REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch102025005100727
Andréa Rosa da S Gonçalves; Rosiária Alves de Mendonça; Nívea Mattos de Figueiredo; Orientadora Pós- doc. Ana Carolina C. Massone; Coorientador Me. Áureo dos Santos Araújo
Resumo
O artigo explora o papel do Building Information Modeling (BIM) na promoção da sustentabilidade na construção civil, destacando sua aplicação como ferramenta estratégica para reduzir a geração de resíduos e otimizar recursos ao longo do ciclo de vida dos projetos. A integração do BIM com a Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) e práticas de economia circular tem demonstrado resultados significativos, incluindo reduções de até 30% nas emissões de carbono e no desperdício de materiais em obras de grande porte. Além disso, a tecnologia permite o monitoramento contínuo e ajustes preditivos, promovendo maior eficiência e precisão no planejamento e execução dos projetos. Apesar das barreiras relacionadas à interoperabilidade de sistemas e à necessidade de capacitação, o BIM se consolida como um catalisador para a transformação do setor, alinhando-o aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O estudo reafirma a importância do investimento em pesquisa e inovação tecnológica para ampliar a adoção do BIM e alcançar padrões mais elevados de sustentabilidade na construção civil.
Palavras-chave: BIM, sustentabilidade, construção civil, economia circular, gerenciamento de resíduos.
Abstract
This article examines the role of Building Information Modeling (BIM) in advancing sustainability in the construction industry, emphasizing its application as a strategic tool to reduce waste generation and optimize resources throughout project life cycles. The integration of BIM with Life Cycle Assessment (LCA) and circular economy practices has yielded significant results, including reductions of up to 30% in carbon emissions and material waste in large-scale projects. Additionally, BIM facilitates continuous monitoring and predictive adjustments, enhancing efficiency and precision in project planning and execution. Despite challenges related to system interoperability and the need for workforce training, BIM emerges as a catalyst for industry transformation, aligning it with the United Nations’ Sustainable Development Goals (SDGs). This study underscores the importance of investing in research and technological innovation to expand BIM adoption and achieve higher sustainability standards in construction.
Keywords: BIM, sustainability, construction industry, circular economy, waste management.
1 Introdução
A construção civil ocupa um papel fundamental no desenvolvimento urbano e na economia global, mas também é um dos setores com maior impacto ambiental, especialmente devido ao elevado consumo de recursos naturais e à grande quantidade de resíduos gerados. De acordo com dados recentes, o setor da construção pode representar até 50% dos resíduos sólidos urbanos em algumas cidades, evidenciando a urgência de medidas eficazes para controlar e minimizar esses impactos (Oliveira et al., 2020). Nesse contexto, o Building Information Modeling (BIM) surge como uma tecnologia promissora e estratégica para reduzir a geração de resíduos, promovendo a sustentabilidade e eficiência nos processos construtivos. Com sua capacidade de integrar informações multidisciplinares, o BIM oferece aos profissionais da engenharia uma abordagem mais precisa e sustentável para a gestão de resíduos, desde a fase de planejamento até a operação e manutenção dos projetos (Eastman et al., 2011).
O uso do BIM permite a criação de modelos digitais tridimensionais, que não apenas visualizam o projeto final, mas também integram informações sobre os materiais, custos e cronograma da construção. Estudos apontam que a integração desses dados através do BIM possibilita uma visão holística e detalhada do empreendimento, favorecendo a tomada de decisões informadas e baseadas em dados concretos. Eastman et al. (2011) e Kumar (2012) ressaltam que, ao prever o consumo e desperdício de materiais em cada etapa da obra, o BIM oferece a possibilidade de ajustar o projeto antecipadamente, minimizando a quantidade de resíduos gerados. Esse potencial de antecipação é essencial em projetos de grande porte, como infraestrutura de transporte e instalações comerciais, onde a coordenação entre disciplinas é complexa e os impactos ambientais são elevados.
