REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202504061850
Tatiana Mascarenhas Nasser Aragone
Rodrigo Guedes Boer
Resumo: Este estudo tem como objetivo analisar a atuação da fisioterapia no processo do aprendizado de crianças com déficit neurológico no ambiente escolar. Abordando aspectos da educação, de aprendizagem e das principais condições envolvidas no processo do déficit neurológico. Apresenta dados sobre os a relação da fisioterapia com o psicomitricidade que influencia no aprendizado. Trata-se de uma revisão abrangente, não sistemática da literatura sobre aprendizagem, desempenho escolar, déficit neurológico e a fisioterapia. As palavras-chave utilizadas na busca serão: ensino, aprendizagem, deficiência neurológica, fisioterapia, fisioterapia no aprendizado.
INTRODUÇÃO:
1.1 Processo do aprendizado.
É milenar o desejo espontâneo de passar informação aos outros e, com isto, o propósito de que os demais aprendessem primeiro a experiência e depois as ideias sobre essa experiência. Assim, pode-se acreditar que tal interesse surge primeiro com o homem, como demonstram muitos documentos encontrados em cavernas primitivas. (Diaz, 2011)
De acordo Bigge (1977) As teorias sobre a aprendizagem, surgem provavelmente por que o “o homem não só quis aprender como também, frequentemente, sua curiosidade o impeliu a tentar aprender como se aprende” (p.3).
Muitas pesquisas a respeito do processo de aquisição da linguagem e, consequentemente, da escrita, eram feitas por linguistas. A apresentação de uma nova proposta visa a fornecer uma explicação possível (do ponto de vista da Linguística, especialmente da Fonologia) ao desenvolvimento da escritura pela criança. (Moreira, 2009)
Para Piaget, 1976, p.10 existe “uma espécie de embriologia da inteligência”. A inteligência verbal ou refletida repousa na inteligência prática ou sensório-motora, que se apoia em hábitos e associações que são adquiridos para voltarem a se combinar. Estas associações pressupõem, por outro lado, o sistema de reflexos cuja relação com a estrutura anatômica e morfológica do organismo é evidente. Há, pois, uma certa continuidade entre a inteligência e os processos puramente biológicos de morfogênese e de adaptação ao meio.
Gomes e Ghedin (2011) realizam uma revisão a literatura abordando as teorias de Piaget, e o observam que o mesmo afirma que “inteligência é algo que se modifica” a criança desenvolve-se, partindo de uma inteligência sensório-motora até alcançar o estágio da inteligência propriamente dita. O que significa que o sujeito não nasce inteligente, sua inteligência se ocorre como continuidade dos hábitos e reflexos inatos com as experiências adquiridas com o meio, mediante a ação do sujeito.
Corrêa (2017) ao estudar as obras de Vygotsky observa que o autor evidencia a subordinação dos processos biológicos ao desenvolvimento cultural, concluindo que as funções psicológicas superiores têm gênese fundamentalmente cultural e não biológica, mostrando assim a evidente necessidade de o ensino não basear-se na expectativa da maturação espontânea de tais funções e nem tomar tal maturação como condição prévia para as aprendizagens.
Vasconcelos et al., (2003) realizam uma pesquisa com uma abordagem em torno das perspectivas de ensino-aprendizagem e os mesmos concluem que em primeiro lugar, o aluno assume um papel central no processo de ensino-aprendizagem e em segundo lugar, “aprender” deixa de ser sobretudo informar-se e passa a ser “conhecer”.
1.2 Processo de aprendizado de crianças com déficits neurológicos
Em 2004, Schirmer et al, verificam que profissionais da saúde e da educação como pediatras, neurologistas, psicólogos e fonoaudiólogos infantil apontam como sua maior queixa as alterações no processo de aprendizagem e/ou atraso na aquisição da linguagem, acreditam que as dificuldades de aprendizagem estejam relacionadas ao atraso na aquisição da linguagem. As dificuldades de linguagem referem-se a alterações no processo de desenvolvimento da expressão e recepção verbal e/ou escrita.
O Déficit cognitivo nos primeiros anos, a evolução da linguagem na criança com atraso de desenvolvimento é semelhante à da criança normal, mas num ritmo inferior.
Os déficits neurológicos são distúrbios estruturais do sistema nervoso. Podendo envolver os sistemas nervoso central, periférico e autônomo, parassimpático e simpático incluindo os seus revestimentos, vasos sanguíneos, e todos os tecidos efetores, como os músculos. (Reed, 2010)
A aprendizagem apresenta especificações em relação a maturação neurológica, à medida que a criança amadurece, áreas e funções perceptivas e motoras se tornam mais funcionais e capacitadas para execução de habilidades cada vez mais complexas, sendo necessário essa maturação ou ausência de déficit neurológicos para esse processo (Rotta, 2008)
1.3 Atuação da fisioterapia no processo do aprendizado de crianças déficit neurológico
Siqueira et al. 2010, consideram a aprendizagem como um processo que ocorre através da integração de diversas funções do sistema nervoso, promovendo melhor adaptação do indivíduo ao meio. Durante a aprendizagem, o processamento das informações depende da integração de diversas habilidades das cognitivas e linguísticas, além de desenvolvimento emocional e comportamental.
Ainda o mesmo estudo esclarece que a neuroplasticidade, que é muito intensa nas crianças, consiste na capacidade do encéfalo em adaptar-se a modificações, sejam elas novas funções aprendidas ou reações a lesões encefálicas.
