MEDIDAS EDUCATIVAS PARA PREVENÇÃO DE ISTS ENTRE ADOLESCENTESNAS ESCOLAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

EDUCATIONAL MEASURES FOR THE PREVENTION OF STIS AMONGADOLESCENTS IN SCHOOLS: AN INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202504281329


Maiara Cristina Silva Da Costa¹
Pâmela Andressa Freitas Franco²


RESUMO: 

A adolescência é marcada por descobertas e transformações, especialmente no que diz respeito à sexualidade. Nesse contexto, a escola se apresenta como espaço fundamental para desenvolver ações educativas que promovam o conhecimento e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Portanto, este trabalho teve como objetivo analisar as medidas de educação sexual utilizadas para a prevenção de ISTs em escolas, identificando suas abordagens, eficácia e desafios na implementação. Trata-se de um estudo de revisão integrativa, com a seguinte questão norteadora: Quais as medidas de educação sexual adotadas nas escolas para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis entre adolescentes? A busca compreendeu artigos publicados entre 2020 a 2025, nas bases de dados Latino- Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), os descritores foram “Educação sexual”, “Infecções sexualmente transmissíveis”, “saúde do adolescente” e “escola”. Foram selecionados seis estudos para compor a revisão integrativa. Os estudos abordaram principalmente sobre ações de educação em saúde voltadas para prevenção do vírus HIV, bem como analisaram a percepção e o conhecimento desses alunos sobre IST’s, dentre as medidas de educação em saúde, a principal utilizada foi o método de palestras e rodas de conversas. Por fim, conclui-se ainda que há desafios para a implementação desse tipo de estratégia, uma vez que ainda não tem muitos estudos originais sobre essa temática e também é necessário a capacitação de profissionais de saúde para atuarem com esse tipo de público.

Palavras–Chave: Adolescência. Saúde na escola. Infecções Sexualmente Transmissíveis.

ABSTRACT:  

Adolescence is marked by discoveries and transformations, especially with regard to sexuality. In this context, the school presents itself as a fundamental space to develop educational actions that promote knowledge and prevention of Sexually Transmitted Infections (STIs). Therefore, this study aimed to analyze the sexual education measures used to prevent STIs in schools, identifying their approaches, effectiveness, and challenges in implementation. This is an integrative review study, with the following guiding question: What are the sexual education measures adopted in schools to prevent sexually transmitted infections among adolescents? The search included articles published between 2020 and 2025, in the Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), and Virtual Health Library (VHL) databases, the descriptors were “Sexual education”, “Sexually transmitted infections”, “adolescent health” and “school”. Six studies were selected to compose the integrative review. The studies mainly addressed health education actions aimed at preventing the HIV virus, as well as analyzing the perception and knowledge of these students about STIs. Among the health education measures, the main one used was the method of lectures and discussion circles. Finally, it was concluded that there are challenges for the implementation of this type of strategy, since there are still not many original studies on this topic and it is also necessary to train health professionals to work with this type of audience.

Keywords: Adolescence. Health at school. Sexually transmitted infections.

1 INTRODUÇÃO

Infecções sexualmente transmissíveis (IST’s) são causadas por patógenos transmitidos, principalmente, por meio do contato sexual, incluindo relações vaginais, anais e orais. Elas representam um problema significativo de saúde pública devido à sua alta incidência global e às complicações graves que podem surgir quando não tratadas adequadamente (Warren et al., 2021). 