A adoção do BIM para a gestão de resíduos e controle ambiental ainda enfrenta desafios, especialmente em países como o Brasil. A falta de padronização e a necessidade de investimentos em capacitação e software são barreiras significativas que limitam a adoção em larga escala dessa tecnologia (Barros Neto et al., 2020). Além disso, a ausência de regulamentações nacionais específicas para o uso do BIM em obras públicas restringe seu potencial de contribuir para a sustentabilidade e eficiência no setor de construção civil (Pinto da Silva Filho, 2019). No entanto, a crescente pressão por práticas sustentáveis e o fortalecimento das legislações ambientais estão incentivando a adoção do BIM como uma solução viável para a modernização e sustentabilidade no setor.
A literatura nacional e internacional sobre o BIM na construção civil demonstra que seu uso possibilita a criação de modelos mais avançados, como o 4D e 5D, que integram dados de tempo e custo ao modelo tridimensional (Moreno, 2019; Sacks et al., 2018). Essa abordagem permite a modelagem precisa do cronograma de execução e a projeção detalhada dos custos em cada etapa, facilitando o planejamento de medidas de prevenção e mitigação dos resíduos. Em um estudo aplicado a sistemas prediais no Brasil, Oliveira et al. (2020) mostram que o BIM permitiu prever a geração de resíduos de materiais como concreto e argamassa, ajudando engenheiros e arquitetos a ajustarem seus projetos para reduzir desperdícios.
2 Metodologia
A metodologia proposta se baseia na integração de modelos BIM com indicadores de sustentabilidade para prever e gerenciar a geração de resíduos na construção civil, promovendo um modelo de construção alinhado aos princípios de eficiência ambiental e econômica. Com foco em projetos de grande escala, como edifícios públicos e obras de infraestrutura, essa metodologia utiliza o BIM como uma plataforma de análise e controle que permite monitorar a utilização de materiais e estimar o impacto ambiental do projeto ao longo de seu ciclo de vida.
Defende-se que o BIM, ao centralizar dados detalhados de todos os materiais, componentes e processos construtivos, permite a análise criteriosa do potencial de geração de resíduos desde as fases iniciais do projeto até a operação e manutenção. Sua metodologia abrange a avaliação do ciclo de vida dos materiais, o monitoramento de indicadores ambientais específicos, como o consumo energético e emissões de CO₂, e a criação de um plano de gestão de resíduos baseado em dados preditivos. Esses aspectos são avaliados continuamente durante o desenvolvimento do projeto, permitindo ajustes rápidos e alinhados às metas de sustentabilidade.
Etapas da Metodologia
1. Modelagem Inicial e Definição de Indicadores de Sustentabilidade: A primeira etapa consiste na criação de um modelo BIM tridimensional detalhado, onde são integrados indicadores de sustentabilidade e critérios ambientais. Esses indicadores, que incluem dados sobre o consumo de materiais, emissão de poluentes e reciclabilidade dos componentes, permitem que o BIM atue como uma ferramenta para monitoramento ambiental. Dr. Silva Filho enfatiza a importância de estabelecer metas de sustentabilidade no início do projeto, definindo limites para o volume de resíduos admissível, bem como objetivos de reciclagem e reutilização. Essa abordagem inicial ajuda a orientar o design para a redução de resíduos e a escolha de materiais com menor impacto ambiental.
2. Análise de Ciclo de Vida dos Materiais (LCA): Na segunda fase, é realizada uma análise do ciclo de vida dos materiais (Life Cycle Assessment – LCA) diretamente no modelo BIM. O LCA permite que cada material seja avaliado em relação ao seu impacto ambiental desde a extração, transporte e fabricação, até o descarte e a possibilidade de reaproveitamento. Dr. Silva Filho destaca que essa análise permite prever os impactos a longo prazo e ajustar o projeto para reduzir o uso de materiais com alta geração de resíduos. Com a LCA integrada ao BIM, é possível simular diferentes cenários de escolha de materiais e observar como essas variáveis afetam a geração de resíduos e o desempenho sustentável do projeto.
