A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO LEITOR POR MEIO DE CONTOS AMAZÔNICOS 

THE CONSTRUCTION OF THE READING SUBJECT THROUGH AMAZONIAN TALES

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202504230035


Victoria Maia Neves Rodrigues


RESUMO 

Este estudo teve como objetivo analisar a compreensão do conto Cauré por estudantes do segundo ano do ensino médio, promovendo a percepção dos alunos como agentes transformadores do meio ambiente por meio da leitura. A pesquisa investigou o papel das funções da linguagem (conativa, emotiva, fática, metalinguística, poética e referencial) na construção do sentido do texto e na formação de leitores críticos. Para isso, foi realizada uma análise documental das atividades produzidas pelos alunos, bem como observação sistemática das aulas, permitindo que o estudo fosse contextualizado com a realidade dos estudantes. A metodologia adotada envolveu pesquisa bibliográfica, análise documental e estudo de campo, com base na leitura de teóricos da linguagem e na aplicação das atividades em uma escola estadual em Manaus. 

Palavras Chaves: Conto, Funções da linguagem, Sujeito Leitor. 

ABSTRACT 

This study aimed to analyze the comprehension of the short story Cauré by second-year high school students, fostering their perception as transformative agents of the environment through reading. The research investigated the role of language functions – conative, emotive, phatic, metalinguistic, poetic, and referential – in constructing textual meaning and developing critical readers. The goal was to enable students to associate the reading of the story with their prior knowledge, allowing them to contextualize the narrative with reality and interpret the messages conveyed. The methodology involved bibliographic research and field studies, based on readings of language theorists and applied in a public school in the capital of Amazonas. 

Keywords: Functions of Language, Readers Ability, Tale. 

1. INTRODUÇÃO 

O presente artigo teve como objetivo analisar o conto amazônico Cauré, de Antônio Cavalcante de Albuquerque, publicado em 2016. A escolha desse conto visou contribuir para a formação de leitores capazes de se reconhecer como agentes transformadores do meio ambiente. Além disso, buscou-se possibilitar uma análise crítica do texto em sala de aula, indo além da mera apreciação do enredo e das funções da linguagem. Dessa forma, a leitura foi abordada como um meio para aplicar os conhecimentos adquiridos sobre interpretação textual. 

O problema da pesquisa consistia em promover a conscientização do sujeito leitor quanto à sua capacidade de atuar como agente transformador do meio ambiente por meio da leitura do conto amazônico Cauré. Ao realizar uma leitura crítica, os estudantes foram capazes de contextualizar as propostas do autor, refletindo sobre a realidade social à qual pertencem. Isso possibilitou ao leitor reconhecer-se como um agente transformador, com um papel fundamental no exercício da cidadania e com autonomia para aderir ou não às propostas de conservação ambiental presentes no enredo do conto. 

O conto amazônico Cauré se destacou pela relevância literária e social, sendo fundamental para a implementação do projeto. Trata-se de uma obra infantojuvenil que valoriza a cultura e o contexto local, próximo à realidade do estudante manauense, ao abordar a conservação da floresta amazônica e destacar uma personagem indígena como protagonista. Essa abordagem permitiu a integração de temas transversais nos estudos de Literatura e Língua Portuguesa, contribuindo para a formação do sujeito leitor, que passou a se perceber como protagonista do ambiente no qual está inserido. 

A análise das funções da linguagem proporcionou aos estudantes do segundo ano do ensino médio a oportunidade de identificar as intenções do autor no texto, permitindo-lhes observar de maneira mais criteriosa os diferentes discursos que abordam ideais de conservação da floresta amazônica presentes na obra do escritor Antônio Alburquerque. Assim, ao familiarizarem-se com as funções da linguagem, os alunos realizaram uma leitura mais aprofundada, com o objetivo de compreender as propostas do autor e avaliar a possibilidade de aderir ou não aos seus pressupostos relacionados à prática ambiental. 

A pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, baseada na observação sistemática das atividades entregues em sala de aula. Esse processo permitiu analisar o contato dos estudantes com o gênero conto, fornecendo subsídios para a investigação de campo. A partir das observações realizadas, foram conduzidas análises para verificar se os discentes conseguiram se perceber como agentes transformadores do meio ambiente. 

No que se refere aos procedimentos metodológicos, a pesquisa foi fundamentada na leitura e análise de livros, artigos e periódicos científicos, que forneceram embasamento teórico para a investigação. 

Os resultados obtidos evidenciaram a relevância do gênero conto na formação do sujeito leitor, destacando sua contribuição para o desenvolvimento da competência leitora. Um dos principais aspectos observados foi a identificação das funções da linguagem nos diálogos que compõem o texto, demonstrando como essa abordagem favorece a interpretação e a reflexão crítica dos estudantes. Além disso, a aproximação do tema com o conhecimento de mundo dos alunos revelou-se um fator significativo, uma vez que despertou maior interesse pelo ato da leitura e ampliou o engajamento com a narrativa.

