REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202503262117
Silvelene Carneiro de Sousa1
Jorgeana Tereza Martins de Oliveira Resende2
Matheus Felipe Gonçalves Borges3
Elaine Mendonça Moreira4
Fernanda Duarte dos Santos Martins5
RESUMO
Os enfermeiros estão frequentemente expostos a condições de trabalho que favorecem o surgimento de lesões musculoesqueléticas devido a posturas inadequadas e esforço físico excessivo. Isso resulta em absenteísmo e diminui a qualidade do atendimento. As condições mais afetadas são a coluna lombar, cervical e os ombros, que, quando comprometidos, geram custos para os profissionais e as instituições. A adoção de práticas ergonômicas é essencial para prevenir doenças como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), e melhorar as condições de trabalho. O objetivo deste estudo é discutir como a postura inadequada e o esforço físico excessivo impactam a saúde dos enfermeiros e as práticas ergonômicas que podem ser implementadas para prevenir lesões musculoesqueléticas. Foi realizada uma revisão narrativa da literatura nas bases de dados PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A análise dos dados revelou que os principais problemas enfrentados pelos enfermeiros estão associados ao esforço físico excessivo, posturas inadequadas e a realização de atividades repetitivas. A implementação de práticas ergonômicas, como treinamento adequado, ajustes ambientais e pausas regulares, contribui para a redução dos riscos de lesões musculoesqueléticas, como LER/DORT. A reorganização do ambiente de trabalho e a conscientização sobre a postura correta são fundamentais para promover a saúde dos profissionais. A adoção de práticas ergonômicas é fundamental para prevenir lesões musculoesqueléticas entre enfermeiros, garantindo sua saúde e melhorando a qualidade do atendimento prestado. Ajustes ambientais e treinamento adequado são essenciais para minimizar riscos e garantir um ambiente de trabalho seguro e eficaz.
Palavras-chave: Enfermagem; Doenças Musculoesqueléticas; Lesões Ocupacionais; Ergonomia.
ABSTRACT
Nurses are often exposed to workplace conditions that lead to musculoskeletal injuries due to improper posture and excessive physical exertion. These injuries result in absenteeism and decreased care quality. The most affected areas are the lumbar spine, cervical region, and shoulders, leading to significant costs for both professionals and institutions. The adoption of ergonomic practices is crucial for preventing disorders such as Repetitive Strain Injuries (RSI) and Work-Related Musculoskeletal Disorders (WRMSDs) and improving working conditions. We aim to discuss how improper posture and excessive physical exertion affect nurses’ health and the ergonomic practices that can be implemented to prevent musculoskeletal injuries. A narrative literature review was conducted using the PubMed and Virtual Health Library (BVS) databases. The analysis of the data revealed that the main issues faced by nurses are related to excessive physical exertion, improper posture, and repetitive tasks. Implementing ergonomic practices such as proper training, environmental adjustments, and regular breaks helps to reduce the risks of musculoskeletal injuries such as RSI and MSD. Reorganizing the work environment and raising awareness about correct posture are essential for promoting nurses’ health. Adopting ergonomic practices is essential for preventing musculoskeletal injuries among nurses, ensuring their health and improving the quality of care provided. Environmental adjustments and proper training are key to minimizing risks and ensuring a safe and effective work environment.
Keywords: Nursing; Musculoskeletal Diseases; Occupational Injuries; Ergonomics.
INTRODUÇÃO
Os trabalhadores da área da saúde estão propensos ao surgimento de sintomas e lesões musculoesqueléticas devido às exigências da sua profissão e à exposição a fatores de risco, o que resulta em queda de desempenho, faltas no trabalho e despesas para as organizações (Castanheira, 2022).
A enfermagem é um dos principais pilares da equipe de saúde, pois sua prática depende diretamente da atuação dos profissionais. O absenteísmo ocorre quando os trabalhadores se ausentam do trabalho de forma não programada, geralmente por motivos de saúde, como doenças ou licenças médicas. Esse fenômeno pode ser causado por vários fatores, incluindo condições de trabalho, questões sociais e características pessoais. Em muitos hospitais ao redor do mundo, as condições ergonômicas inadequadas geram problemas de saúde entre os profissionais, com destaque para as lesões musculoesqueléticas (Marin-Vargas; Gonzalez-Argote, 2022).
As síndromes de dor crônica que surgem durante o desempenho de atividades profissionais específicas são chamadas de “relacionadas ao trabalho”. Lesões musculoesqueléticas originadas no ambiente laboral podem afetar diversas áreas do corpo, incluindo ombro, pescoço, cotovelo, mão, punho, joelho e coluna vertebral. No entanto, as queixas mais frequentes e que têm maior impacto no desempenho no trabalho estão associadas à coluna, especialmente à região lombar. A dor lombar é um desafio significativo para os profissionais de saúde, sendo uma das principais causas de absenteísmo e representando um alto custo para a saúde ocupacional (Fernandes et al., 2020).
