EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE POR DOENÇAS DO APARELHO CIRCULATÓRIO E NEOPLASIAS NO DISTRITO FEDERAL (2010-2019): PADRÕES DEMOGRÁFICOS, IMPACTOS CIRÚRGICOS E DESAFIOS PARA O SUS

EVOLUTION OF MORTALITY DUE TO CIRCULATORY SYSTEM DISEASES AND NEOPLASMS IN THE FEDERAL DISTRICT (2010-2019): DEMOGRAPHIC PATTERNS, SURGICAL IMPACTS AND CHALLENGES FOR THE SUS

EVOLUCIÓN DE LA MORTALIDAD POR ENFERMEDADES Y NEOPLASIAS DEL APARATO CIRCULATORIO EN EL DISTRITO FEDERAL (2010-2019): PATRONES DEMOGRÁFICOS, IMPACTOS QUIRÚRGICOS Y DESAFÍOS PARA EL SUS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202502261356


Karoliny Alves Santos
Kathiane Magalhães Mendes


RESUMO: As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), especialmente as Doenças do Aparelho Circulatório (DAC) e neoplasias, são as principais causas de mortalidade no Brasil. Este estudo analisa o perfil de mortalidade por essas doenças no Distrito Federal entre 2010 e 2019, considerando sexo, faixa etária e raça. Método: Estudo descritivo e transversal, utilizando dados do DATASUS. Foram analisadas taxas de mortalidade por DAC e neoplasias segundo a CID-10, com estatística descritiva para apresentação dos resultados. Objetivos: Avaliar a tendência da mortalidade por DAC e neoplasias no Distrito Federal, identificando padrões segundo variáveis demográficas e discutir os custos cirúrgicos dessas doenças e seu impacto na gestão hospitalar. Resultados: Registraram-se 13.359 óbitos por DAC e 8.688 por neoplasias. As DAC permaneceram como principal causa de morte, mas a mortalidade por neoplasias apresentou tendência crescente. A mortalidade prematura foi maior em neoplasias (64,3%) do que em DAC (49%). Foram observadas disparidades raciais na mortalidade, evidenciando desigualdade no acesso à saúde. Além disso, os custos cirúrgicos para essas doenças impactam significativamente a sustentabilidade do SUS, exigindo maior planejamento e investimentos. Conclusão: Os achados indicam transição epidemiológica, com aumento da mortalidade por neoplasias. Destaca-se a necessidade de políticas públicas para equidade no acesso à saúde, otimização dos centros cirúrgicos e implementação de estratégias preventivas para reduzir essas mortes e minimizar os impactos financeiros no sistema público de saúde.

Descritores: Doenças Cardiovasculares; Neoplasias; Mortalidade; Epidemiologia; Sistemas de Informação em Saúde; Sistema Único de Saúde.

Descriptors: Cardiovascular Diseases; Neoplasms; Mortality; Epidemiology; Health Information Systems; Unified Health System.

Descriptores: Enfermedades Cardiovasculares; Neoplasias; Mortalidad; Epidemiología; Sistemas de Información en Salud; Sistema Único de Salud.

Introdução

Com o aumento da expectativa de vida ao longo do último século observou-se uma importante mudança no perfil epidemiológico da sociedade global, como a transição da prevalência de doenças infectocontagiosas para Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT). De acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), os custos com as DCNT nos países de baixa e média renda como o Brasil, estão estimados em sete trilhões de dólares entre os anos de 2011 e 2025 (WHO, 2022).

A intensidade do impacto socioeconômico dessas doenças está diretamente relacionada ao nível de pobreza dos países, uma vez que populações menos favorecidas estão mais expostas a fatores de risco para as DCNT e possuem mais limitações para o acesso ao tratamento e serviços de saúde de qualidade. Essa realidade corrobora com a estatística de mortalidade prematura a qual aponta que 85% das mortes por DCNT entre pessoas de 30 e 69 anos de idade ocorrem em países de baixa e média renda (WHO, 2021).

Durante muitas décadas as Doenças do Aparelho Circulatório (DAC) lideraram o ranking das primeiras causas de mortalidade no Brasil e no mundo. Em 2015 estimou-se uma taxa de aproximadamente 31% de óbitos por doenças cardiovasculares ocorridos no mundo. Entre os anos de 2013 e 2018 a região sudeste registrou o maior número de casos de mortes no Brasil. Este fato reflete a efetividade do serviço de saúde no território brasileiro, em especial a atenção primária, pois com medidas de promoção e prevenção, pode-se reduzir riscos de mortes e até evitar a DAC (OLIVEIRA, 2020).

No que se refere aos países desenvolvidos, a partir do século XX evidenciou-se um declínio progressivo da taxa de mortalidade por DAC e em algumas capitais brasileiras também pôde-se identificar o mesmo comportamento entre os anos de 2000 e 2015, acompanhado por um aumento discreto da taxa de mortalidade por neoplasias (de Andrade et al, 2020).

De acordo com um estudo que objetivou analisar as taxas de mortalidade de 1996 a 2017 da população entre 35 e 74 anos de idade no Brasil, concluiu-se que as doenças cardiovasculares ainda eram a principal causa de morte, porém com perspectiva de superação das mortes por câncer em poucos anos (MANSUR, 2021).

Contudo, apesar do avanço tecnológico e social que tem contribuído para melhorias na saúde da população, sabe-se que há disparidades raciais importantes com relação as taxas de mortalidade por tais doenças crônicas. De acordo com uma pesquisa realizada nos Estados Unidos e publicado pela American Heart Association (AHA), os afro-americanos têm uma taxa de mortalidade por doenças cardiovasculares significativamente maior do que brancos não hispânicos. Isso é atribuído a uma série de fatores, incluindo maior prevalência de fatores de risco, como hipertensão arterial e diabetes, bem como acesso limitado a cuidados médicos de qualidade (VIRANI, 2021).

Considerando a taxa de mortalidade por neoplasias e as disparidades raciais, observa-se por meio dos estudos, uma variação de acordo com o tipo de câncer. Em alguns casos, afro-americanos têm taxas de mortalidade mais altas do que brancos não hispânicos, enquanto em outros casos, as diferenças são menos evidentes (NCI, 2022).

A fim de se identificar mudanças no perfil de mortalidade da população que possam repercutir em alterações de políticas públicas em saúde, este estudo objetivou analisar os dados epidemiológicos sobre a mortalidade por DAC e neoplasias no Distrito Federal entre os anos de 2010 e 2020, por sexo, faixa etária e raça.

Método

Estudo descritivo e transversal, que buscou analisar as taxas de mortalidade por DAC e neoplasias no Distrito Federal, considerando sexo, faixa etária e raça, sendo incluídos indivíduos menores que um ano até 80 anos ou mais, no período entre janeiro de 2010 e dezembro de 2020. Objetivou-se, também, discutir os impactos desses óbitos no Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo custos relacionados a procedimentos cirúrgicos com base em dados da literatura científica.

Os dados foram coletados no site do DATASUS pertencente ao Ministério da Saúde (MS), por meio do banco de morbidade hospitalar do SUS (Sistema Único de Saúde) por local de residência, sendo selecionado o Distrito Federal. As informações foram obtidas pela seleção dos óbitos por lista de morbidades de acordo com a Classificação Internacional das Doenças (CID) -10 (BRASIL, 2022).

Definiu-se o grupo de doenças do aparelho circulatório com base no capítulo IX da CID-10, o qual é composto pelos seguintes subitens: Febre reumática aguda (I00-I02); Doença reumática crônica do coração  (I05-I09); Hipertensão essencial primária (I10); Outras doenças hipertensivas (I11-I15); Infarto agudo do miocárdio (I21-I22); Outras doenças isquêmicas do coração (I20, I23-I25) Embolia pulmonar (I26); Transtornos de condução e arritmias cardíacas (I44-I49); Insuficiência cardíaca (I50); Outras doenças do coração (I27-I43, I51-I52); Hemorragia intracraniana (I60-I62); Infarto cerebral (I63); Acidente vascular cerebral, não especificado como hemorrágico ou isquêmico  (I64); Outras doenças cerebrovasculares  (I65-I69); Ateroesclerose (I70); Outras doenças vasculares periféricas (I73); Embolia e trombose arteriais  (I74); Outras doenças das artérias, arteríolas e capilares (I71-I72, I77-I79); Flebite, tromboflebite, embolia e trombose venosa   (I80-I82); Veias varicosas das extremidades inferiores (I83); Hemorróidas (I84); Outras doenças do aparelho circulatório (I85-I99) (BRASIL, 2022).

Paras as doenças neoplásicas foram utilizadas as subcategorias do capítulo II da CID-10, as quais são: Neoplasia maligna do lábio, cavidade oral e faringe (C00-C14); Neoplasia maligna do esôfago (C15); Neoplasia maligna do estômago (C16); Neoplasia maligna do cólon (C18);  Neoplasia maligna da junção retossigmóide, reto, ânus e canal anal     (C19-C21); Neoplasia maligna do fígado e das vias biliares intra-hepáticas (C22); Neoplasia maligna do pâncreas (C25); Outras neoplasias malignas de órgãos digestivos (C17, C23-C24, C26); Neoplasias malignas de laringe (C32); Neoplasia maligna da traquéia, dos brônquios e dos pulmões (C33-C34); Outras neoplasias malignas de órgãos respiratórios e intratorácicos (C30-C31, C37-C39); Neoplasia maligna do osso e da cartilagem articular (C40-C41); Neoplasia maligna da pele  (C43); Outras neoplasias malignas da pele (C44); Neoplasias malignas do tecido mesotelial e tecidos moles (C45-C49); Neoplasia maligna da mama (C50); Neoplasia maligna do colo do útero (C53); Neoplasia maligna de outras porções e de porções não especificadas do útero (C54-C55); Outras neoplasias malignas dos órgãos genitais femininos (C51-C52, C56-C58); Neoplasia maligna da próstata (C61); Outras neoplasias malignas dos órgãos genitais masculinos (C60, C62-C63); Neoplasia maligna da bexiga (C67); Outras neoplasias malignas do trato urinário  (C64-C66, C68); Neoplasia maligna dos olhos e anexos (C69); Neoplasia maligna do encéfalo (C71); Neoplasia maligna de outras partes do sistema nervoso central       (C70, C72); Neoplasias malignas de outras localizações, de localização mal definida, secundárias e de localização não especificada (C73-C80, C97); Doença de Hodgkin (C81); Linfoma não-Hodgkin (C82-C85); Leucemia (C91-C95); Outras neoplasias malignas de tecidos linfóide, hematopoético e relacionados   (C88-C90, C96); Carcinoma in situ de colo do útero (D06); Neoplasia benigna da pele (D22-D23); Neoplasia benigna da mama (D24); Leiomioma do útero (D25); Neoplasia benigna do ovário (D27); Neoplasia benigna dos órgãos urinários (D30); Neoplasia benigna do encéfalo e de outras partes do sistema nervoso central (D33); Outras neoplasias in situ e neoplasias benignas e neoplasias de comportamento incerto ou desconhecido (D00-D05, D07-D21, D26, D28-D29, D31-D32, D34-D48) (BRASIL, 2022).

Os dados foram tabulados no Programa Microsoft Excel®, versão 2016, sendo analisados por meio de estatística descritiva, demonstrados por frequência absoluta e relativa em gráficos.

Utilizou-se a definição adotada pelo Ministério da Saúde (MS) a respeito da mortalidade precoce e/ou prematura por DCNT a qual corresponde a faixa etária entre 30 e 69 anos, como parâmetro de comparação e análise dos dados obtidos neste estudo (BRASIL, 2021).

Segundo a Resolução nº 510 de 7 de abril de 2016, por se tratar de uma pesquisa que utilizou dados de domínio público o estudo não necessitou da apreciação por um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

Resultados

A partir dos dados coletados entre os anos de 2010 e 2020 foram identificadas 13359 mortes por DAC, sendo a maior causa os Transtornos de condução e arritmias cardíacas com 4443 (33,2%), seguida da Insuficiência Cardíaca (IC) com 2596 (19,4%) e em terceiro pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC) não especificado, causando 1823 (13,6%) óbitos.

A média de mortalidade por DAC entre 2010 e 2020 foi de 1214,45 óbitos por ano, sendo a média dos primeiros anos, 2010 a 2015, igual a 952,0, menor quando comparado os anos entre 2016 e 2020 com 1529,4. O ano que apresentou maior número de mortes foi 2020 com 2125 (15,9%) óbitos, o menor foi o ano de 2012 com 869 (6,5%) óbitos.

Com relação a causa de morte por faixa etária, prevaleceram como principais causas no grupo entre zero e 29 anos de idade os transtornos de condução e arritmias cardíacas com 259 óbitos (45,2%), seguida pela insuficiência cardíaca com 127 óbitos (22,2 %) e hemorragia intracraniana com 50 óbitos (8,7 %).

No grupo entre 30 e 69 anos de idade, a principal causa de morte também foram os transtornos de condução e arritmias cardíacas com 2193 mortes (33,3%), seguida pela IC com 1189 óbitos (18,1%). O IAM prevaleceu no grupo entre 50 anos ou mais com 901 mortes, a qual corresponde a 89,5% dos óbitos por essa causa no período.

Iniciando a análise da mortalidade por neoplasias, identificou-se que o número de mortes por câncer foi de 8688 entre 2010 e 2020, sendo a mais comum a neoplasia maligna de traqueia, brônquios e pulmão 8,6% (746), a segunda e a terceira causas foram neoplasia maligna mama com 8,1% (708) e neoplasia maligna do estômago com 632 (7,3 %), respectivamente.

A média de mortes por neoplasias foi de 789,8 óbitos por ano, demonstrando um aumento gradativo da mortalidade entre 2010 até 2019, com pequenas quedas no número de mortalidade nos anos de 2012 e 2017, com pico de mortalidade em 2019, ano no qual ocorreram 1122 mortes, que corresponde a 12,9% da taxa de mortalidade por neoplasias no recorte temporal deste estudo, conforme a Figura 1.

Figura 1. Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório e Neoplasias no Distrito Federal entre 2010 e 2020. Distrito Federal, DF, Brasil, 2024

 *DAC = Doenças do Aparelho Circulatório.

Fonte: Elaborado pelos autores.

De acordo com a distribuição das causas de mortalidade por faixas etárias, a leucemia foi a principal causa morte neoplásica entre indivíduos de zero a 29 anos de idade, com 125 óbitos que correspondem a 26,0 % das mortes nesse grupo. Já na faixa entre 30 e 59 anos, o câncer de mama foi a principal causa de morte por doença neoplásica com 588 mortes (10,5 %).

A mortalidade precoce por DAC, ocorridas em indivíduos entre 30 e 69 anos foi de 6585, correspondendo 49,0 % dos óbitos nesse período pelo mesmo grupo de causas. Já as ocorrências de mortalidade tardia entre indivíduos maiores de 70 anos, foram de 6284 mortes (46,7%). Crianças, adolescentes e jovens adultos até 29 anos, totalizaram 573 mortes nesse período, correspondendo a 4,3% das ocorrências. A mortalidade em homens foi maior em todas as faixas etárias, exceto em indivíduos menores de um ano e maiores de 80 anos, quando comparados às mortes por DAC em mulheres. Tais dados estão dispostos na Figura 2 a seguir.

Figura 2. Mortalidade por Doenças do Aparelho Circulatório entre 2010 e 2020, por sexo e faixa etária. Distrito Federal, DF, Brasil, 2024

Fonte: Elaborado pelos autores.

