REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202502281113
Elisabete Soares de Santana1; Gebes Vanderlei Parente Santos2; Clarkson Henrique Santos Lemos3; Carlos Lopatiuk4; Carla Emanuele Lopatiuk5; Myllena Rodrigues de Oliveira6; Patricia Yoko Cunha Shimokomaki7; Denis Eduardo Chaves8; Elenize Gonçalves Cavalheiro9; Filipe Monteiro Beltrão10
RESUMO
A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae. Ela afeta principalmente a pele e os nervos periféricos, podendo levar a deformidades físicas e incapacidades permanentes quando não tratada precocemente. Apesar dos avanços no diagnóstico e no tratamento, a hanseníase permanece como um desafio de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento, onde desigualdades sociais, pobreza e acesso limitado aos serviços de saúde contribuem para a manutenção da sua transmissão. Embora a implementação da poliquimioterapia (PQT) tenha representado um marco no controle da hanseníase, fatores como atraso no diagnóstico, abandono do tratamento e estigma social ainda comprometem os esforços de eliminação da doença. No Brasil, que ocupa o segundo lugar mundial em casos de hanseníase, atrás apenas da Índia, as regiões Norte e Nordeste concentram os maiores índices de incidência, evidenciando o impacto das desigualdades socioeconômicas na propagação da doença. Diante desse contexto, este estudo tem como objetivo analisar os impactos da hanseníase na saúde pública, com foco nos desafios para o diagnóstico precoce e adesão ao tratamento, além de discutir estratégias para a superação do estigma e a promoção de ações integradas que fortaleçam o controle da doença.
Palavras-chave: Controle da Doença, Diagnóstico Precoce, Hanseníase, Inovações Tecnológicas, Saúde Pública.
ABSTRACT
Leprosy, also known as Hansen’s disease, is a chronic infectious disease caused by Mycobacterium leprae. It primarily affects the skin and peripheral nerves, potentially leading to physical deformities and permanent disabilities if not treated early. Despite advances in diagnosis and treatment, leprosy remains a public health challenge, especially in developing countries, where social inequalities, poverty, and limited access to healthcare services contribute to the persistence of its transmission. Although the implementation of multidrug therapy (MDT) has marked a milestone in leprosy control, factors such as delayed diagnosis, treatment abandonment, and social stigma still hinder efforts to eliminate the disease. In Brazil, which ranks second globally in leprosy cases, behind only India, the North and Northeast regions have the highest incidence rates, highlighting the impact of socioeconomic inequalities on disease spread. Against this backdrop, this study aims to analyze the impacts of leprosy on public health, focusing on challenges related to early diagnosis and treatment adherence, as well as discussing strategies for overcoming stigma and promoting integrated actions that strengthen disease control.
Keywords: Disease Control, Early Diagnosis, Leprosy, Technological Innovations, Public Health.
RESUMEN
La hanseniasis, también conocida como lepra, es una enfermedad infecciosa crónica causada por Mycobacterium leprae. Afecta principalmente la piel y los nervios periféricos, pudiendo llevar a deformidades físicas e incapacidades permanentes si no se trata de manera precoz. A pesar de los avances en el diagnóstico y tratamiento, la hanseniasis sigue siendo un desafío para la salud pública, especialmente en países en desarrollo, donde las desigualdades sociales, la pobreza y el acceso limitado a los servicios de salud contribuyen a la persistencia de su transmisión. Aunque la implementación de la poliquimioterapia (PQT) ha representado un hito en el control de la hanseniasis, factores como el retraso en el diagnóstico, el abandono del tratamiento y el estigma social siguen comprometiendo los esfuerzos para eliminar la enfermedad. En Brasil, que ocupa el segundo lugar mundial en casos de hanseniasis, solo detrás de la India, las regiones Norte y Nordeste concentran los mayores índices de incidencia, lo que evidencia el impacto de las desigualdades socioeconómicas en la propagación de la enfermedad. En este contexto, este estudio tiene como objetivo analizar los impactos de la hanseniasis en la salud pública, enfocándose en los desafíos para el diagnóstico precoz y la adhesión al tratamiento, además de discutir estrategias para superar el estigma y promover acciones integradas que fortalezcan el control de la enfermedad.
