EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF CONGENITAL SYPHILIS IN SERGIPE FROM 2014 TO 2024
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202504112010
Nicole Campos Centurión1; Pedro Alexandre Leite de Almeida2; Isabela Silva Santos Goetschi3; Beatriz Neiva Guimarães Bomfim4; Anne Beatriz Vieira Tavares5; Lavínea Menezes de Melo6; Maria Cecília Moreira Branco Cajueiro7; Davi Teixeira de Souza8; Iury Duarte Carvalho9; Ana Flávia Alpiano De Lacerda10
Resumo
A sífilis congênita é o resultado da transferência da bactéria Treponema pallidum da mãe para o feto, através da placenta, quando a gestante não recebe o tratamento adequado para doença. Essa transmissão pode ocorrer em qualquer fase da gestação, qualquer estágio da doença e também durante o parto. Diante deste cenário, este estudo tem como objetivo investigar a epidemiologia da sífilis congênita no estado de Sergipe. Trata-se de uma pesquisa epidemiológica, baseada em dados coletados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). As variáveis analisadas incluíram realização do pré-natal, faixa etária do bebê, escolaridade materna, faixa etária da mãe, evolução e cidade. A análise foi limitada aos pacientes acometidos por sífilis congênita no período de 2014 a 2024, período no qual Sergipe registrou 4.242 casos confirmados da doença, que evidencia a persistência da infecção no estado. A região metropolitana de Aracaju registra as maiores taxas da doença sendo 70,3% dos casos. Os resultados constatam que 85,3% das mães de filhos contaminados pela doença realizaram pré-natal, mas possivelmente sem acompanhamento adequado, enquanto 14,6% não tiveram qualquer atendimento. Portanto, o estudo reforça a importância do diagnóstico precoce e da qualificação do pré-natal para reduzir a transmissão vertical da sífilis, dado que é uma problema de saúde pública da região.
Palavras-chave: Sífilis congênita. Pré-natal. Epidemiologia. Saúde Pública
1. INTRODUÇÃO
A Sífilis, é uma doença de transmissão sexual, que ocorre pelo contato com a bactéria Treponema pallidum. Sem o tratamento, essa doença pode evoluir a estágios que comprometem a pele e órgãos internos – esses seriam o coração, fígado e sistema nervoso central (SNC). (SES/SP, 2008).
A Sífilis Congênita é causada pela transmissão do Treponema pallidum da mãe para o feto (transmissão vertical), por meio da placenta, quando a gestante não recebe tratamento adequado ou quando não recebe tratamento algum. A infecção pela Sífilis Congênita pode ser transmitida em qualquer fase da gestação e em qualquer estágio da doença, apresentando riscos que variam de 50% a 100% nos casos de sífilis primária e secundária, 40% na sífilis latente precoce e 10% na sífilis latente tardia. Essa transmissão também pode ocorrer durante o parto. Nos casos de sífilis congênita, cerca de 40% dos bebês afetados podem sofrer aborto espontâneo, natimorto ou óbito perinatal.(SES/SP, 2008).
Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo, ocorrem 340 milhões de casos de doenças sexualmente transmissíveis (DST) por ano, entre as quais 12 milhões são de sífilis e, em 90% dos casos, acontecendo em países em desenvolvimento. No Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), foram notificados 188 445 casos de SC em menores de 1 ano de idade e 2 318 óbitos entre 1998 e junho de 2018, evidenciando a importância comunitária dessa doença. Segundo dados apresentados no Boletim Epidemiológico da Sífilis de 2017, em geral, essas crianças são filhas de mães jovens, pardas (56,8%) e de baixa escolaridade (23,2% apresentavam da 5ª à 8ª série incompleta). (MENDES et al., 2011)
A sífilis congênita é um agravo evitável, desde que a sífilis gestacional seja diagnosticada e tratada precoce e oportunamente. Entretanto, apesar dos esforços, ainda permanece como grave problema de saúde pública e evidencia lacunas especialmente na assistência pré-natal. A maioria dos casos de sífilis congênita é decorrente de falhas, seja na testagem durante o pré-natal, seja no tratamento inadequado ou ausente da sífilis materna. (DOMINGUES et al., 2021)
No estado de Sergipe, a taxa de incidência de sífilis congênita por 1.000 nascidos vivos foi de 19,8 crianças na capital Aracaju e de 16 crianças na UF. Além disso, a taxa de mortalidade registrada também, no ano de 2022, foi de aproximadamente 7,0 crianças por 1.000 nascidos vivos. (DE VIGILÂNCIA; SAÚDE; AMBIENTE, 2023)
Considerando a importância da Sífilis Congênita em Sergipe, especialmente na capital, que enfrenta um intenso processo de expansão urbana, torna-se essencial ampliar o conhecimento sobre a doença. Nesse sentido, esta pesquisa tem como objetivo avaliar os principais aspectos epidemiológicos da Sífilis Congênita no estado de Sergipe.
