REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202504262315
Yasmin Melo Da Silva Santana
Orientadora: Msc. Daniele Socorro de Brito Souza Paiva.
RESUMO
Introdução: O aleitamento materno (AM) é de extrema importância para a saúde dos bebês e de suas mães, sendo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a forma ideal de alimentação nos primeiros seis meses de vida. Objetivo: Avaliar o nível de conhecimento, atitudes e práticas sobre aleitamento materno entre puérperas da Amazônia brasileira, atendidas em alojamento conjunto em uma maternidade de alto risco. Métodos: Trata-se de um estudo transversal, descritivo, de abordagem quantitativa. Foram coletadas informações acerca dos conhecimentos, atitudes e práticas (CAP) sobre aleitamento materno entre puérperas através de questionário adaptado. Resultados: Quarenta e três porcento das gestantes têm idade abaixo de 24 anos, 71% são de cor parda, 36% possuem ensino médio completo e apenas 13% desenvolviam atividade remunerada formal. A maioria das gestantes apresentou conhecimento adequado sobre o aleitamento materno, entretanto 21% delas acredita que o AM deve ser suplementado com fórmulas, mingau, chás, água ou sucos e 14% não sabia opinar. Conclusão: Este trabalho mostrou que as puérperas têm apresentado níveis satisfatórios de conhecimento sobre amamentação, atitudes e práticas adequadas, com 99% delas desejando realizar a amamentação de seus bebês. Todavia os serviços de saúde parecem pouco colaborar em disseminar o conhecimento correto das práticas de amamentação. Sugere-se desenvolver um protocolo de educação em saúde com as especificações necessárias sobre amamentação, assim como ser adotada por todos os profissionais de saúde ligados a esse público.
Palavras-chave: Conhecimentos, atitudes e práticas em saúde; Aleitamento materno; Puerpério.
ABSTRACT
Introduction: Breastfeeding (BF) is extremely important for the health of both babies and their mothers. The World Health Organization (WHO) recommends it as the ideal form of nutrition during the first six months of life. Objective: To assess the level of knowledge, attitudes, and practices regarding breastfeeding among postpartum women in the Brazilian Amazon, attended in rooming-in care at a high-risk maternity hospital. Methods: This is a cross-sectional, descriptive study with a quantitative approach. Information regarding knowledge, attitudes, and practices (KAP) related to breastfeeding was collected from postpartum women using an adapted questionnaire. Results: Forty-three percent of the women were under 24 years old, 71% identified as mixed race, 36% had completed high school, and only 13% had formal paid employment. Most participants demonstrated adequate knowledge about breastfeeding. However, 21% believed that BF should be supplemented with formula, porridge, teas, water, or juices, and 14% were unsure. Conclusion: This study showed that postpartum women generally have satisfactory knowledge about breastfeeding, along with appropriate attitudes and practices, with 99% expressing the desire to breastfeed their babies. However, healthcare services appear to contribute little to the dissemination of correct breastfeeding practices. It is recommended that a health education protocol be developed with the necessary specifications on breastfeeding and adopted by all healthcare professionals involved with this population.
Keywords: Knowledge, attitudes, and practices in health; Breastfeeding; Postpartum period.
1 INTRODUÇÃO
O aleitamento materno (AM) é de extrema importância para a saúde dos bebês e de suas mães, sendo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a forma ideal de alimentação nos primeiros seis meses de vida. Ele é a fonte mais completa de nutrientes para o bebê, fornecendo os nutrientes necessários para um crescimento saudável (Gonçalves et al, 2016).
Além disso, o aleitamento materno promove um vínculo emocional entre a mãe e o bebê, auxiliando no desenvolvimento emocional e psicológico da criança. O processo de amamentação também traz benefícios para a saúde da mãe, ajudando na recuperação pós-parto e reduzindo o risco de certas doenças, a exemplo do câncer. Nesse sentido, a OMS incentiva e apoia a prática do aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida do bebê, seguida da introdução de alimentos complementares até os dois anos de idade ou mais (Soares, et al., 2022).
É notório que leite materno contém fatores para o desenvolvimento neurológico dos bebês, que promovem a formação de conexões neurais e podem melhorar a função cerebral. Ao mesmo tempo, o leite materno é uma fonte natural de ácidos graxos essenciais para o desenvolvimento do cérebro e dos olhos. Esses ácidos estão associados a um melhor desempenho cognitivo e habilidades de aprendizagem (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021).
O ato de amamentar ainda promove uma interação íntima entre a mãe e o bebê, estimulando o desenvolvimento emocional e social da criança. Essa ligação emocional pode ter um impacto positivo no desenvolvimento cognitivo da criança. No geral, o aleitamento materno é um componente crucial para garantia do desenvolvimento cognitivo saudável e promoção do bem-estar geral de mães e bebês. Segundo a Fundação das Nações Unidas para a Infância, “o aleitamento materno na primeira hora de vida é importante tanto para o bebê quanto para a mãe, pois, auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia” (UNICEF, 2024).
