A INFLUÊNCIA DA SUCÇÃO NÃO NUTRITIVA E DA RESPIRAÇÃO BUCAL NO DESENVOLVIMENTO DAS MALOCLUSÕES INFANTIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504171436


Anne Caroline Pereira Varela
Quelciane da Silva Grillo
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Fátima Tamburini


RESUMO

O presente estudo, trata-se de uma revisão integrativa de literatura, tem como objetivo geral analisar a influência da sucção não nutritiva e da respiração bucal no desenvolvimento de maloclusões em crianças, focando nos mecanismos e consequências dessas práticas no sistema estomatognático. Os objetivos específicos consistiram em: identificar as maloclusões mais comuns associadas à sucção não nutritiva e à respiração bucal em crianças; analisar a relação entre a duração e a intensidade desses hábitos e a gravidade das maloclusões; além de, avaliar os efeitos da respiração bucal no desenvolvimento das arcadas dentárias e nas funções orais, como mastigação e deglutição. A pesquisa foi realizada on-line, especificamente nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a busca dos artigos, foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde: hábitos deletérios; sucção não nutritiva; infância; maloclusões. As evidências coletadas indicaram que esses hábitos prejudiciais estão diretamente associados a alterações no desenvolvimento das arcadas dentárias, como mordida aberta, mordida cruzada e outros problemas de oclusão. Além disso, foi identificado que a duração e a intensidade desses hábitos influenciam diretamente a gravidade das maloclusões, afetando tanto a estrutura dentária quanto a função orofacial, como a mastigação e a deglutição. Constatando-se que existe correlação entre os hábitos deletérios e o desenvolvimento de problemas oclusais.

Palavras-chave: hábitos deletérios; sucção não nutritiva; infância; maloclusões.

ABSTRACT 

This article is an integrative literature review, with the main objective of analyzing the influence of non-nutritive sucking and mouth breathing on the development of malocclusions in children, focusing on the mechanisms and consequences of these practices on the stomatognathic system. The specific objectives were: first, to identify the most common malocclusions associated with non-nutritive sucking and mouth breathing in children; second, to analyze the relationship between the duration and intensity of these habits and the severity of malocclusions; and third, to evaluate the effects of mouth breathing on the development of dental arches and oral functions, such as chewing and swallowing. This is an integrative literature review. The research was conducted online, specifically in the following databases: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS), and Virtual Health Library (BVS). The following Health Science Descriptors were used to search for the articles: deleterious habits; non-nutritive sucking; childhood; malocclusions. The collected evidence indicated that these harmful habits are directly associated with alterations in the development of dental arches, such as open bite, crossbite, and other occlusal problems. Additionally, it was identified that the duration and intensity of these habits directly influence the severity of malocclusions, affecting both dental structure and orofacial function, such as chewing and swallowing. It was concluded that there is a correlation between deleterious habits and the development of occlusal problems.

Keywords: deleterious habits; non-nutritive sucking; childhood; malocclusions.

1. INTRODUÇÃO

A influência dos hábitos deletérios no desenvolvimento de maloclusões infantis tem sido uma preocupação crescente na área da odontopediatria, especialmente no que diz respeito à sucção não nutritiva e à respiração bucal. Esses hábitos, quando persistem além de um período crítico, podem interferir no crescimento e desenvolvimento da cavidade oral, afetando a formação da arcada dentária, a musculatura orofacial e a função dos sistemas de mastigação e deglutição (Fonseca et al., 2023).

A sucção não nutritiva, como a sucção de dedo e o uso prolongado de chupeta, está frequentemente associada ao desenvolvimento de maloclusões, como mordida aberta, mordida cruzada e outros desalinhamentos dentários (Alencar et al., 2021). Da mesma forma, a respiração bucal, muitas vezes decorrente de condições respiratórias, alérgicas ou estruturais, também está relacionada a alterações na posição dos dentes e na função da articulação temporomandibular (Bezerra et al., 2020).