A pesquisa foi desenvolvida em uma escola estadual, com turmas do segundo ano do ensino médio. Sua implementação ocorreu ao longo de dois bimestres, durante o estágio de licenciatura da autora no curso de Letras. O trabalho pedagógico abordou as características do conto, a obra Cauré, as funções da linguagem no texto e a identificação das mensagens ao longo da narrativa. Essas atividades contribuíram para a formação de um sujeito leitor crítico, capaz de se reconhecer como agente de transformação social. Dessa forma, os estudantes passaram a se perceber não apenas como leitores passivos, mas como indivíduos conscientes de seu papel na sociedade, assumindo uma postura ativa em relação às questões ambientais e ao exercício da cidadania. 

Cabe ressaltar que esta pesquisa se fundamenta na análise documental de atividades realizadas pelos discentes, bem como em observações registradas no diário de campo da autora. Não houve a realização de entrevistas ou a coleta de dados que envolvessem a identificação ou exposição dos participantes. Dessa maneira, o estudo se configura como uma pesquisa de caráter documental e observacional, não envolvendo procedimentos que exijam submissão a um comitê de ética em pesquisa com seres humanos, conforme as diretrizes da Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. 

2. O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA E A FORMAÇÃO DO SUJEITO LEITOR 

O ensino da língua portuguesa desempenha um papel fundamental na formação do sujeito leitor, não se limitando ao simples ato de decodificar palavras, mas promovendo a capacidade de interpretar de maneira crítica as propostas de um texto. Isso é alcançado ao estudar a língua portuguesa de forma mais profunda, por meio da leitura. No entanto, é essencial abordar os gêneros textuais e os conteúdos a serem transmitidos ao leitor, levando em consideração seus conhecimentos prévios, para que haja uma interação efetiva entre o texto proposto e o contexto no qual o sujeito leitor está inserido. 

Considerando a realidade do leitor, torna-se mais viável alcançar uma compreensão profunda do texto. Conforme Freire 2011, a leitura de mundo para o sujeito leitor precede a leitura da palavra, visto que tanto o mundo quanto a palavra escrita estão intrinsecamente conectados. Dessa forma, ao fomentar a formação de leitores que sejam capazes de associar as palavras do texto ao contexto que os cerca, o ensino da língua portuguesa pode promover uma leitura mais crítica, permitindo que os estudantes se percebam não apenas como leitores, mas também como agentes transformadores.

Através dos estudos de língua portuguesa e da prática da leitura, o estudante é capacitado a analisar de maneira mais rigorosa os diferentes tipos de discurso presentes em um texto. De acordo com os PCNLP (1998), o aluno tem a oportunidade de ampliar suas possibilidades de participação social e de exercer sua cidadania por meio dos conhecimentos adquiridos ao longo da leitura. Tais conhecimentos estão relacionados ao que já integra o universo do leitor, mas é por meio do ato de ler que o estudante pode desenvolver uma compreensão mais ampla do contexto social em que está inserido. 

Na formação do sujeito leitor, não se busca a sobrecarga de textos de forma que prejudique a capacidade interpretativa. Conforme Freire (2011), muitas vezes a leitura é abordada apenas em termos quantitativos, sem um verdadeiro compromisso com a compreensão do leitor, priorizando uma leitura mecânica voltada para a memorização. O estudante deve se engajar na leitura de maneira a identificar as intenções do autor, interagindo de forma crítica e participativa com o texto proposto, e não apenas como um receptor passivo de informações desconectadas de sua realidade. 

Assim, é possível evidenciar a importância do ensino da língua portuguesa não apenas para o domínio da língua, mas também para possibilitar o exercício pleno da cidadania, permitindo ao estudante compreender seu papel como agente ativo na sociedade em que está inserido. Dessa forma, a formação do sujeito leitor ocorre ao conectar seu mundo cotidiano com o mundo das palavras, incorporando leituras contextualizadas com a realidade do estudante, para que não se configure uma leitura mecânica e de mera memorização, mas sim uma interação dinâmica entre o universo do leitor e o texto. 

A interação entre as palavras e a vivência do discente é enfatizada por Telles, Ferreira e Matos (2010), que ressaltam que a leitura vai além da simples decodificação da palavra escrita, pois ela está intrinsecamente ligada às nossas experiências como seres humanos, nas quais atribuímos valores ao meio no qual estamos inseridos. Assim, a leitura da escrita, quando associada ao mundo do leitor, adquire um campo mais amplo de compreensão, complementando-se mutuamente. 

A prática da leitura vai além da simples identificação de frases e orações, pois, conforme os PCNLP (1998), os textos escritos são compostos por valores e visões de mundo, e para sua estruturação, são utilizadas combinações linguísticas que permitem a manifestação das ideias do autor. Contudo, no ato de ler, é imprescindível que o estudante consiga identificar as ideologias propostas pelo autor, a fim de realizar uma leitura efetiva. Assim, o aluno será capaz de perceber as intenções contidas no texto e exercer a autonomia necessária para aderir ou rejeitar os ideais apresentados na leitura.

Para Telles, Ferreira e Matos (2010), a formação do sujeito leitor é fundamental, pois, em nossa sociedade contemporânea, a busca pelo saber e pela informação é uma realidade, uma vez que os indivíduos percebem que, na ausência de conhecimento, podem ser socialmente excluídos, impossibilitados de exercer plenamente sua cidadania e de atuar como protagonistas em seu meio social. Contudo, essa percepção não está, muitas vezes, presente na consciência de grande parte da população. Nesse contexto, a formação do sujeito leitor oferece ao estudante a oportunidade de se conscientizar de sua vulnerabilidade à exclusão, caso não adquira conhecimentos essenciais, como a habilidade de ler e compreender criticamente. 

