TORACOSTOMIA COM DRENAGEM PLEURAL FECHADA: ANÁLISE NO BRASIL ENTRE 2009-2024

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202505041507


Tiago Halyson de Oliveira Gomes; Gabriela Alves Szyflinger; Juliana Araújo de Oliveira; Lucas Oliveira Souza; Matheus Nery Prado Gazotto; Carolina Araújo Silva; Lucas Mateus Rodrigues de Freitas; Bruna Moraes Villegas; Mateus Costa de Souza; Marcelly Harumi Kawasaki


RESUMO: INTRODUÇÃO: A toracostomia com drenagem pleural fechada é um procedimento vital para o manejo de doenças torácicas. Entre 2009 e 2024, foram realizados 619.967 procedimentos no Brasil, com maior incidência nas regiões Sudeste e Sul. A mortalidade do período foi de 14,59%, com pico em 2021 (19,83%), refletindo possíveis impactos da COVID-19. A maioria dos atendimentos ocorreu por urgência (90,3%), e o financiamento foi majoritariamente via Média e Alta Complexidade (MAC). O estudo destaca a importância do SUS no acesso a esse procedimento e a necessidade de aprimoramento das estratégias de atendimento. OBJETIVOS: O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento epidemiológico acerca da toracostomia com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024. METODOLOGIA: O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), acerca dos procedimentos de toracostomia com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024 (Código: 0412040166), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). As variáveis coletadas e estudadas foram: distribuição de casos cirúrgicos por região, caráter de atendimento, distribuição anual, tipo de financiamento, óbitos anuais. RESULTADOS: Entre 2009 a 2024 houveram 619.967 casos de toracostomia com drenagem pleural fechada, no Brasil. A distribuição regional dos procedimentos cirúrgicos se deu: i) Região Norte: 43.788 (7%), ii) Região Nordeste: 142.622 (23%), iii) Região Sudeste: 219.160 (35,3%), iv) Região Sul: 158.711 (25,6%) e v) Região Centro-Oeste: 55.686 (9%). A distribuição anual dos procedimentos cirúrgicos se deu: 1) 2009: 2.896 (0,4%), 2) 2010: 28.134 (4,5%), 3) 2011: 31.589 (5,1%), 4) 2012: 33.216 (5,3%), 5) 2013: 35.591 (5,7%), 6) 2014: 37.440 (6%), 7) 2015: 39.138 (6,3%), 8) 2016: 40.224 (6,5%), 9) 2017: 40.823 (6,6%), 10) 2018: 41.677 (6,7%), 11) 2019: 42.906 (6,9%), 12) 2020: 42.028 (6,7%), 13) 2021: 47.383 (7,6%), 14) 2022: 51.569 (8,3%), 15) 2023: 53.595 (8,6%), 16) 2024: 51.758 (8,3%) A distribuição por caráter de atendimento se deu: i) eletivo: 39.799 (6,5%), ii) urgência: 560.122 (90,3%), iii) outros: 20.046 (3,2%) Os atendimentos foram divididos de acordo com o financiamento: 1) fundos de ações estratégicas e compensações (FAEC): 716 (0,2%) e 2) média e alta complexidade (MAC): 619.251 (99,8%). O número de óbitos durante ou após o procedimento contabilizaram 90.471 pacientes. CONCLUSÃO: A análise dos 619.967 casos de toracostomia com drenagem pleural fechada no Brasil ao longo de 15 anos revelou uma concentração significativa dos procedimentos nas regiões Sudeste (35,3%) e Sul (25,6%), sugerindo maior acesso a serviços de saúde nessas localidades. O caráter de urgência predominou (90,3%), reforçando a importância desse procedimento no manejo de emergências torácicas. A taxa de mortalidade geral de 14,59% evidencia os riscos associados, com picos notáveis em 2020 e 2021, possivelmente influenciados pela pandemia da COVID-19. O custo total do procedimento e os dias de internação refletem seu impacto no sistema de saúde pública, indicando a necessidade de otimização dos protocolos clínicos para reduzir complicações e tempo de hospitalização. Esses achados ressaltam a relevância da toracostomia na prática médica e a importância de estratégias para aprimorar sua segurança e eficácia no atendimento hospitalar.

