O ENSINO SOCIAL DA IGREJA NA DIMENSÃO ESPIRITUAL DOS FUTUROS PRESBÍTEROS

La Enseñanza Social de la Iglesia en la Dimensión Espiritual de los futuros Sacerdotes

REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102502111205


Carlos Marçal Lima


RESUMO

O artigo em questão pretende ser uma chave de leitura na compreensão dos desafios da Doutrina Social da Igreja no ministério presbiteral. Visa encontrar caminhos pedagógicos no processo formativo dos futuros presbíteros, que conduzam ao enfrentamento das preocupações e entraves na compreensão, acolhida e prática do Ensino Social pelos presbíteros. Objetiva-se apresentar de modo sucinto e seletivo, a natureza do Ensino e da Prática Social da Igreja e sua íntima relação com o ministério ordenado. Pretende-se mostrar como a compreensão do caráter salvífico-espiritual da Doutrina Social e a dimensão espiritual do processo formativo, podem ajudar parte dos presbíteros a superarem a descrença e descompromisso com o Ensino e a Prática Social. Frente aos desafios do contexto de mudança de época, de uma cultura individualista, imediatista e polarizada, indicar-se-á o cultivo de uma espiritualidade encarnada, capaz de ajudar os candidatos ao ministério presbiteral a sair de si mesmos e volta-se para os mais necessitados. Dar-se-á através do contato íntimo com a Palavra de Deus, que evangeliza o próprio interior e educa-os para amar e servir, para solidariedade e humanidade, que entre outros aspectos, apontam para um processo formativo que seja expressão de uma adesão livre e responsável.

Palavras-chave: Desafios. Formação. Futuros presbíteros. Doutrina Social. Ensino.

ABSTRACT

The article in question aims to be a reading key in understanding the challenges of the Social Doctrine of the Church in the priestly ministry. It aims to find pedagogical paths in the training process of future priests, which lead to facing concerns and obstacles in the understanding, reception and practice of Social Teaching by priests. The aim is to present in a succinct and selective way the nature of the Church’s Teaching and Social Practice and its intimate relationship with the ordained ministry. It is intended to show how understanding the salvific-spiritual character of the Social Doctrine and the spiritual dimension of the formative process can help some of the priests to overcome disbelief and lack of commitment to Teaching and Social Practice. Faced with the challenges of the context of changing times, of an individualistic, immediate and polarized culture, the cultivation of an incarnated spirituality will be indicated, capable of helping candidates for the priestly ministry to leave themselves and turn to the most needy. It will take place through intimate contact with the Word of God, which evangelizes one’s own interior and educates them to love and serve, for solidarity and humanity, which among other aspects, point to a formative process that is an expression of an adhesion free and responsible.

Keywords: Challenges. Training. Future priests. Social Doctrine. Teaching.

INTRODUÇÃO

    O Ensino e a Prática Social da Igreja são traços essenciais do ser cristão, uma vez que Deus não é alheio à vida e aos problemas da humanidade. Na realidade, toda a economia da salvação mostra-nos que Deus fala e intervém na história a favor do homem e da sua salvação integral (cf. VD, nº 23). A fé possui um conteúdo moral: dá origem e exige um compromisso coerente de vida, comporta e aperfeiçoa o acolhimento e a observância dos mandamentos divinos (cf. VS, nº 89).

    O discurso e a ação da Igreja em favor dos mais pobres e vulneráveis, partindo das Escrituras e atravessando os séculos até os nossos dias, mostra-nos uma rica Tradição magisterial e teológica sobre as questões sociais, políticas e econômicas. Trata-se de um rico patrimônio da Igreja que precisa ser conservado com fidelidade e desenvolvido para responder progressivamente às novas necessidades da convivência humana (cf. OEESOIFS, nº 1).

    Contudo, nos tempos atuais, encontramos uma forte tendência em diversos setores da Igreja que ameaça a compreensão e a prática social da Igreja, representada pela polarização sociopolítica, cultural e religiosa do Brasil nos últimos anos; pelo contexto, que alguns teóricos chamam de época da pós verdade; pela própria tendência presente que aponta a uma fé intimista e desencarnada, que reduz a vida cristã a alguns momentos religiosos que proporcionam um certo alívio às angústias existências, mas que não alimentam o encontro com os outros, o compromisso com a vida fraterna e com a construção de um mundo mais justo (cf. EG, nº 78).

