REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202505081803
Ramos, Pedro Dias
de Oliveira, Michel Anderson Galvão
Dreher, Eduardo
RESUMO
O envelhecimento facial é um processo complexo e multifatorial que afeta todas as camadas anatômicas da face, resultando em flacidez e ptose dos tecidos. Nos últimos anos, os fios espiculados de polidioxanona (PDO COG) ganharam destaque como alternativa minimamente invasiva para o rejuvenescimento facial, prometendo tração imediata e estímulo colagênico. Este artigo tem como objetivo revisar criticamente a literatura científica acerca da real eficácia desses fios na sustentação e tração dos tecidos faciais. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura nas bases PubMed, Scielo, ScienceDirect e Google Scholar, incluindo publicações entre 2004 e 2024 que abordassem aspectos clínicos, histológicos e mecânicos dos fios de PDO COG. Os estudos analisados apontam que, embora os fios espiculados possam proporcionar melhora estética imediata e estímulo à neocolagênese, o efeito lifting sustentado é variável e, muitas vezes, transitório. Em vez de promover uma tração ativa significativa, os fios podem atuar principalmente como suporte passivo, retardando a progressão da flacidez. Conclui-se que, apesar de sua popularidade, ainda são necessários mais estudos controlados e de longo prazo para validar a eficácia dos fios de PDO espiculados como método de tração facial duradoura.
Palavras-chave: fios de PDO, fios espiculados, rejuvenescimento facial, lifting facial, tração tecidual.
ABSTRACT
Facial aging is a complex and multifactorial process that affects all anatomical layers of the face, resulting in tissue sagging and ptosis. In recent years, polydioxanone cog threads (PDO COG) have gained prominence as a minimally invasive alternative for facial rejuvenation, promising immediate tissue traction and collagen stimulation. This article aims to critically review the scientific literature regarding the actual effectiveness of these threads in supporting and lifting facial tissues. A narrative literature review was conducted using the PubMed, Scielo, ScienceDirect, and Google Scholar databases, including publications from 2004 to 2024 that addressed clinical, histological, and mechanical aspects of PDO COG threads. The analyzed studies indicate that, although cog threads may offer immediate aesthetic improvement and neocollagenesis stimulation, the sustained lifting effect is variable and often transient. Rather than promoting significant active traction, the threads may primarily function as passive support, slowing the progression of facial laxity. It is concluded that, despite their popularity, more controlled and long-term studies are needed to validate the efficacy of PDO cog threads as a lasting facial lifting method.
Keywords: PDO threads, cog threads, facial rejuvenation, facial lifting, tissue traction.
INTRODUÇÃO
O envelhecimento facial é um processo multifatorial que envolve alterações estruturais em diferentes camadas anatômicas, incluindo pele, tecido subcutâneo, músculos e ossos. Dentre os sinais mais evidentes, a flacidez e a ptose dos tecidos representam queixas comuns em pacientes que buscam procedimentos estéticos minimamente invasivos. Nesse contexto, os fios espiculados ou farpados (COG) de polidioxanona (PDO) surgem como uma alternativa não cirúrgica para o rejuvenescimento facial, com a promessa de promover tração e sustentação imediata dos tecidos.
O uso de fios espiculados, especialmente os absorvíveis como os de PDO, tem se popularizado devido à praticidade do procedimento, tempo de recuperação reduzido e menores riscos quando comparados às técnicas cirúrgicas tradicionais. A literatura, contudo, ainda apresenta resultados heterogêneos quanto à eficácia real desses dispositivos no reposicionamento dos tecidos faciais, sobretudo no que se refere à manutenção prolongada do efeito lifting.
Embora muitos estudos e relatos clínicos atribuam aos fios a capacidade de tracionar os tecidos de forma ativa, observa-se, na prática, que esse efeito pode ser transitório ou mesmo subjetivo. Neste sentido, questiona-se se os fios de PDO (COG) exercem de fato uma tração efetiva ou se atuam majoritariamente como um suporte passivo, retardando a progressão da flacidez facial, sem reposicionar estruturas de maneira significativa.