PALAVRAS-CHAVE: “Toracostomia”; “Drenagem” ; “Derrame pleural”. 

INTRODUÇÃO:

A toracostomia com drenagem pleural fechada é um procedimento amplamente utilizado no tratamento de condições torácicas graves, como pneumotórax, hemotórax e derrames pleurais. A técnica visa aliviar a pressão intratorácica, melhorar a ventilação pulmonar e reduzir a mortalidade associada a traumas ou doenças respiratórias. Estudos mostram que a drenagem pleural fechada tem uma alta taxa de sucesso, especialmente em cenários de urgência, e sua eficácia é amplamente documentada em diversas revisões clínicas (KOLB et al., 2019).

Entretanto, apesar de sua eficácia, o procedimento está associado a riscos de complicações, como infecções pleurais e lesões pulmonares, o que pode influenciar a recuperação dos pacientes. Diversos fatores, incluindo comorbidades e condições clínicas preexistentes, afetam o prognóstico pós-operatório. Além disso, a gestão adequada dos custos hospitalares e a alocação de recursos para esses procedimentos continuam a ser desafios importantes para os sistemas de saúde, especialmente em contextos de alta demanda, como o enfrentado durante a pandemia de COVID-19 (LOPES et al., 2020).

OBJETIVOS:

O objetivo do presente trabalho foi realizar o levantamento epidemiológico acerca da toracostomia com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024.

METODOLOGIA:

O presente estudo trata-se de um estudo epidemiológico ecológico, descritivo, transversal e retrospectivo. Os dados foram coletados a respeito dos casos novos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), acerca dos procedimentos de toracostomia com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024 (Código: 0412040166), os quais encontram-se disponíveis no banco de dados online do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). 

As variáveis coletadas e estudadas foram: distribuição de casos cirúrgicos por região, caráter de atendimento, distribuição anual, tipo de financiamento, óbitos anuais. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do uso de frequências relativas com auxílio do programa Excel e o Tabwin 3.6. 

Em conformidade com a Resolução no 4661/2012, como o estudo trata-se de uma análise realizada por meio de banco de dados secundários de domínio público, este não foi encaminhado para apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS:

Entre 2009 a 2024 houveram 619.967 casos de toracostomia com drenagem pleural fechada, no Brasil. 

A distribuição regional dos procedimentos cirúrgicos se deu: i) Região Norte: 43.788 (7%), ii) Região Nordeste: 142.622 (23%), iii) Região Sudeste: 219.160 (35,3%), iv) Região Sul: 158.711 (25,6%) e v) Região Centro-Oeste: 55.686 (9%) (Gráfico 1).

Gráfico 1. Distribuição regional das toracotomias com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024. 

Fonte: Datasus. 

A distribuição anual dos procedimentos cirúrgicos se deu: 1) 2009: 2.896 (0,4%), 2) 2010: 28.134 (4,5%), 3) 2011: 31.589 (5,1%), 4) 2012: 33.216 (5,3%), 5) 2013: 35.591 (5,7%), 6) 2014: 37.440 (6%), 7) 2015: 39.138 (6,3%), 8) 2016: 40.224 (6,5%), 9) 2017: 40.823 (6,6%), 10) 2018: 41.677 (6,7%), 11) 2019: 42.906 (6,9%), 12) 2020: 42.028 (6,7%), 13) 2021: 47.383 (7,6%), 14) 2022: 51.569 (8,3%), 15) 2023: 53.595 (8,6%), 16) 2024: 51.758 (8,3%) (Gráfico 2). Sendo os três anos com maior ocorrência: 2023, 2024 e 2022, respectivamente. 

Gráfico 2. Distribuição anual das toracotomias com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024. 

Fonte: Datasus. 

A distribuição por caráter de atendimento se deu: i) eletivo: 39.799 (6,5%), ii) urgência: 560.122 (90,3%), iii) outros: 20.046 (3,2%) (Gráfico 3). 

Gráfico 3. Distribuição por caráter de atendimento das toracotomias com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024. 

Fonte: Datasus.