As IST’s impactam diretamente a saúde pública, afetando a saúde reprodutiva e sexual de indivíduos e comunidades. São responsáveis por uma carga substancial de morbidade e mortalidade, especialmente em países em desenvolvimento, e estão associadas a complicações graves a longo prazo. Dentre os principais impactos, destaca-se o aumento da concentração do HIV em secreções genitais, o que facilita sua transmissão, além da possibilidade de infertilidade, doença inflamatória pélvica, gravidez ectópica e complicações gestacionais, como parto prematuro e baixo peso ao nascer. Ademais, algumas IST’s, como o papilomavírus humano (HPV), estão associadas a cânceres genitais e outros tipos neoplasias (Elendu et al., 2024; Ruiz et al., 2022).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) ressalta que as IST’s constituem um problema de saúde pública global, devido sua alta incidência, com estimativa de um milhão de contaminações por dia. As consequências dessas infecções afetam não apenas a saúde individual e coletiva, mas também os âmbitos econômico e social (OMS, 2022).

Dados da Pesquisa Nacional em Saúde (PNS) revelam que, em 2019, aproximadamente 1 milhão de pessoas com dezoito anos ou mais foram diagnosticadas com IST’s nos meses antecedentes a consulta. Entre os anos de 2007 a 2023, foram registrados cerca de 484.594 casos de infecção pelo vírus HIV, sendo que 23,0% ocorreram em indivíduos jovens, com idade entre 15 e 24 anos (Brasil, 2023).

Apesar do aumento do número de infecções, observa-se uma queda nas taxas de conhecimento sobre o próprio status sorológico para HIV e outras ISTs ao longo dos anos, especialmente entre jovens de 14 a 25 anos. Esses dados levantam preocupações importantes, como a falta de conscientização da população sobre os fatores de risco para a transmissão e as consequências das ISTs para a saúde dos indivíduos infectados (Moreira et al., 2021).

Santos et. al. (2022), em seu estudo, relatam que a maior incidência de ISTs ocorre entre adolescentes com idades entre 10 e 19 anos. Diante disso, a saúde sexual e reprodutiva desse grupo enfrenta diversos desafios, os quais contribuem para o aumento da incidência dessas infecções. Entre as dificuldades observadas, destacam-se as falhas nas ações de imunização, o déficit de insumos para diagnóstico e tratamento, a precariedade na infraestrutura dos serviços de saúde, a falta de capacitação dos profissionais e as limitações nas ações de educação em saúde.

Nesse contexto, os adolescentes têm sido foco de estudos voltados à adoção de medidas efetivas que possibilitem o controle e a reversão dos elevados índices de ISTs. A adolescência tem início com a puberdade e se estende até a consolidação da identidade, da personalidade e da integração social. Segundo a Organização Mundial da Saúde, esse período de desenvolvimento corresponde, aproximadamente, à faixa etária de 10 a 19 anos. Trata-se de uma fase marcada por imaturidade e maior vulnerabilidade a novas experiências de vida (WHO, 2017).

O aumento das IST’s entre adolescentes está relacionado a diversos fatores, incluindo o envolvimento com múltiplos parceiros sexuais e a prática de relações sexuais sem o uso de preservativos. Além disso, a prática de sexo oral sem proteção também é um comportamento de risco frequentemente ignorado (Rusley et al., 2022). A troca frequente de parceiros sexuais, mesmo em contextos de monogamia seriada, está associada ao aumento do risco de infeções (Paul et al., 2024).

Entre os principais fatores associados à alta incidência de IST’s, destaca-se a falta de conscientização. Muitos adolescentes adotam comportamentos de risco sem conhecimento adequado sobre as formas de prevenção, como o uso de preservativos e a vacinação contra o HPV. Além disso, variáveis como idade, nível educacional, renda e características das relações interpessoais influenciam diretamente os comportamentos sexuais e o risco de infecção (Paul et al., 2024; Leichliter et al., 2019).

Diante desse cenário, este trabalho teve como objetivo analisar as medidas de educação sexual adotadas no ambiente escolar para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) entre adolescentes, por meio de uma revisão integrativa de literatura.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura, na qual é um tipo de pesquisa que combina resultados de diferentes tipos de estudos sobre um determinado tema ou questão de pesquisa  (Soares et al., 2014).

