FISIOTERAPIA ESPORTIVA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DOS DESAFIOS E RESULTADOS NA REABILITAÇÃO DE ATLETAS JOGADORES DE FUTEBOL

SPORTS PHYSIOTHERAPY: AN INTEGRATIVE REVIEW OF THE CHALLENGES AND RESULTS IN THE REHABILITATION OF SOCCER PLAYERS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202504100724


Ilara Sousa Muniz1
Gildene Gomes de Oliveira2


RESUMO: Este estudo teve como objetivo geral analisar os desafios e resultados das intervenções de fisioterapia esportiva na reabilitação de atletas jogadores de futebol, identificando as melhores práticas e lacunas no conhecimento para otimizar o processo de recuperação e retorno ao esporte. Para isso, foi realizada uma revisão integrativa da literatura, seguindo oito etapas metodológicas: definição do tema, busca na base de dados Web of Science, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão, seleção e análise crítica dos estudos, interpretação dos dados e síntese das informações. Foram incluídos 14 artigos publicados entre 2021 e 2024, selecionados a partir de 135 estudos iniciais, utilizando termos como “sports physiotherapy” e critérios de relevância temática. Os resultados evidenciaram que as lesões mais comuns no futebol incluem distensões musculares, entorses de tornozelo e rupturas do LCA, exigindo abordagens multidisciplinares e individualizadas. Principais desafios identificados foram a variabilidade nas práticas clínicas, a falta de padronização de protocolos e a baixa adesão dos atletas ao tratamento. Por outro lado, técnicas inovadoras, como terapia com PRP e tele-reabilitação, demonstraram eficácia na aceleração da recuperação. A integração de intervenções psicológicas e fisioterapêuticas mostrou-se fundamental para reduzir recidivas e melhorar a motivação dos atletas. Conclui-se que a fisioterapia esportiva desempenha um papel fundamental na reabilitação de jogadores de futebol, mas sua eficácia depende da aplicação de protocolos baseados em evidências, capacitação profissional e abordagens personalizadas. Recomenda-se a padronização de diretrizes clínicas e futuras pesquisas sobre o impacto de longo prazo das intervenções, visando aprimorar a qualidade do atendimento e a segurança dos atletas.

Palavras–chave: Atletas.Esportes.Fisioterapia. Lesões Esportivas. Reabilitação.

ABSTRACT: This study aimed to analyze the challenges and outcomes of sports physiotherapy interventions in the rehabilitation of soccer players, identifying best practices and knowledge gaps to optimize the recovery process and return to sport. An integrative literature review was conducted, following eight methodological steps: topic definition, search in the Web of Science database, establishment of inclusion and exclusion criteria, selection and critical analysis of studies, data interpretation, and synthesis of information. Fourteen articles published between 2021 and 2024 were included, selected from an initial pool of 135 studies using terms such as “sports physiotherapy” and thematic relevance criteria. The results revealed that the most common soccer injuries include muscle strains, ankle sprains, and ACL tears, requiring multidisciplinary and individualized approaches. Key challenges identified were variability in clinical practices, lack of standardized protocols, and low athlete adherence to treatment. On the other hand, innovative techniques such as PRP therapy and telerehabilitation proved effective in accelerating recovery. The integration of psychological and physiotherapeutic interventions was important for reducing reinjuries and improving athlete motivation. In conclusion, sports physiotherapy plays a fundamental role in the rehabilitation of soccer players, but its effectiveness depends on evidence-based protocols, professional training, and personalized approaches. The standardization of clinical guidelines and further research on the long-term impact of interventions are recommended to enhance the quality of care and athlete safety.

Keywords: Athletes. Sports. Physiotherapy. Sports Injuries. Rehabilitation.

1 INTRODUÇÃO

Devido à grande exigência de treinos intensos e competições acirradas enfrentadas pelos atletas profissionais em diversas modalidades esportivas, é comum que ocorram lesões, sendo o futebol especialmente propenso a isso devido à sua natureza altamente competitiva e confrontos agressivos. Nesse contexto, as lesões mais comuns em jogos de futebol profissional englobam ferimentos na pele, torções de tornozelo, distensões de ligamentos e fraturas decorrentes de embates intensos (Zhang; Wang, 2023).

