COMPLICAÇÕES RELACIONADAS À DISTÚRBIOS NUTRICIONAIS: UMA REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202502191758


Giulia Azeredo Villas-Bôas1
Yanna Gabriela Nascimento da Costa2
Noemy Barbosa Silva da Mata3
Julia Martins Gil Marinho4
Beatriz Moraes Escorcio de Azevedo5
Mayara Corrêa Dutra6
Thais Fernandes do Monte7
Vinícius César Jardim Pereira8
Hellen Marinho Rocha9
Jairla Kelly Laurentino de Lima10


RESUMO

Objetivo: Analisar as complicações relacionadas aos distúrbios nutricionais. Revisão Bibliográfica: Atualmente,  com  a  transição  nutricional  e  os  avanços  tecnológicos,  observa-se  uma diminuição  do  consumo  de  alimentos  ricos  em  micronutrientes  como  frutas  e  hortaliças  e  o aumento do consumo de alimentos com baixo valor nutricional como frituras e guloseimas. Tudo isto  favorece  a  formação  de  hábitos  alimentares inadequados e,  consequentemente,  contribui para o desenvolvimento precoce de distúrbios nutricionais relacionados à alimentação e doenças crônicas não transmissíveis. Distúrbios nutricionais, como a desnutrição e a deficiência de micronutrientes, constituem um problema comum na população infantil,  adulta e idosa. Com relação à desnutrição protéico-calórica (DPC),  diversos  estudos  apontam  o  impacto  desta  condição  clínica  na  saúde  dos  idosos,  fazendo  com  que  esse  grupo  apresenta  pior prognóstico  para  os  agravos  à  saúde. Considerações finais: Portanto, a  nutrição  infantil  deve  ser  vista  como  prioridade,  uma  vez  que  está  associada  ao  desenvolvimento neurológico. De forma oposta, destacam-se os distúrbios nutricionais, os quais apresentam como principais causas  fatores  socioeconômicos  e  genéticos.  A  obesidade  está  associada  a  puberdade  precoce  e a dislipidemia. 

Palavras-chave: Distúrbios nutricionais; Desnutrição; Complicações.

INTRODUÇÃO 

Atualmente,  com  a  transição  nutricional  e  os  avanços  tecnológicos,  observa-se  uma diminuição  do  consumo  de  alimentos  ricos  em  micronutrientes  como  frutas  e  hortaliças  e  o aumento do consumo de alimentos com baixo valor nutricional como frituras e guloseimas. Tudo isto  favorece  a  formação  de  hábitos  alimentares inadequados e,  consequentemente,  contribuiu para o desenvolvimento precoce de distúrbios nutricionais relacionados à alimentação e doenças crônicas não transmissíveis (BELLINASO et al., 2012; FILHA et al., 2012).

De relevância  no  contexto  da  saúde  pública, dentre  os  distúrbios  nutricionais  mais prevalentes em crianças na fase pré-escolar, destacam-se a anemia ferropriva e hipovitaminose A, principalmente,  em  maior  proporção  na  forma  subclínica,  caracterizando  a  chamada  “fome oculta”, o que pode acarretar nas crianças alterações comportamentais, cognitivas e prejuízos no crescimento (PINHEIRO et al., 2012).

Outro distúrbio nutricional de relevância para a saúde pública, atualmente, é o excesso de peso, que acarreta diversos agravos à saúde tanto na infância como na idade adulta. Tais crianças  com  excesso  de  peso  estão  susceptíveis  a  complicações  psicossociais,  pelo  afastamento de suas atividades cotidianas provocadas pela discriminação, a baixa aceitação da sociedade, além de  prejuízos  orgânicos  acarretados  pelos  problemas  respiratórios,  diabetes  mellitus,  hipertensão arterial e dislipidemias(aumento dos lipídios no sangue) (MAGALHÃES; ALMEIDA, 2011).

Distúrbios nutricionais, como a desnutrição e a deficiência de micronutrientes, constituem um problema comum na população infantil,  adulta e idosa. Com relação à desnutrição protéico-calórica (DPC),  diversos  estudos  apontam  o  impacto  desta  condição  clínica  na  saúde  dos  idosos,  fazendo  com  que  esse  grupo  apresenta  pior prognóstico  para  os  agravos  à  saúde.  Na  Escócia,  18%  dos  pacientes com fratura de bacia severamente desnutridos morreram, em  com um índice de mortalidade de 4% em pacientes adequadamente nutridos. Em pacientes admitidos para avaliação geriátrica, a taxa de mortalidade,  em  90  dias,  foi  de  50%  em  desnutridos  e  de  16%  em  pacientes saudáveis. 

