THE ROLE OF PSYCHOLOGISTS IN THE TREATMENT OF PATIENTS IN PALLIATIVE CARE
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202504300545
Giovana Cristina Pinto Neves1
Peterson Alessandro Rigato De Souza2
Rogério Krause3
RESUMO
A atuação do psicólogo em cuidados paliativos é essencial para promover um cuidado abrangente e humanizado aos pacientes e seus familiares. Neste contexto, o psicólogo desempenha um papel multifacetado, focando nas necessidades emocionais e psicológicas que surgem durante as fases finais da vida. Sua principal função é auxiliar os pacientes a enfrentar o sofrimento psicológico, lhes ajudando a lidar com sentimentos de medo, tristeza e angústia existencial, e a encontrar um sentido e propósito durante esse período. Além de apoiar os pacientes, o psicólogo atua como mediador na comunicação entre pacientes, familiares e a equipe multidisciplinar de saúde, assegurando que as decisões sobre o cuidado reflitam os valores e desejos dos pacientes. Esta mediação é fundamental para garantir uma abordagem personalizada e respeitosa. Partindo desse contexto, o presente trabalho tem como objetivo mostrar a importância das intervenções psicológicas no contexto dos cuidados paliativos, destacando o papel crucial dos psicólogos e a necessidade de sua presença dentro das equipes multidisciplinares de cuidados paliativos. Destaca-se que o psicólogo também oferece suporte indispensável aos familiares, auxiliando-os na gestão do luto antecipado e no ajuste às mudanças na dinâmica familiar, o que contribui para a construção de um ambiente de cuidado mais equilibrado e menos carregado de sofrimento. Assim, a atuação do psicólogo em cuidados paliativos é fundamental para complementar o cuidado físico e médico, promovendo uma abordagem holística que valoriza a dignidade e a qualidade de vida dos pacientes e oferece um suporte emocional significativo para suas famílias.
Palavras-chave: Cuidados Paliativos, Psicólogo, Qualidade de vida, Família, Paciente.
ABSTRACT
The role of the psychologist in palliative care is essential for promoting comprehensive and humanized care for patients and their families. In this context, the psychologist plays a multifaceted role, focusing on the emotional and psychological needs that arise during the final stages of life. Their main function is to help patients cope with psychological suffering, assisting them in dealing with feelings of fear, sadness, and existential anguish, while helping them find meaning and purpose during this period. In addition to supporting patients, the psychologist acts as a mediator in communication between patients, families, and the multidisciplinary healthcare team, ensuring that decisions about care reflect the patients’ values and wishes. This mediation is fundamental to ensuring a personalized and respectful approach. Based on this context, the present work aims to highlight the importance of psychological interventions in the palliative care setting, emphasizing the crucial role of psychologists and the need for their presence within multidisciplinary palliative care teams. It is also noteworthy that the psychologist provides indispensable support to family members, helping them manage anticipatory grief and adjust to changes in family dynamics, contributing to a more balanced and less burdened care environment. Thus, the role of the psychologist in palliative care is fundamental in complementing physical and medical care, promoting a holistic approach that values the dignity and quality of life of patients and offers significant emotional support to their families.
Keywords: Palliative Care, Psychologist, Quality of Life, Family, Patient.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, os cuidados paliativos tornaram-se uma abordagem central no tratamento de pacientes com doenças graves e que ameaçam a vida. Esse modelo de cuidado visa aliviar a dor e o sofrimento, melhorando a qualidade de vida dos enfermos e seus familiares e atuar nos diferentes âmbitos da vida dos pacientes que enfrentam doenças potencialmente fatais (D’ALESSANDRO ET AL., 2023).
A evolução histórica dos cuidados paliativos, desde as origens no hospício medieval até à sua consolidação como filosofia de cuidados moderna e integrada, evidencia a importância crescente da dimensão psicológica neste contexto, sendo necessária equipe multidisciplinar de diversos profissionais especializados essenciais para o sucesso dos cuidados paliativos. De acordo com o Manual de Cuidados Paliativos de 2012, elaborado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), na prática de cuidados paliativos é fundamental uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e outros profissionais da saúde.
A abordagem moderna dos cuidados paliativos enfatiza não só o sofrimento mas também a melhoria da qualidade de vida, princípios esses que justificam diretamente a presença de um psicólogo qualificado desempenhando um papel fundamental para alcançar tais princípios. A intervenção psicológica em cuidados paliativos é essencial para fornecer apoio abrangente e compassivo, sendo o papel do psicólogo, multifacetado, indo desde ajudar a compreender e aceitar a condição do paciente até fornecer apoio emocional e psicológico durante o processo de luto.
A presença de um psicólogo na equipe é essencial para enfrentar os complexos desafios emocionais que acompanham o fim da vida e para garantir que a assistência prestada seja completa, abordando as dimensões física, emocional, social e espiritual do sofrimento. Segundo Hermes e Lamarca (2013), o psicólogo em cuidados paliativos atua na promoção da qualidade de vida e no diálogo entre familiares e pacientes e nas desordens emocionais que geram estresse e sofrimento aos indivíduos em tratamento e seus entes próximos. A atuação do psicólogo na equipe multidisciplinar vai além da simples intervenção; isto também inclui uma mediação eficaz entre diferentes especialistas, facilitando a comunicação e ajudando a estruturar um plano de cuidados verdadeiramente centrado no paciente.
Portanto, a integração do psicólogo na equipe de cuidados paliativos é essencial para garantir cuidados integrais e de qualidade. A sua contribuição não só ajuda a aliviar o sofrimento e o stress dos pacientes e das suas famílias, mas também promove uma abordagem mais humana e compassiva no cuidado destes pacientes. Este artigo pretende demonstrar a importância das intervenções psicológicas no contexto dos cuidados paliativos, enfatizando o papel crucial dos psicólogos e a necessidade da sua presença em equipas multidisciplinares de cuidados paliativos (CP). Esta introdução estabelece o contexto para a discussão do papel do psicólogo nos cuidados paliativos, a importância da abordagem multidisciplinar e a necessidade crítica de apoio psicológico neste ambiente.
