DEMOGRAPHIC AND EPIDEMIOLOGICAL ANALYSIS OF DEATH FROM LIVER CIRRHOSIS: TEMPORAL DELINEATION
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ch10202502262027
Higor Fernandes Pereira¹; Antônio Custodio Ferreira Neto¹; José Joaquim Laurindo Filho¹; Isadora Wanderley Araújo¹; Maria Clara Machado Borges¹; Kaio Gabriel Lopes Gonçalves De Oliveira¹; Ingrid Matos Bezerra¹; Murilo Rodrigues Da Silva¹; Rafael Sampaio Luna Grangeiro¹; Jadsonn Souza De Melo²
RESUMO
Introdução: A cirrose hepática é uma condição crônica que representa um desafio significativo para a saúde pública global, dada a sua alta morbimortalidade e impacto econômico. No Brasil, os fatores predominantes associados ao desenvolvimento da cirrose incluem o abuso de álcool, hepatites virais e a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA). Objetivos: Descrever o perfil e taxa de óbito por cirrose hepática nos anos de 2019 a 2023 no Brasil. Método: O estudo adotou um delineamento retrospectivo, descritivo e quantitativo, utilizando dados secundários extraídos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), disponível no DATASUS. A amostra incluiu todos os registros de óbitos por cirrose hepática no Brasil, entre 2019 e 2023. As variáveis analisadas foram sexo, faixa etária, cor/raça, estado civil, região geográfica de residência e ano do óbito. A análise dos dados foi realizada por meio de técnicas estatísticas descritivas, com o uso de gráficos e tabelas para a interpretação dos resultados. Resultados: Foram registrados 47.444 óbitos por cirrose hepática no período analisado. A maior prevalência de mortes ocorreu entre homens (71,01%) e em indivíduos com idades entre 55 e 74 anos. A Região Sudeste concentrou a maior proporção de óbitos (51,07%), seguida pela Região Nordeste (19,87%). Os anos de 2021 (10.072 óbitos) e 2022 (9.592 óbitos) apresentaram os maiores registros de mortalidade. Conclusão: A cirrose hepática continua a ser uma importante causa de morte no Brasil, com uma alta incidência nas faixas etárias mais avançadas e predominância masculina. A variação nas taxas regionais reflete desigualdades no acesso ao cuidado e nas prevalências de fatores de risco.
Palavras-chave: Cirrose Hepática; Mortalidade Doenças; Epidemiologia;
1. INTRODUÇÃO
A cirrose hepática é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, de grande relevância clínica e social devido à significativa morbimortalidade global e ao impacto que exerce no sistema de saúde (Franco, 2024). Caracteriza-se como um estágio avançado de fibrose hepática, resultante de agressões crônicas ao fígado, que culminam na substituição progressiva do tecido hepático funcional por cicatrizes, comprometendo a capacidade funcional do órgão. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças hepáticas crônicas, incluindo a cirrose, estão entre as principais causas de morte em nível global (Anna et al., 2022).
Diversos fatores contribuem para o desenvolvimento da cirrose hepática, sendo os mais comuns a infecção crônica pelo vírus da hepatite B ou C, o consumo abusivo de álcool e a doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) (Costa et al., 2021). Estudos como o de Mokdad et al. (2016), que analisaram a carga global das doenças hepáticas, demonstraram o impacto crescente da DHGNA e da cirrose alcoólica em países em desenvolvimento, onde as mudanças no estilo de vida e nos padrões alimentares têm exacerbado os fatores de risco associados. No Brasil, dados do Ministério da Saúde indicam que o consumo de álcool ainda é o principal fator associado à cirrose, embora o aumento da obesidade e do sedentarismo esteja elevando os casos relacionados à DHGNA (Franco, 2024).
A pertinência da doença transcende o campo médico e se conecta a desafios maiores enfrentados pela sociedade, como o aumento das doenças crônicas não transmissíveis, os custos associados ao tratamento e a desigualdade no acesso a cuidados especializados. A progressão silenciosa da cirrose, frequentemente assintomática até fases avançadas, sublinham a necessidade de estratégias de prevenção e diagnóstico precoce. Além disso, seu impacto econômico é considerável, uma vez que o tratamento envolve desde medicamentos de alto custo, como os antivirais para hepatite C, até intervenções mais complexas, como o transplante hepático (Fratoni et al., 2024).