Diante dessa controvérsia, o presente artigo tem como objetivo revisar criticamente a literatura científica sobre os fios de PDO (COG), analisando os mecanismos propostos de ação, os resultados clínicos relatados e a real eficiência da tração dos tecidos faciais promovida por esse método.
O presente artigo tem como objetivo realizar uma revisão crítica da literatura científica acerca do uso dos fios espiculados de polidioxanona no rejuvenescimento facial, com ênfase na análise dos mecanismos de ação propostos, dos efeitos clínicos observados e da efetividade da tração tecidual promovida por essa técnica. Busca-se, ainda, discutir se os fios atuam como instrumentos de tração ativa ou como suporte passivo no retardo da flacidez facial.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão narrativa da literatura, com o objetivo de analisar criticamente as evidências científicas disponíveis acerca da eficácia dos fios espiculados de polidioxanona (PDO COG) no rejuvenescimento facial. A pesquisa bibliográfica foi conduzida nas bases de dados PubMed, Scielo, ScienceDirect e Google Scholar, utilizando os descritores em português e inglês: “fios de PDO”, “fios espiculados”, “lifting facial com fios”, “PDO threads”, “barbed threads”, “facial rejuvenation”, e “tissue traction”.
Foram incluídos artigos publicados entre 2004 e 2024, escritos em português e inglês, que abordassem aspectos clínicos, histológicos e mecânicos do uso de fios espiculados em procedimentos estéticos faciais. Estudos experimentais, ensaios clínicos, revisões sistemáticas, artigos de revisão narrativa, além de relatos de casos relevantes também foram considerados.
Critérios de exclusão incluíram estudos duplicados, trabalhos com foco exclusivamente em fios lisos ou monofilamentos, e publicações sem acesso ao texto completo.
RESULTADOS
Princípios biomecânicos dos fios de PDO
Os fios de PDO foram inicialmente desenvolvidos para uso como suturas absorvíveis em procedimentos cirúrgicos, sendo amplamente utilizados na medicina estética a partir dos anos 2000, sobretudo em países asiáticos. Sua introdução no rejuvenescimento facial visou oferecer uma alternativa minimamente invasiva à cirurgia de lifting, com o objetivo de promover o reposicionamento dos tecidos por meio de tração e sustentação cutânea (SULAMANIDZE et al., 2011).
Os fios espiculados são especialmente indicados para procedimentos de lifting facial, uma vez que suas estruturas permitem a fixação nos tecidos subdérmicos, ancorando-se nas camadas mais profundas da pele (WU, 2019; DE BENITO; FERNÁNDEZ-SANZA, 2018).
Os fios espiculados (cogged threads) se diferenciam principalmente pelo formato e pela disposição das espículas, o que influencia diretamente seu mecanismo de tração e sustentação tecidual. Conforme ilustrado por Hong e Park (2024), os fios representados na Figura 1 são do tipo farpa longa em U ou V, frequentemente chamados de fios molding. Esses fios são dobrados ao meio e possuem uma seção central sem espículas, com duas fileiras de espículas bidirecionais voltadas para o centro. Essa configuração proporciona uma força de tração concentrada no ponto médio do fio, ideal para áreas que demandam elevação mais robusta, como a linha mandibular. Já os fios da Figura 2 são curtos e retos, inseridos em forma de “I”, com espículas bidirecionais distribuídas ao longo de toda a extensão. Esses fios são projetados para aplicações mais simples e versáteis, permitindo maior variedade de inserção, especialmente em áreas delicadas ou com menor necessidade de tração intensa. Além disso, os fios de farpa curta podem ter variações como espículas em espiral ou múltiplas direções, conferindo diferentes graus de ancoragem e efeito lifting. Essa diferenciação entre os tipos de fios permite ao profissional escolher a abordagem mais adequada conforme a anatomia e o objetivo estético de cada paciente.
Figura 1: Fio Molding
Fonte: HONG; PARK, 2024
Figura 2: Fio Espiculado.