3. Previsão de Geração de Resíduos e Planejamento de Descarte: Nesta fase, a metodologia utiliza o BIM para realizar uma previsão quantitativa da geração de resíduos em cada etapa da obra, identificando os momentos e componentes com maior potencial de desperdício. Com base nos dados do modelo, são implementados algoritmos de previsão que estimam o volume de resíduos em relação à quantidade de material especificada, ao tipo de processo construtivo e às características dos materiais utilizados. Argumenta-se que essa etapa possibilita o desenvolvimento de um plano de descarte sustentável, com definições precisas para o armazenamento, transporte e reciclagem dos resíduos no canteiro de obras, assegurando a destinação correta dos materiais e minimizando os custos operacionais associados ao desperdício.
4. Implementação de Estratégias de Reaproveitamento e Reciclagem: Baseando-se nos dados do BIM, propõe-se a adoção de estratégias de reciclagem e reaproveitamento de materiais, priorizando componentes que possam ser reutilizados no próprio projeto ou em outros empreendimentos. A metodologia sugere o uso de uma biblioteca de materiais sustentáveis no BIM, onde cada componente é classificado de acordo com seu potencial de reciclagem e durabilidade. Esta fase visa reduzir a quantidade de resíduos enviados a aterros, promovendo a economia circular na construção civil. O BIM, ao fornecer dados precisos sobre o volume e a composição dos resíduos, permite uma gestão eficiente e planejada para o reaproveitamento dos materiais.
5. Monitoramento Contínuo e Revisão Preditiva: A última etapa da metodologia envolve o monitoramento contínuo do projeto, onde o BIM é utilizado para coletar e analisar dados em tempo real durante a construção. Esse monitoramento contínuo é essencial para assegurar que as metas de sustentabilidade estejam sendo atendidas e permite que ajustes sejam feitos de forma proativa. Sugere-se a implementação de relatórios periódicos com base nos indicadores de sustentabilidade definidos no início do projeto, proporcionando uma visão clara do desempenho ambiental e permitindo que as equipes tomem decisões rápidas e embasadas para melhorar a eficiência na gestão de resíduos.
Vantagens e Contribuições da Metodologia
A metodologia oferece uma abordagem estruturada e detalhada para a previsão e gestão de resíduos na construção civil, destacando-se pela integração de dados ambientais e econômicos ao modelo BIM. Ao possibilitar a previsão precisa do volume de resíduos e a criação de planos sustentáveis de reaproveitamento, essa metodologia contribui para uma construção civil mais alinhada com os objetivos globais de sustentabilidade. As práticas propostas são especialmente vantajosas para grandes empreendimentos, onde o controle e redução de resíduos representam uma economia significativa de recursos, além de reduzir o impacto ambiental. A implementação dessa metodologia pode servir de referência para a formulação de políticas públicas e normas técnicas que incentivem a adoção do BIM como ferramenta obrigatória para projetos sustentáveis, promovendo um setor de construção mais eficiente e ambientalmente responsável.
03 Fundamentação Teórica
O Papel do BIM na Sustentabilidade na Construção Civil
A construção civil, responsável por cerca de 38% das emissões globais de dióxido de carbono e pelo consumo de aproximadamente 36% da energia final mundial, enfrenta desafios urgentes para mitigar seus impactos ambientais e alinhar-se aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas (EASTMAN et al., 2011; JALAEI; JRADE, 2015). Nesse contexto, o Building Information Modeling (BIM) surge como uma solução estratégica, permitindo o planejamento e gerenciamento de projetos de maneira eficiente e sustentável. Através da integração de dados multidisciplinares em modelos tridimensionais, o BIM possibilita a redução de desperdícios, a otimização de recursos e a transição para uma economia circular no setor.
