DIAGNÓSTICO DE FIBROMIALGIA NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À  SAÚDE: UMA REVISÃO NARRATIVA

DIAGNOSIS OF FIBROMYALGIA IN PRIMARY HEALTH CARE: A  NARRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504071448


Lorrany Fernandes Gomes1
Rafael Carvalho Almada Melo2
Ilze Kaippert3


Resumo 

A  dor  crônica  presente  na  fibromialgia  é  reconhecida  como  uma  questão  de  saúde  pública.  A  maioria  dos  pacientes  com  fibromialgia  sofre  com  os  sintomas  por  longos  anos  até  que  o  diagnóstico  seja  confirmado.  Os  critérios  do  Colégio  Americano  de  Reumatologia  (ACR)  surgiram  para  facilitar  e  homogeneizar  seu  diagnóstico.  Esse  trabalho  tem  por  objetivo  realizar  uma  revisão  narrativa  de  literatura  sobre  o  diagnóstico  da  fibromialgia  em  Atenção  Primária  e  pontuar  o  uso  dos  critérios  ACR  para  diagnóstico  da  fibromialgia.  Foi  feita  uma  revisão  narrativa  da  literatura  conduzida  utilizando  a  base  de  dados  MEDLINE  via  PubMed  e  Google  Acadêmico.  Foram  analisadas  8  publicações  abrangendo  o  período  de  2016  a  2024.  Os  critérios  do  ACR  se  modificaram  ao  longo  do  tempo, sendo  o  primeiro  em  1990.  Em  2010  houve  uma  mudança  para  classificação  e  diagnóstico.  Na  atual  revisão  dos  critérios  realizada  em  2016  foi  combinado  os  critérios  de  2010  com  a  versão  de  autorrelato  dos  critérios  de  2011.  A  atenção  primária  à  saúde  exerce  uma  função  crucial  na  detecção  precoce  e  no  tratamento  de  condições  crônicas,  como  a  fibromialgia.  Ainda  que  os  avanços  tecnológicos  na  área  da  saúde  sejam  significativos,  a  literatura  aponta  que  o  diagnóstico  e  tratamento  da  Síndrome  Fibromiálgica  não  exigem  o  uso  de  tecnologias  sofisticadas.  É  possível  realizar  o  diagnóstico  e  oferecer  um  cuidado  abrangente  e  contínuo  por  meio  das  equipes  multidisciplinares  presentes na atenção primária à saúde. 

Palavras-chave: Fibromialgia. Diagnóstico. Atenção  Primária à Saúde. Critérios  diagnósticos. 

Abstract 

Chronic  pain  associated  with  fibromyalgia  is  recognized  as  a  public  health  issue.  Most  patients  with  fibromyalgia  endure  symptoms  for  many  years  before  a  diagnosis  is  confirmed.  The  criteria  established  by  the  American  College  of  Rheumatology  (ACR)  emerged  to  facilitate  and  standardize  its  diagnosis.  This  work  aims  to  conduct  a  narrative  literature  review  on  the  diagnosis  of  fibromyalgia  in  Primary  Care  and  highlight  the  use  of  ACR  criteria  for  diagnosing  fibromyalgia.  A  narrative  literature  review  was  conducted  using  the  MEDLINE  database  via  PubMed  and  Google  Scholar.  Eight  publications  covering  the  period  from  2016  to  2024  were  analyzed.  The  ACR  criteria  have  evolved  over  time,  with  the  first  set  introduced  in  1990.  In  2010,  there  was  a  change  in  classification  and  diagnosis.  The  current  revision  of  the  criteria,  carried  out  in  2016,  combined  the  2010  criteria  with  the  self-report  version  of  the  2011  criteria.  Primary  health  care  plays  a  crucial  role  in  the  early  detection  and  treatment  of  chronic  conditions,  such  as  fibromyalgia.  Although  technological  advancements  in  healthcare  are  significant,  the  literature  indicates  that  the  diagnosis  and  treatment  of  Fibromyalgia  Syndrome  do  not  require  the  use  of  sophisticated  technologies.  It  is  possible  to  make  a  diagnosis  and  provide  comprehensive  and  continuous  care  through  the  multidisciplinary  teams present in primary health care. 

Keywords : Fibromyalgia. Diagnosis. Primary Health  Care. Diagnostic criteria. 

1. INTRODUÇÃO 

A  criação  do  SUS  e  sua  regulamentação  pelas  Leis  8.080,  de  19  de  setembro  de  1990,  e  8.142,  de  28  de  dezembro  de  1990,  estabeleceram  de  forma  clara  os  seguintes  princípios:  o  acesso  universal  aos  serviços  de  saúde  em  todos  os  níveis  de  atendimento;  a  integralidade  da  assistência,  entendida  como  um  conjunto  contínuo  e  coordenado  de  ações  e  serviços  preventivos  e  curativos,  tanto  individuais  quanto  coletivos,  que  são  necessários  para  cada  caso,  independentemente  do  nível  de  complexidade  do  sistema;  e  a  equidade  no  cuidado  à saúde, sem qualquer tipo de discriminação ou favorecimento (ANDRADE, 2000). 

Dando  sequência  a  esse  processo,  o  Ministério  da  Saúde  (MS)  lançou,  no  início  de  1994,  o  Programa  de  Saúde  da  Família  (PSF),  que  mais  tarde  passou  a  ser  denominado  Estratégia  de  Saúde  da  Família  (ESF).  O  programa  se  fundamenta  em  princípios  como  a  territorialização,  a  vinculação  com  a  comunidade,  a  garantia  de  um  atendimento  integral,  a  ênfase  na  promoção  da  saúde,  o  fortalecimento  das  ações  intersetoriais,  o  estímulo  à  participação  da  população  e  o  trabalho  em  equipe  com  uma  abordagem  multidisciplinar,  entre  outros.  O  PSF  foi  criado  com  o  objetivo  de  reorganizar  a  atenção  básica  do  SUS,  com  o  foco  na  descentralização  dos  serviços  de  saúde,  atendendo  às  necessidades  reais  da  população,  que  se manifestam como prioridades e refletem problemas concretos (SOUSA, 2000).  