Palabras clave: Control de la enfermedad, Diagnóstico precoz, Hanseniasis, Innovaciones tecnológicas, Salud pública.
1 INTRODUÇÃO
A hanseníase, também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica causada pelo Mycobacterium leprae, que afeta principalmente a pele, os nervos periféricos e, em casos mais graves, outros órgãos, levando a deformidades e incapacidades físicas permanentes se não tratada adequadamente (Araújo et al., 2024). Apesar de ser uma das doenças mais antigas documentadas, tendo registros históricos que remontam a milhares de anos, a hanseníase ainda representa um desafio significativo para os sistemas de saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, cerca de 200 mil novos casos são diagnosticados em todo o mundo, o que reflete a persistência da transmissão ativa da doença em áreas endêmicas (Oliveira et al., 2022).
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são considerados as principais estratégias para interromper a cadeia de transmissão da hanseníase e prevenir complicações graves. No entanto, identificar os sinais iniciais da doença nem sempre é uma tarefa simples, devido à sua evolução lenta e à similaridade dos sintomas com outras doenças dermatológicas e neurológicas (Trajano et al., 2020). Essa dificuldade é agravada em áreas remotas ou vulneráveis, onde o acesso aos serviços de saúde é limitado e a capacitação profissional é insuficiente. Além disso, o estigma associado à hanseníase, que carrega um forte histórico de discriminação e exclusão social, continua sendo uma barreira para que pacientes procurem atendimento médico, prolongando o diagnóstico e o início do tratamento (Pacheco et al., 2021).
A implementação da poliquimioterapia (PQT), combinando medicamentos como rifampicina, dapsona e clofazimina, foi um marco no combate à hanseníase, reduzindo significativamente a carga global da doença. No entanto, apesar dos avanços no tratamento, o Brasil continua enfrentando desafios para alcançar a eliminação da hanseníase como problema de saúde pública, sendo o segundo país em número de casos, atrás apenas da Índia (Silveira et al., 2023). Dados recentes do Ministério da Saúde apontam que a maior parte dos novos casos ocorre em regiões marcadas por desigualdades sociais, como o Norte e o Nordeste, onde a pobreza, a falta de saneamento básico e a desinformação contribuem para a perpetuação da doença (Ferreira et al., 2021).
Os determinantes sociais de saúde têm um papel crucial na epidemiologia da hanseníase, evidenciando a relação direta entre a ocorrência da doença e as condições de vulnerabilidade social. Populações que vivem em áreas de difícil acesso, em situação de extrema pobreza e com baixos níveis de escolaridade estão mais expostas ao risco de infecção e às consequências da doença (Santos et al., 2022). Nesse contexto, a hanseníase não pode ser considerada apenas um problema clínico, mas sim uma questão complexa que requer intervenções intersetoriais, incluindo políticas públicas voltadas à redução das desigualdades sociais, ao fortalecimento do sistema de saúde e à promoção da educação em saúde para as comunidades afetadas (Teixeira et al., 2020).
O impacto da hanseníase na saúde pública também se reflete na necessidade de maior investimento em estratégias de vigilância epidemiológica e no desenvolvimento de novas ferramentas diagnósticas. Tecnologias como testes moleculares e exames imunológicos têm demonstrado potencial para melhorar a detecção precoce da doença, especialmente em contatos domiciliares e indivíduos assintomáticos (Santos et al., 2024). Além disso, ações educativas e campanhas de conscientização são indispensáveis para combater o estigma, reduzir o medo associado à doença e promover a adesão ao tratamento, contribuindo para uma resposta mais eficaz ao controle da hanseníase.
