DIALECTS AND EXPRESSIONS OF AMAPÁ: AN ANALYSIS OF VIDEOS ON THE TIK TOK PLATFORM
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202502281357
Aline Macedo de Carvalho1; Kelliane Ferreira Brito1; Jeline Chargas Silva1; Orientador: Tiêgo Ramon dos Santos Alencar2
Resumo
Este artigo analisa a presença dos dialetos e expressões regionais do Amapá em vídeos publicados na plataforma TikTok, discutindo sua relevância na preservação e ressignificação da identidade cultural do estado. O estudo investiga como essas manifestações linguísticas contribuem para a valorização da cultura local e como são influenciadas pelo ambiente digital. Adota-se como referencial teórico a dialetologia, as interações entre linguagem e novas tecnologias, bem como estudos sobre cultura digital e identidade. A metodologia inclui a seleção, transcrição e análise interpretativa de expressões populares identificadas em vídeos da plataforma, a fim de compreender seus significados e impactos sociais. Os resultados indicam que o TikTok atua como um espaço dinâmico para a difusão dos discursos regionais, promovendo tanto a valorização da cultura amapaense quanto a adaptação linguística em contextos externos.
Palavras-chave: Dialetos; Amapá; TikTok; Cultura Digital; Identidade Linguística.
1 INTRODUÇÃO
A língua portuguesa, apesar de ser o idioma oficial do Brasil, apresenta uma grande diversidade de variações regionais. Essas diferenças decorrem de processos históricos, como a colonização, a migração internacional e a influência de povos indígenas e africanos. No Amapá, a formação linguística local reflete essa complexidade, sendo marcada por uma mistura de sotaques e expressões típicas, que evidenciam a identidade cultural do estado (CUNHA, 2018).
Com o avanço das redes sociais, essas variações linguísticas ganham novos espaços de disseminação. O TikTok, uma das plataformas mais populares da atualidade, tornou-se um ambiente propício para a divulgação de expressões regionais, permitindo que os usuários compartilhem conteúdos curtos e sonoros (RECUERO, 2020). Essa visibilidade impulsionou o reconhecimento da identidade local, ao mesmo tempo que introduz novas dinâmicas de apropriação e ressignificação das expressões.
A nossa sociedade atual tem uma nova identidade, a partir das influências de plataformas on-line, esse novo cenário oferece oportunidades e desafios, os vídeos curtos de TIK TOK vem batendo recordes de downloads em todo mundo, O aplicativo também mostrou sinais, principalmente em 2021, de se tornar uma febre mundial, quando ocupou o patamar da 4° maior rede social do mundo em números de usuários e o 3° aplicativo mais baixado na App Store e Google Play Store.
De acordo com informações do Portal DNA TV (2022), dessa maneira se tornou uma influência na cultura digital, dos mais diversos conteúdos, estilos e linguagem, e vale destacar a diversidade linguística nesses vídeos, e daí a ideia de exploramos os dialetos e compreender como esses se destacam nesses tipos de produções, tão presente nessa nova fase de uma sociedade cada vez mais conectada e globalizada.
Diante desse cenário, este artigo busca compreender como os dialetos e expressões regionais do Amapá são utilizados no TikTok, analisando seu papel na representação cultural do estado. A pesquisa também investiga se essas formas de manifestações linguísticas são preservadas ou modificadas dentro do ambiente digital. Estudar os dialetos regionais do Amapá para termos uma ideia melhor do nosso patrimônio cultural, para assim promovermos a inclusão social através do desenvolvimento de práticas pedagógicas, que respeitem e valorizem nossa forma de se expressar, muitas vezes discriminada, por outros falares visto como maneira culta do falar.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A dialetologia é uma área da linguística que estuda as variações dentro de uma mesma língua, considerando fatores geográficos, históricos e sociais (CARDOSO, 2010). No contexto amapaense, as variações linguísticas são resultado da interação entre diferentes grupos migratórios e da influência de comunidades tradicionais, como indígenas e ribeirinhos (SILVA & FREITAS, 2021). De acordo com Sousa e Lima (2019):
A diversidade linguística dá-se em razão de diferenças geográficas, de classes sociais, de níveis de escolaridade, de categorias como profissão, idade, sexo, entre outras. Além disso, a diversidade da língua expressa-se na própria continuação histórica, de forma que as mudanças temporais sejam parte da história das línguas. (SOUSA & LIMA, 2019).
