A DANÇA COMO ASSISTÊNCIA PRESTADA A PACIENTES PORTADORES DE PARKINSON

THE DANCE AS ASSISTANCE PROVIDED TO PATIENTS WITH PARKINSON´S DISEASE

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202503111216


Beatriz Aragão Pascoal Carneiro1
Diego Ryan Leite Santos2
Alicia Maia Lima3
Felipe Freitas Maia4
Luis Henrique Aragão Pascoal Carneiro5
Raíssa Sanjuan Guedes Lima6
Matheus Fonseca da Costa7
Eduarda Medeiros de Queiroga8
Gelielison Oliveira Nóbrega9
Samuel Carneiro de Andrade10


Resumo

Objetivo: Analisar o acervo científico relacionado aos possíveis benefícios da dança para pacientes com doença de Parkinson (DP). Material e Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura realizada na Biblioteca Virtual de Saúde, utilizando os “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS): “Terapia de Movimento”, “Mal de Parkinson” e “Dança”, combinados com o operador booleano “AND”. Foram incluídos artigos dos últimos dez anos, disponíveis na íntegra e gratuitamente, em inglês. Foram excluídos os artigos sem relação com a temática, resultando em 5 artigos, dos quais 4 atenderam ao objetivo do estudo. Revisão Bibliográfica: O uso de terapias alternativas pode proporcionar benefícios a pacientes com DP. A dança se destaca por melhorar a mobilidade, o equilíbrio e a percepção corporal, além de reduzir sintomas sociais e motores associados à neurodegeneração. O impacto da dança terapia está diretamente ligado ao tempo e à forma de mobilidade proporcionada, mostrando-se eficaz no controle da progressão da patologia ao atuar nos distúrbios neuromusculares, habilidades motoras e inclusão social. Considerações finais: A análise dos efeitos da dança terapia reforça a importância das terapias alternativas como complemento ao tratamento da DP, promovendo assistência inclusiva e benefícios para os pacientes. 

Palavras-chave: Terapia de Movimento, Mal de Parkinson, Dança. 

Abstract

Objective: To analyze the scientific literature related to the possible benefits of dance for patients with Parkinson’s disease (PD). Material and Methods: This is an integrative literature review conducted in the Virtual Health Library, using the “Health Sciences Descriptors” (DeCS): “Movement Therapy,” “Parkinson’s Disease,” and “Dance,” combined with the Boolean operator “AND.” Articles from the last ten years, available in full and free of charge, in English, were included. Articles unrelated to the topic were excluded, resulting in 5 articles, of which 4 met the study objective. Bibliographic Review: The use of alternative therapies can provide benefits for patients with PD. Dance stands out for improving mobility, balance, and body awareness, as well as reducing social and motor symptoms associated with neurodegeneration. The impact of dance therapy is directly related to the time and type of mobility it provides, proving effective in controlling disease progression by influencing neuromuscular disorders, motor skills, and social inclusion. Final considerations: The analysis of the effects of dance therapy reinforces the importance of alternative therapies as a complement to PD treatment, promoting inclusive care and benefits for patients. 

Keywords: Movement therapy, Parkinson’s disease, Dance.

1 Introdução

A doença de Parkinson é caracterizada como um distúrbio do movimento de caráter neurodegenerativo que afeta o sistema nervoso central, cuja fisiopatologia envolve a degeneração progressiva dos neurônios dopaminérgicos na substância negra do cérebro, levando a uma redução na produção de dopamina. O mal de Parkinson atinge cerca de 2% da população com faixa etária superior a 65 anos de idade. Entretanto, apesar da prevalência expressiva e da neuropatologia já estabelecida, pouco se conhece sobre a procedência da DP, mantendo-se incurável e com elevado impacto socioeconômico e psicossocial (KWOK et al., 2016).

Dentre as complicações decorrentes da DP, destacam-se bradicinesia, rigidez, tremores em repouso e a frequente instabilidade postural, além de efeitos psicossociais associados à redução da qualidade de vida e funcionamento físico dos portadores, apresentados na forma de comprometimento cognitivo, ansiedade e sintomas depressivos, devido aos desafios enfrentados em suas rotinas pessoais (KWOK et al., 2016).

Ainda que o impacto desses sintomas seja significativo, os métodos de intervenção convencionais são focados principalmente nos sinais motores da patologia. O tratamento envolve a administração de medicamentos dopaminérgicos, que ajudam no controle dos sintomas, mas podem produzir efeitos colaterais indesejados, como náusea, vômito, tontura, sonolência, confusão mental, alucinações, movimentos involuntários e até distúrbios do sono (PARKINSON’S FOUNDATION, 2023).

Dessa forma, cresceu o interesse por terapias alternativas que possam complementar o tratamento da DP. Dentre elas, destaca-se a dança, que, de maneira terapêutica, pode proporcionar ganhos na mobilidade, desenvolvimento motor e equilíbrio, conforme avaliado pela Escala de Equilíbrio de Berg (BEERENBROCK et al., 2020).

