USO DE PSICOFÁRMACOS EM SITUAÇÕES DE CRISE: REVISÃO INTEGRATIVA SOBRE AS EVIDÊNCIAS ATUAIS SOBRE SEDAÇÃO E MANEJO DE AGITAÇÃO PSICÓTICA

USE OF PSYCHOPHARMACOLOGICALS IN CRISIS SITUATIONS: INTEGRATIVE REVIEW OF CURRENT EVIDENCE ON SEDATION AND MANAGEMENT OF PSYCHOTIC AGITATION

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202503131646


Alexsandra Pereira Corrêa¹; Claudia Somone Tavares Pereira²; Cleverlan Nascimento Santos³; Elen Gabrielly Oliveira da Silva⁴; Érika Francisca Silva Pinho⁵; Estéfane Bomfim Teixeira⁶; Fernanda Cely Eckert Martins⁷; Helton Yuji Costa Tsuchiya⁸; Jaqueline Tainara Dieckel⁹; João Vitor Mourão Rezende¹⁰; Luan Sampaio Couto Lima¹¹; Marcelo Matos Veras¹²; Marcus Vinícius Policarpo Sant’Ana¹³; Matheus Silvio Carolino Gama¹⁴; Walther Milam Peres Roberto¹⁵


RESUMO

O manejo da agitação psicótica em emergências psiquiátricas requer intervenções rápidas e eficazes para garantir a segurança do paciente e da equipe médica. Esta revisão integrativa analisa o uso de psicofármacos na sedação e controle da agitação, comparando a eficácia e segurança de diferentes classes de medicamentos, como antipsicóticos e benzodiazepínicos. Além disso, discute diretrizes nacionais e internacionais para a sedação em crises psiquiátricas e aponta lacunas na literatura sobre o tema. Os achados reforçam a importância da capacitação profissional e da formulação de protocolos baseados em evidências para otimizar o manejo da agitação psicótica.

Palavras-chave:  Agitação psicótica; Sedação; Psicofármacos; Manejo de crise psiquiátrica.

ABSTRACT

The management of psychotic agitation in psychiatric emergencies requires rapid and effective interventions to ensure the safety of both patients and healthcare teams. This integrative review analyzes the use of psychotropic drugs for sedation and agitation control, comparing the efficacy and safety of different drug classes, such as antipsychotics and benzodiazepines. Furthermore, it discusses national and international guidelines for sedation in psychiatric crises and highlights gaps in the literature. The findings reinforce the importance of professional training and the development of evidence-based protocols to optimize the management of psychotic agitation.

Keywords:  Psychotic agitation; Sedation; Psychotropic drugs; Psychiatric crisis management.

1 INTRODUÇÃO

O manejo da agitação psicótica representa um dos desafios mais críticos em emergências psiquiátricas, exigindo intervenções rápidas e eficazes para garantir a segurança do paciente, dos profissionais de saúde e do ambiente hospitalar. Esse quadro clínico é caracterizado por um estado de excitação extrema, impulsividade e comportamento desorganizado, frequentemente associado a transtornos psiquiátricos primários, como esquizofrenia e transtorno bipolar em episódios maníacos, além de condições decorrentes de intoxicação por substâncias psicoativas, abstinência de drogas e álcool, ou distúrbios neurológicos. A identificação precoce da agitação psicótica e a escolha de estratégias terapêuticas eficazes são fundamentais para evitar complicações que podem levar à necessidade de contenção física, hospitalizações prolongadas ou até mesmo consequências fatais. O uso de psicofármacos tem se consolidado como uma das principais abordagens para a estabilização desses pacientes, contudo, sua administração deve seguir diretrizes rigorosas para minimizar riscos e garantir a eficácia do tratamento (Campos & Teixeira, 2001).

O princípio do uso racional de medicamentos é essencial para evitar a medicalização excessiva e a prescrição inadequada de psicofármacos, especialmente em cenários emergenciais. Aquino (2008) destaca que a prescrição irracional pode resultar em efeitos adversos graves, dependência química e aumento do risco de readmissão hospitalar. O Ministério da Saúde (2015), em seu relatório sobre Saúde Mental em Dados, aponta que o consumo de medicamentos psiquiátricos no Brasil tem aumentado progressivamente, o que reflete tanto o crescimento da demanda por assistência em saúde mental quanto um possível risco de supermedicalização, muitas vezes sem o devido acompanhamento clínico adequado. Nesse contexto, torna-se imperativo revisar as diretrizes sobre o manejo farmacológico da agitação psicótica, considerando os avanços científicos recentes e a necessidade de intervenções individualizadas e baseadas em evidências.

