OS IMPACTOS DA MANOBRA DE KRISTELLER NA SAÚDE DA MULHER

THE IMPACTS OF THE KRISTELLER MANEUVER ON WOMEN’S HEALTH

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504212254


Yasmin Alves da Luz Souza1
Dariane Lima Reetz2
Ilarino José Ribeiro Filho3
Larissa Zaché Pedroni4
Yasmin dos Santos Sala5
Natan Felipe da Rocha Máximo6
Leticia Reetz Schneider Marques7
Maria Eduarda Martins Mendonça8
Emanuella Freisleben de Araújo9
Josemar Ferreira Junior10


Resumo

O parto, antes um evento natural e familiar, passou por um processo de medicalização e institucionalização, o que contribuiu para avanços na segurança materno-infantil, mas também resultou em práticas desumanizadas e episódios de violência obstétrica. A manobra de Kristeller, apesar de contraindicada por diretrizes nacionais e internacionais, ainda é utilizada em alguns contextos e pode causar sérios danos físicos e emocionais à mulher. Este estudo tem como objetivo identificar os principais impactos da manobra de Kristeller na saúde da mulher. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, com buscas realizadas nas bases SciELO, BVS e CAPES, utilizando descritores controlados combinados com operadores booleanos. Foram incluídos artigos em português e inglês, publicados nos últimos dez anos. Os resultados evidenciam que a manobra está associada a riscos relevantes, como lacerações perineais, lesões no assoalho pélvico, incontinência urinária e fecal, dor crônica, traumas psicológicos e violação da autonomia da parturiente. Dessa forma, a manobra de Kristeller configura-se como uma prática obsoleta e desaconselhada, com potenciais impactos negativos sobre a saúde física e emocional da mulher. A eliminação definitiva desse procedimento dos protocolos de assistência ao parto é essencial para promover um cuidado baseado em evidências, seguro, respeitoso e centrado na mulher.

Palavras-chave: Saúde da mulher. Obstetrícia. Violência Obstétrica.

1  INTRODUÇÃO

O parto, considerado historicamente como um evento natural e íntimo, realizado no seio familiar com o apoio de parteiras, passou por um processo gradual de medicalização ao longo dos séculos (ZENARDO et al., 2009). Foi a partir do final do século XIX em que houve uma transição em que transformou o parto de um rito feminino e familiar em um procedimento predominantemente médico e hospitalar. A incorporação de avanços tecnológicos, como a utilização de aparelhos e medicamentos, trouxe benefícios para a segurança materno-infantil e reduziu o risco de complicações (TESSER et al., 2014). Contudo, esse movimento de medicalização também gerou efeitos adversos, entre os quais se destacam a desumanização da assistência e a crescente incidência de violência obstétrica (DE MEDEIROS MOURA et al., 2018). 

“Retirada do seu papel de protagonista, a mulher se torna frágil, se submetendo cada vez mais a uma tecnologia que a infantiliza, fragiliza, descaracteriza e a violenta. O momento do parto e nascimento passa a ser encarado pelas mulheres como momento de medo e ameaça à integridade da vida, sendo muitas vezes indesejado por elas.” (PASCHE; VILELA; MARTINS, 2010).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (1996), a violência é definida como qualquer atitude desrespeitosa, desumanizada que possam provocar danos físicos e psicológicos ao paciente. Nesse contexto, destaca-se a violência obstétrica como um tipo específico de violência contra a mulher (ZENARDO et al., 2009). 

No Brasil, uma pesquisa nacional evidenciou que ¼ das mulheres relatam ter vivenciado maus-tratos, seja físico ou psicológico durante a assistência ao parto, além de um número excessivo de intervenções desnecessárias.

Dentro desse cenário, a manobra de Kristeller surge como um exemplo de intervenção frequentemente associada à violência obstétrica. Descrita por Samuel Kristeller em 1867, a técnica consiste na aplicação de pressão uterina externa para auxiliar o parto, especialmente quando a contratilidade uterina é considerada insuficiente (BARREIROS, 2021). A manobra envolve pressionar o útero da mulher com as mãos ou o antebraço durante a segunda fase do trabalho de parto, com a intenção de fortalecer as contrações uterinas e facilitar a expulsão do feto (MONTEIRO et al., 2020).