O método a ser utilizado será o dedutivo uma vez que tomará como referencial a realidade hospitalar envolvendo o psicólogo. A presente pesquisa trata-se de uma pesquisa explicativa de cunho qualitativo. O método a ser utilizado será levantamento bibliográfico, onde serão utilizados como base de pesquisa: livros, estudos, artigos científicos, teses e documentos relevantes sobre a temática. Serão utilizados como base de pesquisa repositórios como: google acadêmico, Scielo e Pepsic. Dentro de um recorte temático dos últimos 20 anos atuação do psicólogo no tratamento de pacientes em cuidados paliativos.
1. CUIDADOS PALIATIVOS: DEFINIÇÃO E PRINCÍPIOS
Ao longo da história, os cuidados paliativos foram realizados em instituições conhecidas como “hospices”. O termo “hospice” deriva do latim “hospitium” que designava o local onde os peregrinos eram acolhidos durante suas longas viagens e recebiam alimentos e cuidados médicos. Essas instalações, que remontam ao século V, refletem o acolhimento e cuidado aos que necessitam de assistência (Sassani; Sanches, 2022).
A terminologia adotada para descrever os cuidados paliativos mudou ao longo do tempo, refletindo o desenvolvimento histórico no cuidado e atenção da terminalidade. O conceito mais utilizado é a definição apresentada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo a OMS, os cuidados paliativos consistem em uma abordagem que proporciona a melhora na qualidade de vida dos pacientes e familiares que vivenciam as dificuldades relacionadas a doenças que ameaçam a vida. Os cuidados paliativos têm como enfoque a prevenção e alívio do sofrimento, assim como promover a dignidade e qualidade de vida aos doentes e seus familiares. Essa abordagem ocorre por meio da identificação precoce, avaliação correta e tratamento da dor e de outros problemas físicos, psicossociais e espirituais (D’Alessandro et al., 2023). Nesse sentido, os cuidados paliativos devem ter uma abordagem holística, ou seja, vão além do tratamento médico da doença, considerando as necessidades biopsicossociais do paciente e de sua família.
O Manual de Cuidados Paliativos, elaborado pelo Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa, destaca que são necessários o entendimento e a compreensão de alguns princípios norteadores para a prática em cuidados paliativos, sendo os principais:
a) Prevenção, identificação, avaliação e gerenciamento dos problemas físicos, psicológicos, sofrimento espiritual e necessidades sociais;
b) Fornecer suporte a fim de auxiliar os pacientes a viver de modo mais pleno até o fim da vida;
c) Os cuidados paliativos são aplicáveis durante todo o decorrer da doença e em todos os locais de saúde, se modificando de acordo com as necessidades;
d) Não se busca acelerar ou adiar a morte, o objetivo é proporcionar qualidade de vida ao indivíduo com doença que ameaça a continuidade da vida;
e) Fornecer apoio ao paciente em seu próprio processo de luto e de seus familiares;
f) Os cuidados paliativos visam a melhora na qualidade de vida do indivíduo e podem influenciar de forma positiva o curso da doença
g) É fundamental o trabalho em equipe multiprofissional nos cuidados paliativos (D’ALESSANDRO ET AL., 2023)
Desse modo, de acordo com Silva e Sudigursky (2008), o conceito de cuidados paliativos se baseiam nos seguintes valores:
a) Qualidade de vida: Quando a cura não é mais uma possibilidade, o foco deve ser proporcionar qualidade de vida nos momentos finais ao paciente e familiares, garantindo conforto, alívio e controle dos sintomas, apoio espiritual, psicossocial e no processo de luto.
b) Abordagem humanista e valorização da vida: Esses são valores fundamentais na prática dos cuidados paliativos, isso implica a adoção de medidas e condutas que reconheçam o paciente como ser social com seus próprios valores, crenças e necessidades individuais. A valorização da vida reflete a ideia que cada pessoa tem um propósito e destaca o sentido e a importância de vivê-lo plenamente em toda sua dimensão.
c) Controle e alívio da dor e dos demais sintomas: Esse é um direito do paciente e dever dos profissionais, uma vez que uma dor mal controlada causa impacto para além do aspecto físico, e envolve fatores físicos, emocionais, sociais e espirituais e influência na qualidade de vida do indivíduo.
d) Questões éticas: Os aspectos éticos permeiam a atuação nos cuidados paliativos, é guiada pelos princípios éticos de respeito à vida humana que a equipe multidisciplinar promove a humanização do cuidado e do morrer com dignidade. Nessa perspectiva, cabe destacar os cinco princípios éticos que fundamentam a medicina paliativa, designado de princípio da veracidade (atuar com honestidade com o paciente e família), da proporcionalidade terapêutica (adotar somente medidas terapêuticas úteis), do efeito duplo (os efeitos positivos devem superar os efeitos negativos), da prevenção (antecipar complicações e aconselhar a família) e do não abandono (ser sempre presente e solidário ao paciente e a família em suas necessidades).
e) Abordagem multidisciplinar: A constituição de uma abordagem multidisciplinar é imprescindível para lidar com os múltiplos aspectos do paciente e da família, incluindo os sintomas físicos, psicológicos, espirituais e sociais, necessitando de diferentes profissionais para cuidar.
f) Morrer como processo natural: A morte é encarada como um processo natural, assim os cuidados paliativos buscam tornar esse processo menos doloroso, onde todo esse processo e seus significados devem ser discutidos com os familiares e o paciente.
g) A prioridade do cuidado sobre a cura: Nos cuidados paliativos, o cuidado é o foco e tem prioridade sobre a cura. Uma vez que nem todas as doenças podem ser curadas ou que a morte pode ser evitada, o cuidado é essencial no respeito e valorização da dignidade humana.
h) A comunicação: A comunicação é um elemento fundamental na relação terapêutica da equipe com o paciente e a família. A fim de estabelecer uma relação de confiança, onde o paciente e a família compartilhem seus medos, angústias e valores, é necessário que o profissional seja verdadeiro e sincero com as informações.
i) A espiritualidade e o apoio no luto: A espiritualidade desempenha um importante papel no momento do luto e durante o curso da doença. O paciente em cuidados paliativos e sua família se encontram frente a questões dolorosas, como a consciência da perda, e da quebra da relação afetiva, assim a espiritualidade influencia na forma como vivenciar o processo de morte e morrer.
