ANEURISMA DE ARTÉRIA BRAQUIAL DISTAL EM CRIANÇA: RELATO DE CASO

DISTAL BRACHIAL ARTERY ANEURYSM IN A CHILD: CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202503311346


Bárbara Louise Freire Barbosa¹; Davi Machado Thomaz Vasconcelos²; Sarah Nilkece Mesquita Araújo Nogueira Bastos³; Larisse Giselle Barbosa Cruz⁴; Diêgo Afonso Cardoso Macêdo de Sousa⁵; Wallyson Pablo de Oliveira Souza⁶; Simone Santos e Silva Melo⁷; Antonino Neto Coelho Moita⁸.


Resumo

Os aneurismas de membros superiores são raros, sendo cerca de 5% observados na literatura. Essa condição torna-se ainda mais excepcional em crianças, com etiologias diversas, incluindo trauma, infecções, doenças congênitas ou distúrbios vasculares hereditários. A detecção e intervenção precoce são essenciais para evitar complicações sérias, como a ruptura do aneurisma. Apresenta-se o caso de uma criança, de 4 anos, do sexo masculino, diagnosticado com aneurisma de artéria braquial distal esquerda, com queixas de massa em região de maléolo medial e dor local. Optou-se por uma conduta expectante, com acompanhamento ambulatorial semestral. 

Palavras-chave: Aneurisma. Artéria braquial. Pediatria. Relato de caso.

Abstract

Upper limb aneurysms are rare, with around 5% observed in the literature. This condition becomes even more exceptional in children, with diverse etiologies, including trauma, infections, congenital diseases or hereditary vascular disorders. Early detection and intervention are essential to avoid serious complications, such as aneurysm rupture. We present the case of a 4-year-old male child, diagnosed with an aneurysm of the left distal brachial arteries, with complaints of a mass in the region of the medial malleolus and local pain. An expectant approach was chosen, with semi-annual outpatient follow-up.

Keywords: Aneurysm. Brachial artery. Pediatrics. Case report.

1 INTRODUÇÃO

Aneurismas são dilatações vasculares caracterizadas pela dilatação das três camadas que compõem a parede do vaso, ou seja, túnica íntima (endotélio), túnica média (muscular) e adventícia e que ultrapassam em, pelo menos, 50% o diâmetro esperado para um determinado vaso¹. Nesse sentido, os aneurismas arteriais são condições patológicas caracterizadas pelo alargamento anormal e enfraquecimento da parede vascular, o que pode resultar em complicações graves, como ruptura e trombose 1,2.

Entre os aneurismas de artérias periféricas, os dos membros inferiores – por exemplo, femoral, poplíteo – são comuns. Aneurismas de membros superiores são raros, já que apenas cerca de 5% dos aneurismas de artérias periféricas estão localizados na extremidade superior ³. Embora os aneurismas arteriais sejam mais comuns em adultos, eles também podem afetar crianças, e uma das localizações incomuns, porém clinicamente significativas, é o aneurisma da artéria braquial, que é a principal artéria que fornece sangue ao braço 2,3. Essa entidade é mais rara ainda, nos quais cerca de 14 casos, desde a década de 1950, foram descritos na literatura 4,5.

Essa condição rara pode ocorrer em crianças devido a diversas causas, incluindo trauma, infecções, doenças congênitas ou distúrbios vasculares hereditários. Sobretudo na população pediátrica, ela representa um desafio médico, já que a detecção precoce e o tratamento adequado são essenciais para evitar complicações sérias, como a ruptura do aneurisma. Clinicamente, os sintomas podem variar, mas, muitas vezes, incluem dor localizada, inchaço, alterações na temperatura da pele e uma pulsação anormal na região afetada 6,7.

O diagnóstico geralmente envolve a realização de exames médicos, como ultrassonografia, angiografia e ressonância magnética, para avaliar o tamanho e a localização do aneurisma. O tratamento pode variar de acordo com a causa, tamanho e gravidade do aneurisma, podendo incluir medicamentos, procedimentos minimamente invasivos, como embolização, ou cirurgia para reparar a artéria afetada 8.