O futebol é responsável por registrar o maior número de lesões no cenário esportivo global. Isso acarreta uma série de prejuízos tanto para os atletas quanto para os clubes, incluindo dias perdidos de treino, despesas com tratamento médico, o investimento em jogadores que não conseguem render conforme o esperado e a queda na produtividade da equipe (Alves, 2022).  Devido à elevada intensidade na defesa por parte dos atletas, os embates entre jogadores ofensivos e defensivos tornam-se mais acirrados, resultando em maior contato físico durante o jogo. Esse aumento do contato físico e dos confrontos intensos inevitavelmente leva a uma alteração nos movimentos técnicos, o que, por sua vez, eleva o risco de lesões para os atletas (Carvalho, 2013).

Nesse aspecto, a fisioterapia esportiva tem um papel essencial na reabilitação e prevenção de lesões, auxiliando na recuperação dos atletas e otimizando seu retorno ao esporte. Entre as medidas utilizadas para esse fim, destacam-se as terapias manuais que fazem parte da fisioterapia desportiva, integrante da Medicina Esportiva (Marcon; Souza; Rabello, 2015). Essas intervenções devem ser adaptadas conforme a gravidade da lesão, visando maximizar os resultados do atleta durante competições ou torneios. Uma lesão refere-se a uma alteração nos tecidos devido a uma patologia ou trauma, que pode resultar na perda da função muscular. As lesões podem ser categorizadas como diretas ou indiretas, parciais ou totais, traumáticas e atraumáticas (Paixão; Matos, 2020). 

As lesões diretas tendem a afetar mais os atletas envolvidos em esportes de contato, como contusões e lacerações. Já as lesões indiretas são mais comuns em atletas individuais. Nas lesões parciais, a força muscular pode ser reduzida, mas a capacidade de contração é mantida. Por outro lado, em lesões totais, o movimento articular pode estar comprometido. Além disso, as lesões podem estar associadas a fatores internos e externos, bem como à ausência de programas preventivos adequados (Borges; Oltramarib, 2015).

No esporte, as lesões musculares variam desde pequenos danos musculares até rupturas completas, tornando imprevisível o tempo necessário para a reabilitação. A frequência e a gravidade das lesões estão intimamente ligadas a fatores individuais, ao tipo de esporte praticado e ao ambiente em que é realizado. As lesões musculares são frequentemente responsáveis pela incapacidade física no esporte, representando a causa mais comum de limitação funcional (Ferreira; Veneziano, 2022).

Quando se trata de lesões esportivas, muitas vezes elas são resultado de métodos de treinamento inadequados, alterações estruturais que sobrecarregam certas partes do corpo e o desgaste a longo prazo devido aos efeitos repetitivos dos movimentos, afetando os tecidos suscetíveis. Lesões leves demandam atenção ou tratamento, mas geralmente não exigem que o atleta pare completamente suas atividades esportivas. Lesões moderadas, por outro lado, necessitam de cuidados e podem limitar a participação do jogador. Enquanto isso, lesões graves tendem a prolongar o tempo de recuperação, frequentemente requerendo hospitalização e, às vezes, intervenções cirúrgicas (Zborowski; Vidal; Correa, 2016).

Assim, este estudo tem como objetivo analisar os desafios e resultados das intervenções de fisioterapia esportiva na reabilitação de atletas jogadores de futebol, com o intuito de identificar as melhores práticas e lacunas no conhecimento, visando otimizar o processo de recuperação e retorno ao esporte. Ao investigar as estratégias utilizadas na fisioterapia esportiva e suas implicações na recuperação dos atletas, espera-se contribuir para o aprimoramento das abordagens terapêuticas e para a promoção de uma prática esportiva mais segura.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia empregada nesta pesquisa, que aborda a importância da fisioterapia esportiva, foi a revisão integrativa da literatura, conduzida com o objetivo de examinar os desafios e resultados das intervenções de fisioterapia esportiva na reabilitação de atletas. Esse método permite reunir e sintetizar dados de diferentes estudos, combinando artigos teóricos e empíricos para alcançar resultados mais abrangentes e consistentes (Souza; Silva; Carvalho, 2010). O processo foi realizado em oito etapas: (I) definição do tema, (II) busca por estudos na base de dados Web of Science, (III) estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão, (IV) seleção dos estudos, (V) triagem sistemática dos estudos pré-selecionados, (VI) análise crítica dos estudos, (VII) interpretação e discussão dos dados e (VIII) síntese das informações extraídas dos artigos selecionados (Galvão; Pereira, 2014). Não foi necessária a submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa, visto que a investigação se baseou exclusivamente em publicações previamente divulgadas, sem envolver intervenção direta em seres humanos.

