CORRELAÇÃO ENTRE OBESIDADE, SOBREPESO E COORDENAÇÃO MOTORA EM ESCOLARES

CORRELATION BETWEEN OBESITY, OVERWEIGHT AND MOTOR COORDINATION IN SCHOOLCHILDREN

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502281260


MONTENEGRO NETO, Asdrúbal Nóbrega1
PEREIRA, Gabriel Fernandes2
PORTELA, Alyne da Silva3
NEGÓCIO, Tatiana Petrucci4
MONTENEGRO, Rafael Petrucci Negócio5
MOURA, Stephanney Karolinne Mercer Souza Freitas6
MONTENEGRO, Ramon Cunha4


Resumo

A obesidade é um dos principais problemas de saúde pública mundial, com prevalência crescente no Brasil. Trata-se de uma doença crônica associada à elevada morbidade e mortalidade, além de ser um fator de risco cardiovascular independente. Este estudo descritivo e analítico, com abordagem quantitativa, investigou a relação entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora em escolares. A pesquisa foi realizada entre outubro e novembro de 2023, com 205 estudantes (90 do sexo feminino e 115 do masculino), de 7 a 14 anos, da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Rômulo Pires, em Sousa, Paraíba. Foram avaliados o índice de massa corporal e o nível de progresso motor por meio do Körperkoordenationstest für Kinder. A análise de dados utilizada o programa GraphPad Prism 10, com o teste de Kolmogorov-Smirnov para normalidade e a correlação de Spearman para relações entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora. Os resultados indicaram que 15,07% das crianças tinham sobrepeso e 19,04% obesidade; entre os adolescentes, 17,72% apresentaram sobrepeso e 11,39% obesidade. A maioria obteve indicativas de perturbações e insuficiências coordenativas. Houve relatos inversamente significativos (p<0,05) em três dos quatro grupos analisados, exceto entre adolescentes do sexo feminino (p>0,05). Esses resultados reforçam a necessidade de intervenções que considerem tanto o peso corporal quanto a capacidade motora em políticas de saúde pública voltadas para a infância e adolescência.

Abstract

Obesity is one of the world’s main public health problems, with a growing prevalence in Brazil. It is a chronic disease associated with high morbidity and mortality, as well as being an independent cardiovascular risk factor. This descriptive and analytical study, with a quantitative approach, investigated the relationship between obesity, overweight and motor coordination in schoolchildren. The research was carried out between October and November 2023, with 205 students (90 females and 115 males), aged between 7 and 14, from the Rômulo Pires Municipal School of Early Childhood Education and Primary Education, in Sousa, Paraíba. Body mass index and level of motor progress were assessed using the Körperkoordenationstest für Kinder. Data analysis used the GraphPad Prism 10 program, with the Kolmogorov-Smirnov test for normality and Spearman’s correlation for relationships between obesity, overweight and motor coordination. The results indicated that 15.07% of the children were overweight and 19.04% obese; among the adolescents, 17.72% were overweight and 11.39% obese. The majority had indications of coordination disorders and insufficiencies. There were inversely significant reports (p<0.05) in three of the four groups analyzed, except among female adolescents (p>0.05). These results reinforce the need for interventions that consider both body weight and motor capacity in public health policies aimed at children and adolescents.

Keywords: Risk factor. Health. Physical activity.

1 INTRODUÇÃO

A obesidade representa um dos maiores desafios para a saúde pública global, afetando bilhões de pessoas em todo o mundo. Trata-se de uma doença crônica multifatorial, associada a um aumento significativo da morbidade e mortalidade, além de constituir um fator de risco independente para doenças cardiovasculares (Brasil, 2021).

No Brasil, a prevalência do excesso de peso tem sido observada em todas as faixas etárias, incluindo crianças e adolescentes. Estudos realizados na região Nordeste indicam que mais de um quarto das crianças entre 5 e 9 anos apresentam excesso de peso, enquanto uma parcela significativa dos adolescentes entre 10 e 19 anos também são afetados (Brasil, 2021).

O sedentarismo, aliado ao consumo crescente de alimentos ultraprocessados e ricos em calorias, tem sido um dos principais fatores que contribuem para o aumento da obesidade na população brasileira, especialmente em contextos urbanos. Segundo Carlucci et al. (2013), a associação entre obesidade e sedentarismo constitui um fator de risco crítico para doenças cardiovasculares, evidenciando a necessidade de intervenções precoces. A redução da participação em atividades físicas entre crianças e adolescentes pode resultar em um déficit de experiências motoras, o que impacta negativamente o desenvolvimento da coordenação motora (CDC, 2023).