Os dialetos regionais são manifestações linguísticas que refletem a diversidade cultural de uma nação. No contexto brasileiro, o estudo dessas variações é essencial para compreender a riqueza e a multiplicidade da língua portuguesa no país. Labov destaca a importância dos dialetos como símbolos de identidade. Eles não apenas diferenciam as regiões linguísticas, mas também desempenham um papel crucial na forma de como os indivíduos se vêem e interagem dentro de suas comunidades. “Os dialetos regionais são marcadores importantes da identidade cultural e social, influenciando como as pessoas se percebem e se relacionam com os outros” (LABOV, 1972).
O Amapá, por exemplo, apresenta um conjunto próprio de dialetos que surgiram da interação entre diversas culturas e influências históricas. Conforme destacado por Antônio Houaiss, a dialetação no Brasil se deu por meio de influxos indígenas e diferenciações entre a fala do colonizador português e a dos nativos. Para Souza (2021), a variação linguística é compreendida como:
Um fenômeno natural que incide na diversificação dos sistemas de uma língua, decorrente das mudanças dos seus elementos integrantes, como vocabulário, pronúncia, morfologia, sintaxe, léxico. Tal diversificação é decorrente do fato de uma língua não ser única e abranger vários campos de diferenciação, dentre eles, histórico, geográfico, regional, etário, sociocultural, ocupacional.(SOUZA, p. 11,2021).
Trudgill enfatiza que a língua é um reflexo direto das mudanças e continuidade dentro de uma sociedade. Os estudos das variações linguísticas, por tanto, são essenciais para compreender a evolução cultural e social de qualquer grupo.“Estudar as variações linguísticas é crucial para entender a dinâmica cultural e social de uma comunidade, pois a língua é um espelho das mudanças e continuidades históricas’’ (TRUDGILL, 1983).
As redes sociais desempenham um papel essencial na propagação e valorização da diversidade linguística. O TikTok tem se destacado como um dos principais espaços de divulgação de conteúdos culturais, permitindo que moradores regionais compartilhem suas expressões e sotaques para um público global (TOLDO & CATOTO, 2021). Essa exposição digital pode fortalecer a identidade cultural, mas também levar à adaptação e ressignificação de expressões.
Segundo Crystal (2006) “As mídias sociais transformaram a maneira como comunicamos e compartilhamos expressões culturais, criando novas formas de dialetos’’. A autora aponta que as mídias sociais têm um papel significativo na forma de como os dialetos e expressões culturais são compartilhados e preservados. As plataformas digitais possibilitam novas formas de comunicação que podem manter vivas as tradições linguísticas de diferentes comunidades.
Os consumidores usam cada vez mais as mídias sociais, principalmente para coletar informações nas quais basear suas decisões. Assim, surgiu a figura do influenciador, ou seja, usuários proeminentes de redes sociais que outros usuários consideram modelos. Esses outros usuários seguem os conselhos dos influenciadores e confiam em suas opiniões sobre tópicos como moda, estilo de vida, fotografia e viagens (LEITE, 2018).
Wolfram e Schilling, reforçam a ideia de que os dialetos vão além da linguística, sendo também emblemas da identidade pessoal e regional. Eles são representações simbólicas que carregam significados profundos sobre quem somos e de onde viemos, “Os dialetos não são apenas variações linguísticas, mas também símbolos poderosos de identidade regional e pessoal” (WOLFRAM & SCHILLING – Estes, 1998).
