REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/t10202502242137
Raquel da Silva Almeida1
Orientadora: Maria Bárbara da Costa Cardoso2
RESUMO
Este artigo aborda os desafios enfrentados no ensino e aprendizagem de língua inglesa nos anos finais do ensino fundamental em escolas rurais do município de Cametá, Pará. A pesquisa é motivada pela experiência do autor em sala de aula, onde observa a falta de motivação dos alunos pelo componente curricular e as dificuldades enfrentadas pelos professores. Através de uma abordagem qualitativa e estudo de caso, a pesquisa busca compreender as práticas pedagógicas dos docentes, identificar as barreiras ao ensino da língua inglesa e sugerir estratégias para melhorar o ensino nesse contexto rural. A pesquisa também discute a importância de contextualizar o ensino de inglês nas especificidades das escolas do campo, promovendo um aprendizado significativo e conectando os alunos às culturas globais. Espera-se que os resultados contribuam para a formação docente e a melhoria das práticas pedagógicas nas escolas rurais.
Palavras-chave: Ensino de Língua Inglesa, Educação do campo, Formação docente, Práticas pedagógicas
ABSTRACT
This article addresses the challenges faced in teaching and learning English in the final years of elementary education in rural schools in the municipality of Cametá, Pará. The research is motivated by the author’s experience in the classroom, where the lack of student interest in the subject and the difficulties faced by teachers are observed. Through a qualitative approach and case study, the research aims to understand the teaching practices of teachers, identify barriers to English language teaching, and suggest strategies for improving education in this rural context. The study also discusses the importance of contextualizing English teaching in the specificities of rural schools, promoting meaningful learning, and connecting students to global cultures. The expected results aim to contribute to teacher training and improve pedagogical practices in rural schools.
Keywords: English Language Teaching, Rural Education, Elementary Pedagogical Practices.
1. INTRODUÇÃO
O ensino da língua inglesa no ensino fundamental tem se mostrado um desafio constante em diversas escolas brasileiras, especialmente em áreas rurais. Ao longo de mais de dez anos de experiência docente, é comum deparar-se com a falta de interesse dos alunos por esse componente curricular, frequentemente considerado difícil e sem relevância para suas vidas cotidianas. Essa percepção, apesar de ser um desafio, é também uma oportunidade para refletir sobre a importância da aprendizagem de uma segunda língua, como o inglês, que abre portas para uma comunicação global, o acesso a outras culturas, literatura e mídia, além de possibilitar viagens a países onde o idioma é falado.
O artigo propõe-se a analisar os desafios no ensino e aprendizagem de língua inglesa nos anos finais do ensino fundamental em duas escolas rurais do município de Cametá. A produção é motivada pela experiência vivida em salas de aula, especialmente em escolas rurais com infraestrutura precária, dificuldades pedagógicas e pouca integração entre educadores, alunos e a comunidade. Essas dificuldades são ainda mais evidentes em escolas rurais, onde o acesso à educação de qualidade é limitado.
Com isso, este estudo visa contribuir para a formação docente, ajudando os professores a refletirem sobre suas práticas e a adotar estratégias de ensino mais eficazes. Além disso, a pesquisa pretende expandir o conhecimento sobre o ensino de língua inglesa nas áreas rurais, fornecendo uma base teórica para futuras investigações sobre o tema.
Autores como Pontes e Devel (2016) argumentam que é essencial mudar a visão de que a aprendizagem de uma língua estrangeira é inacessível para os estudantes da educação básica, refletindo sobre a maneira de integrar o ensino de inglês ao contexto social e cultural dos alunos. Em consonância com Almeida (2021), é necessário que os professores reflitam sobre suas práticas pedagógicas, a fim de motivar os alunos a reconhecerem a importância de aprender um novo idioma, ampliando assim seus horizontes e suas oportunidades no mundo.
O foco do trabalho é analisar os desafios enfrentados no ensino e aprendizagem de língua inglesa em duas escolas rurais do município de Cametá, Pará. Através dessa investigação, buscamos compreender as dificuldades enfrentadas tanto pelos professores quanto pelos alunos, visando identificar estratégias para superar tais obstáculos e promover um ensino mais eficaz.
O artigo adota uma abordagem qualitativa do tipo estudo de caso, com o intuito de compreender profundamente a realidade das escolas rurais de Cametá/PA, focando nos desafios do ensino de língua inglesa. Para isso, será utilizado o método de materialismo histórico-dialético, conforme definido por Trivinos (1987), que permite uma análise crítica das condições sociais e históricas que influenciam o processo educacional.
