INTERVENÇÃO NUTRICIONAL NO MANEJO DOS SINTOMAS DE “CHEMOBRAIN” EM SOBREVIVENTES DE CÂNCER DE MAMA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504081242


Sandra Mariano de Andrade
Mayla de Andrade Pereira


RESUMO

O tratamento quimioterápico se mantém em primeira posição dentre as variadas formas terapêuticas de tratamento do câncer de mama. Mesmo embora sendo considerada uma abordagem padrão ouro, evidências apontam que essa terapia impacta negativamente nas funções de memória, atenção, concentração e raciocínio nas sobreviventes do câncer de mama. “Chemobrain” ou cérebro químio é o nome dado a esses sintomas relatados pelas sobreviventes após a quimioterapia. A intervenção nutricional no manejo desses efeitos adversos é relevante e tem como objetivo reverter ou desacelerar o declínio cognitivo e promover qualidade de vida através de estratégias nutricionais. Objetivo: Identificar estratégias nutricionais para tratar a disfunção cognitiva em sobreviventes do câncer de mama proveniente da quimioterapia. Metodologia: Trata-se de uma revisão bibliográfica por meio de pesquisas em base de dados como a PubMed, Scielo, Google Acadêmico, Guidelines (ESPEN, ASBRAN) e sites oficiais (Ministério da Saúde, American Cancer Society e World Health Organiztion). Foi feito um levantamento bibliográfico de artigos datados a partir do ano de 2008 até o ano de 2024. Os termos usados para a busca foram: câncer de mama, quimioterapia, nutrição e câncer e chemobrain. Resultados e Discussão: 41 artigos foram incluídos nesta revisão, os quais apresentaram estudos consistentes sobre os efeitos adversos da quimioterapia na função cognitiva de sobreviventes do câncer de mama, chamados de chemobrain, e estratégias nutricionais no manejo do impacto negativo da ação dos quimioterápicos. Conclusão: A quimioterapia é um tratamento sistêmico considerado padrão ouro no combate ao câncer, contudo, apesar de salvar vidas, pode lesionar as funções cerebrais e afetar a memória, atenção, concentração e raciocínio das sobreviventes do câncer de mama, comprometendo negativamente a qualidade de vida dessa população. Evidências científicas revelam e descrevem a importância de estratégias nutricionais que influenciam positivamente nas funções cerebrais, melhorando a cognição, memória e concentração, e diminuindo o ambiente inflamatório. A intervenção nutricional no manejo dos sintomas do “chemobrain” ajuda não só a amenizar os efeitos adversos, mas também a promover qualidade de vida para essas mulheres.

Palavras-chave: câncer de mama, quimioterapia, nutrição e câncer, chemobrain.

ABSTRACT

Chemotherapy remains the leading treatment option among the various forms of breast cancer treatment. Although it has been considered a gold standard approach, evidence suggests that this therapy impacts memory, attention, concentration, and judgment functions in breast cancer survivors. “Chemobrain” or chemical brain is the name given to these symptoms reported by survivors after chemotherapy. Nutritional intervention in the management of these adverse effects is relevant and aims to reverse or slow down cognitive decline and promote quality of life through nutritional strategies. Objective: to identify nutritional strategies to treat cognitive dysfunction in breast cancer survivors resulting from chemotherapy. Methodology: This is a literature review through searches in databases such as PubMed, Scielo, Google Scholar, Guidelines (ESPEN, ASBRAN), and official websites (Ministry of Health, American Cancer Society, and World Health Organization). A bibliographic survey of articles dated from 2008 to 2024 was carried out. The terms used for the search were breast cancer, chemotherapy, nutrition and cancer and chemebrain. Results and Discussion: 41 articles were included in this review, which included consistent studies on the adverse effects of chemotherapy on the cognitive function of breast cancer survivors, called chemotherapeutics, and nutritional strategies in managing the negative impact of the action of chemotherapeutics. Conclusion: Chemotherapy is a systemic treatment considered our standard in the fight against cancer, however, despite saving lives, it can impair specific functions and affect the memory, attention, concentration and reasoning of breast cancer survivors, compromising the quality of life of this population. Scientific evidence reveals and describes the importance of nutritional strategies that specifically influence specific functions, improving cognition, memory and concentration, and impairing the inflammatory environment. A nutritional intervention in the management of “chemobrain” symptoms helps not only to alleviate adverse effects, but also to promote quality of life for these women.

