SINUSITE CRÔNICA E ABORDAGEM TERAPÊUTICA: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

CHRONIC SINUSITIS AND THERAPEUTIC APPROACH: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102503040920


Daiane Leite de Almeida¹
Érica Maria dos Santos¹
Amanda Stefanny Corrêa Oliveira¹
Sofia de Melo Braga¹
Livian de Souza Brito¹


RESUMO

A sinusite crônica (SC), também denominada como rinossinusite crônica, é caracterizada pelo processo inflamatório persistente dos seios paranasais que permanece por um período maior que 12 semanas. Refere-se a uma das patologias mais comuns das vias aéreas superiores, acarretando custos elevados para o sistema de saúde e para a sociedade. Considerando as principais manifestações clínicas da SC, são relatados congestão nasal, rinorreia, cefaleia, dor ou pressão facial, fadiga e hiposmia ou anosmia. Assim, verifica-se a ocorrência de impactos significativos na qualidade de vida dos pacientes acometidos pela patologia. Logo, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura acerca do manejo da SC, descrevendo abordagens farmacológicas e cirúrgicas. Trata-se de uma revisão sistemática de literatura de natureza descritiva, observacional e retrospectiva, sendo realizada através de pesquisas nos indexadores SciELO, PubMed e LILACS a partir dos termos-chave “sinusite crônica”, “tratamento”, “cirurgia endoscópica nasossinusal” e “tratamento medicamentoso”. Foram encontradas um total de 479 referências, que foram selecionadas a partir da ferramenta metodológica PRISMA, resultando na inclusão de 13 estudos na presente revisão. Em síntese, as principais condutas no manejo encontradas para a SC são o uso de corticoesteroides intranasais e sistêmicos, antibióticos em casos indicados e a cirurgia endoscópica nasossinusal. Limitações significativas quanto a aplicação do questionário SNOT-22 foram encontradas, identificando lacunas na especificade do teste para a recomendação do manejo cirúrgico.

Palavras-chave: Sinusite crônica. Tratamento. Corticoesteroides. Cirurgia.

ABSTRACT

Chronic sinusitis (CS), also known as chronic rhinosinusitis, is characterized by a persistent inflammatory process of the paranasal sinuses that persists for a period longer than 12 weeks. It is one of the most common pathologies of the upper airways, resulting in high costs for the health system and society. Considering the main clinical manifestations of CS, nasal congestion, rhinorrhea, headache, facial pain or pressure, fatigue, and hyposmia or anosmia are reported. Thus, there are significant impacts on the quality of life of patients affected by the pathology. Therefore, this study aims to conduct a literature review on the management of CS, describing pharmacological and surgical approaches. This is a systematic literature review of a descriptive, observational and retrospective nature, carried out through searches in the SciELO, PubMed and LILACS indexes using the key terms “chronic sinusitis”, “treatment”, “endoscopic sinus surgery” and “drug treatment”. A total of 479 references were found, which were selected using the PRISMA methodological tool, resulting in the inclusion of 13 studies in this review. In summary, the main management procedures found for CS are the use of intranasal and systemic corticosteroids, antibiotics in indicated cases and endoscopic sinus surgery. Significant limitations regarding the application of the SNOT-22 questionnaire were found, identifying gaps in the specificity of the test for recommending surgical management.

Keywords: Chronic sinusitis. Treatment. Corticosteroids. Surgery.

  1. INTRODUÇÃO

A sinusite crônica (SC), também denominada como rinossinusite crônica, é caracterizada pelo processo inflamatório persistente dos seios paranasais que permanece por um período maior que 12 semanas, independente da instituição de tratamento adequado. A SC pode ser classificada em duas categorias: rinossinute crônica com polipose nasossinusal e sem polipose, apresentando características clínicas e manejo terapêuticos distintos. Ademais, refere-se a uma das patologias mais comuns das vias aéreas superiores, acarretando custos elevados para o sistema de saúde e para a sociedade (Matos et al., 2024).