“É importante lembrar que todas as variedades de uma língua são legítimas e refletem a identidade cultural de seus falantes. O preconceito linguístico é um fenômeno que valoriza essas variedades, impondo o português padrão como única forma correta de expressão” (BAGNO,2007, p.22). O autor enfatiza a importância de valorizar todas as formas de expressões linguísticas como legítimas e dignas de estudos, reconhecendo que cada variedade traz consigo uma identidade cultural única e uma visão do mundo distinta.
Monteiro (2009) destaca que:
“A língua também é variável num mesmo indivíduo. Para Halliday (1965, p.87), essa variação interna que cada falante possui é refletida nos “registros de fala” de cada um. Ou seja, cada pessoa dentro de uma comunidade lingüística, consciente e, mesmo, inconscientemente, muda seu falar de acordo com a situação em que se encontra, a fim de melhor adequar-se ao contexto social. Por isso, é possível identificar num mesmo indivíduo diferentes formas de realização de um fonema, por exemplo, mostrando que não só fatores lingüísticos influenciam na variação, mas também extralingüísticos.” (MONTEIRO, 2009, p. 1).
3 METODOLOGIA
Este estudo trata-se de uma pesquisa documental de cunho qualitativo, a qual objetiva descrever e discutir o desenvolvimento ou o estado da arte de um determinado assunto, sob o ponto de vista teórico ou contextual. Segundo Gil (2002, p. 45), “a pesquisa documental vale-se de materiais que não recebem ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos de pesquisa”. Tal pesquisa traz consigo “fontes muito mais diversificadas e dispensáveis” (GIL, 2002, p. 46).
Para atingir os objetivos de pesquisa, realizou-se uma pesquisa de abordagem qualitativa, a qual, pode ser desenvolvida a partir de diversas estratégias, possui como premissa o recolhimento de dados detalhados e pormenorizados que descrevem de forma minuciosa as conversas, as pessoas e os lugares (Bogdan; Biklen, 1994). A escolha dessa abordagem se deu em razão do caráter da presente pesquisa, a fim de possibilitar o alcance da problemática estabelecida, por meio da coleta e análise minuciosa de dados.
Segundo esses critérios, a pesquisa encaixa-se também em uma pesquisa descritiva e explicativa, descritiva porque pretende descrever os diferentes dialetos e expressões do Amapá, e explicativa porque busca explicar as razões das variações linguísticas através da região, meio social e cultural.
A pesquisa foi conduzida por meio de uma análise qualitativa de vídeos publicados no TikTok, buscando identificar a presença de dialetos e expressões regionais do Amapá. O processo metodológico envolveu:
– Seleção de vídeos: Foram escolhidos conteúdos que apresentassem expressões linguísticas típicas do Amapá, priorizando aqueles com alta interação do público.
– Transcrição e categorização: As expressões foram transcritas e organizadas conforme sua origem, contexto de uso e significado.
– Análise interpretativa: Investigou-se o impacto dessas expressões na identidade cultural local e sua recepção por usuários externos.
4 Ferramentas e Técnicas de Análise
Para esta pesquisa sobre “Estudos dos dialetos e expressões do Amapá, por análises de vídeos TikTok”, para isso utilizamos as seguintes ferramentas e técnicas:
– Análises de vídeos TikTok: Pretendemos selecionar alguns vídeos com o intuito de identificar e extrair trechos relevantes que mostram dialetos e expressões regionais do Amapá.
– Transcrição de vídeos: Pretendemos transcrever alguns diálogos desses vídeos e analisar detalhadamente seu uso e significado.
– Análise linguística: Utilizaremos técnicas de análise linguísticas para identificar padrões, vocabulário, variações e características dos dialetos presentes nos vídeos.
– Análise lexicológica: Analisaremos a etimologia, semântica e polissemia dos dialetos e expressões do Amapá.
– Análise visual: Pretendemos analisar padrões de interação entre os dialetos e as representações visuais como contexto, exemplo, vestuário, gestos, espaço, buscando correlações com as características de identidade cultural e social da região.