Portanto, apesar dos avanços científicos e das iniciativas de saúde pública, a hanseníase permanece como um desafio global que exige esforços coordenados e contínuos. O fortalecimento das políticas públicas, aliado à integração entre serviços de saúde, ações de prevenção e reabilitação psicossocial, pode representar um caminho promissor para mitigar os impactos dessa doença. Ao priorizar o diagnóstico precoce, a ampliação do acesso ao tratamento e o enfrentamento do estigma, é possível avançar na luta contra a hanseníase e garantir melhores condições de vida para as populações afetadas (Belai et al., 2024).
O objetivo deste estudo é analisar os impactos do diagnóstico da hanseníase na saúde pública, destacando os principais desafios enfrentados no controle da doença e os avanços alcançados na prevenção, diagnóstico e tratamento. Busca-se compreender como fatores sociais, econômicos e culturais, como pobreza, desigualdade de acesso aos serviços de saúde, falta de informação e o estigma social, influenciam tanto a disseminação da hanseníase quanto a adesão ao tratamento, contribuindo para a perpetuação da doença em determinadas populações. Além disso, pretende-se avaliar como políticas públicas, iniciativas educacionais e ações intersetoriais podem ser fortalecidas para promover o diagnóstico precoce, a gestão adequada dos casos e a reabilitação dos pacientes. O estudo também visa propor estratégias inovadoras e sustentáveis que integrem aspectos clínicos, sociais e tecnológicos para reduzir a prevalência da hanseníase, minimizar as incapacidades decorrentes e combater o estigma que historicamente acompanha os portadores da doença.
2 METODOLOGIA:
Este estudo utiliza a abordagem de escopo (scoping review) para mapear e analisar as evidências disponíveis sobre os impactos do diagnóstico da hanseníase na saúde pública, focando nos desafios e avanços no controle da doença. A revisão de escopo foi escolhida por permitir uma visão abrangente do tema, identificando lacunas no conhecimento, avanços recentes e as tecnologias mais relevantes no diagnóstico da hanseníase. Esta metodologia é amplamente recomendada quando o objetivo é explorar áreas de pesquisa emergentes e avaliar a amplitude de dados disponíveis sobre uma temática específica.
O processo foi realizado em cinco etapas principais: formulação da questão de pesquisa, identificação das bases de dados relevantes, definição de critérios de inclusão e exclusão, extração e análise dos dados. A questão norteadora definida foi: “Quais são os impactos do diagnóstico da hanseníase na saúde pública e quais os desafios e avanços no controle da doença?” A partir disso, buscou-se organizar o estudo para identificar as principais inovações tecnológicas no diagnóstico da hanseníase e avaliar sua aplicabilidade em diferentes contextos.
A pesquisa bibliográfica foi conduzida nas bases de dados PubMed, Scopus, Web of Science e SciELO, abrangendo artigos publicados entre 2020 e 2024. Foram utilizados descritores em inglês e português, como “leprosy”, “diagnostic technologies”, “health impacts”, “controle da hanseníase”, combinados com operadores booleanos “AND” e “OR”. Apenas artigos revisados por pares, revisões sistemáticas, estudos experimentais e relatos de caso relacionados diretamente ao tema foram incluídos.
Os critérios de inclusão foram estudos que abordassem os impactos do diagnóstico da hanseníase na saúde pública, como métodos diagnósticos inovadores, desafios no controle da doença, detecção precoce e tecnologias emergentes. Estudos focados exclusivamente em outras áreas relacionadas, como tratamento ou aspectos sociais da hanseníase, foram excluídos. Após a aplicação dos critérios, os artigos selecionados passaram por uma triagem em duas etapas: leitura de títulos e resumos, seguida pela análise completa dos textos.
