FATORES RELACIONADOS À MORTALIDADE MATERNA EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIAS OBSTÉTRICAS: REVISÃO INTEGRATIVA

FACTORS RELATED TO MATERNAL MORTALITY IN OBSTETRIC EMERGENCY SITUATIONS: INTEGRATIVE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202504051629


Arthur Magalhães de Melo,
Kélvia Kelyne Oliveira Santos


RESUMO

A mortalidade materna é um indicador crucial da qualidade dos serviços de saúde e reflete desigualdades no acesso e na atenção prestada às gestantes. Em situações de emergências obstétricas, diversos fatores contribuem para o desfecho fatal, incluindo barreiras estruturais, limitações no atendimento pré-hospitalar, falhas na identificação precoce de complicações e dificuldades na assistência especializada.  Esta revisão integrativa busca sintetizar as principais evidências sobre os fatores associados à mortalidade materna em emergências obstétricas, analisando estudos que abordam causas diretas e indiretas, tempo-resposta na assistência e impactos socioeconômicos. Os achados apontam que atrasos no reconhecimento da gravidade do quadro, transporte inadequado e limitações no manejo clínico são determinantes críticos. Além disso, fatores como pobreza, baixa escolaridade e acesso limitado a serviços de saúde qualificados aumentam o risco de óbito materno. A compreensão desses fatores pode subsidiar estratégias para a melhoria da atenção obstétrica, incluindo capacitação profissional, ampliação da rede de cuidados e implementação de protocolos eficientes para manejo emergencial, contribuindo para a redução da mortalidade materna e promoção da saúde materno-infantil.  

Palavras- chave: Mortalidade Materna, Qualidade da Assistência à Saúde, Complicações da Gravidez.

ABSTRACT

Maternal mortality is a crucial indicator of the quality of health services and reflects inequalities in access and care provided to pregnant women. In obstetric emergency situations, several factors contribute to the fatal outcome, including structural barriers, limitations in pre-hospital care, failures to identify complications early and difficulties in specialized assistance.  This integrative review seeks to synthesize the main evidence on the factors associated with maternal mortality in obstetric emergencies, analyzing studies that address direct and indirect causes, response time in care and socioeconomic impacts. The findings indicate that delays in recognizing the severity of the condition, inadequate transportation and limitations in clinical management are critical determinants. Furthermore, factors such as poverty, low education and limited access to qualified health services increase the risk of maternal death. Understanding these factors can support strategies for improving obstetric care, including professional training, expanding the care network and implementing efficient protocols for emergency management, contributing to reducing maternal mortality and promoting maternal and child health.

Keywords: Maternal Mortality, Quality of Health Care, Pregnancy Complications.

INTRODUÇÃO

A morte materna é definida pela Classificação Internacional de Doenças (CID-10) como o óbito de uma mulher durante a gestação, no parto ou até 42 dias após o término da gravidez, resultante de qualquer causa relacionada ou agravada pela gestação ou seu manejo, excetuando-se causas acidentais ou incidentais. Essa definição reflete a importância de monitorar as condições de saúde das gestantes e puérperas, com foco nas complicações diretamente associadas ao período gestacional, visando à prevenção e redução da mortalidade materna (Staff et al., 2022).

A mortalidade materna em emergências obstétricas é um problema de saúde pública significativa, especialmente em países em desenvolvimento, onde o acesso a cuidados médicos de qualidade é limitado. Os fatores relacionados a essas mortes incluem causas diretas, como hemorragias pós-parto, hipertensão gestacional grave (pré-eclâmpsia e eclâmpsia), infecções puerperais, abortos inseguros e complicações no parto. Esses fatores representam a maior parte das emergências que levam ao óbito materno e todos são causas evitáveis, havendo a necessidade de profissionais qualificados no atendimento à gestação, parto e puerpério, com retaguarda de emergências acessíveis funcionastes, ao colocar a maternidade segura como uma de suas prioridades (Karrar; Hong, 2023).

Causas indiretas também desempenham um papel importante, como a presença de doenças preexistentes (diabetes, doenças cardíacas, renais ou autoimunes), que podem ser agravadas durante a gravidez. A falta de diagnóstico precoce e manejo adequado dessas condições contribuem significativamente para os desfechos adversos (Cunningham et  al., 2021).

Além dos fatores clínicos, determinantes sociais e estruturais têm impacto crucial na mortalidade materna. Entre eles estão a falta de acesso a serviços de saúde de qualidade, demora no atendimento emergencial, deficiência em infraestrutura hospitalar, falta de profissionais qualificados e barreiras socioeconômicas, como pobreza e desigualdade. Questões culturais e falta de informação sobre saúde materna também podem atrasar a procura por assistência médica (Chappez et al., 2021).