A mordida aberta anterior, pode ser definida como uma deficiência no contato vertical entre os dentes antagonistas, ou ainda, como a presença de uma dimensão vertical negativa entre as bordas incisais dos dentes anteriores superiores e inferiores (Moyers, 1991). Enquanto a mordida cruzada posterior pode ser ocasionada por problemas localizados na posição dentária, crescimento alveolar ou ainda por uma grave discrepância entre maxila e a mandíbula, podendo envolver um ou mais dentes nos segmentos laterais, podendo ser uni ou bilateral. Este tipo de alteração oclusal pode repercutir no processo mastigatório. (Moyers,1991). E a maloclusão do tipo Classe II de Angle é definida como uma alteração anteroposterior da maxila em relação à mandíbula decorrente da desarmonia das bases ósseas e/ou dos desvios morfológicos dentários, em que os primeiros molares permanentes inferiores apresentam-se em relação distal aos primeiros molares permanentes superiores,(Angle, 1907). Esses desalinhamentos dentários não apenas afetam a estética facial, mas também comprometem principalmente a função mastigatória, a articulação temporomandibular e a deglutição, resultando em dificuldades que podem impactar o desenvolvimento infantil e a qualidade de vida das crianças. Estudos indicam que a persistência desses hábitos após os dois anos de idade aumenta consideravelmente o risco de desenvolvimento dessas maloclusões, tornando o tratamento mais complexo e, muitas vezes, exigindo intervenção ortodôntica mais complexas (Castro et al., 2021).

A relação entre a duração e a intensidade desses hábitos e a gravidade das maloclusões tem sido amplamente investigada. Colares et al., (2021) aponta que quanto mais prolongados e intensos forem os comportamentos de sucção não nutritiva e a respiração bucal, maiores são as chances de surgirem problemas oclusais mais graves. Crianças que mantêm a sucção do dedo ou chupeta por períodos prolongados, bem como aquelas que respiram predominantemente pela boca, especialmente após o período de dentição primária, apresentam uma maior predisposição a desenvolver deformidades dentárias e comprometimentos nas funções orais (Souza et al., 2024).

A respiração bucal, frequentemente associada a problemas respiratórios ou alérgicos, afeta o desenvolvimento das arcadas dentárias e prejudica a função orofacial. Ela pode alterar a posição dos dentes, causando mordida aberta anterior, e comprometer a função dos músculos orais, afetando a mastigação e deglutição (Brígido et al., 2022). Crianças que respiram pela boca têm maior propensão a desenvolver problemas estéticos e funcionais a longo prazo. O reconhecimento precoce desses hábitos e suas correlações com maloclusões é fundamental para prevenir alterações permanentes e promover a saúde bucal infantil (Campos et al., 2024).

Diante do contexto apresentado acima, o presente artigo se propôs a responder a seguinte problemática de pesquisa: Quais são os impactos da sucção não nutritiva e da respiração bucal no desenvolvimento de maloclusões infantis, e como esses hábitos afetam a oclusão e a função estomatognática?

Perante à indagação proposta, o objetivo geral deste estudo é analisar a influência da sucção não nutritiva e da respiração bucal no desenvolvimento de maloclusões em crianças, focando nos mecanismos e consequências dessas práticas no sistema estomatognático. Os objetivos específicos consistem em: identificar as maloclusões mais comuns associadas à sucção não nutritiva e à respiração bucal em crianças; analisar a relação entre a duração e a intensidade desses hábitos e a gravidade das maloclusões; além de avaliar os efeitos da respiração bucal no desenvolvimento das arcadas dentárias e nas funções orais, como mastigação e deglutição.

A justificativa para a realização deste estudo se baseia na crescente prevalência de maloclusões em crianças associadas a hábitos bucais prejudiciais, que podem afetar a qualidade de vida dos indivíduos a longo prazo. Esses hábitos, se não corrigidos, podem levar a uma série de consequências funcionais e estéticas, prejudicando o sorriso, a fala, a deglutição e até a respiração. Por isso, um estudo que forneça dados objetivos sobre como esses hábitos podem alterar o desenvolvimento dentário e facial pode ajudar na conscientização e educação dos profissionais da saúde com informações importantes para orientar intervenções precoces.

2. METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste artigo, é uma revisão integrativa de literatura como método de pesquisa. O estudo foi realizado por meio de busca on-line, especificamente nas bases de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Para a busca dos artigos, foram utilizados os seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): hábitos deletérios; sucção não nutritiva; infância; maloclusões no período temporal entre 2019 e 2024.