2.1 Coleta de dados

Os dados foram coletados na base Web of Science, utilizando a opção Core Collection em todas as edições, abrangendo publicações dos últimos 4 anos, período de 2021 a 2024. A estratégia de busca foi conduzida por meio da opção Advanced Search, com o termo “fisioterapia esportiva”, em inglês “sports physiotherapy”, sendo palavras-chave pesquisadas juntas e acompanhadas do operador wildcard (*), permitindo a recuperação de variações lexicais associadas aos termos. A construção da query utilizou o operador booleano “AND” entre os termos, com a pesquisa aplicada no campo “Topic”, garantindo a inclusão de artigos cujo título, resumo ou palavras-chave estivessem alinhados com a temática investigada.

Para refinar os resultados, foram aplicados filtros para incluir exclusivamente materiais bibliográficos de acesso aberto e artigos de revisão, excluindo documentos classificados como Early Access e outros tipos não pertinentes. Adicionalmente, a seleção considerou apenas estudos pertencentes às áreas do conhecimento diretamente relacionadas ao escopo da pesquisa, sendo elas: Ciência do Esporte, Reabilitação, Ortopedia, Cirurgia, Serviços de Ciências da Saúde e Cuidados Primários de Saúde, assegurando a relevância dos achados para a análise proposta. Foram adotados três critérios de inclusão: (I) Artigos que os desafios enfrentados na reabilitação de atletas por meio da fisioterapia esportiva; (II) Artigos que apresentem resultados das intervenções fisioterapêuticas em atletas do futebol; (III) Estudos que descrevam metodologias de tratamento utilizadas na fisioterapia esportiva para a recuperação de lesões em atletas jogadores de futebol. E três critérios de exclusão: (I) Fora do escopo da pesquisa; (II) Artigos que tratem da reabilitação fisioterapêutica em populações não atléticas; (III) Estudos com viés metodológico significativo.

3.2 Estudos bibliométricos da relevância por coocorrência de palavras-chave

Um mapa bibliográfico foi elaborado no software VOSviewer a partir dos bancos de dados bibliográficos exportados na base Web of Science, visando analisar qualitativa e quantitativamente a produção científica relativa à fisioterapia esportiva por meio de métodos estatísticos e matemáticos. Os dados exportados que continham o registro completo e as referências citadas de todos os 135 estudos retornados na base de dados, foram disponibilizados ao software e as análises bibliográficas foram realizadas por meio da seleção de parâmetros da coocorrência de palavras-chave dos autores. O parâmetro referente à coocorrência foi selecionado no software para a análise dos materiais bibliográficos obtidos na Web of Science. O referido estudo bibliométrico obteve como unidade de análise as palavras-chave dos autores, com base no método de contagem padrão. O número mínimo de ocorrência de uma palavrachave em cada documento foi limitado a 10 para os dados resultantes da busca do termo “sports physiotherapy”.

3 RESULTADOS 

A busca bibliográfica na base de dados Web of Science resultou em um total de 135 estudos, após a aplicação de todos os filtros e códigos de campo disponíveis na plataforma. Os resultados indicam um aumento no número de publicações ao longo do período analisado, exceto em 2022 (Figura 1), que apresenta uma queda acentuada. Esse declínio pode estar relacionado a fatores específicos que impactaram a produção acadêmica nesse ano, como eventos externos ou outras circunstâncias relevantes.

Figura 1. Evolução do número de publicações de artigos relacionados às palavras-chave “sports physiotherapy” na base de dados Web of Science entre os anos de 2022 e 2024.

Fonte: Elaborada pela autora (2025).

As 135 publicações identificadas na busca pelo termo “sports physiotherapy” foram analisadas de acordo com critérios de inclusão e exclusão previamente definidos. A triagem inicial considerou elementos textuais, como títulos e resumos, para uma seleção preliminar. Posteriormente, os estudos que atendiam aos critérios de inclusão foram submetidos à leitura completa, resultando em uma análise sistemática. Ao final do processo, 14 estudos foram selecionados (Tabela 1).