    Junto a essas tendências, podemos colocar o clericalismo, que conforme vem ressaltando o Papa Francisco, é uma perversão da Igreja e não é só dos clérigos (cf. FRANCISCO, 07 de agosto 2023). Realidade que precisa melhor ser aprofundada, pois pode ter diversas abordagens, entre elas sociológicas, uma vez que nossa sociedade é autoritária, em que um manda e o outro obedece; psicológica, uma vez que pode estar ligado a traços ou mesmo transtornos de personalidade; e teológica, uma vez que tem a ver com um modelo eclesiológico.

    A compreensão do que é o ensino e a prática social da Igreja se faz necessária a todos os batizados, uma vez que é notável que entre os cristãos hoje, corre-se um risco de se ter uma visão reducionista da Ação Evangelizadora e dificuldades de internalizar e assumir o ensinamento social da Igreja. Contudo, a opção pela temática do ensino social na Dimensão Espiritual dos futuros presbíteros, dar-se-á pela carência de referências teóricas que auxiliem os formadores, mediante a urgência que os candidatos ao ministério estejam conscientes da natureza, das finalidades e dos elementos essenciais da Doutrina Social da Igreja, para poder aplicá-la em suas atividades pastorais, uma vez que o ensino e a difusão da doutrina social fazem parte da missão evangelizadora da Igreja (cf. SRS, nº 41).

    A escrita deste trabalho justifica-se justamente pela urgência de encontrarmos caminhos para o enfrentamento da nossa problemática que nos propomos a refletir: como a Dimensão Espiritual no processo formativo pode despertar nos futuros presbíteros a sensibilidade e consciência de suas tarefas na dimensão social da fé?

    Justifica-se ainda porque, embora nossa reflexão gire em torna da dimensão social da fé no ministério ordenado, ela pode trazer luzes a todos os cristãos e é uma discussão que tem sido muito presente na pauta do magistério atual do Papa Francisco. Para o Papa, “o querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade (cf. EG, nº 177).

    Considerando as questões postas acima, a reflexão que segue, pretende enfrentar a seguinte problemática: como a compreensão do caráter salvífico-espiritual da Doutrina Social da Igreja pode ajudar os candidatos ao ministério presbiteral a assumir o cuidado com os pobres como parte integrante do seu ministério? Através de que vias a dimensão espiritual pode ajudar os futuros presbíteros a compreender que a prática da solidariedade aos que mais sofrem, pertence à sua natureza e é expressão irrenunciável da própria essência da vida ministerial? 

    Em nosso entendimento, nada neste mundo é indiferente a Deus, ao seu plano de salvação e nem mesmo pode ser indiferente à Igreja ou aos seus ministros. A compreensão do ensino e da prática social da Igreja, para que tenha respaldo e aceitação, precisa estar situado no contexto mais amplo da Teologia Social, que trata da dimensão social da fé (cf. AQUINO, 2018 p.12). A esse respeito, o Papa Francisco tem insistido que se é importante a opção pelos pobres, mais importante ainda é sua percepção no caráter salvífico-espiritual. “O laço indissolúvel entre a recepção do anúncio salvífico e um efetivo amor fraterno exprime-se em diversos textos da Escritura, que convém considerar e meditar atentamente para tirar deles todas as consequências” (EG, nº 179).

    Para que o ensino e a prática social sejam parte integrante do ministério presbiteral é fundamental reforçar o contato íntimo com a Palavra de Deus, em vista de evangelizar o próprio interior. É fundamental educar para a liberdade e responsabilidade, para amar e servir. A solidariedade e o compromisso com os mais pobres e excluídos, a defesa e a promoção da pessoa humana, passam precisamente pelo cultivar de uma espiritualidade encarnada, capaz de sair de si mesmo e volta-se para os necessitados, pondo-se ao lado dos mais pobres.

    O objetivo da presente pesquisa é apresentar uma abordagem do Ensino Social, à luz da Dimensão Espiritual, a qual é considerada central e unificante relativamente ao ser e ao agir do ser do presbítero, cujo seu conteúdo essencialmente é viver em íntima comunhão e familiaridade com o Pai, por meio do seu Filho Jesus Cristo, no Espírito Santo, e ser enviados a  anunciar a Boa Notícia, especialmente aos pobres, sofredores, doentes, pecadores e descrentes (PDV, nº 45).

    Nessa perspectiva a presente pesquisa tem como objetivos específicos: explicitar a relação existente entre a identidade presbiteral e a natureza da Doutrina Social, ajudando os futuros presbíteros a superar a dicotomia entre dimensões “ad intra” e “ad extra” da ação evangelizadora; demostrar que o nosso compromisso com os mais pobres fundamenta-se na Palavra de Deus, na encarnação de Jesus Cristo, fortalecendo assim o engajamento e o compromisso dos presbíteros com os pobres e marginalizados; apontar algumas luzes que colaborem para que o ensino social seja conhecido e internalizado como um valor cristão, enfrentando assim, a rejeição ou desconfiança que alguns têm em relação a Doutrina Social.  