A condição apresenta etiologia multifatorial, envolvendo fatores anatômicos, ambientais, infecciosos, genéticos e alérgicos. Entre os fatores predisponentes relacionados ao quadro, encontram-se a alteração do transporte mucociliar, em especial as discinesias ciliares primárias e secundárias; asma, doença do refluxo gastroesofágico, imunodeficiência congênita ou adquirida e sensibilidade ao ácido acetilsalicílico (AAS). As principais alterações anatômicas que favorecem o desenvolvimento da doença são as obstruções nasais devido a desvios de septo, presença de pólipos nasais e hipertrofia de cornetos, comprometendo a drenagem dos seios da face e gerando o acúmulo de secreção. Além disso, alterações do sistema imunológico local propiciam a instalação do quadro, sendo associadas a infecções bacterianas, fúngicas e alergias respiratórias (Cunha et al., 2023).

Conforme o exposto por Marques et al. (2022), a SC apresenta prevalência importante em cenário brasileiro, sendo responsável por 12.897 internações entre os anos de 2016 a 2020, com maior incidência na faixa etária de 50 a 59 anos de idade. Desse modo, estima-se que 20% da população brasileira apresenta rinossinusite crônica, ocorrendo especialmente em indivíduos que estão expostos a condições ambientais desfavoráveis, como a poluição do ar e climas frios e secos. Logo, confirma-se que a patologia está inserida nos meios rural e urbano, correlacionando sua incidência com o contato a alérgenos ambientais.

Considerando as principais manifestações clínicas da SC, são relatados congestão nasal, rinorreia, cefaleia, dor ou pressão facial, fadiga e hiposmia ou anosmia, que são decorrentes da obstrução nasal e do processo inflamatório. A gravidade dos sintomas é variável entre os pacientes, mas o caráter crônico e recorrente são informações relevantes na diferenciação do quadro com a sinusite aguda. Posto isso, verifica-se a ocorrência de impactos significativos na qualidade de vida dos pacientes acometidos pela patologia, interferindo na qualidade do sono, causando dificuldades na respiração, desconforto facial e aumento da irritabilidade, além de limitações de atividades cotidianas em casos de sintomas com alta intensidade. Outrossim, na inexistência de manejo adequado, a condição aumenta o risco de complicações, como exemplo exarcebações da asma e infecções respiratórias (Pilan, 2014). A partir das informações expostas, o presente trabalho tem como objetivo realizar uma revisão de literatura acerca do manejo da SC, descrevendo abordagens farmacológicas e cirúrgicas.

  • REFERENCIAL TEÓRICO
  • DEFINIÇÃO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

Define-se a SC pela combinação da sintomatologia, achados endoscópicos e/ou alterações da mucosa do óstio-meatal ou dos seios paranasais, apresentando persistência do quadro por um período maior que 12 semanas. Assim, é necessário a presença de dois ou mais sintomas, que incluem rinorreia, obstrução nasal, alterações da percepção do olfato e dor ou pressão facial, associando-se a detecção de um ou mais achados endoscópicos, como edema obstrutivo, pólipo nasossinusal e secreção mucopurulenta. A visualização de alterações na mucosa pela tomografia computadorizada não é um critério obrigatório para a definição do quadro, desde que os outros critérios possam ser confirmados (Mello Júnior, 2008).

A partir da inflamação crônica dos seios paranasais pela interação com fatores imunológicos ou alérgicos, desenvolve-se a SC. Dessa forma, a resposta inflamatória pode permanecer devido a colonização da mucosa e seios da face por microorganismos, em especial bactérias e vírus, perpetuando a sintomatologia e a obstrução dos óstios dos seios, afetando a drenagem das secreções e gerando um ciclo de proliferação microbiana que sustenta o processo inflamatório. Demais processos envolvidos no quadro incluem a disfunção ciliar e anormalidades anatômicas, que predispõem à obstrução crônica e a suscetibilidade a infecções (Santos et al., 2024; Pilan, 2014).

Em outra análise, classifica-se a SC nas formas com e sem pólipos nasossinusais. Os pólipos são projeções benignas da mucosa paranasal que resultam no remodelamento tecidual. Assim, pacientes que apresentam pólipos tendem a ter um predomínio dos sintomas relacionados a obstrução, como alterações do olfato e congestão persistente, além da associação frequente com demais situações, incluindo asma e sensibilidade ao AAS. Em contrapartida, a rinossinusite crônica com ausência de pólipos está comumente correlacionada a infecção bacteriana. Os sintomas com maior prevalência nessa forma incluem dor ou pressão facial, rinorreia e congestão nasal, com menor impacto na percepção do olfato (Vanegas et al., 2023).

  • DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO

De maneira geral, o diagnóstico da rinossinusite crônica é estabelecido a partir da história clínica do paciente, considerando o período e as características dos sintomas. Na realização do exame físico, geralmente através da rinoscopia, observa-se o interior da cavidade nasal na procura de sinais inflamatórios, pólipos e secreções. Entretanto, a rinoscopia não favorece a visualização minuciosa do meato médio e das regiões nasais superiores e posteriores. Nesse cenário, a endoscopia da cavidade nasal pode ser utilizada, sendo um exame mandatório no manejo de pacientes com sintomas persistentes. Exames de imagem podem ser utilizados para complementar o diagnóstico, mas não são de caráter obrigatório, que incluem a tomografia de crânio e radiografia dos seios da face (De Carvalho et al., 2024).

O tratamento da SC pode ser medicamentoso ou cirúrgico, em que o último visa resolução a longo prazo. Em relação ao tratamento medicamentoso, seu principal objetivo é o controle sintomático e redução da inflamação. Para isso, obtêm-se os corticoesteroides nasais como terapêutica de primeira linha. Em casos de maior gravidade ou na presença de pólipos nasais, os corticoesteroides podem ser prescritos por um período maior. A utilização de antibióticos é restrita na presença de infecção bacteriana, que pode ser presumida em casos de persistência dos sintomas por mais de 10 dias, febre > 39°C associada aos sintomas típicos de SC com duração mínima de três dias no início do quadro, e piora clínica. Demais tratamentos incluem lavagem nasal e anti-histamínicos, o último sendo utilizado para tratar alergias subjacentes (De Carvalho et al., 2024; Pássaro et al., 2022).

Por outro lado, a intervenção cirúrgica é indicada para pacientes que não respondem de maneira adequada ao tratamento medicamentoso, ou na presença de alterações anatômicas significativas, podendo ser realizado a cirurgia endoscópica nasossinusal, que tem o intuito de melhorar a drenagem dos seios da face e remover pólipos ou tecido inflamado. No entanto, apesar da realização da cirurgia, alguns pacientes podem necessitar de manejo contínuo para prevenir recidivas, que incluem a manutenção com corticoesteroides nasais e a lavagem nasal. Além disso, objetivando o sucesso a longo prazo, é indispensável a identificação de fatores desencadeantes, como alergias e asma (Vasco; Morais; Avelino, 2020).

  • METODOLOGIA

3.1 Tipo de estudo e fonte de dados

Trata-se de uma revisão sistemática de literatura de natureza descritiva, observacional e retrospectiva, que apresenta como objetivo a investigação e sintetização de evidências disponíveis acerca dos diferentes manejos para a sinusite crônica.  Para o delineamento do estudo, foram realizadas pesquisas nos indexadores Scientific Electronic Library Online (SciELO), U.S. National Library of Medicine (PubMed) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), a partir dos termos-chave “sinusite crônica”, “tratamento”, “cirurgia endoscópica nasossinusal” e “tratamento medicamentoso”, sendo combinados com a utilização dos operadores booleanos “and” e “or” de maneira associada e isolada.

3.2 Critérios de seleção e amostra

Foram adotados critérios de seleção para os estudos encontrados, que foram dispostos em critérios de inclusão e exclusão. Os critérios de inclusão abordam referências disponíveis nos idiomas inglês, português e espanhol; que foram publicadas no intervalo temporal de 2005 a 2024 e que estão disponibilizadas de forma gratuita. Em contrapartida, os critérios de exclusão englobam referências duplicadas, incompletas e relatos de caso. Posto isso, a amostra é constituída por trabalhos publicados em periódicos revisados por pares e pertencentes ao período de publicação definido, desde que estejam alinhados ao tema proposto.

Para a condução da pesquisa e seleção das referências, utilizou-se o método Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA), promovendo a qualidade da presente revisão sistemática. Logo, o fluxograma PRISMA foi empregado com as etapas de identificação, triagem e inclusão das referências, permitindo a organização e disposição minuciosa dos processos.

3.3 Análise dos estudos

Os estudos incluídos na etapa final do processo de seleção obtiveram suas principais informações dispostas em tabela, que permite a categorização, organização e visualização de seus dados. Dessa forma, foram englobadas as seguintes informações na tabulação das referências: autor(es), ano e país de publicação, título e resultados principais. Assim, considerou-se no processo de análise as contribuições mais relevantes de cada referência, bem como suas divergências e lacunas encontradas.