Sobre a elaboração deste estudo, foram seguidas as seguintes etapas: 1) definição do tema e formulação da pergunta norteadora; 2) seleção das bases de dados para a pesquisa; 3) estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão; 4) escolha dos descritores; 5) pré-seleção dos artigos; 6) avaliação e seleção dos estudos pré-selecionados para a inclusão na revisão; 7) análise dos resultados; 8) apresentação da revisão integrativa. A pesquisa foi conduzida a partir da seguinte pergunta: “Quais as medidas de educação sexual adotadas nas escolas para a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis entre adolescentes?’’. Sendo o primeiro elemento (P) consiste em adolescentes, (I) medidas adotadas de educação sexual e (Co) prevenção das IST’s nas escolas.  

Como critérios de inclusão para este estudo, foram selecionados artigos publicados em português, espanhol e inglês, em um recorte temporal entre os anos de 2020 a 2025 e texto completo de acesso gratuito on-line. Foram excluídos: teses, revisão bibliográfica/integrativas, artigos duplicados nas bases de dados e dissertações e relatos de experiência. 

Como estratégia de busca nas seguintes bibliotecas virtuais e bases de dados: Latino-Americana do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Eletronic Library Online (SCIELO), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE) e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), foram utilizado os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Educação sexual”, “Infecções sexualmente transmissíveis”,  “saúde do adolecente” e “escola”. Os descritores foram combinados pelos operadores booleanos AND e OR. 

Após a seleção dos artigos científicos, procedeu-se a leitura exploratória a partir dos resumos, com o objetivo de identificar a temática central. Em seguida, realizou-se a leitura dos trabalhos, com a finalidade de organizar e sintetizar os dados contidos, visando a obtenção de respostas à pergunta norteadora. 

3 RESULTADOS 

Após a busca realizada, foram localizados um total de 56 artigos: 35 na SCIELO, 5 na LILACS, 1 na MEDLINE e 15 na BVS. Desse total, 4 artigos foram descartados por estarem duplicados, 01 por ser de acesso restrito, e 12 por não estarem disponíveis na íntegra. Assim, 39 artigos foram escolhidos para a leitura dos resumos. Desses, 16 foram excluídos por não atenderem temática. Dos 23 selecionados para leitura na íntegra, 17 não atenderam pergunta norteadora. Por fim, 06 artigos foram escolhidos para fazer parte da análise da revisão integrativa, como ilustrado na Figura 1, que apresenta o fluxograma dos resultados incluídos na análise.

Figura 1. Fluxograma do resultado do processo de seleção dos artigos incluídos na análise

Para uma melhor compreenção da visibilidade dos materiais, o quadro abaixo demonstra as características como: título do artigo, autores, revista e ano de publicação (Quadro 1).