A demanda por Cuidados Paliativos tem aumentado progressivamente, estima-se que que mais de 56 milhões de pessoas no mundo carecem de cuidados paliativos, desse total, mais de 25 milhões encontram-se no estágio final da vida. Os cuidados paliativos são para todas as pessoas com doença que ameaça a continuidade da vida e não existe a possibilidade de cura, essa abordagem contribui para o bem-estar não apenas do paciente, mas também dos familiares dos pacientes, o que intensifica a necessidade por cuidados paliativos (D’ALESSANDRO ET AL., 2023).
Outro fator relacionado ao aumento da demanda por cuidados paliativos está diretamente relacionado à maior longevidade e ao envelhecimento populacional, que resultam em maiores índices de doenças crônicas e de difícil manejo. O envelhecimento da população é uma condição de risco significativa para diversas doenças crônicas, como câncer, problemas cardíacos e neurodegenerativos, e que necessitam de assistência de longa duração. Ademais, o avanço tecnológico no campo da saúde proporcionou para que doenças letais se tornassem crônicas, e consequentemente contribuiu para o aumento da expectativa de vida de pacientes em tais condições, tornando o necessário a realização do cuidado humanizado com foco na qualidade de vida, o apoio emocional para os pacientes e familiares e uma abordagem multidisciplinar para lidar com as diferentes dimensões do paciente e da família (Silva ET AL., 2021).
Apesar do avanço tecnológico e da possibilidade de envelhecimento da população, a cura para muitas condições segue fora de alcance e a morte continua sendo um fato incontestável. Os pacientes para os quais a cura não é uma possibilidade vivenciam o abandono e recebem constantemente uma assistência médica insuficiente, uma vez que o tratamento de saúde se concentra na busca pela cura do doente. Desse modo, os cuidados paliativos surgem como um campo de atuação focado na qualidade de vida do paciente, independentemente de sua condição, no controle e alívio da dor, na humanização do cuidado, na prioridade do cuidado sobre a cura, no reconhecimento da morte como um processo natural e na possibilidade de morrer sem sofrimento e com dignidade (Academia Nacional de Cuidados Paliativos, 2012).
2. A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA NOS CUIDADOS PALIATIVOS
Nos cuidados paliativos, onde o cuidado e o acolhimento são uma prioridade, o psicólogo desempenha um papel fundamental e de grande importância na compreensão e manejo das necessidades emocionais e psicossociais dos pacientes e familiares. De acordo com Hermes e Lamarca (2013), “O psicólogo diante da terminalidade humana, busca a qualidade de vida do paciente, amenizando o sofrimento, ansiedade e depressão do mesmo diante da morte”. Desse modo, a atuação do psicólogo é importante em todas as etapas de tratamento, buscando elevar a qualidade de vida do enfermo e de seus familiares, promovendo a comunicação interpessoal do paciente e a comunicação com seus entes queridos e com a equipe de saúde e o acolhimento e amparo do enfermo nesse período desafiador.
Os cuidados paliativos tem como objetivo a promoção da qualidade de vida e o alívio do sofrimento, desse modo o psicólogo é uma figura importante nesse contexto. O profissional em psicologia atua em um período de muita vulnerabilidade emocional, em que muitas vezes a cura da doença não é possível. É nesse momento que o psicólogo inserido na equipe multidisciplinar é necessário, no suporte psicológico e na promoção do cuidado humanizado e centrado no alívio do sofrimento físico e emocional.
Além disso, outro aspecto importante na atuação do psicólogo é o apoio na aceitação do diagnóstico e da condição de impossibilidade de cura do quadro da doença. A aceitação da própria finitude e da finitude do familiar é uma condição complexa e vinculada a diversas emoções confusas. Os pacientes em cuidados paliativos comumente passam por longos períodos de tratamento e muitos deles apresentam dificuldades na aceitação do diagnóstico e da condição de terminalidade. Diante desse contexto, a atuação do psicólogo é fundamental na aceitação e adaptação da sua nova condição, bem como na adesão ao tratamento e no enfrentamento dos efeitos colaterais, abordando o sofrimento e fornecendo suporte emocional ao paciente e à família no processo de consciência do luto e do morrer (Melo; Valero; Menezes, 2013).
Os cuidados paliativos é um contexto envolvido em muitos sentimentos difíceis e complexos para o paciente e os familiares. Diante disso, os psicólogos atuam na gestão dessas angústias e promovem um ambiente seguro para a elaboração e expressão dos sentimentos. O gerenciamento do medo, angústia e ansiedade nos cuidados paliativos é uma atividade de suma importância que o psicólogo realiza em seu trabalho. O profissional além de proporcionar um espaço acolhedor, deve também fornecer meios de lidar com esses sentimentos de maneira mais equilibrada.
De acordo com Hermes e Lamarca (2013) “A escuta e o acolhimento são instrumentos indispensáveis ao trabalho do psicólogo para conhecer a real demanda do paciente”. Desse modo, a comunicação é uma prática importante do psicólogo nos cuidados paliativos. Assim, o psicólogo por meio da escuta ativa e compreensiva, propicia ao paciente e familiares a elaboração dos sentimentos e compreensão do quadro de saúde e do prognóstico do paciente. O psicólogo se mostra uma figura importante na mediação da comunicação em cuidados paliativos, um pilar fundamental para o tratamento humanizado.
