IMPACTO DO USO EXESSIVO DE REDES SOCIAIS NA SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DE LITERATURA

THE IMPACT OF EXCESSIVE SOCIAL MEDIA USE ON ADOLESCENTMENTAL HEALTH: AN INTEGRATIVE LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502251051


Maria Edilene de Carvalho Sousa¹
Luana Mota Martins²
Adriana Quaresma de Souza Carvalho³
Darlan Oliveira de Moura Leite⁴
Daniel Wallace de Paula Marques Ribeiro Paes Landim⁵
Francisca Rosa Matos⁶
Hortência Lustosa da Silva⁷


RESUMO

O uso das redes sociais tem se consolidado como um fenômeno global, transformando a forma como as pessoas se comunicam, se relacionam e acessam informações, especialmente entre adolescentes, que lideram o tempo de uso dessas plataformas. Com o avanço da tecnologia e a crescente acessibilidade a dispositivos digitais, como smartphones e tablets, o tempo de exposição a essas mídias tem aumentado significativamente, gerando preocupações quanto aos impactos desse hábito na saúde mental. O estudo objetivou descrever os efeitos psicológicos associados a essa interação intensa, por meio de uma análise detalhada da literatura para identificar padrões de uso e os comportamentos mais comuns na adolescência. Este estudo utilizou uma revisão integrativa de literatura. As buscas foram realizadas nas bases Science Direct, MEDLINE via PubMed e LILACS via BVS, utilizando descritores como “Saúde mental”, “Adolescência” e “Redes Sociais”, combinados pelo operador booleano AND, no período de 2019 e 2024, disponíveis em português ou inglês, e relacionados ao tema. Foram incluídos 8 estudos, que evidenciaram fatores como ansiedade e depressão entre adolescentes que fazem uso excessivo de redes sociais. Os adolescentes utilizam predominantemente WhatsApp, Instagram e YouTube, motivados pela busca por conexão social e validação. Conclui-se que o uso excessivo das redes sociais está relacionado a transtornos psicológicos e comportamentais, ressaltando a necessidade de estratégias preventivas e educativas para mitigar esses impactos.

Palavras-Chave: Adolescentes; Redes Sociais; Saúde Mental.

ABSTRACT

The use of social media has established itself as a global phenomenon, transforming how people communicate, interact, and access information, especially among adolescents, who lead in platform usage time. With technological advancements and the increasing accessibility of digital devices such as smartphones and tablets, exposure to these media has grown significantly, raising concerns about its impact on mental health. This study aimed to describe the psychological effects associated with this intense interaction through a detailed literature analysis to identify usage patterns and the most common behaviors during adolescence. An integrative literature review was conducted, with searches performed in the Science Direct, MEDLINE via PubMed, and LILACS via BVS databases, using descriptors such as “Mental health,” “Adolescence,” and “Social Networks,” combined with the Boolean operator AND, for the period between 2019 and 2024, in Portuguese or English, and related to the topic. Eight studies were included, highlighting factors such as anxiety and depression among adolescents who excessively use social media. Adolescents predominantly use WhatsApp, Instagram, and YouTube, driven by the pursuit of social connection and validation. It is concluded that excessive social media use is associated with psychological and behavioral disorders, emphasizing the need for preventive and educational strategies to mitigate these impacts.

Keywords: Adolescents; Social Media; Mental Health.

1  INTRODUÇÃO

O uso das mídias sociais é um fenômeno relativamente recente e está cada vez mais presente na vida da sociedade, especialmente entre os adolescentes que são a faixa etária que mais utilizam a internet. As inovações tecnológicas e o surgimento de smartphones, tablets, iPads, notebooks e TV’s permitiram que o acesso a esses dispositivos e às redes sociais fossem cada vez mais acessíveis à população (Souza; Cunha, 2020).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE (2019), 70% dos brasileiros tem acesso à internet, o que torna o Brasil o segundo país que ocupa o maior tempo conectado, somando em média 9 horas e 29 minutos por dia, demonstrando a possível correlação entre o tempo de uso das redes e o surgimento de problemas emocionais e interpessoais.