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), combater a desnutrição é um extremo desafio global. Em 2016, mais de 340 milhões de crianças e adolescentes apresentavam sobrepeso ou obesidade (WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO), 2021b). Entre os exemplos de distúrbios alimentares, pode-se citar  a  desnutrição  aguda,  crônica,  deficiência  de  vitamina  e  minerais,  sobrepeso,  obesidade  e  doenças crônicas  não  transmissíveis  relacionadas  à  dieta.  Tais  disfunções  nutricionais  podem  estar  associadas  a consequências adversas como tipo de carência no acesso físico, social e econômico aos alimentos, podendo consequentemente gerar uma má alimentação e controle nutricional inadequado para infância (LOPES AF, et al., 2019).

O  quadro  clínico  da  desnutrição  apresenta-se  com  peso  e  estatura  abaixo  do  esperado,  cabelos quebradiços e opacos, mucosas pálidas e menor disposição para realizar atividades diárias. Já no quadro da obesidade,  tem-se  dificuldade  para  respirar,  excesso  de  peso,  cansaço  e  desânimo.  Diante  o  exposto,  é importante atentar para os sinais e sintomas apresentados a fim de evitar possíveis complicações. Além disso, há  diversos  aspectos  que  influenciam  na  composição  corporal  do  indivíduo,  como  os  fatores  familiares, pessoais e socioeconômicos (PÉREZ LM e MATTIELLO R, 2018). Em relação ao eixo familiar, é sabido que as escolhas alimentares das crianças são influenciadas pelos hábitos dos pais e persistem na vida adulta, caso não ocorram mudanças (CORSO ACT, et al., 2012). 

A primeira infância caracteriza-se pela tamanha importância no decorrer de todo o desenvolvimento físico, motor e intelectual do indivíduo. O sobrepeso e a obesidade emergiram como uma crise de saúde pública nas últimas décadas. Em todo o mundo, estima-se que mais de 340 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos de idade são obesas ou possuem sobrepeso, enquanto no Brasil, segundo o Ministério da Saúde (2021), a estimativa é que 6,4 milhões de crianças tenham excesso de peso e 3,1 milhões obesidade. A prevalência dessa patologia sofreu um aumento de 4%, em 1975, para 18%, em 2016, na população infantil global (GREYDANUS DE, 2018).

O  predomínio  da  obesidade  infantil  é  influenciado  pela  idade  da  criança,  gravidade  da  obesidade  e presença de obesidade parental. Se estiver presente em um dos pais aumenta-se o risco na criança por 2 a 3 vezes e em até 15 vezes se ambos os pais tiverem obesidade. O grau da doença é também importante visto  que  71%  dos  adolescentes  com  obesidade  severa  continuaram  com  a  patologia  na idade  adulta  em comparação com apenas 8% dos adolescentes com obesidade não severa (KUMAR S e KELLY AS, 2017).

O tecido adiposo é considerado o principal local de armazenamento de energia corpórea a longo prazo e pode ser dividido em subcutâneo e visceral. A partir do excesso energético crônico a velocidade de expansão do tecido adiposo aumenta acima do seu limiar, resultando em um quadro de sobrepeso e/ou obesidade, e, por consequência, os adipócitos se tornam menos eficazes para promover a estocagem de energia de forma subcutânea. Assim, o armazenamento de triglicérides começa a ocorrer a nível visceral (KUMARI M, et al., 2018).  No contexto pediátrico, é importante ressaltar a natureza multicausal da obesidade, bem como o seu largo espectro de disfunções, como as metabólicas, inflamatórias e endócrinas (CALTERRA V, et. al., 2021). 

Dentre  os  efeitos  da  obesidade,  destaca-se  a  puberdade  precoce,  que  pode  ocasionar  na  redução  da estatura  devido  ao  fechamento  precoce  das  cartilagens  de  crescimento.  Ademais,  há  grande  risco  para dislipidemia que gera elevação de triglicerídeos, assim como o risco de diabetes melito e redução da atuação da  insulina  sistêmica  muscular  e  adipócitos,  hipertensão  arterial  sistêmica,  doenças  cardiovasculares  e transtornos psicológicos (BLUHER SW e WIEGAND S, 2018; PEREIRA LO, et al., 2003). Esses estados estão diretamente  associados  a  uma  alteração  fisiopatológica  característica  da  obesidade,  que  corresponde  ao quadro de resistência à insulina e hiperinsulinemia, o qual promove menor efeito desse hormônio e menor captação de glicose (SOUZA CT, 2018). 

Quanto aos transtornos psicológicos, dando ênfase no diagnóstico da depressão, este pode muitas vezes contribuir  para  alterações  do  apetite,  assim  como  maior  desejo  aguçado  à  carboidratos.  Apresenta  ainda, ligação  direta  com  a  baixa  autoestima  e  com  a  não  aceitação  corporal.  Foi  encontrada  uma  relação estatisticamente significativa com a depressão infantil, tendo em vista uma média global, com incidência de 15,8% na prevalência de transtornos mentais nessa faixa etária, o que pode prejudicar a vida escolar e os relacionamentos familiares e sociais da criança  (THIENGO DL, et al., 2014).

