RETOMADA NA IMPLANTAÇÃO DA TESTAGEM DE G6PD E USO DE TAFENOQUINA NO TRATAMENTO DA MALÁRIA POR P. VIVAX: EXPERIÊNCIA DO MUNICÍPIO DE PORTO VELHO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503181706


Rosilene Ruffato
Leidyane Xavier Oliveira
Eliezio Antonio Oliveira
Raissa Stephanie Freitas de Almeida
Bruna Maciele
Daniele Silva de Souza
Geisa Brasil Ribeiro


Introdução

A malária, causada principalmente pelos parasitas Plasmodium vivax e Plasmodium falciparum, continua sendo um desafio significativo para a saúde pública global. Uma das principais complicações no controle da malária por P. vivax é a recorrência das infecções, decorrente da capacidade do parasita de formar hipnozoítos latentes no fígado. Esses hipnozoítos podem reativar-se semanas ou meses após a infecção inicial, levando a novos episódios da doença. A tafenoquina, aprovada em 2018, surge como uma alternativa promissora à primaquina, oferecendo a vantagem de uma dose única e reduzindo as recaídas em aproximadamente 70%.

Palavras-chave: Malária, inovação, tratamento, Testagem G6PD e Tafenoquina.

O “Tafenoquine Roll-out Study” (TRUST) foi o primeiro estudo observacional a avaliar o uso da tafenoquina (TQ) e da primaquina no tratamento da malária por P. vivax, com base nos resultados do teste da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD). Realizado em Manaus/AM e Porto Velho/RO, o estudo teve início em setembro de 2021 e foi concluído em setembro de 2022. 

Objetivo

Descrever a implantação da testagem de G6PD e do uso da tafenoquina dose única no tratamento da malária vivax no município de Porto Velho, destacando a adesão ao tratamento inédito nas Unidades de Assistenciais à Saúde, após a incorporação destes insumos no âmbito do Sistema único de Saúde -SUS.

Metodologia

Este estudo trata-se de um relato de experiência sobre a implantação da testagem de G6PD e do uso da tafenoquina após o estudo TRUST, no município de Porto Velho/RO. A retomada da implementação ocorreu entre julho e dezembro de 2024.

Foi elaborado um planejamento gradual para a implantação da testagem de G6PD e da disponibilização da tafenoquina, considerando a localização das unidades de saúde de forma escalonada. A priorização seguiu critérios como: unidades com maior número de atendimentos, unidades situadas na região metropolitana da capital e, posteriormente, áreas distritais. A estratégia abrangeu as unidades de saúde distribuídas nas dez regiões de monitoramento.

Os treinamentos foram realizados em dois momentos. O primeiro consistiu em uma capacitação geral para os profissionais de saúde do município, com a participação da Coordenação do Programa Nacional de Eliminação da Malária do Ministério da Saúde, pesquisadores e técnicos do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (CEPEM), Agência Estadual de Vigilância em Saúde de Rondônia (AGEVISA/RO), Coordenação Estadual do Programa de Malária em Rondônia, gestores e profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Velho. No segundo momento, a capacitação foi realizada de forma escalonada, com treinamentos in loco conduzidos pela equipe da Coordenação Municipal do Programa em todo o território. Paralelamente, ocorreu o abastecimento de insumos e medicamentos nas unidades de saúde.

Foi desenvolvido um formulário online via Google Forms para monitorar casos positivos de malária vivax. Esta ferramenta apoia a coordenação municipal de vigilância da malária no acompanhamento dos requisitos necessários para o tratamento com tafenoquina, permitindo que os profissionais registrem diariamente as informações e possibilitando intervenções coordenadas em casos de prescrição inadequada ou erros nos testes. O uso dessa ferramenta foi essencial para garantir a qualidade do tratamento e a adesão aos protocolos estabelecidos.