Os critérios de inclusão adotados para a seleção dos artigos foram: a publicação estar disponível eletronicamente na íntegra e de forma gratuita; ser classificada como artigo original; estar disponível nas línguas portuguesa ou inglesa; com ano de publicação de 2019 a 2024; e apresentar informações pertinentes ao tema de pesquisa. 

Foram excluídos estudos que apresentassem abordagem inadequada ao tema, artigos disponíveis apenas em forma de resumos não detalhados ou duplicados, garantindo que a análise fosse embasada em informações completas e de alta qualidade. Outros critérios de exclusão incluíram estudos que não abordaram especificamente a relação entre sucção não nutritiva, respiração bucal e maloclusões, ou que não envolviam a faixa etária infantil. 

3. RESULTADOS

De acordo com os critérios de inclusão e exclusão definidos na metodologia da revisão, o fluxograma dos artigos selecionados está ilustrado abaixo.

A tabela 01 descreve os artigos apresentados quanto às seguintes variáveis: autor, ano de publicação, tipo de estudo, objetivos e principais resultados.

Tabela 1 – Dados referentes aos artigos analisados.

Autor/anoTipo de estudoObjetivoPrincipais resultados
Alencar et al., (2021)Estudo qualitativoAnalisar hábitos associados à mordida aberta anterior em criança.Identificou que hábitos como sucção digital e uso prolongado de chupeta estão relacionados à mordida aberta anterior.
Bezerra et al., (2020)Estudo observacional Avaliar a presença de hábitos deletérios de sucção não nutritiva em pré-escolares.Constatou alta prevalência desses hábitos, com possíveis impactos no desenvolvimento da oclusão.
Brígido et al., (2022)Estudo qualitativoRelacionar hábitos de sucção não nutritivos e maloclusão dentária.Observou correlação significativa entre esses hábitos e alterações na oclusão dentária, com impactos na função mastigatória e fonoaudiológica.
Campos et al., (2024)Estudo observacional qualitativoAnalisar a relação entre hábitos orais e o desenvolvimento de maloclusões em crianças.Os hábitos orais prejudiciais, como a sucção de dedo, o uso prolongado de chupeta e a respiração bucal, demonstram ter um impacto significativo no desenvolvimento de maloclusões em crianças.
Carmo et al., (2019)Estudo transversalAvaliar a eficácia da placa no controle da sucção labial, suas repercussões no desenvolvimento orofacial e a melhoria no comportamento da criança.O uso da placa lábio ativa resultou em uma redução significativa do hábito de sucção labial após um período de uso consistente, promovendo a eliminação do comportamento.
Castro et al., (2021)Estudo observacional qualitativoInvestigar a associação entre hábitos deletérios e otites em crianças.A prevalência de otites foi significativamente maior em crianças com histórico de hábitos bucais prejudiciais, especialmente aquelas que utilizam chupetas por longos períodos ou têm a sucção digital como hábito.
Colares et al., (2021)Estudo transversalInvestigar os principais hábitos bucais deletérios, como sucção de dedo, uso prolongado de chupeta, respiração bucal e onicofagia, e suas consequências no desenvolvimento da dentição decídua e mista.A sucção de dedo e o uso prolongado de chupeta foram identificados como os hábitos bucais mais prejudiciais à dentição decídua. Estes hábitos podem levar à formação de maloclusões, como mordida aberta anterior e mordida cruzada.
Fonseca et al., (2023)Estudo
qualitativo
Analisar a relação entre hábitos bucais deletérios e desenvolvimento de maloclusões em crianças.Confirmou a forte influência de hábitos deletérios no desenvolvimento de maloclusões, destacando a importância da prevenção precoce.
Maltarollo et al., (2021)Estudo observacional qualitativoAvaliar a sucção digital e sua consequência na mordida aberta.Crianças que mantêm o hábito de sucção digital por períodos superiores a dois anos apresentaram maior probabilidade de desenvolver mordida aberta, com a gravidade da maloclusão aumentando conforme a duração do hábito.
Marcantônio et al., (2021)Estudo observacional qualitativoInvestigar a associação entre hábitos orais, maloclusão e problemas respiratórios em escolares de 5 anos.Encontrou correlação significativa entre maloclusão e problemas respiratórios, sugerindo impacto na qualidade de vida das crianças.
Nakao et al., (2021)Estudo transversalExaminar hábitos bucais como fatores de risco para mordida aberta anteriorA respiração bucal, muitas vezes associada a alergias e outras condições respiratórias, também foi identificada como um fator de risco para a mordida aberta anterior, devido à alteração no posicionamento da língua e ao impacto na musculatura orofacial.
Pinto et al., (2020)Estudo observacional qualitativoAvaliar a prevalência de maloclusão em escolares e sua relação com hábitos deletérios.A pesquisa revelou uma alta prevalência de maloclusões entre os escolares avaliados, com destaque para a mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e sobremordida. Cerca de 40% das crianças apresentaram algum tipo de maloclusão.