A coleta de dados foi realizada através de entrevistas com os professores de língua inglesa das escolas envolvidas, buscando compreender as estratégias adotadas por eles e as dificuldades enfrentadas. A pesquisa qualitativa é adequada a esse estudo, pois permite uma análise profunda das experiências e perspectivas dos envolvidos, explorando significados, crenças e atitudes dos sujeitos (MINAYO, 2007).
Espera-se que esta produção ofereça uma visão detalhada sobre os desafios enfrentados no ensino e aprendizagem da língua inglesa em escolas rurais, fornecendo subsídios para a melhoria das práticas pedagógicas. Além disso, o estudo contribuirá para a reflexão sobre a importância de uma educação que considere as especificidades do campo, ampliando as possibilidades de ensino e aprendizagem para os alunos dessas áreas.
O artigo contribuirá para a formação contínua dos professores, oferecendo uma reflexão sobre como integrar o ensino de língua inglesa de forma significativa e acessível para os alunos, valorizando suas identidades e ampliando suas oportunidades de comunicação global.
1.1 EDUCAÇÃO DO CAMPO: CONTEXTO HISTÓRICO E DESAFIO
A educação rural no Brasil tem uma longa trajetória de transformações e desafios, refletindo não apenas as mudanças políticas e sociais do país, mas também a necessidade de adaptação das práticas pedagógicas às especificidades das comunidades do campo. Esse processo educacional é multifacetado, englobando desde as primeiras experiências educacionais nas áreas rurais até os debates contemporâneos sobre a educação do campo como um campo de estudo crítico e emancipatório. Para compreender a educação rural, é necessário revisitar seu contexto histórico, as condições sociais e as lutas das populações do campo por uma educação que valorize suas identidades culturais e atenda às suas demandas específicas.
Historicamente, a educação rural no Brasil esteve fortemente marcada pela desigualdade e pela exclusão. Nos primeiros momentos da colonização, as populações indígenas e, mais tarde, os afrodescendentes, foram sistematicamente marginalizados das oportunidades educacionais. Com a chegada da República e o crescimento do modelo urbano-industrial, a educação no campo passou a ser vista como um mero mecanismo de adaptação às normas e valores urbanos, sem considerar as particularidades das comunidades rurais. A ruralidade era percebida de forma homogênea, desconsiderando as múltiplas realidades vividas no interior do país, onde a diversidade de culturas e as condições de vida variavam significativamente.
Durante boa parte do século XX, a educação rural foi essencialmente voltada para a formação de mão-de-obra para a agricultura. A visão educacional predominante era a de que a educação do campo deveria preparar os indivíduos para um trabalho subordinado, mantendo-os em uma posição de subalternidade frente à sociedade urbana. As escolas rurais, muitas vezes, eram precárias, com infraestrutura inadequada e professores mal remunerados e sem formação específica para lidar com as necessidades e especificidades do contexto rural.
Esse quadro começou a mudar na década de 1990, quando a educação do campo passou a ser reconhecida como um campo de estudo legítimo. Movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), desempenharam papel crucial nesse processo, ao defenderem uma educação que respeitasse e valorizasse a cultura e as tradições das comunidades rurais. A partir desse momento, a educação do campo passou a ser entendida como uma ferramenta de desenvolvimento e de resistência cultural, e não apenas como uma adaptação da educação urbana.
A partir dos anos 2000, com a implementação de políticas públicas voltadas para a educação rural, como o Programa Nacional de Educação do Campo (PNEC), a educação no campo passou a ser pensada de forma mais inclusiva e crítica. O conceito de educação do campo, como formulado por autores como Roseli Salete Caldart (2002), aponta para uma visão que vai além da simples adaptação das práticas pedagógicas urbanas às realidades rurais. A educação do campo deve ser compreendida como um espaço para o desenvolvimento de uma educação crítica e emancipatória, que promova a valorização das identidades culturais rurais e o fortalecimento das comunidades do campo.
A educação do campo deve ser, portanto, um espaço de resistência e de transformação social. Ela deve contribuir para a construção de uma consciência crítica que permita aos indivíduos das áreas rurais questionar as estruturas de poder e as desigualdades que permeiam a sociedade, ao mesmo tempo em que fortalece o vínculo com a cultura e as práticas tradicionais dessas comunidades. Isso implica em uma formação que não apenas ensina conteúdos acadêmicos, mas também oferece aos alunos ferramentas para lidar com questões específicas da vida rural, como a agricultura sustentável, a preservação ambiental e a promoção de direitos humanos.