Conforme Setúbal (2011) existem inúmeras vantagens para o aleitamento materno que impactam a vida da mãe de forma direta, seja do ponto de vista emocional, quanto socioeconômico. Segundo ele, o leite humano é muito mais barato do que as fórmulas industrializadas e fortemente propagadas pela mídia; amamentar é bom para o meio ambiente, uma vez que não há resíduos de materiais plásticos como bicos, mamadeiras e materiais químicos para higienização a serem descartados; ainda segundo o especialista há estudos que apontam para a redução dos riscos de diabetes tipo 2, artrite reumatoide e doenças cardiovasculares entre as mulheres que amamentam.
O processo de aleitamento materno no Brasil envolve esforços, incentivos e campanhas para estimular sua prática. Apesar dos avanços alcançados, ainda há mães que oferecem líquidos além do leite materno nos primeiros meses de vida. Implementar políticas locais mais eficazes e programas de estímulo à prática do aleitamento materno exclusivo, além de promover um maior conhecimento sobre a importância do aleitamento materno, é de fundamental importância (Dos Santos et al, 2022).
No Brasil o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS) é responsável por coletar, processar e disponibilizar dados relacionados à saúde no Brasil. Ele contribui para pesquisas sobre o aleitamento materno ao fornecer informações estatísticas, como a prevalência do aleitamento materno em diferentes regiões do país, taxas de aleitamento materno exclusivo e duração do aleitamento, entre outros dados (SUS, 2024).
Pesquisadores e profissionais de saúde podem acessar os dados do DataSUS para realizar análises epidemiológicas, monitorar tendências ao longo do tempo, identificar desafios e oportunidades na promoção da saúde da população de um modo geral, inclusive no que diz respeito ao aleitamento materno com fins de embasar políticas públicas externas para a melhoria da saúde materno-infantil. A disponibilidade dessas informações contribui significativamente para o planejamento e avaliação de estratégias de promoção da saúde no Brasil (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021).
Em 2021, a pesquisa sobre prevalência do aleitamento materno nas capitais e no Distrito Federal mostrou que na cidade de Belém 77% das crianças com até 30 dias de vida eram amamentadas exclusivamente, esse número diminui para 34,5% aos 120 dias de vida e para 13,3% aos 180 dias de vida.
1.1 Problema
O tema “aleitamento materno” deve ser abordado de forma recorrente durante as consultas de pré-natal, alojamento conjunto e consultas puerperais subsequentes. Essas orientações podem melhorar a qualidade de vida de mulheres e seus bebês. A despeito disso, não se sabe o nível de conhecimento e aplicação prática acerca do aleitamento materno entre puérperas da amazônia brasileira, sobretudo na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP).
Devido à grande quantidade de gestantes atendidas nas consultas de pré-natal nos serviços públicos de saúde, muitas vezes não é possível abordar de forma detalhada esse tema, apresentando-se como uma fragilidade no sistema.
1.2 Perguntas de Pesquisa
- Há conhecimento sobre a relevância do aleitamento materno entre as puérperas atendidas na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Estado do Pará?
- Quais são as práticas corriqueiras entre essas mulheres que implicam o aleitamento materno de seus bebês?
- Existem questões de fundo que reverberem no desmame precoce das crianças?
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo geral
Avaliar o nível de conhecimento, atitudes e aplicação prática sobre aleitamento materno entre puérperas da Amazônia brasileira, atendidas em alojamento conjunto em uma maternidade de alto risco.
2.2 Objetivos específicos
- Analisar o conhecimento pré-existente sobre aleitamento materno no grupo pesquisado.
- Descrever as práticas de aleitamento materno em curso no grupo pesquisado acerca do tema.
- Avaliar as atitudes das mães sobre o aleitamento materno.
- Identificar os motivos que levam ao desmame precoce entre o grupo estudado.
3 JUSTIFICATIVA
Esta pesquisa justifica-se pela sua importância social em saúde pública. No que tange à questão social, contribuir para a melhoria da política de aleitamento materno, que tem impactos diretos na saúde da mulher e no desenvolvimento e saúde do recém-nascido.
Segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO, 2021), há benefícios relevantes para a saúde da mulher relacionados à amamentação. Havendo, conforme a autora, evidências de menor risco de câncer de mama e câncer epitelial do ovário. Além disso, quando exclusiva, a lactação contribui para o maior espaçamento entre gestações.
Considerando os dados apresentados no Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (2021), percebe-se que houve um aumento prevalência de amamentação exclusiva entre crianças menores de quatro meses, contudo os dados são distantes das metas da OMS para 2030: 70% na primeira hora de vida, 70% nos primeiros seis meses, de forma exclusiva, 80% no primeiro ano e 60% aos dois anos de vida.
