SENSIBILIZAÇÃO DE PACIENTES SOBRE PREVENÇÃO E CONTROLE DA TUBERCULOSE EM UMA UBS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504071733


Darci Ramos Fernandes1
Alanna Rosa Mota Carvalho Pivatto2
Caroline Ferreira da Silva2
Vanessa Almeida Souza1
Gabriela Tavares de Alencar1
Betânia Nunes Siqueira1


RESUMO 

A tuberculose (TB) é uma das doenças infecciosas mais antigas e prevalentes no mundo e apesar dos avanços significativos nas áreas de diagnóstico e tratamento, a doença ainda representa um grave problema de saúde pública mundial, especialmente em países de baixa e média renda. Objetivo: elevar o nível de conhecimento da população sobre a prevenção e controle da Tuberculose Pulmonar. Métodos: trata-se de um projeto de intervenção de caráter educacional e abordagem construtivista, realizado com os pacientes da Unidade Básica de Saúde da Divinéia, no período de outubro a dezembro de 2024. Resultados: o estudo reforça a necessidade de políticas públicas eficazes que promovam tanto a acessibilidade ao diagnóstico quanto a continuidade no tratamento, além de estratégias educativas que visem reduzir o estigma causado pela doença. Conclui-se que, para haver um avanço no controle da tuberculose em adultos, é necessária a implantação de ações de educação em saúde que envolvam ações de prevenção da doença, promoção à saúde, adesão ao tratamento, além de melhorias estruturais nos sistemas de atendimento, priorizando a população mais vulnerável.  

Palavras-chave: Tuberculose. Educação em saúde. Adesão ao tratamento. 

INTRODUÇÃO 

A tuberculose (TB) é uma das doenças infecciosas mais antigas e letais da história humana, causada pelo bacilo Mycobacterium tuberculosis. Apesar dos avanços significativos nas áreas de diagnóstico e tratamento, a doença ainda representa um grave problema de saúde pública mundial, especialmente em países de baixa e média renda (Souza et al., 2024).  

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022, 202 países e territórios com mais de 99% da população mundial e casos de TB relataram dados da doença e muitos dos casos e óbitos ocorrem em adultos, com maior incidência em homens. A TB é também uma das principais causas de morte entre pessoas com HIV (World Health Organization, 2022). 

A incidência da tuberculose está profundamente associada a fatores socioeconômicos, como a pobreza, condições de vida inadequadas e o acesso limitado a serviços de saúde de qualidade. Em muitas regiões, populações vulneráveis, como moradores de rua, presidiários e migrantes, apresentam um risco significativamente maior de contrair a doença. Esses grupos são frequentemente marginalizados, o que contribui para a propagação da TB (Brasil, 2024). 

Estudos como o de Sousa et al. (2022) apontam que as condições de moradia superlotada e ventilação inadequada facilitam a transmissão do bacilo, uma vez que ele é transmitido pelo ar, através de gotículas expelidas por pessoas infectadas. Além disso, a desnutrição e a imunossupressão, causadas por doenças como o HIV, aumentam a vulnerabilidade à infecção.  

Uma revisão recente de dados globais revelou que o Brasil é um dos países com maiores taxas de incidência de TB nas Américas, especialmente em áreas urbanas (Ferraz Júnior; Botelho, 2022). Programas sociais que visam melhorar as condições de vida, nutrição e acesso à saúde são, portanto, essenciais para o controle eficaz da doença em adultos.  

O diagnóstico precoce da tuberculose é um dos pilares fundamentais para a contenção da doença, porém, ainda enfrenta grandes obstáculos, especialmente em áreas de baixa renda e com infraestrutura de saúde limitada. O diagnóstico da TB pode ser feito por meio de exames clínicos, radiológicos, laboratoriais (como a baciloscopia e o teste rápido molecular para tuberculose) e imunológicos, mas a falta de acesso a esses exames em áreas carentes é um problema persistente (Silva et al., 2020).  