A importância deste estudo se justifica diante das lacunas existentes na literatura sobre a eficácia comparativa dos diferentes psicofármacos utilizados na sedação emergencial. Apesar de diretrizes nacionais e internacionais recomendarem o uso de antipsicóticos típicos e atípicos, benzodiazepínicos e outros sedativos, não há um consenso absoluto sobre quais fármacos oferecem a melhor relação entre eficácia e segurança. A Política Nacional de Medicamentos, estabelecida pelo Ministério da Saúde, reforça a necessidade de protocolos bem definidos para a administração de medicamentos psiquiátricos, visando não apenas o alívio imediato dos sintomas, mas também a prevenção de efeitos adversos que possam comprometer a qualidade de vida dos pacientes a longo prazo. A ausência de diretrizes unificadas sobre a escolha do melhor esquema farmacológico pode levar à adoção de abordagens heterogêneas na prática clínica, resultando em variações na qualidade do atendimento e no prognóstico dos pacientes.

Além disso, fatores externos, como a pandemia de COVID-19, intensificaram os desafios relacionados ao uso de psicofármacos, ampliando o consumo desses medicamentos devido ao aumento expressivo de casos de transtornos de ansiedade, depressão e episódios psicóticos. O Conselho Federal de Farmácia (CFF) divulgou que, durante a pandemia, houve um crescimento significativo na prescrição de medicamentos psiquiátricos, um fenômeno que levanta preocupações sobre a medicalização excessiva de sintomas emocionais relacionados ao isolamento social e ao estresse pandêmico. Relatos da imprensa, como o publicado pelo Estado de Minas (2020), também evidenciam o impacto da pandemia na saúde mental, revelando um aumento na busca por ansiolíticos e antidepressivos, muitas vezes sem a devida avaliação clínica aprofundada. Esses dados reforçam a necessidade de revisões críticas sobre a prescrição de psicofármacos, a fim de evitar o uso indiscriminado e garantir que os medicamentos sejam utilizados dentro de protocolos bem estruturados.

Diante desse cenário, este estudo tem como objetivo revisar e sintetizar as evidências científicas mais recentes sobre o uso de psicofármacos na sedação e no manejo da agitação psicótica em emergências psiquiátricas. A pesquisa visa identificar os principais medicamentos utilizados, comparar sua eficácia e segurança, avaliar diretrizes nacionais e internacionais sobre seu uso e discutir os desafios na implementação dessas estratégias na prática clínica. A revisão integrativa se baseará em estudos que analisam o impacto da farmacoterapia na contenção da agitação, considerando não apenas a literatura científica, mas também as diretrizes formuladas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A Estratégia Saúde da Família, por exemplo, desempenha um papel crucial na distribuição e no monitoramento do uso racional de psicofármacos, sendo um modelo de atenção que pode contribuir para a redução dos riscos associados ao manejo inadequado desses fármacos (Rocha & Werlang, 2013).

Ao estabelecer uma base sólida de evidências sobre o uso de psicofármacos na agitação psicótica, este estudo busca contribuir para uma prática clínica mais segura, eficiente e embasada na melhor evidência científica disponível. A análise crítica das diretrizes vigentes permitirá a formulação de recomendações que possam auxiliar na padronização dos protocolos de sedação em crises psiquiátricas, garantindo um equilíbrio entre eficácia terapêutica e segurança do paciente. Dessa forma, pretende-se não apenas atualizar o conhecimento sobre o tema, mas também fornecer subsídios para aprimorar a assistência em saúde mental, minimizando os impactos adversos da medicalização inadequada e promovendo intervenções mais humanizadas e eficazes.

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa caracteriza-se como uma revisão integrativa da literatura, uma abordagem metodológica que permite a síntese do conhecimento disponível sobre o uso de psicofármacos na sedação e no manejo da agitação psicótica em emergências psiquiátricas. A revisão integrativa se destaca pela sua capacidade de reunir e analisar criticamente estudos com diferentes delineamentos, incluindo ensaios clínicos, revisões sistemáticas, diretrizes institucionais e estudos epidemiológicos. Esse tipo de estudo é essencial para fornecer uma visão abrangente sobre o tema, possibilitando a identificação de lacunas na literatura e fornecendo diretrizes mais embasadas para a prática clínica. Segundo o Ministério da Saúde (2007), as diretrizes sobre tratamento psiquiátrico no Brasil precisam ser constantemente revisadas e aprimoradas, de forma a garantir a aplicação das melhores práticas baseadas em evidências.