TituloAutorAnoObjetivoMétodosPrincipais resultados
Educação em saúde nas escolas: conhecimentos de adolescentes sobre o Vírus da Imunodeficiên cia HumanaGóis et al.2021Apreender os conhecimentos de adolescentes sobre o Vírus da Imunodeficiên cia Humana e descrever ações de educação em saúde nas escolasEstudo descritivo- exploratório de abordagem mista desenvolvido com aporte teórico da pesquisa-açãoOs estudantes reconhecem a relação entre a atividade sexual desprotegida e a transmissão do vírus, mas não adotam plenamente práticas preventivas, devido ao conhecimento superficial sobre o tema. Dentre as ações educativas, destaca-se a estratégia de prevenção combinada, que promove a construção e consolidação de conhecimentos, contribuindo para a transformação das realidades.
Percepção dos adolescentes das escolas públicas do interior do estado do Rio Grande do Norte sobre Infecções Sexualmente TransmissíveisKramer et al.2021Abordar a associação entre     a educação sobre saúde sexual, com o objetivo de levantar e analisar dados sobre o assunto no município de Valença-RJRealização de palestras abordando os assuntos como infecções sexualmente transmissíveis (IST)Evidenciaram um déficit de conhecimento sobre saúde sexual nas escolas, mesmo diante de tantos avanços tecnológicos na informação e midiáticos, o que a torna um problema de saúde coletiva
Educação Sexual Com Adolescentes: promovendo saúde e socializando boas práticas sociais e familiaresCostenaro et al.2020Analisar a percepção de estudantes de escolas públicas de Santa Cruz/ RN ingressos no ensino médio, sobre sífilis, tricomoníase e herpes.Estudo exploratório, quantitativoDentre os       achados, 77,04% dos entrevistados afirmaram ser solteiros e 53,57%, destes, tinham renda familiar até dois salários mínimos. Apenas 20,91% apontam sempre usar preservativos. Os principais motivos para o não uso foram: 29,28% confiança e 17,86% não dispor
Medidas de educação em saúde sobre infecções sexualmente adquiridas para escolares do ensino médioCarvalho et al.2021Realizar oficinas e rodas de conversa com adolescentes, a fim de instrumentaliz á-los para a promoção da saúde e prevenção de morbidades. Conhecer como podem ser discutidas, de maneira construtiva, as questões relacionadas ao corpo e a sexualidade, com os adolescentes.Pesquisa açãoA partir das oficinas realizadas, emergiram três categorias: “medo vivenciado pelos adolescentes e os tabus e preconceitos manifestados pela família/sociedade”; “carência de diálogo entre pais e filhos”; “o adolescente e as boas práticas sociais e de saúde”
Educação e promoção em saúde sexual para estudantes de escolas públicas no município de AnápolisGoiásMelo et al.2024Identificar as interfaces do conhecimento dos jovens sobre educação sexual e sua relevância no contexto escolar e familiarExploratório, longitudinal, descritivoOs resultados apontaram desconhecimento sobre ISTs, déficit em relação a métodos contraceptivos e ausência           de implementação eficiente do Programa de Saúde nas Escolas (PSE)
Percepções, evidências e prevenção às IST’ S entre estudantes de duas escolas de referência em ensino médio no município de Paudalho/PESilva et al..2023Promover educação, por intermédio do estímulo ao conhecimento entre educandos entre educandos sobre IST e AIDS.Estudo qualitativo, pesquisa açãoA avaliação constatou que, embora apenas 15,6% dos alunos consideram possuir um nível baixo de conhecimento sobre sexualidade, 34,8% dos alunos consideram não entender a respeito de IST’s e AIDS.

4 DISCUSSÃO

Em seu estudo, Silva et al., (2025) afirmam que adolescência corresponde a uma fase de transição entre a infância e a idade adulta, marcada por transformações substanciais de ordem biológica, psicológica e social. Nesse estágio do desenvolvimento, os indivíduos iniciam a construção da compreensão e da exploração da sexualidade, enfrentando desafios relacionados à formação da identidade sexual e ao estabelecimento de vínculos interpessoais (Kramer et al., 2021).

Sobre esse aspecto, Sousa et al., (2023), ressaltam que é nessa fase que os adolescentes podem estar expostos a novas experiências, muitas das quais associadas a fatores de vulnerabilidade, como o uso de substâncias psicoativas, consumo de álcool, envolvimento em situações de violência e o início precoce da atividade sexual. Tais experiências, frequentemente motivadas pela busca de prazer imediato, podem ocorrer sem a devida consideração das consequências, como o risco de gestações não planejadas e a exposição a infecções sexualmente transmissíveis. 

No estudo de Santos et al., (2024), os autores destacam que a falta de informação sobre métodos contraceptivos e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) está associada ao aumento de gestações não planejadas e à maior suscetibilidade a doenças como sífilis, HPV, gonorreia, clamídia, hepatites B e C, e HIV. Pesquisa realizada em uma escola de ensino fundamental no estado do Maranhão demonstrou que a ausência de conhecimento dos adolescentes sobre ISTs e contracepção está diretamente relacionada ao crescimento na taxa de transmissão dessas infecções.