Será utilizada nesta pesquisa a metodologia de análise de conteúdo, com o intuito de organizar e interpretar o material a ser investigado, que para Silva e Fossá (2013, p. 02) é uma técnica de análise das comunicações, que irá analisar o que foi dito nas entrevistas ou observado pelo pesquisador. Na análise do material, busca-se classificá-los em temas ou categorias que auxiliam na compreensão do que está por trás dos discursos. A análise de conteúdo ajudará a proporcionar um olhar multifacetado sobre os dados recolhidos durante a coleta.
À vista disso, foram selecionados para a análise cinco vídeos que usam expressões amapaenses. Os vídeos dos tiktoks que moram no Amapá foram escolhidos pelo sucesso de seguidores na plataforma e na criação de conteúdos.
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES OU ANÁLISE DOS DADOS
O nosso país tem uma unidade linguística, a língua portuguesa, e por causa da sua extensão de território, há também muita diversidade dela, os falares brasileiros, toda essa variação linguística explica-se, nas palavras de Antônio Houaiss, pelo próprio processo de colonização do país: Dialetação horizontal por influxo indígena, e diferenciação vertical entre a fala do luso e a fala do nascido e criado na terra.
No Amapá não é diferente, encontramos o seu próprio jeito de falar, seus dialetos, resultado da relação pela interação da nossa sociedade e cultura, e isso se reflete na língua. O Amapá recebeu migrantes e imigrantes atraídos pela extração de borracha na região amazônica, e o ouro da região. Segundo g1 AP, 2023. Essa mistura de culturas e falares se deu o que temos hoje, múltiplos dialetos, alguns originários de outras regiões do norte, nordeste etc.
“A variação linguística no Brasil é um fenômeno complexo que reflete a história da colonização, migração e miscigenação do país” (BORTONI, 2024). Esta citação ressalta que a diversidade linguística no Brasil é um produto direto de sua história de colonização, migração e mistura de diferentes povos. Isso é evidente na forma como os dialetos regionais refletem as influências de várias culturas que compõem a sociedade brasileira.
O TikTok, com seu algoritmo viral, tem a capacidade de propagarexpressões regionais de maneira rápida e ampla. O TikTok pode servir como um canal de preservação linguística, especialmente para dialetos que correm expressões amapaenses, ao serem compartilhadas e reproduzidas no TikTok, não apenas preservadas, mas valorizadas em um contexto de intercâmbio cultural. Além disso, ao utilizar essas expressões, o TikTok pode ajudar na valorização da cultura local.
Sendo um formato audiovisual dinâmico, que permite aos usuários postar apenas vídeos curtos, estes podem ser editados com ferramentas fornecidas na plataforma (HAENLEIN et al., 2020). Esses vídeos curtos proporcionam grande interação, podem ser facilmente pulados e são intercalados com conteúdo semelhante postado por amigos, portanto os usuários consideram a plataforma envolvente (FORBES, 2022).
Os TikToks amapaenses trazem à tona as expressões típicas do seu estado, ao qual carrega uma marca cultural e uma identidade regional. Percebe-se nesses videos elementos como gírias típicas do Amapá, tais expressões como “xero”, que se refere-se a um cumprimento carinhoso, “arengueiro” sendo algo confuso e complicado, e “pancada” podendo ser algo bom, de qualidade, são exemplos de palavras que fazem parte do vocabulário amapaense. Sendo expressões frequentemente usadas de forma descontraída e em contextos que se aproximam da realidade cotidiana das pessoas.