Para garantir a rigurosidade científica da revisão, foram adotados critérios rigorosos de inclusão e exclusão. Os estudos selecionados são aqueles revisados por pares, incluindo ensaios clínicos randomizados, diretrizes internacionais e nacionais, estudos observacionais robustos e revisões sistemáticas publicadas nos últimos dez anos. Esses critérios garantem que a pesquisa esteja fundamentada em evidências atualizadas e de alta qualidade. Por outro lado, relatos de caso isolados, estudos com amostras pequenas, artigos sem revisão por pares e pesquisas com baixa qualidade metodológica foram excluídos da análise, pois podem comprometer a validade e generalização dos achados. Além disso, documentos institucionais, como as diretrizes do Ministério da Saúde, foram incluídos para fornecer um panorama das políticas públicas sobre o uso de psicofármacos no Brasil, especialmente no contexto do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Estratégia Saúde da Família.

A busca dos estudos foi conduzida em bases de dados reconhecidas internacionalmente por sua relevância na área da saúde e ciências biomédicas, incluindo PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e SciELO. Foram utilizados descritores e palavras-chave específicos para abranger de forma abrangente a literatura disponível sobre o tema, incluindo os termos: “agitação psicótica”, “sedação”, “psicofármacos”, “manejo de crise psiquiátrica” e seus equivalentes em inglês. A estratégia de busca foi desenvolvida de modo a garantir a inclusão de estudos de diversas perspectivas, incluindo pesquisas sobre a eficácia comparativa de diferentes classes de medicamentos e diretrizes clínicas para sua administração em contextos emergenciais.

A análise dos dados foi conduzida por meio de uma abordagem qualitativa, baseada na síntese narrativa das evidências extraídas dos estudos selecionados. Essa abordagem permite uma interpretação crítica dos achados, destacando convergências e divergências entre os diferentes estudos revisados. A metodologia adotada segue os princípios recomendados por Minayo (2004), que enfatiza a importância da análise qualitativa em pesquisas em saúde mental, permitindo a construção de um conhecimento aprofundado sobre as práticas e desafios do manejo farmacológico da agitação psicótica. Além disso, o estudo de Leite, Vieira e Veber (2008) sobre a utilização de medicamentos na América Latina contribui para a contextualização do uso de psicofármacos no Brasil, evidenciando padrões de prescrição e desafios enfrentados na implementação de políticas públicas para o manejo dessas crises.

Por fim, a metodologia adotada garante que os achados desta revisão estejam embasados em uma análise crítica e abrangente das melhores evidências disponíveis. A inclusão de diretrizes oficiais, como as apresentadas nos Cadernos HumanizaSUS, permite um olhar ampliado para a questão, incorporando não apenas os aspectos clínicos do uso de psicofármacos, mas também diretrizes voltadas para a humanização do atendimento psiquiátrico. Dessa forma, a pesquisa pretende fornecer uma base sólida para futuras recomendações sobre o uso racional de medicamentos no tratamento emergencial da agitação psicótica, contribuindo para uma abordagem mais eficaz e segura dentro da prática psiquiátrica.

3 RESULTADOS

O manejo farmacológico da agitação psicótica em emergências psiquiátricas é essencial para estabilizar o paciente de forma segura e eficaz. Diversos psicofármacos são utilizados para esse fim, sendo os antipsicóticos típicos e atípicos os mais empregados devido à sua ação direta nos sintomas psicóticos e na modulação da agitação. O haloperidol, um dos antipsicóticos típicos mais usados, é amplamente indicado por sua rápida ação e eficácia, embora apresente riscos significativos de efeitos extrapiramidais. Entre os antipsicóticos atípicos, olanzapina, risperidona, quetiapina e clorpromazina demonstram eficácia na contenção da agitação, sendo a olanzapina particularmente valorizada por seu perfil de menor incidência de efeitos extrapiramidais. No entanto, esses medicamentos podem induzir efeitos adversos metabólicos, como ganho de peso e resistência à insulina, comprometendo seu uso prolongado.