Tabela 1. Relação do número de artigos obtidos na base de dados Web of Science.

Fonte: elaborada pela autora (2025).

Em relação a bibliométrica de coocorrência das palavras-chave dos autores, essa realizada utilizando o software VOSviewer, conforme os parâmetros previamente estabelecidos. Esse processo resultou na formação de uma rede, abrangendo um total de 38 palavras-chave extraídas dos artigos recuperados a partir da busca pelo termo “sports physiotherapy” na base de dados Web of Science (Figura 2).  No mapa gerado, os clusters identificam os termos mais recorrentes na amostra analisada, sendo que clusters maiores representam palavras-chave de maior frequência nos estudos selecionados. Além disso, as conexões entre os clusters evidenciam a coocorrência dos termos, indicando que os conceitos interligados foram frequentemente citados em conjunto nas publicações analisadas.

Figura 2. Mapa bibliográfico da coocorrência das palavras-chave dos autores nos 135 artigos selecionados na base de dados Web of Science, retornados com a palavra-chave: “sports physiotherapy”.

Fonte: Elaborada pela autora (2025).

A imagem apresenta uma análise de coocorrência de palavras-chave relacionadas à recuperação do ligamento cruzado anterior (LCA), fisioterapia e resultados de tratamento, visualizada através do software VOSviewer. Cada termo é representado por um nó, cujo tamanho indica a frequência de ocorrência, e as conexões entre os nós refletem a força da relação entre os termos. A organização em clusters coloridos destaca diferentes áreas de foco: um cluster vermelho abrange fisioterapia, prática e barreiras; um cluster azul enfoca dados demográficos e necessidades dos pacientes; e um cluster verde aborda resultados do tratamento, como dor e eficácia. Termos como “fisioterapeuta”, “dor”, “tratamento” e “idade” são centrais, indicando sua relevância na pesquisa. A presença de “ligamento cruzado anterior rec”, “cirurgia no joelho”, “atividade física”, “treinamento” e “atleta” sugere um foco específico na recuperação de atletas após lesões.

Ao longo da revisão, os 14 estudos selecionados na triagem sistemática foram examinados sob diversas abordagens do conhecimento. Assim, foi quantificado o número de artigos que tratavam de um ou mais temas relacionados às principais palavras-chave identificadas no mapa bibliométrico (Figura 3).

Figura 3. Gráfico de artigos que abordaram assuntos relacionados às principais palavras-chave dos autores nos 32 estudos selecionados entre os retornados com a palavra-chave: “sports physiotherapy”.

Fonte: Elaborada pela autora (2025).

O gráfico apresenta os estudos analisados na revisão sistemática, estes se concentraram principalmente em temas relacionados ao tratamento (34%) e à perspectiva do atleta (33%), com uma representatividade significativa também da abordagem do fisioterapeuta (25%). O tema da dor (8%), embora presente, foi abordado em uma menor proporção dos estudos. As publicações que atenderam aos critérios de inclusão desta pesquisa foram analisadas com foco em estudos relacionados a fisioterapia esportiva com aplicação no futebol, seja por meio de estudos teóricos ou da aplicação de metodologias e protocolos. No entanto, alguns estudos apresentaram dados relevantes para a pesquisa, embora não seguissem exatamente esse enfoque do estudo, ainda assim contribuindo de maneira significativa para a fundamentação deste trabalho (Tabela 2).

Tabela 2. Lista de artigos selecionados.

Fonte: Elaborada pela autora (2025).

4 DISCUSSÃO

A fisioterapia esportiva desempenha um papel fundamental na reabilitação de atletas, especialmente em modalidades de alta demanda como o futebol, onde as lesões são frequentes e podem comprometer significativamente a performance e a carreira dos jogadores. Os estudos analisados apresentam uma variedade de desafios e resultados associados às intervenções fisioterapêuticas, destacando a complexidade do processo de reabilitação e a necessidade de abordagens multidisciplinares.

Um dos principais desafios identificados é a variabilidade nas práticas clínicas, influenciada por fatores como experiência profissional e recursos disponíveis. Edwards et al. (2024) observaram que fisioterapeutas australianos com maior experiência tendem a utilizar técnicas avançadas, como treinamento com restrição de fluxo sanguíneo (BFR) e exercícios em cadeia cinética aberta (OKC), enquanto profissionais menos experientes enfrentam barreiras como falta de equipamentos e tempo. Essa disparidade ressalta a importância de padronização e capacitação contínua para garantir a eficácia das intervenções.

