ANÁLISE COMPARATIVA DO PERFIL DE SAÚDE DE FUNCIONÁRIOS UNIVERSITÁRIOS E PARTICIPANTES DE EVENTO EDUCATIVO EM ITAPERUNA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504071114


Gabriel Martins Salvath1
Cristiano Guilherme Alves de Oliveira2
Euzebio da Silva Dornelas3
Irineu da Silva Rodrigues Júnior4
Sérgio Henrique de Mattos Machado5
Juliano Gomes Barreto6
Letícia Rafael Ferreira7
Anna Citeli8
Juliana Maria Rocha e Silva Crespo9


Resumo: este estudo observacional analisou o perfil de saúde de 66 colaboradores de uma universidade e 63 participantes de um evento de Educação em Saúde no município de Itaperuna/RJ. O objetivo foi identificar necessidades de intervenção para promover o uso racional de medicamentos por meio da Farmácia Clínica. Foram utilizados questionários estruturados para coletar dados sobre comorbidades, uso de medicamentos e hábitos de saúde. Entre os funcionários da universidade, houve uma prevalência de inatividade física (71,2%), enquanto os participantes do evento apresentaram maior incidência de comorbidades. O maior consumo de antidepressivos e/ou ansiolíticos foi registrado entre as secretárias da instituição, representando 76,9% do consumo desses medicamentos. Conclui-se que a Farmácia Clínica pode desempenhar um papel fundamental na gestão dessas condições, propondo estratégias personalizadas de atenção farmacêutica voltadas à prevenção e tratamento de comorbidades.

Palavras-chave: Farmácia Clínica. Inatividade Física. Comorbidades. Uso Racional de Medicamentos.

1. INTRODUÇÃO

A Organização Mundial da Saúde (OMS) caracteriza a saúde como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença ou enfermidade” (World health organization, 1948, p. 1, tradução nossa). Este conceito abrangente tem guiado a evolução de diversas áreas da saúde, incluindo a Farmácia Clínica, que desempenha um papel fundamental na promoção da saúde e bem-estar da população.

A Farmácia Clínica emergiu nos Estados Unidos na década de 1950, com o primeiro programa educacional implementado em 1964 na Universidade de Iowa por William Tester e Jerry Black. Na América Latina, o debate sobre o tema em questão foi impactado pela crise de identidade do farmacêutico, que passou de um enfoque tradicional no produto para um foco no atendimento ao paciente, conforme destacado pelo professor Aquiles Arancibia da Universidade do Chile em 1990. No Brasil, a Farmácia Clínica teve suas origens na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, com o trabalho dos professores José Aleixo Prates e Silva, Tarcísio José Palhano, Lúcia de Araújo Costa (Lúcia Noblat) e Ivonete Batista de Araújo. Desde 1977, a UFRN desenvolveu várias iniciativas, como contatos, visitas, treinamentos e parcerias, que resultaram na criação do primeiro “Serviço de Farmácia Clínica” e do primeiro “Centro de Informação sobre Medicamentos” em 1979, no Hospital das Clínicas da UFRN, atualmente conhecido como Hospital Universitário Onofre Lopes (HUOL) (Sociedade Brasileira de Farmácia Clínica, 2019).

A Farmácia Clínica é vital para a saúde pública, oferecendo serviços que vão além da simples dispensação de medicamentos. A prática clínica farmacêutica envolve a gestão da farmacoterapia, a educação do paciente e a colaboração com outros profissionais de saúde para otimizar os resultados terapêuticos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. No entanto, a população muitas vezes desconhece ou não valoriza esses serviços, devido à falta de conscientização sobre o papel do farmacêutico clínico na gestão da saúde e das doenças. Barros, Garcia e Machado (2021) apontam que os farmacêuticos clínicos enfrentam desafios significativos, como um nível de conhecimento irregular entre os próprios profissionais, a falta de reconhecimento como profissionais de saúde, limitações de tempo e espaço físico, pouca autonomia, atividades administrativas e baixa demanda por parte dos pacientes.