No Brasil, atualmente, estima-se que há cerca de 134 milhões que pessoas que usam a internet, desse total 24,3 milhões são crianças e adolescentes, o que representa 86% do total de adolescentes que pertencem a essa faixa etária. Esses dados também apontam para o aumento da exposição precoce aos aparelhos eletrônicos, no qual que podem oferecer benefícios e prejuízos ao desenvolvimento psicossocial dos adolescentes (Portugal; Souza, 2020).

Neste sentido, o uso da internet apresentou aumento na frequência e intensidade, tornando um instrumento que proporciona distração, prazer e entretenimento, facilitando o processo de comunicação. Entretanto, a quantidade de tempo que os adolescentes tem sido expostos ao uso de telas está relacionada ao surgimento de doenças psiquiátricas (Vieira et al., 2020). Diante desse cenário, surge a questão: qual é o impacto do uso excessivo de redes sociais na saúde mental dos adolescentes?

Desta forma, os adolescentes, por estarem em fase de desenvolvimento, são mais vulneráveis a prejuízos emocionais, comportamentais e sociais quando expostos excessivamente às redes sociais. Durante essa fase da vida, eles estão em processo de formação de sua personalidade e, em muitos casos, ainda não possuem a maturidade cognitiva necessária para lidar com os perigos impostos por essas plataformas (Lorenzon et al., 2021).

Neste ínterim, a realização deste estudo justificou-se pela relevância social de compreender os impactos do uso excessivo das redes sociais na saúde mental dos adolescentes, que pode levar a transtornos como depressão, ansiedade, distorção corporal e ideação suicida, além de problemas interpessoais e dependência tecnológica (Favotto et al., 2019). Essas consequências destacam a importância de uma análise aprofundada dos efeitos negativos dessas plataformas. Academicamente, esta pesquisa contribui para o desenvolvimento de um conhecimento mais robusto e embasado, essencial para compreender as implicações biopsicossociais do uso inadequado das redes sociais, fortalecendo o debate científico nessa área.

Diante da crescente influência das redes sociais na vida dos adolescentes, tornou-se essencial compreender como o uso excessivo dessas plataformas impacta a saúde mental desse grupo. Este trabalho buscou descrever os efeitos psicológicos associados a essa interação intensa, por meio de uma análise detalhada da literatura para identificar padrões de uso e os comportamentos mais comuns na adolescência. Além disso, foram investigados os transtornos mentais frequentemente relacionados ao uso excessivo das redes sociais e os fatores que contribuem para essa interação constante, com o intuito de entender o que motiva o uso excessivo dessas plataformas.

2  MÉTODO

Este estudo trata-se de uma revisão integrativa de literatura de enfoque exploratório e caráter qualitativo, que segundo Moreira et al. (2020) compreende a um tipo de pesquisa no campo das revisões bibliográfica que busca selecionar e avaliar por meio de um método minucioso de análises, pesquisas cientificas de caráter qualitativo e quantitativo de grande relevância para o tema estudado, para uma compreensão ampla do fenômeno estudado.

Ademais, a pesquisa foi estruturada nas seguintes fases (1) elaboração do problema de pesquisa (2) busca de informações nas bases de dados (3) análise das informações obtidas na literatura (4) discussão dos resultados (5) apresentação da revisão integrativa (Souza, 2021).

A pesquisa foi realizada nas seguintes bases de dados: Science Direct via Elsevier, Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE via PUBMED) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS via BVS), por meio dos Descritores em Ciência e Saúde (DeSC) “Saúde mental”, “Adolescência” e “Redes Sociais” e seus respectivos termos em inglês: “Mental health”, “Adolescence” e “Social Networks”. E combinando entre si pelo operador booleano AND.

Os critérios de inclusão foram artigos publicados em português ou inglês, disponíveis na íntegra, no período de 2019 a 2024. Enquanto os critérios de exclusão foram os artigos que fossem duplicados, os que não dissertavam a temática especificamente e aqueles que estavam fora do recorte temporal.

Após a busca nas bases de dados, iniciou-se uma triagem preliminar dos estudos, onde foram avaliados os títulos e resumos para selecionar apenas aqueles que se alinhavam aos objetivos da pesquisa. Seguiu-se com uma leitura completa dos artigos que passaram pela triagem inicial para determinar quais seriam incluídos na amostra final. Os estudos selecionados foram analisados em detalhes, considerando a relevância e a qualidade metodológica de cada um.