Conforme os PCNLP (2000), a disciplina de língua portuguesa deve, em sua proposta de ensino, promover a interação entre língua e linguagem, levando em consideração a construção simbólica do aluno em particular e da sociedade de forma geral. Esse processo integra o conhecimento prévio do discente com o conhecimento a ser adquirido em sala de aula, sem desconsiderar as questões sociais. Assim, a interação entre língua e linguagem contribui para o processo de comunicação entre o leitor e o texto escrito. 

Telles, Ferreira e Matos (2010) ressaltam que não é apenas o ato de ler que faz parte da formação do sujeito leitor, mas também as habilidades inerentes à leitura, como a capacidade de analisar, interpretar, valorizar e associar com outras leituras, incluindo a leitura de mundo. Dessa forma, o estudante desenvolve a leitura ativa ou crítica, o que contribui para a promoção de transformações no leitor. O estudante passa a se tornar consciente dos papéis que lhe são impostos, adquirindo autonomia para concordar, aderir ou rejeitar os ideais propostos. Em última instância, a leitura proporciona ao sujeito a capacidade de exercer seu papel de cidadão, por meio da autonomia adquirida durante o processo. 

2.1 O gênero conto e suas contribuições na formação do sujeito leitor

O conto pode ser caracterizado como um gênero textual marcado pela objetividade e concisão. Sua estrutura permite a utilização de uma ampla pluralidade de temas, possibilitando a representação tanto de narrativas ficcionais quanto de aspectos da vida cotidiana por meio da literatura. Essa capacidade de abordar diferentes temáticas torna o conto uma ferramenta literária poderosa para retratar realidades diversas. 

De acordo com Dionísio, Machado e Bezerra (2015), os gêneros textuais possuem ações sociodiscursivas que não apenas descrevem, mas também influenciam e agem sobre o mundo. Sendo o conto um gênero textual, ele carrega reflexões sobre questões históricas e sociais, que podem refletir a realidade do leitor. Nesse sentido, o conto torna-se um objeto de análise, permitindo ao estudante refletir sobre sua vivência e compreender melhor o mundo a partir do contato com esse gênero literário. 

Segundo o conceito proposto por Gomes e Almeida (apud Bosi, 1975, p. 31), o conto pode ser entendido como “uma espécie de poliedro capaz de refletir as situações mais diversas de nossa vida real ou imaginária”. Por ser mais breve do que um romance, o conto permite a apresentação concisa do conflito central, o que contribui para que o estudante consiga realizar uma leitura em menor tempo. No caso do conto Cauré, essa estrutura possibilita a identificação das reflexões sobre diversos acontecimentos da vida real, expressos artisticamente por meio do enredo. 

Outra característica mencionada por Gomes e Almeida (apud Sarmento e Tufano, 2004) sobre o gênero conto é que sua composição é fundamentada em aspectos como: o enredo, o conflito, o clímax, a quantidade reduzida de personagens (em comparação com a novela ou o romance), além de tempo e espaço limitados e um desfecho. Destaca-se, ainda, que a organização do enredo pode variar de conto para conto, não necessariamente seguindo uma sequência cronológica determinada para as ações na narrativa. 

De acordo com Musialak e Robaszkievicz (apud Abaurre, 2007), o conto deve concentrar-se no desenvolvimento e na resolução de um conflito central. Nesse sentido, ao ler o conto Cauré, o estudante tem a oportunidade de identificar sua capacidade como agente transformador do meio ambiente em que está inserido. O conflito presente na obra aborda os problemas ambientais enfrentados pela floresta amazônica ao longo dos anos, destacando a importância da conscientização humana como um agente transformador na proteção dessa floresta. 

Conforme Araújo (2015, apud PCNLP, 1998), o texto literário apresenta uma característica peculiar, na qual prevalece a força criativa da imaginação e a intenção estética. Nesse contexto, o conto se configura como um dos gêneros literários com o potencial de transpor os acontecimentos do mundo real para o universo da literatura, com a finalidade de comunicar ao leitor as circunstâncias do cotidiano. 

O gênero conto é destacado como um dos recursos privilegiados para a prática da leitura, conforme os PCNLP (2000), pois contribui significativamente para a formação do leitor crítico e para o desenvolvimento das habilidades necessárias para que o sujeito se reconheça como protagonista, capaz de colaborar nas transformações do ambiente em que está inserido. Assim, a prática da leitura do conto, aliada à habilidade de identificar as ideias centrais ao longo da trama, revela-se de extrema importância para a formação de um leitor competente.

A leitura é um ato de produção de sentido. De acordo com Simões (2012), o leitor tem a capacidade de interagir com o texto escrito a partir de seu repertório, do contexto social que prevalece em seu cotidiano e do domínio da língua portuguesa. Ao utilizar esses recursos, o estudante adquire a competência necessária para se tornar um leitor mais crítico, capaz de refletir sobre e problematizar os temas propostos. Assim, ao refletir sobre os temas apresentados no conto, o leitor será capaz de compreender as questões em destaque, podendo concordar ou discordar das intenções expostas nas interações das personagens. 

