REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/ni10202504120807
Tamires Huguenin Corrêa1
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar a situação atual do ensino de línguas adicionais no Ensino Médio das escolas públicas brasileiras, com ênfase na língua inglesa. A pesquisa examina as políticas educacionais vigentes no Brasil, em particular a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEMs), e suas implicações para o ensino de línguas. A partir dessa análise, o artigo discute a abordagem CLIL (Content and Language Integrated Learning) como uma metodologia eficaz para aumentar a motivação dos alunos, ao integrar o ensino de conteúdos disciplinares com a aprendizagem de uma língua estrangeira. A eficácia do CLIL foi investigada em uma experiência realizada no Instituto Federal do Espírito Santo, campus Montanha, onde os alunos participaram de aulas de geografia e estudos culturais ministradas em inglês. A pesquisa realizada nesse contexto será discutida, com base nos dados coletados. As fundamentações teóricas que embasam este trabalho incluem as análises de Leffa (2011) sobre as crenças no ensino de línguas adicionais em escolas públicas, além das contribuições de Garcia (2009) sobre Educação Bilíngue, de Dörnyei (2001) sobre motivação no ensino de línguas, e de Moita Lopes (1996) sobre as perspectivas socioculturais no ensino de línguas, entre outros. Essas discussões revelam o impacto positivo do CLIL na motivação dos alunos, alinhando-se aos princípios da BNCC e das OCEMs.
Palavras-chave: Ensino de línguas adicionais; Ensino Médio; CLIL; Motivação.
Introdução
O ensino de línguas estrangeiras, em especial o inglês, no Brasil tem enfrentado desafios significativos no contexto das escolas públicas. Embora o ensino da língua inglesa seja uma exigência legal desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, os resultados no desenvolvimento de habilidades linguísticas e de comunicação são insatisfatórios, especialmente nas escolas não privadas. Esse cenário parece ser um reflexo de práticas pedagógicas que ainda privilegiam métodos tradicionais e centrados na gramática, o que resulta em uma baixa motivação dos alunos (BRASIL, 2017; IBGE, 2018).
Dentro deste contexto, o aumento da motivação dos alunos e a busca por abordagens mais eficazes têm sido temas recorrentes na literatura educacional. Uma abordagem promissora é o Content and Language Integrated Learning (CLIL), que integra o ensino de conteúdos disciplinares com o aprendizado de uma língua adicional, proporcionando uma experiência mais significativa e contextualizada para os alunos. De acordo com Dörnyei (2001), a motivação é um fator-chave para o sucesso na aprendizagem de línguas estrangeiras, e o CLIL tem se mostrado eficaz nesse aspecto, ao oferecer um ensino mais dinâmico e envolvente.
Além disso, o CLIL se alinha com as diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que enfatiza a necessidade de promover uma aprendizagem integral e contextualizada, conectando os saberes de diferentes áreas do conhecimento. Segundo a BNCC (BRASIL, 2017), o ensino de línguas deve ser voltado para o desenvolvimento de competências que envolvam a utilização da língua em contextos comunicativos reais e o CLIL se mostra um caminho viável para esse objetivo. A integração de conteúdos como geografia e estudos culturais no ensino de inglês, por exemplo, permite que os alunos percebam a língua não apenas como um objeto de estudo isolado, mas como uma ferramenta para a construção de conhecimento, o que favorece seu engajamento e participação.
Ademais, o CLIL também está em consonância com as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEMs), que buscam incentivar o protagonismo dos estudantes e promover metodologias ativas de ensino. Isso porque, ao possibilitar a utilização da língua inglesa para a construção de conhecimentos em áreas específicas, propõe uma maneira de ensino mais conectada com os interesses e as necessidades dos alunos, atendendo às orientações da OCEMs que destacam a importância de um ensino mais contextualizado e significativo para o aluno (BRASIL, 2006).
Nesse sentido, este estudo se propõe a analisar a motivação dos alunos do 3º ano do Ensino Médio de um Instituto Federal, a partir da aplicação de um questionário sobre a percepção dos estudantes em relação às aulas de inglês que utilizam o CLIL. O objetivo é investigar se o uso dessa abordagem pode ser uma estratégia eficaz para aumentar a motivação dos alunos e melhorar o ensino de línguas estrangeiras nas escolas públicas brasileiras.