A baciloscopia de escarro é o método mais utilizado, principalmente por ser de baixo custo. Contudo, sua sensibilidade é limitada, especialmente em casos de tuberculose extrapulmonar, comum em pessoas imunossuprimidas. Já o teste rápido molecular, introduzido recentemente no Brasil, oferece maior precisão e rapidez no diagnóstico, mas ainda não está amplamente disponível em todas as regiões (Silva et al. 2021). Além disso, o preconceito social em relação à tuberculose dificulta o diagnóstico precoce. Muitas vezes, as pessoas evitam procurar ajuda por medo de estigmatização, o que contribui para o diagnóstico tardio, agravando o quadro clínico e aumentando a probabilidade de transmissão da doença a outras pessoas (Brasil, 2024). 

O tratamento da tuberculose envolve o uso de uma combinação de antibióticos durante um período de seis a doze meses, dependendo da gravidade da doença e da resposta do paciente (Ferreira et al. 2019). O tratamento é gratuito no Brasil e faz parte do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, que adota o esquema terapêutico recomendado pela OMS. Entretanto, o principal desafio enfrentado pelas autoridades de saúde é a adesão ao tratamento (Brasil, 2024).  

O abandono do tratamento antes de sua conclusão é uma das causas mais significativas da tuberculose multirresistente (TB-MDR), na qual o bacilo desenvolve resistência aos medicamentos mais eficazes, como a rifampicina e a isoniazida. Além disso, casos de tuberculose extremamente resistente (TBXDR), em que a bactéria resiste a quase todos os antibióticos disponíveis, têm se tornado uma preocupação crescente (Brasil, 2020).  

A resistência aos medicamentos é um fenômeno complexo, influenciado por diversos fatores, como a baixa adesão ao tratamento, o uso indevido de antibióticos, a prescrição inadequada e a falta de acompanhamento dos pacientes (Souza et al., 2024). Além disso, as barreiras sociais e culturais, como o estigma e a falta de informação sobre a importância de seguir o tratamento corretamente, também contribuem para o aumento da resistência (Sousa et al., 2022).  

Para enfrentar esse problema, diversos países têm investido em novas estratégias terapêuticas. Recentemente, novos medicamentos, como a bedaquilina e a delamanida, foram aprovados para o tratamento da TB-MDR, e estudos mostram resultados promissores (Silva et al., 2018). Entretanto, o   custo elevado desses medicamentos e a falta de acesso em países de baixa renda ainda são barreiras consideráveis para o seu uso em larga escala.  

Segundo Sousa et al. (2022) o papel da educação em saúde no controle da tuberculose é inegável. A conscientização sobre os sintomas da doença, a forma de transmissão e a importância de aderir ao tratamento completo são fundamentais para reduzir a incidência da TB.  

Programas educativos que envolvem a comunidade, a mídia e os profissionais de saúde são essenciais para combater o estigma causado pela TB, além de garantir que os indivíduos procurem tratamento o mais cedo possível. Desse modo, faz-se necessário elevar o nível de conhecimento da população sobre a prevenção para o diagnóstico precoce e controle da Tuberculose Pulmonar. 

METODOLOGIA 

Tipo e local do estudo 

Trata-se de um projeto de intervenção de caráter educacional e abordagem construtivista, realizado na Unidade Básica de Saúde Divinéia, no município de São Luís, Maranhão, que realiza atendimentos de saúde à população local desde 1980, atualmente contam com 6 equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), realizam a cobertura de aproximadamente 4.700 famílias, da comunidade local e adjacências. 

Participantes da intervenção:   

Todos os pacientes que estavam na UBS no dia em que foi realizada a intervenção aceitaram participar no estudo. A intervenção foi feita na sala de espera de consultas na UBS. Para a realização desse projeto foi utilizado material de fácil manejo, e entendimento como: cadeiras, mesa, papel ofício A4, pinceis, bonecos, materiais ilustrativos, televisão e DVD, panfletos.  

Estratégias e ações  

Inicialmente foi realizada uma reunião com os agentes comunitários de Saúde (ACS) da Estratégia Saúde da Família (ESF), como forma de sensibilizálos acerca de uma atividade educativa que seria realizada. Esta reunião foi coordenada pela enfermeira da ESF, depois de acordado por todos os participantes o melhor dia e horário para a reunião do grupo, as acadêmicas confeccionaram os convites para serem disponibilizados aos adultos maiores de 18 anos e os ACS entregaram com uma semana de antecedência da reunião do grupo. 