Resultados

Foram treinados 597 profissionais de saúde, abordando o diagnóstico laboratorial, os critérios de elegibilidade para o uso do medicamento e o manejo clínico dos pacientes,  as classes profissionais foram assim distribuídas: 47 (7,87%) médicos, 108 enfermeiros (18,09%), 131 ACE/ACS (21,94%), 32 (5,36%) microscopistas, 21 (3,52%) farmacêuticos e atendentes de farmácia, 40 (6,70%) biomédicos, 13 (2,18%) estudantes, 5 (0,84%) digitadores e 200 (33,50%) profissionais envolvidos em atividades administrativas e/ou gestão de equipes. 

A implementação foi realizada em 35 das 40 unidades de diagnóstico e tratamento da malária no município, alcançando uma cobertura de 87,5%. Essa ampla cobertura permitiu que a maioria dos pacientes com malária por P. vivax tivesse acesso ao tratamento com tafenoquina, uma inovação terapêutica que oferece a vantagem de uma dose única e redução significativa das recaídas.

Entre julho a dezembro de 2024, foram indicados 744 tratamentos com tafenoquina, seguindo critérios rigorosos como idade mínima de 16 anos, peso adequado e exclusão de gestantes ou lactantes. Apesar da ampla aceitação, 15 pacientes (2,01%) receberam tratamento inadequado, o que levou a um reforço educativo aos profissionais de saúde envolvidos para evitar recorrências futuras.

Figura 1. Localização de Unidades de Diagnóstico e Tratamento para testagem de G6PD e uso da Tafenoquina no tratamento da malária por P. vivax no município de Porto Velho/RO, 2024.

Fonte: Sistema de Coordenadas Geográficas, SIRGAS 2000. Sivep-Malária/SVSA/MS. Elaboração: Leidyane Xavier Oliveira

Conclusão

O monitoramento contínuo revelou a necessidade de ajustes no processo de educação permanente e supervisão técnica, garantindo que os protocolos sejam rigorosamente seguidos. A análise dos dados demonstra o impacto positivo dessa abordagem no manejo da malária por P. vivax e evidencia os desafios relacionados à implementação de novas terapias em unidades de saúde com contextos operacionais diversificados.

A experiência ressalta a relevância de estratégias integradas que além da inovação terapêutica, oferecem educação permanente aos profissionais de saúde envolvidos e monitoramento sistemático, contribuindo para o controle e potencial eliminação da malária em âmbito local.

A experiência de Porto Velho, teve que lidar com o desafio de ser a capital com maior extensão territorial, de modo que a implementação dessas medidas, demonstrou um compromisso com a melhoria da saúde pública, proporcionando tratamento adequado e seguro, além de ter contribuído para a diminuição da carga da malária. A colaboração entre os profissionais de saúde, as autoridades locais e a comunidade foi fundamental para o sucesso dessa iniciativa, garantindo que todos os aspectos de vigilância da malária, abrangendo desde a etapa do diagnóstico ao tratamento, sejam compreendidos e respeitados.

Referências

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis. Guia de tratamento da malária no Brasil / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis – 2. ed. atual. – Brasília: Ministério da Saúde, 2021 

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Nota informativa n° 2/2024-CEMA/CGHDE/DEDT/SVSA/MS, sobre implementação do teste semiquantitativo de dosagem de G6PD e da tafenoquina em dose única para cura radical de malária por Plasmodium vivax, 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/m/malaria/notas-tecnicas-e-informativas/nota-informativa-no-2-2024 . Acesso em: 31 de janeiro de 2025.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. PORTARIA SECTICS/MS Nº 27, DE 5 DE JUNHO DE 2023. Torna pública a decisão de incorporar, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, a tafenoquina para o tratamento, ou cura radical, de malária causada pelo Plasmodium vivax em pacientes com 16 anos de idade ou mais e do teste quantitativo da atividade da enzima glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) para confirmação diagnóstica. Disponível:https://www.gov.br/conitec/ptbr/midias/relatorios/portaria/2023/20230606_portaria_dou_27.pdf/view . Acesso em: 18 de fevereiro de 2025