O psicólogo inserido no contexto de cuidados paliativos atua na promoção da qualidade de vida dos pacientes e na humanização do cuidado, sendo um aspecto necessário é o auxílio para lidar com os conflitos emocionais, as dúvidas, as angústias que surgem nesse cenário. Carvalho e Godino (2023, p. 15) ressaltam:
A importância do psicólogo integrado à equipe de Cuidados Paliativos, o quanto a atuação desse profissional promove a melhora da qualidade de vida de pacientes que se encontram em tratamento de uma doença tão agressiva como o câncer, reduzindo os agentes estressores que geram sofrimento e angústia, devido às mudanças que o tratamento provoca na rotina diária não só desses pacientes, mas também de seus familiares.
Desta forma, o psicólogo desempenha um papel fundamental no contexto dos cuidados paliativos, desenvolvendo estratégias de enfrentamento e na elaboração das experiências emocionais, atuando como mediador entre o paciente, a família e a equipe, além de oferecer suporte emocional aos pacientes em sua condição de terminalidade e fornecer apoio aos familiares (Rodriguea; Cazeta; Ligeiro, 2015). Compreender e olhar o paciente além da finitude iminente e promover o bem estar e o encontro de significados em um contexto de sofrimento é uma prática que somente o psicólogo pode desempenhar a partir de uma atitude empática e humanizada.
De acordo com o Manual de Cuidados Paliativos de 2012, elaborado pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), a atuação multiprofissional se baseia na compreensão de que o paciente em cuidados paliativos sofre de modo integral em seus aspectos físicos, psicológicos, espirituais, sociais e familiares. Desse modo, cada membro da equipe aborda o sofrimento de acordo com sua área de saber e com o objetivo comum de proporcionar o reconhecimento e atendimento das necessidades do doente, da família e da equipe.
O profissional inserido no contexto paliativista deve considerar os princípios que norteiam a abordagem dos cuidados paliativos em todas as suas práticas de trabalho. Desse modo, o psicólogo em cuidados paliativos deve adotar uma conduta de cuidado sobre a cura, respeito às individualidades e centrada em cada paciente e família e suporte durante todo o processo.
O Cuidado Paliativo não se baseia em protocolos, mas sim em princípios. Não se fala mais em terminalidade, mas em doença que ameaça a vida. Indica-se o cuidado desde o diagnóstico, expandindo nosso campo de atuação. Não falaremos também em impossibilidade de cura, mas na possibilidade ou não de tratamento modificador da doença, desta forma afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer” (Academia Nacional de Cuidados Paliativos, 2012).
E como membro importante dessa equipe multiprofissional que atua na área de Cuidados Paliativos, o psicólogo atua no sentido de resgatar a integralidade humana para além dos aspectos físico-biológicos, atuando sobre as dimensões psicológicas, sociais e espirituais. A ação da psicologia não se limita aos pacientes, mas deve incluir os familiares do indivíduo como parte importante do processo de cuidado (Porto; Lustosa, 2010).
De acordo com as análises conduzidas por Melo, Valero e Menezes (2013) em relação às funções do psicólogo em Cuidados Paliativos incluem-se diversas atividades: a compreensão dos aspectos relacionais do indivíduo e suas maneiras de resposta e reação, orientar familiares e profissionais, oferecer apoio emocional aos familiares, fomentar a humanização no ambiente hospitalar, avaliação e diagnóstico do paciente, analisar o contexto familiares e comunicar aos familiares sobre o estado do paciente e o plano de ação.
Para pacientes em estado terminal as intervenções psicológicas tem como objetivo a promoção da qualidade de vida. A atuação da psicologia em cuidados paliativos, têm demonstrado sua importância no apoio aos doentes e à família. O principal objetivo do psicólogo em cuidados paliativos é o manejo do sofrimento psicológico causado por alterações emocionais por meio da avaliação, estabelecimento de objetivos, elaboração de um plano de ação, intervenção psicológica e articulação com outros profissionais da equipe (Martinho, Pilha, Sapeta, 2015).
De acordo com Martinho, Pilha e Sapeta (2015), na atuação junto aos pacientes, o profissional desempenha diversas atividades e desempenha um papel crucial ao guiar na tomada de decisões e resolução de problemas complexos, como em assuntos pendentes e despedidas. Os psicólogos atuam na identificação e redução de fontes de estresse relacionadas à doença, atuam em crises e mudanças de humor e promovem a elaboração e expressão dos sentimentos e pensamentos. Eles auxiliam o paciente na adaptação à doença e ao tratamento, melhoram a comunicação entre paciente e família, e ajudam o paciente a lidar com questões emocionais, como medos, fobias, perdas e ansiedade em relação à finitude. Além disso, promovem a autoestima e autoimagem positivas e planejam atividades gratificantes para o paciente.
Outro aspecto importante na atuação do psicólogo em cuidados paliativos é a intervenção com familiares e cuidadores que passam por um momento de intenso sofrimento emocional e vulnerabilidade. Essa intervenção tem como objetivo amparar familiares e cuidadores a enfrentar as demandas e desafios desse processo, além de oferecer suporte emocional diante da perda iminente do ente querido. Junto aos familiares e cuidadores, os psicólogos desempenham diversas funções, incluindo prevenir barreiras na comunicação entre a família e o doente, possibilitar a expressão de sentimentos, emoções e pensamentos, compreender as causas do estresse e agir de modo a reduzir ou extinguir, validar e apoiar o papel dos cuidadores junto aos doentes, amparar frente aos medos e auxiliar na gestão emocional (Martinho, Pilha, Sapeta, 2015).
A família é uma parte significativa em todo o processo de cuidados paliativos e deve ser considerada nas atividades desenvolvidas junto ao paciente e incluída no decurso do tratamento. De acordo com Pereira e Ribeiro (2019) a família deve ser considerada como uma aliada da equipe de saúde, uma vez que os familiares podem exercer um papel de auxílio e conforto ao paciente nos momentos de angústias e relatam aspectos importantes sobre o paciente para a equipe médica.
