PERCEPTIONS AND PROFILE OF CARERS OF CHILDREN UNDERGOING A PEDIATRIC SURGERY PROCEDURE.
PERCEPCIONES Y PERFIL DE LOS CUIDADORES DE NIÑOS SOMETIDOS A UN PROCEDIMIENTO DE CIRUGÍA PEDIÁTRICA.
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504092001
Gabriel Cardoso de Mesquita1,
Molly Katrina Costa Smithers2,
Cecília Leon Dias3,
Ana Clara Mariano Vieira Oliveira4,
Camille Pinto de Lima5,
Carlos Eduardo Peres Sampaio6
RESUMO
No contexto das cirurgias pediátricas e seus acompanhantes, é importante destacar que, conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069), a criança deve estar devidamente acompanhada e assistida. Objetivo: O objetivo deste estudo foi determinar o perfil das crianças submetidas à cirurgia pediátrica e identificar os principais sentimentos e impactos emocionais dos acompanhantes. Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem qualitativa, realizada com 89 responsáveis em um hospital universitário no Rio de Janeiro, aprovada pelo comitê de ética (parecer nº 2.940.781). A maioria dos acompanhantes eram mulheres, principalmente mães (85,39%), seguidas por pais (11,24%) e uma avó (1,12%). As emoções mais comuns relatadas foram preocupação (39,68%), ansiedade (25,40%) e medo (15,87%), com apenas 4,76% mencionando felicidade ou confiança. Estresse e nervosismo também foram citados (7,94%), geralmente associados a preocupação ou ansiedade. Mais da metade dos acompanhantes (55,06%) enfrentava a situação pela primeira vez, o que intensificou as emoções negativas. O estudo destaca a importância dos acompanhantes para o bem-estar emocional e a recuperação das crianças em cirurgias pediátricas, evidenciando a necessidade de uma comunicação eficaz entre a equipe de saúde e os responsáveis para reduzir a ansiedade e promover a recuperação.
Palavras-chave: Pediatria. Procedimentos Cirúrgicos. Pré-Operatório. Enfermagem.
ABSTRACT
In the context of pediatric surgeries and their companions, it is important to highlight that, according to the Child and Adolescent Statute (Law 8,069), the child must be properly accompanied and assisted. Objective: The objective of this study was to determine the profile of children undergoing pediatric surgery and identify the main feelings and emotional impacts of companions. This is a descriptive research with a qualitative approach, carried out with 89 guardians at a university hospital in Rio de Janeiro, approved by the ethics committee (opinion no. 2,940,781). The majority of companions were women, mainly mothers (85.39%), followed by fathers (11.24%) and a grandmother (1.12%). The most common emotions reported were worry (39.68%), anxiety (25.40%) and fear (15.87%), with only 4.76% mentioning happiness or confidence. Stress and nervousness were also mentioned (7.94%), generally associated with worry or anxiety. More than half of companions (55.06%) were facing the situation for the first time, which intensified negative emotions. The study highlights the importance of companions for the emotional well-being and recovery of children in pediatric surgeries, highlighting the need for effective communication between the healthcare team and those responsible to reduce anxiety and promote recovery.
Keywords: Pediatrics. Surgical Procedures. Pre-Operative. Nursing.
RESUMEN
En el contexto de las cirugías pediátricas y sus acompañantes, es importante resaltar que, según el Estatuto del Niño y del Adolescente (Ley 8.069), el niño debe ser acompañado y asistido adecuadamente. Objetivo: El objetivo de este estudio fue determinar el perfil de los niños sometidos a cirugía pediátrica e identificar los principales sentimientos e impactos emocionales de los acompañantes. Se trata de una investigación descriptiva, con enfoque cualitativo, realizada con 89 tutores de un hospital universitario de Río de Janeiro, aprobada por el comité de ética (dictamen nº 2.940.781). La mayoría de los acompañantes fueron mujeres, principalmente madres (85,39%), seguidas del padre (11,24%) y abuela (1,12%). Las emociones más comunes reportadas fueron preocupación (39,68%), ansiedad (25,40%) y miedo (15,87%), y solo el 4,76% mencionó felicidad o confianza. También se mencionaron estrés y nerviosismo (7,94%), generalmente asociados a preocupación o ansiedad. Más de la mitad de los acompañantes (55,06%) se enfrentaban por primera vez a la situación, lo que intensificaba las emociones negativas. El estudio destaca la importancia del acompañante para el bienestar emocional y la recuperación de los niños en cirugías pediátricas, destacando la necesidad de una comunicación efectiva entre el equipo de salud y los responsables para reducir la ansiedad y promover la recuperación.