Segundo Waszynski (2008), a manobra tem como objetivo fortalecer as contrações uterinas durante o trabalho de parto, aplicando pressão repetitiva sobre o útero. A pressão é direcionada para o fundo uterino e o canal de parto, sendo mantida por 5 a 8 segundos, com intervalos de 0,5 a 3 minutos. O procedimento é repetido de 10 a 40 vezes, com intervalos maiores após 10 a 15 repetições. Na fase final, a pressão é concentrada no corpo do útero.

Paralelamente, O Ministério da Saúde lança em 2017 lança as diretrizes nacionais de assistência ao parto normal, enfatizando a contraindicação da realização da manobra de Kristeller, a fim de garantir a segurança e o bem-estar da mãe e do bebê (BRASIL, 2017). Nesse sentido, esse procedimento é considerado uma prática que viola os direitos da mulher e do feto, comprometendo a autonomia, provocando dor intensa, desconforto e um aumento na ansiedade durante o parto. Além disso, pode afetar negativamente a vivência do parto e a saúde emocional da mulher. Ademais, a prevalência dessa prática ainda não está completamente esclarecida (MALVASI et al., 2019; FARRINGTON et al., 2021), assim como as possíveis consequências para o pavimento pélvico feminino, o que reforça a necessidade de mais pesquisas sobre o tema.

Nessa perspectiva, o objetivo desse estudo é identificar os principais impactos da Manobra de Kristeller na saúde da mulher. 

2  METODOLOGIA 

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, de natureza qualitativa, caracterizando-se por uma abordagem metodológica que integra dados, fatos e informações relevantes, priorizando a qualidade das evidências coletadas, em vez da simples coleta de dados numéricos. De acordo com Lakatos e Marconi (2021, p. 220), a pesquisa qualitativa não requer a aplicação de métodos ou técnicas estatísticas, uma vez que a obtenção dos dados ocorre no ambiente natural, sendo o pesquisador o principal instrumento de coleta. Contudo, seu objetivo principal é esclarecer a questão norteadora: Quais são as principais consequências da manobra de Kristeller para a saúde da mulher?

Nesse contexto, os resultados obtidos podem evidenciar áreas que demandam maior aprofundamento no âmbito científico, com vistas a promover avanços significativos na prática profissional (GANONG, 1987). A busca bibliográfica foi realizada entre os meses de janeiro e março de 2025, utilizando as bases de dados: Scientific Electronic Library (SciELO), Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Periódico CAPES. O cruzamento dos descritores “Trabalho de parto”, “Violência obstétrica”, “Impactos” e “Puerpério” foi realizado utilizando os operadores AND e OR. Os critérios de inclusão foram: artigos em português e inglês, disponíveis na íntegra e de acesso gratuito, publicados nos últimos 10 anos. Para a exclusão, consideraram-se artigos duplicados, opiniões de especialistas, teses, dissertações e publicações que não respondiam ao objetivo da pesquisa.

Seguindo as etapas metodológicas estabelecidas, a amostra final consistiu em 9 artigos, que foram incorporados à revisão integrativa, conforme o ajuste das fases metodológicas. A seleção dos estudos foi realizada com base no fluxograma adaptado dos Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), conforme ilustrado na Figura 1.

Figura 1: Fluxograma de artigos evidenciados nas bases de dados.

Fonte: Elaborado pelos autores (2025).

3  RESULTADOS 

Nesta revisão, foram avaliadas as nove publicações que convergiam com os critérios desta pesquisa. Os dados obtidos a partir da análise dos estudos selecionados são apresentados no Quadro 1, no qual será descrito: autor e ano, título, objetivo, resultados e discussões.

Quadro 1: Distribuição das referências de acordo com autor e ano, título, objetivos e resultados/discussões