Em 2002, o conceito de cuidado farmacêutico, introduzido no Brasil como atenção farmacêutica, permitiu a discussão de novos modelos de prática profissional na Farmácia Clínica. Segundo Storpirtis et al. (2023), essa área se dedica à ciência e prática do uso racional de medicamentos, capacitando os farmacêuticos a oferecer cuidados ao paciente com o objetivo de otimizar a farmacoterapia, promover a saúde e prevenir doenças.

É crucial distinguir entre atenção farmacêutica e assistência farmacêutica. Na atenção farmacêutica, o farmacêutico estabelece uma relação de confiança com o paciente, oferecendo acompanhamento personalizado, educação em saúde e monitoramento dos resultados terapêuticos. Este modelo visa não apenas tratar doenças, mas também prevenir problemas relacionados ao uso inadequado de medicamentos, como reações adversas e interações medicamentosas. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Farmácia, implementadas em 2002, exigem a inclusão de conteúdos teóricos e práticos sobre atenção farmacêutica ao longo do curso, promovendo uma formação mais robusta (Brasil, 2002).

Já a assistência farmacêutica atua em diferentes níveis do sistema de saúde, assegurando que os medicamentos sejam disponíveis, acessíveis e utilizados de maneira adequada pela população. Para garantir a qualidade da assistência farmacêutica, é essencial seguir todas as etapas do ciclo dos medicamentos, desde a seleção e aquisição até a prescrição e uso. Em países em desenvolvimento como o Brasil, a assistência farmacêutica busca estabelecer um sistema abrangente e de alta qualidade, focando no acesso aos medicamentos essenciais na atenção primária. O fortalecimento da assistência farmacêutica é crucial para avançar na implementação de uma atenção farmacêutica robusta no país (Pereira; Freitas, 2008).

Os métodos clínicos desempenham um papel vital na prática farmacêutica, fornecendo ferramentas essenciais para oferecer cuidados de saúde de alta qualidade. Além disso, capacitam os farmacêuticos a desempenhar um papel ativo na promoção da saúde pública, oferecendo serviços como vacinações, rastreamento de doenças e educação sobre medicamentos. A integração do farmacêutico em equipes multiprofissionais é fundamental para melhorar a qualidade das prescrições médicas e mitigar problemas associados aos medicamentos (Melo; Castro, 2017).

Diante desse contexto, o presente estudo tem como objetivo principal realizar uma análise comparativa do perfil de saúde dos funcionários de uma universidade e de moradores de Itaperuna (cidade localizada na Região Noroeste Fluminense), que participaram de um evento de Educação em Saúde. A pesquisa busca identificar as diferenças nas necessidades de intervenção para otimizar o uso racional de medicamentos e promover a saúde por meio da Farmácia Clínica.

2. CONCEITO E EVOLUÇÃO DA FARMÁCIA CLÍNICA

A Farmácia Clínica surgiu para melhorar o uso seguro e eficaz de medicamentos, com foco no paciente. O farmacêutico aplica conhecimentos clínicos para adaptar tratamentos conforme a evolução clínica, evitando interações medicamentosas e promovendo a adesão ao tratamento (Costa et al., 2024). Com o tempo, a Farmácia Clínica incorporou novas tecnologias e práticas interdisciplinares. No Brasil, regulamentações específicas elevaram sua relevância.

A Farmácia Clínica previne eventos adversos, otimiza tratamentos e reduz custos no sistema de saúde. Distúrbios relacionados ao estresse e saúde mental, como ansiedade e depressão, são comuns entre idosos e funcionários públicos (Lima Júnior et al., 2023; Oliveira et al., 2020). Além disso, a Farmácia Clínica auxilia no manejo racional de antidepressivos e ansiolíticos, ajustando doses, monitorando efeitos colaterais e promovendo adesão ao tratamento (Bouzada, 2023). 

Vale mencionar a importância do farmacêutico clínico, que desempenha um papel crucial no manejo de tabagismo e alcoolismo, riscos para várias doenças graves. O tabaco contribui para doenças como cânceres e problemas pulmonares, enquanto o álcool está associado a doenças crônicas e aumentos no risco de infecções, como HIV (Oliveira et al., 2019; Silva et al., 2022). Ao ajustar terapias e orientar sobre cessação, o farmacêutico clínico ajuda a reduzir os impactos negativos dessas substâncias. 