3  RESULTADOS

Após a utilização da combinação descritores em português e inglês, a busca nas bases de dados identificou 4.724 registros. Aplicando os critérios de inclusão previamente estabelecidos, 3.654 registros foram excluídos, reduzindo o número para

1.070 artigos. Entre estes, 26 foram removidos por duplicidade, e outros 1.022 foram descartados após uma análise preliminar dos títulos e resumos, pois não atendiam ao tema central deste estudo. Consequentemente, 22 artigos foram selecionados para leitura completa. Após uma avaliação criteriosa, 14 artigos foram excluídos por não cumprirem os critérios de inclusão da revisão, resultando na inclusão de apenas 8 artigos na revisão integrativa (Figura 1).

Fonte: Autora (2024).

Após uma análise detalhada dos artigos selecionados, foram sintetizados os principais aspectos de cada estudo, organizados no Quadro 1 apresentado a seguir.

Quadro 1 – Caracterização dos Estudos Incluídos: Autor(es), Tipo de Estudo, Amostra, País e Redes Sociais

Autor(es) / AnoTipo de EstudoAmostraPaísRedes sociais
Andrade et al. (2021)Quantitativo, transversal466 adolescentes (9-17 anos)BrasilNão especificadas, foco no uso geral da internet.
Barros et al. (2021)Quantitativo, transversal200 participantes (12-35 anos; 11 adolescentes de 12-17 anos)BrasilNão especificadas, foco no uso   de             dispositivos eletrônicos em geral.
Beeres et al. (2021)Longitudinal, painel3.501 adolescentes (14- 15 anos no início)SuéciaNão                              especificadas, referidas  como                  “redes sociais”.
Nunes et al. (2021)Quantitativo, transversal286 adolescentes (15-19 anos)BrasilNão                      mencionadas explicitamente, foco no uso de smartphones.
Pereira et al. (2022)Descritivo, qualitativo8 adolescentes (14-17 anos)BrasilWhatsApp,                          Instagram, YouTube, jogos online
  Luiz (2023)Quantitativo, transversal311 adolescentes (15 a 18 anos)  BrasilWhatsApp,                          Instagram, YouTube,                              TikTok, Facebook,                          Snapchat, Twitter.
Marin e Almeida (2024)Quantitativo, transversal48 adolescentes (15-18 anos)BrasilRedes    sociais   foram             a principal finalidade de uso da internet (93,8%).
Rudolf e Kim (2024)Longitudinal, painel2.588 adolescentes (1º ano do ensino médio)Coreia do SulTwitter,                          Facebook, Instagram    (citado                   como “SNS”).

Fonte: Autora (2024).

Os estudos analisados no Quadro 1 apresentam uma diversidade metodológica, geográfica e de amostragem, fornecendo uma visão ampla sobre o impacto do uso de redes sociais entre adolescentes. Foram incluídos oito estudos, sendo seis realizados no Brasil, um na Coreia do Sul e outro na Suécia. As amostras totalizaram mais de 7.400 adolescentes, com idades variando entre 9 e 19 anos, abrangendo uma ampla faixa etária representativa do público jovem. Os métodos empregados incluem delineamentos quantitativos transversais, longitudinais de painel e qualitativos descritivos.

Entre os estudos quantitativos transversais, Luiz (2023) investigou 311 adolescentes brasileiros, detalhando o uso de plataformas específicas como WhatsApp, Instagram, YouTube, TikTok, Facebook, Snapchat e Twitter. Nunes et al. (2021) analisaram 286 adolescentes com foco no uso geral de smartphones, enquanto Andrade et al. (2021) incluiu 466 adolescentes e explorou o impacto do uso geral da internet, sem especificar redes sociais. Barros et al. (2021) também seguiu um desenho transversal, estudando 200 participantes (dos quais 11 eram adolescentes), com ênfase no uso de dispositivos eletrônicos em geral. Marin e Almeida (2024), com uma amostra menor de 48 adolescentes, destacaram que 93,8% utilizavam redes sociais como principal atividade na internet, sem detalhar plataformas específicas.