Autor/AnoTítuloObjetivoResultado/Discussão
TERTO TL, et al., 2021.Associação entre internação precoce de gestantes e uso de intervenções obstétricas e cesarianas: estudo transversal.Avaliar a associação entre a internação precoce de gestantes e o uso de intervenções obstétricas e via de nascimento cesariana.O estudo demonstra que a manobra de Kristeller foi evidenciada com o dobro de chance de ocorrência em mulheres admitidas na fase latente do trabalho de parto. Além disso, é considerada uma das possibilidades de violência obstétrica que a parturiente pode sofrer. Essa manobra contribui para violar os direitos da mulher.
GOSCH SC, PEREIRA IB, MUNDOCO LS, 2020.Análise da percepção de puérperas sobre a assistência ao parto em uma maternidade do Tocantins.Identificar os procedimentos realizados com parturientes durante o parto em uma maternidade do Tocantins e caracterizar o perfil dessas pacientes.A manobra de Kristeller não reduz o tempo de trabalho de parto nem oferece benefícios para mãe e feto. Ela aumenta o risco de episiotomia, lacerações perineais e dor no pós-parto, além de afetar a função do assoalho pélvico.
MAMEDE L, et al., 2024.Prevalência e fatores associados à percepção da laceração perineal: estudo transversal com dados do Inquérito Nascer no Brasil, 2011 e 2012.Descrever a prevalência da laceração perineal segundo a percepção autorrelatada da puérpera, e analisar os fatores associados à sua ocorrência no Brasil.A manobra de Kristeller está associada a um aumento nas lacerações perineais, com estudos mostrando que 32,8% dos partos com a intervenção resultaram nesse desfecho no Peru. Além disso, ela exerce pressão intensa no assoalho pélvico, o que pode favorecer o uso de parto instrumental e aumentar o risco de lacerações perineais.
YOUSSEF A, et al., 2019.A pressão no fundo uterino durante o segundo estágio do trabalho de parto (manobra  de Kristeller) está associada a um aumento no risco de avulsão do músculo levantador do ânus.Investigar a associação entre a aplicação de pressão fúndica durante a segunda fase do trabalho de parto (manobra de Kristeller) e o risco de lesão do músculo levantador do ânus (LAM).O estudo demonstra que a aplicação de pressão fúndica na segunda fase do trabalho de parto dobra o risco de avulsão do músculo levantador do ânus em mulheres no primeiro parto vaginal. Esse efeito ocorre independentemente de outros fatores como idade materna, IMC, peso do bebê, uso de episiotomia, duração da segunda fase do parto e uso de analgesia epidural.
BECERRACHAUCA N, FAILOCROJAS V E, 2019.Manobra de Kristeller, consequências físicas e éticas segundo seus protagonistas. Determinar a prevalência, as características da aplicação da manobra de Kristeller e as consequências físicas e éticas em mulheres puérperas de um hospital de alta complexidade em Lima, Peru.A manobra de Kristeller está associada a lesões físicas nas mulheres, como desgarros vaginais e danos no músculo elevador do ânus, além de complicações como hematomas e fraturas. Do ponto de vista bioético, há falhas, como a falta de informação completa e consentimento da paciente, e a priorização da saúde do feto em detrimento da saúde materna. Apesar da alta frequência de sua realização, a manobra não tem evidências suficientes de benefícios e pode causar sérias consequências para mãe e bebê, sendo feita sem respaldo nos protocolos nacionais.
ACMAZ G, et al., 2015.O efeito da manobra de Kristeller nos desfechos maternos e neonatais.Avaliar a eficácia da pressão fúndica em encurtar a segunda fase do trabalho de parto e examinar os desfechos neonatais e maternos relacionados.Aumento do risco de lacerações: O estudo aponta que a manobra de Kristeller pode elevar o risco de lacerações perineais e cervicais. Observou-se que o alongamento da episiotomia e a taxa de laceração cervical foram significativamente mais elevados no grupo que recebeu a intervenção com a manobra. 
PIRES AS, FERREIRA M, 2024.  O impacto  no pavimento pélvico da aplicação da manobra de Kristeller no período expulsivo.Identificar as complicações maternas associadas ao uso da Manobra de Kristeller no segundo período do trabalho de parto.A manobra de Kristeller está associada a vários impactos negativos para a saúde da mulher, como aumento das taxas de episiotomia, risco de lacerações perineais, dor perineal e dispareunia no pós-parto. Também pode causar problemas urinários, como perda de urina e urgência miccional, além de dobrar o risco de avulsão do músculo elevador do ânus em primíparas, levando à incontinência urinária. Além dos danos físicos, a manobra pode causar trauma psicológico e emocional, sendo considerada violência obstétrica quando realizada sem consentimento.
MONTEIRO CS, et al., 2020.Violência obstétrica: manobra de KristellerEvidenciar a prevalência da violência obstétrica, através da manobra de kristeller.A manobra de Kristeller está associada a diversos riscos à saúde da mulher, como lacerações, lesão do músculo elevador do ânus, dor intensa, hemorragias, rupturas uterinas e danos aos vasos sanguíneos. Pode também causar traumas físicos e psicológicos, incontinência urinária e impactos negativos na experiência do parto. Além disso, não oferece benefícios à segurança da paciente e pode resultar em uma história reprodutiva marcada por traumas.
ARAÚJO AAC, et al, 2021.Manobra  de Kristeller: há benefício nesta técnica?Analisar os benefícios e os malefícios que Manobra de Kristeller apresenta na prática obstétrica para a mulher e o concepto.A manobra de Kristeller pode causar complicações como dor perineal, incontinência urinária e anal, trauma no períneo, aumento de episiotomias e partos instrumentais. Também está associada a lesões no assoalho pélvico, ruptura uterina, retenção urinária e danos nos nervos pélvicos, comprometendo funções sensitivas e motoras. Além disso, pode deixar cicatrizes e afetar a integridade dos tecidos perineal e uterino.