Santos et al.(2020)

Estudo transversal
Identificar a ocorrência de maloclusão em pacientes pediátricos.A pesquisa revelou que aproximadamente 35-40% dos pacientes pediátricos avaliados apresentaram algum tipo de má oclusão. As maloclusões mais comuns identificadas foram a mordida aberta anterior, mordida cruzada posterior e sobremordida.
Souza et al., (2024)
Estudo transversal
Identificar os principais hábitos bucais deletérios em crianças, como sucção de dedo, uso prolongado de chupeta, respiração bucal e onicofagia.A sucção de dedo prolongada é um dos hábitos bucais mais prevalentes entre crianças e está associada à formação de maloclusões como mordida aberta anterior, mordida cruzada e problemas de oclusão dentária.
Souza et al., (2019)Estudo observacional qualitativoIdentificar os principais hábitos deletérios e suas repercussões no sistema estomatognático.O uso excessivo de chupeta, especialmente após os 2 anos de idade, pode resultar em deformidades na arcada dentária, como mordida aberta, mordida cruzada e protrusão dos dentes superiores.
Tavares et al., (2023)Estudo observacional qualitativoAnalisar os impactos dos hábitos parafuncionais de sucção não-nutritiva e onicofagia em crianças na primeira infância, investigando suas possíveis consequências para o desenvolvimento orofacial, emocional e comportamental.A sucção não-nutritiva prolongada pode causar desarmonias no desenvolvimento da arcada dentária, como mordida aberta, mordida cruzada e problemas na oclusão dentária.
Torres et al., (2023)Estudo qualitativo descritivoAnalisar a influência do uso da chupeta no desmame precoce e no desenvolvimento de deformidades orofaciais em crianças, destacando os impactos para a amamentação, o crescimento da arcada dentária e a fala.O uso da chupeta está associado à redução do tempo de amamentação materna exclusiva, uma vez que pode interferir no reflexo de sucção do bebê e diminuir o interesse pelo seio materno.
Travassos et al., (2024)Estudo longitudinalAvaliar o conhecimento das mães sobre a importância da amamentação e sua influência nos hábitos bucais deletérios.Demonstrou que a educação materna influencia diretamente a redução de hábitos deletérios na infância.
Weber et al., (2022)Estudo observacional quantitativoInvestigar os principais hábitos bucais deletérios em crianças, como sucção digital, uso prolongado de chupeta e onicofagia, e analisar os prejuízos causados por esses hábitos na odontopediatria.Hábitos bucais deletérios como a sucção digital e o uso prolongado de chupeta podem causar alterações significativas na dentição das crianças, incluindo mordida aberta, mordida cruzada e problemas no desenvolvimento do palato e da arcada dentária.
Neves e Squeff et al.,(2019)Revisão de literatura Verificar as causas e os efeitos da sucção não nutritiva no sistema estomatognático. Identificou que os hábitos de sucção não nutritiva estão, em sua maioria, relacionados a questões emocionais, como ciúmes e estresse. Relatou que a intensidade, frequência e duração desses hábitos podem levar a uma série de maloclusões e reforçou a importância do diagnóstico precoce e de uma possível abordagem interdisciplinar para o sucesso do tratamento.