    Nosso estudo será de revisão bibliográfica qualitativa, tendo como referencial básico os Documentos da Igreja que tratam do processo formativo dos futuros presbíteros e a obra “Formação: desafios morais”[1],  a qual lança luzes sobre a empreitada da formação dos futuros presbíteros e que poderá nos ajudar a recuperar o sentido salvífico-espiritual do compromisso com os pobres e aprofundar o aspecto integral da vida e missão dos presbíteros.

    Para tal, no primeiro capítulo de nosso estudo, buscaremos identificar as principais dificuldades que criam entraves para compreensão, acolhida e prática do ensino social da Igreja no ministério presbiteral. Pretendemos evidenciar a preocupação com a tendência do contexto atual e do novo perfil de candidatos à vida sacerdotal, fortemente caracterizado pelo descompromisso com a realidade.

    No segundo capítulo, procuraremos apresentar, de modo sucinto e seletivo, o ensinamento social da Igreja, seus princípios fundamentais, sua relevância atual e orientações indispensáveis para uma reta organização social, para a dignidade da pessoa humana e para o bem comum. Esse entendimento é fundamental e traz uma contribuição significativa para que os candidatos ao ministério ordenado tenham uma ideia clara da natureza e finalidade da Doutrina Social, e possam aplicar em sua atividade pastoral, na integralidade, tal como vem formulada e proposta pelo Magistério da Igreja. 

    No terceiro capítulo, buscaremos apresentar algumas proposições que podem auxiliar-nos a encontrar indicações práticas que tendem a ajudar a repensar o ensino social da Igreja na formação dos futuros presbíteros.

    2. OS DESAFIOS DO ENSINO SOCIAL NA FORMAÇÃO DOS PRESBÍTEROS

    A presente reflexão busca responder a uma problemática que parece estar sendo percebida nos diversos contextos eclesiais: o distanciamento de muitos presbíteros das raízes evangélicas da opção preferencial pelos pobres e consequentemente, indiferença à Doutrina Social da Igreja. A reflexão que segue pretende abordar os principais desafios que poderiam ser os entraves para o crescimento e amadurecimento dos candidatos ao ministério presbiteral, na compreensão, internalização e compromisso com o ensino social da Igreja.    

    O Papa Francisco, sensível às intuições do Concílio Vaticano II, tem insistido na urgência de volta a um modelo eclesiológico que lança a Igreja para fora, que vai em direção ao mundo e ao encontro dos dramas existenciais, das tristezas e esperanças que as pessoas vivem, particularmente, as mais fragilizadas e vulneráveis (cf. GS, nº 1).

    A Igreja em saída que recorda Francisco, é uma Igreja que não fica estagnada, cuidando apenas de sua manutenção, mas que sai em busca das pessoas, abandona o comodismo, a cegueira, o moralismo hipócrita e saem em busca das ovelhas perdidas (cf. EG 20-24).

    Para Francisco, a formação deve levar ao compromisso de salvar os excluídos, os vulneráveis e os pobres, além de ajudar a enfrentar os desafios das novas pobrezas na sociedade. O processo formativo deve colaborar para que os joves candidatos ao presbiterado não fiquem alienados dessas questões, mas tenham coragem e audácia para dar passos no seu discernimento vocacional, capacidade de sair de si e voltar-se às necessidades dos outros, pondo-se ao lado dos mais pobres e marginalizados (cf. FRANCISCO, 20 de novembro de 2015).

    Contudo, percebemos certa distância entre o ensinamento do Magistério atual e a realidade formativa existente, cujas características são de autossuficiência e autoreferencialidade. Busca-se uma espiritualidade difusa, marcada pelo subjetivismo que oferece satisfações emotivas, proximidade e conforto interior, sem alteridade, empatia, gratuidade e indiferença nas relações, especialmente com os mais pobres e com a natureza (cf. DGFP, nº 10).

    Qual será o perfil do presbítero que seja capaz de encarar o ser de uma Igreja em saída e comprometida com a Doutrina Social da Igreja, em suas novas demandas, tais como a cultura do cuidado, o imperativo da misericórdia e da fraternidade universal? Que tipos de padres necessitamos para a Igreja hoje e amanhã? Qual o modelo eclesiológico formará ministros que correspondam aos anseios e às necessidades de uma sociedade em permanente mudança? (cf.  (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018, p. 11). 