Fonte: HONG; PARK, 2024.
O mecanismo de ação dos fios está baseado, inicialmente, em uma sustentação mecânica imediata promovida pelas espículas que se prendem ao tecido subcutâneo, seguida por uma ação biológica de médio a longo prazo desencadeada pela reação inflamatória local. Essa reação leva à formação de colágeno ao redor do fio, promovendo um efeito de firmeza e espessamento dérmico progressivo. A resposta inicia-se imediatamente após a inserção do fio, quando proteínas do hospedeiro presentes nos fluidos locais (sangue, linfa, fluido intersticial) adsorvem-se de maneira espontânea e desorganizada à superfície do material. Essa camada de proteínas condiciona o reconhecimento celular, desencadeando uma resposta inflamatória inicial mediada por neutrófilos, que liberam citocinas, enzimas e espécies reativas de oxigênio. Após alguns dias, os neutrófilos são substituídos por macrófagos e monócitos, que perpetuam a inflamação e recrutam fibroblastos. Estes passam a sintetizar colágeno em excesso, favorecendo o processo de encapsulamento fibroso ao redor do fio. A formação de células gigantes de corpo estranho (FBGCs) também pode ser observada, embora seu papel ainda não seja totalmente compreendido. Essa sequência de eventos resulta em bioestimulação local, contribuindo para a melhora da firmeza e da estrutura da pele (WANITPHAKDEEDECHA et al., 2022; SAVOIA et al., 2014). No entanto, o grau e a durabilidade dessa tração são variáveis, dependendo de fatores como a técnica empregada, as características da pele e a profundidade de ancoragem.
A figura 3 demonstra análises histológicas que foram realizadas para avaliar as alterações bioestruturais. A análise imuno-histológica mostrou que tecidos fibróticos, especialmente colágeno, estavam em contato direto com os fios de PDO espiculados (Figura 3A). Além disso, a coloração com tricrômico de Masson revelou que a área tangencial ao fio espiculado de PDO era mais ampla e apresentava uma coloração azul mais intensa do que a área correspondente sem espículas do fio (Figura 3B). De forma consistente, a coloração com Sirius red também demonstrou que as espículas de PDO induziram áreas fibróticas mais amplas e maior deposição de colágeno (Figura 3C). Importante destacar que, em comparação com o padrão de implantação em leque, a área perpendicular ao padrão de implantação cruzado (crisscross) apresentou uma área fibrótica mais extensa e uma densidade de colágeno significativamente elevada (Figuras 3B e 3C).
Figura 3: Efeitos do padrão de implantação dos fios espiculados de polidioxanona na fibrose do tecido mole. (A) Coloração com hematoxilina e eosina.(B) Coloração com tricrômico de Masson.(C) Coloração com Sirius red.
Fonte: SONG et al, 2021.
Ainda que o objetivo clínico seja a tração e elevação dos tecidos, alguns autores apontam que o principal efeito dos fios pode ser interpretado mais como um efeito de sustentação passiva, uma vez que a tração ativa proporcionada pelos fios tende a ser limitada e de curta duração. Segundo Lycka et al. (2004), os fios espiculados apenas mantêm temporariamente os tecidos em posição, enquanto o processo de fibrose contribui para o resultado estético final, sem, necessariamente, haver uma tração estrutural significativa.
Essas observações colocam em debate a real função dos fios de PDO(COG) no rejuvenescimento facial, e abrem espaço para uma análise mais crítica sobre a eficácia da tração tecidual promovida por esses dispositivos.
Evidências clínicas sobre a tração imediata e a longo prazo
Diversos estudos clínicos têm investigado os efeitos estéticos dos fios de PDO (COG) no rejuvenescimento facial, com foco na avaliação do grau de tração, na durabilidade dos resultados e na satisfação dos pacientes.