Portanto, a carência de informações sobre a atividade sexual e a baixa adesão às medidas preventivas são fatores que aumentam a vulnerabilidade dos adolescentes às ISTs no Brasil, configurando-se como um importante problema de saúde pública (Santos et al., 2022).

Em suma, os adolescentes brasileiros estão frequentemente expostos a informações inadequadas sobre saúde sexual e reprodutiva, o que os torna mais vulneráveis a situações de risco. Essas condições podem resultar em diversos problemas, como maior propensão à violência sexual associada ao consumo de álcool e substâncias psicoativas, além do aumento da incidência de infecções sexualmente transmissíveis e gestações não planejadas. Diante desse cenário, destaca-se a importância da atuação do enfermeiro no ambiente escolar, promovendo ações de educação em saúde que contribuam para a conscientização e a adoção de práticas preventivas entre os jovens (Sousa et al., 2023).

A educação em saúde pode ser caracterizada como um processo sistemático que se alinha aos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio de ações concretas voltadas à promoção da saúde e ao desenvolvimento da consciência individual e coletiva. Seu objetivo é proporcionar instrução que fomente comportamentos cidadãos e politicamente engajados. Assim, a integração entre educação e saúde busca promover a autonomia dos indivíduos na adoção de hábitos saudáveis, contribuindo para a redução de fatores de risco e a melhoria da qualidade de vida (Anjos et al., 2022).

Além disso, a educação em saúde contribui para a desconstrução de tabus e mitos relacionados à sexualidade, promovendo um ambiente de diálogo aberto e seguro, no qual os adolescentes podem esclarecer dúvidas e fortalecer sua capacidade de autocuidado. Assim, a associação entre educação e saúde se mostra essencial para a redução da incidência de IST’s, garantindo maior qualidade de vida e bem-estar para essa população (Santana, 2023).

Nesse contexto, a escola representa um espaço social estratégico para o processo de desenvolvimento adolescente, oferecendo estrutura para o exercício do autocuidado e a vocalização de problemáticas e anseios juvenis. A escola favorece a implementação de práticas que respondam às necessidades identificadas pelos próprios estudantes, viabilizando discussões e ações educativas pertinentes à saúde sexual. A articulação intersetorial entre escolas e serviços de saúde é fundamental para garantir a atenção integral às demandas discentes. Para tanto, a compreensão e o envolvimento da esfera familiar são indispensáveis, constituindo um elemento determinante na implementação eficaz da educação sexual no contexto escola (Sousa et al., 2023).

As ações de saúde voltadas para a prevenção das ISTs representam, portanto, uma estratégia fundamental para conter a disseminação dessas doenças. No contexto da educação sexual, o Ministério da Educação, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), inclui a orientação sexual como um tema transversal em diversas áreas do conhecimento, com o objetivo de promover práticas educativas que abordem questões relacionadas à sexualidade e à prevenção (Costenaro et al., 2020).

Dentre as políticas públicas voltadas para o ambiente escolar, destaca-se o Programa Saúde na Escola (PSE), uma estratégia intersetorial entre os setores da saúde e educação, cujo objetivo é fortalecer a atenção primária e promover a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes. O PSE busca minimizar vulnerabilidades e ampliar o acesso à informação e aos serviços de saúde, por meio de ações preventivas e de cuidado integral no ambiente escolar (Brasil, 2011). Entretanto, a efetividade dessas iniciativas ainda enfrenta desafios, como a falta de articulação entre profissionais da educação e da saúde e a capacitação insuficiente dos agentes envolvidos para abordar de forma adequada e abrangente as questões relacionadas à sexualidade na adolescência (Melo et al., 2024).