Os benzodiazepínicos, como lorazepam, diazepam e midazolam, também são amplamente utilizados para sedação, especialmente quando há risco iminente de agressividade extrema ou quando os antipsicóticos isoladamente não são suficientes. O lorazepam é frequentemente preferido por sua ação relativamente rápida e menor risco de acúmulo em pacientes com disfunção hepática. Contudo, seu uso prolongado pode levar à dependência e à sedação excessiva, dificultando a avaliação clínica do paciente. Outras classes de medicamentos, como anticonvulsivantes (valproato de sódio, carbamazepina) e antagonistas NMDA (memantina, ketamina), vêm sendo investigadas como alternativas em casos resistentes ao tratamento convencional, apresentando potencial para modular a hiperexcitabilidade neuronal subjacente à agitação psicótica.

A escolha entre monoterapia e combinação farmacológica é um aspecto crítico do manejo da agitação psicótica. Estudos sugerem que, em muitos casos, a monoterapia com um antipsicótico atípico é suficiente para controlar a crise, reduzindo a necessidade de múltiplas substâncias e, consequentemente, minimizando os riscos de interações medicamentosas e efeitos adversos. No entanto, em situações de agitação severa, a associação de um antipsicótico com um benzodiazepínico pode proporcionar um efeito sedativo mais rápido e eficaz, especialmente quando a contenção física não é uma opção viável. A combinação de diferentes classes de medicamentos, no entanto, deve ser avaliada com cautela devido ao risco de depressão respiratória, potencializado pelo uso concomitante de benzodiazepínicos e outros sedativos.

As vias de administração dos psicofármacos também influenciam diretamente na eficácia e segurança do tratamento. A administração intramuscular (IM) é frequentemente utilizada em emergências psiquiátricas devido à sua absorção relativamente rápida e à facilidade de administração em pacientes não colaborativos. O haloperidol IM, por exemplo, é uma escolha comum para a sedação imediata, assim como a olanzapina IM, que tem a vantagem de causar menos sintomas extrapiramidais. Em casos de crise moderada, a administração oral pode ser preferível, pois reduz o desconforto do paciente e o risco de complicações associadas à via parenteral. Já a via intravenosa (IV) é menos utilizada no manejo da agitação psicótica, sendo reservada para casos mais graves em que a resposta clínica precisa ser obtida rapidamente.

O manejo farmacológico da agitação psicótica deve seguir diretrizes nacionais e internacionais que estabelecem protocolos para uma sedação segura e eficaz. Associações médicas, como a American Psychiatric Association (APA), o National Institute for Health and Care Excellence (NICE) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), recomendam abordagens individualizadas, priorizando o uso de antipsicóticos atípicos devido ao seu melhor perfil de segurança. No Brasil, a Política Nacional de Medicamentos do Ministério da Saúde estabelece diretrizes para a prescrição e administração de psicofármacos, enfatizando a importância do uso racional dessas substâncias para minimizar riscos e otimizar os benefícios terapêuticos. Além disso, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) destaca a necessidade de diretrizes específicas para o manejo da saúde mental em contextos de epidemias e desastres, enfatizando a importância de protocolos que garantam uma sedação rápida e segura sem comprometer a integridade do paciente.

Apesar das diretrizes estabelecidas, desafios ainda persistem na prática clínica, incluindo a necessidade de treinamento contínuo das equipes médicas e de enfermagem para a administração segura desses medicamentos, além da implementação de protocolos que reduzam a necessidade de contenção física e promovam um atendimento mais humanizado. Estudos como os de Raymundo et al. (2003) alertam para o uso inadequado de psicofármacos, destacando a ocorrência de consumo abusivo de substâncias como a triexifenidila, que pode ser utilizada de forma indevida para potencializar efeitos psicotrópicos. Já a pesquisa de Ferreira et al. (2017) enfatiza as perspectivas dos pacientes sobre a utilização desses medicamentos, destacando os impactos psicossociais da dependência e dos efeitos adversos prolongados. Beux & Kujawa (2015) discutem a medicalização excessiva dos transtornos mentais, ressaltando a importância de equilibrar a necessidade de controle da agitação com a precaução contra a prescrição desnecessária de fármacos.