Já em relação à inatividade física é possível citar consequências econômicas globais significativas, com estimativas de novos casos de doenças crônicas preveníveis e altos custos anuais (World Health Organization, 2022). O farmacêutico clínico combina orientações sobre estilos de vida saudáveis com a gestão farmacoterapêutica. Esse papel contribui para a prevenção de doenças crônicas, melhorando a qualidade de vida e reduzindo custos no sistema de saúde.

Ainda é preciso mencionarmos sobre o envelhecimento, que traz desafios como o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e o isolamento social. Embora a expectativa de vida tenha aumentado, a qualidade de vida dos idosos não necessariamente melhorou (Silva et al., 2021). A Farmácia Clínica oferece uma oportunidade significativa ao gerenciar medicamentos, promover Educação em Saúde e coordenar cuidados, promovendo um envelhecimento saudável.

Por fim, é preciso mencionar que as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são um problema global, com maior impacto em países de baixa e média renda, onde ocorrem 80% das mortes prematuras. As principais causas de mortalidade incluem doenças circulatórias e diabetes (Simões et al., 2021; Brasil, 2020). A Farmácia Clínica apoia o tratamento e a prevenção de DCNT, monitorando a adesão e promovendo mudanças no estilo de vida, essenciais para reduzir os impactos dessas doenças.

3. MATERIAIS E MÉTODOS 

Este estudo observacional coletou dados durante um evento de Educação em Saúde promovido por uma universidade em Itaperuna. O evento foi realizado no Centro, onde foram aplicados 63 questionários à população local. Entre os participantes, 25 (40%) eram do sexo masculino e 38 (60%) do sexo feminino.

Também foram utilizados dados adicionais sobre os colaboradores da universidade obtidos de um estudo anterior (Salvath, 2025). Nesse artigo foram avaliados 66 colaboradores, sendo 45 (68%) do sexo masculino e 21 (32%) do sexo feminino, com metodologia previamente descrita.

No evento de Educação em Saúde, utilizou-se um questionário estruturado para investigar o perfil farmacológico, a presença de comorbidades (hipertensão, diabetes, dislipidemia), os hábitos de saúde (exercícios físicos, tabagismo, consumo de álcool) e aspectos demográficos dos participantes. Os questionários foram aplicados presencialmente, em formato impresso, e os dados coletados foram digitados e armazenados em um sistema eletrônico.

As informações foram analisadas por meio de técnicas estatísticas descritivas e inferenciais, gerando tabela e gráficos que detalham os perfis de saúde dos participantes. O estudo foi conduzido em conformidade com os princípios éticos estabelecidos, com aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da universidade. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, e o anonimato e a confidencialidade foram garantidos.

Os resultados apresentados neste artigo descrevem as principais características demográficas, padrões de saúde e comportamentos relacionados à saúde dos participantes do evento de Educação em Saúde, complementados pelas informações publicadas sobre os colaboradores da universidade.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos 66 questionários aplicados aos funcionários da universidade foram agrupados conforme o cargo ou ocupação. As constatações indicam que o cargo de auxiliar administrativo foi o mais representativo, com 21 pessoas (32,0%), seguido por auxiliares de serviços gerais, que constituíram 14 trabalhadores (21,2%). As secretárias representaram 8 mulheres (12,1%), enquanto os jardineiros foram representados por 5 homens (7,6%). Cargos como técnico de laboratório, encarregado, áudio visual e auxiliar comercial foram ocupados por 2 colaboradores cada (3,0%). Os jovens aprendizes somaram 4 (6,1%), e técnico de enfermagem, operador de caixa e porteiro foram representados por 1 pessoa cada (1,5%). Os seguranças totalizaram 3 colaboradores (4,5%).

No evento de Educação em Saúde foram coletados 63 questionários. A maioria dos participantes se identificou como empregados, totalizando 27 pessoas (42,9%). A segunda maior categoria foi a dos aposentados, com 22 (34,9%), seguidos pelos desempregados, que somaram 14 pessoas (22,2%).