Portanto, essa condição é uma das principais causas de morbidade e mortalidade globalmente, representando uma carga significativa para os sistemas de saúde e para a sociedade em geral. Estima-se que a condição contribua para aproximadamente 2 milhões de mortes por ano em todo o mundo, sendo cerca de metade atribuída às complicações diretas da cirrose e a outra metade relacionada a carcinoma hepatocelular, que frequentemente surge como uma consequência da cirrose em estágios avançados. A prevalência global da doença varia amplamente entre as regiões, refletindo diferenças nos fatores de risco predominantes, como infecções virais, consumo de álcool e obesidade (Javaid et al., 2022).
Com isso, torna-se necessário que estados e regiões brasileiras se manterem atualizados sobre suas taxas de óbitos em decorrência a essa doença, para identificar necessidades de estratégias de saúde pública direcionadas para a prevenção e manejo adequado da cirrose hepática. Investir no rastreamento e tratamento precoce, bem como na redução dos fatores de risco modificáveis, é fundamental para reduzir o impacto desta condição no nível populacional. Portanto, este estudo tem o objetivo de descrever o perfil e taxa de óbito por cirrose hepática nos anos de 2019 a 2023 no Brasil.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com dados do Global Burden of Disease (GBD), a carga atribuída à cirrose hepática tem aumentado em vários países, especialmente devido ao impacto crescente da DHGNA (Filho et al., 2024). Em 2020, a DHGNA foi responsável por até 20% dos casos de cirrose em países desenvolvidos, enquanto nos países em desenvolvimento, as hepatites virais, especialmente as causadas pelos vírus B e C, continuam sendo as causas mais comuns. No Brasil, as doenças hepáticas são responsáveis por 3% de todas as mortes no Brasil, o que equivale a aproximadamente uma em cada 33 mortes no país (Guimarães et al., 2024). Embora o controle de infecções por hepatites B e C tenha avançado, há uma preocupação crescente com o aumento da obesidade e do consumo de álcool (Souza et al., 2021).
A mortalidade relacionada à cirrose é frequentemente subestimada devido à falta de diagnóstico em estágios iniciais, uma vez que a doença pode permanecer assintomática por longos períodos. Entretanto, quando a doença progride para descompensação, incluindo ascite, encefalopatia hepática e hemorragia varicosa, os desfechos clínicos são graves (Santos et al., 2024). Estudos populacionais indicam que a taxa de mortalidade em um ano para pacientes com cirrose descompensada pode alcançar 57%. Por outro lado, a sobrevida de pacientes com cirrose compensada é significativamente maior, ressaltando a importância de intervenções precoces (Lopes et al., 2024).
3. METODOLOGIA
3.1 Tipo de Estudo
Este estudo caracteriza-se como retrospectivo, descritivo e com abordagem quantitativa. Estudos retrospectivos analisam dados previamente coletados, permitindo o levantamento de informações históricas e a identificação de padrões sem a necessidade de coleta direta de novos dados (Soares et al., 2018).
A abordagem descritiva buscou detalhar os aspectos demográficos, clínicos e temporais relacionados aos óbitos, sem intervenções experimentais ou tentativa de identificar relações de causalidade. Este tipo de análise é fundamental para compreender como o problema da cirrose hepática se manifesta na população brasileira, considerando os fatores sociodemográficos e geográficos que envolvem o desfecho estudado (Knechtel, 2014).
A utilização de dados secundários foi uma estratégia central deste estudo, recorrendo a registros administrativos e fontes oficiais de saúde para explorar informações anteriormente coletadas e organizadas. Essa abordagem é vantajosa, pois é economicamente eficiente e adequada a contextos em que a coleta primária seria inviável ou desnecessária (Soares et al., 2018).
3.2 Local e População
Os dados abrangem todas as regiões do Brasil e incluem indivíduos que faleceram por cirrose hepática no período de 2019 a 2023. A população-alvo inclui tanto homens quanto mulheres, de todas as idades, cujos óbitos foram registrados com diagnóstico de cirrose hepática, segundo o CID-10.
3.3 Variáveis
As seguintes variáveis foram consideradas no estudo: Demográficas: idade, sexo, raça/cor, local de ocorrência e região geográfica de residência (divisão por macrorregiões brasileiras: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul). Temporais: anos de registro dos óbitos entre 2019 e 2023.Epidemiológicas: taxa de óbitos padronizada, ajustada por faixa etária e sexo.