A mortalidade materna em emergências obstétricas pode ser reduzida significativamente com intervenções eficazes, como acesso oportuno a cuidados pré-natais, presença de profissionais capacitados durante o parto, disponibilização de centros de referência para emergências obstétricas, além de políticas públicas voltadas à equidade e melhoria da saúde materna. A educação da população e o fortalecimento dos sistemas de saúde são essenciais para minimizar os riscos e salvar vidas (Dimitriadis et al., 2023). Diante disso, definiu-se como objetivo desse estudo identificar os fatores que colaboram com o aumento da mortalidade materna.

MÉTODO

Esta revisão sistemática utilizou como protocolo as orientações PRISMA (Preferred Reporting Items for Systematic reviews and MetaAnalyses). O levantamento dos estudos foi realizado no mês de janeiro de 2025. 

Utilizaram-se os descritores: mortalidade materna, qualidade da   assistência   à   saúde, complicações da gravidez, junto ao operador booleano “AND” entre eles. A pesquisa foi realizada nas bases de dados indexadas: Medical Literature Analysis and Retrievel System Online (MEDLINE) e Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Todos os títulos e resumos recuperados pela busca eletrônica foram analisados manualmente por dois revisores, de forma independente. Após a seleção feita, procedeu-se a leitura integral dos documentos. 

Os estudos foram selecionados de acordo com os seguintes critérios de inclusão: artigo original, artigo completo, artigos que respondam o objetivo da pesquisa e artigos publicados nos últimos 10 anos. Os artigos excluídos foram: editoriais ou atualizações de protocolos; artigos não disponíveis em texto completo na base ou mediante solicitação aos autores, artigos que não foram escritos em Inglês ou em Português. Também foram excluídos estudos pilotos, estudos ou relatos de caso, conferências e anais. 

Foram encontrados 199 artigos nas bases de dados. De acordo com os critérios de exclusão 34 artigos foram selecionados para serem lidos na íntegra e, por fim, 10 artigos compuseram o escopo dessa revisão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pré-eclâmpsia é uma condição gestacional complexa e suas causas não são totalmente compreendidas, mas envolvem uma combinação de fatores. A principal causa é uma falha no desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta, o que prejudica o fluxo sanguíneo entre mãe e feto e aumenta a pressão arterial da gestante. Essa falha no desenvolvimento dos vasos sanguíneos da placenta é um dos principais mecanismos subjacentes da pré-eclâmpsia. Durante a gestação, a placenta desempenha um papel vital ao fornecer oxigênio e nutrientes ao feto por meio do sangue materno. Quando os vasos sanguíneos da placenta não se desenvolvem adequadamente, o fluxo sanguíneo é comprometido, e isso resulta em uma maior resistência vascular. Esse aumento na resistência pode levar ao aumento da pressão arterial na mãe, o que, por sua vez, pode causar dano aos órgãos da gestante, como os rins, fígado e cérebro (Karrar; Hong, 2023).

Além disso, essa disfunção vascular na placenta pode ativar uma resposta inflamatória no organismo da mãe, contribuindo para a retenção de sódio e líquidos, o que agrava ainda mais a hipertensão. A hipoxia fetal (baixo nível de oxigênio) também é uma consequência dessa disfunção, o que pode afetar o desenvolvimento do feto, levando a complicações como restrição de crescimento intrauterino, sofrimento fetal e até mesmo morte intrauterina (Cunningham et  al., 2021).

Além dos efeitos diretos sobre a mãe e o feto, a pré-eclâmpsia pode evoluir para formas mais graves, como eclâmpsia, que envolve convulsões e pode ser fatal se não tratada rapidamente. Em casos mais severos, pode ocorrer síndrome HELLP. O nome “HELLP” é uma sigla em inglês que representa três condições: hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos), elevação das enzimas hepáticas e baixa contagem de plaquetas. Essa síndrome é uma emergência médica e pode causar sérias complicações para a saúde materna, como insuficiência hepática, falência renal, distúrbios hematológicos e insuficiência cardíaca (Krebs; Silva; Bellotto, 2021).

Além disso, pode resultar em sérios riscos para o feto, incluindo restrição do crescimento intrauterino, sofrimento fetal e até morte fetal. Os sintomas mais comuns incluem dor abdominal intensa, náuseas, vômitos, dor de cabeça e distúrbios visuais. A síndrome HELLP frequentemente se desenvolve em mulheres com pré-eclâmpsia grave ou em gestações avançadas. O tratamento imediato envolve estabilização da mãe, controle da pressão arterial e, muitas vezes, o parto imediato, para reduzir os riscos para ambos, mãe e bebê. Por ser uma condição potencialmente fatal, a síndrome HELLP requer intervenção médica urgente e monitoramento especializado para garantir a segurança da gestante e do feto (Rezende, 2022).

