TOXOPLASMOSE EM GESTANTES: O IMPACTO DO DIAGNÓSTICO NO PRÉ-NATAL, NA ATENÇÃO BÁSICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202503101721


André Soares Borges da Silva1
Isabel de Castro Resende2
Jhonnathas Dantas dos Santos3
Maria Elisabeth de Carvalho Sá Carlos4
Adriana Sávia de Souza Araújo5
Chrystiany Plácido de Brito Vieira6
Liliam Mendes de Araújo7


RESUMO

Objetivo: Avaliar a relação entre o início do pré-natal, diagnóstico e início do tratamento da toxoplasmose e conhecer os fatores que interferem no processo. Método: Estudo retrospectivo, com recorte transversal, com 119 gestantes acompanhadas em uma unidade básica de saúde de Teresina- Piauí, entre 2021 e 2022. Utilizou-se o prontuário eletrônico do cidadão (PEC) e–SUS AB. Realizaram-se análises de frequência simples. Resultados: Do total das gestantes, 04 apresentaram IgM reagente (prevalência de 3,36%), o tempo médio entre a solicitação e o resultado da sorologia foi de 2 semanas e de 3 para o início do tratamento. Fatores como a centralização do tratamento na atenção terciária, a falta de integração entre os sistemas de informação da atenção básica e terciária, além de fatores relacionados à gestante, ao profissional e à gestão, comprometem o acompanhamento no pré-natal desse agravo. Conclusões: A prevalência encontrada é mais elevada do que em outras regiões e, para garantir a detecção e tratamento precoce da gestante infectada pelo T. gondii, faz-se necessário a descentralização do tratamento para a atenção básica.

Descritores: Toxoplasmose; Gestante; Pré-natal; Atenção Básica. 

ABSTRACT 

Objective: To evaluate the relationship between the start of prenatal care, diagnosis and start of treatment for toxoplasmosis and to understand the factors that interfere in the process. Method: Retrospective, cross-sectional study with 119 pregnant women followed at a basic health unit in Teresina- Piauí, between 2021 and 2022. The electronic citizen record (PEC) e–SUS AB was used. Simple frequency analyses were performed. Results: Of the total number of pregnant women, 04 had reactive IgM (prevalence of 3.36%), the average time between the request and the serology result was 2 weeks and 3 weeks to start treatment. Factors such as the centralization of treatment in tertiary care, the lack of integration between the primary care (AB) and tertiary care information systems, in addition to factors related to the pregnant woman, the professional and the management, compromise prenatal monitoring. Conclusions: The prevalence found is higher than in other regions and, to ensure early detection and treatment of pregnant women infected with T. gondii, it is necessary to decentralize treatment to primary care. 

Descriptors: Toxoplasmosis; Pregnant women; Prenatal care; Primary care.

INTRODUÇÃO 

A toxoplasmose é uma zoonose provocada pelo protozoário Toxoplasma gondii que possui um ciclo biológico a partir do momento em que o organismo hospedeiro, geralmente um gato, ingere o parasita em sua forma de oocisto esporulado. Nesse contexto, os gatos e os humanos podem se contaminar através da ingestão das formas císticas do protozoário. Por conseguinte, em decorrência da resposta imune do hospedeiro, essa forma se transforma em bradizoíta (forma de resistência) e perdura por longos períodos, a depender de cada espécie (MITSUKA et al., 2010).

Apesar das repercussões sistêmicas, como linfadenopatia bilateral, mialgia, hepatoesplenomegalia e sintomas que mimetizam a gripe, a infecção aguda normalmente é assintomática. Todavia, quando a forma taquizoíta atravessa a barreira placentária, há significativas repercussões para o feto, principalmente se a infecção materna primária ocorrer no primeiro trimestre de gestação (WALCHER, et. al, 2017).

As mulheres infectadas na fase inicial da gestação comumente têm repercussões mais graves no que diz respeito à saúde dos fetos, ao passo que gestantes que são infectadas no último trimestre da gestação são as que mais provavelmente terão probabilidade de transmissão placentária da toxoplasmose, porém com menor repercussão clínica. É lícito destacar que gestantes que tiveram toxoplasmose antes da concepção geralmente não a transmitem para o feto, isto ocorre com frequência nos casos de mulheres imunodeficientes (MANDELBROT, 2020; MUELLER, 2021).