Para o desenvolvimento do projeto foram estabelecidas algumas fases. Antes da palestra inicial, houve explicação aos pacientes sobre as especificidades do estudo.  Em seguida, foi aplicado um questionário (forms), onde solicitava-se que preenchessem de acordo com o que sabiam sobre tuberculose. Após a realização da intervenção o mesmo questionário foi aplicado aos participantes para responderem com base nas informações adquiridas. Desta forma, pode-se fazer uma avaliação sobre o que aprenderam sobre medidas de prevenção, controle e transmissão da tuberculose pulmonar. 

  • Critérios de inclusão: pacientes com risco de contrair tuberculose pulmonar.   
  • Critérios de não inclusão:  pacientes que não aceitaram participar da ação.  

Os pacientes sem possibilidade de obter informação.  

A ação educativa em saúde (intervenção), foi realizada com os pacientes, juntamente com uma equipe interdisciplinar composta por seis acadêmicas de medicina, uma enfermeira e uma técnica em enfermagem. A ação teve o propósito de incluir técnicas participativas (discussões grupais e jogos didáticos) com uma hora de duração com cada grupo num total de quatro horas, onde foram abordados os temas de tuberculose e fatores associados: alcoolismo, tabagismo, drogas ilícitas (maconha, crack, cocaína), alimentação, qualidade de vida e as medidas para sua prevenção e controle.  

As orientações transmitidas abordavam sobre:  

  • Informações básicas sobre a tuberculose e seus sintomas. 
  • Medidas de prevenção, incluindo práticas de higiene pessoal e cuidados com o ambiente doméstico. 
  • Dicas para os pacientes sobre como tratar a doença e de como evitar a propagação da tuberculose; 
  • Ilustrações e atividades para reforçar o aprendizado dos pacientes. 

A ação educativa foi realizada no dia agendado, por meio da estratégia de Grupo, definido como sendo uma unidade que se dá quando os indivíduos interagem entre si e compartilham algumas normas e objetivos; visto que grupo ou sistema humano é todo aquele conjunto de pessoas capazes de se reconhecerem em sua singularidade e que estão exercendo uma ação interativa com objetivos compartilhados (RONDON, 2016). 

Monitoramento e avaliação 

Para monitoramento do processo e dos resultados, foram utilizadas metodologias qualitativas e quantitativas, por meio do levantamento de informações coletadas na reunião inicial com os pacientes de risco de tuberculose pulmonar. 

A avaliação do processo, foi realizada durante o desenvolvimento do projeto, incluindo pré e pós-teste na capacitação e avaliação qualitativa.  A avaliação de aquisição de conhecimentos sobre as medidas de prevenção e controle da tuberculose pulmonar foi feita por meio da comparação da pesquisa quantitativa realizada em dois momentos: antes e ao final da intervenção.    

RESULTADOS  

Foi de grande importância a criação de um ambiente confiável e acolhedor para a abordagem da temática, onde os participantes pudessem se sentir acolhidos de forma humanizada. A sala de espera foi o ambiente ideal para compartilharem seus saberes e experiências, fortalecendo suas potencialidades individuais e grupais.  

Ao final desse estudo espera-se implementar um grupo permanente de orientação sobre prevenção e controle da tuberculose pulmonar na unidade de saúde. Criar um ambiente confiável e acolhedor para a abordagem de temas relacionados, bem como fortalecer a interação dos profissionais de saúde e a comunidade. Além disso, contribuirá para esclarecer dúvidas sobre as vias de transmissão da tuberculose pulmonar.  

É esperado também que os participantes ponham em prática o conhecimento adquirido sobre as medidas de prevenção e controle da tuberculose pulmonar para assim diminuir o número de pacientes contagiados com essa doença na comunidade. 

CONCLUSÃO 

Ainda hoje é necessário compreender os principais obstáculos no controle da tuberculose em adultos, apontando para a necessidade de intervenções multifacetadas que combinem tecnologia, educação e políticas públicas robustas, destacando-se a importância de programas de educação em saúde como forma de mitigar o estigma relacionado à TB e melhorar o conhecimento da população sobre a doença. Campanhas educativas que envolvam a comunidade podem aumentar a detecção precoce e melhorar as taxas de adesão ao tratamento.  