Fundamentação Teórica
O ensino de línguas adicionais, especialmente o inglês, no Brasil enfrenta desafios históricos relacionados a práticas pedagógicas centradas principalmente na gramática e no ensino de vocabulário de forma descontextualizada. Esse modelo tradicional, frequentemente, resulta em uma aprendizagem desmotivadora e em baixo desempenho dos alunos (IBGE, 2018).
Sobre tal, Leffa (2011) afirma:
A abordagem tradicional, centrada em regras gramaticais e memorizações de listas de vocabulários, ignora as condições de comunicação real, não proporcionando ao aluno uma vivência que o permita se apropriar efetivamente da língua.(LEFFA, 2011, p. 42).
Leffa (1999) também observa que o ensino de gramática, isolado da prática de comunicação, muitas vezes resulta em uma aprendizagem superficial e desmotivadora, sem conexão com o uso real da língua:
O ensino de línguas estrangeiras, reduzido à gramática e a exercícios formais, não cria as condições necessárias para que os alunos se envolvam com a língua de maneira significativa, resultando, assim, em uma aprendizagem pouco eficaz.(LEFFA, 1999, p. 58).
Lima (2008) também reflete sobre o fracasso da abordagem gramaticalista no ensino de inglês nas escolas públicas, argumentando que ela não leva em consideração a necessidade de contextualização no processo de aprendizagem:
A metodologia gramaticalista, que foca apenas no ensino de regras e estruturas sem uma aplicação contextualizada, não só desestimula o aluno, mas também limita sua capacidade de compreender e usar a língua em situações reais de comunicação.(LIMA, 2008, p. 52).
No entanto, abordagens pedagógicas mais recentes, como o Content and Language Integrated Learning (CLIL), têm demonstrado potencial para promover uma aprendizagem mais significativa, engajante e integrada com o conteúdo das disciplinas. Esta fundamentação teórica se baseia na discussão do conceito de motivação para a aprendizagem, dos princípios do CLIL, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEMs), a fim de analisar a eficácia desta abordagem no ensino de língua inglesa nas escolas públicas brasileiras.
Em relação à motivação, ela desempenha um papel fundamental no sucesso da aprendizagem de línguas estrangeiras. Dörnyei (2001) afirma que a motivação é um dos principais fatores que influenciam a aquisição de uma língua, pois ela está diretamente relacionada à percepção de relevância e ao contexto de aprendizagem. O CLIL, ao integrar o ensino de conteúdos relevantes, como geografia ou estudos culturais, no processo de aprendizagem da língua inglesa, cria um ambiente mais motivador, pois permite que os alunos vejam a língua como uma ferramenta útil para acessar conhecimentos em outras áreas.
Em um estudo sobre motivação no ensino de línguas, Dörnyei (2001, p. 36) afirma que “os alunos tendem a se engajar mais em atividades de aprendizagem quando percebem que o que estão aprendendo é relevante e aplicável às suas vidas”.
Essa afirmação é corroborada por Garcia (2009), que também ressalta que a motivação dos alunos é significativamente ampliada quando o aprendizado da língua está associado a conteúdos culturais ou acadêmicos de seu interesse. Segundo a autora, “o aprendizado de uma língua não deve ser visto apenas como um fim em si mesmo, mas como uma ferramenta para a compreensão de mundos culturais e acadêmicos diferentes” (GARCIA, 2009, p. 83).
O CLIL, ao integrar o ensino de língua e conteúdo, também pode ajudar a superar a tradicional desmotivação associada às aulas de inglês, que frequentemente se limitam a atividades de repetição gramatical. Como bem observa Moita Lopes (1996), “o ensino de línguas, quando desvinculado da realidade dos alunos e focado apenas na gramática e em aspectos formais, tende a se tornar um processo desinteressante e desengajado” (LOPES, 1996, p. 47).
A proposta do CLIL, ao combinar o aprendizado da língua com temas do cotidiano dos alunos, torna o ensino mais dinâmico e alinhado às suas necessidades e interesses.