Em estudo clínico conduzido por Bertossi et al. (2020), observou-se melhora imediata no contorno facial de pacientes tratados com fios espiculados, sobretudo na região mandibular. No entanto, os autores destacam que o efeito lifting pleno raramente se mantém de forma duradoura, sendo os resultados mais notáveis nos primeiros três meses após o procedimento. Esse padrão foi igualmente reportado por Savoia et al. (2014), que acompanharam pacientes por seis meses e verificaram uma diminuição progressiva da elevação facial, sugerindo que o suporte proporcionado pelos fios é temporário.
A literatura também evidencia que os resultados podem variar conforme o tipo de fio utilizado, a profundidade da aplicação e o grau de flacidez da pele. De Benito e Fernández-Sanza (2018), em seu compêndio sobre técnicas de lifting com fios, ressaltam que a indicação mais adequada dos fios é para pacientes com flacidez leve, justamente por dependerem mais da resposta inflamatória local do que de uma tração mecânica efetiva.
Wu (2019) reforça que a ancoragem dos fios em estruturas móveis, como a gordura malar ou o SMAS (sistema músculo-aponeurótico superficial), limita a estabilidade da tração ao longo do tempo. Segundo o autor, muitos dos efeitos relatados em fotografias clínicas podem ser atribuídos a edema e à reacomodação temporária dos tecidos após o trauma da aplicação.
Já Lycka et al. (2004) e Isse (2010) apontam que a suposta tração promovida pelos fios não é suficiente para reverter a ptose facial significativa, atuando mais como um fator de desaceleração da queda gravitacional do que como vetor de elevação ativa. Essa visão sustenta a hipótese de que os fios de PDO (COG) funcionam como uma “rede de contenção”, sustentando os tecidos em uma nova posição por um período limitado, até que a força da gravidade e a perda de suporte facial natural voltem a predominar.
Neste sentido, os achados apresentam variações significativas quanto à efetividade da tração real promovida pelos fios. A partir dessas evidências, torna-se necessário reavaliar criticamente o discurso de que os fios de PDO (COG) são capazes de produzir uma tração facial verdadeira, sustentada e comparável aos efeitos de um lifting cirúrgico.
Fios de PDO: tração ativa ou sustentação passiva?
A ideia de que os fios de PDO (COG) possuem uma tração ativa e sustentada é amplamente divulgada em materiais promocionais e discussões clínicas. No entanto, diversas evidências científicas e clínicas apontam para uma visão mais crítica sobre essa proposição, sugerindo que os fios atuam mais como um sistema de contenção passiva do que um mecanismo de tração contínua e ativa.
De acordo com Wanitphakdeedecha et al. (2022), os fios espiculados são capazes de proporcionar uma elevação inicial da pele devido à sua estrutura física e ao modo de inserção, mas esse efeito é transitório e dependente da resposta individual à fibrose induzida. Em outras palavras, a tração observada nos primeiros dias após o procedimento está mais relacionada à resposta inflamatória e à formação de colágeno ao redor do fio do que a uma tração mecânica contínua. Esse processo, portanto, não gera um efeito duradouro de elevação dos tecidos.
Além disso, Bertossi et al. (2020) corroboram essa visão, destacando que o efeito lifting observado nas primeiras semanas após a aplicação dos fios é, em grande parte, o resultado da reação inflamatória e da fibrose ao redor do fio, em vez de um mecanismo de tração ativa. Essa perspectiva é reforçada por outros estudos que sugerem que os fios de PDO espiculados atuam mais como um sistema de sustentação passiva, ajudando a manter os tecidos em uma posição elevada temporariamente, mas sem a capacidade de manter a tração de forma sustentada ao longo do tempo.
Isse (2010) já havia enfatizado essa ideia, observando que os fios com ganchos ou espículas funcionam mais como elementos de fixação, fixando os tecidos em um novo vetor de forma temporária, ao invés de proporcionar uma tração contínua e ativa. A verdadeira melhora clínica observada após a aplicação dos fios seria, portanto, decorrente da regeneração tecidual estimulada pelo processo inflamatório e pela produção de colágeno.