Por isso, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado são fundamentais para controlar a pressão arterial e evitar complicações tanto para a mãe quanto para o bebê. A compreensão das causas e mecanismos da pré-eclâmpsia é essencial para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e manejo da condição, além de alertar para a importância do acompanhamento médico durante toda a gestação, especialmente em gestantes que apresentam fatores de risco conhecidos. Além disso, a hipertensão pré-existente ou a pressão arterial elevada durante a gestação são fatores de risco significativos, com mulheres que já têm histórico de hipertensão apresentando maior chance de desenvolver a condição. Doenças renais crônicas também aumentam o risco, pois podem afetar a função renal e contribuir para a retenção de líquidos e elevação da pressão arterial (Trajano; Monteiro; Jesus, 2022).

Outro fator importante é a presença de distúrbios autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico, que afeta o sistema imunológico e pode levar à disfunção placentária. A idade materna também é relevante, com gestantes muito jovens (abaixo de 18 anos) ou mais velhas (acima de 35 anos) apresentando um risco maior de desenvolver pré-eclâmpsia. Mulheres com histórico de pré-eclâmpsia em gestações anteriores têm maior chance de sofrer com a condição em uma nova gravidez. A gravidez múltipla (gêmeos ou mais) também está associada a um risco maior, devido ao aumento da carga sobre a placenta (Staff et al., 2022).

Obesidade, diabetes, especialmente o diabetes gestacional, e a síndrome metabólica, que envolve fatores como resistência à insulina, também são fatores de risco importantes para o desenvolvimento da pré-eclâmpsia. Por fim, a predisposição genética tem um papel significativo, já que mulheres com histórico familiar de pré-eclâmpsia têm uma maior probabilidade de desenvolver a condição. A interação entre esses fatores pode aumentar o risco de pré-eclâmpsia, tornando essencial o acompanhamento médico constante e a vigilância rigorosa durante a gestação para prevenir complicações graves tanto para a mãe quanto para o bebê (Dimitriadis et al., 2023).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pré-eclâmpsia é uma condição obstétrica grave, especialmente para mulheres com condições preexistentes como hipertensão, diabetes, doenças renais e distúrbios autoimunes. Essas condições aumentam significativamente o risco de desenvolvimento da pré-eclâmpsia, levando a complicações que afetam tanto a saúde materna quanto a fetal. Mulheres com histórico de pré-eclâmpsia em gestações anteriores ou gestantes de alto risco, como aquelas com gravidez múltipla ou idade avançada, também estão mais vulneráveis.

A detecção precoce e o monitoramento constante durante a gestação são essenciais para prevenir complicações graves, como síndrome HELLP e eclâmpsia. Estratégias de manejo, como controle rigoroso da pressão arterial, monitoramento da função renal e hepática, e, em alguns casos, a administração de medicamentos, são fundamentais para reduzir os riscos e garantir a saúde tanto da mãe quanto do feto.

Além disso, a educação e orientação adequada sobre os sinais e sintomas da pré-eclâmpsia, bem como o acompanhamento médico regular, são cruciais para mulheres com condições preexistentes. A colaboração entre equipes médicas multidisciplinares, incluindo obstetras, cardiologistas, nefrologistas e outros especialistas, é fundamental para o manejo adequado e para a prevenção de complicações. Portanto, a compreensão das implicações da pré-eclâmpsia em gestantes de alto risco é fundamental para a implementação de estratégias preventivas e para garantir desfechos favoráveis para essas mulheres e seus bebês. O acompanhamento precoce, as intervenções adequadas e a comunicação eficaz com a gestante e sua família são pilares para a redução dos riscos associados à pré-eclâmpsia e suas complicações.

REFERÊNCIAS

CHAPPELL, Lucy C. et al. Pre-eclampsia. The Lancet, v. 398, n. 10297, p. 341-354, 2021

CUNNINGHAM, F. G. et al. Obstetrics. 26ed. New York (NY): McGraw-Hill Medical; 2021

DIMITRIADIS, Evdokia et al. Pre-eclampsia. Nature Reviews Disease Primers, v. 9, n. 1, p. 8, 2023

KARRAR,  S.  A.;   HONG,   P.   L.  Preeclâmpsia.  2023. StatPearls.

KREBS, V. A.; SILVA, M. R.; BELLOTTO, P. C. B. Síndrome de Hellpe Mortalidade Materna: Uma revisão integrativa. BJHR,v. 24, n. 2, p 6297–311, 2021.

MEDJEDOVIC,Edin  et  al.  Pre-eclampsia  and  maternal  health  through  the  prism  of  low-income countries. Journal of Perinatal Medicine, v. 51, n. 2, p. 261-268, 2023.

REZENDE  FILHO,  J.  Obstetrícia  fundamental.  14ªed.  Rio  De  Janeiro:  Gen,  Guanabara Koogan; 2022.1104p.

STAFF, A.C. et al.Failure of physiological transformation and spiral artery atherosis: their roles in preeclâmpsia. Am J Obstet Gynecol., v.226, n. 2, e1-e16, 2022.

TRAJANO, A. J. P.; MONTEIRO D.  L. M. JESUS N. R. Serie Rotinas Hospitalares Obstetricia.3ªed. Vol. XI. Rio de Janeiro: Editora Triunfal; 2022.