Entretanto, a implementação de uma educação rural mais inclusiva e transformadora enfrenta ainda muitos desafios. A escassez de recursos financeiros e materiais, a dificuldade de acesso à educação de qualidade, a falta de formação continuada para os professores e a carência de políticas públicas efetivas são apenas alguns dos obstáculos que as escolas rurais ainda precisam enfrentar. Além disso, a resistência de parte da sociedade à ideia de que a educação rural deve ser distinta da educação urbana também persiste, muitas vezes devido ao preconceito e à desvalorização da cultura rural.
Para que a educação do campo possa alcançar seu pleno potencial como ferramenta de desenvolvimento e emancipação, é necessário um compromisso contínuo com a construção de um sistema educacional que, ao mesmo tempo em que respeite as especificidades do campo, promova a cidadania plena e o acesso ao conhecimento em todas as suas formas. É essencial que as políticas educacionais contemplem a diversidade das realidades rurais e criem um ambiente em que as comunidades possam se apropriar de seus direitos e promover o fortalecimento das suas próprias identidades.
Dessa forma, a educação rural no Brasil se apresenta como um campo em constante construção, que busca se afirmar como um instrumento de transformação social. A valorização da cultura, a promoção da justiça social e o respeito pelas especificidades da vida no campo são fundamentais para que as comunidades rurais possam, de fato, se desenvolver de maneira autônoma e sustentável. O reconhecimento e a implementação de uma educação do campo que seja crítica, inclusiva e emancipatória são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
1.2 CONTEXTO SOCIAL
O contexto social das áreas rurais no Brasil é complexo e multifacetado, refletindo um cenário marcado por desafios históricos e recentes, mas também por potenciais transformações e oportunidades. As comunidades rurais brasileiras, embora diversas, compartilham uma série de características comuns, como a falta de infraestrutura básica, acesso limitado a serviços essenciais e uma dependência ainda muito grande da agricultura e da pecuária. Esse contexto tem raízes profundas na história do país, mas também é moldado por mudanças contemporâneas, como o avanço tecnológico e os fluxos migratórios para as cidades.
Historicamente, as áreas rurais no Brasil sempre enfrentaram desigualdade no acesso a direitos fundamentais, como educação, saúde, transporte e segurança. A falta de políticas públicas eficientes e a escassez de investimentos em infraestrutura são alguns dos principais fatores que dificultam o desenvolvimento dessas regiões. Em muitos casos, as populações rurais ainda são marginalizadas, com pouca representação política e social, o que contribui para a perpetuação dessas desigualdades.
A educação nas zonas rurais, por exemplo, é um dos maiores desafios. A oferta de escolas, embora tenha avançado em algumas regiões, ainda é insuficiente em termos de qualidade. A distância das escolas, a escassez de profissionais capacitados e a infraestrutura precária das instituições de ensino prejudicam o aprendizado de crianças e jovens, resultando em índices de evasão escolar mais elevados e um ciclo contínuo de exclusão social.
Além disso, o acesso à saúde é um outro ponto crítico. Muitas áreas rurais estão distantes dos centros urbanos e, portanto, da rede de serviços de saúde. Isso dificulta o diagnóstico e tratamento de doenças, aumenta a mortalidade infantil e eleva os custos para os próprios habitantes, que frequentemente precisam viajar grandes distâncias para consultas médicas ou tratamentos especializados.
Nas últimas décadas, o Brasil vivenciou profundas transformações, especialmente com o avanço da tecnologia e a globalização. O uso de tecnologias agrícolas mais avançadas, como máquinas de alta precisão e o uso de sementes geneticamente modificadas, tem potencializado a produção em algumas áreas rurais, especialmente nas regiões que fazem parte do agronegócio. No entanto, esse avanço também tem gerado desigualdades, uma vez que os pequenos produtores e as comunidades tradicionais têm dificuldade em acessar essas tecnologias, o que pode deixá-los ainda mais vulneráveis.
Outro fator relevante são os movimentos migratórios. O Brasil, como outros países, experimentou um grande êxodo rural nas últimas décadas, com muitas pessoas, principalmente jovens, buscando melhores condições de vida nas cidades. A migração para os centros urbanos tem esvaziado muitas áreas rurais, com impactos tanto na força de trabalho disponível para a agricultura quanto no enfraquecimento das comunidades locais. Em algumas regiões, a falta de mão de obra nas áreas rurais tem levado ao declínio da produção agrícola e ao abandono de terras, resultando em um ciclo de empobrecimento.
