A ÁGUA ESBRANQUIÇADA QUE SAI DAS TORNEIRAS É CAUSADA PELO EXCESSO DE CLORO?

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202504041903


Mirian Sandins Leitzke1


RESUMO  

Este artigo científico tem como objetivo ampliar o conhecimento do público em geral sobre química ambiental, explicando, de forma acessível e objetiva, fenômenos frequentemente observados no cotidiano, mas que, devido à falta de conhecimento técnico, são muitas vezes interpretados de maneira equivocada. Além disso, busca fornecer suporte teórico e orientação acadêmica a estudantes de Química, Química Ambiental e Saneamento Ambiental, auxiliando na compreensão de processos relacionados ao tratamento e distribuição da água. 

O estudo enfatiza a importância do controle da qualidade da água, abordando os principais parâmetros físico-químicos e microbiológicos exigidos pelas normativas vigentes, bem como os processos adotados nas Estações de Tratamento de Água (ETAs) para garantir a potabilidade. Além disso, esclarece equívocos amplamente disseminados entre a população, como a percepção errônea de que a coloração esbranquiçada da água proveniente das torneiras está relacionada ao excesso de cloro, quando, na realidade, trata-se do fenômeno do ar emulsionado. 

Dessa forma, o artigo visa não apenas desmistificar informações incorretas, mas também contribuir para a conscientização sobre a importância da água potável e da preservação dos recursos hídricos, promovendo uma abordagem científica fundamentada e acessível. 

Palavras-chave: Química Ambiental; Tratamento de Água; Qualidade da Água; Potabilidade; Ar Emulsionado; Saneamento Ambiental. 

1. INTRODUÇÃO 

A água é um recurso essencial para a manutenção da vida no planeta Terra, desempenhando um papel vital nos ecossistemas, na saúde humana e no desenvolvimento socioeconômico. Entretanto, sua disponibilidade em condições adequadas para consumo é limitada. Dos 100% da água presente no planeta, aproximadamente 97,5% são compostos por água salgada, enquanto apenas 2,5% correspondem à água doce. Deste percentual, cerca de 68,9% estão retidos nas calotas polares e geleiras, 29,9% encontram-se em aquíferos subterrâneos, e apenas 1,2% estão disponíveis em forma de águas superficiais como rios, lagos e reservatórios acessíveis ao consumo humano direto (IBGE, 2017). 

A distribuição desigual da água doce e sua crescente demanda colocam desafios significativos para a gestão hídrica e para a garantia do acesso universal a esse recurso. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2017, cerca de 63,9% dos 5.507 municípios brasileiros eram abastecidos por redes de distribuição de água tratada. No entanto, a precariedade no saneamento básico ainda representa uma ameaça à saúde pública, conforme apontado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que estima que a falta de acesso à água potável e ao saneamento adequado seja responsável por uma morte infantil a cada 20 segundos. 

Apesar de ser essencial para a vida, a água pode conter impurezas, como elementos químicos e microorganismos patogênicos, que devem ser reduzidos a concentrações seguras antes de seu consumo. Com a evolução da ciência e da engenharia sanitária, diversos métodos de tratamento foram desenvolvidos para garantir que a água distribuída atenda aos padrões de potabilidade exigidos por órgãos reguladores, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde do Brasil. 

As Estações de Tratamento de Água (ETAs) desempenham um papel fundamental nesse contexto, uma vez que são responsáveis pela remoção de contaminantes físicos, químicos e biológicos das fontes hídricas por meio de uma combinação de processos de purificação. Segundo a OMS, o investimento em infraestrutura de abastecimento de água e saneamento não apenas melhora a qualidade de vida da população, como também reduz custos com saúde. Para cada dólar investido no setor, estima-se uma economia de 4,3 dólares em despesas médicas e em produtividade global. Além disso, a assistência internacional voltada para a melhoria dos serviços de saneamento básico aumentou seu comprometimento financeiro em 30% entre 2010 e 2012, passando de 8,3 bilhões para 10,9 bilhões de dólares, com foco especial em regiões vulneráveis, como a África Subsaariana e o Sul e Sudeste Asiático (OMS, 2012). 

A relação entre saneamento e desenvolvimento econômico também é amplamente reconhecida. Estudos indicam que, para cada dólar investido em saneamento básico e acesso à água potável, o Produto Interno Bruto (PIB) global pode crescer em até 1,5% devido à melhoria na saúde da população e no aumento da produtividade (OMS, 2012). Dessa forma, é imprescindível que os esforços para universalizar o acesso à água tratada sejam prioridades tanto nas agendas nacionais quanto internacionais, especialmente diante dos desafios climáticos e da crescente urbanização. 

O tratamento e a distribuição da água fazem parte do protocolo de saúde pública e são serviços essenciais para garantir qualidade de vida à população. Para isso, é necessário que o processo siga normas rigorosas e padrões previamente estabelecidos que garantam sua segurança para o consumo humano. Nesse cenário, a pesquisa e os avanços acadêmicos desempenham um papel relevante ao possibilitar inovações tecnológicas que reduzem custos operacionais e aumentam a eficiência dos processos, beneficiando tanto os consumidores quanto o meio ambiente. 