No Brasil, o percentual é de 62,4% de amamentação na primeira hora de vida, 45,8% de aleitamento exclusivo nos primeiros seis meses, 52,1% aos 12 meses e 35,5% aos 24 meses de vida. O uso das mamadeiras, chuquinhas e chupetas também é uma realidade em metade das crianças brasileiras de até dois anos. Ademais, na Região Norte, percebeu-se a prevalência do aleitamento cruzado entre menores de dois anos de idade, o percentual foi de 34,8% (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021).
No Brasil, desde o início da década de 1980, existe um Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM), e na década de 1990 foi criada a Política Nacional de Aleitamento Materno, que funciona como uma engrenagem de ações que atuam de forma integrada, como: Iniciativa Hospital Amigo da Criança, Método Canguru, Rede de Bancos de Leite Humano, Estratégia Amamenta e Alimenta, Mulher Trabalhadora que Amamenta (Salas de Apoio à Amamentação), Proteção à Amamentação e ao Marketing Comercial (NBCAL/Lei no 11.265/2006 e Decreto no 9.579/2018), pesquisas de prevalência de AM e mobilização social (Dia de Doação Internacional de Leite Humano e Agosto Dourado); reconhecida internacionalmente por ser uma das causas que dão suporte à redução da mortalidade infantil (FEBRASGO, 2024).
Necessidade de fortalecer as diversas ações de incentivo ao AM já desenvolvidas no país, propõe, de forma inovadora, uma engrenagem de ações para atuar de forma integrada no sentido de potencializar seu impacto, adotando como estratégia a linha de cuidado, com alinhamento aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), no contexto de consolidação das Redes de Atenção à Saúde (RAS) e indução de ações intersetoriais, a fim de garantir o direito das crianças, suas mães e famílias à amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida e continuada até os 2 anos de vida ou mais, seguindo as recomendações da OMS e do Ministério da Saúde (MS) (FEBRASGO, 2024).
As evidências apontam os inúmeros benefícios da amamentação a curto e longo prazo para crianças, mulheres, famílias e sistemas de saúde, para a sociedade e para meio ambiente mais sustentável. Ainda existem obstáculos à amamentação, conforme aponta a FEBRASGO, 2024. Entre os principais obstáculos à prática da amamentação exclusiva, conforme a federação incluem-se:
- Desconhecimento, por parte da população em geral, dos profissionais de saúde e de gestores, sobre o real significado da amamentação exclusiva e sua importância;
- Práticas inadequadas nos serviços de saúde, cabendo destacar o papel das maternidades, que muitas vezes dificultam o estabelecimento da amamentação exclusiva, não promovendo contato pele a pele entre mãe e bebê após o nascimento, separando mães e bebês por longos períodos, oferecendo suplementos lácteos e impondo horários rígidos para as mamadas, além do uso de bicos artificiais;
- Práticas culturais e crenças, a exemplo do uso de chás, em nosso meio;
- Falta de confiança das mães em prover adequada nutrição aos lactentes praticando o AM exclusivo;
- Trabalho materno;
- Promoção comercial das fórmulas infantis.
Em face da literatura e das pesquisas sobre o tema, compreendemos que este estudo pode contribuir para um melhor entendimento acerca das potencialidades e dos desafios que envolvem o aleitamento materno e que os resultados podem ser importantes na (re)elaboração de políticas públicas com esse tema.
4 REVISÃO DE LITERATURA
4.1 Cultura e aleitamento materno: breves aspectos históricos
A cultura do aleitamento materno tem uma longa e rica história, sendo influenciada por diversas perspectivas sociais, econômicas e médicas ao longo do tempo. Na maior parte das culturas antigas, o aleitamento materno era a única fonte de alimentação segura para o bebê. Documentos históricos e artefatos de civilizações como a egípcia, grega e romana mostram que a prática era comum e valorizada. No entanto, mulheres da aristocracia e famílias ricas, muitas vezes, delegavam a tarefa às amas de leite, o que perdurou em muitas culturas, a exemplo do Brasil colonial. Essa prática tronou-se comum entre as famílias mais abastadas, levando a uma narrativa da amamentação como um trabalho subalterno relegado às mulheres mais pobres (Pinsky et al., 2012).
A industrialização trouxe mudanças significativas para o mundo do trabalho e as mulheres passaram a acumular duplas e até triplas jornadas de trabalho. Com mais mulheres trabalhando em fábricas, houve um declínio na prática da amamentação (Pinsky et al., 2012). Surgiram substitutos do leite materno, como fórmulas à base de farinha ou leite de vaca. Essa época também viu o início da percepção do aleitamento materno como uma questão de saúde pública, com médicos começando a advogar mais fortemente pela amamentação.
As duas Grandes Guerras e a consequente inserção feminina no mercado de trabalho impactaram a prática do aleitamento materno. No entanto, ocorreu um renascimento no interesse pela amamentação. Movimentos feministas e ambientalistas promoveram a volta ao natural, incluindo a preferência pela amamentação. As organizações de saúde começaram a promover a melhoria do melhor método de nutrição infantil, culminando na iniciativa do Hospital Amigo da Criança pela OMS e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em 1991, que promove práticas para apoiar a amamentação (Dos Santos, 2022).