Os resultados indicam que as expressões regionais do Amapá são frequentemente utilizadas nos vídeos do TikTok, geralmente de forma humorística e espontânea. Essas produções reforçam a identidade cultural local e funcionam como um meio de difusão para públicos de outras regiões. Porém, algumas expressões são ressignificadas por públicos externos, adquirindo novos significados. Esse fenômeno pode gerar tanto valorização quanto descaracterização de certas formas linguísticas, levantando questões sobre a preservação da diversidade linguística dentro do estado. Ribeiro e Maciel (2015) destacam que:
“É válido lembrar que as variações que ocorrem nas línguas se dão em função das formas ou locais de realizações. Assim, destacam-se as variações diafásicas que se estabelecem em função do contexto comunicativo, ou seja, a ocasião é que determina a maneira como nos dirigimos ao nosso interlocutor, se formal ou informal: por exemplo, a situação poderá nos levar a dizer para um conhecido que encontramos: “e aí cara”? Ou “Bom-dia, como vai, tudo bom?” (RIBEIRO; MACIEL, 2015, p. 147-148).
No vídeo A do TikTok, é possível observar uma propaganda que utiliza o dialeto regional para chamar a atenção dos clientes. A fala “xalando” tem como objetivo destacar a qualidade do produto disponível na loja, ao dizer “não é pão”, a vendedora está afirmando que o produto possui qualidade, conforme descrito. Quando o cliente menciona que algo foi “escangalhado”, a vendedora tranquiliza, informando que o item está disponível e que não é preciso se preocupar. A expressão “não fodegar” é usada para orientar o cliente a não se apressar, ressaltando que a loja oferece facilidades de pagamento para atender às suas necessidades.
O vídeo adota uma abordagem multilíngue, utilizando legendas e narração em diversos sotaques, o que evidencia seu impacto cultural e político. A estratégia de engajar com o público em diferentes idiomas visa aumentar o alcance e a viralidade do conteúdo, permitindo que ele se torne global. Ao adaptar-se a diferentes públicos linguísticos, o vídeo expande sua audiência, aproveitando a diversidade de sotaques e a inclusão de legendas para alcançar um público mais amplo. Além disso, ele promove produtos e destaca as diversas opções de pagamento disponíveis, funcionando como uma ferramenta de marketing eficaz. O vídeo também faz uma crítica à forma como a propaganda é utilizada para influenciar a opinião pública, levantando questões sobre as implicações desse fenômeno para a democracia e a liberdade de expressão.
O vídeo B do TikTok proporciona uma visão abrangente e educativa sobre a diversidade linguística, ressaltando a importância de compreender e respeitar as diferenças dialetais para uma comunicação eficaz e respeitosa. O conteúdo faz referência clara aos dialetos amapaenses, exemplificando a interação entre amigas, quando uma delas diz “Ei mana”, uma expressão comum no Amapá que significa “Ei amiga, tenho uma fofoca para te contar”. Essa expressão ilustra a convivência cotidiana com os dialetos regionais e traz à tona a questão do preconceito linguístico, evidenciado quando uma pessoa questiona se a outra é do Amapá por não aparentar falar como se espera.
Esse tipo de preconceito é vivido diariamente nas interações verbais, refletindo uma forma de julgamento sobre a fala das pessoas. O vídeo, ao valorizar a beleza feminina e discutir o impacto dos dialetos na comunicação cotidiana, aborda como essas diferenças podem influenciar a compreensão e a interação entre indivíduos de diferentes regiões. A narrativa enfatiza a necessidade de sensibilidade e respeito frente às variações linguísticas, promovendo uma convivência mais inclusiva e empática.
No vídeo C, o dialeto amapaense é explorado de maneira bem-humorada, destacando palavras e expressões típicas da região. O conteúdo ilustra como o dialeto amapaense se manifesta tanto na fala quanto na expressão corporal, através de uma situação em que uma turista chega ao estado sem conhecer a cultura local. Ao tentar pedir informações, ele se vê perdido, sem entender completamente o significado das expressões regionais, que podem ter interpretações diferentes para diferentes pessoas. Palavras como “leso”, “égua” e “especial tuedoido” são exemplos disso, demonstrando como um mesmo termo pode ser compreendido de formas distintas dependendo do contexto e do interlocutor. Segundo Cavalcante (2020), expressão como “Égua”:
Serve para exprimir uma variedade de sentimentos, como explica o professor e jornalista Ivan Carlo: “Égua – essa é, depois de deveras, a única palavra brasileira que pode ser usada em qualquer situação. Você pode usar égua para expressar dor, tristeza, alegria, admiração, espanto e até mesmo enfado. Se, por exemplo, passar pela sua frente uma morena jeitosa, você pode exclamar deliciado: “Égua!”. E não se preocupe que ela não vai achar que você está chamando-a de eqüina. Se, por outro lado, descer um disco voador no seu quintal, não pense duas vezes. Grite: “Égua!”. (CAVALCANTE,2020).