2. METODOLOGIA
Trata-se de um estudo epidemiológico, retrospectivo com abordagem quantitativa. No presente trabalho, foram obtidos dados referentes à quantidade de indivíduos acometidos por sífilis congênita no período de 2014 a 2024, no estado de Sergipe.
A organização dos dados foi feita por meio do programa Google Planilhas para o devido processamento das informações, sendo estas discutidas à base do referencial bibliográfico, a partir das bases de dados: Pubmed, LILACS, SciElo. Os dados foram avaliados quantitativamente e de maneira descritiva. Somado a isso, foi utilizado o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) para a obtenção de dados do perfil epidemiológico da sífilis congênita em Sergipe no período de 2014 a 2024. As variáveis utilizadas foram realização de pré-natal, momento em que foi confirmada a sífilis materna, faixa etária do bebê, escolaridade materna, faixa etária da mãe , evolução e cidade, organizadas no decorrer dos anos. Os dados coletados foram analisados através do uso de medições de grandeza a partir de técnicas matemáticas como o cálculo de porcentagem, probabilidades, médias, razões e proporções, descritos por Shitsuka et al. (2018).
Por ser um estudo que usa dados públicos, dispensa-se a apresentação ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), segundo a resolução do Conselho Nacional de Saúde (CNS) no 466, de 12 de dezembro de 2012.
3. RESULTADOS
No período de 2014 a 2024, Sergipe registrou 4.242 casos confirmados de sífilis congênita, evidenciando a persistência da infecção no estado. No contexto nacional, o Nordeste apresenta a segunda maior taxa de incidência da doença, ficando atrás apenas do Sudeste. Dentro da região nordestina, Sergipe ocupa a terceira posição em taxa de incidência, sendo superado apenas por Pernambuco e Rio Grande do Norte (Ministério da Saúde, 2024).
Além disso, segundo dados do DATASUS, nenhum dos anos analisados apresentou uma incidência próxima de zero. O número de casos permaneceu elevado e relativamente constante ao longo dos anos, como visto na Figura 1, com pequenas oscilações entre 2014 e 2018(Figura 2). Entre 2018, 2019 e 2020, observou-se um aumento gradual, atingindo o pico de incidência em 2020, quando 12,84% dos casos foram registrados. A partir de 2021, iniciou-se uma tendência de redução, porém, entre 2021 e 2022, essa queda foi pouco expressiva, com uma diminuição de apenas 2,3 pontos percentuais. A maior redução ocorreu entre 2023 e 2024, quando o número de casos caiu de 378 para 146, representando uma queda de 5,5 pontos percentuais e consolidando 2024 como o ano com a menor taxa de incidência do período analisado.
Figura 1- Quantidade de casos confirmados de Sífilis Congênita versus ano.

Fonte: DATASUS
A análise dos casos de Sífilis Congênita entre 2014 e 2024, apresentada na Figura 3, evidencia que, dentre as 10 principais cidades com alta incidência da infecção, os municípios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão registram as maiores taxas da doença no estado, concentrando 70,3% dos casos, o que equivale a 1.995 registros no total. Esses municípios fazem parte da região metropolitana de Aracaju, conhecida como Grande Aracaju, e compartilham fatores de risco que favorecem a disseminação da sífilis adquirida. Entre esses fatores, destacam-se a alta densidade populacional e o intenso fluxo de pessoas, o que aumenta o número de relações sexuais desprotegidas e, consequentemente, as chances de transmissão da infecção e da ocorrência de gestação. O aumento de casos de sífilis adquirida impacta diretamente a incidência de Sífilis Congênita, uma vez que a infecção pode ser transmitida da gestante para o feto durante a gravidez, perpetuando o ciclo da doença na região.