Os estudos longitudinais de painel contribuíram com análises temporais. Rudolf e Kim (2024), com 2.588 adolescentes sul-coreanos, identificaram padrões de uso em plataformas específicas como Twitter, Facebook e Instagram, referidas como “SNS” (serviços de redes sociais). Beeres et al. (2021) acompanharam 3.501 adolescentes suecos, investigando o impacto do tempo de uso de redes sociais em comportamentos psicológicos e sociais ao longo de três anos. Por fim, Pereira et al. (2022) adotaram uma abordagem qualitativa descritiva com 8 adolescentes brasileiros, explorando percepções e experiências relacionadas ao uso de redes sociais e jogos online.

A caracterização das redes sociais varia entre os estudos. Luiz (2023) e Rudolf e Kim (2024) detalharam plataformas específicas, enquanto outros, como Andrade et al. (2021) e Barros et al. (2021), mencionaram o uso geral da internet ou dispositivos eletrônicos. Marin e Almeida (2024) destacaram o uso predominante de redes sociais, mas sem especificar quais plataformas. Essa variabilidade reflete as diferenças nos objetivos de pesquisa, com alguns estudos focados em plataformas específicas e outros em padrões mais amplos de uso tecnológico.

Os  delineamentos transversais  predominam, fornecendo   uma  visão instantânea sobre os padrões de uso e seus efeitos. No entanto, os estudos longitudinais, como os de Rudolf e Kim (2024) e Beeres et al. (2021), permitem uma análise mais robusta das mudanças ao longo do tempo, identificando tendências e associações de longo prazo. Já o estudo qualitativo de Pereira et al. (2022) aprofunda a compreensão das experiências subjetivas, complementando os dados quantitativos. O Quadro 2 detalha os padrões de uso, comportamentos associados e fatores motivacionais identificados nos estudos, oferecendo uma análise aprofundada das dinâmicas relacionadas ao uso de redes sociais entre adolescentes.

Quadro 2 – Padrões de uso, comportamentos e fatores motivacionais

Autor(es) / AnoPadrões de UsoComportamentos AssociadosFatores Motivacionais
  Andrade et al. (2021)17% com uso problemático da internet (PIU); média de 32,9 pontos no IAT para não-problemáticos e 61,7 para problemáticos.Impacto negativo relatado em atividades diárias; sintomas de estresse mais elevados entre PIU.Conectividade social, uso                  prolongado noturno.
  Barros et al. (2021)75,5% usaram dispositivos por mais de 5 horas/dia; 70% relataram olhos secos após o uso.  Fadiga ocular, insônia, sensação de olhos secos, irritados e visão turva.Uso prolongado à noite, dependência  de dispositivos       para atividades   diárias e lazer.
Beeres et al. (  Andrade et al. (2021))Uso médio diário de 2,7 horas (meninas) e 1,8 horas (meninos); aumento ao longo dos três anos.Maior prevalência de problemas de conduta e hiperatividade em usuários intensivos.Busca de conexão social, passividade no uso de redes sociais.
  Nunes et al. (2021)Uso médio semanal de 5,8 horas e de 8,8 horas nos finais de semana; 70,3% com dependência do smartphone.Queixas frequentes de dores cervicais, redução nas horas de sono.Busca de interação social, uso prolongado noturno.
  Pereira et al. (2022)  Uso diário superior a 7 horas, predominando o celular  Socialização online, consumo de conteúdos diversos, procrastinaçãoNecessidade  de pertencimento e interação social, praticidade, busca por lazer e informação
    Luiz (2023)Uso diário médio de 8,21 horas no celular; 33,7% postam todos os dias; 61% sofreram ou presenciaram cyberbullying.Maior prevalência de ansiedade e depressão em vítimas de cyberbullying; uso intenso  de  WhatsApp  e Instagram.Necessidade  de conexão social; busca por validação social através das redes.
  Marin e Almeida (2024)54,2% usaram internet por mais de 6 horas/dia; 60,4% relataram  uso  de  redes sociais como atividade mais frequente.  Inatividade física, insônia e impulsividade.  Conexão social, uso frequente para lazer e pesquisa escolar.
  Rudolf e Kim (2024)Uso médio diário de 2,16h (meninas) e 1,98h (meninos);   14%   das meninas usam mais de 4h/dia.Depressão, ideação suicida mais prevalente em meninas; ansiedade em menores níveis entre meninos.Necessidade  de validação social, medo de exclusão (FoMO).