Keywords: breast cancer, chemotherapy, nutrition and cancer, chemo brain

INTRODUÇÃO

Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA,2020), o câncer de mama ocupa a primeira posição em incidência de câncer em mulheres no mundo. E o principal fator de risco é o envelhecimento. As mulheres entre 65 e 74 anos estão mais propensas a desenvolver a doença (Amenrican Cancer Society, 2023). Estima-se que para o triênio 2023-2025 surjam 703.610 mil novos casos de câncer de mama em mulheres (INCA, 2022). 

Apesar do número crescente de casos, em virtude das ações preventivas como o diagnóstico precoce e tratamento preciso, também houve um aumento de sobrevida das mulheres. Contudo, percebeu-se que ao longo dos anos, os efeitos do tratamento quimioterápico repercutiram negativamente nas funções cerebrais (Noone et al, 2018). Durán-Gómez (et al., 2022) afirmou em seus estudos que a quimioterapia é responsável por alterações funcionais e estruturais no córtex pré-frontal, região do cérebro ligada às funções cognitivas e memória, causando comprometimento cognitivo ou “chemobrain”. O chemobrain pode ocorrer durante ou após o tratamento quimioterápico. Vale ressaltar que nem todas as pacientes/sobreviventes estão propensas a desenvolver esses déficits cognitivos. Geralmente obtém-se uma melhora num período entre 6 meses e 1 ano. Em alguns casos, esse período pode se estender (Santos, et al., 2022). Untura e Rezende (2012) em seus estudos sobre os efeitos do chemobrain nessa população específica elencam alguns possíveis mecanismos de ação pelos quais a quimioterapia causa a deterioração das funções cognitivas: o esquema quimioterápico pode atravessar a barreira hematoencefálica; o dano no DNA aumenta o estresse oxidativo, levando a uma deficiência no processo de reparo; alterações genéticas de neurotransmissores; encurtamento dos telômeros afetando a função antioxidante.

A intervenção nutricional no manejo dos sintomas do chemobrain tem relevante papel na vida das sobreviventes de câncer de mama. Por meio de avaliação adequada e individualizada pode-se estabelecer estratégias alimentares que atendam as demandas nutricionais e promovam a saúde cerebral, incluindo a manutenção da integridade das membranas celulares e produção de neurotransmissores. Costa e Monteiro (2009) apresentam em seus estudos a repercussão positiva de alimentos ricos em compostos bioativos com funções anti-inflamatórias e antioxidantes para o sistema nervoso central, modulando a neurogênese adulta e a plasticidade sináptica e neuronal, e consequentemente acurando a função cognitiva.

As sociedades American Cancer Society (ACS), World Cancer Research Found (WCRF), American Institute of Cancer Research (AICR) e o Consenso Nacional de Nutrição Oncológica reforçam a magnitude de uma alimentação abundante em vegetais, frutas e grãos integrais, e ressaltam a predileção por alimentos, e aconselham a suplementação em casos específicos (Barrère et al, 2017, p.207).

Krause (2018, p.734), em seu livro, atribui ao comportamento alimentar um papel relevante na promoção e prevenção da saúde. Segundo a autora, a escolha correta dos alimentos pode reduzir ou retardar os riscos do câncer, e evitar sua recidiva.