Com um caráter educativo e informativo, o vídeo apresenta o dialeto amapaense de uma forma acessível e divertida. O autor utiliza exemplos do cotidiano para ilustrar as diferenças linguísticas, facilitando o entendimento do público sobre o dialeto local. Além disso, o vídeo transmite a alegria e o humor do povo do Amapá, tornando claro o dinamismo e a vitalidade do dialeto, que incorpora elementos culturais e sociais da região. A abordagem lúdica e envolvente do autor torna o aprendizado das expressões mais fácil de compreender e memorizar, proporcionando uma visão mais rica e divertida sobre o Amapá e sua diversidade linguística.
No vídeo D, é possível observar a diferença entre os sotaques amapaense e mineiro, destacando as variações nas gírias e na pronúncia. O sotaque amapaense é fortemente influenciado por diversas culturas, incluindo a portuguesa, africana e indígena, o que se reflete nas suas gírias e expressões. Este sotaque é notável por seu ritmo musical e entonação única, com algumas palavras sendo pronunciadas de forma distinta em comparação com outras regiões do Brasil. Por outro lado, o sotaque mineiro é caracterizado pela suavidade e clareza, sendo conhecido pela maneira como as vogais são pronunciadas de forma mais aberta, além de uma entonação frequentemente descrita como “cantada”. Essas diferenças linguísticas não apenas ilustram as características fonéticas de cada região, mas também refletem as influências culturais que moldaram esses sotaques ao longo do tempo.
Ao analisar o vídeo E, observa-se uma exploração detalhada do dialeto amapaense, destacando suas características únicas e as diferenças em relação a outros dialetos brasileiros. O conteúdo inclui exemplos de palavras e expressões típicas desse dialeto, além de oferecer uma explicação sobre as influências culturais e históricas que moldaram essa forma de fala. No vídeo, o dialeto amapaense é exemplificado por meio de uma conversa entre amigos, em que um tenta dividir a conta e o outro responde dizendo que “não tá prestando o pix”. Quando ele usa a expressão “ÉGUA MANO”, está demonstrando surpresa, e ao dizer “TÁ LARISSA”, quer afirmar que algo está bom.
Com mais de 1 milhão de seguidores, o vídeo evidencia o alcance do dialeto amapaense nas plataformas digitais, demonstrando como essas expressões podem ser utilizadas para educar e engajar o público sobre a diversidade cultural e linguística do Brasil. Por meio de uma abordagem autêntica e envolvente, o autor consegue não apenas informar, mas também promover a conscientização e o respeito pelas variações regionais da língua portuguesa.
Ao analisar as expressões usadas pelos TikToks amapaenses, percebemos como se manifesta a linguagem local, com suas gírias e expressões, e como ela interage com a cultura global do TikTok. Ao examinar essas características, podemos identificar tanto as características do Amapá quanto as transformações que essas expressões podem sofrer na comunicação digital.
O uso das gírias no Amapá desempenha um papel fundamental na reafirmação da identidade amapaense, promovendo uma forte conexão entre os falantes da mesma língua. Essas expressões informais não só tornam a comunicação mais acessível, mas também conferem um caráter acolhedor, criando um ambiente mais descontraído e amigável. As gírias funcionam, assim, como um elo de pertencimento, estreitando os laços dentro de uma comunidade que compartilha uma história e uma cultura comum. Elas são, em muitos aspectos, um reflexo da natureza calorosa e receptiva do povo local.