A obra de Sulamanidze et al. (2011), pioneira na técnica de lifting com fios, também reconhece que a profundidade de ancoragem dos fios e a capacidade elástica da pele são fatores críticos para o sucesso do procedimento. Embora enfatizem a importância do posicionamento vetorial e da técnica de aplicação, os próprios autores reconhecem que o efeito lifting gerado pelos fios é muitas vezes limitado e variável, não sendo capaz de proporcionar uma tração duradoura ou significativa.
De maneira semelhante, uma revisão abrangente sobre as técnicas de lifting com fios, organizada por De Benito e Fernández-Sanza (2018), salienta que os resultados visíveis tendem a ser mais evidentes em pacientes com flacidez leve a moderada, e que a durabilidade média dos efeitos estéticos dos fios de PDO (COG) gira em torno de 6 a 12 meses, indicando que o efeito lifting não é sustentado por um longo período de tempo. Essa evidência reforça a ideia de que os fios de PDO(COG) são, de fato, mais eficazes para oferecer uma sustentação temporária do que uma tração duradoura dos tecidos.
Estudos como os de Wu (2019) e Savoia et al. (2014) apontam que, embora os fios de PDO induza a formação de colágeno, não há evidências robustas de que isso proporcione uma tração suficientemente forte para modificar os vetores faciais profundos ou reverter de forma duradoura a ptose dos tecidos. Em vez disso, a regeneração tecidual induzida pelos fios seria o principal fator responsável pela melhora estética observada, mais do que a aplicação de tração física propriamente dita.
Portanto, a principal função dos fios de PDO(COG) deve ser entendida como uma sustentação passiva, e não como um mecanismo de tração ativa e prolongada. O efeito estético observado a curto prazo está relacionado principalmente à reação inflamatória e ao estímulo de produção de colágeno, e não à tração contínua dos tecidos. Os profissionais devem, assim, ter expectativas realistas quanto aos resultados, reconhecendo que os efeitos são temporários e não comparáveis a um lifting cirúrgico tradicional, sendo ideais para pacientes com flacidez leve a moderada que buscam um rejuvenescimento não invasivo.
Riscos, limitações e controvérsias
Os fios de PDO (COG) têm sido amplamente utilizados em procedimentos estéticos, com o objetivo principal de rejuvenescimento facial. No entanto, sua aplicação clínica deve ser cuidadosamente selecionada, considerando tanto os benefícios quanto às limitações da técnica.
- Indicações Clínicas
As indicações para o uso de fios de PDO (COG) são geralmente voltadas para pacientes com flacidez leve a moderada, especialmente em áreas como a região malar, mandíbula, pescoço e sobrancelhas. Esses pacientes apresentam perda de volume e elasticidade da pele, mas não uma ptose significativa que exigiria um lifting cirúrgico. A utilização dos fios é indicada para melhorar o contorno facial, promover uma sensação de firmeza e suavizar os sinais de envelhecimento sem os riscos e o tempo de recuperação associados a procedimentos invasivos (SAVOIA et al., 2014; DE BENITO; FERNÁNDEZ-SANZA, 2018).
Além do rejuvenescimento facial, os fios de PDO (COG) têm sido utilizados também em procedimentos de recontorno corporal, como o tratamento de flacidez abdominal e nos braços. Essas aplicações são frequentemente direcionadas a pacientes que buscam resultados discretos e uma recuperação mais rápida, sem a necessidade de internação hospitalar ou longos períodos de afastamento das atividades cotidianas (BERTOSSI et al., 2020).
- Limitações da Técnica
Apesar de suas vantagens estéticas e da crescente demanda por procedimentos não invasivos, a técnica de fios de espiculados apresenta limitações que devem ser cuidadosamente avaliadas pelos profissionais. Uma das principais restrições é a durabilidade dos resultados, que, como mencionado anteriormente, tende a ser temporária. Os fios de PDO (COG), uma vez absorvidos pelo organismo, não oferecem mais suporte mecânico, o que leva a uma perda gradual do efeito de tração (SULAMANIDZE et al., 2011). Isso implica que, em pacientes com flacidez facial mais acentuada, o procedimento pode não proporcionar os resultados esperados em longo prazo.