Fonte: Dados da pesquisa.2025

4. ANÁLISE DE IMAGENS DAS ALTERAÇÕES FACIAIS E POSTURAIS DECORRENTES DO COMPORTAMENTO RESPIRATÓRIO BUCAL E DA SUCÇÃO NÃO NUTRITIVA NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL 

Neste tópico, pretende-se apresentar uma análise detalhada das alterações faciais e posturais decorrentes do comportamento respiratório bucal e da sucção não nutritiva e suas implicações no desenvolvimento infantil. A partir das imagens selecionadas, foram discutidos os principais padrões de deformidades observadas em crianças que apresentam esses hábitos, como modificações na estrutura facial, alinhamento dentário e postura corporal.

As Figuras 1 e 2 ilustram hábitos de sucção não nutritiva, hábitos que podem ter sérias consequências para o desenvolvimento da dentição e da face. 

Figura 1 – Criança chupando dedo

Fonte: https://www.ninhosdobrasil.com.br/chupar-dedo

 Figura 2 – Criança chupando chupeta

Fonte: https://search.app/KmUtwZsqXW6U9xHq5

Sucção não nutritiva é um comportamento comum em crianças pequenas, mas, se persistir por muito tempo, pode causar alterações na arcada dentária, como a mordida aberta. Além disso, esse hábito pode interferir no alinhamento dos dentes e no crescimento adequado da mandíbula. A eliminação desses hábitos é fundamental para prevenir deformidades faciais e problemas ortodônticos permanentes, sendo aconselhável a adoção de técnicas de intervenção precoce.

A Figura 03, ilustra uma mordida aberta, um reflexo claro das consequências da respiração bucal e da sucção não nutritiva. 

Figura 3 – Mordida aberta

Fonte: Almeida, 2017

Nessa condição, ressalta-se que os dentes superiores e inferiores anteriores não se tocam adequadamente, criando um espaço entre eles. Isso pode dificultar a mastigação e afetar a fala, além de prejudicar o desenvolvimento normal da arcada dentária. A mordida aberta pode ser observada com mais frequência em crianças que possuem o hábito de respirar pela boca ou chupar o dedo, e a correção dessa condição envolve tanto a mudança de hábitos quanto o tratamento ortodôntico.

Figura 4 – Mordida aberta anterior em dentição mista.

Fonte: Correia, 2021

Figura 5, ilustra mordida cruzada bilateral, evidencia um outro tipo de desvio oclusal frequentemente associado a problemas respiratórios. 

Figura 5 – Mordida cruzada bilateral

Fonte: Lobato et al., 2023

Nessa condição, os dentes superiores e inferiores não se alinham corretamente quando a mandíbula está em sua posição habitual, o que pode ser acentuado por práticas como a respiração bucal. Essa mordida cruzada posterior bilateral pode afetar não só a estética facial, mas também a funcionalidade da mastigação e a articulação da mandíbula (Lobato et al., 2023)

Essa condição pode ser exacerbada por problemas nas vias aéreas superiores, como hipertrofia das adenóides ou amígdalas, que dificultam a respiração nasal e levam as crianças a adotarem a respiração bucal de forma crônica. Além disso, a mordida cruzada bilateral pode gerar dificuldades na mastigação e até no desenvolvimento adequado da fala. A intervenção ortodôntica é muitas vezes necessária para corrigir esse desvio e melhorar o alinhamento dentário, podendo incluir o uso de aparelhos fixos ou móveis, dependendo da gravidade do caso. (Lobato et al., 2023)

A mordida cruzada bilateral, como descrita, pode ser fortemente relacionada com a Fácies Adenóidea, conforme exemplificada na Figura 6 um tipo de aparência facial típica de crianças com hipertrofia das adenóides.

Figura 6 – Tipo de face denominada “Fácies Adenóidea”

Fonte: Almeida, 2017

Esse quadro é caracterizado por uma postura facial peculiar, com a boca frequentemente aberta e lábios ressecados, resultado da dificuldade de respirar adequadamente pelo nariz. A obstrução nasal causada pelas adenóides aumentadas leva a criança a respirar pela boca de forma crônica, alterando a função respiratória e prejudicando o desenvolvimento da face e da dentição.