Os dados extraídos incluíram informações sobre o tipo de tecnologia utilizada, impacto na detecção precoce, eficácia nos métodos de diagnóstico, sensibilidade e especificidade diagnóstica, custo, tempo para obtenção dos resultados e impacto na saúde pública. Os resultados foram sintetizados de forma descritiva e apresentados em categorias temáticas. Essa abordagem permitiu identificar tanto os avanços quanto os desafios para o diagnóstico e controle da hanseníase, fornecendo uma base sólida para futuras pesquisas e estratégias no enfrentamento dessa doença. Após utilizar todos esses critérios para as buscas foram selecionados 15 artigos, para a criação deste artigo.
3 RESULTADOS
Os dados analisados revelaram que a hanseníase continua sendo um problema de saúde pública significativo, especialmente em países em desenvolvimento. O Brasil, em particular, permanece entre os países com maior número de casos novos anuais, o que reforça a necessidade de estratégias de controle mais eficazes (Duarte et al., 2024). Mesmo com a implementação de programas de vigilância epidemiológica, os desafios persistem, especialmente em regiões periféricas e de difícil acesso, onde fatores como desigualdade socioeconômica, baixa cobertura de serviços de saúde e desinformação sobre a doença agravam o cenário. A alta incidência de casos em populações vulneráveis evidencia a importância de abordagens mais integradas, que combinem políticas de saúde pública com intervenções sociais voltadas para a redução da pobreza e melhoria das condições de vida (Hespanhol et al., 2021).
A análise também evidenciou que a poliquimioterapia (PQT), recomendada pela OMS como tratamento padrão, apresenta alta eficácia na cura dos pacientes diagnosticados, representando um dos maiores avanços no manejo clínico da hanseníase. Contudo, a adesão ao tratamento permanece um grande desafio, especialmente em áreas rurais e comunidades de baixa renda. Dados mostram que a taxa de abandono do tratamento é particularmente alta em regiões de extrema vulnerabilidade social, onde fatores como estigma, desinformação, falta de transporte e barreiras geográficas influenciam negativamente o seguimento dos pacientes (Jesus et al., 2023). Além disso, a ausência de suporte psicológico e de programas de acompanhamento contribui para que muitos pacientes interrompam o tratamento antes da conclusão. Em algumas áreas, foi relatado que até 40% dos pacientes desistem do tratamento, o que não só compromete sua recuperação, como também aumenta o risco de resistência medicamentosa, recidivas e perpetuação da cadeia de transmissão da doença (Marciano et al., 2020).
Outro achado relevante foi o impacto persistente do estigma social nos pacientes diagnosticados. Muitos relataram dificuldades em conviver com o diagnóstico devido à discriminação e ao preconceito, o que também contribui para o atraso na procura por atendimento médico (Pernambuco et al., 2022). Esse estigma, enraizado em séculos de marginalização dos portadores de hanseníase, continua a ser um obstáculo significativo, tanto no diagnóstico precoce quanto na adesão ao tratamento. Em comunidades mais tradicionais, crenças culturais e religiosas reforçam a marginalização dos indivíduos afetados, intensificando a exclusão social e dificultando iniciativas educacionais. Estudos sugerem que a superação desse desafio exige uma abordagem comunitária, com a participação ativa de líderes locais, campanhas educativas inclusivas e programas que promovam a conscientização da população sobre os direitos dos pacientes e o caráter incurável da hanseníase (Trajano et al., 2020).
Os avanços tecnológicos no diagnóstico foram destacados como um ponto positivo no combate à hanseníase. Métodos moleculares, como a reação em cadeia da polimerase (PCR), têm demonstrado alta sensibilidade e especificidade na detecção precoce de casos, especialmente entre os contatos domiciliares (Araújo et al., 2024). Esses avanços possibilitam identificar infecções em estágios iniciais, reduzindo o tempo de transmissão e ampliando as chances de cura. Contudo, a aplicação de tecnologias mais avançadas ainda é limitada devido a barreiras financeiras e estruturais. A falta de equipamentos adequados, profissionais capacitados e laboratórios bem equipados em regiões endêmicas impede a ampla disseminação dessas ferramentas, reforçando a desigualdade no acesso à saúde. Esse contexto aponta para a necessidade de investimentos mais robustos em infraestrutura laboratorial e treinamento, além do desenvolvimento de métodos diagnósticos mais acessíveis para populações de baixa renda.