Além das preocupações relacionadas ao uso racional dos psicofármacos, evidências apontam que seu uso inadequado pode resultar em efeitos adversos significativos e até mesmo intoxicações. Dall’Agnol (2004) identificou problemas relacionados a medicamentos em emergências psiquiátricas, incluindo reações paradoxais e interações medicamentosas que podem comprometer a estabilidade clínica dos pacientes. Já Lessa & Bochner (2008) analisaram dados sobre internações hospitalares de crianças devido à intoxicação por medicamentos, alertando para os riscos do uso indiscriminado de fármacos psicotrópicos sem supervisão adequada. O estudo de Bortoletto & Bochner (1999) reforça essa preocupação ao avaliar o impacto das intoxicações medicamentosas na população geral, evidenciando a necessidade de protocolos mais rigorosos para a administração de psicofármacos.

Diante dessas evidências, o aprimoramento das diretrizes para a sedação em crises psiquiátricas deve ser uma prioridade para os sistemas de saúde. A implementação de protocolos baseados em evidências pode reduzir significativamente os riscos associados ao uso inadequado de psicofármacos, garantindo um tratamento mais seguro e eficaz. A Organização Pan-Americana da Saúde (2003) recomenda a adoção de diretrizes padronizadas para o manejo da agitação psicótica, enfatizando a importância da capacitação profissional e do monitoramento contínuo dos efeitos adversos. No Brasil, a Política Nacional de Medicamentos estabelece normas para a prescrição responsável dessas substâncias, promovendo práticas que equilibram a necessidade de sedação com o respeito aos direitos dos pacientes. Dessa forma, o avanço nas políticas públicas e a incorporação de novas evidências científicas são fundamentais para garantir um atendimento psiquiátrico mais seguro, eficaz e humanizado.

4 DISCUSSÃO

Os achados desta revisão reforçam que o manejo da agitação psicótica em emergências psiquiátricas deve ser baseado em protocolos bem estabelecidos, levando em consideração a segurança e a eficácia dos psicofármacos disponíveis. As evidências sugerem que os antipsicóticos atípicos, como a olanzapina e a risperidona, tendem a apresentar um melhor perfil de segurança quando comparados aos antipsicóticos típicos, como o haloperidol, principalmente devido à menor incidência de efeitos extrapiramidais. No entanto, os antipsicóticos típicos ainda são amplamente utilizados por sua eficácia na sedação rápida e pelo menor custo, o que torna sua escolha frequente em serviços de saúde com recursos limitados. Além disso, os benzodiazepínicos demonstram eficácia na redução da agitação, mas seu potencial de sedação excessiva e risco de dependência limita seu uso prolongado.

As diretrizes internacionais indicam que a escolha entre monoterapia e terapia combinada deve considerar a gravidade da crise e as características individuais do paciente. Enquanto a monoterapia com antipsicóticos pode ser suficiente para casos leves a moderados, a associação com benzodiazepínicos é recomendada em situações de agitação grave, onde há risco de agressividade extrema. No entanto, há limitações na literatura quanto à superioridade de uma abordagem sobre a outra, com alguns estudos sugerindo que o uso combinado pode aumentar o risco de eventos adversos, como depressão respiratória e sedação prolongada. Outra controvérsia envolve a via de administração: a administração intramuscular (IM) é preferida para controle rápido da crise, enquanto a via oral é indicada para casos menos intensos. Entretanto, o impacto a longo prazo da administração repetida de fármacos IM na adesão ao tratamento e na qualidade de vida do paciente ainda carece de investigações mais aprofundadas.

Outro ponto relevante é o efeito da pandemia de COVID-19 na saúde mental e no uso de psicofármacos. Estudos como o de Ho, Chee e Ho (2020) e Araújo & Machado (2020) evidenciaram um aumento na prescrição de medicamentos psiquiátricos durante a pandemia, refletindo o impacto do isolamento social, do medo da doença e da incerteza econômica sobre a saúde mental da população. O estudo de Brooks et al. (2020) destaca que o confinamento prolongado pode ter agravado quadros pré-existentes de transtornos mentais, levando à intensificação da medicalização como resposta a esses desafios. Essa situação levanta questionamentos sobre a necessidade de revisão dos critérios para prescrição de psicofármacos, a fim de evitar um aumento descontrolado no uso dessas substâncias sem acompanhamento médico adequado.

No contexto clínico, os achados reforçam a importância da capacitação profissional contínua para garantir que os medicamentos sejam administrados de forma segura e eficiente. Tavares (2006) destaca que a educação permanente das equipes de enfermagem e dos profissionais de saúde mental é essencial para aprimorar o manejo da agitação psicótica, reduzindo a necessidade de contenção física e otimizando o uso dos psicofármacos. Além disso, Gonçalves & Sena (2001) analisam as mudanças na reforma psiquiátrica no Brasil, ressaltando a necessidade de integrar o tratamento medicamentoso com abordagens psicossociais e estratégias de reabilitação, evitando a dependência excessiva da sedação química como única forma de controle da crise.