3.4 Critérios de Inclusão e Exclusão
Critérios de Inclusão: Registros de óbitos por cirrose hepática no Brasil, durante o período de 2019 a 2023, incluindo qualquer faixa etária e ambos os sexos. Critérios de Exclusão: Registros incompletos ou inconsistentes (ex.: ausência de informações sobre causa de morte, local ou ano de ocorrência). Casos diagnosticados fora do período especificado.
3.5 Coleta de Dados
Os dados foram extraídos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) disponível no DATASUS (https://datasus.saude.gov.br/informacoes-de-saude-tabnet/). Foram coletadas variáveis relacionadas à causa de morte (CID-10), idade, sexo, local de residência, local do óbito e ano de ocorrência.
A coleta foi realizada por dois pesquisadores de forma independente para garantir a consistência dos dados, utilizando planilhas do Microsoft Excel para organização e triagem. Após a extração, os registros foram revisados e validados para corrigir eventuais discrepâncias e assegurar sua precisão.
3.5 Análise de Dados
Os dados foram analisados por meio de técnicas estatísticas descritivas e organizados em tabelas e gráficos para facilitar a interpretação. As etapas do processo de análise incluíram: Cálculo da taxa de óbitos, ajustada por faixa etária e sexo, em cada ano do período analisado. Comparação das taxas de mortalidade por região geográfica, destacando variações e disparidades. Identificação de tendências temporais e padrões epidemiológicos relacionados à cirrose. As análises foram realizadas utilizando os softwares Microsoft Excel (versão 2013) e outros programas estatísticos, quando necessário.
3.7 Aspectos Éticos
Este estudo foi conduzido com base em dados secundários e de acesso público, anonimizados, conforme disponibilizado por fontes governamentais. Assim, não foi necessária a aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), de acordo com a Resolução nº 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde. Os dados foram utilizados de forma ética, garantindo o respeito à privacidade dos indivíduos e com rigor metodológico para evitar distorções.
4. RESULTADOS E DISCURSSÕES
Tabela 01. Características sociodemográficas de óbitos por cirrose hepática no Brasil nos últimos cinco anos (2019 a 2023). Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM/DATASUS.
Observa-se na tabela 01, em relação ao sexo, a maioria dos óbitos ocorreu entre homens, totalizando 33.690 casos (71,01%), enquanto as mulheres representaram 13.754 casos (28,99%). A análise da faixa etária demonstra que os óbitos são mais frequentes em adultos e idosos, com destaque para o grupo entre 55 e 64 anos, com 12.960 casos (27,33%), e 65 a 74 anos, com 12.063 casos (25,44%). As faixas de 45 a 54 anos (8.666 casos; 18,27%) e 75 anos ou mais (8.952 casos; 18,87%) também apresentaram números significativos. Em contrapartida, as faixas etárias pediátricas (menores de 15 anos) apresentaram números residuais, com apenas 74 casos.
Quanto à cor/raça, indivíduos brancos concentraram o maior número absoluto de óbitos (23.401; 49,37%), seguidos por pardos (18.913; 39,90%). Pessoas pretas contabilizaram 3.755 óbitos (7,93%), enquanto as categorias indígenas (153; 0,32%) e amarela (246; 0,52%) apresentaram menores frequências.
Em relação ao estado civil, pessoas casadas representaram a maior proporção de óbitos, com 17.213 casos (36,33%), seguidas pelos solteiros (13.619 casos; 28,74%). Óbitos entre viúvos (6.208; 13,09%) e separados judicialmente (5.114; 10,79%) foram menos frequentes. A análise do local de ocorrência revela que a maioria dos óbitos ocorreu em hospitais (38.293 casos; 80,79%), seguido por domicílios (5.418 casos; 11,44%).
Tabela 02. Total de óbitos distribuído em cinco (2019 a 2023) por cirrose hepática no Brasil. Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM/DATASUS.
Na tabela 02, foi possível evidenciar um total de 47.444 óbitos, com significativa heterogeneidade regional. A Região Sudeste concentrou o maior número absoluto de mortes (24.232 óbitos; 51,07% do total), seguida pelas regiões Nordeste (9.427; 19,87%), Sul (7.277; 15,34%), Centro-Oeste (3.394; 7,15%) e Norte (3.114; 6,56%).
No Norte, o Pará destaca-se como o estado mais afetado, acumulando 1.472 mortes (47,27% dos óbitos da região). Amazonas contribuiu com 701 óbitos (22,51%). Os menores números ocorreram em Acre (133 óbitos; 4,27%) e Roraima (113; 3,63%).