Atualmente, a amamentação é amplamente reconhecida nos meios médicos como a forma ideal de nutrir um recém-nascido, trazendo benefícios tanto para a mãe quanto para o bebê. No entanto, as práticas de amamentação ainda variam amplamente devido às diferenças culturais, econômicas e individuais. A promoção do aleitamento materno enfrenta os desafios contemporâneos, como a necessidade de políticas que apoiem as mulheres trabalhadoras e a luta contra a poderosa indústria de fórmula infantil (Bosi e Machado, 2005; Dos Santos 2022).
Em resumo, a história cultural do aleitamento materno é complexa, marcada por mudanças nas normas sociais, conhecimento médico e condições econômicas. Essa história reflete a evolução contínua na compreensão da importância da amamentação para a saúde e o desenvolvimento infantil.
4.2 Estudos sobre aleitamento materno no Brasil e na região norte do país
A prática da amamentação no Brasil e, especificamente, na Região Norte apresenta características próprias, influenciadas por fatores culturais, socioeconômicos e de políticas de saúde. No Brasil, a amamentação é fortemente recomendada e promovida por órgãos de saúde pública, devido aos seus reconhecidos benefícios tanto para as crianças quanto para as mães. A prática é vista como essencial para o desenvolvimento saudável do bebê, fornecendo os nutrientes necessários, além de fortalecer o vínculo mãe-filho e oferecer proteção contra várias doenças (Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021).
Entretanto, apesar dos esforços e das políticas implantadas para o incentivo à prática da amamentação, ainda existem desafios a serem superados. Na Região Norte, como em outras partes do Brasil, fatores como a necessidade de retorno ao trabalho materno, a falta de locais adequados para amamentação em espaços públicos e de trabalho e o desconhecimento sobre os direitos das mães lactantes podem comprometer a duração e exclusividade da amamentação. Isso destaca a necessidade de apoio contínuo e incentivo à amamentação, por meio da educação, políticas públicas e infraestrutura adequada, garantindo, assim, os benefícios dessa prática para as famílias brasileiras e, em particular, para aquelas da Região Norte (Soares et al., 2022).
Segundo a professora Rosa Marques (2008) e literaturas atualizadas como é o caso de Gonçalves et al. (2016); FEBRASGO (2024) e Soares et al. (2022), constitui uma preocupação profunda a permanência de obstáculos na amamentação, mesmo após a realização de cuidados pré-natais e o fornecido de instruções sobre o aleitamento. O aconselhamento precoce no início da gravidez torna-se crucial, dado que as experiências iniciais rapidamente se estabelecem como práticas firmemente arraigadas, que são desafiadoras para alterar. Por isso, avaliações periódicas da prática de amamentar por profissionais de saúde nesse estágio são fundamentais para a identificação e correção precoce de possíveis problemas, o que poderia prolongar o período de amamentação materna.
Embora o acesso à informação esteja garantido por lei, torna-se vital garantir a qualidade dessa informação e a maneira como é transmitida, com o objetivo de converter o ensino em ações cotidianas reais das mães (Soares et al., 2022).
Os estudos subsequentes precisam ser conduzidos com o propósito de identificação de variáveis adicionais que possam estar afetando a prática do aleitamento materno, permitindo, assim, sua identificação e intervenção direcionada para a promoção de uma experiência de parto de alta qualidade. Observa-se que um maior número de filhos pode estar diretamente relacionado às menores dificuldades na amamentação (Silva et al, 2023).
4.3 Potencialidade e desafios do aleitamento materno e as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS)
A OMS e o Ministério da Saúde (MS) do Brasil orientam a realização do aleitamento materno exclusivo (AME) até os seis meses de vida. Após este período, inicia-se a introdução de outros tipos de alimentos de forma complementar, mantendo a oferta de leite materno até os dois anos de idade da criança ou mais. Para proteção do aleitamento materno, existem políticas, propostas e iniciativas brasileiras a favor dessa, uma delas é a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC) (Brasil, 2017).
A IHAC é uma estratégia que atua na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, mobilizando profissionais de saúde e funcionários de hospitais e maternidades na melhoria de rotinas e condutas para prevenir o desmame precoce. Destaca-se o impacto positivo dessa estratégia nas taxas de amamentação e na melhoria da saúde infantil, evidenciando a sua importância para a saúde pública (Brasil, 2017).
Com o intuito de combater o desmame precoce e contribuir para o crescimento saudável da criança, a OMS e o UNICEF, em 1990, por meio de um encontro realizado em Florença, emitiram uma Declaração de Inocência. Doze países foram eleitos para dar partida à IHAC, dentre eles o Brasil. Implantada em 1992 no Brasil, a IHAC é coordenada pelo MS e pela Política Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (PNIAM). Para uma instituição receber titulação de IHAC, é necessário que ela cumpra algumas metas contidas na Declaração de Innocenti, denominadas “Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno” (Brasil, 2017).