4  DISCUSSÕES

A análise dos estudos incluídos neste trabalho evidencia que, embora amplamente desaconselhada por diretrizes nacionais e internacionais, a manobra de Kristeller ainda é aplicada em diversos serviços obstétricos brasileiros, muitas vezes sem consentimento informado da gestante. Tal prática representa não apenas um desvio das recomendações baseadas em evidências, mas também a persistência de um modelo de assistência tecnocrático, centrado na medicalização do parto e no controle sobre o corpo feminino (LEAL et al., 2019; DIAS et al., 2020).

Idealizada para facilitar a fase expulsiva do parto, a manobra tem sido associada a uma série de consequências adversas. No plano físico, os estudos apontam lesões como lacerações perineais de graus elevados, fraturas neonatais, hemorragias, hematomas, ruptura uterina e, em casos mais severos, complicações que exigem intervenções cirúrgicas (MALVASI et al., 2019; FARRINGTON et al., 2021; MONTEIRO et al., 2020). Em primíparas, as lesões no assoalho pélvico podem ser mais frequentes, incluindo avulsão do músculo levantador do ânus, o que contribui para quadros de incontinência urinária e anal (YOUSSEF et al., 2019).

“As lacerações perineais são classificadas em graus I, II, III e IV. Embora os graus III e IV sejam menos prevalentes, eles podem comprometer de forma mais significativa as estruturas teciduais, afetando o funcionamento e a integridade do assoalho pélvico. Essas lacerações podem desencadear uma série de complicações, como disfunções sexuais (como dor crônica e dispareunia), ginecológicas (desconfortos durante o exame ginecológico), urinárias (incontinência urinária), coloproctológicas e até o prolapso de órgãos pélvicos. Tais condições frequentemente exigem uma abordagem terapêutica multiprofissional para o tratamento adequado.” (MAMEDE et al., 2024, p. 2).

No âmbito psicológico, os relatos das mulheres evidenciam sentimentos de medo, impotência, desrespeito e dor intensa, com destaque para os impactos emocionais pós-parto. A ausência de explicações e de consentimento para o procedimento caracteriza um episódio de violência obstétrica, potencializando a ocorrência de estresse pós-traumático, depressão puerperal e dificuldade na vinculação com o recém-nascido (PIRES; FERREIRA, 2024; ARAÚJO et al., 2021; VÁZQUEZ-VICENTE et al., 2022). Esses efeitos são particularmente relevantes quando se considera que o parto, além de evento fisiológico, é uma experiência subjetiva e afetiva, capaz de repercutir na construção da maternidade e na saúde mental da mulher.

Sob a perspectiva ética, a execução da manobra de Kristeller sem o consentimento explícito da gestante constitui violação do princípio da autonomia e da dignidade da pessoa humana. A priorização da integridade fetal em detrimento da saúde materna, quando desconectada de diálogo e clareza técnica, perpetua um modelo de cuidado autoritário, incompatível com os princípios da assistência obstétrica humanizada preconizados pelo Ministério da Saúde e pela OMS (BRASIL, 2021; WHO, 2018).