2.2 A importância do conhecimento das funções da linguagem no conto para a formação do sujeito leitor

Desde os primórdios da humanidade, o ser humano tem buscado formas de se comunicar com os outros, seja por meio das pinturas rupestres, que marcam um passado remoto, seja através da linguagem escrita, oral ou imagética, que predominam na atualidade. Essa interação, caracterizada pela troca de mensagens, tem se expandido à medida que a tecnologia se aprimora, gerando novas formas de meios de comunicação, como a televisão, os jornais, o rádio e a internet. 

Entretanto, as funções da linguagem não se restringem aos meios tecnológicos. Elas estão presentes em diversos contextos, desde discursos mais rebuscados até atos de comunicação mais simples, como uma conversa informal ou até mesmo um cumprimento rotineiro, como um “olá, tudo bem?”. Isso evidencia a predominância da comunicação em nossas atividades diárias, tornando-se um dos atos mais corriqueiros e essenciais da convivência humana. 

Conforme Telles, Ferreira e Matos (2010), “As linguagens serão as mais profícuas mediatizadoras entre o ser e o mundo circunstante […]”. Dessa forma, é fundamental que o estudante compreenda as funções da linguagem como uma das formas de perceber o ambiente em que está inserido, bem como os diversos discursos que permeiam sua rotina enquanto ser social. Para tal, a leitura literária se configura como um suporte essencial, funcionando como base formadora para a análise crítica. Isso permite ao leitor interpretar as mensagens presentes no conto Cauré, por meio da leitura atenta e reflexiva do texto escrito. 

Logo, o conto amazônico será o gênero em foco para a prática da análise e do reconhecimento das funções da linguagem. Conforme afirmam Telles, Matos e Ferreira (2010, p. 71), “Na formação de um leitor competente e autônomo, a percepção da função ou do feixe de funções dominantes é instrumento para uma esclarecida compreensão dos reais valores – e não apenas das ideias – comunicados.”

Portanto, por meio da competência e autonomia do leitor, não se limitará apenas à transmissão de conhecimento dentro do campo dos estudos da língua portuguesa, mas também se proporcionará ao estudante um contexto que o capacite a captar as ideias e os valores sociais presentes nos discursos das personagens do conto em questão. Assim, o leitor se tornará apto a identificar as ideologias do texto, sendo capaz de aceitar ou rejeitar as propostas do autor. Diante disso, passamos agora a uma análise mais aprofundada das funções da linguagem. 

Conforme Martellota (2010), diversos pesquisadores propuseram delimitações para as funções da linguagem, destacando-se Karl Bühler, Roman Jakobson e, mais recentemente, M.A.K. Halliday. No entanto, a perspectiva Jakobsoniana será a adotada para a análise, por ser a mais predominante entre os teóricos contemporâneos. Para Jakobson, as funções da linguagem são classificadas em seis tipos: referencial, emotiva, poética, conativa, fática e metalinguística. Neste trabalho, analisaremos a identificação dos agentes transformadores do meio ambiente no conto Cauré a partir dessas funções da linguagem. 

Portanto, as funções da linguagem foram o meio pelo qual se identificaram os agentes transformadores ao longo da narrativa do conto amazônico. Ao perceber as mensagens que contextualizam o leitor com sua realidade, esperava-se que este se reconhecesse como um agente transformador do meio ambiente, contribuindo para a preservação da floresta amazônica. Dessa forma, o leitor teve a possibilidade de aderir ou não às ideologias propostas pelo autor, refletindo sobre sua contribuição no exercício da cidadania como agente transformador do meio ambiente. 

2.3 As funções da linguagem no conto e a identificação dos agentes transformadores

A função referencial, conforme abordada por Jakobson, concentra-se no contexto em que a mensagem é proferida e tem como principal objetivo transmitir informações de forma objetiva e denotativa. No conto “Cauré”, essa função é claramente identificável em trechos que buscam informar sobre a situação e os ideais presentes no enredo, como nas passagens a seguir:

“A insensibilidade e a ganância de alguns homens estão tornando insuportável a vida no planeta, disse Duendo, responsável pela união na comunidade dos gnomos.” 

“Sozinho nada se pode fazer, mas com o auxílio de Cauré seremos vitoriosos. Sabemos que ele tem o mesmo ideal de preservação do meio ambiente […]” (ALBUQUERQUE, 2016).

Esses trechos funcionam como um meio de transmitir, de maneira objetiva, a situação que está sendo retratada na narrativa, estabelecendo uma conexão direta entre os acontecimentos da história e a realidade em que o leitor está inserido, principalmente no que tange à preservação ambiental. 

Exatamente, ao analisar os exemplos extraídos do conto, é possível identificar claramente a predominância da função referencial, que tem como objetivo principal informar sobre o mundo concreto ou o contexto em que a mensagem é proferida. O uso da denotação é evidente, já que as informações são transmitidas de forma direta e objetiva. Além disso, o fato de os verbos estarem na terceira pessoa reforça a natureza impessoal e objetiva da mensagem, característica típica dessa função da linguagem. Conforme Telles, Ferreira e Matos (2010), essa é uma marca importante da função referencial, pois ela foca na informação sem envolver a subjetividade do emissor. 