Existe um leque de estudos publicados que revelam o impacto positivo de dietas específicas para a neuroproteção, como a dieta MIND, que se baseia no consumo de vegetais e frutas vermelhas, dieta Mediterrânea e dieta MED-verde. Ressaltando que as recomendações nutricionais precisam ser individualizadas e adaptadas para cada indivíduo, observando a reação metabólica de cada organismo frente a estratégia nutricional traçada (Morris et al.,2015; Ventriglio et al., 2020; KAPLAN et al, 2022)

METODOLOGIA

Essa pesquisa trata-se de uma revisão de literatura, e o levantamento bibliográfico se deu por busca de artigos científicos datados de 2008 até 2024, na base de dados PubMed, Scielo, Google Acadêmico, Guidelines (ESPEN, ASBRAN) e sites oficiais (Ministério da Saúde, American Cancer Society e World Health Organiztion). Os descritores usados para a busca foram “câncer de mama”, “quimioterapia”, “nutrição e câncer” e “chemobrain”. Foram coletados 39 artigos. Os critérios de inclusão se deram por meio de identificação de conteúdo pertinente ao tema do trabalho proposto, na língua portuguesa e inglesa. Os critérios de exclusão se deram para aqueles que eram de pouca relevância e não correspondiam ao interesse da pesquisa.

RESULTADOS

Para esta pesquisa foram encontrados 139 artigos científicos relacionados ao tema proposto na base de dados PubMed, Google Acadêmico e sites oficiais como Ministério da Saúde, World Cancer Research Found (WCRF), American Institute of Cancer Research (AICR) e American Cancer Society (ACS). Dos artigos científicos achados, foram eleitos 41 deles por atenderem aos objetivos e critérios de inclusão do atual estudo. 36 artigos estavam relacionados ao câncer de mama em mulheres e seus efeitos negativos de chemobrain após o tratamento quimioterápico, e 5 estavam relacionados com dietas neuroprotetoras.

DISCUSSÃO 

A quimioterapia é um tratamento sistêmico que traz um resultado positivo para os sobreviventes de câncer de mama, refreando a recorrência e a mortalidade. No entanto, alguns sobreviventes sofrem com os efeitos neurotóxicos da quimioterapia no sistema nervoso central (SNC) resultando no comprometimento cognitivo conhecido como “chemobrain”. Entre os principais sintomas pode-se elencar: esquecimentos frequentes, diminuição da atenção, dificuldade para se concentrar, declínio na aprendizagem e confusão mental (Oliveros et al., 2023; Nguyen e Enrlich, 2020).

Esses sintomas são analisados antes e após a terapêutica sistêmica adjuvante através da aplicação que questionários como o EORTC QLQ-C30 (Europian Organization for Research and Treatment of Cancer Core Quality of Life Quetionnaire) e FACT-Cog (Functional Assessment of Cancer Therapy – Cognitive Function) que avaliam os dados cognitivos das sobreviventes. São instrumentos validados que avaliam a velocidade de resposta, processamento da fala, memória, memória de curto prazo, atenção e tempo de reação (Ioken, 2022).

Segundo os estudos realizados por Untura e Rezende (2012), pode-se explicar o comprometimento cerebral através das seguintes hipóteses: “…danos à barreira hematoencefálica, danos ao DNA, regulação das citocinas, reparo neural, neurotransmissores e níveis de estrógeno e testosterona” causados pelo tratamento quimioterápico. 

Danos na barreira hematoencefálica são possíveis de ocorrer devido à passagem dos quimioterápicos através desta barreira provocando o aumento da morte celular e reduzindo a divisão celular “da zona subventricular do hipocampo, responsáveis pela função cognitiva normal”. A segunda condição, que diz respeito aos danos no DNA, acontece devido ao estresse oxidativo, ocasionando falha no reparo do DNA e, por conseguinte, o encurtamento do telômero. A disfunção no reparo neural ocorre devido à desregulação na produção de citocinas. O aumento dessas proteínas promove um ambiente inflamatório prejudicando o reparo neural. No paciente com câncer, o crescimento dendrítico fica reduzido, afetando o campo cognitivo. As alterações genéticas dos neurotransmissores influenciam, principalmente, no metabolismo do neurotransmissor dopamina, cujo papel relevante está associado às funções executivas e de memória no córtex frontal. E, por fim, outra hipótese sobre o déficit cognitivo está ligada ao encurtamento dos telômeros, estruturas do DNA que conferem proteção aos cromossomos, devidos às alterações nos níveis dos hormônios estrógeno e testosterona, cujas funções são “a manutenção do comprimento dos telômeros e a capacidade antioxidante”. O encurtamento dessas estruturas também está ligado ao estresse oxidativo e inflamação, podendo causar deficiência no sistema imunológico.