Apesar de também integrar a Grande Aracaju, o município de Barra dos Coqueiros apresenta um número de casos relativamente menor em comparação aos demais, totalizando 114 registros nos últimos anos. Esse quantitativo se assemelha ao de municípios como Lagarto, Itabaiana e Estância, que, embora não pertençam à região metropolitana, concentram um número significativo de casos. Juntos, esses quatro municípios representam aproximadamente 20,1% do total de casos, com 570 registros de Sífilis Congênita ao longo do período analisado. Esse cenário pode ser explicado pelo fato de essas cidades, especialmente as três últimas, serem importantes polos comerciais do estado, caracterizados por uma elevada densidade populacional e intenso fluxo de pessoas. Esses fatores favorecem a disseminação da sífilis adquirida, aumentando, consequentemente, o risco de transmissão vertical e contribuindo para a incidência de Sífilis Congênita entre os recém-nascidos locais.
Outros municípios, como Itabaianinha, Capela e Itaporanga d’Ajuda, também figuram entre as 10 cidades com os maiores índices de Sífilis Congênita, apesar de, juntos, representarem aproximadamente 9% do total de casos. Ao longo do período analisado, esses municípios registraram 258 recém-nascidos diagnosticados com a doença, expondo-os a diversas consequências adversas associadas à infecção congênita.
Nota-se, então, que nessas 10 cidades, o número de casos foi de 2823, representando 66,5% da quantidade total de afetados no estado de Sergipe.
Figura 3 – Número de casos nos 10 municípios com maior incidência do estado de Sergipe por ano

Fonte: DATASUS
No período estudado, conforme indicado na Figura 4, foram analisados 3.947 casos de mães com filhos contaminados por sífilis congênita, após a exclusão de 295 registros ignorados ou em branco. Dentre esses casos, 3.370 mães (85,3%) realizaram o pré-natal. No entanto, considerando a alta taxa de tratamento e detecção de doenças durante o pré-natal, conclui-se que algumas podem não ter dado continuidade ao acompanhamento, o que pode ter comprometido a detecção eficaz da sífilis e levado à transmissão congênita da infecção(BRASIL, 2000).
Por outro lado, 577 mães (14,6%) não realizaram o pré-natal. Nesses casos, a sífilis não foi detectada e, consequentemente, não tratada. Assim, independentemente do contexto, o tratamento da sífilis materna não foi iniciado ou foi conduzido de forma inadequada, aumentando o risco de infecção nos recém-nascidos(BRASIL, 2020).
Figura 4- Quantidade de mães que realizaram ou não o pré-natal no período estudado

Fonte: DATASUS
Ademais, ao considerar o período em que a sífilis foi detectada em mães cujo bebês adquiriram a infecção congênita, observa-se, a partir da Figura 5, que 2.115 mulheres sergipanas tiveram a infecção identificada ainda durante o pré-natal, representando 50,6% dos 4.172 casos analisados, após a exclusão dos registros ignorados ou em branco. Já a detecção da doença no momento do parto ocorreu em 1.671 mulheres (40%), enquanto 350 casos (8,3%) foram diagnosticados após o parto. Além disso, 36 mães não tiveram a sífilis identificada em nenhum momento.
Figura 5- Momento em que a sífilis materna foi identificada

Fonte: DATASUS
O gráfico apresentado na figura 6 fornece informações sobre a faixa etária das mães de crianças diagnosticadas com sífilis congênita ao longo dos anos. Os dados indicam a quantidade de casos registrados por ano e a distribuição desses casos entre diferentes grupos etários maternos.