A coordenação motora é compreendida como um processo dinâmico de modificação dos níveis de desempenho físico ao longo da vida, influenciado tanto pelas experiências motoras vivenciadas quanto pelo desenvolvimento das capacidades funcionais individuais (Caetano et al., 2005). Durante a infância, ocorre a aquisição e aprimoramento de habilidades motoras, fundamentais para o controle do corpo e para a execução de movimentos essenciais, como locomoção e manipulação de objetos e instrumentos (Santos et al., 2004). Estudos apontam que crianças com sobrepeso ou obesidade tendem a apresentar um menor desempenho em testes motores, como o Teste de Coordenação Corporal para Crianças (KTK), desenvolvido por Kiphard e Schilling (1974) e amplamente utilizado na literatura para avaliação motora (Ribeiro et al., 2015).

O presente estudo dá continuidade ao projeto de pesquisa intitulado “Avaliação da Relação entre Obesidade, Sobrepeso e Coordenação Motora em Escolares”, submetido ao edital Interconecta 2020 do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) – Campus Sousa. O referido projeto teve início durante a pandemia da Covid-19, contudo, devido à alta taxa de evasão escolar e às restrições impostas pela emergência sanitária, sua continuidade foi inviabilizada (Montenegro Neto, 2020).

Diante do exposto, a presente pesquisa tem como questão norteadora: Qual é a relação entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora em escolares do município de Sousa, Paraíba? Parte-se da hipótese de que a obesidade e o sobrepeso impactam negativamente os níveis de coordenação motora em escolares, comprometendo seu desenvolvimento motor (Melo; Lopes, 2013). Segundo esses autores, existe uma relação inversa entre o índice de massa corporal e a coordenação motora em crianças, reforçando a importância de investigações nessa área.

A relevância deste estudo reside no fato de que a obesidade infantil, frequentemente associada ao sedentarismo, pode estar relacionada a um desenvolvimento insuficiente de habilidades motoras. Dessa forma, compreender essa relação pode contribuir para o aprimoramento de estratégias de intervenção na área da Educação Física Escolar. Assim, o objetivo geral da pesquisa é investigar a relação entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora em escolares, buscando fornecer subsídios para futuras ações de prevenção e promoção da saúde no contexto escolar.

2 METODOLOGIA

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo caracteriza-se como descritivo e analítico, com abordagem quantitativa, tendo como objetivo investigar a relação entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora em escolares. A pesquisa foi conduzida entre os meses de outubro e novembro de 2023.

2.2 AMOSTRA

A população investigada compreendeu estudantes matriculados no ensino fundamental da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Rômulo Pires, localizada na cidade de Sousa, estado da Paraíba. A amostra, de caráter intencional, foi composta por 205 escolares com idades entre 7 e 14 anos, estratificados por sexo e faixa etária.

Os critérios de inclusão adotados foram: idade entre 7 e 14 anos, matrícula ativa no ensino fundamental e participação regular nas aulas de Educação Física. Excluíram-se os alunos que apresentavam limitações físicas ou cognitivas que impedissem a execução segura dos testes físicos ou a compreensão das instruções.

2.3 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

Para a determinação do índice de massa corporal (IMC), utilizou-se uma balança antropométrica digital com estadiômetro. As medições foram realizadas com os participantes descalços e trajando roupas leves, em posição vertical, com os pés unidos. A classificação dos dados obtidos em peso normal, sobrepeso e obesidade seguiu os critérios estabelecidos pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC, 2023).

A avaliação da coordenação motora foi conduzida utilizando o Körperkoordinationstest für Kinder (KTK), um teste amplamente validado para a mensuração da coordenação motora em crianças (Kiphard; Schilling, 1974). O protocolo incluiu quatro provas motoras: Trave de Equilíbrio, Saltos Monopedais, Saltos Laterais e Transferências Laterais. Na primeira, os participantes caminharam para trás sobre traves de madeira de diferentes larguras (6 cm, 4,5 cm e 3 cm), sendo contabilizadas as tentativas sem contato com o solo. Na segunda, foram realizados saltos unilaterais sobre blocos de espuma de 5 cm de altura, acumulando pontos conforme o número de saltos bem-sucedidos. A terceira prova consistiu na execução de saltos laterais sobre uma régua de madeira por 15 segundos, e a última prova envolveu a transposição lateral entre duas plataformas de madeira durante 20 segundos, quantificando-se a quantidade de movimentos realizados (Gorla; Araújo; Rodrigues; 2014).