3.4 Considerações éticas

Por fim, confirma-se que a pesquisa está isentada do processo de avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), visto que a mesma foi realizada exclusivamente pela análise de dados secundários, ou seja, publicados em estudos anteriores, que estão amplamente disponíveis para a sociedade acadêmico-científica.

  • RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, a pesquisa dos termos-chave nos indexadores selecionados encontrou um total de 479 referências, que foram selecionadas a partir da ferramenta metodológica PRISMA, resultando na inclusão de 13 estudos na presente revisão. Dessa maneira, a figura 1 ilustra o detalhamento do processo de seleção, que foi realizado a partir dos critérios de inclusão e exclusão. A etapa da triagem foi composta pela análise de título, resumo e íntegra das referências, permitindo uma averiguação detalhada.

Figura 1. Seleção dos estudos a partir da ferramenta PRISMA.

Fonte: própria (2025).

Após o processo de seleção, as principais informações das referências foram dispostas na tabela 1, que permite sua categorização. A disposição dos principais resultados encontrados favorece a exposição individual de conclusões e controvérsias identificadas. Ademais, verifica-se que a maioria dos estudos selecionados foram publicados no Brasil, principalmente a partir do ano de 2020.

Tabela 1. Categorização dos estudos.

Autor(es)TítuloAno e país de publicaçãoPrincipais resultados
Marques et al.  Epidemiologia da Sinusite Crônica no Brasil, de 2016 a 2020Brasil, 2022Observou-se crescimento dos casos de SC entre os anos de 2016 a 2020, identificando a faixa etária de 50-59 anos como a mais acometida.
De Carvalho et al.Diagnóstico e tratamento da sinusite: uma revisão de literaturaBrasil, 2024Enfatiza a eficácia do tratamento medicamentoso individualizado, podendo ser composto por inalação, vasoconstritores tópicos ou sistêmicos, corticoides nasais e antibióticos, o último na presença de infecção bacteriana.
Cunha et al.Distúrbios do olfato, uma revisão narrativa do diagnóstico ao tratamentoBrasil, 2023Destaca os impactos socioeconômicos causados pelos ditúrbios do olfato, em especial a rinossinusite crônica, enfatizando a importância da adoção de terapias medicamentosas e alternativas.
Matos et al.Sinusite     crônica:     Um     enfoque     nas internações   e   seus   impactos   na   saúde públicaBrasil, 2024Relata o aumento do número de internações por SC, especialmente nas regiões Sudeste, Nordeste e Sul; destacando a necessidade da implementação de políticas públicas eficazes para o controle de fatores desencadeantes.
Mello JúniorDiretrizes brasileiras de rinossinusitesBrasil, 2008Descreve os esquemas terapêuticos propostos para a rinossinusite crônica, os quais variam de acordo com a gravidade e recorrência dos sintomas. Os métodos mais descritos no tratamento foram lavagem nasal, corticoesteroides tópicos, macrolídeos e cirurgia, se indicado.
Pássaro et al.Dupilumabe no tratamento de rinossinusite crônica com pólipo nasal em adolescenteBrasil, 2022Constata que a utilização do anticorpo monoclonal dupilumabe em adultos para o tratamento de SC reduz a inflamação crônica, diminui a recorrência de novos pólipos e melhora a qualidade de vida dos pacientes.
PilanPrevalência da rinossinusite crônica através de inquéritos domiciliares na cidade de São PauloBrasil, 2014Verifica que a SC está presente em 5,51% da população maior de 12 anos de São Paulo, obtendo associação com asma, rinite e níveis socioeconômicos mais baixos.
Vanegas et al.Diretriz de prática clínica para tratamento da rinossinusite crônica: versão completaColombia, 2023Aponta a endoscopia nasal como um exame complementar útil na avaliação clínica de um paciente com rinossinusite crônica, que pode ser associado a avaliação radiológica e a biomarcadores inflamatórios.
Santos et al.Impacto do uso de corticosteroides intranasais no manejo de rinossinusite crônicaBrasil, 2024Retrata a eficácia dos corticoesteroides nasais no manejo da SC, além de sua aplicabilidade no pré-operatório de pacientes com a condição, reduzindo a inflamação e facilitando o planejamento cirúrgico.
Vasco; Morais; AvelinoRevisão sistemática da literatura no tratamento cirúrgico da rinossinusite crônica na infância: qual a melhor abordagem?Brasil, 2020Define a conduta cirúrgica para o tratamento de SC como uma opção após a falha do tratamento clínico, apresentando melhores resultados quando associada a adenoidectomia.
Branco et al.Avaliação da qualidade de vida pós-cirúrgica a curto e longo prazo dos doentes com Rinossinusite CrônicaPortugal, 2022Expõe que o tratamento cirúrgico não é definitivo para a SC, mas que contribui para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Além disso, relata que a realização do SNOT-22 no pré-operatório ajuda a prever os resultados a serem obtidos pela cirurgia.
Guttemberg et al.Avaliação da qualidade do sono em pacientes com rinossinusite crônica submetidos à cirurgia endoscópica nasossinusal: uma meta-análiseBrasil, 2019Conclui que a cirurgia endoscópica nasal melhora a qualidade de vida dos pacientes com SC, em especial a qualidade do sono. Outrossim, aponta que o SNOT-22 na análise pré-operatória é um instrumento eficiente para conjecturar o impacto da cirurgia na qualidade do sono.
Marambaia et al.Podemos usar o questionário SNOT-22 como preditor para a indicação de tratamento cirúrgico na rinossinusite crônica?Brasil, 2017Afirma a impossibilidade do SNOT-22 em prever o desfecho cirúrgico. Entretanto, demonstra que caso o formulário seja aplicado por um longo período de análise, sua eficiência como ferramenta de tomada de decisão pode ser estabelecida.