Embora a água seja um recurso renovável, sua contaminação e uso descontrolado podem torná-la imprópria para o consumo. Dessa forma, a preservação das fontes hídricas, o aprimoramento dos sistemas de tratamento e a conscientização da população sobre a importância do uso responsável da água são medidas fundamentais para garantir a disponibilidade e qualidade desse recurso essencial para as futuras gerações. 

2. DESENVOLVIMENTO  

2.1 COMO SE DÁ O PROCESSO DE TRATAMENTO DE ÁGUA? 

O tratamento da água é um conjunto de processos físicos, químicos e biológicos que visam tornar a água captada de fontes superficiais ou subterrâneas próprias para o consumo humano, eliminando impurezas e garantindo a segurança sanitária da população. Esse tratamento é essencial para prevenir doenças de veiculação hídrica, como gastroenterites, hepatites virais, cólera e leptospirose, além de melhorar as características organolépticas da água (cor, sabor e odor). 

O tratamento da água superficial segue um rigoroso protocolo dividido em várias etapas fundamentais, que garantem a potabilidade da água distribuída. Essas etapas incluem: 

  • Captação: a água bruta é retirada de mananciais superficiais (rios, lagos e represas) ou subterrâneos (poços artesianos e aquíferos) e direcionada para o tratamento. O tipo de captação depende da qualidade da água e da demanda da população. 
  • Adução: transporte da água bruta até a Estação de Tratamento de Água (ETA) por meio de tubulações, canais ou sistemas de bombeamento. A eficiência dessa etapa impacta diretamente a qualidade e a quantidade de água que chega para tratamento. 
  • Mistura rápida: a água recebe um coagulante químico, geralmente sulfato de alumínio (Al₂(SO₄)₃) ou cloreto férrico (FeCl₃), que neutraliza cargas elétricas das partículas suspensas, facilitando sua aglomeração. 
  • Floculação: agitação controlada da água para permitir a formação de flocos maiores (compostos por impurezas aglomeradas). Esse processo melhora a eficiência da decantação e filtração subsequentes. 
  • Decantação: a água é mantida em repouso em grandes tanques, permitindo que os flocos formados na etapa anterior se sedimentem no fundo. Isso reduz significativamente a turbidez da água. 
  • Filtração: a água passa por camadas filtrantes compostas por areia, cascalho e carvão antracitoso, que retêm partículas menores, como sedimentos finos e micro-organismos. Esse processo complementa a remoção de impurezas e melhora a transparência da água. 
  • Desinfecção: etapa crucial na qual agentes desinfetantes, como cloro (Cl₂) ou dióxido de cloro (ClO₂), são adicionados à água para eliminar bactérias, vírus e protozoários patogênicos. O cloro residual livre deve permanecer dentro dos parâmetros estabelecidos para garantir a proteção contínua da água até seu consumo final. 
  • Fluoretação: adição de compostos de flúor, como fluoreto de sódio (NaF) ou ácido fluossilícico (H₂SiF₆), em quantidades controladas para prevenir cáries dentárias na população, conforme recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)
  • Armazenamento e distribuição: após ser tratada, a água é armazenada em reservatórios elevados ou subterrâneos, garantindo pressão adequada para a distribuição. O sistema de bombeamento transporta a água potável através de redes de tubulação até residências, indústrias e estabelecimentos comerciais. 
Regulamentação e Controle da Qualidade 

A água tratada deve atender a padrões de potabilidade estabelecidos por legislações nacionais e internacionais para assegurar sua qualidade e segurança para o consumo humano. No Brasil, os critérios de qualidade da água são definidos pelo Anexo XX da Portaria de Consolidação nº 5/2017 do Ministério da Saúde, que estabelece limites para parâmetros microbiológicos, físico-químicos e organolépticos. 

No Rio Grande do Sul, as Estações de Tratamento de Água (ETAs) realizam um rigoroso monitoramento contínuo, com análises físico-químicas e microbiológicas conduzidas de hora em hora para garantir a conformidade com a regulamentação vigente. Esse controle ocorre tanto nas ETAs quanto em poços e fontes subterrâneas, que, apesar de necessitarem de menos etapas de tratamento, ainda devem obedecer aos padrões exigidos pela legislação. 

A supervisão do cumprimento dessas normas é realizada por diversos órgãos reguladores e fiscalizadores, incluindo: 

  • Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos Delegados do Rio Grande do Sul (AGERGS) – responsável por estabelecer normas e fiscalizar a qualidade da prestação dos serviços de saneamento. 
  • Agência Reguladora Intermunicipal de Saneamento do Rio Grande do Sul (AGESAN-RS) – atua na regulação do saneamento em municípios consorciados, garantindo padrões mínimos de qualidade. 
  • Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados de Santa Maria (AGERST) e Agência Reguladora dos Serviços Públicos de Pelotas (AGER) – desempenham funções semelhantes, mas com foco em suas respectivas cidades e regiões. 
  • Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde e Vigilância Sanitária – realizam inspeções, coletas e análises periódicas da qualidade da água distribuída. 
  • Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (VIGIAGUA) – iniciativa federal do Ministério da Saúde, que monitora e fiscaliza a qualidade da água potável em todo o país, identificando falhas no abastecimento e determinando medidas corretivas. 

As inspeções realizadas por esses órgãos são documentadas periodicamente, e eventuais irregularidades devem ser corrigidas dentro de prazos pré-determinados. O descumprimento dessas exigências pode resultar em advertências, multas e até sanções mais severas, como a suspensão da concessão do serviço de abastecimento. 