Fonte: Autora (2024).

Os padrões de uso, comportamentos associados e fatores motivacionais analisados nos oito estudos fornecem uma visão abrangente sobre o impacto das redes sociais e dispositivos digitais entre adolescentes. Todos os oito estudos destacaram padrões de uso, com tempos médios variando amplamente, e também descreveram comportamentos e motivações associados ao uso excessivo.

Todos os oito estudos documentaram o tempo de uso como um aspecto central. Luiz (2023) relatou um uso diário médio de 8,21 horas, enquanto estudos como os de Nunes et al. (2021) e Barros et al. (2021) identificaram maior intensidade nos finais de semana e períodos noturnos. Estudos longitudinais, como Rudolf e Kim (2024) e Beeres et al. (2021), apontaram um aumento progressivo no tempo de uso ao longo dos anos, com meninas apresentando tempos significativamente maiores do que meninos.

Oito estudos descreveram comportamentos prejudiciais associados ao uso intensivo de dispositivos e redes sociais. Luiz (2023) e Andrade et al. (2021) destacaram impactos psicológicos, como ansiedade e estresse. Nunes et al. (2021) e Barros et al. (2021) enfatizaram sintomas físicos, como fadiga ocular e dores cervicais. Rudolf e Kim (2024) relataram maior prevalência de depressão e ideação suicida em meninas, enquanto Pereira et al. (2022) exploraram a procrastinação e o consumo excessivo de conteúdos como comportamentos predominantes.

Os oito estudos também identificaram fatores motivacionais para o uso excessivo. A busca por conexão social foi um tema central em Luiz (2023), Marin e Almeida (2024) e Pereira et al. (2022). Rudolf e Kim (2024) introduziram o medo de exclusão social (FoMO), enquanto Barros et al. (2021) destacou a dependência de dispositivos para atividades diárias e recreativas. Três estudos (Luiz, 2023; Marin e Almeida, 2024; Pereira et al., 2022) relataram a busca por validação social como um motivador importante.

Os resultados dos estudos revelam uma convergência significativa em relação ao impacto do uso prolongado de redes sociais e dispositivos digitais. Todos os oito estudos destacaram padrões de uso e fatores motivacionais associados a impactos psicológicos e físicos, reforçando a necessidade de intervenções que promovam o equilíbrio no uso de redes sociais

O Quadro 3 apresenta uma síntese dos efeitos psicológicos, transtornos identificados e fatores agravantes destacados nos estudos analisados, evidenciando o impacto do uso excessivo de redes sociais na saúde mental dos adolescentes.

Quadro 3 – Efeitos psicológicos e transtornos relacionados

Autor(es) / AnoEfeitos PsicológicosTranstornos IdentificadosFatores Agravantes
  Andrade et al. (2021)  28,9% com ansiedade, 24,5% com estresse, 22,7% com depressão.Sem diferenças significativas entre PIU e não-PIU, mas PIU relatou maior estresse em atividades diárias.  Tempo prolongado online, percepção de impacto negativo no cotidiano.
  Barros et al. (2021)Ansiedade ao ficar sem smartphone, insônia ocasional em 32,5%, depressão ocasional em 31,5%.  Dependência de dispositivos eletrônicos.Uso prolongado de telas à noite, falta de pausas regulares no uso de dispositivos.
Beeres et al. (2021)Problemas de conduta e hiperatividade em usuários frequentes.Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sintomas de problemas de conduta.Uso prolongado, especialmente passivo.
  Nunes et al. (2021)Menos horas de sono (média de 6,6 horas por noite), aumento de dores cervicais.Transtorno mental comum (TMC), suspeito em 52,4% dos participantes.Uso excessivo nos finais de semana, idade mais jovem.
Pereira et al. (2022)Ansiedade, insônia, dores visuaisAnsiedade, distúrbios de sono, problemas posturaisExposição prolongada à tela, falta de atividades offline, uso noturno
Luiz (2023)55% com ansiedade (HADS-A ≥ 11); 20,6% com depressão (HADS-D ≥ 11); 80% com dificuldades de sono-vigília.Ansiedade, depressão, distúrbios do sono (94% com sono abaixo de 6h/noite).Presença de TV no quarto aumenta  ansiedade; cyberbullying agrava transtornos e problemas de sono.
Marin e Almeida (2024)Depressão (20,3%), ansiedade (16%), estresse (23,4%).Déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), sintomas depressivos e ansiosos.Uso prolongado e inabilidade em alternar entre atividades offline e online.
 Rudolf e Kim (2024)Depressão, ideação suicida mais prevalente em meninas;  ansiedade  e impacto limitado em meninos.  Depressão, pensamentos suicidas.Uso prolongado (>3h/dia), comparação social, passividade no uso de redes sociais.