Quadro 1 – Dez Passos para o Sucesso do Aleitamento Materno

Os dez passos abrangem medidas que visam transmitir aos profissionais de saúde e ao público em geral informações sobre os benefícios e manejo do aleitamento. Essas medidas têm, dentre suas especificidades, o apoio a rotinas de serviços que promovem o aleitamento e o combate à livre propaganda de leites artificiais para bebês, bem como a oferta de bicos, chupetas e mamadeiras (Brasil, 2017).
Muitos são os desafios que se apresentam para a eficácia do aleitamento materno. Conforme apontam Ramalho e colaboradores (2024), a utilização da chupeta está ligada à ineficácia da prática exclusiva do aleitamento materno. Bebês que faziam uso da chupeta, segundo o estudo das autoras, tinham uma probabilidade 26% inferior de serem amamentados de forma exclusiva em comparação com aqueles que não a utilizavam.
A utilização desse objeto pode ser prejudicial à amamentação ao provocar mixórdia de tipos de amamentação, diminuir a regularidade das sessões de amamentação e atenuar a produção de leite materno. Entretanto, a conexão de causa e efeito entre o emprego da chupeta e o resultado na amamentação ainda não está claramente estabelecida, uma vez que permanece incerto se a utilização da chupeta é um indicador de interrupção da amamentação exclusiva ou se constitui uma razão para tal interrupção, o que pode ser explorado também nesta investigação. O uso da chupeta também pode estar relacionado à falta de confiança da mãe para amamentar, bem como aos obstáculos e desafios enfrentados durante o processo de amamentação (Ramalho et al, 2024).
No entanto, as orientações sobre o procedimento de parto não tiveram impacto significativo na amamentação exclusivamente no contexto explorado, que, no caso, foi uma maternidade no estado do Rio de Janeiro, indicando que a frequência e a qualidade das instruções de melhorias. Bebês de mães com menor renda, sem parceiros e que consomem álcool, fatores já conhecidos de risco para desfechos negativos na infância, tiveram uma prevalência reduzida de amamentação materna exclusiva, perpetuando as disparidades na saúde entre os grupos mais vulneráveis (Soares et al., 2022; Dos Santos, 2022).
5 MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 Tipo de Pesquisa
Esta pesquisa é do tipo descritiva com inquérito avaliativo e transversal do tipo conhecimentos, atitudes e práticas, de abordagem quantitativa, embasando o constructo da competência e da habilidade, portanto não apresenta referencial teórico, e sim revisão de literatura.
5.2 Local de Pesquisa
O presente estudo foi realizado no alojamento conjunto da Maternidade Almir Gabriel da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP). O município de Belém, capital do estado do Pará, recebe a maior parte dos atendimentos materno-infantil oriundos de localidades no interior do estado.
5.3 População e Amostra
A amostra foi do tipo intencional e compreendeu o total de 100 parturientes que estavam internadas para realizar seu parto na referida maternidade, no período de setembro a outubro de 2024.
Uma amostra aleatória simples foi selecionada considerando a população finita como sendo o número médio de partos por mês no ano de 2023 de 743. Essa informação foi obtida no setor de internação da Santa Casa de Belém.
Para tanto, utilizou-se o cálculo do tamanho da amostra considerando o tamanho da população de 743.

Para garantir um erro amostral não superior a 5%, confiabilidade de 95%, usando a proporção de partos estimada pela OMS

, o tamanho inicial da amostra (n0), fica dado por:

Fazendo a correção para população finita temos

Considerando 10% de perdas, o tamanho final da amostra deveria ser de

pacientes. No entanto, dado o tempo de coleta de dados após a aprovação do CEP, de dois meses, obteve-se 100 questionários respondidos.
5.4 Critérios de inclusão
Puérperas primíparas ou multíparas que estavam internadas no alojamento conjunto da Maternidade Almir Gabriel da FSCMP em companhia de seus filhos recém nascidos, durante o período de coleta de dados e que aceitaram participar da pesquisa.
5.5 Critérios de exclusão
Foram excluídas aquelas que não estavam aptas cognitiva ou emocionalmente (autorreferido); puérperas cujos filhos possuíam malformação ou síndromes, puérperas mastectomizadas, portadoras dos vírus HIV, HTLV e Hepatite B, ou qualquer comorbidade que impossibilitasse a amamentação.