A  dor  crônica  afeta  entre  20%  e  50%  da  população  mundial,  sendo  a  principal  causa  de  incapacidade.  Muitas  vezes,  a  atenção  primária  é  o  primeiro  contato  para  quem  sofre  com  essa  condição.  Pessoas  com  dor  crônica  têm  1,5  vezes  mais  chances  de  consultar  um  médico  de  atenção  primária  em  comparação  com  aquelas  sem  dor  crônica,  e  entre  22%  e  50%  das  consultas  de  médicos  generalistas  envolvem  casos  de  dor.  Em  um  estudo  realizado  na  Suécia,  37%  das  pessoas  que  procuraram  atenção  primária  devido  à  dor  apresentavam  dor  crônica.  Já  um  estudo  de  um  dia  na  atenção  primária  em  Paris  revelou  que  43%  dos  pacientes  atendidos  relataram  dor,  sendo  que  20%  desses  casos  eram  de  dor  crônica  (em  dor  musculoesquelética,  esse  índice  subia  para  50%).  A  maior  parte  da  dor  crônica  é  tratada  em  serviços  de  saúde  comunitários  ou  de  atenção  primária,  com  apenas  0,3%  a  2%  dos  casos  sendo  encaminhados  para  clínicas  especializadas  em  dor,  enquanto  entre  7%  e  35%  são  direcionados  para  especialistas  de  cuidados  secundários,  como  ortopedistas  ou  reumatologistas.  O  reconhecimento  e  tratamento  da  dor  crônica  são  essenciais  na  atenção  primária  (SMITH  et  al., 2019) .  

Para  o  paciente,  a  dor  pode  não  ser  identificada  como  uma  condição  clínica  específica,  exigindo  uma  abordagem  integrada  para  seu  tratamento.  Além  disso,  a  dor  crônica  é  muitas  vezes  vista  como  um  conjunto  de  condições  menos  prevalentes.  Muitas  pessoas  que  buscam  ajuda  para  doenças  comuns  podem,  na  verdade,  também  ter  dor  crônica,  que,  por  não  ser  analisada  separadamente,  muitas  vezes  não  é  identificada  nas  estatísticas,  ficando  invisível  como uma condição que precisa de tratamento e seguimento adequados (SMITH et al., 2019). 

A  dor  crônica  presente  na  fibromialgia  é  reconhecida  como  uma  questão  de  saúde  pública,  resultando  em  prejuízos  físicos  e  emocionais  significativos,  que  afetam  profundamente  a  qualidade  de  vida  dos  pacientes.  Esses  impactos  se  estendem  a  diferentes  áreas, incluindo o âmbito pessoal, profissional, familiar e social (LEITE et al., 2021). 

A  maioria  dos  pacientes  com  fibromialgia  sofre  com  os  sintomas  por  longos  anos  até  que  o  diagnóstico  seja  finalmente  confirmado.  Nesse  processo,  é  comum  que  passem  por  uma  série  de  exames  e  consultas  com  diferentes  especialistas.  A  atenção  primária  à  saúde  exerce  uma  função  crucial  na  detecção  precoce  e  no  tratamento  de  condições  crônicas,  como  a  síndrome  fibromiálgica.  Além  disso,  o  manejo  adequado  da  síndrome  fibromiálgica  geralmente  requer  estratégias  multidisciplinares,  incluindo  a  educação  do  paciente,  fisioterapia,  terapia  cognitivo-comportamental  e  outras  abordagens  não  farmacológicas.  Entender  como  essas  estratégias  são  aplicadas,  principalmente  em  seu  diagnóstico  na  atenção  primária é de grande importância (SILVA, 2017).  

1.1 FIBROMIALGIA 

Definição  

De  acordo  com  a  Sociedade  Brasileira  de  Reumatologia  a  fibromialgia  (FM)  é  uma  condição  caracterizada  por  dor  muscular  difusa  e  persistente,  que  dura  mais  de  três  meses,  mas  sem  sinais  de  inflamação  nas  áreas  afetadas.  Os  sintomas  associados  incluem  sono  de  baixa  qualidade  e  cansaço  extremo.  Além  disso,  podem  ocorrer  distúrbios  emocionais,  como  ansiedade  e  depressão,  e  muitos  pacientes  relatam  dificuldades  de  concentração  e  problemas  de memória (SOCIEDADE BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA, 2023). 

A  fibromialgia  é  um  distúrbio  caracterizado  por  dificuldades  na  regulação  da  dor  e  é  classificada  como  uma  condição  de  sensibilização  central  (STAUD,  2009).  Indivíduos  com  sensibilização  central  apresentam  uma  maior  sensibilidade  à  dor  devido  à  amplificação  da  sinalização  nervosa  no  sistema  nervoso  central  (SNC).  Eles  percebem  estímulos  dolorosos  com  menor  intensidade  de  estímulo  físico  em  comparação  com  pessoas  saudáveis  (DESMEULES  et  al.,  2003).  Estímulos  dolorosos  curtos  e  repetidos  podem  causar  aumentos  excessivos  da  dor,  em  parte  devido  a  falhas  nos  mecanismos  analgésicos  naturais  do  corpo.  Esse  fenômeno  é  conhecido  como  soma  temporal  da  dor  (O’BRIEN  et  al.,  2018).   Além  disso,  exames  de  neuroimagem  indicam  diferenças  na  atividade  de  áreas  cerebrais  responsáveis  pelo  processamento  da  dor.  Alguns  estudos  sugerem  uma  predisposição  genética  para  o  desenvolvimento  da  fibromialgia,  embora  ainda  não  tenha  sido  identificado  um  gene  específico  (BUSKILA;  SARZI-PUTTINI,  2006).   Parentes  de  primeiro  grau  de  pessoas  com  fibromialgia  têm  13,6  vezes  mais  chances  de  desenvolver  a  doença  (D’AGNELLI  et  al.,  2018). 