A análise também destacou o papel das iniciativas educacionais e das campanhas de conscientização no combate à hanseníase. Programas comunitários voltados à educação em saúde têm demonstrado impactos positivos, promovendo maior adesão ao tratamento e redução do estigma social, além de estimular a busca por diagnóstico precoce (Teixeira et al., 2020). Essas ações, muitas vezes conduzidas em parcerias com ONGs e organizações comunitárias, têm conseguido alcançar populações vulneráveis, gerando conscientização sobre os sinais e sintomas da doença e desmistificando crenças equivocadas. Contudo, ainda há um déficit na expansão dessas iniciativas para áreas rurais, indígenas e comunidades de difícil acesso, onde os índices de prevalência são mais altos. Estratégias mais amplas e inclusivas, combinadas com o uso de tecnologias digitais, poderiam maximizar o impacto dessas campanhas, ampliando o alcance e promovendo maior engajamento comunitário.
Por fim, os resultados indicaram que, embora políticas públicas voltadas para o controle da hanseníase tenham gerado melhorias significativas no manejo da doença, persistem lacunas estruturais e operacionais. A integração insuficiente entre os serviços especializados e a atenção primária compromete a capacidade de resposta rápida e eficaz às demandas da população, reforçando a necessidade de um fortalecimento mais amplo e coordenado das estratégias de saúde pública (Silveira et al., 2023). Além disso, a alocação inadequada de recursos e a fragmentação na implementação das políticas contribuem para desigualdades regionais no controle da hanseníase. Programas integrados, com financiamento adequado e suporte governamental contínuo, são fundamentais para superar essas barreiras e avançar no enfrentamento da doença.
4 DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo reforçam as evidências existentes na literatura de que a hanseníase é uma doença multifatorial, cujos determinantes sociais de saúde desempenham papel central na perpetuação de sua incidência. Pacheco et al. (2021) destacam que fatores como pobreza, baixa escolaridade, falta de acesso à saúde e condições inadequadas de moradia criam um ambiente propício para a disseminação da hanseníase, especialmente em regiões endêmicas. Essas condições socioeconômicas vulneráveis não apenas dificultam o diagnóstico precoce, mas também comprometem a adesão ao tratamento, perpetuando o ciclo de transmissão. Além disso, a falta de políticas públicas que promovam melhorias nas condições de vida da população em áreas hiperendêmicas é um agravante importante. A hanseníase, portanto, não pode ser enfrentada isoladamente pela saúde pública; é necessário um esforço intersetorial que integre ações de saúde, educação, habitação e combate à pobreza para que seja possível romper com esse ciclo (Oliveira et al., 2022).
O estigma social associado à hanseníase continua sendo uma das maiores barreiras para o diagnóstico e o tratamento. Santos et al. (2022) apontam que o preconceito histórico em torno da doença desencoraja os pacientes a procurarem atendimento médico, além de comprometer a adesão ao tratamento. Muitos pacientes relatam medo de serem discriminados em suas comunidades, o que leva ao isolamento social e psicológico, agravando ainda mais sua condição. Estratégias para combater o estigma, como campanhas educativas, treinamento de profissionais de saúde para um atendimento mais humanizado e a integração de pacientes curados em ações comunitárias, têm mostrado resultados promissores. Contudo, a aplicação dessas medidas ainda é desafiadora, especialmente em regiões rurais e comunidades indígenas, onde barreiras culturais e linguísticas dificultam a comunicação. Para que essas iniciativas sejam eficazes, é necessário um enfoque culturalmente sensível e uma abordagem que envolva líderes comunitários e religiosos como aliados no combate ao estigma (Pernambuco et al., 2022).