Apesar dos avanços no entendimento sobre a sedação em emergências psiquiátricas, ainda existem lacunas na literatura que precisam ser abordadas em pesquisas futuras. Um dos principais desafios é avaliar o impacto do uso prolongado de psicofármacos em pacientes submetidos a múltiplas internações por agitação psicótica, analisando como essas intervenções influenciam sua recuperação a longo prazo. Raposo (2016) questiona a cultura da medicalização excessiva, sugerindo que o uso abusivo de medicamentos pode estar mascarando problemas sociais e estruturais que afetam a saúde mental. Guarido (2007) aprofunda essa crítica ao discutir a medicalização do sofrimento psíquico, argumentando que a prescrição indiscriminada de fármacos muitas vezes ocorre em detrimento de abordagens terapêuticas mais amplas. Calazans & Lustoza (2008) complementam essa análise ao destacar que a dependência de medicamentos psiquiátricos pode criar um ciclo de uso prolongado sem resolver a causa subjacente dos transtornos mentais.

Outro aspecto a ser explorado em futuras pesquisas é o desenvolvimento de novos psicofármacos com melhores perfis de segurança e eficácia, reduzindo os riscos de efeitos adversos e otimizando o tratamento das crises psiquiátricas. Ensaios clínicos sobre novos antagonistas NMDA, moduladores glutamatérgicos e formulações de liberação prolongada de antipsicóticos podem oferecer alternativas mais seguras e eficazes para o manejo da agitação. Além disso, estudos comparativos entre protocolos farmacológicos e intervenções não medicamentosas, como terapias comportamentais e técnicas de desescalonamento, podem contribuir para um modelo de atendimento mais humanizado e menos dependente de sedação química.

Diante dessas considerações, torna-se evidente que o manejo da agitação psicótica ainda enfrenta desafios significativos, mas os avanços na farmacoterapia e na formulação de diretrizes clínicas baseadas em evidências podem melhorar a segurança e a eficácia dessas intervenções. A revisão contínua das práticas clínicas e a incorporação de novos achados científicos são fundamentais para garantir que os pacientes em crise recebam o melhor atendimento possível, minimizando os riscos associados ao uso de psicofármacos e promovendo uma abordagem mais integrada para o cuidado em saúde mental.

5 CONCLUSÃO

A revisão integrativa sobre o uso de psicofármacos no manejo da agitação psicótica em emergências psiquiátricas destacou a importância da administração racional dessas substâncias para garantir a segurança dos pacientes e a eficácia do tratamento. Os principais achados indicam que os antipsicóticos atípicos, como olanzapina e risperidona, apresentam um perfil de segurança superior quando comparados aos típicos, como haloperidol, devido à menor incidência de efeitos extrapiramidais. No entanto, os antipsicóticos típicos continuam sendo amplamente utilizados em serviços de emergência devido ao seu custo acessível e à eficácia rápida na sedação de crises severas. O uso de benzodiazepínicos, como lorazepam e diazepam, se mostrou útil em combinação com antipsicóticos para agitação extrema, embora seu potencial de sedação excessiva e risco de dependência sejam fatores limitantes para sua utilização prolongada.

A comparação entre monoterapia e terapia combinada evidenciou que, enquanto a monoterapia pode ser suficiente para casos leves a moderados, a associação de fármacos pode ser mais eficaz para controle rápido em situações críticas. Entretanto, a combinação de múltiplos sedativos pode aumentar o risco de depressão respiratória, complicações metabólicas e dificuldade na monitorização clínica do paciente. Além disso, a via de administração dos psicofármacos influencia diretamente no seu efeito terapêutico, sendo a via intramuscular (IM) preferida em emergências psiquiátricas, enquanto a oral é recomendada quando há possibilidade de colaboração do paciente. Já a administração intravenosa (IV) é reservada para situações de extrema gravidade, devido ao risco de eventos adversos imediatos.