Epidemiologia 

De  acordo  com  a  Sociedade  Brasileira  de  Reumatologia  (SBR),  a  fibromialgia  atinge  aproximadamente  de  2%  a  3%  da  população  brasileira,  sendo  mais  comum  em  mulheres  do  que  em  homens,  especialmente  na  faixa  etária  entre  30  e  50  anos  (SOCIEDADE  BRASILEIRA DE REUMATOLOGIA, 2023). 

As  mulheres  possuem  uma  probabilidade  duas  vezes  maior  do  que  os  homens  de  serem  diagnosticadas  com  fibromialgia.  Nos  pacientes  encaminhados  para  clínicas  especializadas  em  tratamento  da  dor  de  nível  terciário,  mais  de  40%  atendem  aos  critérios  diagnósticos  para  fibromialgia.  Além  disso,  o  risco  de  desenvolver  a  condição  é  elevado  entre  indivíduos que já apresentam uma doença reumática preexistente (BRILL et al., 2012). 

Fibromialgia na Atenção Primária  

A  abordagem  das  síndromes  de  dor  generalizada,  incluindo  a  fibromialgia,  deve  estar  fundamentada  nos  princípios  do  cuidado  centrado  no  paciente.  A  compreensão  da  experiência  subjetiva  da  doença  e  da  interpretação  dos  sintomas  pelo  indivíduo  é  essencial  para  o  diagnóstico  e  construção  de  um  plano  terapêutico  eficaz.  Nesse  contexto,  a  escuta  ativa  da  narrativa  do  paciente  desempenha  um  papel  central,  possibilitando  a  reformulação  de  sua  percepção  sobre  a  condição  e  a  promoção  de  uma  visão  mais  positiva  em  relação  ao  diagnóstico e manejo da dor (MCWHINNEY; FREEMAN, 2010). 

O  estabelecimento  de  uma  relação  de  confiança  entre  médico  e  paciente  deve  ocorrer  progressivamente,  ao  longo  de  múltiplas  consultas.  Esse  processo  pode  ser  desafiador,  especialmente  na  presença  de  comorbidades  que  demandam  uma  abordagem  integral  por  parte  do  médico  de  família  e  comunidade.  O  diagnóstico  deve  ser  estabelecido  de  maneira  criteriosa  e,  uma  vez  definido,  torna-se  fundamental  a  educação  do  paciente  sobre  sua  condição,  garantindo  adesão  ao  tratamento  e  alinhamento  de  expectativas  (MCWHINNEY;  FREEMAN,  2010). 

Diante  desse  cenário,  este  estudo  realiza  uma  revisão  narrativa  da  literatura,  esta  pesquisa  foca  em  ressaltar  a  importância  de  selecionar  corretamente  os  instrumentos  para  diagnosticar  a  fibromialgia,  principalmente  no  âmbito  da  Atenção  Primária  como  forma  objetiva  de  entender  os  impactos  na  evolução  do  paciente.  O  objetivo  é  responder  a  algumas  questões  e  auxiliar  na  implementação  de  práticas  profissionais  mais  eficazes  relacionadas  ao  tema. 

2. METODOLOGIA 

Esse  estudo  trata-se  de  uma  revisão  narrativa  literária.  As  revisões  narrativas  são  estudos  amplos,  adequados  para  descrever  e  analisar  o  progresso  de  um  tema  específico,  seja  de  forma  teórica  ou  contextual.  Elas  se  baseiam  principalmente  na  análise  de  materiais  publicados,  como  livros,  artigos  de  revistas  impressas  ou  digitais,  com  a  interpretação  e  avaliação crítica do autor. (LEITE et al., 2021). 

Inicialmente  foi  realizada  uma  busca  na  base  de  dados  MEDLINE  via  PubMed  fazendo  uso  de  descritores,  sinônimos  e  termos  correlatos,  com  a  seguinte  estratégia  de  busca  PICo  (acrônimo  para  problema,  fenômeno  de  interesse  e  contexto):  (“Fibromyalgia”[Mesh] OR  “Fibromyalgias” OR  “Diffuse  Myofascial  Pain  Syndrome” OR “Fibromyalgia-Fibromyositis  Syndrome”  OR  “Fibromyalgia  Fibromyositis  Syndrome”  OR  “Fibromyalgia-Fibromyositis  Syndromes”  OR  “Fibromyositis-Fibromyalgia  Syndrome”  OR  “Fibromyositis  Fibromyalgia Syndrome”  OR  “Fibromyositis-Fibromyalgia  Syndromes”  OR   “Fibrositis”  OR  “Fibrositides”  OR  “Myofascial  Pain  Syndrome,  Diffuse” OR   “Rheumatism,  Muscular”  OR  “Muscular Rheumatism”   OR  “Fibromyalgia,  Primary”  OR  “Fibromyalgias, Primary” OR   “Primary Fibromyalgia”  OR  “Primary  Fibromyalgias”  OR “Fibromyalgia,  Secondary”  OR “Fibromyalgias,   Secondary”  OR “Secondary  Fibromyalgia”  OR  “Secondary  Fibromyalgias”)  AND  ( “Diagnosis”[Mesh]  OR  “Diagnoses”  OR  “Diagnose”  OR “Diagnoses   and  Examinations”  OR  “Diagnoses  and Examination”   OR  “Examination  and  Diagnoses”  OR “Examinations  and  Diagnoses”  OR  “antemortem  Diagnosis”   OR  “Antemortem  Diagnoses” OR  “Diagnoses,  Antemortem”  OR “Diagnosis,   Antemortem”)  AND  Filtro  de  SISTEMATIC  REVIEW  e  REVIEW.  Como  critério  de  inclusão, foram  incluídos   artigos  em inglês  ou   português,  que  apresentavam  abordagem  diagnóstica.  A  pesquisa  foi limitada   ao  ano  de  2003-2025.  Foram excluídos   relatos  de  casos,  artigos sem   acesso e  protocolos  de  estudo.  A   busca  foi  realizada em   março  de 2025 . O  resultado  foi  importado   para  o  Software  Zotero.  Baseado  nos  critérios de   inclusão  e  exclusão,  os  artigos foram   inicialmente  selecionados  com  base  no título  e  resumo.   Posteriormente  os  artigos  selecionados  foram  avaliados  integralmente.  A partir   da  seleção  final,  foi  avaliado  a  bibliografia  e  a seção  “cited   by” do   PubMed,  de cada  artigo  selecionado,   para  a  inclusão  de  novos  artigos,  caso preenchessem  os  critérios citados anteriormente.  