Além disso, a adesão dos pacientes ao tratamento é um obstáculo significativo. O estudo de Edwards et al. (2024) apontou que 67,8% dos fisioterapeutas relataram dificuldades com a não adesão dos pacientes, o que pode comprometer os resultados da reabilitação. Essa questão é agravada em contextos de limitação de recursos, como durante a pandemia de COVID-19, quando Molina et al. (2022) demonstraram que a tele-reabilitação, apesar de eficaz, exigiu adaptações criativas para superar a falta de equipamentos e a supervisão presencial.

A integração de abordagens multidisciplinares tem se mostrado um fator determinante para o sucesso da reabilitação. Catalá et al. (2021) evidenciaram que intervenções combinadas (psicológicas e fisioterapêuticas) reduziram significativamente a ocorrência de lesões e melhoraram a motivação e a autoconfiança dos atletas em comparação com abordagens isoladas. Esse achado reforça a necessidade de colaboração entre profissionais de diferentes áreas para abordar não apenas os aspectos físicos, mas também os psicológicos da recuperação.

Outro aspecto relevante é o tempo de retorno ao esporte (RTS), que varia conforme a lesão e o protocolo utilizado. Edwards et al. (2024) destacaram que dois terços dos fisioterapeutas recomendam um período de 9 a 12 meses para retorno após lesão do ligamento cruzado anterior (LCA), com ênfase na recuperação da força e na prontidão psicológica. Por outro lado, Jiménez-Rubio et al. (2021) desenvolveram um programa específico para lesões do adutor longo que reduziu o tempo de retorno para 13 dias, sem recidivas em 15 semanas, demonstrando que protocolos personalizados podem acelerar a recuperação.

A utilização de tecnologias e técnicas inovadoras também tem impacto significativo nos resultados. Aysa et al. (2024) relataram o uso bem-sucedido de plasma rico em plaquetas leucocitário (LR-PRP) em um jogador com lesão aguda-crônica do reto femoral, permitindo o retorno ao esporte em sete semanas. Da mesma forma, Pantaleoni et al. (2024) descreveram uma abordagem cirúrgica inovadora combinada com reabilitação precoce para uma fratura complexa da articulação interfalângica proximal, resultando em recuperação completa em seis meses. Esses casos ilustram o potencial de técnicas avançadas para otimizar a reabilitação.

No entanto, a implementação de práticas baseadas em evidências enfrenta obstáculos. Walker et al. (2021) identificaram que o medo de nova lesão e a longa duração do processo são as principais barreiras relatadas pelos pacientes, enquanto um bom relacionamento com o fisioterapeuta é o principal facilitador. Esses achados destacam a importância da comunicação e do suporte emocional durante a reabilitação.

A falta de padronização nos protocolos de reabilitação é outro desafio. Selomo et al. (2023) observaram que fisioterapeutas na África do Sul baseiam suas decisões principalmente em formação acadêmica e experiência prática, com uso limitado de recursos online e pesquisa. Essa realidade pode levar a variações na qualidade do atendimento, especialmente em regiões com menos recursos.

Apesar dos desafios, os resultados positivos são evidentes. Mariani et al. (2021) relataram um caso de variação anatômica rara no menisco medial tratada com sucesso de forma conservadora, enquanto Giorgi et al. (2024) descreveram a recuperação de um jogador com distonia através de uma abordagem integrada que incluiu reeducação neuromuscular e intervenção odontológica. Esses exemplos mostram que, mesmo em casos complexos, a fisioterapia pode alcançar resultados significativos.

A importância da avaliação funcional também foi destacada em vários estudos. Edwards et al. (2024) relataram que 90% dos fisioterapeutas consideram essencial a avaliação préoperatória, com foco em amplitude de movimento e força muscular. Da mesma forma, JiménezRubio et al. (2021) utilizaram critérios funcionais e exames de ultrassom para monitorar a progressão dos atletas em seu programa de reabilitação.