A desnutrição é um estado em que há um desequilíbrio nutricional que resulta da ingestão insuficiente de nutrientes para manter os padrões fisiológicos normais do indivíduo (WHO, 2020). Assim, há uma adaptação metabólica do corpo para sobreviver, com a consequente diminuição dos estoques de glicogênio e gorduras, o  que  promove  a  redução  das  reservas  energéticas.  Como  as  reservas  de  glicogênio  são  degradadas rapidamente, os níveis séricos normais de glicose não são mantidos, levando à hipoglicemia. Além disso, há deficiência  de  micronutrientes,  a  qual  desencadeia  a  disfunção  do  sistema  imune,  expondo  o  indivíduo  a doenças (LIMA AM, et al., 2010). 

Diante disso, tal distúrbio está associado com perda de apetite, imunidade deficiente,  alterações  no  metabolismo,  assim  como  maiores  chances  de  desencadear  doenças  crônicas futuras (SAWAYA AL, et al., 2006). As deficiências de micronutrientes podem ocorrer de forma isolada, mas, em sua maioria, são provenientes da interação entre elas. Por exemplo, a falta de ferro compromete o funcionamento da mucosa intestinal e dificulta a absorção da vitamina A. Em contrapartida, estudos mostram que elevados níveis de ferro podem afetar de forma negativa a absorção de  zinco, a  depender da quantidade de espécies iônicas, da dose de ferro  e  da  via  de  administração.  Logo,  uma  única  deficiência  pode  levar  a  desregulação  dos  outros micronutrientes e prejudicar o organismo (PEDRAZA DF, et al., 2013).

A Diabetes  Mellitus  tipo  2  é  um  exemplo  importante  de  consequência  metabólica,  em  que  a  carência nutricional gera um comprometimento do desenvolvimento do pâncreas desde o período fetal até a infância (WELLS JC, 2018). Assim, há a degradação das reservas de glicogênio com aumento da neoglicogênese a partir de aminoácidos livres e glicerol, porém, os níveis séricos normais de glicose não são mantidos, o que proporciona  um  quadro  de  hipoglicemia  (LIMA  AM,  et  al.,  2010).  

Consequentemente,  há  deficiências  no metabolismo da glicose, resultando em ainda mais espoliações energético-proteicas. Além disso, o risco é maior para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como infarto do miocárdio, calcificação da artéria coronária, doença arterial periférica, doença cerebrovascular, doença cardíaca isquêmica e hipertensão. Por fim, a síndrome metabólica é um possível resultado da desnutrição(GREY K, et al., 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Portanto, a  nutrição  infantil  deve  ser  vista  como  prioridade,  uma  vez  que  está  associada  ao  desenvolvimento neurológico. De forma oposta, destacam-se os distúrbios nutricionais, os quais apresentam como principais causas  fatores  socioeconômicos  e  genéticos.  A  obesidade  está  associada  a  puberdade  precoce  e a dislipidemia. Por outro lado, a desnutrição se apresenta nas formas energética proteica e com redução de vitaminas,  como  por exemplo  o  Marasmo  e  Kwashiorkor.  Com  isso,  há  consequências  como  disfunção  do sistema imune e doenças cardiovasculares. Logo, é de suma importância o balanço nutricional adequado, o que torna necessário a maior atenção e oferta de serviços assistenciais para a população infantil, adulta e idosa.

REFERÊNCIAS 

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SANTOS, Joana Filipa Sampaio dos. Terapia nutricional na doença inflamatória intestinal: monografia: nutritional therapy in inflammatory bowel diseases. 2009.


1 Medicina Unicamp
giulia.vb@hotmail.com
2 Medicina AFYA faculdade de ciências médicas
nannagaby1703@gmail.com
3Acadêmica de Nutrição Universidade CEUMA,
Noemybarbosa100@gmail.com
4 Medicina Universidade Grande Rio – Afya
Julia.gil.marinho@gmail.com
5 Medicina Faculdade Souza Marques 6º ano
bia.escorcio2000@gmail.com
6 Medicina Universidade Grande Rio – Afya
Mayara_dutra_@hotmail.com
7 Médica Universidad Privada Del Este revalidada pela UFRGS
tfmbsb@gmail.com
8 Médico UFF
viniciusjardim@id.uff.br
9 Graduanda em Nutrição Centro Universitário Santo Agostinho
hellenrocha1208@gmail.com
10 Médica UNIFIP
E-mail: jairlakelly@hotmail.com