A Importância da Fiscalização e das Tecnologias no Controle da Qualidade.

A garantia da qualidade da água no Brasil envolve um alto grau de interação entre diferentes agentes públicos e privados, além do emprego de tecnologias avançadas para monitoramento e tratamento. Atualmente, o setor de saneamento tem investido em automação e digitalização para aprimorar o controle operacional das ETAs, empregando: 

  • Sensores em tempo real que monitoram parâmetros como pH, turbidez, cloro residual e presença de metais pesados na água distribuída. 
  • Sistemas de telemetria e IoT (Internet das Coisas), que permitem o controle remoto da qualidade da água em diferentes pontos da rede de abastecimento. 
  • Técnicas avançadas de tratamento, como filtração por membranas de nanofiltração e osmose reversa, aplicadas em casos específicos de contaminação severa. 
  • Modelagem computacional e inteligência artificial, que otimizam processos de dosagem de produtos químicos e preveem anomalias na qualidade da água. 

Dessa forma, a qualidade da água distribuída no Rio Grande do Sul e no Brasil depende de uma infraestrutura complexa de tratamento, fiscalização rigorosa e avanços tecnológicos contínuos. A implementação de novas estratégias para aprimorar a eficiência operacional das ETAs e reduzir perdas no sistema de abastecimento são fundamentais para garantir que a água chegue aos consumidores dentro dos padrões de segurança e potabilidade. 

2.2. QUAIS OS INDICADORES DE QUALIDADE DA ÁGUA DISTRIBUÍDA? 

2.2.1. Parâmetros de Qualidade da Água 

A água contém diversos componentes provenientes, tanto do próprio meio natural, bem como, os adicionados por meio das atividades humanas. 

Portanto, para se caracterizar uma água, são utilizados diversos parâmetros, os quais representam as suas características, tanto físicas, químicas e biológicas. Esses parâmetros indicadores da qualidade da água se constituem impurezas quando alcançam valores superiores aos estabelecidos em lei para águas de determinado uso específico. Os principais indicadores de qualidade da água para consumo humano em distribuição de rede discutidos a seguir são separados sob os aspectos físico e organoléptico, químico e biológico. Os valores de referência, no Brasil, encontram- se no Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde. 

2.2.2. Parâmetros Físicos e organolépticos: 
  1. Temperatura: é a medida da intensidade de calor. Tal parâmetro, influi em algumas propriedades da água como densidade, viscosidade, oxigênio dissolvido, com muitos reflexos sobre a vida aquática. A temperatura pode variar em função de fontes naturais devido às estações do ano e a intensidade da energia solar e/ou por interferência de fontes antropogênicas como despejos industriais e águas de resfriamento de máquinas. 
  1. Cor: resulta da existência, na água, de substâncias em solução. Pode ser causada pelo ferro ou manganês, pela decomposição da matéria orgânica da água (principalmente vegetais/húmus), e/ou pela presença de partículas coloidais finamente divididas e dispersas na água como coloides e suspensões finas, pelas algas ou pela introdução de esgotos industriais e domésticos. A remoção da cor tem por finalidade tornar a água mais adequada para aplicações gerais e industriais. A cor da água potável é considerada entre os fatores psicológicos ou estéticos, porque uma água corada não é bem aceita pelo consumidor. O VMP (Valor Máximo Permitido) na água tratada segundo o Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde é de 15 mg/L Pt-Co. 
  1. Turbidez: é causada por presença de partículas orgânicas ou inorgânicas em suspensão ou em estado coloidal. Essas partículas absorvem e refletem a luz incidente. Sendo assim é uma característica física onde a luz é dispersada e absorvida em vez de transmitida em linha reta através da amostra. Vírus e bactérias podem se alojar nas partículas em suspensão coloidal e dessa maneira se proteger da ação do desinfetante. O Valor Máximo Permitido (VPM) para a turbidez é de 0,5 UT para água filtrada com filtração rápida ou filtração direta e de 1,0 UT para água filtrada ou com pré-desinfecção como em águas subterrâneas. Na saída do tratamento e em qualquer ponto de rede de distribuição o valor máximo permitido (VPM) é de 5,0 UT conforme as orientações do Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde.  
  1. Odor e sabor: podem resultar de causas naturais como a presença de algas; vegetação em decomposição; bactérias; fungos; compostos orgânicos, tais como gás sulfídrico, sulfatos e/ou artificiais como esgotos domésticos e industriais. O padrão de potabilidade exigido em lei é uma água inodora ou com odor aceitável de cloro e sabor não objetável, (N.O.). 

Parâmetros Químicos: 

  1. pH: é o parâmetro que indica se uma solução é ácida, básica ou neutra. Ele é representado por uma escala numérica que varia de 0 a 14, onde 7 é o pH neutro, de 6.9 a zero é de ácido a extremamente ácido e de 7,1 até 14 sendo considerado básico (alcalino) até o extremamente básico (alcalino). O pH no abastecimento de água é significativo, porque afeta diretamente o processo de tratamento e pode contribuir para a corrosão das estruturas das instalações hidráulicas e do sistema de distribuição. A faixa de pH recomendado pelo Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde é de 6,0 a 9,5.
  2. Alcalinidade: é uma propriedade da água que permite a neutralização ou a redução de suas características ácidas. Esta propriedade é devido à presença de hidróxidos (OH), bicarbonatos (HCO3-) ou carbonatos (CO3 2-). Seu controle tem grande importância em vários problemas tais como: processos de coagulação, abrandamento e fenômenos de corrosão.
  3. Dureza: é a concentração total de cálcio e magnésio expressa em CaCO3.Também conhecida como dureza de carbonatos, dureza temporária sendo esta a porção da dureza total que é quimicamente igual a alcalinidade de carbonatos e bicarbonatos, podendo ser removida por ebulição. Há também a dureza de não carbonatos, também chamada de dureza permanente. É a porção da dureza total devida aos sulfatos, cloretos e nitratos de cálcio e magnésio.  