Além disso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) estabelece como um de seus principais objetivos a promoção de uma educação integral que conecte diferentes áreas do conhecimento e favoreça a formação crítica dos alunos. No que diz respeito ao ensino de línguas estrangeiras, a BNCC enfatiza a necessidade de o ensino ser orientado por práticas comunicativas, com o uso da língua em contextos reais de interação. O documento sugere que os estudantes desenvolvam habilidades que permitam a utilização da língua inglesa em situações cotidianas, como em interações interpessoais e na compreensão de textos multimodais (BRASIL, 2017). Nesse contexto, o CLIL oferece um caminho eficaz para essa integração, pois combina o ensino de conteúdos de outras áreas com o aprendizado da língua, proporcionando um ensino contextualizado e relevante.
De acordo com a BNCC (BRASIL, 2017), o ensino de línguas deve “desenvolver a competência comunicativa dos estudantes, visando à participação efetiva em diferentes práticas sociais e culturais”. Esse princípio é particularmente evidente na proposta do CLIL, que ao integrar o ensino da língua inglesa com outras disciplinas, como geografia e ciências, permite aos alunos aprender a língua em situações contextualizadas, ligando o aprendizado da língua ao conteúdo acadêmico relevante. Isso promove uma maior motivação, pois os alunos não apenas aprendem uma língua, mas também adquirem novos conhecimentos enquanto praticam a comunicação em inglês.
Também as Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCEMs), por sua vez, destacam a importância de metodologias ativas e da interdisciplinaridade no processo de aprendizagem. Segundo as OCEMs (BRASIL, 2006), “é fundamental que o aluno desenvolva competências e habilidades que o preparem para atuar de forma autônoma e crítica em diversos contextos, sendo capaz de aplicar os conhecimentos adquiridos em situações do mundo real”. Nesse sentido, o CLIL alinha-se aos objetivos das OCEMs ao promover o aprendizado de línguas em contexto interdisciplinar, estimulando o pensamento crítico e a autonomia dos alunos. O fato de os alunos aprenderem inglês enquanto exploram conteúdos como história, geografia e estudos culturais faz com que a aprendizagem da língua se torne mais relevante e integrada ao seu cotidiano.
O ensino de línguas com base na interdisciplinaridade também favorece a construção do conhecimento de forma mais dinâmica, como destaca Mejía (2002), ao afirmar que “o CLIL permite que o aluno se engaje ativamente na aprendizagem de línguas, pois os conteúdos ensinados não são dissociados da vida real, mas contextualizados em situações que tornam o processo de aprendizagem mais interessante e significativo”. Essa integração promove o desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores, pois os alunos não apenas aprendem a língua, mas também ampliam seu repertório de conhecimentos, aplicando-os em um contexto de uso real.
Metodologia
Este artigo baseou-se em uma pesquisa basicamente qualitativa com análise e discussão de dados coletados por meio de um questionário semiaberto2 e anônimo. Porém, dados quantitativos também serão relevantes e, por isso, serão contabilizados, principalmente, aqueles oriundos das questões objetivas do questionário aplicado.
No intuito de coletar dados sobre a experiência tida com o CLIL nas aulas de língua inglesa, escolhemos aplicar um questionário em alunos do 3º ano do Ensino Médio do Instituto Federal do Espírito Santo, campus Montanha. Tais estudantes possuem, em geral, entre 16 e 18 anos, provenientes da cidade e de outras próximas à Montanha.
A escolha de alunos do 3º ano do Ensino Médio, do Instituto Federal do Espírito Santo, campus Montanha, se deu pela experiência de uma professora na aplicação do CLIL durante o 2º ano, envolvendo temas de geografia e estudos culturais, como diferentes celebrações ao redor do mundo. A culminância desse trabalho foi uma Feira das Nações, em que cada grupo apresentou, em inglês e português, questões relacionadas à geografia, história, sociologia, filosofia, artes, entre outras, de algum país, o que contou com a parceria e avaliação dos professores dessas disciplinas.
O questionário elaborado contém nove questões, sendo que oito são de múltipla escolha e 4 delas pedem justificativa para a reposta anterior. Apenas uma questão é totalmente aberta: “Qual é a sua concepção sobre a língua inglesa?”.
Isso porque nosso referencial teórico engloba, entre outros temas, o conceito de representação e seus desdobramentos no processo ensino/aprendizagem de línguas, no caso específico, a inglesa.