A nutrição é um importante aliado para modificar o comprometimento cognitivo em sobreviventes de câncer de mama após o tratamento quimioterápico. Existem estudos, embora não conclusivos, que demonstram a função neuroprotetora de alguns nutrientes ou grupos alimentares. Os padrões alimentares saudáveis para esta condição de dano cerebral são os que demonstram resultados positivos no que diz respeito à relação nutrição-cognição. Uma dieta composta por alimentos ricos em compostos bioativos, fitoquímicos, vitaminas D e as do complexo B, minerais como ferro, zinco, cobre, magnésio e selênio e grupo alimentares, como por exemplo, frutos do mar, vegetais e frutas, possui melhor repercussão na função neuroprotetiva (Scarmeas et al., 2018; Barrére et al., 2017).

Vannucchi e Jordão Jr. (2014, p.417), afirmam que os vegetais e frutas contribuem nos processos de proteção, prevenção e cura de doenças crônicas já que ativam funções antioxidantes, promovem a remoção de substâncias tóxicas do organismo e incitam a ativação do sistema imune. Os autores descrevem que “em alguns estudos experimentais, extratos obtidos de vegetais crucíferos podem impedir a lesão ao DNA, protegendo as células contra o dano oxidativo”.

Alimentos ricos em carotenos e vitamina E podem impactar positivamente a expressão genética aumentando o potencial antioxidante das células, reduzindo os riscos de câncer de mama e protegendo contra os efeitos degenerativos do sistema nervoso imune e central. Protege contra as disfunções neurológicas cerebrais como a perda da memória e comprometimento cognitivo.

Alimentos fontes de carotenoides são: cenoura, abóbora, batata-doce, espinafre, brócolis e a maioria dos vegetais folhosos verde-escuros. 

Alimentos ricos em vitamina E: azeite de oliva, ovos, abacate, manga, brócolis, amendoim, amêndoa, óleo de fígado de bacalhau, fígado de galinha cozido (Cozzolino, 2018, p.384).

Krause (2018, p.839), em sua obra intitulada de Alimentos, Nutrição e Dietoterapia, ressalta a importância da ingestão adequada de aminoácidos, para a produção de neurotransmissores, minerais e vitaminas através da alimentação.

Costa (2009) também reforça o papel relevante de alimentos compostos de moléculas bioativas com propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, como ácidos graxos ômega-3, que compõem a estrutura cerebral, e polifenóis, na neurogênese adulta.

Além de compor a estrutura cerebral e sintetizar neurotransmissores, os ácidos graxos essenciais: ômega-3 ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosaexaenoico (DHA) melhoram significativamente a função cerebral. As melhores fontes alimentares são peixes tipo salmão, sardinha, atum e frutos do mar (Krause, 2018, p.839).

Os polifenóis são “compostos químicos com propriedades antioxidantes que ajudam na redução do estresse oxidativo e da inflamação e melhoram a saúde cerebral”. Essas substâncias são encontradas, principalmente, em frutas vermelhas e cítricas, vegetais, leguminosas, chás verde e preto e vinho tinto (Ross et al., 2016).

É relevante incluir no cardápio alimentos ricos em aminoácidos como o triptofano, a tirosina e a glicina. Estes são aminoácidos responsáveis pela formação tanto de neurotransmissores quanto de músculos. Seus efeitos positivos são anti-inflamatório, antioxidante e antibiótico. Possui repercussão favorável no humor, qualidade do sono e memória. São encontrados em fontes alimentares de origem animal (peixe, carne bovina, ovos) e vegetal (oleaginosas, cereais, leguminosas, abacate) (Krause, 2018, p. 34).