Nesse meandro, a toxoplasmose congênita, quando sintomática, cursa com quadros de prematuridade fetal, miocardite, hepatoesplenomegalia, hidrocefalia, pneumonite, perda visual ou até lesões oculares como glaucoma, estrabismo, nistagmo e até descolamento de retina (WALCHER et al., 2016).

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), no período de 2019 a agosto de 2023, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), 14.308 casos de toxoplasmose em gestantes. No Piauí, neste mesmo período, foram notificados 399 casos e na capital do estado, 205 casos foram confirmados (BRASIL, 2023).

A toxoplasmose na gestação consiste em um importante problema de saúde pública, pois além de se tratar de uma doença infecciosa, no indivíduo imunocompetente não causa sintomas graves, tornando possível o diagnóstico apenas através dos exames sorológicos. Por essa razão, é imprescindível, no atendimento de pré-natal, a investigação dessa infecção. Uma vez estabelecido o diagnóstico precocemente, o tratamento será proposto e iniciando no devido período, diminuindo as chances de complicações no desenvolvimento da criança. Entretanto, se não identificada, poderá causar sérios danos, sendo esta a principal preocupação das políticas de saúde (SILVA, 2023). 

O pré-natal é uma prática indispensável no acompanhamento da gestante e do bebê durante a gestação. Embora muitas vezes seja negligenciada pelos profissionais de saúde e pela mulher no período gravídico, é através dessa conduta que há redução e controle do número de doenças transmissíveis, diagnóstico e tratamento precoce e diminuição da morbimortalidade materna e infantil, sendo assim, o MS preconiza que o acompanhamento pré-natal deve ser iniciado idealmente no primeiro trimestre e mantido de forma regular (BRASIL, 2019). 

Diante do exposto, pode-se inferir que é de fundamental importância garantir a realização das sorologias, em tempo oportuno, durante o pré-natal, com vistas à detecção e tratamento precoce da gestante infectada pelo T. gondii evitando a transmissão fetal e suas complicações para o recém-nascido.

Assim, a presente pesquisa teve como objetivo avaliar a relação entre o início do pré-natal, o diagnóstico e o início do tratamento da toxoplasmose e conhecer os fatores facilitadores e dificultadores que interferem no processo, em uma unidade básica de saúde do município de Teresina-Piauí. 

MÉTODO

Realizou-se um estudo retrospectivo, descritivo e analítico, com recorte transversal, a partir da utilização dos dados sobre os casos de toxoplasmose gestacional acompanhados em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) do município de Teresina- Piauí, pertencente à Coordenadoria Regional de Saúde Centro-Norte, da Fundação Municipal de Saúde, disponíveis no prontuário eletrônico do cidadão (PEC) e–SUS AB. 

A população e amostra foi composta por 119 gestantes acompanhadas por uma das equipes de saúde da família (esF), no período de janeiro de 2021 a dezembro de 2023. Para análise, foram considerados como critérios de inclusão: gestantes com idade superior a 18 anos, cadastradas e em acompanhamento de pré-natal na referida UBS, tendo sido excluídas as gestantes residentes em outros municípios.

A coleta dos dados foi realizada no período de junho a setembro de 2024, pelos próprios pesquisadores, no prontuário eletrônico do cidadão PEC, considerando o registro das informações realizadas pelo médico e enfermeira da eSF responsáveis pelo acompanhamento do pré-natal, nos itens do SOAP (subjetivo, objetivo, avaliação e plano de ação), além da utilização da Ficha de Investigação de Toxoplasmose Gestacional e Congênita do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), por tratar-se de um instrumento padronizado pelo Ministério da Saúde e conter todas as informações para o alcance dos objetivos propostos. As variáveis da pesquisa foram: ano de notificação, escolaridade, idade da gestante, raça/cor, exames solicitados e avaliação (avaliados e/ou não avaliados) classificação final e critério de confirmação. 

Os dados coletados foram organizados e analisados por meio de estatísticas descritivas simples, com auxílio do programa Excel. Os resultados apresentados em tabelas e gráficos são discutidos com base nas publicações científicas relacionadas à temática.

Pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Centro Universitário Facid Wyden – Unifacid Wyden, conforme a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sob o parecer CAAE: 80645724.8.0000.5211.

RESULTADOS

Foram incluídas na pesquisa 119 mulheres em acompanhamento de pré-natal do período de 2021 a 2023, sendo 48 gestantes no ano de 2021, seguido por 36 em 2022 e 35 em 2023. 