Resultados e Discussão
Neste artigo, iremos analisar apenas algumas respostas os 65 (sessenta e cinco) questionários aplicados que tenham relação com o tema de estudo.
Na terceira pergunta, sobre como foram as aulas de inglês no Ensino fundamental, dos que estudaram em escolas públicas, temos: 10,86% classificaram como péssimo, 15,21% como ruim, 45,6% como regular, 19,56 como bom e apenas 6,5%, como ótimo. Como justificativa, muitos alunos escreveram que estudaram apenas o verbo to be, o que confirma os estudos de Leffa (2011) e Lima (2008).
Para a mesma pergunta, dos que estudaram, ao menos, alguns anos em escola privada, apenas 5,2% apontaram como péssimo, 21% como ruim, 26,3% como regular,36,8% como bom e 10,4% como ótimo, ressaltando as diferenças existentes entre escolas públicas e privadas no Brasil.
A quarta pergunta sobre o uso do inglês em sala de aula no IFES, seguindo as diretrizes da BNCC, tivemos 64,17% com a opinião de “ótimo”, 26,86% como “bom”, e apenas 4,47% para “regular” e para “ruim”.
A quinta pergunta, que trata sobre a integração das aulas de língua inglesa com geografia e estudos culturais no 2º ano do Ensino Médio (ano anterior), obteve 63,07% de ótimo, 35,38% de bom e 1,5% regular. Não houve respostas de ruim ou péssimo, explicitando o interesse pelas aulas com a abordagem CLIL.
Entre as justificativas para essas respostas, temos:
– “Foi bom conhecer outras culturas em inglês.”
– “Com o evento da Feira das Nações, ampliou o nosso conhecimento de geografia e a língua inglesa integrada.”
– “Ótimo, pois o estudo nos fez ter mais repertório sobre diversas culturas.”
– “Eu gostei bastante das aulas, aprendi muito sobre a cultura de outros países.”
– “Nos fez conhecer novos termos sobre esse assunto em inglês, além de trazer o inglês para o dia a dia.”
– “Eu achei ótimo, pois além de aprender o inglês, eu aprendi sobre a cultura e costumes de outros povos.”
– “Achei interessante a integração com outras matérias, pois conhecemos outras culturas em inglês e a feira das nações foi super legal de fazer.”
– “Conciliamos as duas matérias na Feira das Nações e isso nos ajudou a aprender e estudar as duas matérias em conjunto.”
– “Porque ficou mais legal aprender, com isso, eu consigo prestar bem atenção.”
– “Foi um desafio, porém um desafio a nosso alcance e por isso, tornou o aprendizado dinâmico.”
– “Nos trouxe o conhecimento de outras culturas, ampliando nossa visão do mundo.”
– “Foi possível escrever, ler e falar em inglês, aprendendo o conteúdo e também a língua inglesa, com assuntos e palavras mais específicas.”
A sexta pergunta investiga se o aluno se sentiu mais motivado para o estudo da língua. Apenas 7,69% colocaram que não e 92,31% ressaltaram que sim. A respeito disso, pode-se dizer que o CLIL propõe um ambiente onde o aluno seja o protagonista do processo de aprendizagem e tome consciência disso ao mesmo tempo em que propõe que esse tenha a sua motivação inata ativada para a noção de que pode transformar o processo de aprendizagem em um processo prazeroso uma vez que saiba os motivos para o qual está participando.
O próximo questionamento foi a respeito da experiência de fazer apresentações em inglês, colaborando para a prática da oralidade dos alunos. Sobre tal quesito, 44,26% acharam bom, quase 30% acharam ótimo, 22,95% acharam regular e 1,63% péssimo ou ruim.
A respeito da crença do “inglês de escola”, quase 63% colocaram que é possível aprender inglês na escola, dos que escreveram que não, a maior justificativa para isso foi a baixa carga horária, o que parece interessante diante do senso comum de que “inglês de escola” não funciona, como explicitado por Leffa (2009).