Os minerais como zinco, cobre, ferro, selênio e magnésio não podem ficar de fora da estratégia alimentar. São minerais com importantes papéis no sistema nervoso central e sistema imune, respiração celular, biossíntese de neurotransmissores, produção de ATP (trifosfato de adenosina), dentre outros. Participam de processos anti-inflamatórios e antioxidantes. As recomendações da ingestão dietética dos minerais devem seguir a DRI (Ingestão Dietética de Referência). Esses minerais podem ser encontrados em pescados e frutos do mar; carnes e ovos; cereais; leguminosas; nozes e sementes; vegetais folhosos verde-escuros; frutas (Krause, 2018, p.1081).

No que se refere às vitaminas, pode-se ressaltar as vitaminas D, C e as do complexo B (B1, B2, B3, B6, B9 e B12). A primeira tem papel crucial na modulação hormonal e imune. Possui atuação anti-inflamatória e antitumoral, possibilitando a apoptose celular. Em adição aos benefícios da vitamina D tem-se o crescimento celular e neuromuscular. Suas fontes naturais (calciferol) podem ser encontradas em salmão, atum, cavala e óleos de peixe, gema de ovo e em leite, iogurtes, queijos e cereais fortificados (Krause, 2018, p.1081).

Cozzolino (2016, p.432)) em sua obra Biodisponibilidade de Nutrientes, afirma que, segundo evidências científicas, a vitamina C, além de seu efeito anticarcinogênico, apropria-se da capacidade antioxidante e possui atividade detoxificante de carcinógenos. As melhores fontes alimentares são as frutas (laranja, acerola, kiwi, goiaba) e vegetais verde-escuros (brócolis, espinafre, couve de bruxelas). Produtos animais possuem pouca vitamina C e esta não é encontrada em grãos.

As vitaminas do complexo B possuem atribuições similares aos da vitamina D. Atua no fortalecimento do sistema imune, na manutenção e crescimento das células nervosas, atuam na síntese de neurotransmissores, ação antitumoral, além de outras funções. As melhores fontes alimentares são: carnes vermelhas, cereais integrais, oleaginosas, leite e seus derivados, ovos, frutas e vegetais de folhas escuras (Cozzolino, 2016).  

Segundo Yan et al. (2015) o padrão alimentar conhecido como Dieta Mediterrânea é considerado um dos modelos dietéticos mais saudáveis do mundo, principalmente pelos seus efeitos positivos na saúde cerebral, além de prevenir doenças cardiovasculares. 

A alimentação Mediterrânea, assim chamada por ser uma alimentação típica de alguns países da região do mar Mediterrâneo (Itália, Grécia, Portugal, Espanha, França e outros), preconiza grãos integrais, vegetais, frutas, legumes, nozes, ervas, especiarias, azeite, salmão, sardinha, atum, carnes magras como as de frango e peru, queijo branco e vinho (Ventriglio et al., 2020).

A dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) é outra abordagem dietética que repercute positivamente na saúde. Criada com o propósito de controlar a hipertensão arterial prioritariamente, mas repercute positivamente na saúde cerebral. Os alimentos que compõem esse padrão alimentar são frutas e vegetais coloridos, aves e peixes, nozes e sementes, laticínios com baixo teor de gordura e baixo teor de gordura saturada. É uma abordagem alimentar rica em vitaminas e minerais que favorecem o bom funcionamento cerebral, preservando suas funções e reduzindo o risco de acidente vascular cerebral, a inflamação e o estresse oxidativo (Daneshzad e Azadbakht, 2018). 

Morris at al. (2015) e Liu et al. (2021) em seus estudos, observaram que a adesão à dieta MIND (Mediterranean-DASH Diet Intervention for Neurodegenerative Delay) pode trazer benefícios para o sistema nervoso central. A Dieta Mind foi desenvolvida para preservar o cérebro e suas funções e promover efeitos protetores no declínio cognitivo. É uma associação da dieta Mediterrânea e a DASH. O que diferencia uma da outra é o consumo de gordura. Os componentes principais da dieta Mind são vegetais de folhas verdes e frutas vermelhas. Outros constituintes que compõem esse perfil nutricional são: azeite de oliva extravirgem, nozes, grãos integrais e fontes de proteína com baixo teor de gordura.