A utilização do BIM é especialmente eficaz em conjunto com análises de ciclo de vida (Life Cycle Assessment – LCA), metodologia que avalia o impacto ambiental de materiais e processos ao longo de todo o ciclo de vida do projeto. Segundo Jalaei e Jrade (2015), a integração do BIM com o LCA permite a redução de até 30% nas emissões de carbono em projetos de edificações sustentáveis. Essa abordagem possibilita decisões mais precisas, como a escolha de materiais de menor impacto ambiental e o planejamento para reaproveitamento de resíduos. Além disso, Carvalho, Bragança e Mateus (2020) apontam que o uso do BIM facilita a obtenção de certificações ambientais, como LEED e BREEAM, ao fornecer dados consistentes e padronizados sobre o desempenho sustentável das construções.
Além dos benefícios ambientais, o BIM promove ganhos financeiros significativos. Estudos indicam que a adoção do BIM pode gerar economia de até 20% nos custos totais de construção, ao minimizar retrabalhos e reduzir o desperdício de materiais (CARVALHO; BRAGANÇA; MATEUS, 2020). Sua aplicação é especialmente relevante em projetos de infraestrutura de grande escala, onde o impacto ambiental e os custos associados ao desperdício tendem a ser elevados. O uso de modelos 4D e 5D, que incorporam informações de tempo e custo ao modelo tridimensional, melhora a previsão de resíduos e a eficiência operacional, alinhando o projeto às metas globais de sustentabilidade (EASTMAN et al., 2011).
Entretanto, desafios ainda persistem para a ampla implementação do BIM, como a interoperabilidade de dados, altos custos iniciais e a necessidade de capacitação técnica especializada. No entanto, esforços de pesquisa e políticas públicas têm promovido sua adoção, evidenciando que o BIM não é apenas uma ferramenta tecnológica, mas um elemento transformador para o setor da construção civil. Sua capacidade de integrar análises avançadas, promover economia de recursos e melhorar a governança ambiental posiciona o BIM como indispensável para projetos comprometidos com inovação e sustentabilidade (JALAEI; JRADE, 2015; CARVALHO; BRAGANÇA; MATEUS, 2020).
Integração de Indicadores de Sustentabilidade no BIM
A integração de Building Information Modeling (BIM) com indicadores de sustentabilidade representa uma abordagem transformadora para o setor da construção civil, historicamente conhecido pelo alto consumo de recursos naturais. O setor é responsável por aproximadamente 37% das emissões globais de CO₂ relacionadas à energia e 40% do consumo global de energia, além de gerar cerca de 25% dos resíduos sólidos no mundo(sustainability-16-07654…)(sustainability-16-04718)(sustainability 16-01172…). Nesse contexto, o BIM desponta como uma ferramenta essencial para alinhar a eficiência operacional e a gestão sustentável, proporcionando um fluxo centralizado de informações ao longo do ciclo de vida do projeto. A modelagem digital permite a integração de análises ambientais detalhadas com otimizações estruturais e logísticas, essenciais para mitigar impactos ambientais.
A utilização do BIM em conjunto com a Avaliação de Ciclo de Vida (LCA) tem se destacado como um diferencial no planejamento sustentável. Estudos apontam que a integração BIM-LCA possibilita reduzir até 28% das emissões de carbono em projetos que substituem aço convencional por aço reciclado, mantendo a eficiência estrutural e ambiental equiparável à madeira(sustainability-16-04718)(sustainability-16-01172…). Ferramentas como o OneClick LCA têm simplificado esse processo, permitindo avaliações automatizadas desde a extração de matérias-primas até a fase de descomissionamento, o que otimiza a seleção de materiais e possibilita a comparação rápida entre diferentes cenários de design(sustainability-16-01172…). No entanto, desafios como a interoperabilidade limitada entre softwares e a necessidade de maior padronização de dados ainda impedem a ampla adoção do BIM como ferramenta central para sustentabilidade na construção(sustainability-16-07654…)(sustainability-16- 01172…).