Outra limitação significativa está relacionada à técnica de aplicação. A correta inserção dos fios requer habilidade e experiência do profissional, pois uma colocação inadequada pode resultar em assimetrias, irregularidades na pele e, em alguns casos, complicações como infecções ou necrose (LYCKA et al., 2004). Adicionalmente, a dor e o desconforto durante e após o procedimento são frequentemente relatados, embora esses sintomas sejam geralmente leves e temporários.
Além disso, como qualquer procedimento estético, a aplicação de fios de espiculados pode ser contraindicada em pacientes com certas condições médicas, como doenças autoimunes, infecções cutâneas ativas ou cicatrização deficiente. A contraindicação para a utilização em pessoas com flacidez severa, que necessitam de um lifting cirúrgico tradicional, também é um ponto importante a ser observado, já que a técnica não proporciona o mesmo nível de resultados permanentes (ISSE, 2010).
DISCUSSÃO
O uso de PDO COG tem se consolidado como uma alternativa minimamente invasiva para o rejuvenescimento facial, oferecendo benefícios como menor tempo de recuperação e redução dos riscos associados a procedimentos cirúrgicos tradicionais (BERTOSSI et al., 2020). Esses fios promovem um efeito lifting imediato e estimulam a produção de colágeno, contribuindo para a melhoria da flacidez cutânea (SAMIZADEH; SAMIZADEH, 2024).
No entanto, a durabilidade dos resultados obtidos com os fios de PDO COG ainda é objeto de debate na literatura. Alguns estudos indicam que o efeito lifting pode ser transitório, com resultados visíveis por um período limitado (LYCKA et al., 2004). Outros autores sugerem que a eficácia a longo prazo está mais relacionada à indução de fibrose e neocolagênese do que à tração mecânica propriamente dita (SAVOIA et al., 2014).
A técnica de inserção dos fios também desempenha um papel crucial nos resultados obtidos. Técnicas que utilizam padrões de implantação específicos, como o crisscrossing, têm demonstrado maior eficácia na formação de uma arquitetura fibrosa que sustenta os tecidos faciais (SONG et al., 2021). Além disso, a escolha entre fios de tração unidirecional ou bidirecional pode influenciar na distribuição da tensão e, consequentemente, na durabilidade do efeito lifting (DE BENITO; FERNÁNDEZSANZA, 2018).
Apesar dos avanços nas técnicas e materiais utilizados, é fundamental ressaltar que os resultados podem variar significativamente entre os pacientes. Fatores como idade, grau de flacidez, qualidade da pele e expectativas individuais devem ser cuidadosamente considerados na seleção dos candidatos ao procedimento (WANITPHAKDEEDECHA et al., 2022).
Embora os fios espiculados de PDO representem uma opção promissora no arsenal de técnicas para rejuvenescimento facial, é imprescindível que os profissionais estejam cientes das limitações e variabilidades associadas ao procedimento. A escolha adequada da técnica, aliada a uma avaliação criteriosa do paciente, é essencial para otimizar os resultados e garantir a satisfação dos pacientes.
CONCLUSÃO
Os fios de PDO espiculados tornaram-se uma opção popular para rejuvenescimento facial minimamente invasivo, oferecendo melhora estética imediata com pouca recuperação. Apesar da proposta de tração tecidual, evidências indicam que seu principal efeito é a sustentação passiva, sendo mais eficazes em casos de flacidez moderada. Ainda são necessários estudos que avaliem sua eficácia a longo prazo, bem como o desenvolvimento de materiais mais duradouros e técnicas combinadas com outros tratamentos estéticos. Com avanços tecnológicos e aplicação criteriosa, os fios de PDO podem continuar evoluindo como parte relevante da estética moderna.
REFERÊNCIAS
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ISSE, N. Thread Lift Sutures: Still in the Lift? Plastic and Reconstructive Surgery, v. 121, p. 101–103, 2010.
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