O valor máximo permitido (VPM) permitido no Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde é de 500 mg/L de CaCO3.

1. Cloretos: os cloretos são combinações de cloro com outros elementos, sempre encontrados na água doce, geralmente em concentrações que não são prejudiciais e nem objetáveis. O conteúdo de cloreto numa determinada água é praticamente constante, então qualquer variação significativa deve ser considerada pois, possivelmente, algum despejo deve tê-la provocado. De um modo geral, os cloretos na água provêm de depósitos minerais, vapores oceânicos levados pelos ventos, invasão de água salgada no manancial doce, poluição por matéria fecal ou despejos industriais etc.

O VMP (valor máximo permitido) para cloretos foi fixado em 250 mg/L de Cl- conforme citado no Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde).  

2. Manganês: o manganês ocorre em algumas águas naturais quase sempre em conjunto com o ferro sendo oriundos da dissolução de solos arenosos, terrenos de aluvião ou pântanos. Nestes tipos de solo, quando ocorre a decomposição da matéria orgânica, produz gás carbônico (CO e CO2) que solubilizam compostos de manganês, bem como os de ferro. 

O anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017, alterado pelas portarias 888/2021 e 2472/2021 do Ministério da Saúde, estabelece para o elemento Manganês, o (VMP) valor máximo permitido em 0,10 mg/L de Mn para águas de consumo humano. 

3. Ferro: o ferro ocorre em águas naturais, quase sempre em conjunto com o manganês. Portanto, o ferro é encontrado com frequência em poços, galerias de captação e represas na forma solúvel, coloidal, complexado com substâncias orgânicas e inorgânicas ou em suspensão. Sua presença é altamente indesejável em águas de abastecimento para uso doméstico ou industrial, pois os traços de ferro afetam a cor e o odor da água. Em teores mais elevados podem causar manchas em aparelhos sanitários, em roupas após lavagem, acumular em depósitos em sistemas de distribuição e em equipamentos industriais. 

O ferro também pode propiciar o desenvolvimento de ferrobactérias nos sistemas de distribuição, provocando uma diminuição da capacidade das tubulações, aumentar o consumo de cloro residual e diminuição do teor de oxigênio dissolvido o que afeta na qualidade, cor e sabor das águas de consumo humano. 

O Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017, alterado pelas portarias 888/2021 e 2472/2021 do Ministério da Saúde, estabelece para o elemento Ferro, o (VMP) valor máximo permitido em 0,30 mg/L de Fe para águas de consumo humano.

4. Fluoretos: os compostos de flúor são encontrados geralmente em quantidades maiores nas águas subterrâneas do que nas superficiais. A solubilidade do fluoreto e a quantidade em que este se encontra na água dependem da natureza, da formação rochosa, da velocidade da água e da temperatura local.

O valor máximo permitido (VMP) máximo em águas de consumo humano permitido pelo Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde é de 1,5 mg/L de F. A Portaria 10/99 da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul considera como estando dentro dos padrões de potabilidade quando apresentarem a concentração do íon fluoreto dentro da faixa de 0,6 a 0,9 mg/L 

5. Cloro Residual Livre: uma quantidade suficiente de cloro deve ser adicionada a água tratada para se obter uma correta desinfecção assegurando a destruição da vida bacteriana e viral. Esta quantidade deverá ser tal que, após o equilíbrio da relação cloro x matéria orgânica oxidável (M.O.), o excedente é chamado de cloro residual. A permanência desse residual indica que as reações químicas e biológicas foram completadas. Por isso, a determinação de um cloro residual é, efetivamente, uma das mais importantes análises no controle de qualidade de uma água. A existência de um residual na água distribuída para a população é garantia de qualidade contra eventuais contaminações posteriores à saída do tratamento que possam vir a desestabilizar o equilíbrio da relação cloro x Matéria Orgânica oxidável. 

Tabela 1 – Equilíbrio de Relação Cloro x Matéria Orgânica Oxidável

PONTO DE COLETAS EXIGENCIA E RECOMENDAÇÃO VALOR mg/L Cl2 ARTIGO 
Saída do Sistema Mínimo Legal 0,40 Anexo IV 
Qualquer ponto da rede Mínimo Legal 0,20 Artigo 34 
Qualquer ponto da rede Máximo Legal 2,00 Artigo 39 §2 
Qualquer ponto da rede Máximo Legal 5,00 Anexo VII 

Fonte: Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 Ministério da Saúde 

1. Alumínio: o excesso de íons de alumínio (Al 3+) na água tratada pode revelar uma dosagem inadequada do agente coagulante ou ainda, a passagem de flocos através dos filtros devido às retrações junto as paredes ou fendas no leito filtrante ou revela uma lavagem incorreta dos filtros. Com a correção química do pH esses flocos se solubilizam. A presença excessiva do alumínio pode provocar precipitações e consequente elevada turbidez nas redes de distribuição, fenômeno também conhecido como refloculação de rede. A determinação do alumínio residual é um grande auxiliar na escolha da dosagem conveniente, ótima ou econômica quando se emprega um coagulante à base de alumínio. O hidróxido de alumínio em forma de floco, à medida que o pH do meio se afasta de 6,2 para ambos os lados da tabela, aumenta a sua solubilidade. Logo, a ausência de alumínio residual na água tratada indica boa operação no tratamento de água.