Assim, as iniciativas de promoção e educação em saúde devem envolver ativamente os indivíduos que utilizam esses serviços, reconhecendo sua capacidade de tomada de decisão em relação ao próprio bem-estar, com base em suas experiências e no conhecimento adquirido por meio de práticas educativas. É fundamental que os profissionais de saúde possuam habilidades para identificar os principais desafios que demandam uma abordagem educativa contínua, garantindo que as ações desenvolvidas sejam efetivas e alinhadas às necessidades da população (Anjos et al., 2022).

Nesse sentido, a equipe de enfermagem se destaca, uma vez que tem como pilar do cuidado o compromisso individual, coletivo e social com seus clientes, e como ciência explora os mais diversos recursos para promover a educação em saúde e melhoria da qualidade de vida, através de ações educativas (Azevedo et al., 2014).

Quanto às ações propriamente ditas, Assunção et al., (2020), ressaltam que as estas devem ser realizadas por meio de abordagem educativa e preventiva no ambiente escolar, uma vez que apresentam maior eficácia ao incentivar a adoção de comportamentos e valores que minimizem a exposição a situações de risco. Além disso, a educação em saúde, como uma das atribuições dos profissionais de enfermagem, pode fortalecer sua atuação no espaço escolar, contribuindo para a implementação de estratégias educativas que favoreçam a conscientização e o autocuidado dos adolescentes.

Góis et al., (2021), realizaram pesquisa-ação com os estudantes, no qual foi possível observar que eles reconhecem a prática sexual desprotegida como fator primordial para o surgimento de IST’s, embora desconheçam práticas de prevenção. Diante desse achado, as ações educativas promoveram uma reflexão sobre a estratégia de prevenção combinada, contribuindo para a transformação da realidade, a construção de novos saberes e a consolidação dos conhecimentos prévios.

Apesar de contribuir para a prática baseada em evidências, este trabalho apresenta algumas limitações, uma vez que se trata de uma revisão de literatura. A variedade de métodos utilizados nos estudos selecionados dificulta a comparação dos resultados e a generalização das conclusões. Além disso, a escassez de estudos com metodologia mais robustas, como estudos longitudinais e randomizados compromete a compreensão sobre a eficácia a longo prazo das ações de educação e prevenção de ITS’s.

Outro ponto importante é a variabilidade cultural e contextual, pois as intervenções podem apresentar diferentes níveis de eficácia, dependendo do contexto social e cultural das comunidades escolares, o que reduz a aplicabilidade dos resultados a diversas realidades. 

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho permitiu identificar que as estratégias de educação sexual adotadas nas escolas variam significativamente, tanto em termos de conteúdo quanto de metodologia. No entanto, a maioria das intervenções se concentra em temas fundamentais, como a conscientização sobre o uso de preservativos, a promoção de comportamentos sexuais responsáveis e a importância da comunicação aberta sobre sexualidade.

Verificou-se, ainda, que a abordagem da educação sexual deve ser abrangente, contemplando aspectos biológicos, emocionais, sociais e culturais, com linguagem acessível e compatível com a faixa etária dos adolescentes. A participação da família e o fortalecimento do diálogo entre escola e comunidade também se mostraram estratégias relevantes para ampliar o impacto das ações educativas.

Por fim, os principais desafios encontrados na implementação das ações de educação sexual nas escolas incluem a falta de preparo de alguns profissionais de saúde e educadores, a resistência cultural e os tabus em torno da sexualidade, bem como a escassez de recursos e apoio institucional. Diante disso, recomenda-se a ampliação e fortalecimento das iniciativas de educação sexual nas escolas, baseadas em evidências científicas, respeitando os direitos sexuais e reprodutivos dos adolescentes e contribuindo para a construção de uma sociedade melhor informada e saudável.

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¹Acadêmico do curso de Bacharelado em Enfermagem do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma. E-mail:Cristinamaiara2001@gmail.com
²Enfermeira. Especialista em Unidade de Terapia Intensiva. Docente do curso de Bacharelado em Enfermagem do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma. E-mail: pamela.franco@unisulma.edu.br