Como  fonte  de  literatura  cinzenta  foi  utilizado  o  Google  acadêmico.  Foram  usados  descritores,  sinônimos  e  termos  correlatos,  com  a  seguinte  estratégia  de  busca  PICo:  “ (“Fibromyalgia”[Mesh] OR “Chronic pain” OR Fibromyalgia Syndrome” OR  “Fibromyositis-Fibromyalgia  Syndromes”  OR  “Fibrositis”  OR  “Fibrositides”  OR  “Myofascial  Pain  Syndrome,  Diffuse”)  AND  (“Primary  care”  “Primary  care”  OR  “Diagnoses”  OR “Diagnose” OR “Diagnoses and Examinations” OR “Diagnoses and Examination”) 

3. RESULTADOS 

Foram  identificados  305  artigos  por  meio  da  estratégia  de  busca  do  Pubmed  e  do  Google  acadêmico  a  leitura  limitou-se  aos  100  primeiros  resultados,  devido  ao  extenso  número  encontrado.  Foi  realizada  a  análise  dos  títulos  e/ou  resumos.  Desses,  43  artigos  foram  selecionados  para  avaliação  do  texto  completo.  Após  a  análise,  35  artigos  foram  excluídos  por  não atenderem aos critérios de inclusão estabelecidos conforme a Figura 1. 

A Tabela 1 fornece uma visão detalhada dos estudos analisados na revisão. 

Das  quatro  revisões  sistemáticas,  três  abordam  os  critérios  diagnósticos  estabelecidos  pelo  Colégio  Americano  de  Reumatologia  (ACR),  sendo  dois  deles  sobre  os  critérios  revisados  de  2016.  Dos  três  estudos  que  relatam  sobre  os  critérios  diagnósticos  de  fibromialgia  na  Atenção  Primária,  dois  trazem  os  critérios  ACR  de  2016  para  diagnóstico  na  Atenção  Primária  e  em  ambos  os  estudos  é  reforçado  a  importância  do  conhecimento  médico  da ferramenta para diagnóstico e classificação da Fibromialgia. 

 Figura 1. Fluxo do processo de seleção dos artigos.

Fonte: elaborado de acordo com o modelo de Moher et al. (2009) 

 Tabela 1. Artigos selecionados para a revisão integrativa.

Título do artigo Autores Ano Tipo de  estudo Objetivos Considerações 
Novas  diretrizes  para o  diagnóstico  da  fibromialgia HEYMANN  et al 2017 Revisão  Sistemática  Estabelecer  diretrizes  baseadas em  evidências  científicas  para  o diagnóstico  da  fibromialgia. Traz nove  recomendações  para o  diagnóstico  da  fibromialgia  com  base nas  evidências  de  literatura incluindo  os  critérios ACR  revisados  em 2016.
Revisões  de  2016  aos  critérios  de  diagnóstico  de  fibromialgia  de  2010/2011  WOLFE F.  et al 2016  Revisão  sistemática Avaliação de  relatórios de  pesquisa  publicados  em  2010-2016  para  fornecer uma  atualização  de  2016  para  os  critérios. Aborda  que  os  critérios  revisados  podem  servir  tanto  para  diagnóstico  quanto para  classificação de  fibromialgia 
Critérios de  diagnóstico da  AAPT ( ACTTION-AP  S Pain  Taxonomy )  para  fibromialgia ARNOLD  LM et al. 2019  Combinação  de  revisões  de  literatura,  discussões  de  consenso  e  análises  de  dados  de  estudos  populacionais Melhorar o  reconhecimento  da  Fibromialgia  na  prática clínica. Cria  a  taxonomia  ACTTION-APS Pain   Taxonomy  (AAPT)  que  é  multidimensional  ,  mas  que  ainda  precisa  de  mais  estudo e  validação.  Ressalta  que  mesmo  com  os  critérios  ACR  que  ainda  não  há  um  padrão  ouro  para o  diagnóstico  da  fibromialgia. 
Assistência à pessoa com síndrome fibromiálgica na  Atenção  Primária à  Saúde:  manejo  e  diagnóstico MAIA, A.  DE S. et al 2024 Revisão  Sistemática Descrever as  intervenções  realizadas  para a assistência do portador de síndrome  fibromiálgica  na atenção  primária à  saúde, Aborda a  importância da  Atenção  Primária  no  diagnóstico  e  tratamento,  principalmente  com  suporte  das  equipes  multiprofissionais 
Explicando  o  diagnóstico  de  fibromialgia  na  atenção  primária:  uma  revisão  de  escopo MCCONNE  LL, K.; 2023 Revisão  de  escopo Revisar  como  uma  explicação  de um  diagnóstico  de  fibromialgia  é  fornecida  na  atenção  primária  para  estabelecer  práticas  ao  educar  os pacientes  sobre  seu diagnósticoElucida a  importância  da  explicação  da  fibromialgia  ao  paciente e a importância da comunicação médica  eficaz  ao  realizar  o  diagnóstico  e  transmitir  para  o  paciente 
Tempo  para  diagnóstico  de  fibromialgia e  fatores  associados ao  diagnóstico 
tardio na  atenção  primária 
GENDELM  AN, O. et al. 2018  Estudo  de  coorte  retrospectivo Avaliar o  tempo  desde  o  aparecimento  dos primeiros  sintomas  até  o  diagnóstico  definitivo da  fibromialgia  e  delinear os  fatores do  paciente  e  do  médico  associados a  esse atraso. Aborda  a  necessidade  de  aumentar  a  conscientização  sobre  a  síndrome  fibromiálgica  entre  os  médicos  para  redução  de  tempo  do  diagnóstico. 
Atualização  sobre a patogênese e  opções  de  tratamento  da  fibromialgia CHINN, S.  et al 2016  Revisão  sistemática Resumir  a  literatura  sobre  manifestações  clínicas,  diagnóstico,  mecanismos  fisiopatológi
cos  e opções  de tratamento  para  pacientes  com  fibromialgia. 
Explica  sobre  as  alterações  fisiopatológicas  da fibromialgia  que gera o  aumento da  sensibilidade  dolorosa.  Explica  também  sobre  os  transtornos de  humor e  alterações  de  sono  dentro  do  quadro. 
Qualidade  subjetiva do  sono como  mediador na  relação  entre  a  intensidade da  dor e o  desempenho da  atenção  sustentada em  pacientes com  fibromialgia  FANG,  S.  et  al 2019 Estudo  transversal Avaliar  a  gravidade  da  dor  com  vigilância  psicomotora  e  atenção  em  pacientes  com  fibromialgia. Constatou  que  a  melhora  da  qualidade  do  sono  pode  compensar  os  efeitos  prejudiciais  da  dor  em  pacientes  com fibromialgia. 