O valor máximo permitido (VMP) para o alumínio residual foi fixado em 0,2 mg/L de Al 3+ segundo o Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde. 

2. Oxigênio Dissolvido (O.D.): provém de duas fontes principais: atmosfera e assimilação fotossintética. Sua concentração nas águas naturais depende das atividades físicas, químicas e biológicas. A camada superficial da água quando em contato com o ar, dissolve o oxigênio em quantidades que dependem da pressão e da temperatura. Pelo processo das fotossínteses a água recebe quantidades consideráveis de oxigênio das plantas aquáticas. O oxigênio dissolvido contribui para a depuração dos mananciais, e é um fator importante no fenômeno da corrosão das canalizações de ferro e outros metais. Esta corrosão pode ocorrer em pH que varia de 5,0 a 9,2, sendo que o pH baixo acelera a ação corrosiva e o pH alto retarda, mas não inibe. Esta ação é acentuada pela presença de dióxido de carbono (CO2). Águas bem oxigenadas apresentam-se muito agradáveis ao paladar. A desoxigenação ocorre em águas altamente poluídas, em pontos mortos ou em secções estranguladas de redes. 

A diminuição ou ausência de oxigênio indica uma água de má qualidade. 

3. Demanda Bioquímica de Oxigênio (D.B.O5): essa análise indica a quantidade de oxigênio que foi consumido num espaço de tempo determinado (em 5 dias), em decorrência da atuação de bactérias e outros organismos sobre a matéria orgânica. Assim, deduz-se que, quanto mais alto a DBO de 5 dias, pior a qualidade da água. 

4. Matéria Orgânica: a sua determinação permite avaliar a quantidade de matéria passível de ser oxidada por um agente químico oxidante. O material oxidado pode ser de origem orgânica proveniente de despejos industriais e cloacais, excremento de animais e vegetais em decomposição. 

5. Cobre: a análise residual de cobre se faz necessária quando é aplicado o sulfato de cobre para o controle do mexilhão dourado. Residuais elevados poderão implicar em problemas de gosto desagradável devido ao próprio algicida.

O valor máximo permitido (VMP) é de 2,0 mg/L de Cu 2+ conforme o Anexo XX da Portaria de Consolidação 05/2017 do Ministério da Saúde. 

Parâmetros Biológicos 

A análise dos parâmetros biológicos em águas de consumo humano é fundamental para garantir a segurança e qualidade aos consumidores, prevenir doenças e cumprir com as normas de regulação nas esferas Municipal, Estadual e Federal.  

Através das análises dos parâmetros é possível detectar e prevenir: 

  • Detecção de agentes patógenos:  a presença de patógenos, como bactérias, vírus e protozoários, que podem causar doenças em humanos.   
  • Avaliação da qualidade da água: sendo possível identificar possíveis fontes de contaminação. 
  • Prevenção de doenças: a detecção precoce de patógenos na água pode ajudar a prevenir a ocorrência de doenças como gastroenterites, hepatites e outras infecções de veiculação hídrica. 
  • Garantia de segurança: garante a segurança da qualidade da água para consumo humano, protegendo a saúde pública de e cumprindo as regulamentações e normas de qualidade estabelecidas em leis e portarias pelos órgãos de saúde pública. 
Parâmetros Biológicos Analisados 
  • Coliformes: estas análises indicam a presença ou não de bactérias contaminantes e fecais como a Escherichia Coli (E. coli) e Enterococos e Heterotróficas. Vírus, como o rotavírus e o norovírus, bem como os protozoários Giardia e Cryptosporidium.  

Segundo o Anexo 1 do Anexo XX da Portaria de Consolidação: 

Escherichia Coli (E. coli) e Coliformes Totais:  devem ser “AUSENTE” em todas as amostras na saída do tratamento. 

Escherichia coli (E. coli): deve ser AUSENTE em todas as análises de rede ao longo do mês. 

  • Coliformes totais: em cidades até 20.000 habitantes pode ter apenas 01 (uma) amostra POSITIVA ao longo do mês. E, em cidades acima de 20.000 habitantes, 95% das amostras ao longo do mês devem ser NEGATIVAS para coliformes totais. 
  • Algas: algumas algas podem produzir toxinas nocivas à saúde humana, principalmente em pacientes de Hemodiálise. As análises dos parâmetros de algas permitem detectar a presença dessas toxinas, bem como, avaliar e identificar possíveis fontes de contaminação. Ajuda também a prevenir a ocorrência de doenças como as gastroenterites, hepatites e outras infecções. 

Alguns parâmetros analisados: 

  • Clorofila-a e cianobactérias: indicador de presença ou não de algas. 
  • Tipos de algas: especificação dos tipos de algas presentes, incluindo as espécies tóxicas. 
  • Densidade de algas: é o número de células por mL. Presentes no manancial e nas águas de consumo humano. 
  • Toxinas de algas: é para a detecção de toxinas produzidas pelas algas, como a microcistina e a anatoxina. 