O Nordeste com 9.427 óbitos, a Bahia apresentou os maiores números (2.415; 25,62% da região), seguida pelo Ceará (1.985; 21,04%) e Pernambuco (1.044; 11,07%). Já Sergipe (387 óbitos; 4,10%) e Alagoas (436; 4,62%) registraram as menores frequências.
A região Sudeste liderou em óbitos no país. O estado de São Paulo acumulou a maioria dos casos, com 13.584 óbitos (56,07% da região), seguido por Minas Gerais (5.683 óbitos; 23,45%). Espírito Santo apresentou os menores números da região, com 875 óbitos (3,61%).
Já no Sul, o Paraná contou com a maior parte dos óbitos (3.011; 41,39%), seguido pelo Rio Grande do Sul (2.981; 40,96%). Santa Catarina registrou 1.285 óbitos (17,65%), apresentando os menores valores da região.
Na região Centro-Oeste, Goiás liderou com 1.613 óbitos (47,52%), seguido por Mato Grosso (703 óbitos; 20,71%) e Mato Grosso do Sul (685; 20,18%). O Distrito Federal registrou o menor número, com 393 óbitos (11,57%).
Gráfico 01. Distribuição total anual dos óbitos por cirrose hepática no Brasil nos últimos cinco anos (2019 a 2023). Fonte: Sistema de Informação de Mortalidade – SIM/DATASUS.
A distribuição total anual dos óbitos apresentou variações modestas ao longo do período. O maior número de óbitos foi registrado em 2021, com 10.072 casos, o que representa 21,23% do total do período, seguido por 2022, com 9.592 óbitos (20,22%). Os anos de 2019 e 2020 apresentaram números ligeiramente menores, com 9.506 (20,03%) e 9.027 (19,03%) óbitos, respectivamente. Já 2023 registrou o menor número de óbitos dentro do período, com 9.247 casos, representando 19,49% do total.
A cirrose hepática permanece como uma das principais causas de morbimortalidade global, refletindo tanto em impactos diretos sobre a saúde dos pacientes quanto em custos significativos para os sistemas de saúde. O presente estudo alinha-se aos achados da literatura internacional e destacam variações regionais e demográficas relevantes, bem como tendências temporais que reforçam a importância de estratégias de intervenção adaptadas ao contexto local.
Os dados evidenciam que homens são significativamente mais afetados, com 71,01% dos óbitos registrados. Esse padrão pode ser enfrentado com políticas públicas que enfoquem programas de educação e prevenção voltados especificamente para a redução do consumo abusivo de álcool entre homens, como campanhas educativas sobre os riscos do álcool em ambientes majoritariamente masculinos, tais como canteiros de obras ou eventos esportivos (Fonseca et al., 2022).
Além disso, intervenções comunitárias que promovam o acesso a serviços de saúde para diagnóstico e tratamento precoce da cirrose podem reduzir o seu impacto na comunidade. Esse predomínio masculino é frequentemente associado a maiores taxas de consumo abusivo de álcool entre homens, conforme relatado por Mokdad et al. (2016), além da prevalência de condições como hepatite B e C nessa população. O uso de álcool segue como o principal fator de risco no Brasil, embora o crescimento da obesidade e do sedentarismo também estejam elevando os casos de DHGNA, o que reflete a transição epidemiológica observada em países em desenvolvimento (Mokdad et al. 2016).
A distribuição etária dos óbitos reforça a natureza progressiva da cirrose, com maior frequência entre adultos mais velhos (55-64 anos: 27,32%; 65-74 anos: 25,44%). A ausência de um rastreamento eficaz e o diagnóstico tão somente em estágios avançados são fatores que perpetuam altos índices de mortalidade, como já destacado por Charlton (2016), que observou que a maior parte dos pacientes com cirrose só apresenta sintomas clínicos quando a função hepática encontra-se significativamente comprometida. A sobrevida limitada de indivíduos com cirrose descompensada, conforme relatado na literatura (57% de mortalidade em um ano, em estudos populacionais), demanda intervenções precoces voltadas para prevenção e manejo (Charlton, 2016).
A distribuição por cor/raça, destacando a maior prevalência entre indivíduos brancos (49,32%) e pardos (39,85%), pode estar relacionada a aspectos socioeconômicos e de acesso aos serviços de saúde. Estudos como os de Wang et al. (2019) discutem que desigualdades raciais afetam o diagnóstico precoce e o acesso ao tratamento, especialmente em países de ampla desigualdade social, como o Brasil. Adicionalmente, fatores genéticos e ambientais também podem influenciar o desenvolvimento da doença.