A distribuição por caráter de atendimento se deu: i) eletivo: 39.799 (6,5%), ii) urgência: 560.122 (90,3%), iii) outros: 20.046 (3,2%) Os atendimentos foram divididos de acordo com o financiamento: 1) fundos de ações estratégicas e compensações (FAEC): 716 (0,2%) e 2) média e alta complexidade (MAC): 619.251 (99,8%) (Tabela 1). 

Tabela 1. Distribuição por tipo de financiamento com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024. 

Fonte: Datasus. 

O número de óbitos durante ou após o procedimento contabilizaram 90.471 pacientes. A distribuição anual dos óbitos se deu: 1) 2009: 319 (0,3%), 2) 2010: 3.409 (3,7%), 3) 2011: 3.942 (4,3%), 4) 2012: 4.348 (4,8%), 5) 2013: 4.764 (5,2%), 6) 2014: 5.060 (5,6%), 7) 2015: 5.494 (6%), 8) 2016: 5.904 (6,4%), 9) 2017: 5.854 (6,5%), 10) 2018: 6.159 (6,8%), 11) 2019: 6.268 (6,9%), 12) 2020: 7.249 (8%), 13) 2021: 9.395 (10,4%), 14) 2022: 7.321 (8,1%), 15) 2023: 7.414 (8,2%) e 16) 2024:  7.571 (8,8%) (Gráfico 4). Sendo o ano 

Gráfico 4. Distribuição anual dos óbitos durante e após a realização das toracotomias com drenagem pleural fechada, no Brasil, entre 2009 a 2024. 

Fonte: Datasus. 

A taxa de mortalidade do período analisado foi de 14,59. Sendo a variação dessa taxa anualmente: 1) 2009: 11,02, 2) 2010: 12,12, 3) 2011: 11,48, 4) 2012: 13,09, 5) 2013: 13,39, 6) 2014: 13,51, 7) 2015: 14,04, 8) 2016: 14,68, 9) 2017: 14,34, 10) 2018: 14,78, 11) 2019: 14,61, 12) 2020:17,25, 13) 2021: 19,83, 14) 2022: 14,20, 15) 2023: 13,83, 16) 2024: 14,63. Sendo a maior taxa de óbito no ano de 2021 (Fonte: Datasus).

A média do valor dos procedimentos cirúrgicos foi de R$1.490.834.881,15, sendo o ano de 2023, 2021 e 2024 os três anos com maior valor gastos relacionados às hepatectomias (Fonte: Datasus). 

A quantidade de dias de  permanência na internação após procedimento foi de 5.550.276 dias no total. 

DISCUSSÃO:

A toracostomia com drenagem pleural fechada é um procedimento essencial na abordagem de diversas condições torácicas, incluindo pneumotórax, hemotórax e empiema. A análise epidemiológica dos procedimentos realizados no Brasil entre 2009 e 2024 revela uma distribuição heterogênea, com maior concentração na Região Sudeste (35,3%) e Sul (25,6%), possivelmente devido à maior infraestrutura hospitalar dessas regiões (SILVA et al., 2021). Essa discrepância também pode refletir diferenças no acesso à saúde e na distribuição de profissionais especializados no país.

O aumento progressivo no número de procedimentos ao longo dos anos, atingindo o pico em 2023 e 2024, pode estar relacionado à crescente incidência de doenças pulmonares e à melhoria na capacidade diagnóstica. Estudos sugerem que o envelhecimento populacional e o aumento das doenças pulmonares crônicas, como DPOC e câncer de pulmão, têm contribuído para essa tendência (MARTINS et al., 2020). Além disso, a pandemia de COVID-19 pode ter impactado diretamente esses números, uma vez que pacientes com complicações pulmonares graves necessitaram de drenagem pleural devido às sequelas da infecção (ALMEIDA et al., 2022).

A taxa de mortalidade associada ao procedimento foi de 14,59% no período analisado, com um pico em 2021 (19,83%), possivelmente refletindo as complicações da COVID-19 e a sobrecarga dos sistemas hospitalares. Segundo estudos, a taxa de mortalidade pode variar de acordo com fatores como comorbidades, idade do paciente e condição clínica prévia ao procedimento (RODRIGUES et al., 2019). A predominância de atendimentos por urgência (90,3%) também reforça a gravidade dos casos que necessitam da intervenção, sugerindo que a maioria dos procedimentos é realizada em contextos emergenciais e não eletivos.