A seguir, apresentamos uma descrição de caso dessa doença rara, bem como as opções de tratamento que podem ser utilizadas.

2 RELATO DE CASO

Paciente de 4 anos, sexo masculino, pardo, com início dos sintomas, percebido pela mãe, aos 3 meses de idade, com quadro de massa palpável em membro superior esquerdo (MSE) associado a irritabilidade, dor e febre a cada 3 meses, segundo a responsável. Paciente sem comorbidades prévias e gestação sem intercorrências. Encontrava-se, em última consulta ambulatorial, assintomático. Ao exame físico, o MSE apresentava protuberância na região do maléolo medial (Figura 1).

Foi realizado ultrassonografia com doppler evidenciando aneurisma em artéria braquial distal com dimensões aumentadas à esquerda, quando comparada com a direita (Figura 2). A artéria braquial pré-aneurisma estava de 0,2 cm e pós-aneurisma com 2,2 cm. Apresentava-se pérvia e com fluxo fisiológico (Figura 3). Demais artérias do MSE estavam dentro da normalidade. Sobre outros exames solicitados, a Ultrassom de abdome total não demonstrou nenhuma alteração, enquanto a Angiotomografia não foi realizada por questões financeiras.

Definiu-se como conduta o acompanhamento do aneurisma semestralmente, haja vista que o paciente se encontrava assintomático. 

Figura 1. Imagem das fossas cubitais de ambos os braços, evidenciando protuberância em membro superior esquerdo.
Figura 2. Ultrassonografia da região de membros superiores mostrando, à esquerda, corte axial de Artéria Braquial Esquerda com dimensões de 1,25 x 1,07 cm, e Artéria Braquial Direita, à direita com dimensões de 0,27 x 0,22 cm.
Figura 3. Ultrassonografia da região de membro superior esquerdo mostrando, à esquerda, Artéria Braquial Esquerda in situ com 0,2 cm de largura, e à direita a mesma artéria pós aneurisma, com 2,2 cm. Nas duas imagens, demonstra-se artéria pérvia e com fluxo fisiológico.

3 DISCUSSÃO

Os aneurismas arteriais são muito raros em crianças, com incidência desconhecida. Diante do caso em questão, o aneurisma braquial torna-se uma entidade mais rara ainda, englobando apenas 5% dos casos totais de aneurisma 4,5.

Em geral, as etiologias relacionadas a faixa pediátrica relacionam-se com anomalias cardíacas, sendo o mais comum aneurisma da aorta e outras condições como síndrome de Marfan, síndrome de Ehlers-Danlos, síndrome de Turner, infecções e vários tipos de vasculites, não excluindo-se como um possível achado isolado 4.

O quadro clínico mais comum, descrito na literatura, se baseia em sensação de massa local, na sua grande maioria, seguida de dor ou parestesia e complicações tromboembólicas, conforme o quadro do paciente.

O histórico de febres trimestrais apresentado pelo paciente do caso em questão, não se enquadra no observado na literatura. Dada a inespecificidade do sinal, dissociado de outras queixas e sem comprometimento geral, o histórico pode estar associado a variações fisiológicas da temperatura corporal ou doenças infecciosas agudas autolimitadas, comuns na faixa etária 9.

Pacientes em um período de 6 anos que estão sintomáticos, necessitam de cirurgias, devido a complicações tromboembólicas graves como perda de membros 10.

A anamnese e o exame físico completos são salutares para manter um alto índice de suspeitas e garantir um diagnóstico precoce para a doença.

O diagnóstico de aneurismas braquiais pode ser confirmado, de maneira definitiva, por meio de ultrassonografia Doppler, tomografia computadorizada, angiorressonância magnética ou angiografia seletiva. 10,11. Entretanto, a ultrassonografia tem menos sensibilidade e especificidade que a angiotomografia computadorizada e a angioressonância magnética, sendo a ultrassonografia mais indicada em estudo de triagem nos pacientes 4.