A reabilitação acelerada, quando bem planejada, pode ser eficaz. Pantaleoni et al. (2024) demonstraram que a técnica WALANT permitiu mobilização precoce e redução de edema, enquanto Jiménez-Rubio et al. (2021) alcançaram tempos de retorno ao esporte menores que a média com seu protocolo específico. Esses resultados sugerem que abordagens individualizadas e baseadas em evidências podem otimizar a recuperação.

A tele-reabilitação emergiu como uma alternativa viável em contextos desafiadores. Molina et al. (2022) mostraram que, mesmo durante o lockdown, um jogador com reconstrução do LCA recuperou a funcionalidade através de supervisão remota e adaptações criativas. Esse modelo pode ser particularmente útil em regiões com acesso limitado a serviços especializados.

A prevenção de recidivas é outro aspecto crítico. Jiménez-Rubio et al. (2021) não registraram recidivas em seu programa para lesões do adutor longo, atribuindo o sucesso à integração de exercícios específicos do futebol. Da mesma forma, Catalá et al. (2021) observaram que a intervenção combinada manteve a redução de lesões em longo prazo. A motivação e o suporte psicológico são fundamentais. Walker et al. (2021) destacaram que a satisfação com o fisioterapeuta foi um facilitador chave, enquanto Catalá et al. (2021) mostraram que a abordagem multidisciplinar melhorou a autoconfiança e a motivação intrínseca dos atletas.

A falta de recursos é uma barreira persistente. Edwards et al. (2024) relataram que 69,1% dos fisioterapeutas enfrentam falta de equipamentos, e Selomo et al. (2023) destacaram a insatisfação com salários e a escassez de formação específica. Esses fatores podem limitar a qualidade do atendimento em certos contextos. A necessidade de diretrizes claras é evidente. Ardern et al. (2022) desenvolveram o PERSiST para melhorar a qualidade de revisões sistemáticas em medicina esportiva, fornecendo exemplos práticos para reportar evidências.

Essa iniciativa pode ajudar a padronizar práticas e melhorar a transparência na pesquisa.

Os estudos também destacam a importância da individualização. Iraqui-Rato e CuestaBarriuso (2024) mostraram que fatores como idade e carga de treinamento têm maior impacto no risco de lesão do que o tipo de calçado ou superfície de jogo. Isso reforça a necessidade de avaliações personalizadas para cada atleta. A integração de serviços multidisciplinares em eventos esportivos também foi destacada. Grant et al. (2021) observaram que atletas olímpicos utilizaram massagem, fisioterapia e quiropraxia para recuperação e tratamento de lesões, ressaltando a importância de abordagens diversificadas em contextos de alta demanda.

5 CONCLUSÃO

A análise dos 14 estudos selecionados revelou que a variabilidade nas práticas clínicas, a falta de padronização de protocolos e a adesão dos atletas ao tratamento são os principais desafios enfrentados pelos fisioterapeutas. Além disso, a integração de técnicas inovadoras, como o uso de plasma rico em plaquetas (PRP) e a tele-reabilitação, mostrou-se promissora para acelerar a recuperação e superar limitações de recursos, especialmente em contextos desafiadores, como durante a pandemia de COVID-19.

A abordagem multidisciplinar, que combina intervenções fisioterapêuticas e psicológicas, emergiu como um fator crítico para o sucesso da reabilitação, reduzindo não apenas o tempo de retorno ao esporte, mas também a ocorrência de recidivas. A individualização dos tratamentos, baseada em avaliações funcionais e nas necessidades específicas de cada atleta, foi outro aspecto fundamental para otimizar os resultados.

Em síntese, este trabalho reforça a necessidade de padronização de protocolos baseados em evidências, capacitação contínua dos profissionais e maior integração entre as diferentes áreas da saúde esportiva. A fisioterapia esportiva, quando bem aplicada, não apenas restaura a funcionalidade dos atletas, mas também contribui para a prevenção de novas lesões, promovendo uma prática esportiva mais segura e sustentável. Futuras pesquisas devem focar na elaboração de diretrizes claras e na avaliação de longo prazo dos resultados das intervenções, visando aprimorar ainda mais o campo da reabilitação no futebol.

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1Acadêmica do curso de Bacharelado em Fisioterapia do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma. E-mail: ilarasousamuniz@gmail.com

2Acadêmico do curso de Bacharelado em XXXXXXX do Instituto de Ensino Superior do Sul do Maranhão – IESMA/Unisulma. E-mail: gildene.oliveira@unisulma.edu.br