Além disso, as gírias do Amapá estão em constante evolução, refletindo a dinâmica linguística da região. O surgimento de novas expressões e a adaptação de termos antigos são evidências de como a língua no estado se mantém viva, em permanente transformação. Essas modificações linguísticas não apenas indicam a flexibilidade da linguagem, mas também ilustram as influências externas que continuam a moldar o vocabulário local, mantendo-o alinhado com as mudanças sociais, culturais e históricas que acontecem tanto no estado quanto em suas interações com outras regiões e países vizinhos.
Estas expressões refletem as influências históricas e diversas que moldaram a sociedade local, enfatizando os contatos entre grupos étnicos indígenas, africanos e portugueses, bem como a proximidade com países vizinhos como a Guiana e o Suriname. Ao compreender e utilizar essas gírias, os indivíduos não apenas desenvolvem uma conexão com a língua amapaense, mas também participam ativamente na preservação de uma herança linguística única e inconfundível. Por isso, ao ouvir expressões como “mermão” ou “vixe”, é importante perceber que se trata da manifestação de um povo que se orgulha da sua identidade cultural e linguística, que se consolidou como símbolos da diversidade e riqueza da região.
6 CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo demonstrou que o TikTok desempenha um papel significativo na propagação dos dialetos expressões regionais do Amapá, promovendo sua valorização e adaptação. Contudo, a apropriação dessas expressões por públicos externos pode gerar transformações em seus significados originais.
O TikTok, por sua natureza dinâmica e interativa, se apresenta como uma plataforma de relevante importância para a preservação e adaptação dos dialetos e expressões do Amapá. O fenômeno linguístico registrado nos vídeos da plataforma não apenas reflete as particularidades culturais da região, mas também promove um intercâmbio entre diferentes culturas, impactando a identidade linguística local.
A análise dos dialetos e expressões do Amapá no TikTok revela como a plataforma se tornou uma ferramenta poderosa para a disseminação e transformação cultural. A utilização das gírias e expressões regionais amapaenses, nos vídeos criados pelos usuários, não apenas preserva, mas também valoriza a cultura local ao permitir que ela seja compartilhada com um público global. O TikTok, por sua natureza dinâmica e criativa, oferece um espaço onde as expressões autênticas do Amapá podem ser adaptadas e reinterpretadas, gerando novas formas de comunicação que ampliam o alcance dessas palavras para além da região.
Além disso, o uso dessas expressões no TikTok vai além do simples compartilhamento verbal, elas se tornam marcadores de identidade regional, criando fortes conexões com seguidores locais e ao mesmo tempo atraindo a curiosidade de públicos de outras partes do Brasil e até de todo o mundo. O fenômeno viral das expressões amapaenses contribui para a difusão do vocabulário regional, criando uma cultura digital híbrida onde os dialetos locais encontram as línguas globais. Contudo, é importante ressaltar que ao longo do processo, as expressões podem sofrer transformação e ressignificação, adaptando-se a novos contextos e adquirindo novos significados quando reutilizadas em diferentes tendências e interações.
Essa evolução é um reflexo da fluidez da linguagem nas plataformas digitais, onde a comunicação é constantemente remodelada para atender ao estilo e às expectativas do público digital. Em suma, o TikTok se revela como uma plataforma de visibilidade e democratização para os dialetos regionais, como o do Amapá, ao mesmo tempo em que promove uma conexão intercultural por meio da linguagem. A preservação da identidade linguística amapaense, aliada à inovação digital, resulta em um espaço de intercâmbio cultural, onde as expressões locais se tornam parte de um movimento global de linguagem e criatividade.
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1Discente do Curso Superior de Licenciatura Letras/Português do Instituto UNIFAP Campus xxxxxxxx e-mail: alinemacedo339@gmail.com, kellianebrito94@gmail.com, jelinesilvajesus@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Licenciatura em Letras/Português do Instituto UNIFAP Campus xxxxxxxxxxx. Mestre em xxxxx (PPGMAD/UNIR). e-mail: