REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202502161828
Íris Valença; Weverton Silva Rodrigues; Marcos Antonio de Lima Tavares Filho; Maria Aline Barros Fidelis de Moura (Orientadora)
RESUMO
O farmacêutico desempenha um papel essencial na promoção do uso racional de medicamentos e na educação em saúde dentro das Unidades Básicas de Saúde (UBS). Este artigo aborda a relevância deste profissional em garantir a segurança e a eficácia do tratamento medicamentoso, reduzindo os riscos associados à automedicação e à resistência antimicrobiana. Com base em uma análise bibliográfica retrospectiva, foram identificadas as principais contribuições do farmacêutico no controle de medicamentos, revisão de farmacoterapia e na realização de atividades educativas. Os resultados destacam que a presença do farmacêutico não apenas melhora a qualidade do atendimento à saúde, mas também promove a adesão ao tratamento e a prevenção de complicações. Este estudo reforça a necessidade de maior valorização do farmacêutico como agente transformador na saúde pública.
Palavras-chave: Farmacêutico; Educação em saúde; Uso racional de medicamentos; Unidade Básica de Saúde (UBS); Automedicação; Assistência farmacêutica.
INTRODUÇÃO
De acordo com a Constituição Federal de 1998, artigo 196 afirma que a saúde é um direito da população e dever do Estado, garantindo o acesso universal e igualitário às ações e serviços necessários à sua promoção, proteção e recuperação. (CF BRASIL, 1988, ART. 196) Com o intuito de atingir esse objetivo foi criado o Sistema Único de Saúde, (SUS) que por sua vez atende todos os brasileiros, incluindo estrangeiros, apátridas e imigrantes que se encontram em território nacional, assegurando o princípio de equidade no atendimento e promovendo ações integradas de prevenção, tratamento e reabilitação em saúde. Esse sistema é composto de princípios fundamentais, como a universalidade, a integralidade e descentralização, constituindo como uma importante ferramenta para a promoção da dignidade humana e a redução das desigualdades sociais no país.
Medicamentos são produtos especiais elaborados com a finalidade de diagnosticar, prevenir, curar doenças ou aliviar seus sintomas, sendo produzidos com rigoroso controle técnico para atender às especificações determinadas pela Anvisa. Os medicamentos seguem a normas rígidas para poderem ser utilizados, desde a sua pesquisa e desenvolvimento, até a sua produção e comercialização. (ANVISA. O QUE DEVEMOS SABER SOBRE MEDICAMENTOS, 2010, P. 12).
O amplo uso de medicamentos sem orientação médica, quase sempre acompanhado do desconhecimento dos malefícios que pode causar, é apontado como uma das causas destes constituírem o principal agente tóxico responsável pelas intoxicações humanas registradas no país. (LESSA, et al., 2008). Sendo assim, o consumo demasiado de medicamentos consolidou-se como um dos grandes obstáculos para a saúde pública em nível mundial, tendo em vista as intoxicações medicamentosas, resistências a antimicrobianos e agravamento de doenças preexistentes. Além disso, o uso incorreto de fármacos representa um risco tanto para os indivíduos quanto para a saúde coletiva, sobrecarregando os sistemas de atendimento e ampliando os custos associados ao tratamento de complicações evitáveis.”
O profissional farmacêutico tem papel fundamental no esclarecimento e atendimento da população em prol da promoção da saúde. Sua atuação nas UBS vem sendo ampliada, participando não somente de ações gerenciais, mas também assistenciais. As ações gerenciais estão direcionadas principalmente, para organização do medicamento agindo como um suporte á prescrição e dispensação. Já as ações assistenciais têm como foco o cuidado ao paciente, levando em consideração a terapia medicamentosa utilizada, oferecendo eficácia ao tratamento. Além disso, as atividades presentes no ciclo irão permitir o uso correto dos medicamentos e melhoria nos resultados terapêuticos (SANTOS, et al., 2017; NUNES et al., 2017).
No que diz respeito ao farmacêutico nas UBS, vale salientar a oportunidade da promoção de maior controle dos medicamentos, assegurando seu acesso e uso racional ao paciente (ABREU, 2019). O conhecimento sobre interações de medicamentos e dos constituintes presentes na fórmula do fármaco possibilita ao farmacêutico a busca por melhorias na adesão dos usuários e redução de possíveis Problemas Relacionados aos Medicamentos (PRM) que venham a surgir durante ou após o tratamento estabelecido. Portanto, a presença do farmacêutico nas UBS é essencial para promoção da saúde e qualidade de vida da população atendida (MELO; CASTRO, 2017; LUCAS, 2020).
METODOLOGIA
Foi conduzida uma análise bibliográfica de abordagem retrospectiva. A etapa inicial consistiu em um levantamento de fontes, com o objetivo de coletar referências pertinentes ao tema abordado no estudo sobre a relevância do farmacêutico nas Unidades Básicas de Saúde fornecendo a educação em saúde e o uso racional de medicamentos. As buscas foram realizadas nas seguintes plataformas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), ScienceDirect e National Library of Medicine (PubMed). Utilizaram-se palavras-chave como “farmacêutico”, “atenção básica”, “uso racional de medicamentos” e “educação em saúde”. Para a seleção das fontes, foram estabelecidos critérios de inclusão que abrangeram publicações entre 2008 e 2023, artigos em português e inglês, e estudos com relevância direta ao tema proposto. Além disso, foram excluídos materiais que não apresentavam dados robustos ou que se limitavam a revisões superficiais. Posteriormente, foi realizada uma leitura crítica dos textos selecionados para identificar os principais enfoques e perspectivas presentes na literatura, que subsidiaram a construção do referencial teórico. Este processo buscou garantir uma análise abrangente e fundamentada, permitindo a contextualização da problemática e a elaboração de conclusões baseadas em evidências.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1985, o uso racional de medicamentos foi definido como a situação onde o paciente recebe o seu devido medicamento ou medicamentos, de acordo com as suas necessidades clínica, em doses adequadas de modo que também venham a atender às suas necessidades e durante o tempo necessário.