Ao pesquisar vários artigos Nudo et al, 2001 reconhece que a prática de habilidades motoras estimula a remodelagem cortical, pois observou em um grupo de pacientes que recebeu fisioterapia por um período entre 4 e 8 semanas por uma hora e meia demonstrou que a atividade-dependente aumentou as áreas de representação corticais e melhorou a função motora.
O aprendizado depende de alterações persistentes e do tipo de lesão neurológicas e com a repetição de tarefas, ocorre redução do número de regiões ativas do encéfalo. Finalmente, quando a tarefa foi aprendida, só pequenas regiões distintas do encéfalo mostram atividade aumentada durante execução da tarefa, o aprendizado de novas habilidades está presente para promover a plasticidade cerebral. (Borella e Sacchelli 2008)
Barato et al, 2008 realizaram um estudo com o objetivo de verificar a dinâmica da reorganização do sistema nervoso central após a aplicação de técnicas de fisioterapia neurológica, considerando por fim que de acordo com a pesquisa realizada, foi possível verificar ativações ipsilateral ou contralateral à lesão, ativações bilaterais, bem como ativações em torno da área lesionada.
OBJETIVO GERAL:
Analisar a atuação da fisioterapia no processo do aprendizado de crianças com déficit neurológico no ambiente escolar.
OBJETIVO ESPECÍFICO:
– Verificar como ocorre o processo de aprendizado de crianças déficit neurológico.
– Analisar como a fisioterapia pode intervir no processo do aprendizado de crianças déficit neurológico.
– Demonstrar os a relação da fisioterapia com o ambiente escolar.
METODOLOGIA:
O tipo de pesquisa a ser realizada será uma Revisão de Literatura, onde serão pesquisados livros, dissertações e artigos científicos selecionados através de busca nas seguintes bases de dados livros, sites de banco de dados; como bireme , lilacs, scielo, biblioteca virtual da universidade Unifieo.
O período dos artigos pesquisados serão os trabalhos publicados nos últimos 50 anos
As palavras-chave utilizadas na busca serão: ensino, aprendizagem, deficiência neurológica, fisioterapia, fisioterapia no aprendizado.
DISCUSSÃO:
Para o autor Kolyniak Filho, 2010 a psicomotricidade foca na relação entre motricidade e psiquismo, que revela a organização neuropsicológica que serve de base para a aprendizagem do ser humano.
Conseguimos trabalhar a psicomotricidade através da fisioterapia, sendo incontestável, dentro dos estudos da evolução psicomotora, a necessidade de estimulação em etapas precoces do desenvolvimento.
Em 1997 Bee, descreve através de sua obra que a fisioterapia possa proporcionar a curto e médio prazo no desenvolvimento infantil, no que diz respeito ao controle corporal e aprendizagem, concluindo que a criança tem seu desenvolvimento influenciado pela qualidade de atividades e experiências vividas no seu cotidiano.
O que também demonstra Marque et al no ano de 1997, quando realiza um estudo baseando no argumento fundamentado na tese de que há relação entre estímulo e progresso das funções cerebrais, a partir da possibilidade de criar maior número de sinapses interneurais, justificando a importância da fisioterapia no contexto da saúde infantil com o intuito de facilitar o desenvolvimento neuropsicomotor dos discentes, sendo uma prática que facilita o processo de aprendizagem das crianças nesse período, o qual é determinante no desenvolvimento psicomotor.
Já para Secretti et al, 2019 a criança tem seu desenvolvimento motor e cognitivo influenciado pela qualidade das atividades e experiências vivenciadas no cotidiano, utilizando conhecimentos prévios adquiridos durante o processo de aprendizagem e relata em artigo que a psicomotricidade como área do desenvolvimento infantil é, assim como a psicopedagogia, proveniente da relação entre corpo, emoção e intelecto, estudando fatores que interferem no desenvolvimento da criança, sendo eles: sociais, emocionais, afetivos e cognitivos, que estão diretamente relacionados com o potencial de aprendizagem.
Baseado no estudo de Oliveira et al, 2012, O desenvolvimento motor se dá com muita intensidade na infância, período em que existe uma ampla plasticidade do sistema nervoso central, possibilitando aumento nos ganhos motores e sistemas integrados, a criança é suscetível aos estímulos vindos do ambiente, o que torna essenciais e oportunas as várias formas de movimentos que possam garantir o desenvolvimento e o crescimento adequados, pois proporcionam competências para ela corresponder às suas necessidades e às de seu meio.
E ainda o mesmos autores ao analisarem o trabalho de Vitta et al, 2000 observam a ação do fisioterapeuta neste processo, demonstrando que esse profissional trabalha com a motricidade humana, mas não trabalha apenas com a doença instalada na criança, e sim, pode e deve atuar no sentido de prevenir doenças, promover a saúde e o desenvolvimento infantil; ele pode atuar no próprio ambiente em que a criança está inserida, de modo a proporcionar condições favoráveis para o seu desenvolvimento global.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
A atuação da fisioterapia no processo do aprendizado de crianças com déficit neurológico no ambiente escolar, de acordo com o estudo realizado, através uma revisão da literatura, demonstra após verificação como ocorre o processo de aprendizado de crianças com déficit neurológico.
Podendo assim observar baseado nos trabalhos citados o como a fisioterapia pode influenciar nesse contexto o que nos permite concluir e demonstrar a relação da fisioterapia com o ambiente escolar, e o quanto a mesma se faz favorável e importante para o desenvolvimento de crianças com déficit neurológico uma vez que é possível observar a relação entre estímulo e o desenvolvimento das funções cerebrais, criações de novas conexões neurais, sinapses, mostrando assim que a fisioterapia ao facilitar o desenvolvimento neuropsicomotor, facilita o processo de aprendizagem das crianças.
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