Fonte: elaborada pelo autor 

4. DISCUSSÃO 

A  origem  exata  da  fibromialgia  ainda  não  é  totalmente  esclarecida,  mas  acredita-se  que  uma  interação  complexa  entre  fatores  biológicos,  genéticos  e  socioculturais,  juntamente com  distúrbios  neuroendócrinos,  estresse  e  transtornos  psiquiátricos,  possa  ser  fundamental  para  explicar  seu  desenvolvimento.  A  exposição  prolongada  ao  estresse  pode  prejudicar  o  funcionamento  do  eixo  hipotálamo-hipófise-adrenocortical  (HPA),  resultando  em  um  aumento  na  produção  do  fator  liberador  de  corticotropina,  o  que  poderia  amplificar  a  percepção  da  dor  (MCBETH;  JONES,  2007).  Assim,  a  fibromialgia  é  comumente  caracterizada  como  uma  síndrome  de  sensibilização  central,  na  qual  o  sistema  nervoso  central  se  torna  exageradamente  sensível  aos  estímulos  dolorosos.  Além  disso,  níveis  elevados  de  estresse  e  distúrbios  psiquiátricos  podem  afetar  negativamente  a  percepção  da  gravidade  da  condição,  a  capacidade  funcional, o limiar de dor e a tolerância à dor (HOVEN; GORTER; PICAVET, 2010). 

Uma  meta-análise  recente  sugere  que,  embora  os  dados  indiquem  uma  associação  entre  fibromialgia  e  disfunção  do  eixo  HPA,  os  resultados  são  parcialmente  contraditórios,  sendo  influenciados  por  fatores  como  o  desenho  dos  estudos,  as  populações  de  pacientes  e  os  métodos  analíticos  empregados.  Em  função  disso,  a  evidência  não  fornece  suporte  conclusivo  para  a  presença  de  uma  disfunção  anormal  do  eixo  HPA  em  indivíduos  com  fibromialgia  (BEINER et al., 2023). 

O  sono  desorganizado  também  é  um  componente  marcante  da  fibromialgia.  Alguns  estudos  indicam  que  os  distúrbios  do  sono  podem  anteceder  o  início  da  dor.  Em  uma  pesquisa  realizada  na  Noruega,  constatou-se  que  o  sono  não  restaurador  é  o  principal  preditor  da  dor  generalizada,  e  que  a  interrupção  do  sono  aumenta  o  risco  de  desenvolvimento  da  fibromialgia.  Além  disso,  os  distúrbios  do  sono  têm  um  impacto  significativo  na  atenção,  na  cognição e na intensidade da dor (FANG et al., 2019). 

4.1 Apresentação Clínica 

A  dor  relacionada  à  fibromialgia  possui  algumas  características  específicas:  geralmente  é  difusa  ou  afeta  várias  áreas  do  corpo,  iniciando  de  forma  gradual  e,  muitas  vezes,  intermitente,  mas  com  o  tempo  tornando-se  mais  contínua  (CHINN;  CALDWELL;  GRITSENKO,  2016).  Em  alguns  casos,  a  dor  começa  em  uma  região  localizada,  mas  tende  a  ser  migratória  (SUMPTON;  MOULIN,  2014).  Ela  varia  ao  longo  do  dia,  sendo  mais  intensa  pela  manhã  e  aliviando  conforme  o  dia  avança.  A  dor  pode  ser  classificada  como  aguda  (durando  menos  de  30  dias)  ou  crônica  (com  duração  superior  a  30  dias)  (ARNOLD  et  al.,  2018). 

Além  da  dor,  a  fibromialgia  pode  provocar  uma  série  de  outros  sintomas,  como:  problemas  intestinais,  distúrbios  do  sono,  depressão  e  ansiedade,  fadiga,  maior  sensibilidade  ao  toque  e  à  compressão  muscular,  dificuldades  cognitivas  (como  dificuldades  de  concentração,  esquecimento  e  pensamento  mais  lento  ou  desorganizado;  disfunções  na memória  de  trabalho  e na  função  executiva  são  comuns),  rigidez  muscular  e  maior  sensibilidade  a  estímulos  ambientais  (como  luz,  sons,  odores  e  frio)  (CHINN;  CALDWELL;  GRITSENKO, 2016). 

4.2 Diagnóstico 

O  diagnóstico  da  fibromialgia  se  modificou  com  o  passar  dos  anos.  Segundo  os  critérios  do  American  College  of  Rheumatology  de  1990  (ACR  1990),  baseia-se  principalmente  na  presença  de  dor  generalizada  (acima  e  abaixo  da  cintura,  nos  lados  direito  e  esquerdo  do  corpo,  e  na  região  axial),  além  da  avaliação  física  dos  pontos  dolorosos.  Porém,  esses  critérios  foram  criados  especificamente  para  a  inclusão  de  pacientes  em  estudos  científicos (HEYMANN et al., 2017). 