Investigações ergonômicas são fundamentais para identificar os riscos ambientais enfrentados pelos trabalhadores e orientar a implementação de melhorias no ambiente de trabalho. Isso contribui para a redução do absenteísmo, otimiza os processos de trabalho e, principalmente, promove a saúde e o bem-estar dos profissionais (Da-Silva et al., 2021).
Nesse sentido, o presente estudo tem por objetivo discutir como a postura inadequada e o esforço físico excessivo afetam a saúde dos enfermeiros, e as práticas ergonômicas que podem ser implementadas para prevenir doenças como Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
METODOLOGIA
O trabalho consiste em uma revisão narrativa da literatura, realizada nas bases de dados PubMed e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). A busca foi conduzida com os termos do Medical Subject Headings (MeSH): “Nurse OR Nursing AND Musculoskeletal Diseases AND Occupational Injuries AND Ergonomics“, aplicando a seguinte estratégia PICO:
- P (Paciente ou População): Enfermeiros.
- I (Intervenção): Adoção de práticas ergonômicas.
- C (Comparação): Comparação entre os enfermeiros que implementaram as práticas ergonômicas e aqueles que não seguiram essas orientações ou não realizaram ajustes no ambiente de trabalho.
- O (Resultado): Redução das lesões musculoesqueléticas, como LER/DORT, e melhora na saúde e bem-estar dos enfermeiros.
A pergunta norteadora da pesquisa foi: “Como a postura inadequada e o esforço físico excessivo afetam a saúde dos enfermeiros, e quais práticas ergonômicas podem reduzir as lesões musculoesqueléticas?”.
Foram incluídos estudos transversais, prospectivos, de coorte, ensaios clínicos e relatos de caso, publicados entre 2020 e 2025, nos idiomas português, inglês e espanhol. Foram excluídos artigos de revisão, publicações pagas e estudos duplicados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a análise das condições que impactam a saúde dos enfermeiros, a tabela 01 a seguir organiza os principais problemas, com foco nas lesões musculoesqueléticas causadas por esforço físico excessivo, posturas inadequadas e atividades repetitivas. Além disso, apresenta as práticas preventivas recomendadas para minimizar esses riscos, melhorar o ambiente de trabalho e garantir a saúde dos profissionais de enfermagem.
Tabela 01 – Principais problemas relatados e práticas preventivas ergonômicas.
Problema | Causa Principal | Práticas preventivas |
Lesões Musculoesqueléticas (como LER/DORT) | Esforço físico excessivo, postura incorreta, movimentos repetitivos e levantamento de pacientes. | Treinamentos específicos para movimentação de pacientes, uso de equipamentos adequados, pausas regulares. |
Dor na Região Lombar, Cervical e Ombros | Posturas desconfortáveis, esforço físico e técnicas inadequadas de movimentação de pacientes. | Ajustes na mecânica corporal, reorganização do ambiente de trabalho, alternância de atividades. |
Falta de Conforto e Bem-estar | Iluminação inadequada, controle de temperatura deficiente e permanência prolongada em pé. | Ajustes ambientais (iluminação, temperatura), pausas, ginástica laboral e uso de mobiliário ajustável. |
Exposição ao Estresse Musculoesquelético | Movimentos repetitivos e posturas prolongadas. | Capacitação sobre técnicas seguras de movimentação, adaptação de mobiliário e pausas para alongamento. |
Doenças Relacionadas ao Esforço Repetitivo | Movimentos contínuos sem descanso, falta de apoio ergonômico adequado. | Programas educativos sobre saúde ocupacional, ginástica laboral, e ajustes nos processos de trabalho. |
Fonte: Castanheira (2022), Apolinário (2023), Da-Silva et al. (2021), Marin-Vargas & Gonzalez-Argote (2022), Pereira (2021), Fernandes et al. (2020).
O esforço físico excessivo e a postura incorreta aumentam as chances de lesões musculoesqueléticas nos enfermeiros, com destaque para as regiões lombar, cervical e dos ombros. Tais condições podem desencadear distúrbios como LER/DORT, prejudicando a saúde e a qualidade do trabalho (Castanheira, 2022).
Atividades como movimentos repetitivos, posturas desconfortáveis e a falta de técnicas corretas na mobilização de pacientes sobrecarregam áreas como pescoço, ombros e região lombar, resultando em dor e desconforto. Para prevenir essas condições, é essencial adotar práticas ergonômicas, como treinamentos específicos para a movimentação de pacientes, uso de equipamentos adequados, realização de pausas regulares e ajustes na mecânica corporal, visando minimizar os riscos e preservar a saúde musculoesquelética dos profissionais (Apolinário, 2023).
Paralelamente, o levantamento de pacientes e a permanência prolongada em pé aumentam o risco de doenças como LER/DORT. Para prevenir essas condições, práticas ergonômicas como a reorganização do ambiente de trabalho e a alternância de atividades. A conscientização sobre a postura correta e a capacitação para técnicas seguras de movimentação são fundamentais para a saúde dos enfermeiros (Marin-Vargas; Gonzalez-Argote, 2022).