A maioria dos casos de sífilis congênita ocorre em mães jovens, especialmente nas faixas etárias de 15 a 19 anos e 20 a 24 anos, que concentram o maior número de diagnósticos. Esses grupos registram, respectivamente, 876 e 1.034 casos, correspondendo a 21,7% e 31,8% dos 4.207 casos analisados, após a exclusão de 35 registros em branco. A faixa etária de 25 a 29 anos também apresenta um número significativo, com 914 casos. À medida que a idade materna aumenta, a incidência da doença diminui gradativamente, tornando-se consideravelmente menor entre mulheres de 40 a 44 anos e 45 a 49 anos. Essa distribuição pode estar associada a fatores como menor acesso a informações sobre prevenção, menor adesão ao pré-natal adequado e vulnerabilidades socioeconômicas que afetam especialmente as mães mais jovens
Figura 6- Quantidade total de mães sergipanas, cujos recém-nascidos contraíram sífilis, por faixa etária, no período de 2014 a 2024

Fonte: DATASUS
O gráfico da Figura 7 indica que a maioria das mães apresenta baixa escolaridade. O maior grupo é composto por aquelas com Ensino Fundamental incompleto (5ª a 8ª série), totalizando 1.649 casos. Em seguida, estão as mães com Ensino Médio incompleto (585 casos) e completo (550 casos). Juntas, essas categorias representam aproximadamente 60% dos 3.729 casos analisados, após a exclusão de 513 registros classificados como ignorados ou em branco.
Por outro lado, há um número menor de casos entre mães com Ensino Superior incompleto ou completo, sugerindo que um nível educacional mais alto pode estar associado a um menor risco de sífilis congênita. Da mesma forma, a incidência é relativamente baixa entre mães analfabetas, o que pode estar relacionado a uma menor notificação ou acesso aos serviços de saúde.
Os dados sugerem que mães com menor nível de escolaridade estão mais vulneráveis à transmissão vertical da sífilis, possivelmente devido a menos acesso à informação, menor adesão ao pré-natal e dificuldades no acompanhamento médico.
Figura 7- Quantidade total de mães sergipanas, cujos recém-nascidos contraíram sífilis, por escolaridade, no período de 2014 a 2024

Fonte: DATASUS
O gráfico da Figura 8 apresenta a faixa etária em que os bebês foram diagnosticados com sífilis congênita, evidenciando que a maioria dos casos ocorre nos primeiros dias de vida. Diagnósticos até os 6 dias correspondem a 4.090 casos, ou 96,4% do total, com destaque para os anos de 2020 (544 casos) e 2021 (515 casos), que registraram as maiores taxas de detecção precoce, acompanhando a alta da sífilis congênita em Sergipe nesse período. Esses dados ressaltam a importância da triagem neonatal e do acompanhamento pré-natal para a detecção precoce da infecção.
Embora a maior parte dos diagnósticos aconteça logo após o nascimento, ainda há registros em outras faixas etárias, como entre 7 e 27 dias (122 casos), de 28 dias a menos de 1 ano (24 casos) e, em menor número, entre 1 e 4 anos (6 casos). Essa detecção mais tardia pode indicar falhas no rastreamento durante a gestação ou no atendimento pediátrico, comprometendo a detecção precoce e aumentando o risco de complicações graves.
Figura 8- Faixa etárias das crianças infectadas por sífilis congênita versus ano

Fonte: DATASUS
A grande maioria dos bebês diagnosticados com sífilis congênita (97,2% – 3.806 casos) sobreviveu, conforme demonstrado na Figura 9, especialmente nos anos de 2020 e 2021. Esse período coincidiu com um aumento significativo no número de infecções. Dos 547 casos registrados em 2020 e 523 em 2021(Figura 1), respectivamente, 486 e 476 recém-nascidos sobreviveram. Esses dados reforçam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado, que podem prevenir complicações fatais da doença. Considerando o total de 3.877 casos, após a exclusão de 37 registros, observa-se um alto índice de sobrevivência.
Por outro lado, foram notificados 38 óbitos diretamente atribuídos à sífilis congênita, sendo os anos com maior número de mortes 2020 (5 óbitos), 2022 (7 óbitos) e 2023 (6 óbitos), conforme apresentado na Figura 9. Em 2020, o aumento das mortes acompanhou a alta de casos. Entretanto, chama a atenção o fato de que, mesmo com o crescimento do número de infecções em 2021, não foram registrados óbitos nesse ano.
Além disso, há 33 registros de óbito por outras causas em bebês diagnosticados com sífilis congênita, indicando que, embora a doença estivesse presente, a causa da morte pode ter sido distinta. Esse dado sugere a necessidade de uma investigação mais aprofundada sobre a relação entre a sífilis congênita e outros fatores que possam impactar a saúde dos recém-nascidos.