A natureza complexa dos cuidados paliativos exige a compreensão do sofrimento humano, da bioética e da comunicação. Nesse cenário, a psicologia se destaca pela compreensão dos sofrimentos psicológicos e emocionais das pessoas em estado de terminalidade (Melo; Valero; Menezes, 2013). O profissional em psicologia proporciona um cuidado humanizado e garante qualidade de vida e dignidade ao paciente em cuidados paliativos por meio da escuta, do acolhimento, da mediação e das técnicas empregadas de uso exclusivo da psicologia.
Dentro do escopo de atividades desenvolvidas pelo psicólogo em cuidados paliativos a comunicação é um aspecto essencial. Para uma boa assistência à saúde, a comunicação é um elemento fundamental, ela permite aos pacientes e familiares a melhor compreensão do quadro de saúde clínica e fortalece a relação equipe-paciente-família para um cuidado colaborativo e integrado (ANCP, 2012).
A comunicação em cuidados paliativos é formada por princípios como empatia, compaixão, clareza e sinceridade, isso faz total diferença para que o paciente e familiares sintam-se compreendidos e apoiados. Um dos princípios mais importante, é separar cada paciente e familiar, sendo assim personalizar a comunicação de acordo com cada indivíduo, pois cada paciente é único e a comunicação deve ser moldada às suas necessidades individuais, tendo em conta o seu nível de compreensão, preferências e valores culturais e religiosos
Para garantir que os pacientes e suas famílias compreendam a situação com a maior clareza possível, é necessário ouvir ativamente, validar seus sentimentos, demonstrar compreensão pelo sofrimento dos outros, utilizar linguagem clara e compreensível e não mentir.
Auxiliando também no alívio do sofrimento, uma comunicação clara sobre os objetivos dos cuidados paliativos pode aliviar o sofrimento emocional, reduzindo o medo e a ansiedade associados à incerteza do futuro e no processo de elaboração do luto.
Desde o diagnóstico de uma doença sem possibilidade de cura, o paciente e a família iniciam o processo de luto e enfrentam rupturas e limitações da vida e rotina antes conhecida e se deparam com a finitude iminente de si mesmo e do familiar. Desse modo, o profissional que atua em contexto de perdas é fundamental conhecer sobre o processo de luto e das respostas comportamentais ocasionadas nos familiares e no próprio paciente (ANCP, 2012).
De acordo com Braz e Franco (2017, p. 94)
O luto é a resposta à ruptura de um vínculo significativo, no qual havia um investimento afetivo entre o enlutado e o ente que se foi, elucidando que a dimensão do luto seja proporcional ao grau de apego, considerando-se fatores relacionados à perda e seus significados. Diante desse cenário, o enlutado vivencia uma série de mudanças relacionadas ao meio social, familiar, econômico, entre outras, de maneira particular e singular, as quais vão estar associadas a como o enlutado experienciou o processo (de doença, separação conjugal, mudanças geográficas etc.).
O luto desencadeia reações físicas, cognitivas e emocionais, tanto no paciente quanto nos familiares e amigos do doente. Dentre eles, destacam-se: Dificuldades de concentração em atividades cotidianas, irritabilidade, alteração do sono, raiva, desesperança, desamparo, medo, culpa, fadiga, baixa energia, dor de cabeça, no estômago, palpitações, alteração do apetite, isolamento social e confrontos com as crenças pessoais (D’alessandro et al., 2023).
O trabalho do psicólogo desempenha papel essencial no processo de luto e na humanização da morte. Quando uma pessoa enfrenta a perda de um ente querido, o psicólogo proporciona um espaço seguro para expressar emoções e pensamentos, ajudando a compreender as fases da dor, normalizar as reações emocionais e promover uma adaptação saudável à perda. Além disso, contribui para a humanização da morte ao sensibilizar para este tema muitas vezes tabu, desmistificando conceitos errados e promovendo uma visão mais compassiva e realista da morte.
Os CP abrangem o apoio à família em processo de luto. Consideram a experiência desse momento como essencial, possibilitando a compreensão da forma como se constroi a identidade coletiva da família. Assim, o cuidado paliativo não cessa com a morte da pessoa enferma, mas se estende também ao período de luto da família.
A família se encontra em uma situação de extrema vulnerabilidade. Além de atuar como fonte de apoio, influência e estabilidade para o paciente em CP, enfrenta várias perdas durante o processo. Isso a torna um grupo suscetível. Nesse contexto, a demanda por suporte paliativo durante o período de luto reflete um indicativo da qualidade do cuidado recebido.
O luto é um processo adaptativo a uma perda significativa. Este envolve um processo dinâmico de mudança a nível físico, psicológico, comportamental, espiritual e sociocultural da pessoa que o vivencia. Dentro desse processo, são classificados tipos de luto (normal, antecipatório, preparatório e prolongado/complicado). Por sua vez, a experiência de luto curva-se sobre o impacto da vivência do luto, os fatores que dificultam a sua experiência e os que a favorecem (Pimenta; Capelas, 2019).
O processo de luto é uma resposta natural à perda, envolvendo uma complexa interação de fatores emocionais, cognitivos e sociais. Em contextos de CP, essa experiência assume dimensões ainda mais significativas, pois a iminência da morte e o sofrimento dos pacientes e de suas famílias demandam uma abordagem integral e humanizada. Diversos modelos teóricos – como o de Kübler
Ross, que propõe as fases de negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – oferecem uma estrutura para compreender as reações dos enlutados, embora seja importante destacar que essas fases não são necessariamente contínuas ou universais, ou seja, não necessariamente o indivíduo irá vivenciar todas as fases ou em respectiva ordem. Cada pessoa vivencia o luto de maneira única, e os estágios podem se sobrepor ou se repetir, dependendo das circunstâncias e das características individuais (Afonso, 2013).