Outro avanço significativo no uso do BIM está na adoção de princípios da Economia Circular (CE), que visa ampliar a vida útil dos materiais e estruturas. A aplicação de estratégias como design para desmontagem e reutilização de componentes tem gerado resultados expressivos, como os observados no projeto Shanghai Centre, que alcançou uma redução de 40% no consumo de energia por meio da integração BIM (sustainability-16-07654…)(sustainability-16-04718). Além disso, soluções baseadas em tecnologias emergentes, como impressão 3D e pré-fabricação modular, têm potencializado o uso de materiais reciclados e minimizado resíduos. Estudos recentes destacam que a incorporação do CE com BIM não apenas reduz emissões incorporadas, mas também facilita o planejamento de novos ciclos produtivos, criando cadeias de valor mais sustentáveis e resilientes(sustainability-16-04718)(sustainability-16- 01172…).
A tomada de decisão em projetos que utilizam BIM e LCA tem sido aprimorada com a aplicação de métodos multicritério, como o Processo Analítico Hierárquico (AHP). Essa abordagem permite ponderar aspectos econômicos, sociais e ambientais, auxiliando na priorização de soluções mais sustentáveis. Um exemplo é a análise de projetos que implementam fachadas de alta eficiência energética, onde o uso do AHP permitiu identificar alternativas com potencial de reduzir até 35% das emissões totais de carbono, promovendo decisões baseadas em dados concretos e alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável(sustainability-16-04718)(sustainability-16-01172…). Essa convergência entre ferramentas digitais e metodologias analíticas está moldando um novo paradigma na engenharia civil, no qual inovação tecnológica e responsabilidade ambiental caminham lado a lado.
Previsão e Planejamento de Resíduos no Uso do BIM
A construção civil é responsável por aproximadamente 30% a 40% dos resíduos sólidos urbanos globais, evidenciando a necessidade de práticas mais eficientes e sustentáveis para minimizar seus impactos ambientais. Nesse contexto, o Building Information Modeling (BIM) tem se consolidado como uma ferramenta fundamental para o planejamento e a previsão de resíduos, contribuindo para a gestão eficiente de recursos e a redução de desperdícios ao longo do ciclo de vida dos projetos (LIMA et al., 2024). A modelagem tridimensional e a capacidade do BIM de integrar parâmetros temporais e financeiros tornam a ferramenta essencial para identificar etapas críticas de geração de resíduos e planejar ações de mitigação.
O uso do BIM combinado com a análise do ciclo de vida (LCA) é uma estratégia eficiente para mapear os impactos ambientais de materiais e processos. Ferramentas como o Revit, integradas ao OneClick LCA, permitem avaliar com precisão o volume de resíduos gerados e propor alternativas sustentáveis, como o reaproveitamento de materiais. De acordo com Lima et al. (2024), a aplicação do BIM-LCA em um estudo de caso reduziu em 25% os resíduos previstos para um projeto de médio porte, além de otimizar o uso de componentes reciclados, contribuindo para a economia circular. Essa abordagem destaca-se como uma prática essencial para cumprir metas de sustentabilidade e alinhar projetos aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Além de sua aplicação prática, o BIM facilita a colaboração entre equipes multidisciplinares, promovendo a centralização e o compartilhamento de informações. Isso é especialmente relevante em projetos de grande escala, onde as fases de construção e demolição podem ser as maiores geradoras de resíduos. Segundo Dalla Mora et al. (2020), a integração de modelos preditivos ao BIM permite simular cenários de construção, otimizando decisões desde a concepção do projeto até a execução, reduzindo custos e impactos ambientais. Esses avanços destacam a importância de integrar o BIM às políticas de gerenciamento de resíduos.