Os fatores de risco para o aparecimento de lesões também podem incluir idade, baixo nível educacional, gênero feminino, alto índice de massa corporal e tempo de experiência. Esses padrões sugerem estratégias de intervenção para promover hábitos saudáveis e um ambiente de trabalho psicossocial positivo. É essencial fornecer treinamento sobre posturas adequadas, incentivar pausas regulares e realizar triagens para avaliar riscos de dores musculoesqueléticas. Medidas de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e reabilitação são necessárias, além do apoio a enfermeiros com DORT por meio da ampliação da equipe e reprogramação das jornadas de trabalho (Krishnan; Raju; Shawkatal, 2021).
Nesse contexto, a adoção de técnicas de adaptação laboral, como o uso de mobiliário ajustável, pausas regulares para alongamento e técnicas corretas de movimentação, pode prevenir essas condições. Ademais, a realização de atividades de ginástica laboral e programas educativos sobre saúde ocupacional são estratégias eficazes para reduzir o impacto dessas doenças nos profissionais de enfermagem (Pereira, 2021). Além disso, Da-Silva et al. (2021) relatam a necessidade de ajustes ambientais, como boa iluminação e controle de temperatura, que também são essenciais para reduzir o impacto negativo no bem-estar desses profissionais.
Assim como, a inclusão de conteúdos sobre ergonomia na formação acadêmica e programas de treinamento no local de trabalho para enfermeiros pode favorecer a melhoria do ambiente de trabalho, diminuindo lesões ocupacionais e ausências, além de contribuir para a qualidade do atendimento prestado (Abdollahi et al., 2020).
Portanto, o desenvolvimento de ambientes de trabalho protegidos, juntamente com a implementação de práticas ergonômicas, se apresenta como uma abordagem essencial para evitar lesões musculoesqueléticas, favorecendo uma assistência mais eficaz e segura tanto para os profissionais quanto para os pacientes (Fernandes et al., 2020).
CONCLUSÃO
A adoção de práticas ergonômicas no ambiente de trabalho é fundamental para a prevenção de lesões musculoesqueléticas entre os enfermeiros, resultando em benefícios para sua saúde e para a qualidade do atendimento. A conscientização sobre a postura correta, a implementação de pausas regulares e o treinamento adequado para a movimentação de pacientes são medidas eficazes para evitar condições como LER/DORT. Além disso, ajustes no ambiente de trabalho, como mobiliário adequado e a organização das atividades, desempenham um papel importante na redução do risco de lesões. Essas abordagens garantem um ambiente mais seguro e contribuem para o bem-estar dos profissionais de saúde.
REFERÊNCIAS
ABDOLLAHI, Tahereh et al. Effect of an ergonomics educational program on musculoskeletal disorders in nursing staff working in the operating room: A quasi-randomized controlled clinical trial. International journal of environmental research and public health, v. 17, n. 19, p. 7333, 2020.
APOLINÁRIO, Sandra Patrícia Faria. Lesões musculoesqueléticas relacionadas com o trabalho nos enfermeiros: explorando a dor oculta: um olhar mais atento sobre lesões musculoesqueléticas entre os enfermeiros. Dissertação de Mestrado. 2023.
CASTANHEIRA, Joana Antunes. Sintomatologia musculoesquelética nos profissionais de saúde de um serviço de urgência: Intervenção do enfermeiro especialista em enfermagem de reabilitação. Dissertação de Mestrado. 2022.
DA-SILVA, Valéria Moreira et al. Evaluation of working conditions at a central sterile services department in northern Brazil. Revista Brasileira de Medicina do Trabalho, v. 19, n. 4, p. 472, 2021.
FERNANDES, Carla Sílvia et al. Implementação de um programa multifatorial para prevenir lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho. Journal Health NPEPS, v. 5, n. 2, 2020.
KRISHNAN, K. Saraswathi; RAJU, Gunasunderi; SHAWKATALY, Omar. Prevalence of work-related musculoskeletal disorders: Psychological and physical risk factors. International journal of environmental research and public health, v. 18, n. 17, p. 9361, 2021.
MARIN-VARGAS, Betty Judith; GONZALEZ-ARGOTE, Javier. Riesgos ergonómicos y sus efectos sobre la salud en el personal de Enfermería. Revista información cientifica, v. 101, n. 1, 2022.
PEREIRA, Dina Teresa Rodrigues. As lesões músculo-esqueléticas relacionadas com o trabalho nos enfermeiros, em cuidados de saúde diferenciados. Dissertação de Mestrado. 2021.
1Mestranda em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador pela Universidade Federal de Uberlândia, E-mail: Silvelene15@hotmail.com;
2Mestranda em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador pela Universidade Federal de Uberlândia, E-mail: jorgeana.resende@ebserh.gov.br;
3Enfermagem pelo Centro Universitário de Patos de Minas-UNIPAM, E-mail: enfmatheusborges@gmail.com;
4Mestranda em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador pela Universidade Federal de Uberlândia, E-mail: enfer.laine@hotmail.com;
5Mestranda em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador pela Universidade Federal de Uberlândia, E-mail: ferdusantos@yahoo.com.br