Entretanto, a migração também trouxe oportunidades, principalmente na forma de remessas de dinheiro que as famílias que migram para as cidades enviam de volta para suas comunidades. Essas remessas têm ajudado a manter algumas economias rurais, embora não resolvam as questões estruturais de desenvolvimento.
As políticas públicas no Brasil têm tentado lidar com essas questões, por meio de programas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o Programa Minha Casa Minha Vida Rural e o Programa de Atenção Básica à Saúde. Esses programas são essenciais para a melhoria das condições de vida nas áreas rurais, mas ainda enfrentam grandes desafios em termos de implementação eficiente e abrangência.
Além disso, iniciativas de desenvolvimento rural sustentável, que buscam aliar a preservação ambiental à geração de renda e à inclusão social, têm ganhado importância nas últimas décadas. Tais iniciativas focam na diversificação da produção e na promoção de práticas agrícolas sustentáveis, oferecendo novas oportunidades para os pequenos produtores, especialmente os que estão fora do mercado globalizado do agronegócio.
O futuro das áreas rurais no Brasil dependerá de um conjunto de fatores interligados, incluindo o fortalecimento das políticas públicas, o acesso a tecnologias e conhecimentos, a melhoria da infraestrutura e a criação de novos modelos de desenvolvimento mais inclusivos e sustentáveis. O uso de tecnologias de informação e comunicação, por exemplo, pode abrir portas para a educação a distância e o teletrabalho, permitindo que as populações rurais superem as limitações geográficas e tenham acesso a serviços essenciais, como saúde e educação.
Em termos de oportunidades, o mercado de produtos orgânicos e sustentáveis tem se expandido e pode ser uma via para o desenvolvimento de nichos de mercado nas zonas rurais. A agroecologia e os sistemas de produção familiar podem desempenhar um papel importante na redução das desigualdades e na promoção de um modelo de desenvolvimento mais equilibrado, que respeite tanto as necessidades humanas quanto as ambientais.
Em suma, o contexto social das áreas rurais no Brasil é um cenário dinâmico, que combina desafios históricos com novas possibilidades. Superar as desigualdades e promover o desenvolvimento rural sustentável exigirá um esforço contínuo tanto do poder público quanto das próprias comunidades rurais, com o apoio de políticas inclusivas e inovadoras.
1.3 CONTEXTO EDUCACIONAL
As escolas rurais enfrentam realidades muito distintas das urbanas, desde a falta de infraestrutura adequada até o distanciamento entre os professores e as comunidades. De acordo com Monica Castagna Molina e Roseli Salete Caldart (2020), a educação rural precisa considerar as especificidades do campo, adaptando-se às necessidades dos alunos, oferecendo não só o ensino formal, mas também reconhecendo o valor das culturas locais. O ensino de língua inglesa, dentro desse contexto, precisa ser abordado de maneira que considere essas realidades, utilizando métodos que tornem o aprendizado significativo para os alunos.
2. PRÁTICAS E INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NA LÍNGUA INGLESA, DO ENSINO FUNDAMENTAL, EM ESCOLAS DO CAMPO
A educação no contexto rural brasileiro apresenta desafios e oportunidades específicas, principalmente no que se refere ao ensino de Língua Inglesa nas escolas do campo, onde as condições de infraestrutura, recursos e formação dos profissionais variam consideravelmente em relação aos centros urbanos. As práticas e intervenções pedagógicas voltadas para o ensino de Língua Inglesa nas escolas do campo precisam ser adaptadas às realidades locais, respeitando a diversidade cultural e as especificidades da vida rural, ao mesmo tempo em que buscam atender às exigências do currículo nacional e oferecer aos alunos um acesso equitativo ao ensino de qualidade.
2.1 O DESAFIO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NO CAMPO
Historicamente, a oferta de ensino de Língua Inglesa no Brasil tem sido concentrada nas grandes cidades e, muitas vezes, em escolas privadas, enquanto as escolas públicas, especialmente nas áreas rurais, ainda enfrentam desafios para garantir a educação de qualidade para todos os seus alunos. Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024, a educação deve ser universalizada e de qualidade em todo o território nacional, mas ainda existem grandes disparidades entre as escolas urbanas e rurais, especialmente em relação ao ensino de línguas estrangeiras. O ensino de Língua Inglesa nas escolas do campo, portanto, precisa ser reconfigurado para atender às especificidades dessas comunidades.