Palabras-clave: Pediatría. Procedimientos Quirúrgicos. Preoperatorio. Enfermería.
1. Introdução
As cirurgias pediátricas são procedimentos realizados para tratar uma ampla gama de condições de saúde que afetam as crianças. Essas intervenções exigem não apenas técnicas cirúrgicas especializadas por parte da equipe médica, mas também há a necessidade de um cuidado integral, por parte dos profissionais de enfermagem, que considera o bem-estar emocional da criança e de seus acompanhantes. É essencial o conhecimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069), que garante a ela estar devidamente acompanhada e assistida durante os cuidados de saúde. O estatuto determina: “É um direito da criança e do adolescente e um dever da família – ter um dos pais ou responsáveis como acompanhante em tempo integral durante consultas, exames e internações. A unidade de saúde deve permitir inclusive à mãe menor de 18 anos que acompanhe seu filho.”. Com exceção apenas em casos de abandono e ausência total dos responsáveis, situação em que a direção do hospital no qual a criança foi direcionada, aciona a Vara da Infância e da Juventude (Brasil, 1990).
A presença de acompanhantes nesse contexto evidencia que o cumprimento da legislação não é apenas uma questão de direito, mas também uma estratégia essencial para melhorar os resultados clínicos e a experiência da criança durante o processo de cuidado. Ao transcender o papel legal, atuam significativamente para a recuperação, através do vínculo emocional. Sendo possível notar redução de estresse, aumento da sensação de segurança e o fortalecimento da confiança no ambiente hospitalar, condições que favorecem o bem-estar psicológico e colaboram para o sucesso do tratamento (Rossato et al., 2016).
No momento de internação, seguindo rigorosos protocolos, a equipe de enfermagem deverá realizar uma série de perguntas para obter todas as informações necessárias,, com o objetivo de deixar a criança o mais confortável possível. Sem instigar medo e anseios, os pacientes também ficarão cientes dos procedimentos os quais serão submetidos. Nesse momento há a realização do diagnóstico de enfermagem, a identificação de resultado, o planejamento de enfermagem, a implementação e a reavaliação, atentando-se para complicações e dados como: possíveis riscos de queda e infecção, sobretudo aqueles em classificação de risco (Sobecc, 2017).
Acompanhar uma cirurgia, pela primeira vez, como é o caso da maioria dos acompanhantes de crianças submetidas a cirúrgica pediátrica, é desafiador e preocupante, a tensão se instaura desde o momento de internação e segue até o momento da alta, pelo hospital se tratar de um espaço associado a dor e angústia (Cruz et al., 2024).
Acreditava-se que ao preparar a criança para a ida ao centro cirúrgico, o melhor a se fazer era evitar abordar o assunto e, assim, esconder o que estava sendo feito e vivências que o paciente seria submetido, para que o medo não fosse estimulado. Acontece que tal prática, com o passar do tempo, foi desmistificada por perpassar os direitos da criança estabelecidos pela constituição e não melhorar o medo e tensão sentidos na chegada ao centro cirúrgico (Guimarães et al., 2020).
Por isso, a equipe de enfermagem deve atentar-se a esclarecer dúvidas, passar informações sobre o quadro, estado e andamento do paciente no intuito de serem evitadas surpresas durante o período perioperatório (Balbino, et al., 2021).
A presença do acompanhante é imprescindível para que o paciente sinta-se mais confiante acerca dos procedimentos que será submetido, até porque quando o acompanhante não tem a devida assistência e amparo da equipe de enfermagem, ainda mais no contexto de cirurgias pediátricas, ele não consegue tranquilizar de forma efetiva, a criança que está acompanhando assim, causa prejuízo na recuperação desta. Tornar-se imprescindível a atribuição do enfermeiro de estabelecer uma comunicação esclarecedora ao paciente e seu acompanhante visto que o Conselho Federal de Enfermagem, por meio da Resolução n°564/2017, sobre o novo Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, estabelece, no art° 38, que a classe, obrigatoriamente têm de “prestar informações escritas e/ou verbais, completas e fidedignas, necessárias à continuidade da assistência e segurança do paciente” (D’Oliveira, 2019) (Feitosa et al., 2017).