Os dados foram registrados em uma ficha padronizada, contendo informações sobre idade, sexo, ano letivo, turno escolar, peso, estatura e pontuação obtida nas provas do KTK. Essa abordagem metodológica permite avaliar com precisão o desempenho motor infantil e sua relação com fatores como sobrepeso e obesidade (Melo; Lopes, 2013).

2.4 PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS

Inicialmente, a pesquisa foi autorizada pela instituição escolar por meio de uma carta de anuência. Os alunos foram convidados a participar voluntariamente e encaminharam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos seus responsáveis legais.

A coleta de dados foi conduzida pelo pesquisador principal, que explicou os procedimentos aos participantes e agendou um dia específico para a realização das avaliações. Primeiramente, foi realizada a avaliação antropométrica para a determinação do IMC, seguida pela aplicação do teste de coordenação motora (KTK).

Durante todo o processo, os participantes foram acompanhados por um profissional de saúde, coordenador da pesquisa. Posteriormente, os pais e responsáveis foram informados sobre os resultados e a relevância da temática da obesidade infantil. Um artigo científico com os achados da pesquisa será submetido para publicação em um periódico acadêmico

2.5 TRATAMENTO E ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS DADOS

Para a análise de dados foi utilizado o programa GraphPad Prism 10. Os dados referentes a obesidade, sobrepeso e os níveis de coordenação motora, medidas através do IMC e dos resultados das provas do KTK e da Tabela de Classificação do QMT foram apresentados de forma descritiva e analítica em tabelas (Gorla; Araújo; Rodrigues; 2014).

Para verificação da normalidade da amostra foi aplicado o Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov no grupo de crianças e no grupo de adolescentes por sexo.

Para verificação da relação entre obesidade, sobrepeso e os níveis de coordenação motora, medidas através do IMC e resultados das provas do KTK e da Tabela de Classificação do QMT, respectivamente, será utilizado o teste estatístico de Spearman, sendo a classificação da obesidade categorizada da seguinte forma: baixo peso=1, peso normal=2, sobrepeso=3 e obesidade = 4.O Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov foi realizado em toda a amostra, e teve como resultado em toda a amostra não normal, por isso, foi utilizado o teste de Correlação de Spearman. O valor do P considerado como significante é P<0,05.

2.6 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

A pesquisa observou todos os critérios contidos na Resolução MS 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que delineia os procedimentos em atividades de pesquisa envolvendo seres humanos, sendo oportunamente submetido ao Comitê de Ética e Pesquisa Institucional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba sob o número 6.228.005 e aplicado o termo de consentimento livre e esclarecimento-TCLE aos pais dos alunos/participantes menores de idade. Deixando claro que foi mantido sigilo e participação voluntária.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Este é um estudo transversal, descritivo e analítico, com abordagem quantitativa, com o objetivo de investigar a relação entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora em escolares.

A pesquisa foi realizada no período de julho a novembro de 2023. A população estudada foi composta por 327 matriculados no ensino fundamental em uma escola pública localizada na cidade de Sousa, no estado da Paraíba. A amostra, do tipo intencional, foi composta por 205 estudantes, sendo 90 do sexo feminino e 115 do sexo masculino, na faixa etária de 7 a 14 anos.

A Tabela 1 apresenta a descrição do estado nutricional de crianças (7 a 11 anos e 11 meses) e adolescentes (12 a 14 anos e 11 meses) da amostra por sexo.

Tabela 1. Média do IMC de crianças e adolescentes da amostra estratificada por sexo.

IdadeMasculinoFemininoMédia (IMC) TotalDesvio Padrão (IMC) Total
7 a 11 anos e 11 meses15,60(n=72)15,75(n=54)70,34(n=126)14,96(n=126)
12 a 14 anos e 11 meses19,80(n=43)19,00(n=36)51,75(n=79)10,65(n=79)
Legenda: n= número de participantes; QMT= quociente motor total; KTK= teste de coordenação Körperkoordinationstest für Kinder. Fonte: próprio autor.

Com relação a classificação do estado nutricional considerando o IMC, o grupo de crianças do sexo masculino apresentou os seguintes resultados: (baixo peso: 3, peso normal: 48, sobrepeso: 9, obesidade:12), sendo que, o grupo feminino teve os seguintes resultados: (baixo peso: 0, peso normal: 32, sobrepeso: 10, obesidade: 12). Ou seja, 15,07% do total de crianças estudadas apresentou sobrepeso e 19,04% apresentaram obesidade.