    A reflexão que pretendemos fazer neste capítulo pretende encarar as questões postas acima, em vista de posteriormente encontramos, na dimensão espiritual, luzes que possam nos ajudar a superar os principais desafios na compreensão e prática da Doutrina Social da Igreja pelos presbíteros nos dias atuais. Limitar-nos-emos aqui a refletir sobre algumas realidades que nos desafiam, nos preocupam e que acabam se tornando entraves para o Ensino e a Prática Social no ministério presbiteral.

    2.1 O DESAFIO DA MUDANÇA DE ÉPOCA

    Em 2017, a V Conferência Geral do Episcopado Latino-americano e do Caribe, se deparou com o desafio do que já se convencionou chamar de mudança de época, trazendo consigo o enfraquecimento da identidade espiritual dos presbíteros, que dificultam o processo de formação de autênticos discípulos missionários (Cf. D.A, nº 318).

    Segundo Amado, os bispos em Aparecida reconheceram que os desafios da mudança de época não são alterações periféricas ou circunstanciais. Ao contrário, além das transformações nos mais diversos aspectos da vida, afetam-se também os alicerces de compreensão. Não são apenas os fatos que, de tão novos, pedem novas compreensões. São também os critérios para a interpretação desses fatos que se mostram atingidos (cf. AMADO, 2018, p. 107).

    Pedro Ribeiro, doutor em sociologia e então assessor da CNBB, numa análise de conjuntura, assim constatava: “vivemos em uma realidade marcada por mudanças que afetam profundamente a vida dos seres humanos e o os cristãos não podem esperar que as coisas voltem ao mundo que existia antes. Vivemos um período contraditório, no qual várias tendências se entrecruzam” (CNBB, 2008, p. 11).

    O Papa Francisco, em discurso à Cúria Romana, dizia que encontramo-nos num daqueles momentos em que as mudanças já não são lineares, mas epocais; constituem opções que transformam rapidamente o modo de viver, de se relacionar, de comunicar e elaborar o pensamento, de comunicar entre as gerações humanas e de compreender e viver a fé e a ciência. (cf. FRANCISCO, 21 dezembro de 2019).

    Bauman, na tentativa de compreender essa mudança de época constata que no contexto atual os jovens correm o risco de assumir “identidades fragmentadas”, tornarem-se pessoas incapazes de lutar por objetivos exigentes e por realizar projetos que exijam esforço, fidelidade, compromisso, sacrifício (cf. BAUMAN, 2007, p.17).

    Mesmo sem se alongar e aprofundar a questão do desafio da mudança de época, podemos dizer que, no fundo, o que está acontecendo no ministério presbiteral, sobretudo no clero mais jovem, é uma variação dentro da dinâmica histórica que “exige de nós maior atenção aos projetos de formação dos seminários, pois os candidatos ao ministério são filhos desse tempo, caracterizado pela fragmentação da personalidade, a incapacidade de assumir compromisso definitivos, a ausência de maturidade humana e o enfraquecimento da identidade espiritual (cf. DA, nº 318).

    Podemos dizer também, que as constatações acima são importantes pois, além de nos deixar questionar pelos desafios do tempo presente, nos ajudam a compreender a visão de mundo dos presbíteros e suas contradições ou mesmo aversão às problemáticas sociais, conforme apareceu na recente pesquisa de Brighenti

    Dificuldade em ver a importância e a necessidade do reconhecimento e a promoção dos direitos sociais, do bem comum ou dos direitos das minorias, dos invisibilizados… Não se vê como problemas importantes a situação política, a corrupção, a falta de assistência à saúde, o desemprego, o narcotráfico ou as condições precárias de moradia… Falta de preocupação pelos pobres, típica dos regimes neoliberais que voltam com força no continente e para além dele, não é mencionada como uma realidade negativa de peso (BRIGHENTI, 2021, p. 273).

    Como consequência dessa visão de vida, podemos constatar ainda, a frieza e o distanciamento dos presbíteros, diante das exigências de assumir posturas possíveis de mudanças na vida pessoal, na Igreja e na sociedade. Contudo, podemos dizer que essas constatações nos encorajam a buscar luzes para o enfrentamento da problemática da indiferença e até mesmo à rejeição da Doutrina Social da Igreja por parte de clérigos, realidade presente também em muitos cristãos leigos e leigas.  

    2.2 SINAIS DE PREOCUPAÇÃO

    A constatação que estamos vivenciando em um momento de transformações profundas, numa cultura que dá prioridade ao que é temporário, que descarta as pessoas e lhe nega o reconhecimento da dignidade humana (cf. FRANCISCO, 4 de março 2015), coloca-nos diante de algumas preocupações que acabam comprometendo o processo formativo do futuro clero. Aqui referimo-nos apenas a três preocupações: o clericalismo, a volta de uma eclesiologia e espiritualidade contrárias à renovação do Concílio Vaticano II e a certos planos de Pastoral desvinculados de qualquer tipo de preocupação com a transformação da realidade. 