Os avanços tecnológicos no diagnóstico precoce, como a aplicação de exames moleculares, representam um marco importante no controle da hanseníase. Conforme Ferreira et al. (2021), esses métodos oferecem maior precisão e permitem a identificação de casos subclínicos, o que reduz significativamente a transmissão da doença. A utilização de técnicas como a reação em cadeia da polimerase (PCR) possibilita o diagnóstico antes mesmo que os sinais clínicos apareçam, ampliando as chances de cura e interrompendo a cadeia de transmissão. No entanto, a dependência de recursos financeiros e tecnológicos limita a aplicação dessas ferramentas em países de baixa renda e em regiões remotas. Esse cenário evidencia a necessidade de políticas públicas que incentivem o desenvolvimento de métodos diagnósticos mais acessíveis e viáveis para contextos de baixa infraestrutura. Além disso, a capacitação de profissionais de saúde para operar essas tecnologias é essencial para garantir sua efetividade e alcance (Jesus et al., 2023).
Outro ponto de discussão importante é o papel das políticas públicas no controle da hanseníase. Hespanhol et al. (2021) enfatiza que programas de saúde pública eficazes devem priorizar não apenas o tratamento, mas também o diagnóstico precoce, a educação em saúde e a reabilitação dos pacientes. Contudo, os resultados deste estudo mostram que a fragmentação dos serviços de saúde e a falta de integração entre os níveis de atenção dificultam a execução dessas ações, especialmente em regiões com alta carga da doença. Por exemplo, muitos pacientes enfrentam dificuldades para acessar serviços especializados devido à concentração desses centros em áreas urbanas. Essa centralização compromete o alcance das políticas públicas em regiões remotas e agrava as desigualdades de saúde. É fundamental que haja uma descentralização dos serviços, com fortalecimento da atenção primária e maior articulação com os serviços de média e alta complexidade para garantir um atendimento mais ágil e eficiente (Santos et al., 2024).
As desigualdades regionais também foram destacadas como um fator crítico na perpetuação da hanseníase. Marciano et al. (2020) argumentam que o enfrentamento da doença exige uma abordagem territorializada, com políticas específicas para áreas de maior vulnerabilidade. Regiões do Norte e Nordeste do Brasil, por exemplo, apresentam índices de prevalência significativamente mais altos, em comparação com outras regiões do país, devido a fatores como acesso limitado aos serviços de saúde e falta de investimento em infraestrutura básica. Para mitigar essas desigualdades, é necessário investir na expansão dos serviços de atenção primária, no fortalecimento das redes de vigilância epidemiológica e na implementação de ações intersetoriais que abordem os determinantes sociais de saúde. Políticas como essas também devem considerar a formação de equipes multidisciplinares para atender às necessidades específicas de cada território, garantindo um cuidado mais integral e eficaz.
Por fim, a reintegração social e a reabilitação dos pacientes curados são elementos essenciais para o sucesso do controle da hanseníase. Conforme Belai et al.(2024), ações que promovam a inclusão social, o empoderamento dos pacientes e a redução do estigma são fundamentais para garantir uma resposta sustentável à doença. Programas de reabilitação física, aliados a iniciativas de suporte psicológico e reintegração ao mercado de trabalho, têm se mostrado eficazes na melhoria da qualidade de vida dos pacientes curados. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que essas estratégias sejam implementadas de forma abrangente. A ampliação dessas iniciativas, aliada a investimentos em pesquisa e inovação, representa um caminho promissor para o controle e, eventualmente, a eliminação da hanseníase como um problema de saúde pública. Além disso, a criação de redes de apoio, compostas por pacientes curados, pode ajudar na sensibilização da sociedade e na disseminação de informações corretas sobre a doença, fortalecendo ainda mais o enfrentamento do estigma.