Quando a densidade de cianobactérias excede 20.000 células/ml, deve-se realizar análise de cianotoxinas na água do manancial, no ponto de captação, com frequência semanal. (Origem: PRT MS/GM 2914/2011, Art. 40, § 4º). 

O ANEXO 8 DO ANEXO XX TABELA DE PADRÃO DE CIANOTOXINAS DA ÁGUA PARA CONSUMO HUMANO determina: 

(Origem: PRT MS/GM 2914/2011, Anexo 8)  

CIANOTOXINAS / VMP (2) 

Microcistinas = 1,0 µg/L  

Saxitoxinas = 3,0 µg equivalente STX/L  

NOTAS: (1) A frequência para o controle de cianotoxinas está prevista na tabela do Anexo XII. (2) Valor Máximo Permitido. (3) O valor representa o somatório das concentrações de todas as variantes de microcistina. 

Indicação Referencial De Alguns Outros Padrões Analisados  

Conforme o ANEXO 7 (sete) DO ANEXO XX da Portaria de Consolidação 05/2017 Ministério da Saúde temos a TABELA DE PADRÃO DE POTABILIDADE PARA 

SUBSTÂNCIAS QUÍMICAS QUE REPRESENTAM RISCO À SAÚDE  

(Origem: PRTMS/GM 2914/2011, Anexo 7)  

Parâmetro CAS(1)  

Unidade VMP(2) 

INORGÂNICAS / CAS = VMP 

Antimônio / 7440-36-0 = 0,005 mg/L  

Arsênio / 7440-38-2 = 0,01 mg/L  

Bário / 7440-39-3 = 0,7 mg/L  

Cádmio / 7440-43-9 = 0,005 mg/L  

Chumbo / 7439-92-1 = 0,01 mg/L  

Cianeto / 57-12-5 = 0,07 mg/L  

Cobre /7440-50-8 = 2 mg/L  

Cromo /7440-47-3 = 0,05 mg/L  

Fluoreto / 7782-41-4 = 1,5 mg/L  

Mercúrio / 7439-97-6 = 0,001 mg/L  

Níquel / 7440-02-0 = 0,07 mg/L  

Nitrato / (como N) 14797-55-8 = 10 mg/L  

Nitrito / (como N) 14797-65-0 = mg/L 1 

Selênio / 7782-49-2 = 0,01 mg/L  

Urânio / 7440-61-1 = 0,03 mg/L  

ORGÂNICAS / CAS = VMP 

Acrilamida / 79-06-1 = 0,5 µg/L  

Benzeno / 71-43-2 = 5 µg/L  

Benzo[a]pireno / 50-32-8 = 0,7 µg/L  

Cloreto de Vinila / 75-01-4 = 2 µg/L  

1,2 Dicloroetano / 107-06-2 = 10 µg/L  

1,1 Dicloroeteno / 75-35-4 = 30 µg/L 

1,2 Dicloroeteno (cis + trans) / 156-59-2 (cis) 156-60-5 (trans) = 50 µg/L 

Diclorometano / 75-09-2 = 20 µg/L  

Di(2-etilhexil) ftalato / 117-81-7 = 8 µg/L 

Estireno / 100-42-5 = 20 µg/L  

Pentaclorofenol / 87-86-5 = 9 µg/L 

Tetracloreto de Carbono / 56-23-5 = 4 µg/L 

Tetracloroeteno / 127-18-4 = 40 µg/L 

Triclorobenzenos 1,2,4-TCB (120-82-1) = 20 µg/L  

Triclorobenzenos / 1,3,5-TCB (108-70-3 1,2,3- TCB (87-61-6) = 20 µg/L  

Tricloroeteno / 79-01-6 = 20 µg/L  

AGROTÓXICOS / CAS = VMP 

2,4 D + 2,4,5 T 94-75-7 / (2,4 D) 93-76-5 (2,4,5 T) = 30 µg/L  

Alaclor / 15972-60-8 = 20 µg/L  

Aldicarbe + Aldicarbesulfona 

+Aldicarbesulfóxido / 

116-06-3 (aldicarbe) 1646-88-4 (aldicarbesulfona) 1646-87-3 

(aldicarbe sulfóxido) = 10 µg/L 

Aldrin + Dieldrin / 309-00-2 (aldrin) 60-57-1 (dieldrin) = 0,03 µg/L 

Atrazina / 1912-24-9 = 2 µg/L  

Carbendazim + benomil / 10605-21-7 (carbendazim) 17804-35-2 (benomil) = 120 µg/L  

Carbofurano / 1563-66-2 = 7 µg/L  

Clordano / 5103-74-2 = 0,2 µg/L 

Clorpirifós + clorpirifós-oxon / 2921-88-2 (clorpirifós) 5598-15-2 (clorpirifós-oxon) = 30 µg/L 

DDT+DDD+DDE p,p’-DDT (50-29-3) p,p’-DDD (72-54-8) p,p’-DDE (72-55-9) =  1 µg/L  

Diuron / 330-54-1 = 90 µg/L 

Endossulfan (a b e sais) (3) / 115-29-7; I (959-98-8); II (33213-65-9); sulfato (1031-078) = 20 µg/L 