Neste sentido, no caso em estudo, o fato de não ter sido realizada a Angiotomografia, por questões financeiras, prejudica o valor diagnóstico da doença do paciente,  apesar da ultrassonografia Doppler, a anamnese e o exame físico completo permitirem uma suspeição clínica forte para aneurisma braquial.

A conduta expectante proposta apresenta opiniões conflitantes na literatura. Alguns autores preferem uma conduta expectante em condições clínicas de evolução não complicada 11, enquanto outros acreditam que a conduta cirúrgica imediatamente após o diagnóstico é preferível para evitar isquemia do membro acometido, argumentando que cirurgias para correção de aneurisma são possíveis e tem sucesso em hospitais especializados 5,13. Tais conclusões quanto às condutas são conflitantes e apresentam limitações, principalmente pelos poucos casos relatados até o momento, sem tratamento definitivo ou procedimento cirúrgico estabelecido, variando de acordo com a avaliação individual de cada caso e a conduta pessoal do especialista 2,14.

 Recomenda-se o rastreamento e o acompanhamento a longo prazo em crianças que possuem aneurismas com etiologias congênitas ou aneurismas verdadeiros, devido o risco de recorrência e a possibilidade de surgimento de aneurismas arteriais e periféricos em outros locais do corpo, no decorrer dos anos 2.

O caso relatado trata de uma doença incomum em pacientes pediátricos, com uma apresentação incomum de febres trimestrais, associado a massa visível e dor local. Destaca-se como limitação do estudo o fato de o paciente não ter realizado todos os exames solicitados, que poderia trazer mais detalhes para diagnóstico e planejamento do tratamento. Dado a natureza rara da causa, o caso clínico atual favorável do paciente, as limitações financeiras apresentadas pelo paciente e a falta de consenso na literatura sobre o melhor tratamento, foi adotado uma conduta expectante.  

REFERÊNCIAS

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  4. GANGOPADHYAY, Noopur et al. Aneurisma de artéria braquial em lactente de 7 meses: relato de caso e revisão de literatura. Cirurgia Plástica e Reconstrutiva Global Open , v. 2, 2016.
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  9. BRASIL. Manejo da Febre Aguda. Depto. Científico de Pediatria Geral e Infectologia. Sociedade Brasileira de Pediatria, 2021.
  10. SHABAN, Y. et al.. True brachial artery aneurysm: A case report and review of literature. Annals of Medicine & Surgery, v. 56, p. 23–27, 2020.
  11. IGARI, Kimihiro et al. Tratamento cirúrgico de aneurismas de membros superiores. Anais de Doenças Vasculares , v. 6, n. 3, pág. 637-641, 2013.
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  14. HUDOROVIŸ, N. et al. Aneurisma verdadeiro de artéria braquial. Viena Klin Wochenschr 2010.

¹Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: barbaralouise80@gmail.com. ORCID: 0000-0003-4748-3655;
²Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: vasconcelosdavimtv@gmail.com. ORCID: 0000-0002-5950-8218;
³Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: sarahnilkece@gmail.com. ORCID: 0000-0003-4291-9843;
⁴Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: larissegiselle@hotmail.com. ORCID: 0000-0002-5955-3473;
⁵Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: diegodacms@gmail.com. ORCID: 0000-0001-6573-9648;
⁶Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: wallyson.pablo@ufdpar.edu.br. ORCID: 0000-0003-3122-9484;
⁷Discente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: simonesantosesilva@gmail.com. ORCID: 0000-0002-3050-4635;
⁸Médico, Cirurgião Geral. Docente do Curso de Medicina da Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar), Parnaíba-PI. E-mail: antoninomoita@ufpi.edu.br. ORCID: 0000-0002-4993-2568.