A implementação do ensino de Língua Inglesa nas escolas rurais do Brasil, especialmente nas escolas de Ensino Fundamental, exige não apenas a adaptação do conteúdo, mas também a mudança nas abordagens pedagógicas para tornar o aprendizado significativo. Fiorentini (2011) afirma que o ensino de uma língua estrangeira deve estar em sintonia com o contexto social e cultural dos alunos. Em uma escola do campo, é crucial que o ensino da Língua Inglesa não seja visto como um conteúdo distante e irrelevante, mas como uma ferramenta que pode conectar os alunos a outras culturas e realidades, ao mesmo tempo que permite a eles expressar suas próprias identidades culturais.
2.2 PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA
No contexto das escolas do campo, é necessário que as práticas pedagógicas sejam contextualizadas, levando em consideração os saberes e vivências dos alunos. Isso significa que os conteúdos e as atividades devem ser relevantes para a realidade dos estudantes rurais, conectando o ensino da Língua Inglesa às suas práticas cotidianas e ao seu mundo. Koch (2015) destaca que, para ser eficaz, o ensino de Língua Inglesa deve ser centrado no aluno e no contexto em que ele está inserido. A aprendizagem de uma língua estrangeira não deve ser um processo isolado de sua realidade, mas sim uma experiência que contribua para o desenvolvimento de competências culturais e comunicativas.
Uma abordagem interessante para o ensino da Língua Inglesa em escolas rurais é a Educação Contextualizada. De acordo com Antunes (2013), a Educação Contextualizada é aquela que considera as especificidades socioculturais e econômicas dos estudantes e as integra no processo de ensino-aprendizagem. No caso das escolas rurais, isso pode incluir o uso de expressões idiomáticas e situações cotidianas que se relacionam ao ambiente rural. Por exemplo, ao ensinar vocabulário sobre agricultura, alimentação, fauna e flora, o professor pode recorrer à experiência dos alunos, promovendo uma aprendizagem mais significativa e conectada à realidade.
Outro exemplo de prática pedagógica que tem se mostrado eficaz no ensino de Língua Inglesa no campo é a utilização de Metodologias Ativas, que incentivam o protagonismo dos alunos e a aprendizagem colaborativa. O uso de jogos, dramatizações, rodas de conversa e outras atividades que envolvem o aluno de forma ativa pode ser muito eficaz, especialmente em contextos onde os recursos tecnológicos são limitados. Perrenoud (2000) argumenta que o papel do professor deve ser o de mediador, facilitando o processo de construção do conhecimento por meio de atividades que despertem o interesse e a curiosidade dos alunos.
2.3 INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS E FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES
A qualidade do ensino de Língua Inglesa nas escolas do campo também depende da formação contínua dos professores. Muitas vezes, os docentes dessas áreas não têm acesso à formação específica ou contínua, o que compromete a qualidade do ensino. O investimento em formação docente é, portanto, uma intervenção pedagógica fundamental. De acordo com Tardif (2014), a formação continuada de professores é essencial para garantir que os educadores possam se atualizar e utilizar novas metodologias e práticas pedagógicas, além de conhecer as realidades dos alunos para construir um ensino mais eficaz.
Em muitas regiões rurais, os professores de Língua Inglesa não possuem formação especializada na área, sendo frequentemente profissionais com formação em áreas diferentes, como Letras ou Pedagogia, que enfrentam dificuldades em ensinar uma língua estrangeira sem um aprofundamento específico. A formação inicial e continuada, bem como a troca de experiências entre professores, pode ser uma chave para superar esse desafio. Projetos de formação que conectam os professores à realidade rural e incentivam a reflexão sobre suas práticas pedagógicas são de extrema importância.
2.4 O PAPEL DAS TECNOLOGIAS NO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA
Apesar das limitações de infraestrutura, as tecnologias digitais podem oferecer novas possibilidades de aprendizagem no contexto rural. O uso de recursos tecnológicos, como vídeos, aplicativos de idiomas e plataformas de ensino à distância, pode ampliar o acesso ao conteúdo de qualidade e enriquecer o processo de ensino-aprendizagem. No entanto, é preciso considerar a realidade das escolas rurais, muitas das quais enfrentam dificuldades em termos de conectividade e de acesso a equipamentos.