Apesar de suas vantagens, a implementação do BIM ainda enfrenta desafios, como a necessidade de padronização de dados e a interoperabilidade entre plataformas. No entanto, o progresso tecnológico, aliado ao desenvolvimento de regulamentações específicas e à capacitação técnica, tem impulsionado a adoção do BIM como ferramenta estratégica no planejamento de resíduos. Assim, o BIM não apenas promove maior eficiência e sustentabilidade no setor da construção, mas também contribui para a transformação da indústria em uma atividade mais responsável e ambientalmente alinhada às exigências globais (DALLA MORA et al., 2020; LIMA et al., 2024).
Monitoramento Contínuo e Ajustes Preditivos no BIM
O Building Information Modeling (BIM) tem se consolidado como uma ferramenta essencial para a modernização da construção civil, permitindo um monitoramento contínuo e ajustes preditivos que maximizam a eficiência operacional e minimizam os impactos ambientais. Essa tecnologia, integrada a sistemas como a Internet das Coisas (IoT) e Digital Twins, possibilita o rastreamento em tempo real de materiais, equipamentos e processos, promovendo uma gestão mais precisa ao longo do ciclo de vida do projeto (CHENG et al., 2024). Estudos apontam que o uso do BIM reduz em até 30% os custos operacionais em projetos que utilizam monitoramento em tempo real, ao prever e corrigir problemas antes que estes ocorram (NAMAKI et al., 2024).
O BIM é particularmente eficaz ao integrar análises preditivas, permitindo que decisões baseadas em dados sejam tomadas para mitigar riscos. Segundo Cheng et al. (2024), em projetos de grande porte, como infraestruturas e edifícios comerciais, a aplicação de ajustes preditivos reduziu em 40% os atrasos relacionados a falhas em equipamentos e interrupções no cronograma. Essa abordagem combina algoritmos de aprendizado de máquina e análise de dados históricos para prever falhas e otimizar processos, garantindo maior aderência aos prazos e orçamentos estabelecidos.
Além disso, a capacidade de monitoramento do BIM é fundamental para a gestão sustentável de recursos. Modelos 5D permitem integrar dados de custos e tempo a análises ambientais, monitorando emissões de carbono e consumo energético em tempo real. NAMAKI et al. (2024) destacam que o uso do BIM em um projeto de infraestrutura no Canadá resultou na redução de até 15% das emissões de carbono em relação a métodos convencionais, reforçando seu papel como uma ferramenta indispensável para o cumprimento de metas globais de sustentabilidade.
Apesar de suas vantagens, a implementação do monitoramento contínuo e dos ajustes preditivos no BIM enfrenta desafios, como a interoperabilidade entre diferentes softwares e a necessidade de treinamento especializado. No entanto, avanços na integração de tecnologias emergentes, como inteligência artificial e automação, têm potencial para superar essas barreiras. Assim, o BIM se estabelece como um componente estratégico para transformar a construção civil, alinhando-a às demandas por eficiência, inovação e sustentabilidade no cenário global (CHENG et al., 2024; NAMAKI et al., 2024).
04 Estudos de Casos Aplicados
Estudos de Caso sobre o Uso do BIM na Redução de Resíduos e Promoção da Sustentabilidade A aplicação do Building Information Modeling (BIM) tem se destacado como uma estratégia eficaz na redução da geração de resíduos e na promoção da sustentabilidade no setor da construção civil. A seguir, são apresentados três estudos de caso que ilustram a implementação do BIM em diferentes contextos, destacando os locais de aplicação, metodologias empregadas, melhorias alcançadas, implementações realizadas e desafios futuros identificados.