A Figura 3 ilustra a mortalidade por neoplasias de acordo com a faixa etária. A ocorrência em indivíduos entre 30 e 69 anos foi de 5618 (64,3 %). Já em indivíduos maiores de 70 anos foi de 2634 (30,2 %). O predomínio das mortes em indivíduos acima de 30 anos foi do sexo feminino, exceto na faixa etária entre 60 e 79 anos, na qual ocorreu uma discreta superação da mortalidade por indivíduos do sexo masculino.

 Figura 3. Mortalidade por neoplasias entre 2010 e 2020, por sexo e faixa etária. Distrito Federal, DF, Brasil, 2024

Fonte: Elaborado pelos autores.

Observou-se a partir dos dados que a mortalidade por DAC em indivíduos entre 30 e 69 anos no Distrito Federal entre 2010 e 2020, ainda superou as mortes por neoplasias nessa faixa etária no mesmo período, correspondendo respectivamente a 6585 (54,0 %) e 5618 (46,0 %) óbitos, como mostrado na Figura 4.

Figura 4. Mortalidade por neoplasias e doenças do aparelho circulatório por faixa etária, entre 2010 e 2020. Distrito Federal, DF, Brasil, 2024

 *DAC = Doenças do Aparelho Circulatório

Fonte: Elaborado pelos autores.

Com relação a distribuição da mortalidade por cor/raça, observou-se muitos registros sem essa informação, comprometendo tal análise. Entretanto, dos casos com cor/raça registrados identificou-se que 1171 mortes por neoplasias, foram de pessoas pardas e negras, correspondendo à 66,0% dos óbitos ocorridos por essa natureza no período, comparada a 556 (31,3%) mortes de pessoas brancas e 48 óbitos de pessoas amarelas ou indígenas (2,7%).

Avaliando os registros de mortalidade por DAC, sendo considerado apenas os registros de morte com a raça declarada, observou-se a ocorrência de 2014 mortes, correspondendo à 72,8% dós óbitos de mesma natureza, 702 mortes de indivíduos brancos (25,4%) e 49 mortes de pessoas amarelas ou indígenas (1,8%). Tais informações estão melhor dispostas na figura 5 a seguir.

Figura 5. Mortalidade por neoplasias e doenças do aparelho circulatório por raça/cor, entre 2010 e 2020. Distrito Federal, DF, Brasil, 2024

*DAC = Doenças do Aparelho Circulatório

Fonte: Elaborado pelos autores.

Discussão

A transição epidemiológica no Brasil segue um padrão semelhante ao observado em países desenvolvidos, onde a mortalidade por doenças do aparelho circulatório tem diminuído progressivamente, enquanto a mortalidade por neoplasias tem apresentado crescimento. Esse fenômeno é resultado do envelhecimento populacional e da melhora no diagnóstico e tratamento das DAC (WHO, 2021).

Os dados do estudo indicam que, apesar da redução da taxa de mortalidade por DAC em algumas regiões, o Distrito Federal ainda enfrenta um aumento de óbitos por essas doenças. Fatores como acesso desigual aos serviços de saúde, prevalência de hábitos de vida não saudáveis e desigualdades socioeconômicas impactam diretamente esses números (MANSUR, 2021).

Em países desenvolvidos, como Estados Unidos e Canadá, a implementação de políticas públicas de prevenção e tratamento precoce contribuiu para a redução da mortalidade por DAC. No Brasil, apesar dos avanços na atenção primária, ainda há desafios na detecção precoce e no manejo adequado dessas doenças (VIRANI, 2021).

O crescimento da mortalidade por neoplasias segue a tendência global, impulsionado pelo envelhecimento populacional e pelo aumento da exposição a fatores de risco ambientais e comportamentais, como tabagismo e obesidade (NCI, 2022). O Brasil enfrenta desafios significativos na ampliação do acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento oportuno de diferentes tipos de câncer (WHO, 2021).