Sobre os hábitos de saúde dos funcionários da universidade, a maioria, 47 (71,2%), não pratica exercícios físicos regularmente, enquanto 19 (28,8%) praticam. No que diz respeito ao hábito de fumar, a maioria, 57 funcionários (86,4%), não são fumantes, enquanto 9 (13,6%) são fumantes. Em relação ao consumo de bebidas alcoólicas, 35 funcionários (53,0%) afirmaram consumir, e 31 (47,0%) não consomem.

Para os colaboradores do evento de Educação em Saúde, a maioria, 52 (82,5%), não pratica exercícios regularmente, enquanto 11 (17,5%) praticam. Apenas 4 (6,3%) são fumantes, e a maioria, 59 (93,7%), não fuma. No consumo de bebidas alcoólicas, a maioria, 49 (77,8%), não consome, enquanto 14 (22,2%) relataram consumir.

A consulta regular ao médico e/ou farmacêutico clínico entre os funcionários da universidade revelou que 22 (33,3%) realizam essas consultas regularmente, enquanto a maioria, 44 (66,7%), não o faz. Entre os colaboradores do evento de Educação em Saúde, a maioria, 51 (81,0%), realiza consultas regularmente, e 12 (19,0%) não. A distribuição percentual dessas consultas está ilustrada no gráfico 1.

Gráfico 1 – Distribuição da consulta regular ao médico ou farmacêutico clínico para revisão de medicamentos entre os funcionários da universidade e os colaboradores do evento de Educação em Saúde

Fonte: dados da pesquisa, 2024.

Analisando as comorbidades entre os funcionários da universidade, foram encontrados 2 casos de dislipidemia (3,0%) e 2 casos de diabetes mellitus (3,0%). Quanto à hipertensão, 7 funcionários (10,6%) foram diagnosticados com a condição.

Para os colaboradores do evento, 20 (31,7%) apresentaram dislipidemia, 17 (27,0%) diabetes mellitus, e a maioria, 33 (52,4%), hipertensão.

Em relação ao uso de medicamentos, 21 funcionários da universidade (31,8%) estão tomando algum medicamento, enquanto a maioria, 45 (68,2%), não estão. Entre os colaboradores do evento, a maioria, 47 (74,6%), está tomando medicamentos e 16 (25,4%) não. A distribuição do uso de medicamentos está ilustrada no gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição do uso de medicamentos entre os funcionários da universidade e os colaboradores do evento

Fonte: dados da pesquisa, 2024.

Quanto à função terapêutica dos medicamentos, entre os funcionários da universidade, foram encontrados 10 (28,6%) antihipertensivos, 2 (5,7%) antidiabéticos, 13 (37,1%) antidepressivos e/ou ansiolíticos, 1 (2,9%) anti-inflamatório e analgésico, e 9 (25,7%) pertencem a outras classes terapêuticas. Esses dados estão representados no gráfico 3.

Gráfico 3 – Distribuição da função terapêutica dos medicamentos utilizados pelos funcionários da universidade

Fonte: dados da pesquisa, 2024.

Entre os colaboradores do evento, foram encontrados 44 (46,8%) antihipertensivos, 14 (14,9%) antidiabéticos, 10 (10,6%) hipolipemiantes, 11 (11,7%) antidepressivos e/ou ansiolíticos, 4 (4,3%) antipsicóticos, 2 (2,1%) antiparkinsonianos, e 9 (9,6%) pertencem a outras classes terapêuticas. A distribuição das funções terapêuticas dos medicamentos está ilustrada no gráfico 4.

Gráfico 4 – Distribuição da função terapêutica dos medicamentos utilizados pelos colaboradores do evento de Educação em Saúde

Fonte: dados da pesquisa, 2024.

O uso de antidepressivos e/ou ansiolíticos entre os funcionários da universidade revelou que 1 desses medicamentos (7,7%) foi encontrado com os auxiliares administrativos, 10 (76,9%) com as secretárias, 1 (7,7%) com os jardineiros e 1 (7,7%) com os auxiliares de serviços gerais. Entre os colaboradores do evento, 6 antidepressivos e/ou ansiolíticos (54,5%) foram encontrados com aposentados, 2 (18,2%) com desempregados e 3 (27,3%) com empregados. A tabela 1 mostra a distribuição do uso de antidepressivos e/ou ansiolíticos entre os funcionários da universidade e os colaboradores do evento.