Os  critérios  estabelecidos  pelo  American  College  of  Rheumatology  (ACR)  em  1990  definiram  que  a  sensibilidade  à  pressão  digital  nos  chamados  tender  points  ou  pontos  dolorosos  deve  ser  avaliada  mediante  a  aplicação  de  uma  força  mínima  de  4  kg/cm²,  de  forma  localizada  e  sem  irradiação.  Esses  pontos  dolorosos  estão  distribuídos  bilateralmente  em  regiões  anatômicas  específicas.  Além  da  dor  generalizada  persistente  por  pelo  menos  três  meses,  o  diagnóstico  considera  sintomas  adicionais,  como  rigidez  matinal,  fadiga,  distúrbios  do  sono  e  hipersensibilidade  à  palpação  em  no  mínimo  11  dos  18  pontos  específicos.  Esses  critérios  foram  amplamente  utilizados  na  caracterização  clínica  da  fibromialgia,  auxiliando  na  padronização da avaliação diagnóstica. (SILVEIRA et al., 2024) 

Os  critérios  de  classificação  dos  pontos  dolorosos  estabelecidos  pelo  ACR  em  1990  foram  alvo  de  críticas,  especialmente  em  três  aspectos  principais:  variabilidade  na  expressão  da  dor,  influência  da  capacitação  profissional  e  particularidades  do  estado  clínico  do  paciente.  Além  disso,  a  precisão  do  exame  depende  da  capacitação  do  profissional  responsável,  visto  que  fatores  subjetivos,  como  a  aplicação  da  pressão  correta,  o  uso  adequado  de  instrumentos  de  medição  e  a  frequência  das  avaliações,  podem  interferir  nos  resultados.  Outro  aspecto  relevante  é  a  variação  do  limiar  de  dor  entre  os  pacientes,  o  que  pode  comprometer  a  uniformidade na aplicação desses critérios diagnósticos. (SILVEIRA et al., 2024) 

Na  prática  clínica,  especialmente  na  atenção  primária,  a  aplicação  de  alguns  critérios  pode  ocorrer  de  maneira  inadequada,  como  no  caso  do  teste  de  avaliação  dos  pontos  dolorosos,  frequentemente  influenciado  pela  falta  de  treinamento  adequado  dos  profissionais  de  saúde.  Como  resultado,  o  diagnóstico  pode  depender  excessivamente  da  interpretação  subjetiva das queixas relatadas pelo paciente (HEYMANN et al., 2017). 

Diante  das  limitações  identificadas  nos  critérios  de  1990,  especialmente  no  que  se  refere  à  avaliação  da  dor,  novas  diretrizes  foram  introduzidas  em  2010  e  posteriormente ajustadas  em  2011.  Essas atualizações  incorporaram  duas  escalas  para  aprimorar  a  precisão  diagnóstica:  o  Índice  de  Dor  Generalizada  (IDG)  ou  Widespread  Pain  Index  (WPI) ,  que  identifica  as  áreas  dolorosas  bilaterais  considerando  a  dor  relatada  nos  últimos  sete  dias,  e  o  Escore  de  Gravidade  dos  Sintomas  (SSS)  ou  Symptom  Severity  Scale  (SSS) ,  que  quantifica  a  gravidade  de  manifestações  somáticas  e  cognitivas,  incluindo  fadiga,  distúrbios  do  sono,  dificuldade de concentração e sintomas depressivos (HEYMANN et al., 2017). 

O  Fibromyalgia  Survey  Questionnaire  (FSQ)  foi  desenvolvido  com  base  nos  critérios  diagnósticos  de  fibromialgia  de  2010/2011  somando  o  WPI  e  o  SSS.  O  Índice  de  dor  generalizada  (Widespread  Pain  Index  –  WPI,  0-19  pontos),  avalia,  através  do  autorrelato,  as  regiões  do  corpo  onde  o  paciente  sente  dor,  e  a  escala  dos  sintomas  (Symptom  Severity  Scale  –  SSS,  0-12  pontos),  que  mede  a  intensidade  dos  sintomas  somáticos  também  por  autorrelato.  A  escala  de  gravidade  da  fibromialgia  (Fibromyalgia  Severity  Scale  –  FSS)  é  calculada  somando-se  os  pontos  do  WPI  e  do  SSS,  resultando  em  uma  pontuação  total  de  0  a  31  pontos.  Por  ser  um  questionário  autoaplicável,  ele  facilita  a  execução  de  pesquisas  e  estudos  epidemiológicos.  O  uso  de  ambos  permite  acurácia  diagnóstica  de  90,8%  (sensibilidade  de  90,9%  e  especificidade  de  85,9%)  quando  comparada  aos  critérios  ACR  1990  (HEYMANN  et  al., 2017). 

Critérios diagnósticos preliminares do Colégio Americano de Reumatologia de 2010:   

  • Uma  pontuação  no  índice  de  dor  generalizada ( WPI)  de 7   ou  mais,  uma  pontuação  de  gravidade  dos  sintomas  (SS)  de  5  ou  mais,  ou  uma  pontuação  no  WPI  de  3  a  6,  e  uma  pontuação SSS de 9 ou mais. 
  • Os sintomas se apresentam em um nível semelhante por no mínimo 3 meses. 
  • Nenhuma outra condição é responsável pela dor do paciente. 

O  WPI  mede  o  número  de  partes  do  corpo  dolorosas  de  uma  lista  de  19  pontos,  enquanto  a  pontuação  SS  estima  a  gravidade  da  fadiga,  disfunção  cognitiva  e  sintomas  psiquiátricos e somáticos.  