Endrin / 72-20-8 = 0,6 µg/L 

Glifosato + AMPA / 1071-83-6 (glifosato) 1066-51-9 (AMPA) = 500 µg/L 

Lindano (gama HCH) (4) / 58-89-9 = 2 µg/L 

Mancozebe / 8018-01-7 = 180 µg/L 

Metamidofós / 10265-92-6 = 12 µg/L 

Metolacloro / 51218-45-2 = 10 µg/L 

Molinato / 2212-67-1 = 6 µg/L 

Parationa Metílica / 298-00-0 = 9 µg/L 

Pendimentalina / 40487-42-1 = 20 µg/L 

Permetrina / 52645-53-1 = 20 µg/L 

Profenofós / 41198-08-7 = 60 µg/L 

Simazina / 122-34-9 = 2 µg/L 

Tebuconazol / 107534-96-3 = 180 µg/L 

Terbufós / 13071-79-9 = 1,2 µg/L 

Trifluralina / 1582-09-8 = 20 µg/L 

DESINFETANTES E PRODUTOS SECUNDÁRIOS DA DESINFECÇÃO (5) / CAS = VMP 

Ácidos haloacéticos total (6) = 0,08 mg/L 

Bromato / 15541-45-4 = 0,01 mg/L 

Clorito / 7758-19-2 = 1 mg/L 

Cloro residual livre / 7782-50-5 = 5 mg/L 

Cloraminas Total / 10599-903 = 4,0 mg/L 

2,4,6 Triclorofenol / 88-06-2 = 0,2 mg/L 

Trihalometanos Total (7) =  0,1 mg/L 

NOTAS: 

  1. CAS é o número de referência de compostos e substâncias químicas adotado pelo Chemical Abstract Service. 
  2. Valor Máximo Permitido. 
  3. Somatório dos isômeros alfa, beta e os sais de endossulfan, como exemplo o sulfato de endossulfan, 
  4. Esse parâmetro é usualmente e equivocadamente, conhecido como BHC. 
  5. Análise exigida de acordo com o desinfetante utilizado. 
  6. Ácidos haloacéticos: Ácido monocloroacético (MCAA) – CAS = 79-11-8, Ácido monobromoacético (MBAA) – CAS = 79-08-3, 

Ácido dicloroacético (DCAA) – CAS = 79-43-6, Ácido 2,2 – dicloropropiônico (DALAPON) – CAS = 75-99-0, Ácido tricloroacético (TCAA) 

– CAS = 76-03-9, Ácido bromocloroacético (BCAA) CAS = 5589-96-3, 1,2,3, tricloropropano (PI) – CAS = 96-18-4, Ácido dibromoacético (DBAA) – CAS = 631-64-1, e Ácido bromodicloroacético (BDCAA) – CAS = 7113-314-7. 

(7) Trihalometanos: Triclorometano ou Clorofórmio (TCM) – CAS = 67-66-3, Bromodiclorometano (BDCM) – CAS = 75-27-4, 

Dibromoclorometano (DBCM) – CAS = 124-48-1, Tribromometano ou Bromofórmio (TBM) – CAS = 75-25-2 

2.3. O QUE É A ÁGUA ESBRANQUIÇADA QUE SAI DAS TORNEIRAS? 

Sabidamente, o tratamento e a distribuição da água fazem parte do protocolo de saúde pública e é um serviço essencial para a população. Por isso, obrigatoriamente, ela segue alguns parâmetros pré-determinados em leis bem fundamentadas e diversos órgãos internos e externos de controle de qualidade que garantam a sua qualidade ao consumidor. 

Porém, por vezes, há reclamações dos consumidores, principalmente os usuários domésticos, sobre algumas características visuais e organolépticas nas águas da rede pública de abastecimento, como por exemplo uma cor esbranquiçada e leitosa na saída das torneiras. Quais os possíveis motivos disso? 

Vale lembrar que uma das etapas do tratamento de água é a desinfecção. O cloro é utilizado nessa etapa do tratamento com o objetivo de garantir que ela esteja livre de micro-organismos patógenos prejudiciais à saúde humana. Essa é uma etapa necessária para que a água chegue potável até as casas das pessoas, evitando a contaminação e a disseminação de doenças por veiculação hídrica como as gastroenterites.  

Alguns produtos utilizados para essa desinfecção são o Hipoclorito de sódio e o cloro gás. Conhecidos como cloro líquido, ambos são incolores e, portanto, por si só não causam uma coloração na água. Então, qual pode ser um dos motivos dessa água esbranquiçada na saída das torneiras? 

É chamado de circuito do tratamento o processo de todas as etapas de tratamento e distribuição da água tratada. Sendo os primeiros passos a adução, tratamento químico, controle de qualidade, tempo de contato para melhorar a desinfecção que ocorre nos reservatórios e distribuição à rede. 

Para a distribuição, são definidos pontos de pressão. Nestes pontos definidos, são instaladas bombas e válvulas de pressão (PCP). Esses equipamentos têm a função de bombear e controlar o fluxo da água, para que ela chegue até as torneiras das casas, pelo menos, até o segundo andar ou conforme a legislação local vigente obriga as empresas de tratamento e distribuição cumprirem.  

Logo, a principal causa da água sair esbranquiçada na torneira não é a quantidade excessiva de cloro, mas sim a pressão turbulenta exercida no líquido nas tubulações da companhia abastecedora, também chamado de ar emulsionado. 