CONCLUSÃO:
A hanseníase continua sendo um desafio significativo para a saúde pública, especialmente em países em desenvolvimento, onde os determinantes sociais desempenham um papel crucial na perpetuação da doença. Os resultados deste estudo evidenciam a necessidade de intervenções abrangentes que integrem aspectos clínicos, sociais e educacionais para um controle mais eficaz. O diagnóstico precoce, o tratamento adequado e o combate ao estigma social são elementos indispensáveis para interromper a cadeia de transmissão e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Embora avanços tecnológicos e políticas públicas tenham contribuído para a redução da carga da hanseníase em algumas regiões, ainda persistem lacunas importantes, como a dificuldade de acesso aos serviços de saúde, a fragmentação dos sistemas de atendimento e as desigualdades regionais. O enfrentamento da hanseníase exige uma abordagem intersetorial e territorializada, que considere as especificidades de cada região e a integração entre diferentes níveis de atenção à saúde. Somente assim será possível alcançar resultados mais eficazes e sustentáveis no combate à doença.
Por fim, é essencial que esforços continuem sendo direcionados para a educação em saúde, a conscientização da sociedade e o fortalecimento das políticas públicas voltadas à hanseníase. Investimentos em pesquisa, capacitação profissional e expansão do acesso a tecnologias diagnósticas acessíveis são fundamentais para alcançar o objetivo de eliminar a hanseníase como um problema de saúde pública. A promoção da reintegração social e a redução do estigma devem ser prioridades permanentes, garantindo não apenas a cura da doença, mas também a dignidade e o bem-estar dos pacientes.
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1Acadêmica em Farmácia
Instituição de formação: Faculdade Santíssima Trindade – FAST
Endereço: Nazaré da Mata – Pernambuco, Brasil
E-mail: elisabetesoares349@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0000-5773-3879
2Graduando em Medicina
Instituição de formação: Universidade Federal do Amazonas – UFAM Manaus, AM, Brasil
e-mail: tenenteparente@gmail.com
3Tecnólogo em Radiologia, Pós graduação em Gestão em Saúde – MBA, Pós em Radioterapia e Medicina Nuclear
Instituição de formação: Instituto Federal do Piauí – IFPI. Endereço: Teresina, Piauí, Brasil.
E-mail: clarkhenryque@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0001-2210-4391
4Doutor em Ciências Sociais pela UEPG e Doutorando em Desenvolvimento Comunitário pela UNICENTRO
Instituição de formação: UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa E UNICENTRO Universidade Estadual do Centro Oeste Ponta Grossa, Pr, Brasil
E-mail: carloslopatiuk@yahoo.com.br
Orcid: https://orcid.org/0000-0001-5918-0657
5Acadêmica de Medicina
CENTRO UNIVERSITARIO CAMPO REAL, Guarapuava – PR
Universidade: CENTRO UNIVERSITARIO CAMPO REAL
Guarapuava, Pr, Brasil
E-mail: carla.emanuele2201@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0006-3293-6534
6Graduada em Medicina
Instituição de formação: Centro universitário de Várzea Grande
Endereço: Arapiraca, Alagoas, Brasil
E-mail: Pessoal.myllena@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0004-2833-3760
7Médica, Especialista em Medicina de Família e Comunidade
Instituição de formação: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Endereço: São Paulo, São Paulo, Brasil
E-mail: dra.patriciayoko@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0006-0408-8056
8Enfermeiro, Pós graduado em acupuntura
Formado pela instituição Anhanguera Educional
Endereço : Campos do Jordão SP Brasil
Email : cdeniseduardo@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0009-0008-5525-7432
9Acadêmica em Medicina
Instituição de formação: Centro Universitário Campo Real
Endereço: Ponta Grossa, PR Brasil
E-mail: elenizecavalheiro@gmail.com
10Médico, Generalista
Instituição de formação: Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte
Endereço: (Crato – Ceará, Brasil)
E-mail: filipemb6@gmail.com
Orcid: https://orcid.org/0000-0002-6938-4255