O  índice  de  dor  generalizada  usado  nos  critérios  de  2010/2011  avalia  várias  áreas  que  são  problemáticas  para  a  definição  de  um  quadrante  ou  região,  incluindo  dor  na  mandíbula,  tórax  e  abdome.  Na  atual  revisão  realizada  em  2016  (Tabela  2)  dos  critérios,  essas  áreas,  cefaleia  e  dor  facial  não  devem  ser  incluídas  na  definição  de  quadrante  ou  região  de  dor  generalizada.  Com  esta  revisão,  foi  combinado  os  critérios  de  2010  baseados  em  médicos  com  a  versão  de  autorrelato  dos  critérios  de  2011  como  um  conjunto  de  critérios  com  dois  métodos  de  administração,  alterando  a  pergunta  baseada  no  médico  sobre  sintomas  múltiplos  e substituindo  essa  pergunta por  3  perguntas  de  sintomas  curtos,  de  acordo  com  os  critérios  de 2011 ( WOLFE et al., 2016). 

Cada  um  dos  itens  do  critério  de  sintoma  (SSS)  da  modificação  de  2016  pode  variar  em  gravidade,  assim  como  o  WPI.  Quando  aplicados  em  populações,  o  WPI  e  o  SSS,  combinados  no  escore  FSQ,  variam  de  0  (sem  sintomas)  a  31  (sintomas  mais  graves).  Devido  à  forma  como  os  critérios  de  fibromialgia  são  determinados,  um  paciente  com  pontuação  de  12  não  pode  satisfazer  os  critérios,  mas  a  maioria  (92-96%)  daqueles  com  pontuação  menor  que  12  satisfará  os  critérios.  Portanto,  o  uso  do  FSQ  pode  fornecer  um  guia  aproximado  para  o  status  dos  critérios  de  fibromialgia.  Em  pessoas  que  satisfazem  os  critérios,  a  pontuação  FSQ  também  pode  fornecer  uma  medida  aproximada  da  gravidade  da  fibromialgia.  Em  pessoas  que  não  satisfazem  os  critérios,  o  papel  dos  escores  de  FSQ  é  menos  claro.  Para  aqueles  que  receberam  um  diagnóstico  prévio  de  fibromialgia,  um  escore  subsequente  de  12  pode  ser  usado  como  uma  medida  de  melhora  ou  do  estado  atual.  Para  pessoas  que  não  satisfazem  os  critérios  de  fibromialgia  ou  para  aqueles  cuja  classificação  de  critérios  não  foi  aplicada,  o  FSQ  pode  servir  como  uma  medida  do  nível  de  sintomas  do  tipo  fibromialgia. (WOLFE et al., 2016). 

A revisão de 2016 traz as seguintes mudanças (WOLFE et al., 2016): 

  • Altera o   critério  1  para  “índice  de  dor  generalizada  (WPI)  ≥  a  7  e  pontuação  da  escala  de  gravidade  dos  sintomas ( SSS)  ≥ a  5   OU WPI  4 –6  e  pontuação  SSS  ≥ 9 ” ( o  mínimo  do WPI deve ser ≥ 4).  
  • Adiciona  um  critério  de  dor  generalizada  diferente  da  definição  de  dor generalizada   de  1990  (critério  2). A   definição  é:  “A  dor  generalizada  é  definida  como  dor  em  pelo  menos  4  das  5  regiões”.  Nesta definição,   dor  na mandíbula,   tórax  e  abdômen  não  são  avaliadas como parte da definição de dor generalizada.  
  • Padroniza e   torna o   critério  de  2010  e  2011  (critério  3)  redigido  da  mesma  forma:  “Os  sintomas geralmente estão presentes há pelo menos 3 meses”.   
  • Remove   a  exclusão  de  distúrbios que   poderiam  (suficientemente)  explicar  a  dor  (critério  4)  e acrescenta  o   seguinte  texto: “Um  diagnóstico  de  fibromialgia   é válido   independentemente de   outros  diagnósticos.  Um  diagnóstico  de  fibromialgia  não  exclui  a presença de outras doenças clinicamente importantes. 
  • Adiciona  a  escala   de  sintomas de   fibromialgia  como  um  componente completo  dos   critérios  de  fibromialgia.  Cria  um conjunto   de  critérios em   vez  de  ter  critérios  separados de médico e paciente.   

Tabela 2 – Critérios de fibromialgia – Revisão de 2016. Adaptado de WOLFE et al., 2016

¹Dor na mandíbula, tórax e abdômen não são incluídas na definição de dor generalizada.

Diversos  distúrbios  podem  imitar  a  fibromialgia,  como  o  hipotireoidismo  e  doenças  reumáticas  inflamatórias.  Além  disso,  alguns medicamentos,   como  estatinas,  inibidores  de  aromatase,  bifosfonatos  e  opioides,  podem  agravar  a  dor, causando,   por  exemplo,  hiperalgesia  induzida  por opioides.   No  entanto, essas   condições,  assim  como  outras,  como  artrite  reumatoide,  osteoartrite,  lúpus  eritematoso  sistêmico  (LES),  estenose  espinhal,  neuropatias,  síndrome  de  Ehlers-Danlos,  distúrbios  do sono   (como  apneia  do  sono)  e  problemas  de  humor  e  ansiedade,  podem  ocorrer  simultaneamente  em  pacientes  com  fibromialgia.  O  profissional  de  saúde deve   avaliar  como esses   distúrbios  podem contribuir   para  a  condição  do  paciente.  A  presença  de  outras  doenças  não  exclui  o  diagnóstico  de  fibromialgia,  sendo  todas  as  condições que o paciente apresenta requerem atenção clínica (ARNOLD et al., 2018).  