Fonte: Autora (2024).

Os efeitos psicológicos, os transtornos identificados e os fatores agravantes descritos nos estudos analisados apresentam um panorama detalhado dos impactos do uso excessivo de redes sociais e dispositivos digitais entre adolescentes. Todos os oito estudos reportaram associações significativas entre padrões de uso e consequências psicológicas, físicas e comportamentais, destacando fatores contextuais que agravam esses efeitos.

Os estudos mostram que a ansiedade e a depressão são os efeitos psicológicos mais comuns. Luiz (2023) identificou que 55% dos adolescentes apresentaram ansiedade (HADS-A ≥ 11) e 20,6% relataram sintomas depressivos, além de 80% enfrentarem dificuldades relacionadas ao sono-vigília. De forma semelhante, Marin e Almeida (2024) encontraram prevalência de depressão (20,3%), ansiedade (16%) e estresse (23,4%), enquanto Andrade et al. (2021) registraram índices de ansiedade, estresse e depressão variando entre 22% e 28%.

Dois estudos enfatizaram os impactos emocionais em situações específicas. Rudolf e Kim (2024) relataram ideação suicida como um efeito mais prevalente em meninas, enquanto Pereira et al. (2022) destacaram ansiedade e insônia como consequências do uso prolongado de telas.

Os transtornos associados ao uso excessivo incluem ansiedade, depressão e distúrbios de sono, mencionados em seis estudos. Luiz (2023) e Nunes et al. (2021)

enfatizaram os distúrbios de sono, com 94% dos adolescentes dormindo menos de 6 horas por noite no primeiro estudo. Marin e Almeida (2024) e Beeres et al. (2021) relataram sintomas de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), especialmente em usuários intensivos. Barros et al. (2021) destacou a dependência de dispositivos eletrônicos como um transtorno emergente, enquanto Rudolf e Kim (2024) identificaram pensamentos suicidas associados ao uso passivo de redes sociais.

Os fatores que agravam os efeitos psicológicos incluem o uso prolongado de dispositivos e redes sociais, citado em todos os estudos. Luiz (2023) apontou que a presença de televisão no quarto está associada a níveis mais altos de ansiedade, enquanto o cyberbullying foi mencionado como um agravante tanto para transtornos de saúde mental quanto para problemas de sono. Nunes et al. (2021) relacionaram idade mais jovem e uso intensivo nos finais de semana ao aumento de transtornos mentais comuns (TMC). Rudolf e Kim (2024) e Beeres et al. (2021) destacaram a passividade no uso de redes sociais como um agravante significativo, associando-a à comparação social e ao aumento de sintomas depressivos.

Outros fatores incluem a falta de pausas no uso de dispositivos (Barros et al., 2021), a incapacidade de alternar entre atividades offline e online (Marin e Almeida, 2024) e a exposição prolongada às telas durante a noite (Pereira et al., 2022). Esses fatores refletem padrões comportamentais que intensificam os impactos negativos do uso excessivo de redes sociais e dispositivos.

Os oito estudos analisados demonstrar os efeitos negativos do uso prolongado de redes sociais e dispositivos eletrônicos, com ênfase nos transtornos de saúde mental, como ansiedade, depressão e TDAH. Ansiedade foi o transtorno mais frequente, relatado em seis estudos, seguido de depressão e distúrbios de sono. Os fatores agravantes, como passividade no uso, comparação social e falta de atividades offline, reforçam a necessidade de estratégias para moderar o uso de dispositivos entre adolescentes.