Porém nem sempre os pacientes fazem o seu papel de forma adequada, muitas vezes acabam fazendo o uso inadequado dos medicamentos, podendo levar assim a quadros de toxicidade. Segundo um levantamento conduzido por farmacêuticos e publicado no site do Conselho Federal de Farmácia entre os anos de 2012 a 2021 foram registrados 1.255.435 casos de intoxicação, um número bastante preocupante. Diante disso, pode-se observar o papel de suma importância do farmacêutico em promover o uso racional dos medicamentos, visando a orientação e acompanhamento dos pacientes, promovendo a assistência farmacêutica de modo que a mesma é considerada um conjunto de procedimentos para levarem a promoção, prevenção e recuperação da saúde (ARAÚJO et al., 2008).
Uma das principais atribuições do farmacêutico na atenção primária a saúde é realizar a revisão da farmacoterapia dos pacientes, ou seja, analisar os medicamentos utilizados por cada indivíduo, identificar possíveis problemas relacionados à terapia medicamentosa, como interações medicamentosas, duplicidades ou uso inadequado, e propor intervenções necessárias, como ajustes de doses, substituições de medicamentos ou orientações aos profissionais de saúde e aos pacientes (Ferreira, 2022).
O farmacêutico, ao realizar a revisão da farmacoterapia, assume uma posição estratégica na identificação de possíveis falhas no tratamento. A detecção de interações medicamentosas, por exemplo, pode prevenir reações adversas graves que, muitas vezes, não são percebidas pelos pacientes ou pelos outros profissionais de saúde. Essa abordagem, segundo Ferreira, contribui significativamente para a redução de custos com terapias inadequadas e promove uma maior aderência ao tratamento, aumentando as chances de sucesso terapêutico.
No entanto, a contribuição do farmacêutico vai além da revisão da farmácia. Sua atuação na educação em saúde é crucial para garantir que o paciente compreenda a importância de seguir as orientações prescritas e adote hábitos mais saudáveis. A educação sobre o uso racional de medicamentos tem se mostrado uma das formas mais eficazes de reduzir a automedicação e o uso indevido de fármacos, problemas recorrentes que afetam a saúde da população. No contexto das UBS, o farmacêutico pode realizar sessões educativas, palestras e aconselhamentos individuais, esclarecendo dúvidas sobre os medicamentos prescritos, os riscos associados ao seu uso incorreto e a importância de manter um controle rigoroso sobre o tratamento.
Como já apontado anteriormente, o uso indevido de medicações têm sido um problema que ultrapassa as questões pessoais e organiza uma demanda em saúde pública. A automedicação e a administração incorreta de medicamentos podem levar a efeitos colaterais adversos, interações medicamentosas perigosas e até mesmo a danos irreversíveis aos órgãos. Além disso, o uso excessivo ou inadequado de antibióticos, por exemplo, tem contribuído para o aumento da resistência antimicrobiana, uma ameaça crescente à saúde global (Sousa et al., 2022).
CONCLUSÃO
O farmacêutico é um agente transformador na saúde pública, contribuindo para a promoção do uso racional de medicamentos e educação em saúde nas UBS. Sua atuação reduz os riscos associados ao uso inadequado de fármacos, melhora a adesão aos tratamentos e promove a qualidade de vida da população. Além disso, sua presença permite otimizar recursos públicos, reduzindo custos com complicações e internações evitáveis. O farmacêutico também desempenha um papel educativo fundamental, conscientizando a população sobre a importância de seguir corretamente os tratamentos e evitar a automedicação. Para potencializar esses benefícios, é crucial que as políticas públicas invistam em condições estruturais e de formação continuada para esses profissionais, garantindo que seu papel nas UBS seja plenamente exercido. Assim, o farmacêutico pode consolidar sua contribuição como um dos pilares da atenção básica à saúde no Brasil.
REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. o que devemos saber sobre medicamentos, 2010. Acesso em 04/12/2024. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/ptbr/centraisdeconteudo/publicacoes/medicamentos/publicacoes-sobre-medicamentos/o-que-devemos-saber-sobre-medicamentos.pdf
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LESSA, M. de A.; BOCHNER, R. Análise das internações hospitalares de crianças menores de um ano relacionadas a intoxicação e efeitos adversos de medicamentos no Brasil. Revista Bras. Epidemiol, v.11, n.4, p.660–674, 2008. acesso em: 04/12/2024. disponível em: https://www.scielo.br/j/rbepid/a/fHMWCkBcqW4ZFj3y5bbfzmn/
Ministério de saúde. Acesso em 06/12/2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/sectics/daf/uso-racional-de-medicamentos
Conselho Federal de Farmácia. Acesso em 06/12/2024. Disponível em: https://site.cff.org.br/noticia/noticias-do-cff/04/01/2023/casos-de-intoxicacao-medicamentosa-ressaltam-a-importancia-da-orientacao-do-farmaceutico-ao-paciente#:~:text=Pesquisa%20descritiva%20e%20quantitativa%2C%20de,Brasil%2C%20entre%202012%20e%202021.
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FERREIRA, Samyra Lima et al. Assistência farmacêutica na Atenção Primária à Saúde: desafios e contribuições. Research, Society and Development
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