Em primeiro lugar, segundo relatos estudados, os acompanhantes de cirurgia temem a não identificação de situações que venham a ser alarmantes para futuras complicações, baseando-se em experiências próximas que trazem de suas próprias vivências. Dito isso, não é equivocado associar tais inseguranças com sua vontade de estarem a par da situação, esforçando-se para aprenderem acerca do procedimento, segurança do paciente e possíveis complexidades (Cruz et al., 2024).
Assim foi definido como questões norteadoras: Qual o perfil dos acompanhantes das crianças submetidas a cirurgia pediátrica; Quais os principais sentimentos e impactos emocionais dos acompanhantes e crianças submetidas a cirurgia pediátrica (Broering e Crepaldi, 2018).
Por sua vez, foi delineado como objetivo: determinar o perfil das crianças submetidas a cirurgia pediátrica e identificar os principais sentimentos e impactos emocionais dos acompanhantes das crianças submetidas à cirurgia pediátrica.
A relevância do presente estudo efetua-se com a premissa de alertar a comunidade acadêmica e profissional atuante de enfermagem acerca da importância dos acompanhantes durante todo o processo de cura e recuperação dos pacientes, pontuando a comunicação efetiva entre equipe de saúde e acompanhantes, como um dos principais pilares que possibilite um cenário de melhora breve e total, visto que, assim, assegura-se que os acompanhantes estejam devidamente inteirados do processo num todo, principalmente nos casos de cirurgia pediátrica em que o paciente tem um laço emocional e de dependência muito forte com a figura que está o acompanhando, garantindo ao paciente, sensação de acalento, segurança e conforto (Faquinello, et al., 2007).
2. Metodologia
O presente artigo representou uma pesquisa descritiva seguindo uma abordagem qualitativa, com métodos de coleta de dados que permitem a exploração detalhada e contextualizada da experiência humana, como entrevistas em profundidade, e observação participante. Quando adotado num estudo, esse método permite que o pesquisador se aproxime do entrevistado, instigando seus sentimentos, percepções e mesmo a presença de certos padrões (Gil, 2002).
Sendo um estudo exploratório descritivo por ter como principal meta explicar um fenômeno de maneira abrangente, desenvolvendo a descrição e compreensão de suas características, padrões e como essas relações se estabelecem, enfatizando etapas, como: a definição clara do problema de pesquisa, a formulação de hipóteses ou questões de pesquisa, a seleção adequada da amostra e dos instrumentos de coleta de dados, assim como a análise estatística dos resultados (Gil, 2002).
Este estudo baseia-se na análise mais aprofundada, com tabelas detalhadas, que compõem o lido material de maneira que visa perceber, explorar e compreender com o devido enfoque dos dados coletados. Tais respostas obtidas não têm compromisso de serem objetivas e precisas, sem se preocupar com um único viés de respostas, para que, dessa maneira, se faça viável tal investigação das relações estabelecidas (Leite, 2017).
É necessário que a pesquisa seja íntegra e imparcial, livrando-se de pré-conceitos, predefinições e quaisquer outras formas de juízos, garantindo que vieses não sejam impostos. São questões atribuídas à ética na pesquisa, considerando que o material utilizado para coleta dos dados passou por uma revisão pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob o número nº 2.940.781, e recebeu o aval necessário. Informações confidenciais e pessoais seguirão no sigilo de proteção aos dados cedidos. Para isso foi gerada a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) que estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisas nacionais que envolvam pessoas (Gil, 2002).
Para que saiamos da superficialidade de uma breve resposta, esse estudo se faz indispensável. Através de etapas, intrinsecamente colocadas, como: Definição e objetivos da análise de conteúdo, em que os objetivos são traçados; a codificação e categorização, que consiste no ato de transpassar os dados colhidos através da pesquisa em respostas mais claras, agrupando em categorias ou temas importantes; a validade e confiabilidade, que diz respeito na utilização de técnicas que garantam a confiabilidade dos denominadores obtidos; interpretação e inferência que, basicamente, como o nome sugere, tem ênfase na interpretação das informações coletadas de maneira mais minuciosa; e as aplicações práticas, que visam ampliar o estudo em outros campos, como na comunicação e na sociologia. Além da metodologia detalhada; ênfase na flexibilidade e discussão teórica (Sobecc, 2017).