1. Implementação do BIM no Gerenciamento de Resíduos em Obras de Construção Civil
Um estudo realizado por Nunes (2022) investigou a aplicação do BIM no gerenciamento de resíduos em obras de construção civil no Brasil. A pesquisa utilizou a modelagem BIM para estimar a quantidade de resíduos gerados durante a execução de um projeto, permitindo a identificação de pontos críticos e a proposição de soluções para a minimização de desperdícios. Os resultados indicaram uma redução significativa na geração de resíduos, além de melhorias na eficiência do processo construtivo. A implementação do BIM exigiu investimentos em capacitação profissional e na aquisição de softwares especializados. Como desafios futuros, destaca-se a necessidade de integração do BIM com outras ferramentas de gestão e a adaptação às especificidades de cada projeto.
2. Uso do BIM para Avaliação de Sustentabilidade em Edificações
Nunes (2022) conduziu uma pesquisa sobre a aplicação do BIM na avaliação de sustentabilidade de edificações em Portugal. O estudo utilizou a modelagem BIM para integrar critérios de sustentabilidade desde as fases iniciais do projeto, permitindo a análise de desempenho energético, uso de materiais sustentáveis e eficiência hídrica. As melhorias observadas incluíram a otimização do consumo de recursos naturais e a redução da pegada de carbono das edificações. A implementação do BIM para esse fim demandou a adaptação de processos de projeto e a formação de equipes multidisciplinares. Os desafios futuros envolvem a consolidação de práticas sustentáveis no setor e a atualização constante frente às inovações tecnológicas.
3. Integração do BIM com Práticas Lean para a Sustentabilidade na Construção
Um estudo de caso apresentado por Silva (2017) explorou a integração do BIM com práticas Lean Construction em projetos no Brasil. A pesquisa demonstrou que a combinação dessas abordagens resultou em uma gestão mais eficiente dos recursos, redução de desperdícios e melhoria na qualidade dos processos construtivos. A implementação conjunta do BIM e Lean exigiu mudanças culturais nas organizações e a adoção de novas metodologias de trabalho. Os desafios futuros incluem a disseminação dessas práticas no setor e a capacitação contínua dos profissionais envolvidos.
05. Conclusão
O uso do Building Information Modeling (BIM) na construção civil é uma abordagem que transcende a simples digitalização de projetos, consolidando-se como uma ferramenta estratégica para a sustentabilidade. Ao integrar modelagem 3D com parâmetros de tempo (4D) e custo (5D), o BIM tem demonstrado sua capacidade de reduzir a geração de resíduos, otimizar recursos e promover práticas alinhadas à economia circular. Estudos recentes evidenciam que a aplicação do BIM em conjunto com a Avaliação do Ciclo de Vida (LCA) pode diminuir em até 30% as emissões de carbono e reduzir os resíduos sólidos em projetos de grande escala, destacando-se como uma solução indispensável para mitigar os impactos ambientais do setor da construção.
Apesar das vantagens evidentes, a implementação do BIM ainda enfrenta barreiras, como a interoperabilidade entre softwares, a necessidade de padronização de metodologias e os custos associados à capacitação técnica. No entanto, a crescente conscientização sobre os benefícios econômicos e ambientais, aliada ao fortalecimento de regulamentações e incentivos governamentais, aponta para uma ampliação de sua adoção no futuro próximo.
A aplicação prática do BIM, conforme discutido neste artigo, reafirma seu papel central na modernização do setor da construção civil. Seja na previsão de resíduos, no monitoramento contínuo ou na implementação de ajustes preditivos, a tecnologia oferece soluções concretas para os desafios ambientais e operacionais do setor. Para consolidar essa transformação, é essencial que a indústria adote uma abordagem colaborativa, investindo em pesquisa, capacitação e inovação tecnológica.
Portanto, o BIM não é apenas uma ferramenta, mas um catalisador para a construção de um futuro mais eficiente, sustentável e alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Sua implementação em larga escala não apenas transformará a forma como construímos, mas também redefinirá os padrões de sustentabilidade no setor, contribuindo significativamente para a preservação dos recursos naturais e a redução dos impactos ambientais.
Referências
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