O financiamento do procedimento no Sistema Único de Saúde (SUS) foi predominantemente realizado por meio da Média e Alta Complexidade (MAC), correspondendo a 99,8% dos casos, evidenciando a importância do SUS na realização desse procedimento essencial. O alto custo total associado à toracostomia com drenagem pleural fechada também sugere a necessidade de estratégias de otimização de recursos e melhoria da eficiência na realização desses atendimentos (FERREIRA et al., 2018). 

CONCLUSÃO:

A toracostomia com drenagem pleural fechada reafirma, ao longo dos últimos 15 anos, seu papel incontestável como procedimento salvador e insubstituível no cenário das emergências torácicas brasileiras. Os dados epidemiológicos revelam não apenas a ampla aplicação técnica, especialmente nas regiões Sudeste e Sul, como também os desafios persistentes do sistema de saúde, desde o alto índice de mortalidade até o impacto financeiro expressivo para o SUS.

O predomínio dos atendimentos de urgência, a taxa de mortalidade elevada em determinados anos (com picos em 2020 e 2021) e a sobrecarga hospitalar refletem a urgência de diretrizes clínicas mais eficazes e protocolos assistenciais padronizados, sobretudo diante de contextos críticos como o enfrentado durante a pandemia de COVID-19.

Mais do que números, este estudo reforça a importância de um olhar clínico integrado, centrado no paciente e sustentado por dados confiáveis. Investir em treinamento profissional, otimização de fluxos hospitalares e vigilância contínua da qualidade assistencial não é apenas uma medida estratégica. É um imperativo ético.

Que esses achados não fiquem restritos às estatísticas, mas sirvam de base para políticas públicas mais sensíveis, sustentáveis e seguras. A toracostomia não é apenas uma técnica; é uma ponte entre a urgência e a vida, e, como tal, deve ser continuamente aprimorada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALMEIDA, R. S.; COSTA, M. P.; SOUZA, G. F. Impacto da COVID-19 nas complicações pulmonares. Revista Brasileira de Pneumologia, v. 48, n. 2, p. 231-245, 2022.

DATASUS. Banco de dados do Sistema Único de Saúde. Ministério da Saúde, 2024. Disponível em: www.datasus.gov.br.

FERREIRA, A. L.; MENDES, C. A.; OLIVEIRA, J. P. Custos hospitalares da drenagem pleural no Brasil. Jornal Brasileiro de Economia da Saúde, v. 10, n. 1, p. 55-63, 2018.

KOLB, M. et al. The role of pleural drainage in the management of pneumothorax and pleural effusion. Journal of Thoracic Disease, 2019.

LOPES, L. et al. Complications and outcomes of pleural drainage in trauma patients. Revista Brasileira de Terapia Intensiva, 2020.

MARTINS, L. R.; SILVA, P. H.; CARDOSO, J. Epidemiologia das doenças pulmonares no Brasil. Revista de Medicina Interna, v. 29, n. 3, p. 102-118, 2020.

NAVARRO-ZAMBRANO, G. et al. Thoracostomy with placement of the thoracic tube in prone decubitus during COVID-19 pandemic. ResearchGate, 2021. Disponível em: www.researchgate.net.

RODRIGUES, E. T.; BARROS, F. N.; MORAES, D. S. Fatores associados à mortalidade em pacientes submetidos à toracostomia. Jornal de Cirurgia Torácica Brasileira, v. 15, n. 4, p. 187-195, 2019.

SILVA, C. M.; FREITAS, L. P.; ALMEIDA, T. Distribuição regional de procedimentos torácicos no Brasil. Revista Brasileira de Cirurgia Torácica, v. 23, n. 1, p. 67-79, 2021.

SOUZA, R. et al. Complicações e mortalidade associadas à toracostomia com drenagem pleural fechada: revisão sistemática. Revista Brasileira de Cirurgia Torácica, 2020. Disponível em: www.scielo.org.