A continuidade dessa prática é multifatorial. A literatura revisada aponta falhas na formação profissional, lacunas na adesão a protocolos atualizados, omissão nos registros clínicos e ausência de mecanismos institucionais de responsabilização como aspectos centrais que dificultam sua erradicação. Além disso, a subnotificação da manobra nos prontuários e sistemas de informação fragiliza o reconhecimento estatístico da prática e compromete o dimensionamento real do problema (WHO, 2018; BRASIL, 2021).

Em contraste, países como Holanda, Suécia e Reino Unido vêm consolidando modelos de parto centrados na mulher, com foco em boas práticas e menor índice de intervenções desnecessárias. Essas experiências reforçam que é possível promover nascimentos seguros e respeitosos, mantendo baixos índices de morbimortalidade materna sem recorrer a práticas agressivas como a manobra de Kristeller (TOLLEFSEN et al., 2023).

Este estudo apresenta limitações, como a restrição temporal e linguística na seleção dos artigos, com inclusão apenas de publicações em português e inglês nos últimos dez anos. A predominância de estudos qualitativos também limita a generalização dos achados. Além disso, a escassez de dados formais sobre a frequência da manobra de Kristeller e sua subnotificação nos sistemas de registro configuram entraves para estimativas mais precisas da magnitude do problema (BRASIL, 2021; WHO, 2018; SOARES et al., 2014).

Apesar dessas limitações, os achados deste trabalho oferecem subsídios relevantes para a prática obstétrica, reiterando a necessidade da exclusão da manobra de Kristeller dos protocolos clínicos, o fortalecimento da autonomia da mulher no parto e a promoção de um cuidado centrado em evidências, ética e escuta ativa. A capacitação contínua dos profissionais de saúde e o fomento a uma cultura de respeito aos direitos reprodutivos são fundamentais para a transformação do modelo de atenção ao parto no Brasil (BRASIL, 2017; WHO, 2018; TOLLEFSEN et al., 2023).

5  CONCLUSÃO

A manobra de Kristeller, ao ser associada a uma série de consequências adversas tanto para a saúde física quanto psicológica da mulher, levanta sérias preocupações sobre sua segurança e ética. Os riscos de lesões físicas, como lacerações perineais, cervicais, desgarros vaginais e hematomas, bem como a possibilidade de danos mais graves, como a avulsão do músculo elevador do ânus, evidenciam a periculosidade desse procedimento. Além disso, o impacto psicológico, incluindo sentimentos de raiva, medo e impotência, contribui para o aumento do risco de transtornos emocionais, como ansiedade e depressão pós-parto, afetando também o vínculo materno-infantil. 

As questões éticas, particularmente no que tange à autonomia da mulher e ao consentimento informado, são igualmente preocupantes, uma vez que a manobra é frequentemente realizada sem o pleno conhecimento ou autorização da paciente. Diante desses aspectos, é essencial que a comunidade médica reconsidere a utilização dessa prática e que sejam adotadas abordagens mais seguras e respeitosas, que priorizem o bem-estar da mulher e a integridade do processo do parto. 

Os cuidados à mulher durante o trabalho de parto são desafiadores e demandam uma abordagem inovadora. Oferecer acolhimento, escutar atentamente e oferecer orientações adequadas são elementos fundamentais no cuidado às mulheres, que devem ser as principais responsáveis pela condução do seu próprio parto. Reduzir intervenções desnecessárias é essencial, garantindo uma experiência segura e uma assistência humanizada.

REFERÊNCIAS

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GOSCH, C. S., PEREIRA, I. B., MUNDOCO L. S. Análise da percepção de puérperas sobre a assistência ao parto em uma maternidade do Tocantins. Feminina, 2020.

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ZENARDO G. L. P. et al. Violência obstétrica no Brasil: uma revisão narrativa. Psicologia & Sociedade, v. 29, p. e155043, 2009.


1 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: yasminluz_sgp@hotmail.com
2 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: reetzdariane@gmail.com
3 Graduado no Curso Superior de Medicina pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: ilarino744@gmail.com
4 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: larissa.zacche@gmail.com
5 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: yasminsallas@gmail.com
6 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: nmaximo02@gmail.com
7 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: leticiareetzschneider@gmail.com
8 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: mariamaartins15@gmail.com
9 Discente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Colatina e-mail: emanuellaf.araujo@outlook.com
10 Docente do Curso Superior de Enfermagem pelo Centro Universitário do Espírito Santo – UNESC Campus Mestre em Ciências da Saúde (UFF). e-mail: jfjunior@unesc.br