Já o grupo de adolescentes do sexo masculino apresentou os seguintes resultados: (baixo peso: 2, peso normal: 27, sobrepeso: 7, obesidade: 7), sendo que, o grupo feminino teve os seguintes resultados: (baixo peso: 0, peso normal: 27, sobrepeso: 7, obesidade: 2). Ou seja, 17,72% do total de adolescentes estudados apresentou sobrepeso e 11,39% apresentaram obesidade.

Constatou-se que as prevalências de sobrepeso e obesidade na amostra estudada foram superiores as médias nacionais, obtidas em pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2021, a qual aponta que a obesidade atinge 12,9% das crianças entre cinco e dez anos, assim como, 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos (Brasil, 2021).

A Tabela 2 apresenta a classificação do nível de coordenação motora de acordo com a Classificação do Quociente Motor Total (QMT) do KTK de crianças (7 a 11 anos e 11 meses) e adolescentes (12 a 14 anos e 11 meses) da amostra por sexo.

Tabela 2. Média, Desvio Padrão e Moda do Quociente Motor Total do KTK de crianças e adolescentes da amostra estratificada por sexo.

IdadeMasculinoFemininoMédia (QMT) TotalDesvio Padrão (QMT) TotalModa (QMT) Total 
7 a 11 anos e 11 meses74,77(n=72)64,44(n=54)70,34(n=126)14,96(n=126)80(n=126) 
12 a 14 anos e 11 meses55,88(n=43)46,83(n=36)51,75(n=79)10,65(n=79)40(n=79) 
Legenda: n= número de participantes; QMT= quociente motor total; KTK= teste de coordenação Körperkoordinationstest für Kinder. Fonte: próprio autor.

Com relação ao nível de coordenação motora de acordo com Classificação do Quociente Motor Total (QMT) do KTK, , o grupo de crianças do sexo masculino apresentou os seguintes resultados: (Coordenação Alta: 0, Coordenação Boa: 0, Coordenação Normal: 15, Perturbações na Coordenação: 31, Insuficiência na Coordenação: 26), sendo que, o grupo feminino teve os seguintes resultados: (Coordenação Alta:0, Coordenação Boa: 0, Coordenação Normal: 4, Perturbações na Coordenação: 17, Insuficiência na Coordenação: 33).

Já o grupo de adolescentes do sexo masculino apresentou os seguintes resultados: (Coordenação Alta: 0, Coordenação Boa: 0, Coordenação Normal: 0, Perturbações na Coordenação: 6, Insuficiência na Coordenação: 37), sendo que, o grupo feminino teve os seguintes resultados: (Coordenação Alta: 0, Coordenação Boa: 0, Coordenação Normal: 0, Perturbações na Coordenação: 0, Insuficiência na Coordenação: 36).

Os valores das médias e modas do QM obtidos neste estudo mostram uma tendência para os meninos apresentarem, em todas as idades, melhor desempenho na coordenação motora do que as meninas (Gorla; Araújo; Rodrigues, 2014).

Verificou-se que os valores médios do QM obtidos nesta pesquisa são, em sua grande maioria, muito baixos, considerando o manual da bateria KTK, o que indica perturbações e insuficiência coordenativa (Gorla; Araújo; Rodrigues, 2014).

As Tabelas 3 e 4 apresentam a correlação entre o IMC e o Quociente Motor Total (QMT) do KTK de crianças (7 a 11 anos e 11 meses) e adolescentes (12 a 14 anos e 11 meses) da amostra por sexo.

Tabela 3. Correlação de Spearman entre o IMC e o Quociente Motor Total do KTK de crianças da amostra estratificada por sexo (n=126).

SexoCorrelação IMC e QMTValor do p
Masculinor = -0,3108(n=72)p = 0,0079
Femininor= -0,4513(n=54)p = 0, 0006
Legenda: n= número de participantes; IMC= índice de massa corporal; QMT= quociente motor total; KTK= teste de coordenação Körperkoordinationstest für Kinder. Fonte: próprio autor.

Tabela 4: Correlação de Spearman entre o IMC e o Quociente Motor Total do KTK de adolescentes da amostra estratificada por sexo (n=79).

SexoCorrelação IMC e QMTValor do p
Masculinor = -0,5156(n=43)p = 0, 0004
Femininor= -0,4513(n=54)p = 0, 0006
Legenda: n= número de participantes; IMC= índice de massa corporal; QMT= quociente motor total; KTK= teste de coordenação Körperkoordinationstest für Kinder. Fonte: próprio autor.

Verificou-se que, no grupo das crianças, ambos os sexos apresentaram uma correlação inversa entre IMC e o QMT considerada significativa (p<0,05). Esta correlação é inversa e considerada moderada.