Os custos com cirurgias cardiovasculares e oncológicas representam uma parcela significativa dos gastos do SUS. Procedimentos como angioplastias, revascularizações do miocárdio e cirurgias para remoção de tumores consomem bilhões de reais anualmente, exigindo melhor gestão dos recursos (BRASIL, 2021).

A sobrecarga dos centros cirúrgicos do SUS é um problema crítico, com longas filas de espera para procedimentos de alta complexidade. A concentração de serviços especializados em grandes centros urbanos dificulta o acesso da população residente em áreas remotas, aumentando a desigualdade na oferta de tratamento (LIMA; VELASCO; SANTOS, 2022).

A regionalização dos serviços de saúde tem sido uma estratégia eficaz para descentralizar os atendimentos de alta complexidade e reduzir as desigualdades no acesso às cirurgias cardiovasculares e oncológicas. Além disso, a qualificação da gestão hospitalar e o fortalecimento da rede de atenção primária são fundamentais para minimizar a demanda por procedimentos cirúrgicos de emergência (MALTA et al., 2011).

Estudos demonstram que investimentos em prevenção e diagnóstico precoce podem reduzir significativamente a necessidade de cirurgias de grande porte. Campanhas de rastreamento e incentivo a hábitos saudáveis, como alimentação equilibrada e prática regular de exercícios, são essenciais para controlar os fatores de risco das DAC e do câncer (WHO, 2021).

A desigualdade racial na mortalidade por DAC e neoplasias reflete uma realidade estrutural do sistema de saúde brasileiro. Populações negras e pardas apresentam maior prevalência dessas doenças e menor acesso a diagnósticos e tratamentos adequados, o que reforça a necessidade de políticas públicas voltadas à equidade na saúde (NCI, 2022).

O financiamento do SUS para procedimentos de alta complexidade precisa ser revisto, considerando o impacto econômico das DCNTs e o crescimento da demanda por cirurgias cardiovasculares e oncológicas. Modelos de financiamento misto e parcerias público-privadas podem contribuir para melhorar a oferta desses serviços (BRASIL, 2021).

A ampliação da infraestrutura dos centros cirúrgicos e a capacitação de profissionais da saúde são medidas urgentes para garantir a eficiência e a segurança dos procedimentos de alta complexidade no SUS. Além disso, estratégias de gestão hospitalar baseadas em dados epidemiológicos podem otimizar os recursos disponíveis e reduzir desperdícios (WHO, 2021).

O estudo reforça a importância de políticas de longo prazo que integrem prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz das DCNTs. Programas de educação em saúde e ampliação do acesso a exames preventivos são estratégias fundamentais para reduzir a carga dessas doenças no sistema de saúde brasileiro (VIRANI, 2021).

A incorporação de novas tecnologias na medicina diagnóstica e terapêutica tem potencial para melhorar os desfechos clínicos e reduzir a mortalidade por DAC e neoplasias. No entanto, a adoção dessas tecnologias precisa ser acompanhada de estratégias de financiamento sustentável e de protocolos clínicos baseados em evidências (WHO, 2021).

Conclusão

O presente estudo demonstrou que as DAC ainda são a principal causa de mortalidade no Distrito Federal, mas a tendência de aumento da mortalidade por neoplasias sinaliza uma transição epidemiológica. A crescente demanda por tratamentos de alta complexidade impõe desafios para a gestão do SUS, exigindo medidas para ampliar o acesso e otimizar os recursos disponíveis.

Os elevados custos com cirurgias cardiovasculares e oncológicas reforçam a necessidade de investimentos em prevenção e diagnóstico precoce. Além disso, a regionalização dos serviços especializados e a qualificação da gestão hospitalar são fundamentais para garantir a equidade no atendimento.

Por fim, políticas públicas voltadas à redução das desigualdades sociais e raciais no acesso à saúde devem ser priorizadas, garantindo que toda a população tenha acesso a um sistema de saúde eficiente e inclusivo.

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