No discurso da personagem Duendo, observa-se o referente quando ele aponta os homens como os principais responsáveis pelos problemas que o planeta está enfrentando, levando em consideração o contexto ao qual sua afirmação se refere, de maneira clara e sem recorrer a figuras de linguagem para seu receptor. O segundo exemplo também pode ser analisado de forma a identificar o referente em Cauré, o qual surge como uma possível solução para os problemas ambientais que as personagens precisam resolver.

A função conativa está orientada para o destinatário. Conforme afirma Chalhub (2002), o termo tem origem no latim conatum, que significa o ato de tentar persuadir. A função conativa também pode ser chamada de função apelativa. Uma das marcas gramaticais dessa função é o uso do imperativo e vocativo, como pode ser observado nos trechos retirados do conto:

 “Desça dessa imburana-de-cheiro e venha juntar-se a nós. Essa luta é para defender a floresta, portanto, é sua também.” “[…] Então, sugiro que nos organizemos como um exército para enfrentá-los, afastando-os da floresta e fazendo com que entendam a importância da preservação ambiental.” (ALBUQUERQUE, 2016).

No primeiro exemplo, é notável a preponderância do imperativo pronunciado por Cauré ao ordenar que seu cachorro Trovão desça da árvore e junte-se a ele na luta pela proteção da floresta amazônica. Assim, no trecho em análise, há uma predominância da função conativa. O mesmo é perceptível no segundo exemplo, pois o índio Cauré tenta persuadir seus ouvintes, propondo a organização de um exército para combater os inimigos da natureza. Portanto, há traços de argumentação para convencer os que estão o escutando, evidenciando a função conativa na mensagem enunciada por Cauré. 

A função metalinguística, conforme exemplificado por Martellota (2010), é marcada pela linguagem utilizada para se referir à própria linguagem. Com foco no código, essa função destaca a capacidade do ser humano de utilizar as palavras para explicar o significado de uma palavra. Os dicionários são frequentemente citados como uma forma de encontrar a função metalinguística. No conto Cauré, há diálogos que se assemelham ao exemplo do dicionário, permeados pela função de explicar uma determinada palavra, como no caso dos seguintes trechos:

 “[…] Ela produz um bálsamo com excelentes propriedades terapêuticas. Exerce uma função anti-inflamatória e anticancerígena. Seu uso na medicina é conhecido em muitos lugares da Terra […]”. “[…] – É a síntese de substâncias orgânicas mediante a fixação do gás carbônico do ar e a ação da radiação solar. A clorofila tem participação fundamental nesse processo.” (ALBUQUERQUE, 2016).

Na função emotiva, conforme Diniz e Borin (2010), um dos principais aspectos é a centralização no emissor, com o conteúdo expresso voltado para sentimentos e emoções. A predominância da 1ª pessoa do singular, o uso de exclamações e interjeições são características que marcam essa função. Por exemplo, em trechos como:

“Se você pensava que eu era uma raposa, errou. Eu sou a mãe da mata e vou transformá-lo num pequeno tracajá, daqueles que na praia você costuma maltratar.” e “E eu não quero sair da floresta, não pretendo ser um sábio e, certamente, não existe um lugar melhor para se viver do que nas matas, com essa exuberante beleza e grande fartura de marrecos”, conforme registrado por Albuquerque (2016).

Nos trechos de diálogos extraídos do conto, observa-se o predomínio da função emotiva, caracterizada pela presença da subjetividade do locutor, evidenciada pelo uso da primeira pessoa do singular e pela expressão de emoções. No primeiro trecho, a personagem, ao se identificar como a “mãe da mata”, manifesta uma punição que deseja aplicar a Trovão por maltratar os pequenos tracajás. Já no segundo, a subjetividade de Trovão é clara quando ele afirma sua intenção de não se tornar um sábio, evidenciando seu desejo de permanecer na floresta, local que lhe proporciona satisfação. 

A função poética, segundo Diniz e Borin (2010), está centralizada na mensagem. Nela, o emissor utiliza a musicalidade, figuras de linguagem, conotações, entre outras formas de manifestar sua mensagem por meio de recursos figurados. Um exemplo disso pode ser encontrado no verso do poema retirado do conto:

“[…] A brisa que sopra na folhagem / Conta mil segredos para a flor! / A natureza que acolhe e encanta / Diz serem tais, cantos de amor! […]” (ALBUQUERQUE, 2016).

Ao analisar o verso, constata-se a utilização de metáforas pelo emissor, com o intuito de permitir que o receptor capte as mensagens por meio das figuras de linguagem. O verso também apresenta rima, uma vez que a musicalidade é uma característica da função poética. 

A função fática, de acordo com Martellota (2000), refere-se ao início, término ou prolongamento do ato de comunicação, estando, portanto, centrada no canal, uma vez que não prioriza necessariamente o conteúdo da comunicação. Ela reflete a preocupação em testar o canal ou em manter o contato. Exemplos disso podem ser observados nos seguintes trechos:

“-Entendeu?

/ -Não, você fala coisas que eu não entendo. Brincou o travesso cachorrinho.” (ALBUQUERQUE, 2016). 