A integração de ações é essencial para garantir que as políticas públicas sejam eficazes no combate à tuberculose, também a prática de educação em saúde com uma abordagem integrada e coordenada entre profissionais da saúde, governos, organizações não governamentais e a sociedade civil será possível evitar e reduzir o número de casos de tuberculose existentes. 

REFERÊNCIAS 

BRASIL. Ministério da Saúde. Conitec. Relatório de recomendação. Delamanida para o tratamento de tuberculose multirresistente e tuberculose com resistência extensiva. Brasília: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/ptbr/midias/consultas/relatorios/2020/relatorio_delamanida_tb_mdr_xdr_cp_20_2 020.pdf. Acesso em: 16 out. 2024. 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em saúde. Departamento de Vigilância das doenças transmissíveis. Manual de Recomendações para o controle da tuberculose no Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2019. Atualizado em 29/05/2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/ptbr/centrais-de-conteudo/publicacoes/svsa/tuberculose/manual-derecomendacoes-e-controle-da-tuberculose-no-brasil-2a-ed.pdf/view. Acesso em: 16 out. 2024. 

FERRAZ JÚNIOR; BOTELHO, Vinícius. Dados da OMS mostram que o Brasil é um dos países com maior incidência de tuberculose no mundo. Jornal da USP, 2022. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/dados-da-omsmostram-que-o-brasil-e-o-segundo-pais-no-mundo-em-mortes-por-tuberculose/. Acesso em: 16 out. 2024. 

FERREIRA, Anabelle Bezerra; ROCHA, Roberta de Moraes; ARRUDA, Rodrigo Gomes de. Avaliação de impacto do tratamento diretamente observado no controle da tuberculose em Pernambuco. Planejamento e políticas públicas, n. 53, jul./dez. 2019. Disponível em: https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/10161/1/PPP53_Avalimpacto.pdf Acesso em: 16 out. 2024. 

RONDÓN, YAIMARA FAJARDO. Estratégia educativa para a redução do parasitismo intestinal na área de abrangência do FES Ana Rosa, Bom Despacho, Minas Gerais. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família, Universidade Federal de Minas Gerais, 2016. 

SOUZA, L.O.S., MOUTINHO Jr, J. A., SERENATO, L.S et al. HIV e Tuberculose na população idosa brasileira: análise da visibilidade e incidência na década passada. Revista Brasileira de Revisão de Saúde , [S. l.] , v. 4, pág. e71870, 2024. DOI: 10.34119/bjhrv8n4-263. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/71870. Acesso em: 16 out. 2024. 

SILVA, Denise Rossato et al. Consenso sobre o diagnóstico da tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. Jornal Brasileiro de Pneumologia, v. 47, n. 2, 2021. Disponível em: https://www.jornaldepneumologia.com.br/details/3520/en-US/diagnosis-oftuberculosis–a-consensus-statement-from-the-brazilian-thoracic-association. Acesso em: 16 out. 2024. 

SILVA, Denise Rossato et al. Novos fármacos e fármacos repropostos para o tratamento da tuberculose multirresistente e extensivamente resistente. Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2018;44(2):153-160. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jbpneu/a/yYGcxPR6TtpMMvHDKSwG3xF/?format=pdf&l ang=pt. Acesso em: 16 out. 2024. 

SILVA, Denise Rossato; MELLO, Fernanda Carvalho de Queiroz; MIGLIORI, Giovanni Battista. Série tuberculose 2020. Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2020;46(2):e20200027. Disponível em: http://www.jornaldepneumologia.com.br/details/3307. Acesso em: 16 out. 2024. 

SOUSA, George Jó Bezerra et al. Padrão espaço temporal e fatores associados à incidência de tuberculose: um estudo ecológico. Revista Brasileira de Epidemiologia, 2022;  

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Relatório global sobre tuberculose 2022. 2022. Disponível em: https://www.who.int/teams/global-tuberculosisprogramme/tb-reports/global-tuberculosis-report-2022. Acesso em: 16 out. 2024.


1 Graduandas de Medicina do Instituto de Educação Médica – IDOMED Maranhão
2Graduandas de Medicina da Universidade CEUMA