Outro modelo nutricional que promove a saúde cerebral é chamado de Dieta MED-verde. É uma variante da dieta Mediterrânea que se baseia num padrão alimentar constituído por alimentos de origem vegetal, abundante em polifenóis, chá verde, Mankai (planta aquática verde, também conhecida como lentilha d´água, capaz de fornecer uma proteína com todos os nove aminoácidos essenciais) e nozes, com consumo limitado de carne vermelha e processados. Os polifenóis estão relacionados fortemente às ações anti-inflamatória e antioxidante e, além disso, induzem o crescimento celular. Seus benefícios estão relacionados à prevenção do dano cognitivo e ao atraso da neurodegeneração (KAPLAN e Alon et al, 2022).

A diretriz da American Cancer Society (2022) traz recomendações gerais sobre dieta e atividade física para sobreviventes de câncer. Além de fomentar a atividade física regular (considerando o tipo da neoplasia), a diretriz orienta a manter o peso corporal dentro do considerado saudável e acolher um modelo alimentar que atenda às necessidades nutricionais com o objetivo de solucionar carências nutricionais, amenizar os efeitos adversos provenientes do tratamento oncológico, promover qualidade de vida e aumentar a sobrevida. Incluir na estratégia nutricional: vegetais verde-escuro, vermelho e laranja; leguminosas ricas em fibra (feijão, lentilha); frutas com cores variadas; grãos integrais. Evitar, limitar ou não incluir carnes vermelhas e processadas, bebidas açucaradas e alimentos ultraprocessados. Recomenda-se evitar o consumo de bebidas alcoólicas. 

As diretrizes da Sociedade Europeia de Nutrição Clínica e Metabolismo (ESPEN, 2021) recomendam para o sobrevivente de câncer de mama as seguintes condutas: atividade física regular, manutenção de um peso e estilo de vida saudáveis. Uma dieta baseada em vegetais, frutas e grãos integrais, e baixa ingestão de gordura saturada, carne vermelha e álcool.

Barrére (2018) evidencia que as sociedades American Cancer Society (ACS), World Cancer Research Found (WCRF), American Institute of Cancer Research (AICR) e o Consenso Nacional de Nutrição Oncológica, em conformidade com as diretrizes da ESPEN, imprimem a importância de uma alimentação rica em vegetais, frutas e grãos integrais, e orientam o indivíduo a recorrer à suplementação somente em situações específicas.

A diretriz da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral (BRASPEN,2019) recomenda para pacientes sobreviventes do câncer de mama, considerados eutróficos, uma ingestão energética variando entre 25 e 30 kcal/kg/dia e uma ingestão proteica variando entre 0,8-1,0g/kg/dia.

Em relação às recomendações nutricionais, Cominetti (2023) apresenta as seguintes orientações: necessidade energética entre 25-35 kcal/kg/dia; carboidrato entre 45-65%; gordura de 25-35%; proteína de 10 a 35%; recomenda-se 14g de fibras a cada 1.000 kcal; seguir a tabela de Ingestão Dietética de Referência (DRI) para recomendação de vitaminas e minerais. As indicações nutricionais precisam ser individualizadas e ajustadas para cada pessoa, observando os efeitos nutricionais conforme a estratégia projetada.

Em suma, para que o sucesso da intervenção nutricional no manejo dos sintomas de chemobrain aconteça, dependerá do conhecimento científico e habilidade do nutricionista em elaborar uma terapia nutricional eficaz que promova a redução ou remissão dos efeitos adversos da quimioterapia e melhore as funções cognitivas resultando em qualidade de vida para o sobrevivente de câncer de mama.

CONCLUSÃO

A intervenção nutricional no manejo dos sintomas do chemobrain tem relevante papel na vida das sobreviventes de câncer de mama. Por meio de avaliação adequada e individualizada pode-se estabelecer estratégias alimentares que atendam as demandas nutricionais e promovam a saúde cerebral, incluindo a manutenção da integridade das membranas celulares e produção de neurotransmissores. O comportamento alimentar tem papel relevante na promoção e prevenção da saúde. A escolha estratégica dos alimentos pode reduzir, retardar ou reverter os efeitos negativos do chemobrain em sobreviventes do câncer de mama. É imprescindível que o nutricionista tenha conhecimento científico sobre a função quimio e neuroprotetora dos alimentos para que, desta forma, este profissional estabeleça estratégias nutricionais assertivas e eficazes na vida do sobrevivente, garantindo-lhe melhora nas funções cognitivas e ofertando-lhe qualidade de vida. 