No trecho citado, Cauré faz uma pergunta retórica ao seu cachorrinho Trovão, pois sabe que sua explicação estava clara. Ao empregar a função fática, nota-se que Cauré está testando o canal, questionando algo do qual já sabe a resposta, mesmo diante da resposta irônica de Trovão à pergunta feita por seu amigo. 

2.4 Sequência didática

A aplicação deste trabalho foi realizada ao longo de um bimestre, durante o período de estágio da pesquisadora no curso de licenciatura em Língua Portuguesa. O objetivo foi contribuir para que os estudantes se percebessem como agentes transformadores do meio ambiente por meio da leitura do conto amazônico Cauré. Para tanto, foram analisadas as atividades entregues em sala de aula, além da observação das aulas e do registro de anotações no diário de campo. 

As aulas foram disponibilizadas ao longo de um bimestre pela professora regente da turma, possibilitando que a pesquisadora em iniciação pudesse alternar entre momentos de observação e prática docente. Essa dinâmica permitiu não apenas a análise do ambiente de sala de aula e das interações entre os estudantes, mas também a aplicação direta das atividades planejadas, favorecendo a compreensão do impacto do ensino sobre a formação do sujeito leitor e seu engajamento com a temática ambiental. 

Na primeira aula, foi realizada uma explicação sobre o gênero textual conto, abordando suas principais características, as formas de distingui-lo de outros gêneros e as estratégias para a leitura desse tipo de narrativa. O conto Cauré foi apresentado como material de análise, permitindo que os estudantes se familiarizassem com as características estruturais e temáticas do gênero. Os recursos utilizados para essa explicação incluíram trechos da obra literária, quadro branco e pincel. 

A partir da segunda aula, os estudantes revisaram as funções da linguagem, tema previamente abordado no último ano do ensino fundamental. Foram retomados os conceitos de cada função, suas características predominantes e os procedimentos para identificá-las ao analisar os diálogos entre as personagens do conto Cauré. Além disso, foi discutido o papel dessas funções na construção da narrativa.

Na terceira aula, os estudantes tiveram a oportunidade de identificar as mensagens do autor presentes nos diálogos das personagens. Para isso, utilizaram os conhecimentos adquiridos na aula anterior sobre as funções da linguagem. Foram distribuídas cópias com trechos selecionados da obra, e, após a leitura desses diálogos, os alunos analisaram qual função da linguagem predominava em cada trecho. Dessa forma, puderam compreender a intenção do autor ao enfatizar determinadas mensagens por meio do uso específico das funções da linguagem. 

Na quarta aula, os estudantes observaram que a identificação das funções da linguagem possibilitava a interpretação das mensagens do conto, permitindo que refletissem sobre seu papel como agentes transformadores do meio ambiente no qual estavam inseridos. Eles tiveram a oportunidade de concordar ou discordar das ideologias de conservação ambiental apresentadas nos diálogos das personagens ao longo da narrativa. Após essa reflexão, foi realizado um debate, no qual os estudantes expuseram suas principais observações sobre o conto e discutiram de que maneira a leitura contribuiu para a construção de uma consciência ambiental crítica e para a percepção de seu papel na transformação da realidade. 

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 

A presente pesquisa adotou uma abordagem qualitativa, conforme definida por Severino (2007), que a caracteriza como um conjunto de investigações que enfatizam os fundamentos epistemológicos. Nesse sentido, o estudo teve como objetivo analisar a relação dos estudantes do ensino médio com o gênero conto. 

A técnica de coleta de documentos foi baseada na observação sistemática, que, segundo Pradanov e Freitas (2013), frequentemente assume a forma de levantamento. Foram analisadas atividades realizadas pelos alunos em sala de aula, bem como registros no diário de campo da pesquisadora, permitindo a descrição e a interpretação dos resultados obtidos. 

O objetivo da pesquisa foi caracterizado como descritivo, conforme Severino (2007), que define essa abordagem como aquela que, além de analisar e registrar os fenômenos estudados, possibilita a interpretação dentro da pesquisa qualitativa. Assim, o intuito foi descrever o procedimento adotado pelos estudantes ao entrarem em contato com o gênero conto. 

A partir das observações realizadas, foram feitas análises sobre a capacidade dos alunos de se perceberem como agentes transformadores do meio ambiente. Para tanto, foram analisados documentos produzidos pelos estudantes, como atividades de leitura e registros no diário de campo da pesquisadora. A leitura foi acompanhada de técnicas específicas, que permitiram ao estudante desenvolver um senso crítico ao receber e interpretar as mensagens presentes no conto, favorecendo sua reflexão sobre o papel ativo que desempenha no meio ambiente. 

Os procedimentos adotados na pesquisa envolveram os estudos bibliográficos e de campo, conforme Pradanov e Freitas (2013), que destacam a importância de um referencial teórico sólido, com atenção à veracidade das informações coletadas. Para o estudo bibliográfico, a pesquisa foi fundamentada na leitura de livros e artigos de autores que já haviam abordado o tema em questão, como aqueles que discutem o gênero conto e a relação do sujeito leitor com este. Autores renomados, tanto no âmbito nacional quanto internacional, foram essenciais para a construção da base teórica da pesquisa. 