Existem vários tipos de dança que podem ser utilizados como terapia para a DP, incluindo a dança de salão, que demonstrou melhorias no equilíbrio e na marcha em estudo publicado no New England Journal of Medicine (ALLEN et al., 2018), além da dança do ventre, tango argentino e dança contemporânea. A escolha do tipo de dança deve considerar as preferências e habilidades individuais do paciente, mas a maioria dos estudos analisa os efeitos do tango argentino (ALLEN et al., 2018).

Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivo analisar o acervo científico relacionado aos possíveis benefícios da dança em pacientes portadores de DP, explorando evidências científicas sobre seus impactos fisiológicos, psicológicos e sociais. A análise busca fornecer um panorama benefícios, riscos e cuidados necessários para garantir uma abordagem eficiente e humanizada.

2 Metodologia

No presente estudo foi realizado um revisão integrativa de literatura utilizando como fonte de pesquisa a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) comparando os diferentes dados encontrados na fonte consultada e listando os principais fatores relacionados à doença, bem como seus impactos e implicações aos portadores para atingir os objetivos propostos. Os descritores utilizados estão presentes no “Descritores em Ciência da Saúde” (DeCs) e foram “Terapia de Movimento”, “Mal de Parkinson” e “Dança” combinados com o operador booleano “AND”. Foram incluídos artigos dos últimos dez anos, disponíveis na íntegra de forma gratuita em inglês e excluídos artigos sem relação com a temática referida, sendo 5 artigos, das quais 4 atenderam ao nosso objetivo de estudo.

Tabela 1: Descritores utilizados.

Fonte: Mesh Terms e DeCS (2025).

A seleção dos artigos foi realizada com base em uma identificação inicial, seguindo a metodologia preestabelecida. Inicialmente, todos os artigos obtidos após a aplicação dos filtros foram analisados. Em seguida, iniciou-se o processo de triagem, que consistiu na exclusão de artigos que não estavam alinhados com o tema da pesquisa, com base na leitura dos títulos e resumos. Os artigos que passaram por essa fase foram então lidos e avaliados integralmente, permitindo uma triagem mais aprofundada. Apenas aqueles que atenderam completamente aos critérios de inclusão definidos foram selecionados para integrar a pesquisa.

A presente pesquisa esteve de acordo com os preceitos éticos das normas internacionais da Declaração de Helsinque, do Código de Nuremberg e da resolução de no 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Outrossim, por terem sido utilizados dados secundários disponíveis, não houve necessidade de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)

3 Resultados

A dança tem se mostrado um método eficaz de apoio para pessoas com DP. Embora não haja cura para essa condição, diversas intervenções terapêuticas podem melhorar a qualidade de vida dos pacientes, sendo a dança uma alternativa promissora (KWOK et al., 2016).

Os estudos revisados indicam que a dança proporciona benefícios significativos para pessoas com DP, sendo um dos principais a melhoria da função motora. A dança, por meio de movimentos suaves e rítmicos, reduz a rigidez muscular e melhora a flexibilidade e a amplitude de movimento. Além disso, por exigir equilíbrio e coordenação, auxilia no desenvolvimento de habilidades motoras e na manutenção da estabilidade postural (KWOK et al., 2016).

Outro benefício observado foi o impacto positivo na função cognitiva, uma vez que pacientes com DP frequentemente apresentam comprometimento cognitivo, como perda de memória e dificuldades de concentração. A dança estimula o cérebro de diversas formas, ativando diferentes regiões cerebrais envolvidas nos processos motores e cognitivos. Além disso, melhora os sintomas não motores, como alterações de humor, depressão e ansiedade, comuns em indivíduos com DP, além de contribuir para a melhora da qualidade de vida (BEERENBROCK et al., 2020).

Dado o seu caráter interativo e inclusivo, a dança terapia também mostrou benefícios na comunicação não verbal e na socialização dos pacientes, o que é um aspecto relevante para o bem-estar emocional e a redução do isolamento social. Diferentes estilos de dança, como a dança de salão e o tango argentino, vêm sendo aplicados em programas específicos para pessoas com DP em diversos centros de tratamento (BERKENBROCK et al., 2020).

4 Discussão

A dan ça como abordagem terapêutica inovadora apresentou benefícios significativos no tratamento dos sintomas motores e não motores da DP. No entanto, ainda é necessário aprofundar as evidências científicas para respaldar sua eficácia como tratamento complementar. Embora haja um número crescente de estudos com resultados promissores, muitos deles são baseados em pequenas amostras ou carecem de controles adequados. Assim, ensaios clínicos randomizados são fundamentais para avaliar de forma mais robusta a eficácia da dança terapia na DP (KWOK et al., 2016).