    É claro que essas três temáticas merecem ser refletidas com espírito crítico e profundidade, em uma outra oportunidade, considerando os elementos culturais, psicológicos, antropológicos e eclesiológicos. Contudo, aqui faremos apenas uma referência à essas tendências que são vistas como sinais de preocupação no processo formativo dos presbíteros.   

    É motivo de perplexidade, que nas diversas instâncias em que o Povo de Deus é chamado a participar, como foi o caso da primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe no ano de 2021,  em que o clamor pela superação do clericalismo e o afastamento dos presbíteros do compromisso com a dimensão social da fé, foi uma das reivindicações mais fortes (cf. CELAM, 2022, nº 96). Para o Papa Francisco, “o clericalismo é um flagelo, é uma chaga, é uma forma de mundanidade que suja e danifica o rosto da esposa do Senhor; escraviza o santo povo fiel de Deus. É triste quando os ministros exageram no seu serviço e maltratam o povo de Deus, desfigurando o rosto da Igreja com atitudes machistas e ditatoriais (cf. FRANCISCO, 25 de outubro 2023).

                É motivo de perplexidade também percebermos algumas tendências a voltar a uma eclesiologia e espiritualidade contrárias à renovação do Concílio Vaticano II: uma espiritualidade individualista que relativiza o ético e a aplicação do rico patrimônio que contém a Doutrina Social da Igreja (cf. DA, nº 100). Essas tendências “dão origem a um elitismo narcisista e autoritário, onde em vez de evangelizar, se analisam e classificam os demais e, em vez de facilitar o acesso à graça, consomem-se as energias a controlar. Em ambos os casos, nem Jesus Cristo nem os outros interessam verdadeiramente (GE, nº 35).

    É motivo de perplexidade ainda, percebermos que enquanto multidões de pessoas morrem de fome, sendo violentadas em todas as dimensões da vida, tendo a própria dignidade ferida, muitas dioceses apresentam planos de pastoral desvinculados de qualquer tipo de preocupação com a transformação da realidade cf. (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018, p.13). No conjunto da visão dos católicos há um olhar mais para dentro da Igreja do que para fora dela, há uma visão predominantemente religiosa e moral da sociedade, o que impede de ir às causas estruturais de realidades complexas como é a exclusão e a pobreza, a violência e a opressão (cf. BRIGHENTI, p. 272 e 273).

    As três preocupações apresentadas acima torna-se um desafio na formação dos presbíteros, pois são contrárias aos ensinamentos da Igreja, uma vez “a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência” (cf. DCE, nº 25). “A proposta é o Reino de Deus” (cf. Lc 4, 43); trata-se de amar a Deus, que reina no mundo. Na medida em que Ele conseguir reinar entre nós, a vida social será um espaço de fraternidade, de justiça, de paz e de dignidade para todos. Por isso, tanto o anúncio como a experiência cristã tendem a provocar consequências sociais” (cf. EG, nº180).

    Frente a essas preocupações, é necessário que todo processo formativo, sobretudo a dimensão espiritual, proporcione aos vocacionados ao ministério presbiteral uma larga possibilidade de evangelizar a própria interioridade por meio de um contato profundo com a Palavra de Deus.

    Possibilidade esta que os ajude a trocar um estado de conforto por um espírito capaz de se compadecer das misérias humanas, de amar, de acolher e de valorizar a pessoa do outro, especialmente os mais vulneráveis, como os pobres, os simples, os doentes, os idosos, e assim superando atitudes de arrogância, indiferença, desprezo e intolerância, e assumindo como seus os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018, p.12).

    Nesse horizonte, deve-se entender que a formação dos futuros presbíteros precisa ser sustentada pela vida espiritual, pelo fazer da própria vida um diálogo constante com a Palavra de Deus (FRANCISCO, 25 de janeiro de 2016).

    2.3 OS ENTRAVES DO ENSINO SOCIAL NA FORMAÇÃO PRESBITERAL

    No ano de 1988, a Congregação para Educação Católica publicou um Documento intitulado: orientações para o estudo e o ensino da Doutrina Social da Igreja na formação sacerdotal. Neste Documento reconheceu-se algo, que também hoje, seja um dos entraves do Ensino Social na formação presbiteral: a falta de conhecimento da riqueza contida na Doutrina Social da Igreja (cf. CEC, 1988, nº1).