A utilização de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) no ensino de Língua Inglesa pode ser uma forma de superar a distância entre as escolas rurais e os centros urbanos, proporcionando aos alunos a oportunidade de interagir com conteúdos e falantes nativos da língua. Contudo, para que essa intervenção seja efetiva, é necessário que haja uma formação específica para os professores, a fim de que possam integrar as TICs de forma pedagógica e significativa em suas aulas.
CONCLUSÃO
As práticas e intervenções pedagógicas no ensino de Língua Inglesa em escolas do campo exigem uma abordagem adaptada e contextualizada, que leve em conta as especificidades do meio rural e as necessidades dos alunos. O ensino da língua estrangeira pode se tornar uma ferramenta poderosa para a inclusão social e para o desenvolvimento cultural, desde que seja adequado às realidades locais e integre os saberes dos alunos. Além disso, a formação continuada dos professores e o uso criativo de tecnologias são estratégias importantes para garantir a qualidade do ensino e promover uma educação mais equitativa e inclusiva.
Como afirma Freire (1996), a educação deve ser um ato de conhecimento e transformação, e isso é particularmente relevante nas escolas do campo, onde o ensino de Língua Inglesa pode ser uma ponte para o mundo, sem desconsiderar as raízes e a identidade cultural dos estudantes. A chave está em criar práticas pedagógicas que respeitem essas especificidades e, ao mesmo tempo, ofereçam aos alunos as ferramentas necessárias para navegar e interagir no mundo globalizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa sobre os desafios no ensino e aprendizagem da língua inglesa em escolas rurais de Cametá, Pará, revela uma série de obstáculos que impactam tanto os alunos quanto os professores. A falta de infraestrutura adequada, o desinteresse dos alunos e as dificuldades pedagógicas são questões recorrentes nesse contexto, especialmente em áreas rurais onde a educação enfrenta desafios ainda mais profundos. No entanto, a pesquisa também destaca o potencial de transformação que o ensino de língua inglesa pode proporcionar, ao abrir novas possibilidades de comunicação, acesso a culturas diferentes e ampliando as oportunidades de inserção no mundo globalizado.
Ao refletir sobre as práticas pedagógicas e as estratégias de ensino adotadas pelos professores, é possível perceber que, apesar das dificuldades, há espaço para inovação e melhoria. A formação contínua dos docentes e a adaptação do ensino às realidades locais são fundamentais para superar as barreiras existentes. Além disso, o uso de metodologias dinâmicas e contextualizadas pode contribuir significativamente para o engajamento dos alunos e a eficácia do processo de aprendizagem.
Em suma, os desafios enfrentados no ensino de língua inglesa nas escolas rurais exigem uma abordagem integrada, que considere as especificidades do campo e as condições de ensino nas comunidades rurais. A pesquisa contribui para a reflexão sobre essas questões, oferecendo insights importantes para a melhoria da educação básica nas áreas rurais e para o fortalecimento da formação docente, de modo a garantir um ensino mais eficaz e relevante para os alunos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MINAYO, M. C. de L. (Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 19. Petrópolis: Vozes, 2007.
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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegre, RS: Bookman, 2005
Antunes, L. (2013). Educação contextualizada: Como ensinar para o desenvolvimento local. São Paulo: Editora Moderna.
Fiorentini, D. (2011). Práticas pedagógicas no ensino de línguas: A relação entre teoria e prática. Campinas: Editora Mercado de Letras.
Koch, I. (2015). Ensino de línguas e saberes no campo: Perspectivas pedagógicas. Porto Alegre: Editora Penso.Perrenoud, P. (2000).Construir as competências dos alunos: Para uma escola eficaz. Porto Alegre: Artmed.
1Professora vinculada à Secretaria de Educação do Município de Cametá; Formação: Mestranda em Ciências da Educação pela Faculdade Interamericana de Ciências Sociais – (FICS) Graduação em Letras Língua Inglesa pela Universidade Federal do Pará UFPA- Altamira; Segunda Graduação em Pedagogia pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais (INTERVALE), Pós-graduação em Psicopedagogia Institucional com Habilitação em Educação Especial pela Faculdade Montenegro; Pós-graduada em Metodologia do Ensino da Língua Inglesa pela Faculdade Mantenense dos Vales Gerais (INTERVALE). E-mail: ralmeida1895@hotmail.com
2Doutorado em Educação ( UFPA) Mestrado em Educação ( UFPA). Pedagogia (UFPA). Coordenadora Ensino Fundamental SEMEC/ Abaetetuba