No que se refere ao perfil sociodemográfico, a faixa etária das gestantes variou de 15 a 39 anos, sendo que 52,9% (63) tinham entre 20 e 29 anos; 59,6% (71) eram pardas e 34,4 % (41) tinham ensino médio. Vale destacar o número elevado de gestantes categorizadas como amarelas (27,7%) e grau de instrução ignorado (46,2%) (TABELA 1).

Tabela 1 – Distribuição das gestantes em acompanhamento de pré-natal na AB, considerando fatores socioeconômicos, no período de 2021 a 2023. Teresina, PI.

Fonte: FMS/GISAB/e-SUS AB (PEC)

Como demonstrado na Tabela 2, foi verificado um aumento na solicitação e avaliação dos exames de sorologia IgM (imunoglobulina M) e IgG (imunoglobulina G) nos anos estudados, perfazendo um percentual de 86,3% de exames avaliados pelo médico ou enfermeiro da eSF. No entanto, se considerarmos o número de gestantes por ano estudado (48/2021, 36/2022 e 35/2023) e que o MS preconiza a realização de sorologia para toxoplasmose no 1º, 2º e 3º trimestres da gestação, pode-se observar que a solicitação/avaliação de exames laboratoriais foi comprometida em 50% no ano de 2021 e em 68,5% em 2022.

Tabela 2 – Exames sorológicos (IgM e IgG) de gestantes em acompanhamento de pré-natal na AB, no período de 2021 a 2023. Teresina, PI.

Fonte: FMS/GISAB/e-SUS AB (PEC)

Nota: 2021 (48 gestantes); 2022 (36 gestantes) e 2023 (35 gestantes).

Do total de gestantes, 3,36% (04) apresentaram IgM reagente, evidenciando uma possível infecção aguda, recente ou reativada por T. gondii, sendo 02 no ano de 2021 e 01 em 2022 e 2023. Tinham idade entre 18 e 33 anos, da raça/cor parda. Aqui neste estudo, denominadas G1, G2, G3 e G4.

Destacamos ainda que, foi identificado no PEC, o registro da realização do teste para avidez de IgG, para apenas uma destas gestantes, com resultado de 29,5 (baixa avidez) o que indica infecção ativa.  

Na tabela 3 consta o tempo entre a solicitação e resultado da sorologia e o início do tratamento da toxoplasmose para as quatro (3,36%) gestantes que apresentaram IgM reagente. Considerando a semana gestacional, nos anos de 2021 e 2022, a média entre a solicitação e o resultado da sorologia foi de duas semanas e de três para o início do tratamento, mesmo no caso da G3 que iniciou o pré-natal tardiamente.

Para a G4 o intervalo de tempo entre a solicitação e resultado da sorologia, no 1º trimestre foi de 8 semanas e, no 2º de 10 semanas, além de não ter iniciado tratamento.

Tabela 3 – Gestantes com IgM reagente e a relação entre a solicitação e o resultado da sorologia, o diagnóstico e início do tratamento da toxoplasmose, no período de 2021 a 2023, Teresina, PI.

Fonte: FMS/GISAB/e-SUS AB (PEC)

(*) G1/G2/G3/G4 – Gestante/Ano.

(**) IG = Idade Gestacional / PN = Pré-Natal.(***) G4 = 1ª sorologia: IgM NÃO REAGENTE / 2ª sorologia: IgM REAGENTE

DISCUSSÃO

De acordo com os dados da pesquisa, foi possível observar que a faixa etária das gestantes em acompanhamento de pré-natal, bem como das que apresentaram IgM reagente, de maior incidência foi de 20 a 29 anos e raça/cor parda, perfil semelhante ao demonstrado por estudos realizados no Distrito Federal (Piedade et al., 2021) e em Maceió (Santos et al., 2023). Em contraponto, outro estudo realizado em Foz do Iguaçu (Silva et al., 2023) encontrou gestantes com idade maior de 41 anos e cor da pele branca. 

Em virtude do alto percentual de grau de instrução registrado como ignorado (46,2%) ficou impossibilitada a análise da variável. Chaves et al., (2024) destacam que a ausência de dados sobre escolaridade compromete a identificação de padrões de   vulnerabilidade, no estudo realizado pelos autores, o percentual de informação ignorada foi de 30%.

A faixa etária predominante das gestantes diagnosticadas indicam que as mulheres acometidas por toxoplasmose gestacional estão dentro da faixa etária fértil. Resultados semelhantes foram encontrados nos estudos de Melo, Oliveira e Barbosa (2022) e Chaves et al (2024), os autores destacaram a importância das intervenções educativas em saúde, com foco na triagem sorológica em todos os trimestres gestacionais.