BIBLIOGRAFIA.

ALMEIDA, L.C; CARDOSO, M.A. Tiamina, Riboflavina e niacina. In: Cardoso MA, coordenadora. Nutrição e metabolismo: nutrição humana. Rio de Janeiro: Guanabara.

VENTRIGLIO, Antonio, SANCASSIANI, Federica, LATORRE, Maria Paola Contu, Mariateresa, Melanie Di Slavatore, Michele Fornaro and Dinesh Bhugra. Mediterranean Diet and its Benefits on Health and Mental Health: A Literature Review Clinical Practice & Epidemiology in Mental Health, 2020, Volume 16 157. Clinical Practice & Epidemiology in Mental Health. DOI: 10.2174/1745017902016010156, 2020, 16, (Suppl-1, M11) 156-164

BARRÉRE, Ana Paula Noronha. Importância da Alimentação nos sobreviventes de Câncer (Survivors). In: BARRÉRE, Ana Paula. et al. Guia Nutricional em Oncologia. 1. ed. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 2017. Cap. 18. p.204-208

COMIINETTI, Cristiane; COZZOLINO, Silvia M. Franciscato. Recomendações de Nutrientes. 3. ed. São Paulo : International Life Sciences Institute do Brasil – ILSI Brasil, 2023.

Costa, P. R. F. da, & Monteiro, A. R. G. (2009). Benefícios dos Antioxidantes na Alimentação. Saúde E Pesquisa2(1), 87–90. Recuperado de https://periodicos.unicesumar.edu.br/index.php/saudpesq/article/view/996

COZZOLINO, Silvia M. Francisco. Biodisponibilidade de nutrientes. 5. ed. rev. Atual. Barueri, SP: Manole, 2016.  Cap. 29. p. 752-754

Daneshzad E, Azadbakht L. A Quick Review of DASH Diet and its Effect on Mental Disorders. JIMC. 2018;1(1):45-48.

Diretriz BRASPEN de terapia nutricional no paciente com câncer. BRASPEN J, v. 34, supl 1, p. 2-32, 2019

Durán-Gómez, N. et al. Chemotherapy-related cognitive impairment in patients with breast câncer based on functional assessment and NIRS analysis. Journal of Clinical Medicine, v. 11, n.9, p. 2363, 2022.

ESPEN practical guideline: Clinical Nutrition in câncer Muscaritoli, Maurizio et al.Clinical Nutrition, Volume 40, 5ª. edição, 2898 – 2913, maio, 2021 DOI: 10.1016/j.clnu.2021.02.005 

IOCKEN, Fernanda Henriques Soares. Perda cognitiva e de qualidade de vida relacionada à saúde entre mulheres tratadas para o câncer de mama: uma revisão sistemática. Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. Rio de Janeiro, 2022. 39f.;il.

INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Estimativa 2023: incidência do Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2022. Disponível em:  https://www.gov.br/inca/pt-br/assuntos/cancer/numeros/estimativa 

KAPLAN, Alon et al. The effect of a high-polyphenol Mediterranean diet (Green-MED) combined with physical activity on age-related brain atrophy: the Dietary Intervention Randomized Controlled Trial Polyphenols Unprocessed Study (DIRECT PLUS). The American Journal of Clinical Nutrition, v. 115, n. 5, p. 1270-1281, 2022.