5.6 Procedimento de coleta de dados
Para a coleta de dados foi utilizado um formulário com 42 questões, construído para a pesquisa, com questões sobre caracterização sociodemográfica, reprodutiva, hábitos de vida e sobre conhecimentos, atitudes e práticas das puérperas em alojamento conjunto sobre aleitamento materno. O conteúdo do instrumento do CAP foi adaptado de Queiroz (2021). O formulário de pesquisa continha perguntas sobre: conhecimento sobre aleitamento materno, como a frequência e duração das mamadas, pega adequada, posicionamento do bebê durante amamentação e necessidade de suplementação; atitudes sobre aleitamento materno, como a vontade de amamentar exclusivamente o bebê, e por quanto tempo; e as práticas sobre o aleitamento materno, como se a puérpera já amamentou antes, por quanto tempo realizou AME, e os motivos da interrupção. O formulário completo pode ser encontrado no apêndice A.
Após aplicação dos questionários às parturientes internas no alojamento conjunto da Maternidade Almir Gabriel da FSCMP, foi realizado uma análise descritiva para apresentar as ocorrências na amostra estudada. A comparação de possíveis grupos foi realizada através do teste t-Student quando possível, ou alternativamente foi usado um teste não paramétrico.
Possíveis associações foram detectadas usando um teste qui-quadrado ou o teste exato de Fisher. O Minitab® Statistical Software de 2023 realizou todos os cálculos juntamente com o pacote estatístico R, Copyright (C) 2023 The R Foundation for Statistical Computing.
6 RESULTADOS
6.1 Perfil sociodemográfico das participantes
Ao analisar as informações quanto ao perfil sociodemográfico das mulheres que participaram da pesquisa, observa-se que a maioria (43%) das participantes tem entre 18 e 24 anos, seguidas por aquelas com idades entre 25 e 29 anos (24%). Quanto ao local de residência, 48% são residentes do interior do estado do Pará, 39% são da capital Belém e 13% na Região Metropolitana de Belém. Em relação a cor da pele, 71% se identificam como parda/mulata/morena, 13% como branca, 10% como preta e 6% como amarela. Quanto à principal atividade, 56% cuidavam do lar, 17% eram estudantes, 14% tinham atividade remunerada informal e 13% possuíam atividade remunerada formal (tabela 1).
Tabela 1 – Perfil sociodemográfico de puérperas entre setembro e outubro de 2024, na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), Belém-Pará.

Em se tratando do direito à licença maternidade, 83% afirmaram não o ter, enquanto apenas 17% tinham. Cinquenta e oito porcento das participantes vivem com 4 a 6 pessoas na residência, 29% com 1 a 3 pessoas e 13% com 7 ou mais (tabela 2).
Tabela 2 – Dados referentes à licença maternidade e números total de pessoas na residência de puérperas entre setembro e outubro de 2024, na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), Belém-Pará.

Quanto aos antecedentes obstétricos, 47% era a primeira gravidez, 49% tinha tido parto normal, 56% não tinha histórico de cesárea e 90% não passou por abortamento. Noventa e sete porcento realizaram o pré-natal na gravidez atual, sendo mais de seis consultas obstétricas em 58% delas e 83% o fizeram em posto de saúde, além de que 92% tiveram consulta com médico. No pré-natal, 60% das mulheres relataram que não foram informadas sobre aleitamento materno, enquanto 37% afirmaram que sim (tabela 3).
Tabela 3 – Antecedentes obstétricos e dados da gravidez atual de puérperas entre setembro e outubro de 2024, na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMP), Belém-Pará.


6.2 Conhecimentos sobre aleitamento materno
A tabela 4 demonstra os conhecimentos das gestantes sobre esse tema, incluindo a idade para o AME, a frequência e a duração das mamadas, cuidados necessários para a pega e o posicionamento adequado, entre outros. Somente 39% das participantes acredita que o AME deve durar 6 meses e 42% que deve ser de livre demanda em relação à frequência das mamadas, já em relação à duração das mamadas, 59%.
Em relação às formas de aumentar a produção de leite materno, 92% indicaram ingerir bastante água e sucos ou chás, 49% o aumento da frequência das mamadas e 39% a pega e o posicionamento adequado. Trinta porcento acredita que a amamentação ajuda o tamanho do útero voltar ao normal e 22% afirma reduzir o risco de câncer de mama e ovário) (tabela 4).
Vinte e sete por cento das entrevistadas acredita que a alimentação ideal do bebê nos primeiros 6 meses de vida deve ser complementada (leite de vaca, leite em pó, mingau, papas, chás, água, sucos, sopas, frutas) e de forma exclusiva em 73% (tabela 4).
Tabela 4 – Conhecimentos sobre Aleitamento Materno


Fonte: Resultados da pesquisa, 2025.
6.3 Atitudes sobre aleitamento materno
Pode-se observar que 99% das gestantes manifestam o desejo de amamentar nesta gestação e 100% das entrevistadas consideram a amamentação importante. No que diz respeito à amamentação em público, 91% das participantes não consideram vergonhoso, enquanto 9% sim (tabela 5), representando uma alta adesão à amamentação e ao reconhecimento de sua importância, enquanto as opiniões sobre amamentação em público e a complementação com outros alimentos variam entre as participantes (tabela 5).