A toxoplasmose na gestante apresenta prevalência que pode variar de maneira considerável entre os estados, podendo atingir até 80% em algumas regiões. Essa variação, na prevalência, sofre influência de múltiplos fatores, incluindo métodos diagnósticos, vigilância epidemiológica e nas condições socioeconômicas locais (Da Rosa et al., 2024). No entanto, para identificar gestantes suscetíveis à infecção e diagnosticar precocemente casos de infecção aguda recente, é fundamental a realização do rastreamento sorológico no pré-natal com vistas à prevenção da toxoplasmose congênita e de suas possíveis sequelas (BRASIL, 2019). 

A soroprevalência para IgM anti-T. gondii levantada neste estudo, corrobora os dados de Richtrmoc et al. (2020), no Rio de Janeiro, que verificou uma soroprevalência de 5% e de Silva et al. (2023), em Foz do Iguaçu, que detectou uma soropositividade de anticorpos IgG e IgM de 3,9%. Esses resultados são considerados altos quando comparados a estudos semelhantes realizados no estado do Maranhão (Câmara et al., 2020) e em Alagoas (Santos et al., 2023), que registraram prevalência de 0,9%. 

Considerando que o teste de avidez de IgG pode auxiliar no diagnóstico temporal da infecção materna pelo T. gondii, para determinar a época da infecção pelo toxoplasma na gestante, visto que alta avidez indica infecção ativa e, se o teste de avidez for realizado até a 16 (semana de gestação e apontar elevado percentual de ligação de IgG ao antígeno (alta avidez), é seguro excluir infecção aguda em curso, pode-se inferir que a solicitação do referido teste foi negligenciado no presente estudo  (BRASIL, 2022).

Ainda que a cobertura da solicitação de sorologia para toxoplasmose tenha alcançado 100% das gestantes, com 86,3% dos exames avaliados pelo profissional da esF, em virtude da inexistência e/ou inconsistência no registro das informações, ficou impossibilitada a análise detalhada de indicadores como sororeatividade e susceptibilidade, bem como percentual de gestantes que realizaram as sorologias e resultados por trimestre de gestação, como preconizado pelo MS.

É pertinente destacar que a não avaliação de exames sorológicos de toxoplasmose compromete a efetividade do cuidado pré-natal, contrapondo as diretrizes do MS e expondo gestantes e fetos a riscos evitáveis. Esse dado reforça a necessidade de medidas integradas que garantam a continuidade do cuidado, desde a coleta dos exames até a aplicação de medidas terapêuticas quando necessário, assegurando o direito à saúde de forma plena e equitativa.

Nesta pesquisa, a maior parte das gestantes iniciou PN e realizou sorologia no 1º trimestre, dado corroborado por estudos realizados no Brasil, a exemplo de Silva et al. (2023) onde das 781 gestantes, pouco mais da metade das gestantes iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre e Piedade et al. (2021), identificou que 40,73% das gestantes foram triadas no primeiro trimestre. 

O MS (Brasil, 2018) recomenda, para o pré-natal de qualidade na Atenção Básica, iniciar o acompanhamento até a 12ª semana de gestação e assegurar a solicitação, realização e avaliação em tempo oportuno de testes rápidos e exames de rotina, dentre os quais sorologia para toxoplasmose, sendo assim a situação ocorrida com a G4/2023 decorre de falhas no seu acompanhamento, estando estas relacionadas à própria gestante, aos profissionais que realizam o PN e à gestão do serviço.

No município de Teresina-Piauí, as gestantes que realizam PN na AB, quando apresentam soropositividade para toxoplasmose, são encaminhadas ao PN de Alto Risco em uma maternidade de referência estadual, onde será confirmado diagnóstico e iniciado tratamento. Esse fluxo, por muitas vezes, acarreta atraso no diagnóstico e início do tratamento em tempo hábil, de acordo com o protocolo do MS.

Em situações como a apresentada pela G3/2022, em virtude de ter iniciado o PN com IG de 31s 2d e o resultado da sorologia com 34s 3d, em caráter excepcional, a medicação foi liberada pela Gerência de Vigilância Epidemiológica/FMS para início do tratamento na AB.

Embora as consultas de PN continuem sendo realizadas na AB, de forma compartilhada, problemas como a não integração entre o sistema de informação da AB (eSUS AB/PEC) e da maternidade (atenção terciária) geram muitas dificuldades no tocante à conduta de tratamento e seguimento da gestante, além de inviabilizar a análise de indicadores importantes para garantia de um cuidado qualificado.