Compõe esse estudo ao todo 89 pais e responsáveis de crianças em situação cirúrgica, com faixa etária variando de 18 a 67 anos, entrevistados enquanto os pacientes estavam no momento pré-operatório, de maneira voluntária, enfatizando seu consentimento através do Termo Livre e Esclarecido, que os assegura e protege do sigilo de suas respostas e informações, assim como dos pacientes. A pesquisa se baseava num roteiro que dava figura ao estudo realizado. Perguntas como: “Você já havia acompanhado outra cirurgia anteriormente?”, “Como você se sente sabendo que ele irá operar?”, “Como está a recepção da família?”, “Houve alteração no comportamento/humor, alimentação, ou padrão de sono do paciente?” eram proferidas aos acompanhantes, a fim de chegar ao mais conclusivo denominador possível.
Foram observadas variáveis a serem divididas em duas tabelas, sendo a primeira tabela: Grau de parentesco com o paciente, faixa etária, o questionamento se aquele momento representava o primeiro contato acompanhando cirurgia ou se já havia passado por isso antes e o questionamento se houve algum impacto emocional. Já na segunda: Se existiu um ou mais de um impacto e qual o que lhe foi mais prevalente. A pesquisa perdurou de março a dezembro de 2023 no setor de Cirurgia Pediátrica num Hospital Universitário do município do Rio de Janeiro com os acompanhantes das crianças em situação cirúrgica.
As perguntas direcionadas aos acompanhantes têm o intuito de avaliar seu preparo emocional e o amparo cedido pelo hospital, para que nos asseguremos que o paciente tenha a melhor e mais breve recuperação possível, visto que, o acompanhante está inteiramente envolvido nesse momento e essa melhora também depende de como o acompanhante está se sentindo e sendo assistido (Pessoa & Godin, 2023).
É válido pontuar que, contribuindo para a fundamentação desse estudo, foram realizadas pesquisas em periódicos, livros e artigos do período de 2011 até 2024, com o intuito de incrementar as pautas abordadas.
3. Resultados e Discussão
A presença do acompanhante se faz imprescindível para que a recuperação seja facilitada. Especificamente em casos de cirurgias pediátricas, a criança tem de estar, obrigatoriamente, acompanhada de um responsável legal. É esperado que a internação traga desconforto emocional para a família, sobretudo quando não há comunicação eficaz entre os mesmos e a equipe de enfermagem (Sampaio et al., 2023).
São muitos os casos em que carência de explicação para o acompanhante cirúrgico, que, ao não compreender o quadro da criança, não consegue explicar de maneira realmente eficaz e tranquilizadora para o paciente do que se trata, gerando uma total desorganização emocional. O entendimento do procedimento não somente quebra estigmas a respeito da cirurgia como evita situações em que a criança procure acalento no acompanhante e não o tenha, por falta de informação, além da falta de conhecimento acerca da cirurgia segura, que é um documento baseado na lista de verificação de Segurança cirúrgica, criada pela Organização Mundial de Saúde (Azevedo, et al., 2021).
Seguido de um rigoroso checklist, acompanha o momento de pré e pós-operatório, a fim de garantir que o número de vidas salvas seja superior ao número de agravos e complicações cirúrgicas, todos os componentes da equipe de saúde, independente da área, devem seguir à risca tal padrão para que a meta da criação do checklist, anteriormente citada, seja preservada. Junto à equipe, os acompanhantes familiares apresentam fundamental importância nesse processo, pois quando devidamente instruídos a respeito de cada momento, garantindo que suas questões serão sanadas, favorece o menor risco de complicações perioperatórias, assegurando assim, a humanização no centro cirúrgico para que o enfoque não se limite ao paciente, englobando assim, também, sua família e rede de apoio (Ribeiro, et al., 2019) (Cruz et al., 2024).
Tabela 1: Perfil dos acompanhantes das crianças submetidas à cirurgia pediátrica.