Tabela 5 – Atitudes sobre Aleitamento Materno

Fonte: Resultados da pesquisa, 2025.
6.4 Práticas sobre aleitamento materno
Cinquenta e quatro porcento relatou nunca ter amamentado antes, enquanto 47% amamentaram todos os seus filhos. Na última gestação, 23% das mães praticaram amamentação exclusiva até os 6 meses de idade do bebê e somente 7% após os 6 meses de idade. A amamentação complementada com outros alimentos ou água ocorreu entre 6 e 12 meses em 33% dos casos e 15% entre 1 e 5 meses de vida (tabela 7).
Entre os motivos atribuídos à interrupção do aleitamento exclusivo, 18% das mães conseguiram manter a amamentação por 6 meses, 14% relataram traumas mamilares, 13% tiveram que retornar ao trabalho e 12% mencionaram ausência de leite materno. Sobre a amamentação de crianças que não são seus filhos biológicos (amamentação cruzada), 22% a fizeram, enquanto 78% não (p < 0,0001). Além disso, 12% delas afirmaram que seus filhos foram amamentados por outra mulher, com 8% sendo por parente e 12% por amiga ou pessoa desconhecida do convívio social, por exemplo outra puérpera do alojamento conjunto (tabela 7).
Tabela 6 – Práticas sobre Aleitamento Materno


Fonte: Resultados da pesquisa, 2025.
6.5 Experiências do parto e pós-parto
Entre as mães estudadas, 51% relataram que amamentaram pela primeira vez durante a primeira hora de vida do recém-nascido (RN) ainda na sala de parto, enquanto 40% o fizeram entre a primeira e a sexta hora de vida. Sobre as orientações de amamentação no hospital, 55% receberam e 45% não.
O auxílio na primeira mamada por enfermeiras ou técnicos de enfermagem esteve presente em 53%, já 29% por parentes ou parceiro, 7% por médicos pediatras, 6% por outras mães do alojamento conjunto, 3% por médicos obstetras e 2% por fonoaudiólogos (tabela 8).
Tabela 7 – Informações Sobre o Parto e Pós-parto.

Fonte: Resultados da pesquisa, 2025.
7 DISCUSSÃO
O perfil das gestantes que participaram do estudo era de mulheres jovens, com mais de 50% tendo menos que 24 anos de idade. A maioria não residia na capital do estado, 81% era de cor preta ou parda, 46% não tinha o ensino médio completo e a maior parte delas não exercia atividade remunerada formal, com vínculo empregatício, ou seja, não tinham proteção de direitos trabalhistas relacionados a amamentação, com 83% não tendo direito a licença maternidade. A caracterização do perfil das mulheres deste estudo se assemelha com o perfil verificado em outros estudos, como observado por Olsen et al. (2018) e Queiroz et al. (2021), com uma variação com relação a idade, como aponta Queiroz et al (2021), em que a média de idade das gestantes é de 25 anos, com 61,1% das participantes de sua pesquisa estando na faixa etária de 18 a 25 anos de idade.
As orientações sobre o aleitamento materno durante a gestação são fundamentais para a compreensão de sua importância. No entanto, pesquisas de Queiroz et al (2021), Thet et al (2021) e Gejo et al. (2019) demonstraram que, apesar de as mães receberem informações dos profissionais de saúde sobre o tema, muitas ainda desconheciam que o aleitamento materno exclusivo protege o bebê contra determinadas doenças.
Em outro estudo, observou-se que o conhecimento adquirido influenciou diretamente o comportamento das mães. Na Etiópia, 88,8% delas praticavam o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida, evidenciando que as orientações fornecidas pela equipe de saúde tiveram um impacto positivo na adesão a essa prática (Queiroz et al, 2021; Thet et al, 2016; Gejo et al, 2019).
Veiga e colaboradores (2020) já apontaram que na área urbana do Brasil, a prevalência do AME é de 67,7% na primeira hora de vida, decrescendo para 41%, em até 180 dias. Na Região Norte, esses índices são de 72,9%. Belém foi a quinta capital brasileira com 72,8%, apesar de ter melhorado os seus índices, não se manteve em primeiro lugar entre as capitais brasileiras. No serviço onde foi realizada a pesquisa, este índice distancia-se do encontrado em nosso estudo, onde entre as gestantes que já haviam amamentado previamente, apenas 65% praticaram o AME até os 6 meses de vida.
Sabe-se que a atenção primária, especificamente através da Estratégia Saúde da Família incentiva o aleitamento materno através de várias iniciativas, como a rede cegonha, a estratégia amamenta e alimenta Brasil, e atividades de educação em saúde para a população, buscando solidificar os conhecimentos e práticas sobre a amamentação, conforme Barreto et al (2019).