Ait Hamou e Laboudi (2021) demonstraram que entre as mulheres pesquisadas, 58,8% desconheciam a existência de toxoplasmose, e 41‚2% tinham conhecimento da doença, e apenas 11,7% relataram obter informações de profissionais de saúde. Kohler A, et al. (2022), no estado de Santa Catarina demonstraram que entre 109 gestantes atendidas em Unidades Básicas de Saúde (UBS), 19,3% desconheciam a toxoplasmose. 

Ait Hamou e Laboudi (2021) Kohler A, et al. (2022) ainda destacaram a fragilidade dos órgãos de saúde e seus profissionais na prevenção primária da toxoplasmose congênita. Para Felix et al (2025), a falta de informações e conhecimentos sobre a forma de transmissão e cuidados em relação à toxoplasmose, proporciona um aumento no número de casos voltados à doença, bem como a adesão às consultas, exames e tratamentos.

A propósito do exposto, Freire et al., (2023) ao investigar o conhecimento de acadêmicos de medicina acerca da toxoplasmose gestacional, identificaram lacunas na formação de médicos que pode comprometer a qualidade do pré-natal e falhas na prevenção da toxoplasmose congênita. Para as autoras, há necessidade não apenas da abordagem dessa temática na formação acadêmica, mas também na prática voltada para assistência pré-natal.

A coleta de dados no PEC foi uma das limitações do estudo, devido à qualidade do preenchimento dos dados pelos profissionais da eSF, tendo sido observado inexistência e inconsistência de informações que impossibilitaram uma análise detalhada no que se refere à relação IG / tempo entre a solicitação / resultado das sorologias / início do tratamento e o que é preconizado pelo MS para uma assistência de PN de qualidade. Aponta-se ainda o fato de que pesquisa ocorreu com apenas uma das eSF do município, dificultando a generalização. Apesar dessas limitações, os resultados desta pesquisa contribuem para o diagnóstico de uma situação que envolve a qualidade da assistência do PN, ajudam a identificar fragilidades e oportunizar à gestão 

CONCLUSÕES

De acordo com os dados, observa-se que a prevalência de IgM reagente para toxoplasmose entre as gestantes é elevada em relação a outras regiões do país. O protocolo para acompanhamento de PN de alto risco em vigência no município está centralizado na atenção terciária, a falta de integração entre os sistemas de informação da atenção básica (AB) e terciária, além de fatores relacionados à gestante, ao profissional e à gestão, comprometem o acompanhamento do pré-natal. 

Sendo assim, para garantir a detecção e tratamento precoce da gestante infectada pelo T. gondii, faz-se necessário revisar o protocolo municipal de acompanhamento de PN de alto risco no que se refere às gestantes com toxoplasmose, discutir a implementação de medidas preventivas, investir na capacitação para os profissionais da estratégia saúde da família (ESF) com vistas à garantia da prestação de um cuidado qualificado, evitando ainda a transmissão vertical e suas complicações para o recém-nascido.

REFERÊNCIAS 

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1Graduando em Medicina – Faculdade de Tecnologia – Cet / Instituição: Endereço: Teresina, Piauí, Brasil E-mail: 99263734andre@gmail.com
2Graduanda em Medicina – Faculdade de Tecnologia – Cet / Instituição: Endereço: Teresina, Piauí, Brasil E-mail: belresendecas@hotmail.com
3Graduando em Medicina – Faculdade de Tecnologia – Cet / Instituição: Endereço: Teresina, Piauí, Brasil E-mail: jhonnathasd03@gmail.com
4Graduanda em Medicina – Faculdade de Tecnologia – Cet / Instituição: Endereço: Teresina, Piauí, Brasil – E-mail: elisabeth.sa@uol.com.br
5Mestre e Doutoranda em Saúde da Família (Renasf)
Instituição: Centro Universitário Santo Agostinho – Endereço: Teresina, Piauí, Brasil / E-mail: saviaadriana65@gmail.com
6Doutora em Enfermagem (Ufpi). Instituição: Universidade Federal do Piauí – Endereço: Teresina, Piauí, Brasil / E-mail: chrystiany@ufpi.edu.br
7Doutora em Engenharia Biomédica (UBrasil) – Instituição: Centro de Ensino Tecnológico (CET), Teresina, Piauí, Brasil – E-mail: liliam.m.a@uol.com.br – ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5833-3092