Variáveis | n | % |
Grau de parentesco | ||
Mãe | 76 | 85,39 |
Pai | 10 | 11,24 |
Avó | 1 | 1,12 |
Sem resposta | 2 | 2,25 |
Faixa etária | ||
18|-27 | 22 | 24,72 |
28|-37 | 41 | 46,07 |
38|-47 | 17 | 19,1 |
48|-57 | 3 | 3,37 |
58|-67 | 2 | 2,25 |
Sem resposta | 4 | 4,49 |
Média de idade | 38 | |
Acompanhantes que já acompanharam outras cirurgias | ||
Sim | 37 | 41,57 |
Não | 49 | 55,06 |
Sem resposta | 3 | 3,37 |
Acompanhantes que relataram ter sofrido algum impacto emocional devido a cirurgia | ||
Sim | 52 | 58,43 |
Não | 32 | 35,95 |
Sem resposta | 5 | 5,62 |
Total | 89 | 100 |
Fonte: Estudo dos autores (2023).
Analisando o perfil dos acompanhantes a grande maioria é composta pelas mães, com 76 (85,39%), uma vez que o elo entre uma mãe e seu filho é desmesurado, ainda mais no período da primeira infância. Os pais, 10 (11,24%), e uma avó (1,12%). foram os outros acompanhantes observados. A alarmante diferença entre a quantidade de acompanhantes mulheres para a quantidade de acompanhantes homens só enfatiza o quanto a questão do cuidado ainda é colocada sob comando feminino, praticamente isentando os homens dessa tarefa (Broering & Crepaldi, 2018) (Santos et al., 2021).
Em relação à totalidade de acompanhantes que afirmaram já ter acompanhado ou não alguma outra cirurgia, percebeu-se que uma maioria, 49 pessoas (55,06%), nunca havia tido esse contato. Constatou-se também que a quantidade de acompanhantes que relataram ter sentido algum impacto emocional devido a situação cirúrgica da criança foi de 52 (58,43%), enquanto 35,95% relataram não ter sentido nenhum impacto emocional, conforme demonstra a Tabela 1. Tal tensão se faz mais latente no momento do pré-operatório, quando a incerteza prevalece. (Velhote et al., 2016).
Tendo em vista seu perfil e as informações daqueles que relataram ter sentido um impacto emocional, ficou evidenciado que os principais sentimentos são a preocupação (39,68%), a ansiedade (25,4%) e medo (15,87%). Sentimentos menos recorrentes foram surpresa, felicidade, nervosismo, estresse e confiança (Tabela 2)
Tabela 2: Sentimentos e impactos emocionais dos acompanhantes das crianças submetidas a cirurgia pediátrica. RJ, 2023.
Quantidade de respostas | n | % |
Uma única resposta | 39 | 43,82 |
Mais de uma resposta | 13 | 14,61 |
Sem resposta | 5 | 5,62 |
Alegou não sentir nada | 32 | 35,95 |
Sentimentos dos acompanhantes no momento do pré-operatório | ||
Preocupação | 25 | 39,68 |
Ansiedade | 16 | 25,4 |
Medo | 10 | 15,87 |
Surpresa | 3 | 4,76 |
Felicidade | 2 | 3,17 |
Nervosismo | 1 | 1,59 |
Estresse | 1 | 1,59 |
Confiança | 1 | 1,59 |
Outros | 4 | 6,35 |
Fonte: Estudo dos autores (2023).
Quando questionados sobre qual o sentimento dos acompanhantes em relação à criança que está sendo submetida ao procedimento cirúrgico, 39 (43,82%) expressaram apenas uma sensação, 13 (14,61%) deram mais de uma resposta, 5 (5,62%) optaram por não responder, e 32 (35,95%) alegaram não ter sentido nenhum impacto emocional. Entre os sentimentos relatados, notou-se que a emoção predominante era de preocupação (39,68%), seguida de ansiedade, 16 (25,40%) e medo 10 (15,87%). Além disso, do total, somente 3 (4,76%) dos acompanhantes relataram ter sentido a sensação de felicidade ou confiança em relação à cirurgia.
As emoções de surpresa, estresse e nervosismo descritas por 5 (7,94%) dos acompanhantes, em sua maioria, foram acompanhadas também por sentimentos como preocupação, ansiedade ou medo. Além disso, foram mencionados por 4 (6,35%) entrevistados outras sensações não descritas na tabela 2, uma vez que, ou não foram expressas com clareza, ou por não referirem somente exatamente a situação cirúrgica em si, mas também seus efeitos, como preocupação com faltas no trabalho devido à ausência para cuidar do paciente.