No que se refere à pesquisa de campo, conforme Pradanov e Freitas (2013), busca-se obter informações específicas sobre o problema em análise por meio da observação de fatos e fenômenos. Nesse contexto, a pesquisa de campo foi fundamental para aplicar os conhecimentos adquiridos na pesquisa bibliográfica, sendo a coleta de documentos produzidos pelos estudantes e as observações realizadas ao longo do estudo essenciais para a análise do comportamento dos alunos em relação ao gênero conto. 

A pesquisa foi realizada em uma escola pública estadual situada na região central de Manaus. A instituição conta com um espaço adequado para atender exclusivamente aos estudantes do ensino médio, dispondo de aproximadamente treze salas destinadas aos alunos, enquanto as demais áreas são destinadas aos setores administrativos do Estado, como a secretaria e a diretoria. A escola possui uma biblioteca, porém, o acesso a ela não é aberto aos alunos, pois a maior parte do tempo ela permanece trancada, sendo acessível apenas aos funcionários. Além disso, a escola dispõe de uma lanchonete e uma quadra esportiva, a qual é compartilhada entre os estudantes do ensino médio da escola e os alunos do ensino fundamental de uma outra instituição estadual localizada ao lado. 

A sequência didática foi aplicada ao longo de um bimestre, em colaboração com as aulas de literatura. O projeto foi desenvolvido com a turma do segundo ano do ensino médio, composta por aproximadamente quarenta alunos. A proposta teve como objetivo apresentar o gênero conto e suas contribuições para a formação do sujeito leitor, permitindo que, ao longo das aulas ministradas durante o estágio, os estudantes realizassem uma leitura criteriosa do texto em análise. Durante o processo, buscou-se contextualizar o conteúdo do conto com os conhecimentos prévios dos alunos, favorecendo uma compreensão mais profunda da obra literária. 

 No primeiro dia de aplicação, utilizou-se o quadro branco e pincel para destacar as principais características do gênero em estudo. Contudo, a turma não estava completa, devido a um dia chuvoso. Ao final da explicação sobre o gênero conto, apresentou-se aos estudantes a obra que seria estudada ao longo das aulas, acompanhada de um breve relato sobre o enredo. Os alunos demonstraram interesse em conhecer mais sobre a história. Após essa explicação, foi realizado um questionamento sobre se eles já haviam tido a oportunidade de ler algum livro que abordasse o gênero conto, além de investigar suas expectativas em relação aos estudos sobre o conto amazônico. 

No segundo dia de aplicação, a maioria dos alunos estavam presentes, sendo necessário, portanto, realizar uma breve explicação sobre a aula anterior, para que os estudantes que não haviam participado pudessem se integrar ao conteúdo. Após essa explicação, iniciaram-se os estudos sobre as funções da linguagem e suas características. Foi entregue aos alunos cópias de trechos do conto, para que pudessem ler em casa, visto que, devido ao tempo limitado, a aula durou apenas 30 minutos. 

No terceiro dia de aplicação, os estudantes tiveram a oportunidade de relatar sobre o conteúdo que leram e compartilhar suas impressões sobre o que o autor tentava transmitir. Uma parte significativa da turma conseguiu identificar as ideologias de conservação do meio ambiente ao reconhecer a função da linguagem predominante nos diálogos das personagens. A maioria dos alunos demonstrou interesse pelo tema, especialmente porque nas disciplinas de Ciências Biológicas e Exatas estavam realizando trabalhos científicos relacionados ao exercício da cidadania e à conservação do meio ambiente. 

No quarto dia de aplicação, os estudantes escreveram em seus cadernos sobre os momentos no enredo em que puderam se perceber como responsáveis pelos problemas ambientais, com foco na floresta amazônica. Antes do término da aula, foi aberto um momento de discussão, no qual os alunos puderam compartilhar suas sugestões sobre como contribuir para evitar o agravamento dos problemas ambientais. Muitos estudantes se mostraram interessados e expressaram suas percepções, compartilhando-as com a turma. Também foi abordado o tema da feira científica que os alunos estavam preparando, pois os trabalhos estavam contextualizados com o conto Cauré, tratando da conscientização sobre a importância de cuidar do meio ambiente. 

4. ANÁLISE DOS RESULTADOS

Com a aplicação da pesquisa, foi possível contextualizar o tema abordado, considerando a realidade dos estudantes amazonenses que frequentam a escola pública na cidade de Manaus. Ao longo das aulas, muitos alunos conseguiram perceber que os problemas ambientais discutidos no conto não se limitavam ao universo fantástico da narrativa, mas refletiam questões concretas presentes em seus próprios contextos sociais. Alguns estudantes relataram viver próximos a igarapés poluídos ou em áreas com grande quantidade de lixo espalhado pelas ruas, o que facilitou a conexão entre a leitura do conto e a realidade vivida por eles. Esse vínculo tornou a atividade de leitura mais interativa e significativa, pois permitiu que os alunos relacionassem o conteúdo literário com seus conhecimentos e experiências do cotidiano. 

Essa situação possibilitou a abordagem do tema de forma sociointerativa, o que despertou maior interesse nos estudantes em estudar o assunto. Segundo Dionisio, Machado e Bezerra (2015), a interação entre os alunos favorece o processo de aprendizagem, pois permite que o conteúdo seja assimilado de maneira mais contextualizada e conectada à realidade dos estudantes. Dessa forma, a abordagem sociointerativa proporcionou debates enriquecedores sobre o conto, promovendo uma aprendizagem mais envolvente e contextualizada. 