Entretanto, os dados deste estudo mostram o contrário. Observa-se que a maior parte das participantes do nosso estudo realizaram o pré-natal em unidades básicas de saúde (postos de saúde) e outras instituições do Sistema Único de Saúde, incluindo a FSCMPA, entretanto apenas 37% relataram que o assunto aleitamento materno foi abordado durante este período, um resultado corroborado por Percegoni et al (2022), onde 66% das puérperas não receberam qualquer informação sobre AM durante o pré-natal. Este achado nos mostra uma lacuna ainda existente nas informações relevantes que devem alcançar a gestante no período de preparo para os cuidados com o bebê.
Observou-se conhecimento satisfatório das puérperas em relação ao período de amamentação, frequência e duração das mamadas, assim como sobre pega adequada, posicionamento, cuidados para maior produção de leite e benefícios da amamentação. Entretanto, quando questionadas sobre os alimentos necessários ao bebê nos primeiros 6 meses de vida, 1/3 sugeriu que outros alimentos como suplementação seriam utilizados. Este resultado é compatível com o encontrado no estudo do tipo CAP de Queiroz et al (2021), onde cerca de 30% das puérperas acreditavam que o leite materno deveria ser suplementado de alguma forma. Pode-se inferir que maiores informações e orientações durante o pré-natal poderia desmistificar estas crenças e trazer benefícios ao AME.
Estudos de Campos et al (2015) e Soares et al (2022) apontam a importância do prénatal para a solidificação de conhecimentos adequados sobre a gestação e maternidade. Quando a assistência ao pré-natal se mostra fragilizada, pode-se ocasionar a privação da criança aos benefícios da amamentação, além de expor o recém-nascido a doenças como pneumonia e diarreia, o que sobrecarrega o sistema hospitalar e pode aumentar a morbidade e mortalidade infantil.
Segundo o livro “Amamentação: bases científicas” (Carvalho & Tamez, 2005), as mulheres que amamentaram outros filhos e tiveram experiência positiva em relação à amamentação, apresentam pré-disposição para amamentar novamente. Disso infere-se que, de certa forma, a experiência prévia em amamentação auxilia a mãe a construir uma base de conhecimentos através da experiência vivida acerca da amamentação e estimula a autoconfiança. Esta afirmação foi encontrada no presente estudo, onde das puérperas avaliadas, 47% havia amamentado previamente seus filhos anteriores, e 99% das mulheres avaliadas apresentava desejo de amamentar atualmente.
De acordo com Shub et al (2019), a literatura demonstra que o desmame precoce está bastante associado à privação de sono. Acredita-se que o repouso deficiente pode gerar possibilidade de abandono do aleitamento materno, pois as mamadas noturnas frequentes podem gerar sobrecarga materna trazendo fadiga e alteração de humor. Além disso, a falta de informações ou necessidade de retornar as atividades de trabalho também podem ser importantes causas para os índices altos de abandono do AME. Neste estudo estes fatos também foram encontrados, sendo as principais causas de desmame precoce a necessidade de retorno ao trabalho (13%), cansaço/fadiga (11%) e ausência de rede de apoio (8%).
Outro importante motivo para o abandono da AME são os traumas mamilares. Foi observada uma frequência de 14% de traumas mamilares e 5% de ingurgitamento das mamas/mastite na gravidez anterior. Estudos do tipo CAP previamente realizados por Horta et al (2015) e Soares et al (2022) revelaram que puérperas com mamas ingurgitadas, posicionamento inadequado e pega incorreta podem incorrer a maiores índices de traumas mamilares. Estes são associados a dor, que pode ocorrer nas primeiras mamadas. Mulheres que vivenciam dor durante as primeiras mamadas tendem a realizar o desmame precoce na ausência de orientações e rede de apoio.
8 CONCLUSÃO
Este trabalho mostrou que as puérperas têm apresentado, de um modo geral, níveis satisfatórios de conhecimento sobre amamentação, com atitudes e práticas adequadas quando observadas o período, duração e frequência das mamadas, com 99% das puérperas desejando realizar amamentação de seus bebês. Entretanto, boa parte das participantes acreditava que a amamentação necessitava de algum tipo de complementação, como água, chá, fórmula ou até mingau.
Os serviços de saúde parecem colaborar pouco para disseminar o conhecimento correto das práticas do aleitamento materno. Sugere-se que os serviços de atenção ao pré-natal, sejam de atenção primária, ou de atenção especializada e hospitalar, devem ter um protocolo de educação em saúde que indique claramente as informações sobre amamentação que devem ser ensinadas às gestantes, e esta prática deve ser adotada por todos os profissionais do serviço de saúde. Além disso, estas informações devem ser continuadas no período pós-parto e nas consultas da criança.
O presente estudo possui algumas limitações, como o seu desenho transversal descritivo e sua realização in loco único, o que impossibilita a extrapolação destes resultados de uma forma generalizada. Sugere-se a realização de estudos de coorte e análises de regressão para melhor controle de todas as variáveis e estipulação de relações de causa-efeito.
9 REFERÊNCIAS
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