Ao analisar as correlações entre os achados de ambas as tabelas, verificou-se que entre as variáveis faixa etária dos acompanhantes e os sentimentos vivenciados por eles no pré-operatório não foram obtidos dados significativos. Notou-se que o fato de a maioria (55,06%) estar vivenciando pela primeira vez essa situação impacta diretamente no psicológico dessas pessoas, de forma que, emoções como preocupação, ansiedade e medo tenham se demonstrado predominantes (Sampaio et al., 2021).
Além desse ser um primeiro contato para muitos, alguns acompanhantes também explicaram a presença desses sentimentos pela falta de conhecimento que possuem em relação aos procedimentos cirúrgicos. É válido ressaltar que em alguns casos, se trata da primeira cirurgia a ser realizada na criança, o que gera questões de insegurança, medo e ansiedade de ambos os lados, paciente e acompanhante (Sampaio et al., 2021).
A análise dos dados é essencial, pois evidencia ainda mais a importância das orientações e o cuidado de enfermagem sobre o estado emocional dos acompanhantes, no período pré-operatório. Durante a orientação, é essencial que o profissional se atente para o quanto a família entende sobre as informações que lhe são passadas. O uso de palavras acessíveis a compreensão de cada familiar presente, bem como, o esclarecimento de dúvidas, é capaz de reduzir a ansiedade e o medo do acompanhante e da criança, tornando o processo mais harmonioso, podendo influenciar em um bom pós-operatório (De Morais et al., 2018) (Souza et al., 2022).
Além do diálogo efetivo, oferecer conforto e apoio emocional são formas de garantir que os responsáveis das crianças se mantenham tranquilos durante o todo o processo. Portanto, tais resultados evidenciam a importância da assistência de enfermagem durante todo o período operatório, pois as orientações e o cuidado com o bem-estar mental das crianças e seus acompanhantes auxiliam na redução de sensações como ansiedade e medo (De Morais, et al., 2018).
4. Considerações Finais
Diante das pesquisas realizadas e dos dados conclusivos alcançados é importante destacar que, em comum a todos os acompanhantes, a comunicação entre a equipe de saúde e a família é sempre reconhecida como um fator importante na percepção e compreensão da família quanto à situação cirúrgica. Nesse sentido, é fundamental promover uma comunicação ativa, presente, com acolhimento e escuta, com o objetivo de assegurar o bem-estar não somente do paciente, mas de todos os envolvidos no processo, aumentando as chances de uma plena recuperação.
A equipe dos profissionais da saúde, sem distinção, baseando-se no checklist de cirurgia segura, devem garantir que todos os processos que envolvem o procedimento cirúrgico, serão devidamente respeitados, no momento de pré e pós operatório, a fim de garantir o devido preparo para a cirurgia, contemplando uma maior chance de melhora. Os enfermeiros, alinhando o instrumento com a escuta ativa, ao repassarem as informações de maneira eficaz para os acompanhantes, que, serão devidamente amparados pelos mesmos, favorecerão uma maior organização emocional.
Justamente com o intuito de estabelecer uma comunicação efetiva, com troca de saberes, não deixando de oferecer, juntamente, amparo e acolhida a essas pessoas, que se destaca o papel do enfermeiro. Somente através da educação em saúde, esse viés de troca entre paciente, acompanhante e equipe de saúde, ocorre de maneira gradativa e progressiva. Somente assim se fará possível reverter os altos números, por este apontados, de acompanhantes se sentindo ansiosos, com medo e preocupações, adotando uma maior e plena adesão terapêutica.
Sugerimos para os trabalhos futuros o cuidado na observação dos resultados identificados neste estudo para favorecer os cuidados de enfermagem pós operatório e redução de complicações cirúrgicas.
Referências
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1Acadêmico do 5º período de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ. ORCID: https://orcid.org/0009-0003-5754-544X Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil E-mail: bielanime@outlook.com
2Acadêmica do 6º período de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ. ORCID: https://orcid.org/0009-0000-1354-7636 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Email: mollykcsmithers@gmail.com
3Acadêmica do 4º período de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-4517-8104 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, BrasilE-mail: leon.cecilia@graduacao.uerj.br
4Acadêmica do 6º período de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-1533-9786 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil E-mail: marianovieira24@gmail.com
5Acadêmica do 7º período de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da UERJ. ORCID: https://orcid.org/0009-0002-9499-0916 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil E-mail: camzzzp03@gmail.com
6ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6770-7364 Professor Titular do Departamento de Enfermagem Médico- Cirúrgica da Universidade do Estado Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil E-mail: carlosedusampa@yahoo.com.br