filho et al., 2021). 

8 Resultados e Discussões 

As enchentes em Manaus têm se tornado cada vez mais frequentes e intensas, impactando severamente a saúde pública da cidade, os resultados obtidos neste estudo mostram que a vulnerabilidade das populações afetadas pelas enchentes está diretamente relacionada à fragilidade da infraestrutura de saúde, à escassez de recursos médicos e à dificuldade de acesso aos serviços essenciais (Cappelari, Meneghel, 2021). 

Além disso, a exposição a condições insalubres, como a contaminação da água e a falta de saneamento adequado, contribui para o aumento significativo de doenças de veiculação hídrica, como leptospirose, hepatite A e diarreias infecciosas. 

A análise dos dados revela que as comunidades em áreas de risco são as mais impactadas, uma vez que a falta de planejamento prévio e a escassez de recursos dificultam a resposta rápida e eficaz aos surtos de doenças  (Chamy et al., 2025).  

As dificuldades logísticas de transporte, o isolamento de algumas áreas e a falta de infraestrutura básica como estradas e serviços de saneamento comprometem ainda mais o acesso das populações afetadas aos cuidados médicos (Andrade, 2024).  Durante as enchentes, a capacidade de resposta dos serviços de saúde fica sobrecarregada, o que resulta em tempos de espera mais longos e em um atendimento menos eficaz, aumentando o risco de complicações e mortes. (Cardoso, Vidal, Souza, 2024). 

Um dos principais achados deste estudo foi o aumento de doenças infecciosas relacionadas à água, com um pico significativo de casos de leptospirose, hepatite A e diarreias infecciosas durante e após os períodos de enchentes, a contaminação da água devido ao transbordamento de esgotos e o armazenamento inadequado de água potável são fatores determinantes para a propagação dessas doenças. (Cabral, 2023). Dados locais indicam que as taxas de hospitalização e os custos com tratamentos para essas doenças aumentaram substancialmente em comparação com os períodos de estiagem, o que representa uma sobrecarga significativa para o sistema de saúde local (Castro, 2024).  

A análise dos efeitos psicológicos das enchentes também foi um ponto crucial, a perda de moradias, bens e entes queridos gerou um aumento nos casos de transtornos emocionais, como ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, o apoio psicológico ainda é insuficiente nas áreas mais afetadas, com um número limitado de profissionais capacitados para atender às demandas de saúde mental. (Cappelari, Meneghel, 2021). A falta de suporte psicológico adequado agrava o sofrimento das vítimas, dificultando o processo de recuperação emocional e social. 

Os profissionais de saúde enfrentam um ambiente de trabalho extremamente desafiador durante as enchentes. Além do risco de contaminação, a escassez de equipamentos e a sobrecarga de pacientes tornam o trabalho mais difícil e extenuante, a falta de treinamento específico para o atendimento em situações de desastre e a carência de infraestrutura adequada nos hospitais e postos de saúde dificultam a resposta das equipes médicas (Good et al., 2021).  Muitos profissionais relatam sentimentos de frustração e impotência diante da sobrecarga de trabalho e da limitação de recursos, o que compromete a qualidade do atendimento prestado.  

Por outro lado, alguns pontos positivos também foram identificados durante este estudo, como as ações de mobilização comunitária, o engajamento das comunidades locais no apoio ao processo de assistência à saúde, através da participação ativa em campanhas de prevenção e de cuidados de saúde, mostrou-se uma estratégia eficaz na redução da propagação de doenças e no auxílio à resposta emergencial (Elidio et al., 2024). Programas de educação em saúde, implementados antes e durante as enchentes, têm mostrado resultados positivos na conscientização da população sobre práticas de higiene e prevenção de doenças. 

Além disso, o uso de tecnologias de informação tem se mostrado útil na coordenação das ações de resposta, permitindo a troca de informações em tempo real entre diferentes unidades de saúde e órgãos governamentais, a utilização de plataformas digitais para o monitoramento de surtos de doenças e o acompanhamento das necessidades das comunidades afetadas tem contribuído para a melhoria na alocação de recursos e na organização da resposta (Martinho, 2021). 

Em relação à resposta do sistema de saúde, as estratégias de planejamento e preparação para desastres, como a criação de planos de contingência específicos para enchentes, foram identificadas como essenciais para mitigar os impactos das enchentes na saúde pública (Honda, Almeida, 2021).  