Logo, é relevante destacar que o interesse dos alunos em discutir temas ambientais estava alinhado ao proposto por Vasconcellos (2000), segundo o qual o conteúdo abordado deve estar relacionado à realidade do educando. Os discentes demonstraram interesse em estudar um tema que é tão presente na realidade social de muitas pessoas, especialmente dos estudantes de escolas públicas que residem em áreas negligenciadas pelo poder público, como foi mencionado por alguns alunos que relataram morar em zonas com altos índices de poluição. 

Portanto, ao longo dos debates sobre o conto, foram problematizadas as possíveis mensagens que a obra propôs como reflexão. De acordo com Vasconcellos (2000), a provocação para a aprendizagem está intimamente ligada à existência e ao significado que o conteúdo possui em relação à realidade do aprendiz. Observou-se, então, um interesse crescente pelo tema, especialmente considerando que, poucas semanas depois, os estudantes participaram de eventos avaliativos que abordaram questões ambientais, um tema semelhante ao tratado no conto Cauré. Dessa forma, o estudo não contribuiu apenas para o aprofundamento dos conhecimentos em língua portuguesa, mas também para outras disciplinas. 

Durante as conversas em grupos, pôde-se perceber a interação dos estudantes ao exporem seus entendimentos sobre o texto, contextualizando-o com problemas atuais e com os temas abordados em outras disciplinas, que discutem questões ambientais. Os estudantes demonstraram perceber-se como responsáveis por incentivar outras pessoas a conservarem o meio ambiente. Essa percepção é explicada por Telles, Ferreira e Matos (2010) como uma atitude de um leitor competente, que, ao perceber sua importância e papel social por meio da leitura, questiona, concorda ou discorda das propostas apresentadas no texto. 

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A pesquisa demonstrou sua contribuição para o problema em estudo, que envolvia a formação de um sujeito leitor capaz de se perceber como um agente transformador do meio ambiente, a partir da leitura crítica do conto amazônico Cauré. Os estudantes realizaram uma leitura crítica, identificando as principais mensagens do texto por meio da análise das funções da linguagem. Esse processo contribuiu para que o sujeito leitor se reconhecesse como protagonista no ambiente do qual faz parte, possibilitando-lhe perceber-se como um ser atuante na sociedade por meio dos estudos de língua portuguesa. 

Para alcançar os objetivos propostos, foi necessária a leitura de teorias que abordam questões educacionais, sociais, psicológicas, literárias, linguísticas e de métodos de pesquisa científica. Após o embasamento teórico, a pesquisa foi aplicada em campo, para que a prática fosse bem-sucedida. A presença do orientador no local de estágio foi fundamental para o êxito da aplicação, e os estudantes também desempenharam um papel importante, contribuindo para o sucesso da execução do projeto em sala de aula. 

Durante a aplicação do projeto, os alunos demonstraram interesse em estudar o tema abordado e em aprender mais sobre o assunto, o que favoreceu resultados positivos para a pesquisa. No entanto, houve alguns contratempos, como os dias de chuva, nos quais poucos alunos compareciam à escola, devido aos feriados ou à necessidade de conciliar a aplicação do projeto com as aulas regulares. Mesmo assim, a contribuição dos estudantes e dos docentes da Escola Estadual Alice Salerno Gomes de Lima foi essencial para o êxito da pesquisa. 

Os resultados obtidos na pesquisa alinharam-se com as expectativas formuladas na pesquisa bibliográfica, que abordou as contribuições da prática de uma leitura crítica, correlacionada com a realidade vivida pelos estudantes. Esse processo favoreceu uma leitura dinâmica e despertou o interesse dos alunos em conhecer mais sobre o gênero conto, bem como em identificar as mensagens por meio da análise das funções da linguagem. Com base nos resultados, foi constatada a importância da leitura e da identificação das funções da linguagem como formas de captar as mensagens contidas em um texto. 

Sendo assim, a realização da pesquisa mostrou-se de fundamental importância para contribuir na formação de leitores críticos, que passam a se perceber como protagonistas na sociedade, a partir de uma leitura contextualizada ao seu conhecimento de mundo, e não apenas como receptores passivos do que os cerca. Os leitores puderam perceber que, com base na leitura do conto Cauré e na identificação das funções da linguagem, o texto incentiva a conservação do meio ambiente e destaca o papel do cidadão de Manaus, ao colocar como pauta a reflexão sobre os deveres que ele pode cumprir enquanto agente transformador. 

A pesquisa em livros e revistas virtuais foi crucial para a realização do trabalho, pois ao consultar artigos e teóricos que discutem a formação de leitores e o aprimoramento das competências necessárias no ato de ler — como a leitura crítica — foi possível responder ao problema da pesquisa e planejar de forma mais eficaz a aplicação do projeto, considerando as melhores abordagens para os estudantes. 

Portanto, o presente artigo contribuiu para a identificação de estratégias que podem ser utilizadas para alcançar algumas das competências exigidas pelos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais) na disciplina de língua portuguesa. Essas competências visam formar leitores capazes de ler e compreender o texto proposto, e não apenas realizar uma leitura mecanizada, desprovida de entendimento. 

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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