    O Documento em questão afirma que a Doutrina Social constitui um rico patrimônio que a Igreja progressivamente foi adquirindo a partir da leitura da Palavra e atendendo às situações mutáveis dos povos nas diversas épocas da história. “Por isso, é cada vez mais urgente e decisiva a irrenunciável presença evangelizadora da Igreja no complexo mundo das realidades temporais que condicionam o destino da humanidade (Ibidem, nº 2).   

    João Paulo II, na encíclica Sollicitudo Rei Sociallis exortava aos candidatos ao sacerdócio a adquirem uma ideia clara acerca da natureza e das finalidades da DSI para poder aplicá-la na atividade pastoral pois esse “ensino e a difusão da doutrina social fazem parte da missão evangelizadora da Igreja” (cf. SRS 1987, nº 41).

    Na pesquisa de Brighenti, em relação ao exercício do ministério presbiteral os entrevistados frisaram: é preciso mudar a linguagem, pois libertação, pobres, luta, compromisso social, comunidade, etc., podem gerar mal-entendidos ou mesmo, desinteressar aqueles mais sintonizados com novas formas de expressão na atualidade (Ibidem, p. 276).

    É motivo de perplexidade e indignação perceber que, enquanto multidões de irmãos e irmãs estão morrendo de fome, sendo violentadas em todas as dimensões da vida, tendo a própria dignidade ferida (Ibidem, p.13), aqueles que deveriam ser os anunciadores de uma Boa Nova possam, “por medo de mal entendido”, abrir mão da defesa dos prediletos de Cristo.

    A mentalidade posta acima, mostra que a Doutrina Social da Igreja não é conhecida e muito menos internalizada por uma boa parte dos presbíteros, pois conforme veremos mais a frente, dentre as linhas mestras no desenvolvimento histórico da Doutrina Social da Igreja a mais incisiva preocupação sempre foi a centralidade e a dignidade da pessoa humana. A promoção integral do homem e a defesa incondicional da vida faz parte da concepção cristã da vida, de modo que uma sadia educação da fé não pode descuidar do aspecto social.

    É fundamental conhecer a Doutrina Social, pois como já reconhecia João XXIII,

    a Santa Igreja, apesar de ter como principal missão a de santificar as almas e de as fazer participar dos bens da ordem sobrenatural, não deixa de preocupar-se ao mesmo tempo com as exigências da vida cotidiana dos homens, não só no que diz respeito ao sustento e às condições de vida, mas também no que se refere à prosperidade e à civilização em seus múltiplos aspectos, dentro do condicionalismo das várias épocas (MEM, 1961, nº 3).

    É indispensável que como Igreja, aprendamos a “escutar os sinais dos tempos”, ou seja, ouvir a voz de Deus nos acontecimentos e interpretá-los à luz do Evangelho, de tal modo que possa responder, de maneira adaptada a cada geração, às interrogações eternas sobre os significados da vida presente e futura e de suas relações mútuas. É necessário, por conseguinte, conhecer e entender o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole frequentemente dramática (cf. GSP, nº4).

    3. A NATUREZA DA DOUTRINA SOCIAL E A IDENTIDADE DOS PRESBÍTEROS

    A reflexão que segue pretende abordar os elementos constitutivos da Doutrina social da Igreja, em vista de descobrir como esses fundamentos teológicos podem ajudar os futuros presbíteros a assumir uma vida próxima e solidária com os mais pobres. Busca demostrar que a experiência de fé da comunidade eclesial são expressão da salvação integral de Cristo, que deve ser acolhida, celebrada, anunciada e testemunhada (cf. ZACARIAS e MANZINI, 2016, p. 16). “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo. O querigma possui um conteúdo inevitavelmente social: no próprio coração do Evangelho, aparece a vida comunitária e o compromisso com os outros. O conteúdo do primeiro anúncio tem uma repercussão moral e imediata, cujo centro é a caridade (cf. EG 176 e 177).

    A Doutrina Social da Igreja é o conjunto dos ensinamentos e da prática da Igreja Católica em relação à dimensão social da vida humana, presente em seu Magistério, ou seja, nas encíclicas, declarações, decretos, notas, exortações apostólicas e pronunciamentos oficiais dos papas. São declarações do Magistério sobre temas intimamente relacionados com a defesa e a promoção humana em todas as dimensões (cf. ZACARIAS e MANZINI, 2016, p. 8).

    A Doutrina Social da Igreja constitui um rico patrimônio que a Igreja progressivamente foi adquirindo a partir da leitura da Palavra de Deus e atendendo às situações mutáveis dos povos nas diversas épocas da História (CEC, 1988, nº1).