Krause : Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 14. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.  Cap. 41. p. 839-840

Liu X, Morris M C, Dhana K, Ventrelle J, Johnson K, Bishop L, Hollings CS, Boulin A, Laranjo N, Stubbs BJ, Reilly X, Carey VJ, Wang Y, Furtado JD, Marcovina SM, Tangney C, Aggarwal NT, Arfanakis K, Sacks FM, Barnes LL. Mediterranean-DASH Intervention for Neurodegenerative Delay (MIND) study: Rationale, design and baseline characteristics of a randomized control trial of the MIND diet on cognitive decline. Contemp Clin Trials. 2021 Mar;102:106270. doi: 10.1016/j.cct.2021.106270. Epub 2021 Jan 9. PMID: 33434704; PMCID: PMC8042655. Contemporary Clinical Trials, Volume 102, 2021, 106270, ISSN 1551-7144,https://doi.org/10.1016/j.cct.2021.106270. (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1551714421000069)

MORRIS, Martha Clare et al. MIND diet slows cognitive decline with aging. Alzheimer’s & dementia, v. 11, n. 9, p. 1015-1022, 2015.

Nguyen LD, & Ehrlich BE (2020). Cellular mechanisms and treatments for chemobrain: Insight from aging and neurodegenerative diseases. EMBO Molecular Medicine, 12(6), e12075. [PubMed: 32346964]

Nutrição Moderna de Shils na saúde e na doença. 11.ed. Barueri, SP: Manole, 2016. cap. 37. p . 494-502

OLIVEIRA, A. F. et al. Perceived cognitive functioning in breast cancer patients treated with chemotherapy compared to matched healthy women: Evidence from a Portuguese study. International Journal of Nursing Practice, v. 29, n. 3, p. e13119, 2023.

OLIVEIRA, M. E. C. et al. Cognitive impairments associated with chemotherapy in women with breast cancer: a meta-analysis and meta-regression. Brazilian Journal of Medical and Biological Research, v. 56, p. e12947, 2023.

Rock CL, Thomson CA, Sullivan KR, Howe CL, Kushi LH, Caan BJ, Neuhouser ML, Bandera EV, Wang Y, Robien K, Basen-Engquist KM, Brown JC, Courneya KS, Crane TE, Garcia DO, Grant BL, Hamilton KK, Hartman SJ, Kenfield SA, Martinez ME, Meyerhardt JA, Nekhlyudov L, Overholser L, Patel AV, Pinto BM, Platek ME, Rees-Punia E, Spees CK, Gapstur SM, McCullough ML. American Cancer Society nutrition and physical activity guideline for cancer survivors. CA Cancer J Clin. 2022; 72(3):230-262.

SANTOS, K. L. da G.; PERUSSO, C. O.; SAPATERA, N. de S. .; BRESCIANI, K. D. S. . The relationship between chemotherapy and loss of memory in breast cancer. Research, Society and Development[S. l.], v. 11, n. 7, p. e37411730007, 2022. DOI: 10.33448/rsd-v11i7.30007. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/30007. 

Santos, Karine Lorrayne da Guarda.  A relação entre a quimioterapia e a perda de memória no câncer de mama. Research, Society and Development, v. 11, n. 7, e37411730007, 2022 (CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i7.30007

SCARMEAS, Nikolaos et al. Nutrition and Prevention of Cognitive Impairment. The Lancet Neurology, v. 17, Issue 11, 1006-1015, Novembro, 2018.

Silva Bezerra, R., Avila Gomes, C., Thaís de Melo Oliveira, A., da Silva Barbosa, K., Michel Pereira de Oliveira, O., Vieira Corrêa, L., Renen Sousa Cruz, J., Guimarães Borges, L., Araújo Cardoso Bento , A., Duarte Rodrigues, A., Ayala Zarate, N., de Souza Borges, A., & Daniel Zanoni, R. (2024). Repercussões da quimioterapia na função cognitiva de mulheres com câncer de mamaBrazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 6, edição 11, p.268–280, 2024. https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n11p268-280.

Yian Gu, Adam M. Brickman, Yaakov Stern, Christian G. Habeck, Qolamreza R. Razlighi, José A. Luchsinger, Jennifer J. Manly, Nicole Schupf, Richard Mayeux, Nikolaos Scarmeas. Mediterranean diet and brain structure in a multiethnic elderly cohort. American Academy of Neurology, v. 85n. 20, p. 1744 a 1751.  Novembro 17, 2015.