4  DISCUSSÃO

Os resultados desta pesquisa indicam que o uso excessivo de tecnologias digitais, incluindo redes sociais, está consistentemente associado a transtornos mentais como ansiedade, depressão e problemas de sono. Luiz (2023) destacou que o WhatsApp, Instagram e YouTube são as plataformas mais utilizadas, com altos índices de uso diário, corroborando os achados de Pereira et al. (2022), que também apontaram essas redes como principais meios de interação social e lazer entre adolescentes. Ambos os estudos associaram o uso intenso dessas plataformas, especialmente no período noturno, à piora da qualidade do sono e ao aumento de sintomas psicológicos negativos.

Os padrões de uso revelam variações no tempo diário dedicado às redes sociais e dispositivos eletrônicos, mas convergem quanto aos impactos associados. Luiz (2023) relatou uma média de uso diário de 8,21 horas no celular, enquanto Rudolf e Kim (2024) e Beeres et al. (2021) apresentaram médias menores, de 2 a 2,7 horas por dia, respectivamente. Apesar disso, todos os estudos apontaram que o uso passivo de redes sociais, como rolar o feed sem interagir, agrava os impactos psicológicos, como aumento de sintomas de ansiedade e depressão. Essa evidência reforça que o impacto das redes sociais vai além do tempo de uso, abrangendo também a qualidade das interações digitais.

Os efeitos psicológicos associados ao uso excessivo de dispositivos foram amplamente documentados. Luiz (2023) relatou que 55% dos adolescentes apresentaram sintomas de ansiedade, enquanto Marin e Almeida (2024) encontraram prevalências de 16% para ansiedade e 20,3% para depressão. Esses achados se alinham aos de Rudolf e Kim (2024), que identificaram maior prevalência de ideação suicida entre meninas com uso diário superior a 3 horas. Andrade et al. (2021), embora não tenha identificado diferenças significativas em transtornos psicológicos entre usuários problemáticos (PIU) e não problemáticos (nPIU), destacou o estresse elevado entre adolescentes PIU, indicando vulnerabilidades emocionais importantes. Os fatores agravantes do uso excessivo de tecnologias também foram analisados em profundidade. Luiz (2023) identificou que o cyberbullying foi um dos principais agravantes da ansiedade e depressão entre adolescentes, enquanto Nunes et al. (2021) destacou o uso noturno de dispositivos como um fator que contribui para a redução das horas de sono e o aumento de dores cervicais. Barros et al. (2021) complementou esses achados ao associar a exposição à luz azul à insônia e à supressão da melatonina, destacando a necessidade de intervenções voltadas para o uso consciente de dispositivos eletrônicos.

A análise cultural e contextual revelou nuances importantes no impacto do uso de redes sociais. Rudolf e Kim (2024), ao analisar adolescentes coreanos, apontaram diferenças de gênero significativas, com meninas demonstrando maior vulnerabilidade à depressão e à comparação social devido ao uso passivo das redes. Por outro lado, Pereira et al. (2022) e Nunes et al. (2021), em estudos realizados no Brasil, enfatizaram os impactos físicos e emocionais, como dores musculoesqueléticas e transtornos mentais comuns, mas com maior destaque para as consequências do uso prolongado à noite.

Além disso, os fatores motivacionais para o uso de tecnologias digitais apresentaram consistência entre os estudos. Luiz (2023), Pereira et al. (2022) e Marin e Almeida (2024) destacaram a busca por conexão social e validação como os principais impulsionadores do uso excessivo, enquanto Rudolf e Kim (2024) ressaltaram o medo de exclusão social (FoMO), especialmente entre meninas. Esses achados refletem a necessidade de intervenções que promovam uma reflexão crítica sobre os benefícios e riscos das redes sociais, principalmente no contexto juvenil.