    Lamentavelmente, esse rico patrimônio da Igreja continua sendo um grande desconhecido, principalmente pelos sujeitos de quem se espera um comprometimento com sua prática (cf. MESSIAS e CRUZ, 2020, p.12). Além da Doutrina Social ser desconhecida, é visível que há, por parte dos presbíteros, uma rejeição a esse ensinamento e prática da Igreja. Dizia os bispos em Aparecida: “verificamos uma mentalidade relativista no ético e no religioso, a falta de aplicação criativa do rico patrimônio que contém a Doutrina Social da Igreja” (DA, nº 100).

    É necessário que todo o processo formativo, em todas as suas etapas, especialmente na dimensão espiritual, proporcione aos vocacionados à vida presbiteral, a clareza de que há uma união ontológica e existencial entre a profissão de fé e a transformação social. O querigma e a profissão de fé possuem um conteúdo necessariamente social: a vida comunitária e o compromisso com os outros (cf. ZACARIAS e MANZINI, 2016, p. 16).

    3.1NATUREZA E DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

    A doutrina social da Igreja tem como marco oficial o século XIX, com a publicação da Rerum Novarum (1891), de Leão XIII. Contudo, ela tem o seu fundamento essencial na Revelação Bíblica e na Tradição da Igreja (cf. MESSIAS e CRUZ, p. 36). João Paulo II disse no discurso inaugural de Puebla que a Doutrina Social “nasce à luz da Palavra de Deus e do magistério autêntico, da presença de cristãos no seio das transformações do mundo, em contato com os desafios que delas provêm. Tal doutrina social comporta, portanto, princípios de reflexão, mas também normas de julgamentos e diretrizes de ação” (PUEBLA, 1979, p. 31).

    Um rápido olhar sobre os textos bíblicos, a experiência das primeiras comunidades, a patrística e os outros períodos da história, podem nos dar uma ideia do quanto o discurso e a ação da Igreja em favor dos pobres sempre estiveram presentes através dos papas, teólogos e missionários.  “A pessoa do pobre e o tema da pobreza, em geral, estão presentes no coração da Igreja desde sempre. Efetivamente, trata-se de um tema transversal a toda a ação apostólica da Igreja desde os primeiros tempos, que decorre da sua dimensão diaconal, do serviço da caridade” (DINIZ, 2022, p.10).

    Aqueles que estão familiarizados com a história da Igreja sabem que em todos os tempos houve admiráveis figuras de Bispos profundamente empenhados na promoção e na destemida defesa da dignidade humana daqueles que o Senhor lhes havia confiado. Fizeram-no sempre sob o imperativo da sua missão episcopal, porque para eles a dignidade humana era um valor evangélico que não podia ser desprezado sem grande ofensa ao Criador. (PUEBLA, p. 25)

    Para o aprofundamento do Pensamento Social na Sagrada Escritura, na patrística e nos períodos históricos seguintes, indicamos aqui apenas uma referência, o capítulo I do Compêndio da Doutrina Social da Igreja: o desígnio do amor de Deus a toda humanidade. Por agora, interessa-nos reconhecer como se deu o desenvolvimento da Doutrina Social, a partir da encíclica Rerum Novarum e como desde então, a cada pontificado, a cada transformação da sociedade, gerava novos problemas sociais que exigiam novas respostas de ação social da Igreja.

    A expressão “doutrina social”, será de certa forma, oficializada por Pio XI na Encíclica “Quadragésimo Anno”, em 1931 (FAUX, 2019, p. 7).  Contudo, será em 1975, na Evangelii Nuntiandi, que o papa Paulo VI usará o termo para se referir ao esforço que Igreja deve fazer para se inserir sempre na luta em favor da libertação dos homens (cf. EN, nº 38).

    João Paulo II usará a terminologia “doutrina social” em vários momentos. Um exemplo claro é o discurso inaugural de Puebla

    “confiar responsavelmente nesta Doutrina Social, ainda que haja alguns que procuram semear dúvidas e desconfianças sobre ela, estudá-la com seriedade, tentar pô-la em prática, ensiná-la e ser-lhe fiel é, num filho da Igreja, garantia de autenticidade do seu empenho nas delicadas e exigentes tarefas sociais e dos seus esforços em favor da libertação e da promoção dos seus irmãos” ( PUEBLA, p. 31)

    O papa João Paulo II usará termo doutrina social de modo especial na Encíclica Sollicitudo Rei Sociallis (1987), na qual o pontífice afirma que a solicitude social da Igreja, tem como fim um desenvolvimento autêntico do homem e da sociedade, o qual respeita e promove a pessoa humana em todas as suas dimensões (SRS, 1987, nº1).