A última pergunta se refere a uma pontuação de como o aluno avalia a sua experiência com o inglês no 2º ano, sendo as opções de 0 a 2, 3 a 5, 6 a 8 e 8 a 10. Assim, 49,12% responderam de 6 a 8; 47,36% de 8 a 10 e apenas 3,5% de 3 a 5. Entre as justificativas para a nota de 6 a 8, grande parte escreveu que deveria ter se dedicado mais. Entre algumas respostas, temos:
– “Ótima abordagem da professora e aulas bem dinâmicas.”
– “Foi o ano que mais tivemos um aprofundamento e diversidade no aprendizado.”
– “Because I love English and I loved to watch the videos about cultures.”
– “Apesar da minha dificuldade com inglês, eu amei a metodologia.”
– “Gostei bastante das aulas e da didática da professora, pude aprender várias coisas, achei muito bom.”
– “As aulas foram bem explicadas pela professora e o método me ajudou muito.”
– “Foi uma das melhores experiências no inglês, em que mais me senti à vontade para tentar.”
– “Aprendi bastante, foi muito legal a experiência com a geografia.”
– “Os conteúdos, a professora deixou mais interessantes com vídeos, seminários, dinâmicas, criando mais motivação para aprender.”
– “Achei muito dinâmico e tornou o estudo mais fácil sem ter aquele tipo de conteúdo maçante.”
– “Foi uma experiência nova e fugiu do óbvio.”
Cabe dizer que todos esses dados apontam para um entendimento muito positivo da experiência vivida com a abordagem CLIL, envolvendo tópicos de geografia e estudos culturais em língua inglesa no Ensino Médio do Instituto Federal do Espírito Santo.
Conclusão
O presente estudo teve como objetivo analisar a motivação dos alunos do 3º ano do Ensino Médio de um instituto federal em relação ao ensino de inglês por meio da abordagem Content and Language Integrated Learning (CLIL), aplicada a tópicos de geografia e estudos culturais. Os resultados obtidos a partir do questionário aplicado evidenciam de forma clara que a grande maioria dos alunos se sentiu mais motivada e engajada nas aulas de inglês quando estas envolviam o uso da língua para aprender conteúdos significativos e relevantes, como geografia e estudos culturais, do que nas aulas tradicionais focadas apenas em gramática e vocabulário.
Esses resultados corroboram as conclusões de diversos estudiosos da área, como Dörnyei (2001), que ressaltam a importância de se utilizar abordagens que integrem conteúdos de interesse para os alunos, tornando o aprendizado mais significativo e aplicável à sua realidade. Além disso, a pesquisa reforça as afirmações de Garcia (2009), que apontam que a motivação no aprendizado de línguas estrangeiras é diretamente influenciada pela relevância e aplicabilidade do conteúdo, e que a aprendizagem contextualizada tende a promover maior engajamento por parte dos alunos.
Ao integrar o ensino de geografia e estudos culturais ao aprendizado da língua inglesa, o CLIL não apenas contribuiu para o domínio da língua, mas também tornou as aulas mais dinâmicas, envolventes e alinhadas com os interesses e necessidades dos estudantes. Essa abordagem demonstrou ser uma alternativa eficaz à tradicional metodologia gramatical, muitas vezes desestimulante para os alunos, como indicado por pesquisas anteriores, que apontam a baixa motivação dos estudantes em aulas centradas exclusivamente na gramática (PNAD, 2018).
Portanto, pode-se concluir que o CLIL se apresenta como uma metodologia eficaz para aumentar a motivação dos alunos no aprendizado de línguas adicionais, principalmente no contexto educacional brasileiro, em que a abordagem tradicional frequentemente não atende às expectativas e ao interesse dos alunos. O uso do inglês como ferramenta para aprender conteúdos de outras áreas do conhecimento demonstrou ser uma estratégia pedagógica que promove maior engajamento, autonomia e significância para o aprendizado dos estudantes.
Em face dos resultados positivos observados, é possível sugerir que o CLIL seja adotado de maneira mais ampla nas escolas públicas e em outros contextos educacionais no Brasil, como uma alternativa metodológica que favorece o aprendizado significativo e aumenta a motivação dos alunos, tornando o ensino de línguas estrangeiras mais relevante e eficaz.
2Disponível no anexo I.
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Anexo
Questionário sobre as aulas do 2ºano de língua inglesa



1Mestre em Estudos da Linguagem, Universidade Federal Fluminense (UFF)