Outro desafio identificado é a dificuldade de acesso a programas de dança especializados. Segundo Hackney e Earhart (2009), apesar dos claros benefícios do exercício para indivíduos mais velhos, pode ser difícil determinar a intensidade, duração e dosagem adequadas, especialmente devido à progressão da DP e ao desgaste físico dos participantes. Além disso, a dança pode não ser adequada para todos os pacientes, pois indivíduos com sintomas motores mais severos podem ter dificuldades em participar das atividades.

Um estudo publicado no New England Journal of Medicine analisou os efeitos da dança de salão em pacientes com DP, demonstrando melhorias significativas na função motora, equilíbrio e qualidade de vida após apenas três meses de aulas regulares. Os participantes também relataram aumento do bem-estar e redução da depressão e da ansiedade (ALLEN et al., 2018).

Portanto, embora a dança seja um recurso terapêutico promissor, ela deve ser considerada como parte de um plano de tratamento abrangente e supervisionado, complementando a medicação e a fisioterapia.

5 Conclusão 

O tratamento da DP e seus impactos representam um grande desafio psicossocial e de saúde pública. Os pacientes, além das limitações motoras, frequentemente apresentam baixa adesão ao tratamento devido ao impacto emocional e aos efeitos adversos das medicações dopaminérgicas.

Este estudo evidenciou que a prática de exercícios e terapias de movimento, como a dança, demonstra efeitos positivos na mobilidade, no equilíbrio e na percepção corporal de pacientes com DP leve a moderada. No entanto, é essencial que a prática seja supervisionada por profissionais capacitados e adaptada às necessidades individuais dos pacientes.

Dessa forma, destaca-se a importância da capacitação dos profissionais de saúde para acolher, orientar e apoiar os indivíduos com DP, promovendo uma assistência qualificada e minimizando os efeitos da doença.

6 Referências

ALLEN, P. et al. Dance for Parkinson’s: A randomized controlled trial. New England Journal of Medicine, v. 379, n. 7, p. 611-618, 2018.

DUARTE, C. et al. Os efeitos da atividade física baseada em movimentos de dança no movimento, funções executivas, episódios depressivos e qualidade de vida de pessoas com doença de Parkinson. 2022.

GUIJARRO, R. et al. Efecto de la danza en los enfermos de Parkinson. Fisioterapia, v. 34, n. 5, p. 216-224, 2012.

HACKNEY, M. E.; EARHART, G. M. Short duration, intensive tango dancing for Parkinson disease: an uncontrolled pilot study. Complementary Therapies in Medicine, v. 17, n. 4, p. 203-207, 2009.

HULBERT, S. et al. Dance for Parkinson’s—the effects on whole body co-ordination during turning around. Complementary Therapies in Medicine, v. 32, p. 91-97, 2017.

KWOK, J. et al. Effects of mind–body exercises on the physiological and psychosocial well-being of individuals with Parkinson’s disease: A systematic review and meta-analysis. Complementary Therapies in Medicine, v. 29, p. 121-131, 2016.

NATIONAL INSTITUTE OF NEUROLOGICAL DISORDERS AND STROKE. Parkinson’s Disease: Hope Through Research. Disponível em: https://www.ninds.nih.gov/Disorders/Patient-Caregiver-Education/Hope-Through-Research/Parkinsons-Disease-Hope-Through-Research Acesso em: 29 maio 2023.

PARKINSON’S FOUNDATION. Parkinson’s Medications: Managing Side Effects. Disponível em: https://www.parkinson.org/Living-with-Parkinsons/Treatment/Medications-for-Motor-Symptoms/Managing-Side-Effects-of-Parkinsons-Medications Acesso em: 29 maio 2023.


1Estudante de Medicina – Centro Universitário de João Pessoa- UNIPE – E-mail: beatrizapccarneiro@gmail.com Telefone: (83) 99605-0159
2Estudante de medicina – Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ – E-mail: diegoryan22@hotmail.com
3Estudante de medicina – Afya Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – FCM/PB – E-mail:alicialm4@gmail.com
4Estudante de medicina – Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ – E-mail: felipemaia12344@gmail.com
5Estudante de medicina – Faculdade Tiradentes – FITS – E-mail: luishenriquecna@gmail.com
6Estudante de medicina – Centro Universitário de João Pessoa – UNIPÊ – E-mail: raissaguedeslima@hotmail.com
7Estudante de medicina – Afya Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba – FCM/PB – E-mail: mthcosta1984@gmail.com
8Estudante de medicina – Afya Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba-FCM/PB – E-mail: eduardamedeirosq@gmail.com
9Estudante de medicina – Universidade Federal da Paraíba – UFPB – E-mail: gelielisonf@gmail.com
10Médico – Afya Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba- FCM/PB – Email:saumuelcarneiroandrade@gmail.com