No  que  diz  respeito  aos  exames  complementares,  destaca-se  que  o  diagnóstico  da  síndrome  da  fibromialgia  é  fundamentado em   características  clínicas.  Alguns  testes  laboratoriais  de  triagem  podem  ser  solicitados  para  investigar  outras  possíveis  causas  de  sinais  ou  sintomas.  Esses  exames  incluem  a  taxa  de  sedimentação  de  eritrócitos,  proteína  C-reativa,  hemograma  completo,  painel  metabólico  abrangente  e  teste  de  função  tireoidiana.  Exames  como  o  teste  para  fator  reumatoide  ou  anticorpos  antinucleares,  não  são  recomendados  para  diagnosticar  fibromialgia,  a  menos  que  o  paciente  apresente  sinais  ou  sintomas  que  sugiram  um  distúrbio  autoimune.  Dependendo  dos  sintomas,  do  histórico  médico  e  do  exame  físico,  outros  testes,  como  ferritina,  capacidade  de  ligação  de  ferro  e  porcentagem  de  saturação,  além  dos níveis de vitamina B12 e vitamina D, podem ser indicados (ARNOLD et al., 2018). 

Ainda  que  os  avanços  tecnológicos  na  área  da  saúde  sejam  significativos,  a  literatura  aponta  que  o  diagnóstico  e  tratamento  da  Síndrome  Fibromiálgica  não  exigem  o  uso  de  tecnologias  sofisticadas.  É  possível  realizar  o  diagnóstico  e  oferecer  um  cuidado  abrangente  e  contínuo  por  meio  das  equipes  multidisciplinares  presentes  na  atenção  primária  à  saúde ( ARNOLD et al., 2018). 

Pacientes  que  vivem  com  dor  crônica  enfrentam  dificuldades  significativas  para  encontrar  profissionais  de  cuidados  primários  que  compreendam  sua  condição  e  estejam  aptos  a  encaminhá-los  para  equipes  interdisciplinares  especializadas,  quando  necessário.  Essa  barreira  se  torna  ainda  mais  acentuada  para  indivíduos  que  apresentam  dor  de  moderada  a  grave,  tornando  a  busca  por  um  clínico  adequado  um  desafio  considerável.  A  literatura  sugere  que  a  fibromialgia  pode  ser  uma  fonte  de  frustração  para  profissionais  de  saúde  e  pacientes,  muitas  vezes  resultando  em  relações  terapêuticas  complexas.  A  forma  como  o  diagnóstico  é  comunicado  é  um  aspecto  fundamental  no  processo  de  tratamento,  pois  influencia  diretamente  a  adesão  às  intervenções  recomendadas,  como  terapia  psicológica,  programas  de  exercícios  supervisionados e estratégias não farmacológicas (MAIA et al., 2024). 

O  diagnóstico  preciso  não  apenas  evita  exames  desnecessários,  mas  também  possibilita  a  implementação  de  tratamentos  baseados  em  evidências  e  valida  a  experiência  do  paciente.  A  obtenção  de  um  histórico  clínico  detalhado  e  a  realização  de  um  exame  físico  minucioso  são  fundamentais  para  distinguir  a  fibromialgia  de  outras  doenças  (MCCONNELL;  HERON; HART, 2023). 

Assim  como  ocorre  em  outras  condições  médicas  bem  estabelecidas,  o  diagnóstico  de  fibromialgia  não  apenas  é  essencial  para  a  implementação  de  um  tratamento  eficaz,  mas  também  pode  trazer  alívio  significativo  para  muitos  pacientes.  A  confirmação  do  diagnóstico,  juntamente  com  a  exclusão  de  outras  possíveis  condições,  frequentemente  proporciona  tranquilidade  ao  paciente,  reduzindo  a  incerteza  e  a  ansiedade  associadas  aos  sintomas  persistentes.  Além  disso,  um  diagnóstico  preciso  pode  contribuir  para  a  diminuição  de  gastos  desnecessários  com  exames  e  consultas  adicionais,  otimizando  os  recursos  médicos  e  favorecendo uma abordagem terapêutica mais direcionada (GENDELMAN et al., 2018). 

5. CONCLUSÃO 

Após  a  análise  da  literatura  disponível,  ficou  evidente  a  complexidade  que  a  Fibromialgia  representa  tanto  aos  pacientes  quanto  aos  profissionais  de  saúde,  destacando  os  desafios  que  envolvem  o  diagnóstico  adequado.  A  atenção  primária  à  saúde  é  o  primeiro  ponto  de  contato  para  esses  pacientes,  sendo  nesse  momento  que  informações  essenciais  podem  ser  coletadas  para  a  realização  adequada  do  diagnóstico.  Por  isso,  é  fundamental  que  os  profissionais  de  saúde  sejam  devidamente  capacitados  para  lidar  com  pacientes  que  sofrem  de  dores  crônicas.  O  processo  de  cuidado,  quando  seguido  de  forma  organizada,  tem  se  mostrado  uma  ferramenta  poderosa,  apoiada  pela  literatura,  para  orientar  o  manejo  do  paciente  e  oferecer  suporte  às  equipes  multidisciplinares.  O  uso  dos  critérios  ACR  de  2016  por  se  tratar  de  um  questionário  autoaplicável,  facilita  o  diagnóstico  breve  em  pessoas  que  satisfazem  os  critérios,  e  a  pontuação  FSQ  também  pode  fornecer  uma  medida  aproximada  da  gravidade  da  fibromialgia.  Assim,  no  contexto  da  atenção  primária,  o  diagnóstico  desses  pacientes  pode  ser  realizado  por  meio  de  uma  avaliação  criteriosa,  que  envolve  escuta  ativa  e  um  trabalho  colaborativo  entre  os  profissionais  garantindo  adesão  ao  tratamento  e  alinhamento de expectativas. 

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 1Médica Residente R2 do Programa de Residência em Saúde  de Família e Comunidade da Escola Superior de Ciências da Saúde do Distrito Federal – ESCS/ FEPECS. E-mail: lorranyfg@gmail.com
2Preceptor do Programa de Residência em Saúde da Família e Comunidade da Escola Superior de Ciências de Saúde do Distrito Federal – ESCS/FEPECS. E-mail: racalme@gmail.com
3Preceptora do Programa  de Residência em Saúde da Família e Comunidade da Escola Superior de Ciências de Saúde do Distrito Federal – ESCS/FEPECS. E-mail: ilzoka1981@gmail.com