Além das fases clássicas, o luto pode se manifestar de formas distintas. O luto “normal” é aquele que, embora doloroso, possibilita uma adaptação gradual à nova realidade. Diferentemente, o luto complicado caracteriza-se por um prolongado estado de sofrimento e dificuldades para estabelecer ou voltar às atividades cotidianas, muitas vezes exigindo intervenções terapêuticas mais intensas.
Outro aspecto relevante é o luto ambíguo, que ocorre em situações onde a perda não é claramente definida – como em casos de desaparecimento ou quando o corpo não é encontrado –, criando uma incerteza que dificulta a elaboração da perda e pode resultar em um estado emocional paralisante (Afonso, 2013).
No cenário dos cuidados paliativos, a atuação da equipe multiprofissional é essencial para oferecer suporte tanto aos pacientes quanto aos seus familiares. A comunicação empática é a base desse cuidado, permitindo que os envolvidos expressem seus sentimentos e compartilhem suas experiências em um ambiente seguro. A implementação de rituais de despedida, mesmo que adaptados às circunstâncias (como enterros simbólicos ou homenagens coletivas), assume um papel fundamental na concretização da perda, ajudando os enlutados a externalizar o sofrimento e a reorganizar suas relações sociais e afetivas.
A intervenção na fase de luto deve considerar também a importância do apoio contínuo. A criação de grupos de apoio e a promoção de encontros de debriefing psicológico (DP) é uma intervenção comumente utilizada com o objetivo de reduzir traumas psicológicos e auxiliar os familiares a processar a dor da perda, evitando que ela se fixe em um luto complicado. Tais práticas possibilitam a troca de experiências e a construção de uma rede de suporte que fortalece os laços afetivos, contribuindo para a resiliência emocional dos envolvidos (Pimenta; Capelas, 2019).
Outro ponto crucial é a integração dos cuidados paliativos com outras políticas públicas. A articulação de ações que envolvem saúde, assistência social, educação e cultura cria uma rede de apoio mais ampla, que vai além do atendimento hospitalar. Essa abordagem integral visa atender não apenas aos aspectos biológicos e clínicos, mas também às necessidades psicossociais dos pacientes e de suas famílias, promovendo um ambiente de cuidado que respeita os valores e as individualidades dos envolvidos.
Ademais, a equipe de cuidados paliativos deve estar atenta à saúde de seus próprios membros, uma vez que o contato constante com o sofrimento e a dor podem levar ao desgaste emocional. Estratégias de autocuidado e supervisão regular são essenciais para manter o bem-estar dos profissionais e, consequentemente, a qualidade do atendimento prestado.
Portanto, o luto em contextos de cuidados paliativos é um processo multifacetado que requer uma abordagem sensível e integrada. A compreensão das fases e dos diferentes tipos de luto, aliada à promoção de rituais de despedida, à criação de redes de apoio e à articulação com políticas públicas, possibilita que os profissionais de saúde ofereçam um cuidado verdadeiramente humanizado. Dessa forma, não só se facilita a elaboração da perda pelos enlutados, mas também se fortalece a resiliência emocional e social, contribuindo para a reconstrução de uma nova realidade que valorize a memória do ente perdido e promova o bem-estar geral.
3. DESAFIOS E CONSIDERAÇÕES ÉTICAS PARA PSICÓLOGOS NO CUIDADO PALIATIVO
Os cuidados paliativos, concentrado em proporcionar alívio da dor e do sofrimento para pacientes com doenças graves, incuráveis ou intratáveis, apresentam desafios significativos para todos os membros da equipe multidisciplinar, especialmente para os psicólogos. O trabalho desses profissionais é profundamente impactado pelo fato da natureza do contexto em que atuam, o qual envolve o tratamento e suporte de indivíduos em fase terminal de vida. Este contexto cria uma série de desafios emocionais e éticos que demandam uma reflexão cuidadosa e estratégias de enfrentamento eficazes.
Um dos principais desafios enfrentados pelos psicólogos em cuidados paliativos é o constante contato com a mortalidade e o sofrimento. Lidar diariamente com pacientes que enfrentam o fim da vida pode provocar um desgaste emocional enorme. Os psicólogos são confrontados com a realidade da morte de maneira direta, o que pode gerar sentimentos de tristeza profunda, impotência e ansiedade. Esse contato constante com o sofrimento não só afeta a saúde emocional dos profissionais, mas também pode levar a condições mais graves, como transtornos de ansiedade e depressão. Portanto, a manutenção do próprio bem-estar mental é essencial para que os psicólogos possam desempenhar suas funções de maneira eficaz e compassiva (Edington; Aguiar; Silva, 2021).
Segundo Pinto, Cavalcanti e Maia (2020), “Assistir pessoas em processo de morte mobiliza emoções na equipe de saúde, o morrer como parte do cotidiano provoca anseios e conflitos existenciais”. O profissional inserido no contexto de cuidados paliativos vivencia constantemente experiências emocional e psicologicamente desafiadoras. O contato cotidiano com o morrer provoca nos profissionais a sensação de impotência e a sensação de fracasso, uma vez que os profissionais da saúde são capacitados para promover a vida e combater a morte continuamente. Dessa maneira, é imprescindível aos profissionais de saúde ressignificar a compreensão sobre a morte como um processo natural da vida e assim realizar um cuidado humanizado aos pacientes em cuidados paliativos. Essa mudança de perspectiva promove um cuidado onde o foco é o bem estar físico, psicológico e espiritual do paciente e da família, além de promover um ambiente com objetivo na promoção da dignidade e qualidade de vida.
O entendimento da morte como um fenômeno natural do ciclo de vida propicia aos profissionais uma atuação focada na promoção da qualidade de vida e alívio do sofrimento para além do diagnóstico e um olhar para a morte como inerente à existência humana e não apenas como fracasso no serviço prestado. Diante do contato frequente com a morte e o morrer surgem dilemas existenciais sobre a própria existência e a percepção sobre a própria finitude. Esses conflitos podem ocasionar medo, impotência, tristeza, depressão, culpa, impotência e fracasso. Em decorrência dessa dificuldade de lidar com seus sentimentos relacionados ao processo de morte dos pacientes, os profissionais podem enfrentar obstáculos no processo de comunicação e vínculo com paciente família-equipe médica.