Fonte: elaborada pelos próprios autores (2025).

  • Tratamento clínico

Como principal medida do manejo clínico da rinossinusite crônica, obtêm-se a utilização de corticoesteroides tópicos e/ou sistêmicos, que apresentam a capacidade de diminuir os infiltrados eosinofílicos presentes na via aérea, prevenindo a perpetuação da condição inflamatória e reduzindo a atividade de citocinas quimiotáticas. Além disso, verifica-se que os corticoesteroides tópicos agem nas células epiteliais dos pólipos nasais e na mucosa nasal, comprovando sua eficácia na redução do diâmetro dos pólipos, assim como sua sintomatologia associada. Portanto, a utilização desses medicamentos não se restringem ao controle da sintomatologia, mas podem ser empregados como medidas pré-operatórias, facilitando o procedimento cirúrgico (Mello Júnior, 2008; Santos et al., 2024).

Entre demais medidas no manejo da condição, observa-se a aplicabilidade de descongestionantes e anti-histamínicos. Os descongestionantes nasais apresentam efeitos apenas na concha inferior, fato que comprova sua ineficiência sobre a polipose nasal. Por outro lado, os anti-histamínicos podem ser utilizados em pacientes com doenças alérgicas correlacionadas ao quadro e na presença de pólipos. Entretando, efeitos da medicação na redução do tamanho dos pólipos não foram evidenciados, limitando sua eficácia na melhora sintomática. Ademais, a lavagem nasal proveniente da irrigação demonstra benefícios no alívio dos sintomas e na melhora dos achados na endoscopia nasal, visto que auxilia o transporte mucociliar. Para essa finalidade, prefere-se a utilização de substâncias hipertônicas na respectiva prática (Pássaro et al., 2022; Mello Júnior, 2008).

Em relação a antibioticoterapia, limita-se sua utilização para quadros bacterianos. Apesar da dificuldade em realizar culturas microbianas para confirmar a suspeita etiológica, pois necessita de punção dos seios paranasais, a rinossinusite bacteriana pode ser presumida em algumas condições, que incluem: quadros com duração igual ou superior a 10 dias, associados a febre alta no início do quadro e que apresentam piora clínica com a evolução da doença. Nesses casos, o esquema terapêutico preconizado em primeira linha é a administração de amoxicilina-clavulanato 875mg por via oral. Demais alternativas incluem doxiciclina, levofloxacina e clindamicina. Caso não obtenha resposta com a antibioticoterapia, a conduta cirúrgica deve ser indicada para auxiliar a drenagem sinusal e, consequentemente, a respiração. Entretanto, considerando que a maioria dos casos sejam provenientes condições virais, o manejo clínico deve objetivar a minimização da sintomatologia, não sendo possível abreviar o período da doença (De Carvalho et al., 2024).