Tabela 1 – Distribuição dos cargos/ocupações com maior uso de antidepressivos e/ou ansiolíticos entre os funcionários da universidade e os colaboradores do evento de Educação em Saúde

Fonte: dados da pesquisa, 2024.

Os resultados obtidos a partir dos questionários aplicados aos funcionários da universidade revelaram que a maioria dos respondentes ocupa os cargos de auxiliar administrativo (32,0%) e auxiliar de serviços gerais (21,2%). O maior consumo de antidepressivos e/ou ansiolíticos foi registrado entre as secretárias, que, apesar de representarem apenas 12,1% dos respondentes, foram responsáveis por 76,9% do consumo desses medicamentos. Esses dados indicam um possível fator de estresse relacionado ao cargo de secretária, explicável pelo contato constante com alunos e professores (Salvath, 2025). Este uso predominante de medicamentos pode ser interpretado como uma estratégia para o gerenciamento de sintomas de estresse e ansiedade, uma situação comumente observada em trabalhadores que interagem diretamente com o público, especialmente em ambientes educacionais (Oliveira et al., 2020).

Em comparação com a população do evento, o consumo de antidepressivos e/ou ansiolíticos entre os funcionários da universidade é significativamente mais concentrado nas secretárias. Entre os funcionários da universidade, as secretárias, representando 12,1% dos respondentes, consumiram 76,9% dos antidepressivos e/ou ansiolíticos (Salvath, 2025). Esse consumo corresponde a 10 medicamentos, um número comparável ao total consumido pelos colaboradores do evento de Educação em Saúde, que somaram 11 medicamentos. Embora o grupo de colaboradores seja mais diversificado, as secretárias da universidade representaram 47,6% do total de medicamentos consumidos entre os funcionários, enquanto os colaboradores do evento representaram 52,4%. Esse dado sugere que o estresse associado ao cargo de secretária, com a constante interação com alunos e professores, pode ser um fator determinante para o uso desses medicamentos. A literatura reforça que altos níveis de estresse e exigências emocionais contribuem para o maior uso de antidepressivos e ansiolíticos (Bouzada, 2023).

Em relação aos hábitos de saúde, 71,2% dos funcionários da universidade não praticam exercícios físicos regularmente, e 53,0% consomem bebidas alcoólicas, o que pode aumentar o risco de doenças crônicas, como dislipidemia, diabetes mellitus e hipertensão (Salvath, 2025). Esses hábitos, mais prevalentes entre os funcionários da universidade, indicam uma necessidade urgente de ações de promoção de saúde. Comparando com os colaboradores do evento, a incidência de consumo de álcool entre os funcionários da universidade (53,0%) é mais alta do que a dos colaboradores (22,2%), o que reflete um padrão mais saudável de hábitos entre os participantes do evento. A literatura sugere que o consumo excessivo de álcool pode estar associado a doenças hepáticas e cardiovasculares (Silva et al., 2022).

O consumo de tabaco, por outro lado, apresentou-se baixo tanto entre os funcionários da universidade (13,6%) quanto entre os colaboradores do evento de saúde (6,3%), o que sugere uma redução na incidência de doenças relacionadas ao tabagismo em ambas as populações. A literatura confirma que a redução do tabagismo é um fator chave para a prevenção de doenças respiratórias e cardiovasculares (Oliveira et al., 2019), refletindo um bom indicativo de saúde entre os grupos analisados.

Ao comparar as comorbidades, observou-se que a prevalência de condições como diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão foi significativamente menor entre os funcionários da universidade em comparação com a população do evento. Embora os funcionários apresentem uma prevalência baixa dessas comorbidades, isso pode ser explicativo de uma subnotificação ou diagnóstico tardio, dado que muitos dos funcionários não realizam consultas regulares a profissionais de saúde (Salvath, 2025). Esse cenário indica uma possível falta de diagnóstico precoce, o que é comum em grupos que não seguem práticas preventivas de saúde. Em contraste, o outro grupo, especialmente os aposentados, apresentaram uma maior adesão ao uso de medicamentos para o controle de comorbidades, o que pode ser interpretado como um reflexo de cuidados preventivos mais frequentes entre essa população (Silva et al., 2021).