Embora os números de mortalidade sejam relativamente baixos em comparação com os bebês que sobreviveram, a sífilis congênita continua sendo um problema de saúde pública grave, pois pode levar a sequelas neurológicas, dificuldades no desenvolvimento e outras complicações mesmo nos bebês que sobrevivem.
Os dados reforçam a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado da sífilis na gestação. O pré-natal de qualidade, com a realização de testes para sífilis e o tratamento das gestantes infectadas, é fundamental para reduzir ainda mais a mortalidade e evitar sequelas nos bebês.
Figura 9- Evolução do quadro de sífilis congênita versus ano

Fonte: DATASUS
4. DISCUSSÃO
A análise epidemiológica da sífilis congênita em Sergipe no período de 2014 a 2024 revela a persistência da infecção no estado, com um total de 4.242 casos registrados. Esse elevado número de notificações posiciona Sergipe como o terceiro estado do Nordeste com maior taxa de incidência, ficando atrás apenas de Pernambuco e Rio Grande do Norte. A manutenção dessa alta prevalência pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo falhas na prevenção, diagnóstico tardio, dificuldades de acesso aos serviços de saúde e barreiras socioeconômicas, assim como evidenciado no estudo de Marcelo et al.
A elevada incidência da sífilis congênita no estado reflete um cenário nacional preocupante, uma vez que a sífilis continua sendo um problema significativo de saúde pública no Brasil. Conforme apontado por Ramos Jr. (2022), a persistência da doença está fortemente associada à limitação de acesso ao diagnóstico e tratamento adequados na rede de atenção do SUS, agravada por mudanças institucionais que impactaram o financiamento da Atenção Primária à Saúde. A redução de investimentos no setor pode ter contribuído para a manutenção da transmissão vertical da sífilis, reforçando a necessidade de estratégias mais eficazes para o rastreamento e manejo da doença.
A análise temporal dos casos demonstra que, embora a incidência tenha se mantido elevada ao longo dos anos, houve um pico expressivo em 2020, seguido por uma tendência de queda a partir de 2021. Essa oscilação pode estar relacionada a múltiplos fatores, incluindo mudanças na testagem e notificação da doença, as quais foram realizadas de forma inadequada, de acordo com UFRN (2024). O impacto da pandemia de COVID-19 no acompanhamento pré-natal e no acesso aos serviços de saúde também pode ter influenciado essa variação, considerando que a sobrecarga do sistema de saúde resultou em atrasos diagnósticos e dificuldades na continuidade do cuidado materno-infantil. Essa hipótese é sustentada por Filho et al. (2024), que identificaram um aumento significativo nos casos de sífilis gestacional entre 2019 e 2022, seguido por uma queda expressiva nas notificações em 2023.
A distribuição geográfica dos casos indica uma forte concentração na região metropolitana de Aracaju, com destaque para os municípios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, responsáveis por 70,3% dos casos registrados no estado. Esse padrão sugere que fatores como urbanização acelerada, alta densidade populacional e maior circulação de pessoas podem contribuir para a disseminação da sífilis adquirida, que, por sua vez, eleva o risco de transmissão vertical da infecção (REIS et al., 2018). Cidades do interior, como Lagarto, Itabaiana e Estância, também apresentam incidência significativa, possivelmente devido a sua importância econômica e ao fluxo populacional intenso, o que pode facilitar a propagação da doença.
Os fatores maternos associados à sífilis congênita em Sergipe reforçam a necessidade de aprimoramento das estratégias de prevenção. Embora 85,3% das mães tenham realizado o pré-natal, a transmissão da doença ainda ocorreu, sugerindo falhas no acompanhamento ou na adesão ao tratamento. A elevada proporção de mães jovens (15 a 24 anos) entre os casos registrados aponta para vulnerabilidades específicas dessa população, como menor acesso à informação, menor adesão ao pré-natal e dificuldades socioeconômicas. Além disso, a maior incidência entre mulheres com baixa escolaridade reforça a relação entre nível educacional e acesso a medidas preventivas eficazes, conforme discutido por Conceição, Câmara e Pereira (2019), que associam a vulnerabilidade social à disseminação da sífilis.