Para lidar com o luto no contexto laboral de maneira positiva é preciso que, além de lidar com a morte como um processo natural de existir, é preciso reconhecer e permitir os sentimentos existentes. Assim, o profissional deve ter um posicionamento de reflexão sobre sua existência e sobre os sentimentos que surgem diante da perda do paciente e um sentimento de gratidão pelas experiências vividas e pelo trabalho e cuidado realizado com os paciente e familiares (Pinto; Cavalcanti; Maia, 2020).
Portanto, no cotidiano em cuidados paliativos o psicólogo pode enfrentar diversos desafios relacionados ao contato constante com a terminalidade e a finitude humana. Esse fato pode desencadear conflitos existenciais e sentimento de culpa e fracasso profissional, por outro lado esse pode ser um ponto de reflexão sobre a vida e os sentimentos decorrentes e um momento de gratidão pelas vivências vividas e compartilhadas.
Outro aspecto crítico é a gestão do sofrimento dos pacientes e de suas famílias. Os psicólogos frequentemente testemunham e acompanham de perto o sofrimento emocional e psicológico desses indivíduos, o que pode ser emocionalmente destruidor. A capacidade de equilibrar empatia e compaixão com a necessidade de manter objetividade e eficácia no tratamento é uma habilidade essencial, porém desafiadora. A sobrecarga emocional pode afetar a capacidade do psicólogo de proporcionar os cuidados adequados e de manter um suporte eficaz para os pacientes e suas famílias. Além dos desafios emocionais, os psicólogos em cuidados paliativos enfrentam dilemas éticos complexos. A tomada de decisões éticas, especialmente em um contexto de cuidados que envolvem a vida e a morte, é um aspecto central do trabalho desses profissionais. Questões como a administração de tratamentos que podem prolongar a vida contra cuidados que proporcionam conforto imediato podem gerar conflitos éticos e estresse considerável. Esses dilemas exigem que os psicólogos façam escolhas consideradas, muitas vezes sem respostas claras, o que pode levar a uma sensação de incerteza e tensão contínua (Edington; Aguiar; Silva, 2021).
A comunicação e a colaboração com a equipe multidisciplinar também representam desafios significativos. A interação com outros profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, pode ser complexa e exigir habilidades avançadas de comunicação e coordenação. Os psicólogos devem garantir que suas intervenções estejam alinhadas com os objetivos gerais do tratamento e com as necessidades dos pacientes, enquanto mantêm um diálogo aberto e eficaz com outros membros da equipe. A falta de reconhecimento profissional e as condições de trabalho desafiadoras frequentemente aumentam essas dificuldades, tornando o ambiente hospitalar um ambiente estressante e exigente. Para enfrentar esses desafios, é fundamental que os psicólogos em cuidados paliativos adotem estratégias de autocuidado e busquem suporte psicológico. A supervisão psicológica regular, o acompanhamento terapêutico individual e a participação em grupos de suporte são ferramentas valiosas para ajudar os profissionais a processar suas experiências emocionais e a lidar com dilemas éticos. O autocuidado, que pode incluir práticas como técnicas de relaxamento, exercícios físicos e hobbies pessoais, é fundamental para manter a saúde mental e a eficácia profissional (Edington; Aguiar; Silva, 2021).
Além disso, a educação contínua e o desenvolvimento profissional são importantes para que os psicólogos estejam preparados para lidar com as complexidades do ambiente de cuidados paliativos. A atualização constante sobre as melhores práticas e novas abordagens pode fortalecer a capacidade dos profissionais de enfrentar desafios e melhorar a qualidade do atendimento.
Reflexão sobre um caso extremamente comum, onde infelizmente a falta de conhecimento sobre cuidados paliativos leva ao aumento do sofrimento dos pacientes, seus familiares e profissionais de saúde, além da perda de efetividade do próprio sistema de saúde, colocando-o em risco como bem. o acesso de outros pacientes, chamando a atenção para o impacto do conhecimento (ou falta dele) sobre cuidados paliativos para todos. Muito do conhecimento sobre a tomada de decisão partilhada foi gerado a partir da abordagem dos cuidados paliativos. Hoje vemos que a tomada de decisão compartilhada não se limita necessariamente a situações que envolvem doenças graves. Este conhecimento vai além do mundo dos cuidados paliativos e abrange áreas muito mais amplas. A tomada de decisão conjunta é a base de uma relação ética entre indivíduos que têm direito à autodeterminação, não no sentido de que cada parte não se preocupa com o outro, mas sim como indivíduos que perseguem o mesmo objetivo comum: o paciente no centro e os profissionais que atendem e buscam, por meio do diálogo, um cuidado de qualidade e seguro, respeitando os valores humanos e as práticas baseadas em evidências.
A confidencialidade e o respeito pela privacidade constituem princípios morais tradicionais das profissões de saúde, que evidenciam o dever de guarda e reserva em relação aos dados de terceiros, aos quais há acesso através do exercício de uma atividade profissional. Deles depende o alicerce de confiança que deve nortear a relação profissional-paciente.
Há quem se refira ao sigilo como o dever de guardar segredo, e este como o objeto do sigilo. Em qualquer caso, a confidencialidade ou o sigilo profissional está simultaneamente associado ao princípio bioético da autonomia, uma vez que os dados pessoais pertencem ao paciente, só ele pode decidir, a priori, a quem os pretende comunicar. O médico, enfermeiro, psicólogo, como destinatários desses dados, com base na sua profissão, deverão divulgá-los somente se autorizado pelo paciente ou em situações excepcionais, definidas pela ética e pela lei, como nos casos de notificação obrigatória prevista em lei e regulamentação, em que o profissional deve quebrar o sigilo em razão de critérios epidemiológicos oriundos da saúde pública.