Na Figura 7 a seguir, observam-se as características típicas do respirador bucal, que incluem alterações no formato da face e no alinhamento dentário. 

Figura 7 – Alterações faciais do respirador bucal

Fonte: Costa, 2008

Crianças que respiram pela boca devido a obstruções nas vias aéreas superiores, como adenóides aumentados, podem apresentar um desenvolvimento facial alterado. Essas alterações incluem aumento vertical da face, um queixo retraído, e uma postura anormal da mandíbula, resultando em modificações na arcada dentária. A respiração bucal prolongada pode interferir no desenvolvimento normal dos dentes, afetando diretamente a oclusão e causando desvio na mordida, como a mordida aberta anterior ou mordida cruzada posterior.

Essas modificações faciais são indicativas de um problema respiratório crônico, que interfere tanto na saúde respiratória quanto no desenvolvimento ortodôntico das crianças. O tratamento adequado para corrigir essas alterações exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo ortodontistas e médicos especializados no tratamento de doenças respiratórias, como otorrinolaringologistas. O objetivo é normalizar a respiração, ao mesmo tempo que se trabalha para corrigir as deformidades faciais e dentárias causadas pela respiração bucal.

Além disso, na Figura 8, também é retratada a criança respiradora bucal, evidenciando uma face alongada e um sorriso alterado. 

Figura 8 – Criança respiradora bucal

 Fonte: Correia, 2021

Esse padrão facial, característico de crianças com esse hábito, é frequentemente observado em crianças com hipertrofia dos adenóides ou das amígdalas, pois possuem dificuldade de respiração nasal. A respiração bucal crônica pode, portanto, interferir no desenvolvimento normal da face, tornando a intervenção precoce fundamental para prevenir complicações a longo prazo (Correia, 2021).

5. DISCUSSÃO

O estudo de Tavares et al., (2023) analisa hábitos parafuncionais, como a sucção não nutritiva, e sua relação com problemas dentários em crianças, especialmente na primeira infância. Ele aborda como esses hábitos, como a sucção de dedo e o uso prolongado de chupeta, podem afetar o desenvolvimento da dentição e levar a maloclusões, como a mordida aberta destacando, assim, os impactos negativos desses comportamentos no sistema estomatognático. De acordo com Neves e Squeff et al., (2019), esse hábito pode surgir de forma silenciosa e imperceptível por motivos emocionais, como estresse ou ciúmes, tornando-se uma forma de conforto para essas crianças. Isso explica a dificuldade de abandono desse hábito, que pode se prolongar e resultar em grandes danos ao desenvolvimento dentoesquelético. O artigo também menciona a importância de uma abordagem interdisciplinar, não só com o acompanhamento de um ortodontista, mas também com psicólogo, fonoaudiólogo e otorrinolaringologista.

Como aponta Fonseca et al. (2023), a respiração bucal pode afetar a vida de uma criança, não só alterando o desenvolvimento dentoesquelético, mas também comprometendo o desempenho cognitivo e a vida social.
O que corrobora com os estudos de Luy et al. (2021) uma vez que esse hábito deletério, quando prolongado, pode levar ao desenvolvimento de uma maloclusão do tipo Classe II de Angle. O autor enfatiza que o surgimento desse hábito pode estar relacionado a diversos problemas nas vias aéreas superiores, forçando a criança a respirar pela boca. 

Os artigos de Alencar et al., (2021) e Bezerra et al., (2020) foram congruentes ao abordarem como a duração de hábitos de sucção não nutritiva pode aumentar o risco de maloclusões, especialmente a mordida aberta anterior. Ambos os estudos destacam que a persistência desses hábitos após os 3 anos pode causar alterações significativas na posição dos dentes e da mandíbula, ressaltando a importância de interrompê-los precocemente para evitar danos permanentes. Nessa mesma linha de raciocínio, Maltarollo et al. (2021) relatam que somente ter esses hábitos não é uma regra para o desenvolvimento da maloclusão, assim como a gravidade, pois ambos dependem da duração, frequência e intensidade em cada criança. 