  • Manejo cirúrgico

Os objetivos principais do tratamento da SC são melhorar os sintomas nasossinusais, que causam impactos significativos na qualidade de vida dos pacientes; reduzir a recorrência do quadro e o número de infecções. Nesse cenário, realiza-se o tratamento clínico em longo prazo, que apresenta eficácia mas não está isento de efeitos colaterais. Logo, a cirurgia é indicada quando não houve melhora dos sintomas após três meses de tratamento clínico instituído, caracterizando falha terapêutica. Outras indicações para a cirurgia incluem queixa persistente de obstrução nasal, polipose maciça e secreção nasal demasiada, podendo estar associada a alterações da percepção do olfato (Mello Júnior, 2008).

De acordo com Marambaia et al. (2017), o teste de desfecho nasossinusal 22 (SNOT-22) é um questionário que apresenta o intuito de analisar os sintomas e a qualidade de vida associados a rinossinusite crônica, sendo composto por 22 perguntas. Assim, o SNOT-22 pode ser considerado como uma ferramenta para a indicação do manejo cirúrgico, devendo ser integrado na prática clínica. Entretanto, a designação da conduta cirúrgica não deve ser limitada apenas pelos resultados encontrados a partir do SNOT-22, devendo ser combinada com fatores subjetivos que incluem a motivação, individualidade do paciente e expectativas em relação ao procedimento.

A partir da indicação da cirurgia, é realizado o preparo pré-operatório com o uso de corticoesteroides sistêmicos, visando facilitar o procedimento e diminuir o diâmetro dos pólipos. A antibioticoterapia pré-operatória é utilizada apenas na vigência de infecção bacteriana. Diversas técnicas cirúrgicas podem ser realizadas, mas a cirurgia endoscópica nasossinusal é a mais comum. Trata-se de um método minimamente invasivo, podendo também ser utilizado para a remoção de pólipos. Demais procedimentos podem ser realizados, sendo que suas indicações variam de acordo com a gravidade e aspectos anatômicos do paciente. Entre essas intervenções, encontram-se a sinusectomia maxilar, esfenoidotomia, etmoidectomia e balonoplastia. Majoritariamente, a associação da cirurgia com a adenoidectomia aumenta a eficácia do tratamento (Guttemberg et al., 2019).

Branco et al. (2022) relatam as repercussões do SNOT-22 no pós-operatório, em que pacientes com maiores pontuações no questionário aplicado ainda no pré-operatório obtiveram melhores resultados clínicos a curto e longo prazo. Assim, observa-se melhoras das queixas dos pacientes após a cirurgia, refletindo diretamente na qualidade de vida. Apesar do procedimento cirúrgico ser realizado com fins de melhora a longo prazo, o manejo clínico através da lavagem nasal e corticoesteroides tópicos após a cirurgia são necessários, permitindo a garantia de sucesso a longo prazo.

  • CONCLUSÃO

Em síntese, a presente revisão permitiu a exploração dos principais aspectos do manejo terapêutico da rinossinusite crônica, considerando o tratamento farmacológico e intervenções cirúrgicas, bem como suas respectivas indicações. Posto isso, conclui-se que o tratamento individualizado a partir das causas subjacentes e das particularidades clínicas é essencial para o sucesso terapêutico. Entre as intervenções mais descritas no trabalho, encontram-se o uso de corticoesteroides intranasais e sistêmicos, antibióticos em casos indicados e a cirurgia endoscópica nasossinusal.

Entretanto, no decorrer do desenvolvimento do estudo, encontrou-se limitações significativas quanto a aplicação do questionário SNOT-22, identificando lacunas na especificidade do teste para a recomendação do manejo cirúrgico. Para trabalhos futuros, é recomendado que seja abordado as controvérsias presentes na literatura quanto ao SNOT-22, além da investigação acerca de marcadores biológicos que auxiliem na escolha do tratamento, permitindo uma abordagem individualizada.

Ademais, o trabalho proporciona contribuições para a comunidade acadêmico-científica ao organizar e sintetizar conhecimentos sobre as opções terapêuticas para a SC, integrando achados recentes e revisando diretrizes terapêuticas, contribuindo para o fornecimento de uma base sólida de informações. Em suma, espera-se que os conhecimentos discutidos nesse trabalho auxiliem na formação de pesquisas mais aprofundadas, contribuindo para a prática clínica na otorrinolaringologia.

REFERÊNCIAS

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