O diagnóstico da sífilis materna ocorreu, em sua maioria, durante o pré-natal (50,6%), seguido pelo momento do parto (40%) e, em menor proporção, após o parto (8,3%). Essa distribuição evidencia que, apesar do rastreamento durante a gestação, ainda há falhas na identificação precoce da infecção. O estudo de Goes et al. (2023) aponta que a ineficiência no rastreamento e no manejo da sífilis gestacional pode estar associada a barreiras no atendimento pré-natal, burocracias nos serviços de saúde e dificuldades logísticas no tratamento da gestante e do parceiro. Esses fatores podem explicar a continuidade da transmissão vertical, mesmo quando o pré-natal é realizado.
A evolução dos casos e desfechos demonstra que a maioria dos bebês sobreviveu (97,2%), mas a sífilis congênita pode causar sequelas neurológicas e dificuldades no desenvolvimento. A ocorrência de 38 óbitos atribuídos à doença, concentrados principalmente nos anos de 2020, 2022 e 2023, sugere que fatores como gravidade da infecção, acesso ao tratamento adequado e falhas na atenção primária podem ter contribuído para os óbitos. Portanto, considerando os dados coletados, pode-se inferir que a sífilis congênita continua sendo um desafio significativo em Sergipe, acometendo principalmente mães jovens, de baixa escolaridade e em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Assim, a unificação de esforços na prevenção e tratamento deve priorizar essa população para reduzir os impactos da doença.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo, avaliou a persistência da sífilis congênita como um problema de saúde pública relevante. Foi observado que existe uma grande concentração dos casos nas regiões metropolitanas, sendo eles responsáveis por 70,3% das ocorrências registradas no estado. Dessa forma, evidenciando que cidades com o fluxo populacional intenso contribuem para transmissão vertical da doença.
A limitação do acesso ao diagnóstico e tratamento se provou como um agravante nos casos de sífilis congênita. Os dados apontam que, apesar de 85,3% das mães terem realizado pré-natal, a transmissão da doença ainda ocorreu, sugerindo falhas no acompanhamento ou adesão ao tratamento. Isso pode ser observado no ano de 2020, no qual ocorreu um aumento significativo nas ocorrências devido ao isolamento social.
Ademais, a alta prevalência de casos entre mães jovens e mulheres com baixa escolaridade revela condições específicas desses grupos, como dificuldades no acesso à informação, barreiras econômicas e limitações de acesso a medidas preventivas eficazes. Esses fatores reforçam a grande relação da vulnerabilidade social e a disseminação da sífilis.
Embora baixa taxa de óbitos no período estudado, as inúmeras complicações relacionadas à infecção reforçam a necessidade de ações mais efetivas para a redução da sífilis congênita. Sendo assim, são necessários novos estudos para melhor classificar o motivo da não adesão e falha no acompanhamento pré-natal, bem como para avaliar a evolução dos pacientes com sequelas da doença.
Diante do exposto, este estudo aborda e reforça a necessidade de estratégias de prevenção e educação voltadas para regiões metropolitanas, especialmente em grupos de vulnerabilidade social. Além disso, é essencial a implementação de políticas públicas focadas para a melhoria da qualidade do pré-natal, aprimoramento das estratégias de prevenção e garantia do tratamento adequado, com o objetivo de reduzir a incidência da sífilis congênita no estado de Sergipe.
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1 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: nicole.campos@souunit.com.br . ORCID: https://orcid.org/0009-0001-8367-1170
2 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: pedroalexandre1604@gmail.com .ORCID: https://orcid.org/0009-0001-3025-5077
3 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: isabela.goetschi@souunit.com.br . ORCID: https://orcid.org/0009-0001-2504-8663
4 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: beatrizngb6@gmail.com. ORCID: https://orcid.org/0009-0009-0895-1525
5 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: annebeatrizvt@gmail.com . ORCID: https://orcid.org/0009-0009-6688-4527
6 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: lavinea.menezes@souunit.com.br . ORCID: https://orcid.org/0009-0005-4326-7877
7 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: maria.cajueiro@souunit.com.br . ORCID: https://orcid.org/0009-0004-1975-2939
8 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: davteixeira7@gmail.com . ORCID: https://orcid.org/0009-0006-0386-3110
9 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: iuryjornal@gmail.com
10 Discente do Curso Superior de Medicina da Universidade Tiradentes Campus Farolândia e-mail: ana.alpiano@souunit.com.br