Geograficamente, os resultados apontam uma concentração acentuada de óbitos na região Sudeste, que registrou mais de 50% do total (24.232 óbitos). Essa prevalência reflete tanto o maior contingente populacional da região quanto as condições que facilitam o consumo de álcool e as complicações metabólicas, principais fatores etiológicos da cirrose no país. Por outro lado, as regiões Norte e Nordeste apresentaram as menores taxas de mortalidade, levando em consideração o ajuste pela população. Deve-se considerar que, nessas regiões, fatores como subnotificação e acesso limitado a serviços especializados podem mascarar a magnitude do problema. A infraestrutura de saúde menos desenvolvida nesses territórios pode limitar o diagnóstico precoce e o acompanhamento clínico de casos (Franco, 2024).
Investimentos direcionados na capacitação de profissionais, na ampliação de centros de referência e no fortalecimento de sistemas de registro de óbitos são essenciais para mitigar possíveis disparidades e melhorar a acurácia das informações sobre a cirrose nessas áreas (Anna et al., 2022; Fratoni et al., 2024).
A evolução temporal dos dados sugere um declínio modesto nos óbitos ao longo do período analisado, culminando em 2023 com 9.247 mortes, o menor valor no intervalo de cinco anos. Este achado contrasta com o cenário global observado por Franco (2024), em que o aumento nos fatores de risco modificáveis, como obesidade e diabetes, vem impulsionando um crescimento sustentado na mortalidade por cirrose. No entanto, o impacto da pandemia de COVID-19 entre 2020 e 2022 precisa ser considerado, já que as mudanças nos padrões de atendimento, internações e sobrecarga do sistema de saúde durante este período podem ter contribuído tanto para a subnotificação quanto para o atraso nos diagnósticos de cirrose (Santos et al., 2024). Além disso, a redistribuição de recursos de saúde para o manejo da pandemia pode ter limitado o acesso a tratamentos e rastreamentos de doenças hepáticas, potencialmente mascarando a verdadeira extensão da mortalidade por cirrose no país (Lopes et al., 2024).
A literatura destaca que intervenções abrangentes são cruciais para conter o impacto da cirrose hepática. Medidas de prevenção primária, como campanhas de conscientização sobre o consumo de álcool e estratégias para o manejo de obesidade e sedentarismo, devem ser priorizadas. Além disso, o controle de hepatites virais, por meio da ampliação da vacinação e tratamento antiviral, desempenha papel central na redução dos casos (Brito et al., 2022; Gonçalves et al., 2021).
Quanto à mortalidade, a alta proporção de óbitos em ambientes hospitalares (80,71%) indica a necessidade de fortalecimento da assistência terciária e de cuidados paliativos em pacientes em estágios terminais. Para Huber et al. (2020), o manejo hospitalar da cirrose frequentemente se depara com um ciclo de internações recorrentes, resultando em custos elevados e prognósticos sombrios. A abordagem integrada à saúde do fígado, com equipes multiprofissionais, representa uma solução para melhorar os desfechos.
5. CONCLUSÃO
Conclui-se que a cirrose hepática segue sendo uma causa significativa de óbitos no Brasil, com uma predominância no sexo masculino e em faixas etárias mais avançadas. Em termos regionais, a Região Sudeste apresentou o maior número absoluto de óbitos, especialmente no estado de São Paulo, seguida pela Região Nordeste, destacando-se a Bahia e o Ceará. Além disso, observou-se uma notável concentração de mortes em hospitais, refletindo o perfil de agravo da doença.
A análise ao longo do período de 2019 a 2023 revelou uma estabilidade no número total de óbitos anuais, com o pico ocorrido em 2021, e uma leve redução em 2023. A heterogeneidade regional é evidente, com algumas unidades federativas apresentando números mais elevados, particularmente no Norte e Nordeste. Tornando evidente a necessidade de estudos objetivando entender as limitações e adversidades enfrentadas com cada região em específico, visando melhorar e facilitar o rastreio e diagnóstico precoce destes doentes em uma fase de fibrose inicial. Com isso, possibilitar o desenvolvimento de políticas públicas focadas na prevenção, diagnóstico e tratamento adequado dessa doença, considerando as variações regionais e demográficas encontradas, visando à redução da mortalidade associada à cirrose.
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Autor1
Prof. Orientador2