Em suma, os dados sugerem que, embora haja semelhanças entre os dois grupos, como a prevalência de inatividade física, as diferenças no consumo de substâncias como álcool e medicamentos, além das comorbidades observadas, indicam que os funcionários da universidade apresentam um quadro de saúde que demanda mais atenção. O estudo comparativo entre os dois grupos evidencia a necessidade de estratégias diferenciadas de promoção da saúde, focando na melhoria dos hábitos e no manejo das condições crônicas, especialmente entre os funcionários da universidade.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo revelou diferenças significativas no perfil de saúde entre os funcionários de uma universidade e a população participante de um evento sobre Educação em Saúde em Itaperuna. Observou-se que os funcionários da universidade apresentam hábitos de saúde menos favoráveis, com uma maior prevalência de sedentarismo e consumo de bebidas alcoólicas. Em contrapartida, os colaboradores do evento demonstraram uma maior adesão à prática regular de consultas médicas, refletindo em uma maior conscientização sobre a importância da monitorização contínua da saúde. Os dados também indicaram um consumo elevado de antidepressivos e/ou ansiolíticos entre as secretárias da universidade, sugerindo que este grupo pode estar enfrentando níveis elevados de estresse. Já entre os membros do outro grupo, os aposentados se destacaram pelo maior uso desses medicamentos, possivelmente refletindo os desafios da transição para a aposentadoria.

As comorbidades como hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemia foram mais prevalentes entre os entrevistados do evento em comparação aos funcionários da universidade, indicando a necessidade de estratégias específicas de manejo e prevenção dessas condições. Este estudo destaca a importância da Farmácia Clínica na promoção da saúde e do uso racional de medicamentos, enfatizando a necessidade de intervenções focadas em estilos de vida saudáveis e na gestão adequada das comorbidades. As diferenças identificadas nos perfis de saúde sugerem que programas de saúde ocupacional e de educação em saúde devem ser adaptados para atender às necessidades específicas de cada grupo, promovendo assim uma melhoria geral na qualidade de vida e no bem-estar das pessoas.

6. REFERÊNCIAS

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 1Farmacêutico, graduado pela Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ e especialista em vacinação pelo IBras. Profissional atuante nas Drogarias Pacheco, com experiência em assistência farmacêutica, imunização e promoção da saúde. E-mail: gsalvath@gmail.com
2Mestre em Pesquisa Operacional e Inteligência Computacional (UCAM-RJ). Área de Concentração: saúde coletiva, UNIG. Professor de Farmácia da Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ. E-mail: 0505087@professor.unig.edu.br – Orientador
3Mestre em Ensino pela Universidade Federal Fluminense – Instituto do Noroeste Fluminense de Educação Superior (UFF/INFES). ORCID https://orcid.org/0009-0003-2614-4491. E-mail: euzebio_dornelas@id.uff.br
4Mestre em Economia e Gestão Empresarial (UCAM-RJ). Aluno do 2º período de Medicina da Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ. E-mail: irineu.rodrigues.bb@gmail.com
5Doutor em Planejamento Regional e Gestão, mestre em Pesquisa Operacional e Inteligência Computacional. Coordenador e professor do curso de Farmácia e coordenador do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Iguaçu
6Doutorando em Ciências Farmacêuticas (UVV), Vila Velha/ES. Professor do curso de Farmácia Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ. E-mail: julianobarreto@hotmail.com
7Graduanda do curso de Nutrição pela Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ. E-mail: leticiarafael671@gmail.com
8Graduanda do curso de Farmácia pela Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ. E-mail: annaciteliestudos@gmail.com
9Mestre em Ciência e Tecnologia (UFV), área de concentração Bioprospecção Vegetal, professora do Curso de Farmácia da Universidade Iguaçu campus V em Itaperuna/RJ