O dever de sigilo profissional é também um direito do paciente relativamente à proteção do exercício efetivo da sua autonomia, através da proteção da intimidade existencial e do seu impacto na tomada de decisões. O dever de confidencialidade como proteção da autonomia inclui o direito do paciente de decidir livremente, apenas de acordo com a sua legalidade e modo de pensar. Portanto, esse compromisso faz parte do respeito e do reconhecimento do papel do paciente nas decisões de saúde que são de sua responsabilidade (Teixeira; Castro, 2015).
A ética e a autonomia são componentes essenciais nos cuidados paliativos, especialmente no contexto do fim da vida. Respeitar a autonomia do paciente, que é o direito de fazer suas próprias escolhas sobre o tratamento e cuidados, é um princípio ético fundamental. Isso envolve permitir que os pacientes expressem suas preferências e valores, e garantir que suas decisões sejam respeitadas, mesmo quando essas escolhas podem ser difíceis ou contrárias às recomendações médicas. A tomada de decisão compartilhada é uma abordagem ética que envolve a colaboração entre pacientes e profissionais de saúde. Essa abordagem requer que os psicólogos e outros membros da equipe forneçam informações claras e precisas sobre as opções de tratamento disponíveis, bem como os riscos e benefícios associados a cada uma delas. A participação ativa dos pacientes no processo de tomada de decisão é essencial para assegurar que os cuidados estejam alinhados com seus valores e desejos individuais (Abreu; Fortes, 2014).
Os profissionais de saúde devem também estar sensíveis às crenças culturais, religiosas e pessoais dos pacientes, garantindo que os cuidados prestados respeitem esses valores. Isso pode incluir a criação de ambientes de cuidados confortáveis e familiares, e o apoio a escolhas de estilo de vida que estejam de acordo com as preferências e crenças dos pacientes.
O cotidiano laboral dos cuidados paliativos pode gerar um desgaste emocional no psicólogo e em toda a equipe multiprofissional. Diante disso, se torna de suma importância que o profissional tenha suporte emocional e espaço para discussões sobre as experiências e os sentimentos gerados pela rotina de trabalho. A criação de espaços seguros e acolhedores onde os profissionais podem relatar sobre seus sentimentos, discutir sobre os dilemas da rotina e receber apoio emocional e orientações para a prática, contribuem para um ambiente de trabalho saudável e previne o desgaste emocional dos psicólogos (Pinto; Cavalcanti; Maia, 2020).
O papel de um psicólogo de cuidados paliativos envolve muitos desafios éticos que exigem uma abordagem empática, atenciosa e centrada no paciente. Os dilemas éticos são parte integrante do trabalho nesta área e exigem uma atitude ética e profissional firme, sempre orientada pelos princípios do respeito à autonomia, da benevolência e da discordância, além de buscar a maior qualidade de vida possível e adequada ao paciente, apoio emocional ao paciente e à família. (Ana; Leany; Mônica, 2011)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando se fala em cuidados paliativos, destaca-se o profissional psicólogo que desempenha um papel fundamental na promoção de um cuidado amplo e humano durante as fases finais da vida. Esse profissional contribui significativamente para a abordagem das necessidades emocionais e psicológicas dos pacientes e de seus familiares, complementando as intervenções médicas e físicas com um suporte fundamental para o bem-estar integral.
O psicólogo ajuda os pacientes a enfrentar o sofrimento emocional e a encontrar um sentido e propósito no final da vida, oferecendo estratégias para lidar com o medo, a tristeza e a angústia existencial. Além disso, sua atuação é vital na mediação da comunicação entre pacientes, familiares e equipe de saúde, garantindo que as decisões sobre o cuidado sejam alinhadas com os valores e desejos do paciente, o que contribui para uma experiência mais respeitosa e personalizada. No contexto dos cuidados paliativos, o psicólogo também desempenha um papel essencial no apoio aos familiares, ajudando-os a processar o luto antecipado e a ajustar-se às mudanças inevitáveis. Esse suporte é crucial para a manutenção do equilíbrio emocional da família e para a construção de um ambiente de cuidado mais harmonioso e menos carregado de sofrimento
Em suma, a atuação do psicólogo em cuidados paliativos é indispensável para assegurar um cuidado que valorize a dignidade, a autonomia e o bem-estar emocional dos pacientes e de suas famílias. Sua contribuição enriquece a abordagem paliativa, promovendo um suporte integral que busca não apenas o alívio físico, mas também a promoção da qualidade de vida em todas as suas dimensões.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica do 8º período do Curso de Psicologia pela Faculdade de Educação de Jaru –FIMCA/UNICENTRO, giovananeves02@gmail.com, https://lattes.cnpq.br/4405172522911740
2Acadêmico do 9º período do Curso de Psicologia pela Faculdade de Educação de Jaru –FIMCA/UNICENTRO,petrigato274@gmail.com, https://lattes.cnpq.br/1721066701441651
3Professor e Orientador no curso de Psicologia da Faculdade de Educação de Jaru -FIMCA/UNICENTRO; pós-graduado em Psicologia Existencial Humanista e Fenomenológica pelo Grupo Educacional FAVENI (2022); pós-graduado em Psicologia Organizacional pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais, INTERVALE (2023); pós-graduado em Neurociência e Comportamento pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais, INTERVALE (2023) pós-graduado em Docência do ensino superior pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais, INTERVALE (2023), pós-graduado em em Psicologia Hospitalar e da Saúde pela Faculdade Única de Ipatinga, FUNIP (2024); graduado em Psicologia pela Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – FACIMED (2019); graduado em Licenciatura em História pela Faculdade Única de Ipatinga, FUNIP (2024), graduado em Licenciatura em Filosofia pela Faculdade Única de Ipatinga, FUNIP (2024); rogeriokrause@unicentroro.edu.br, http://lattes.cnpq.br/1701746444124054