Os estudos de Brígido et al. (2022), Maltarollo et al. (2021) e Souza et al. (2019) investigam a relação entre hábitos de sucção não nutritiva e o desenvolvimento de maloclusões em crianças. Eles destacam como a sucção, especialmente a de dedo, contribui para problemas como a mordida aberta e a interferência no alinhamento dental. Esses hábitos afetam o sistema estomatognático e podem levar a complicações no desenvolvimento facial e dentário, tornando essencial a identificação precoce e a intervenção para evitar futuros tratamentos ortodônticos.

Como descrito por Luy et al. (2021), a respiração bucal prolongada pode afetar a estrutura da articulação temporomandibular e os músculos periarticulares, resultando em maloclusão do tipo Classe II de Angle e impactando o desenvolvimento e a estética maxilofacial. Além disso, pacientes com esse hábito podem desenvolver mordida profunda, overjet, maxila estreita com palato oval. É comum que apresentem hábito de ronco, face longa, olheiras profundas, lábios hipotônicos, narinas estreitas e língua posicionada no assoalho. Também pode haver presença de lábios entreabertos, dificuldade na fala e na deglutição. Ou seja, esse hábito impacta a vida da criança como um todo, alterando todo o padrão de crescimento fisiológico. 

Conforme evidenciado em diversos estudos como, por exemplo, Marcantônio et al., (2021), Nakao et al., (2021), a respiração bucal pode causar alterações significativas no desenvolvimento da arcada dentária, interferindo na posição da língua e afetando o alinhamento dos dentes e a estrutura óssea, o que pode resultar em maloclusões como mordida aberta e cruzada. Dessa forma, pode-se inferir que esse padrão respiratório inadequado pode prejudicar o desenvolvimento facial, alterando a forma do maxilar e levando a assimetrias faciais.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Ao longo deste estudo, foi possível observar que a sucção não nutritiva e a respiração bucal desempenham um papel significativo no desenvolvimento de maloclusões em crianças. As evidências coletadas indicam que esses hábitos prejudiciais estão diretamente associados a alterações nas arcadas dentárias, como mordida aberta, mordida cruzada e outros problemas de oclusão. Além disso, foi identificado que a duração e a intensidade desses hábitos influenciam diretamente a gravidade das maloclusões, afetando tanto a estrutura dentária quanto a função orofacial, como a mastigação e a deglutição. Portanto, pode-se concluir que o objetivo do estudo foi alcançado, uma vez que conseguimos analisar a relação entre esses hábitos e o desenvolvimento de problemas oclusais.

A análise dos efeitos da respiração bucal no sistema estomatognático revelou consequências significativas, como a alteração na postura da língua e a mudança na forma das arcadas dentárias. A combinação da sucção não nutritiva com a respiração bucal mostrou ser um fator de risco ainda maior para o agravamento das maloclusões. Com isso, ficou evidente a importância de intervenções precoces para corrigir esses hábitos e prevenir complicações a longo prazo. A pesquisa também evidenciou que a conscientização dos pais sobre esses hábitos e suas repercussões pode contribuir significativamente para a saúde bucal das crianças.

Embora os resultados obtidos forneçam uma compreensão mais aprofundada dos impactos desses hábitos, há ainda lacunas a serem exploradas. Futuros estudos podem investigar a interação entre esses hábitos e outros fatores ambientais ou genéticos que possam influenciar o desenvolvimento das maloclusões. Além disso, seria interessante analisar a eficácia de diferentes intervenções e métodos de correção precoce, como o uso de dispositivos intraorais ou terapias comportamentais, para determinar as abordagens mais eficazes no tratamento desses hábitos. Outra linha de pesquisa poderia ser a análise da relação entre hábitos bucais e outros distúrbios, como dificuldades respiratórias e problemas de fala, que também podem estar associados à respiração bucal.

Desta forma, este estudo fornece subsídios importantes para a prática odontopediátrica e sugere a necessidade de estratégias preventivas que envolvam tanto a orientação aos pais quanto o acompanhamento clínico das crianças desde os primeiros anos de vida. A correção desses hábitos deve ser vista como uma prioridade, considerando seus impactos no bem-estar geral das crianças. Assim, a implementação de programas de conscientização e prevenção desde a infância pode ter um efeito positivo na redução das maloclusões e na promoção da saúde bucal infantil.

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