Isso acontece porque, quando o abastecimento é interrompido por qualquer motivo, como uma manutenção preventiva, por exemplo, nesse caso as tubulações podem se encher de ar. Quando normalizado o abastecimento e a água  volta a ser fornecida, o ar presente nos canos é dissolvido na água, formando uma emulsão de ar-água fazendo com que ela atinja uma coloração mais esbranquiçada.  

2.4. O QUE É AR EMULSIONADO? 

Quimicamente falando, o emulsionamento de ar na água ocorre quando a tensão tangencial turbulenta (pressão) é maior do que a tensão superficial da água, e as forças turbulentas sobre o ar aprisionado nas tubulações da rede de distribuição são superiores às forças gravitacionais, permitindo que o ar penetre na interface molecular da água, ar-água, e seja arrastado até a saída nas torneiras. 

Figura 1 – Molécula da Água

Fonte: https://www.vemlerciencia.com.br 

3. CONCLUSÃO 

O acesso à água potável e de qualidade é um dos pilares fundamentais para a saúde pública e para o desenvolvimento sustentável. O presente estudo demonstrou que, embora a água seja um recurso essencial e amplamente disponível na Terra, apenas uma pequena fração está acessível em condições adequadas para o consumo humano. Assim, o tratamento da água desempenha um papel essencial na preservação da saúde da população e na mitigação de doenças de veiculação hídrica, garantindo que os padrões de potabilidade estabelecidos por órgãos reguladores sejam rigorosamente cumpridos. 

O processo de tratamento da água envolve uma série de etapas fundamentais – desde a captação e adução até a desinfecção e distribuição – que visam remover impurezas e assegurar a segurança sanitária da água consumida. As Estações de Tratamento de Água (ETAs) desempenham um papel crucial nesse contexto, empregando tecnologias avançadas para garantir a qualidade da água fornecida à população. No Brasil, a Portaria de Consolidação nº 5/2017 do Ministério da Saúde estabelece os parâmetros físico-químicos, microbiológicos e organolépticos que devem ser atendidos, garantindo que a água distribuída esteja livre de contaminantes prejudiciais à saúde. 

A análise também evidenciou que a qualidade da água é assegurada por um sistema robusto de regulação e fiscalização, composto por órgãos estaduais e municipais, como a AGERGS, AGESAN, AGERST e AGER, além do Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (VIGIAGUA). Esses órgãos realizam inspeções periódicas, monitorando a conformidade dos padrões de potabilidade e identificando possíveis irregularidades no sistema de abastecimento. 

Adicionalmente, a pesquisa abordou um tema amplamente debatido entre os consumidores: a presença da coloração esbranquiçada na água que sai das torneiras. O estudo demonstrou que essa aparência leitosa não está relacionada a um excesso de cloro, como frequentemente se acredita, mas sim ao fenômeno do ar emulsionado, resultado da turbulência e da pressurização da água nas redes de distribuição. Esse processo físico-químico temporário ocorre devido à dissolução de microbolhas de ar na água, sendo inofensivo à saúde humana. 

A evolução tecnológica no setor de saneamento tem sido um fator determinante para a eficiência do tratamento e distribuição da água, com o uso de sensores automatizados, sistemas de telemetria e inteligência artificial no monitoramento da qualidade hídrica. Essas inovações contribuem para a otimização dos processos e a rápida detecção de possíveis contaminações, garantindo maior confiabilidade e segurança no fornecimento de água potável. 

Por fim, destaca-se que a conscientização da população sobre a importância da qualidade da água e da preservação dos recursos hídricos é essencial para garantir a sustentabilidade desse bem indispensável. A adoção de políticas públicas eficazes, investimentos contínuos em infraestrutura e o fortalecimento dos sistemas de monitoramento são medidas fundamentais para assegurar que a água potável continue sendo um direito acessível e seguro para todas as gerações. 

Dessa forma, o estudo reforça a necessidade de compromisso governamental, inovação tecnológica e participação social na gestão da água, assegurando que este recurso vital permaneça disponível, seguro e sustentável para o futuro. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

https://brasil.un.org/pt-br/55290, acessado em 16/02/2025; 

https://corsan.com.br/tratamentodeagua, acessado em 16/02/2025; 

https://tratamentodeagua.com.br/artigo/qualidade-da-agua/, acessado em 16/02/2025; 

https://www.normasbrasil.com.br/norma/?id=356387, Portaria de Consolidação nº 5 DE 28/09/2017, acessado em 16/02/2025; 

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, Standart Methodos for Examination of Water and Wastewater. Washington DC, USA 22th Edition, 2012. 

AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION, Standart Methodos for Examination of Water and Wastewater. Washington DC, USA 23th Edition, 2017. 

https://www.brkambiental.com.br/uploads/4/14-png-sumare/portaria-consolidacao-5anexo-xx.pdf, acessado em 04/03/2025. 

https://blog.brkambiental.com.br/agua-branca-saindo-datorneira/#:~:text=A%20principal%20causa%20de, acessado em 05/03/2025. 

https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18138/tde-21012003-084719/en.php, acessado em 04/03/2025.

https://www.vemlerciencia.com.br, acessado em 05/03/2025.


 1Pós-graduanda do Curso de Química Ambiental pela Universidade de pós-graduação Educaminas.