Com relação ao grupo de adolescentes, ocorreu correlação entre o IMC e o QMT considerada significativa (p<0,05), apenas para o sexo masculino. Esta correlação é inversa e considerada forte.

Constatou-se que os valores de correlação são semelhantes entre os sexos, apenas no grupo de crianças, assim como no estudo de Mello e Lopes (2013).

Diante do que foi exposto, constatou-se que a amostra apresenta uma elevada frequência de indivíduos obesos e com sobrepeso, assim como, alta frequência de indivíduos com níveis de QM baixos, indicando perturbações e insuficiência coordenativa. Verificou-se que o nível de coordenação motora está correlacionado de forma inversa com o IMC, no grupo das crianças, em ambos os sexos, e no grupo de adolescentes, apenas para o sexo masculino. Na amostra estudada, crianças e adolescentes obesos e com sobrepeso, de ambos os sexos, apresentam níveis menores de coordenação motora do que as crianças e adolescentes com peso normal.

Um estudo semelhante a este realizado em Portugal buscou analisar a associação entre o índice de massa corporal (IMC) e a coordenação motora (CM) em 794 crianças de ambos os sexos com idades compreendidas entre os seis e os nove anos de idade, a análise estatística mostrou que houve uma associação negativa significativa entre o IMC e o QM em todas as idades e em ambos os sexos, ou seja, quanto maior o IMC, menor o QM e, portanto, menor o nível de desenvolvimento coordenativo (Melo; Lopes, 2013).

Outro estudo semelhante que buscou avaliar a coordenação corporal de 283 crianças (divididas por faixa etária e sexo, com idade entre 6 e 8 anos e 11 meses) da área urbana do município de Umuarama-Paraná, verificou-se uma diferença significativa a nível de p<0,05, além disso, sugerem que a coordenação motora e obesidade podem ser influenciadas por fatores genéticos e ambientais, como o estilo de vida das pessoas e a falta de oportunidades de exploração dos movimentos naturais, bem como, vale salientar a importância de conteúdos pedagógicos que utilizem atrativos motivantes quanto promoção da saúde na escola (Gorla; Araújo; Rodrigues, 2008).

Uma revisão bibliográfica sobre a utilização do teste KTK na coordenação motora de crianças brasileiras, também buscou identificar padrões de referência, um dos padrões identificados foi uma correlação entre o desenvolvimento de habilidades motoras e o estilo de vida ativo de crianças (Ribeiro et al., 2012).

4 CONCLUSÃO

Os resultados revelaram uma associação significativa entre o índice de massa corporal e o Quociente Motor Total do teste KTK, sugerindo que crianças e adolescentes com sobrepeso ou obesidade tendem a apresentar níveis mais baixos de coordenação motora.

Essas descobertas têm implicações importantes para a promoção da saúde e o desenvolvimento físico e motor de crianças e adolescentes. O aumento da prevalência de obesidade infantil é uma preocupação global, e nosso estudo reforça a importância de abordar não apenas o aspecto do peso corporal, mas também a capacidade motora em programas de intervenção e políticas de saúde pública.

A constatação de que a coordenação motora está correlacionada com o IMC destaca a necessidade de intervenções precoces para promover a atividade física e o desenvolvimento motor em crianças com excesso de peso. Além disso, a identificação de perturbações e insuficiência coordenativa em uma parte significativa dos estudantes da amostra destaca a importância de considerar a coordenação motora como um componente vital da saúde física e bem-estar.

Portanto, os resultados deste estudo fornecem uma base sólida para futuras pesquisas e para o desenvolvimento de programas de prevenção e intervenção direcionados à promoção de um estilo de vida saudável em escolares. Ao entender a interligação entre obesidade, sobrepeso e coordenação motora, podemos tomar medidas mais eficazes para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento físico de nossas crianças e adolescentes.

REFERÊNCIAS

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1 Docente do Curso de Licenciatura em Educação Física do IFPB Campus Sousa, Paraíba/Brasil, e-mail: asdrubal.montenegro@ifpb.edu.br

2 Discente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB, Paraíba/Brasil.

3 Docente do Curso de Farmácia do Centro Universitário UNIFACISA, Paraíba/Brasil, e-mail: alyne.portela@unifacisa.edu.br

4 Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB, Paraíba/Brasil.

5 Discente do Curso Superior de Educação Física do Centro Universitário UNIESP, Paraíba/Brasil, e-mail:rafaelpetruccinm@gmail.com

6 Docente Centro Universitário UNIESP, Paraíba/Brasil, e-mail: stephanneymoura@gmail.com