Apesar de impactos comuns, os estudos também revelaram especificidades regionais e populacionais. Marin e Almeida (2024) e Beeres et al. (2021) destacaram o uso passivo de redes sociais como um agravante comum em diferentes contextos, enquanto Nunes et al. (2021) revelou que adolescentes mais jovens são mais suscetíveis a desenvolver dependência digital e transtornos relacionados. Barros et al. (2021) reforçou a necessidade de atenção aos efeitos visuais e emocionais do uso prolongado de dispositivos, destacando a relação entre saúde física e bem-estar psicológico.

Os achados gerais reforçam que transtornos como ansiedade e depressão frequentemente coexistem e são influenciados por padrões de uso de redes sociais e dispositivos eletrônicos. Luiz (2023) e Marin e Almeida (2024) relataram que transtornos psicológicos estão diretamente relacionados à qualidade do sono, evidenciada por altas taxas de insônia entre usuários frequentes. Esse ciclo de interdependência entre problemas de sono e saúde mental foi corroborado por Barros et al. (2021), que destacou o papel da exposição noturna às telas na perpetuação desses sintomas.

Por fim, os oito estudos analisados convergem em mostrar que o uso excessivo de redes sociais e dispositivos eletrônicos tem impactos significativos sobre a saúde mental e física dos adolescentes. Embora variações culturais e metodológicas tragam nuances aos achados, a consistência em temas como ansiedade, depressão, insônia e dependência digital reforça a necessidade de ações educativas e intervenções preventivas. Estratégias que incluam pausas regulares, redução do uso noturno e estímulo a atividades offline podem mitigar os impactos negativos e promover um equilíbrio saudável entre o mundo digital e a saúde dos jovens.

5  CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos deste estudo foram alcançados ao descrever os padrões de uso de tecnologias digitais, identificar os principais transtornos mentais associados e analisar os fatores motivacionais e agravantes relacionados ao uso excessivo de redes sociais por adolescentes. A pesquisa demonstrou que o uso de dispositivos digitais influencia diretamente a saúde mental dos jovens.

Os resultados indicaram que os adolescentes apresentam um uso médio diário elevado de dispositivos, com destaque para as redes sociais WhatsApp, Instagram e YouTube. Esse padrão foi associado a uma alta prevalência de sintomas de ansiedade e depressão, além de dificuldades no sono, com 94% dos participantes dormindo menos de 6 horas por noite. Fatores como o cyberbullying e o uso passivo das redes sociais foram identificados como agravantes significativos, contribuindo para uma piora na qualidade de vida e no bem-estar emocional dos adolescentes.

Além disso, o estudo revelou que o uso prolongado à noite, a dependência de dispositivos e a busca por validação social desempenham papéis centrais nos transtornos observados. A análise destacou que meninas, especialmente, estão mais vulneráveis à comparação social e ao medo de exclusão, o que agrava sintomas depressivos e ideação suicida. Esses achados reforçam a necessidade de abordagens educativas que promovam o equilíbrio entre o uso digital e a saúde mental.

Embora este estudo forneça resultados relevantes, ele apresenta algumas limitações, como a dependência de dados autorrelatados, que podem introduzir viés, e a natureza transversal dos dados, que limita a inferência de causalidade. Pesquisas futuras poderiam explorar amostras mais diversificadas e empregar métodos longitudinais para avaliar a evolução dos impactos psicológicos associados ao uso de tecnologias digitais.

REFERÊNCIAS

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¹ Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Mauricio de Nassau – Teresina Sul.
E-mail: edileneedilene@yahoo.com

² Mestre em Alimentos e Nutrição. Docente do Centro Universitário Maurício de Nassau.
E-mail: lua_mota@hotmail.com

³ Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Mauricio de Nassau – Teresina Sul.
E-mail: adriana24quaresma@gmail.com

⁴ Graduado em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina Sul.
E-mail: darlan.leite@pc.pi.gov.br

⁵ Bacharel em Psicologia (Uni Nassau 2022), Pós-graduando em Psicologia Organizacional e Gestão de Pessoas (PUC-RS).
Docência no Ensino Superior (Afya Uninovafapi).
E-mail: danielpaeslandim@yahoo.com

⁶ Graduada em bacharelado em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau Teresina Sul.
E-mail: franciscamatos83@hotmail.com

⁷ Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau – Teresina Sul.
E-mail: hortencialustosa13@hotmail.com