A análise das diretrizes nacionais e internacionais indicou que as recomendações atuais enfatizam a necessidade de protocolos claros e bem estabelecidos para a sedação em emergências psiquiátricas. A Organização Mundial da Saúde (OMS), a American Psychiatric Association (APA) e o National Institute for Health and Care Excellence (NICE) recomendam o uso preferencial de antipsicóticos atípicos e a adoção de estratégias individualizadas para cada paciente. No Brasil, a Política Nacional de Medicamentos do Ministério da Saúde estabelece diretrizes para a prescrição responsável de psicofármacos, promovendo o uso racional e evitando a supermedicalização dos transtornos psiquiátricos.

As implicações para a prática clínica são significativas, pois o manejo inadequado da agitação psicótica pode resultar em desfechos negativos tanto para os pacientes quanto para os profissionais de saúde. A necessidade de capacitação contínua das equipes médicas e de enfermagem foi ressaltada como um fator essencial para garantir uma abordagem segura e eficaz. Protocolos baseados em evidências devem ser implementados nos serviços de emergência para minimizar o uso excessivo de sedação química e evitar a contenção física sempre que possível. Além disso, a revisão apontou que a pandemia de COVID-19 impactou diretamente o aumento da prescrição de psicofármacos, levantando preocupações sobre a medicalização excessiva de sintomas emocionais associados ao isolamento social e à crise sanitária.

No contexto das políticas de saúde mental, a revisão destacou a importância de equilibrar o cuidado comunitário e hospitalar para pacientes em crise psiquiátrica. O estudo de Thornicroft & Tansella (2002) reforça que uma abordagem integrada, combinando suporte psicossocial com tratamento farmacológico adequado, pode reduzir a necessidade de internações recorrentes e promover uma reabilitação mais eficaz. A dependência exclusiva da farmacoterapia para manejo da agitação psicótica pode ser prejudicial, e alternativas como o atendimento ambulatorial intensivo e serviços de crise psiquiátrica domiciliar devem ser considerados como parte de um modelo de assistência mais humanizado.

Outro ponto de debate são as estratégias alternativas para o manejo da agitação psicótica, incluindo a eletroconvulsoterapia (ECT), que continua sendo um tema controverso. O estudo de Reisner (2003) aponta que, apesar das controvérsias, a ECT pode ser uma opção eficaz para pacientes com agitação psicótica grave e refratária ao tratamento medicamentoso. No entanto, o uso desse procedimento deve ser cuidadosamente avaliado e aplicado dentro das diretrizes éticas e clínicas recomendadas.

Diante desses achados, torna-se essencial que futuras pesquisas avaliem novas alternativas farmacológicas e estratégias terapêuticas para o manejo da agitação psicótica. A investigação de novos moduladores glutamatérgicos, antagonistas NMDA e formulações de liberação prolongada de antipsicóticos pode trazer avanços significativos no tratamento dessas crises. Além disso, estudos comparativos entre intervenções farmacológicas e terapias não medicamentosas podem contribuir para uma abordagem mais equilibrada, reduzindo a necessidade de sedação excessiva e promovendo a reabilitação efetiva dos pacientes.

Em suma, o manejo da agitação psicótica exige uma abordagem multidimensional, que considere não apenas a escolha do fármaco mais adequado, mas também os impactos clínicos e sociais do tratamento. O aprimoramento das diretrizes clínicas, a capacitação dos profissionais de saúde e a incorporação de novas evidências científicas são fundamentais para garantir um atendimento psiquiátrico mais seguro, eficaz e humanizado. Ao integrar diferentes estratégias terapêuticas e fortalecer as políticas públicas de saúde mental, é possível oferecer um tratamento mais eficaz para pacientes em crise, promovendo a recuperação e reduzindo os riscos associados ao uso inadequado de psicofármacos.

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1 Graduanda em Medicina pela Unades
2 Graduanda em Medicina pela Uninter
3 Graduando em Medicina pela Universidade Central do Paraguai
4 Graduanda em Medicina pela UCP
5 Graduanda em Medicina pela UCP
6 Graduanda em Medicina pela Universidade Central do Paraguai
7 Graduanda em Medicina pela Universidade Central do Paraguai – UCP
8 Graduando em Medicina pela Unades
9 Graduanda em Medicina pela Universidade Central do Paraguai
10 Graduando em Medicina pela UCP
11 Graduando em Medicina pela Universidade Central do Paraguai
12 Graduando em Medicina pela UCP
13 Graduando em Medicina pela PUC MG
14 Graduando em Medicina pela Universidade Central do Paraguai
15 Graduando em Medicina pela UCP