A falta de planos estruturados e a incapacidade de responder rapidamente às necessidades da população revelaram-se como as principais falhas do sistema de saúde de Manaus, a implementação de planos de contingência adequados, com a definição de rotas de evacuação, distribuição de insumos médicos e a capacitação constante dos profissionais de saúde, são fundamentais para garantir uma resposta mais eficaz (Tanabe, Schneider, 2024).

Diante disso, os resultados deste estudo indicam que a combinação de fatores como infraestrutura precária, falta de planejamento, escassez de recursos e dificuldade de acesso aos serviços de saúde contribui significativamente para o agravamento dos impactos das enchentes sobre a saúde pública em Manaus (Giacomini, Barros, 2024).  

No entanto, também foi possível identificar boas práticas, como a mobilização comunitária e o uso de tecnologia para o monitoramento das situações de emergência, que podem ser expandidas e aprimoradas para enfrentar as futuras enchentes, para melhorar a resposta do sistema de saúde, é essencial o fortalecimento das políticas públicas voltadas para a preparação e resiliência em desastres, a melhoria da infraestrutura de saúde e a ampliação do acesso a serviços de apoio psicológico e social (Andrade, 2024). 

9. Considerações Finais  

O presente estudo evidenciou os impactos profundos das enchentes na saúde pública em Manaus, destacando as múltiplas barreiras que dificultam o acesso da população aos serviços de saúde essenciais em momentos de crise, a contaminação da água e o aumento de doenças de veiculação hídrica, como leptospirose, hepatite A e diarreias infecciosas, são fatores preponderantes na deterioração da saúde da população afetada. Além disso, a sobrecarga dos serviços de saúde, a escassez de recursos e a fragilidade da infraestrutura contribuem para a disseminação de doenças e comprometem a resposta adequada do sistema de saúde. 

O impacto psicológico das enchentes, com o aumento dos casos de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, também foi um aspecto crucial abordado neste estudo, a perda de moradias, bens materiais e entes queridos torna o apoio psicológico uma necessidade urgente e, muitas vezes, negligenciada. As limitações no atendimento psicológico e o número reduzido de profissionais qualificados para lidar com esses casos demonstram a necessidade de uma maior atenção à saúde mental nas respostas a desastres. 

O papel dos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros, foi igualmente destacado como fundamental para o enfrentamento das emergências, contudo, as condições adversas de trabalho, incluindo a escassez de equipamentos, o risco de contaminação e a sobrecarga de pacientes, apresentam desafios significativos à qualidade do atendimento prestado, o apoio e o fortalecimento da capacitação desses profissionais são essenciais para a eficácia da resposta. 

O estudo também evidenciou a importância do planejamento e da preparação prévia do sistema de saúde para eventos como as enchentes, a falta de planos de contingência e a insuficiência de recursos em áreas de risco comprometem a resposta emergencial e a continuidade dos serviços essenciais. A implementação de planos específicos de contingência, a ampliação da infraestrutura e o uso de tecnologia para o monitoramento da situação emergencial são medidas que podem melhorar substancialmente a resposta do sistema de saúde. 

 Embora o contexto das enchentes em Manaus apresente grandes desafios, o estudo apontou algumas boas práticas que podem ser ampliadas. A mobilização comunitária e a utilização de tecnologias de informação para coordenar a resposta são exemplos de estratégias eficazes que podem ser expandidas em futuras crises. 

Além disso, o engajamento da população local em ações de prevenção e educação em saúde mostrou-se uma abordagem importante na mitigação dos impactos das enchentes. 

Diante disso, a resposta a desastres, como as enchentes, requer a integração de diferentes áreas do conhecimento e um esforço conjunto entre governo, profissionais de saúde, organizações comunitárias e a própria população, a implementação de políticas públicas robustas, a melhoria da infraestrutura de saúde e o fortalecimento da rede de apoio psicológico são essenciais para minimizar os impactos das enchentes sobre a saúde pública e promover uma recuperação mais rápida e eficaz para as comunidades afetadas. A adaptação do sistema de saúde a essas realidades de desastres naturais é um desafio que, embora complexo, pode ser enfrentado com planejamento, inovação e comprometimento de todos os envolvidos. 

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