    Para João Paulo II, à luz da fé e da tradição eclesial, a finalidade da doutrina social é interpretar as realidades de cada tempo, examinando a sua conformidade ou desconformidade com as linhas do ensinamento do Evangelho sobre o homem e sobre a sua vocação terrena, e ao mesmo tempo transcendente; visa pois, orientar o comportamento cristão. Ela pertence, por conseguinte, não ao domínio da ideologia, mas da teologia e especialmente da teologia moral (Ibidem, nº 41).

    Pelo que vimos nesse breve esboço histórico sobre a natureza do termo Doutrina Social, fica evidente a solicitude da Igreja na defesa e na promoção da dignidade humana. Fica claro também que por ser parte da missão evangelizadora e dever da Igreja anunciar a libertação integral do ser humano, deve-se colocar particular cuidado na formação de uma consciência social em todos os níveis e em todos os setores (cf. PUEBLA, p,31).

    No processo histórico de desenvolvimento da Doutrina Social da Igreja as Encíclicas papais, da Rerum Novarum de Leão XIII, à Fratelli Tutti de Francisco, notamos a originalidade e o interesse da Igreja pelo ensinamento e dicas de modo de agir frente às grandes questões sociais, no cuidado com toda a criação e na defesa pela dignidade e promoção humana.

    Francisco de Aquino Júnior, em sua obra “Encíclicas Sociais, um guia de leitura” [2]nos apresenta de modo objetivo e profundo, o contexto em que cada encíclica foi escrita e o seu ensinamento fundamental. O Compêndio da Doutrina Social, dos números 87 a 101, nos apresenta uma visão panorâmica dos princípios desse rico patrimônio da Igreja que foi se desenvolvendo ao longo da história, através do ensinamento dos papas. 

    Frente à riqueza desse patrimônio e devido ao limite nosso em não podermos refletir aqui sobre o contexto de cada encíclica, seus respectivos ensinamentos e os seus princípios, faremos uma breve apresentação das principais temáticas de cada encíclica, seguindo a ordem cronológica de sua publicação, conforme a obra citada de Aquino Junior: 

    Rerum Novarum do Papa Leão XIII, sobre a “condição dos operários” – 15 de maio de 1891 (p. 19- 41). Quadragesimo Anno do Papa Pio XI, “sobre a restauração e aperfeiçoamento da ordem social em conformidade com a lei evangélica” – 15 de maio de 1931 (p. 43-69). Mater et Magistra do Papa João XXIII “sobre a evolução da questão social à luz da doutrina cristã” – 15 de maio de 1961 (p. 71-99). Pacem in Terris do Papa João XXIII, “sobre a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade” – 11 de abril de 1963 (p. 101-128). Populorum Progressio do Papa Paulo VI, “sobre o desenvolvimento dos povos” – 26 de março de 1967 (p. 129-153). Octogesima Adveniens do Papa Paulo VI – dirigida/endereçada ao Cardeal Maurice Roy, presidente da Comissão Pontifícia Justiça e Paz e do Conselho de Leigos – 14 de maio de 1971 (p. 155-179). Laborem Exercens do Papa João Paulo II, “sobre o trabalho humano” – 15 de maio de 1981 (p. 181-209). Sollicitudo Rei Socialis do Papa João Paulo II, “sobre a solicitude social da Igreja” – 30 de dezembro de 1987 (p. 211-239). Centesimus Annus do Papa João Paulo II, “por ocasião do centenário da Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII” – 1º de maio de 1991 (p. 241-269). Caritas in Veritate do Papa Bento XVI “sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e na verdade” – 29 de junho de 2009 (p. 271-302). Laudato Si’ do Papa Francisco, “sobre o cuidado com a casa comum” – 24 de maio de 2015 – (p. 303-333). Fratelli Tutti do Papa Francisco, “sobre a fraternidade e a amizade social” (p. 335-368).

    A citação das temáticas de cada encíclica, mesmo sem oportunidade para aprofundamento, nos ajuda a constar aquilo que o Compêndio da Doutrina Social reconhece

    A Doutrina Social da Igreja não foi pensada desde o princípio como um sistema orgânico; mas foi se formando pouco a pouco, com progressivos pronunciamentos do magistério sobre temas sociais. Tal gênese torna compreensível o fato de que tenham podido intervir algumas oscilações acerca da natureza, do método e da estrutura epistemológica da (Compendio da Doutrina Social da Igreja” (n. 72).

    Ajuda-nos também a reconhecer o que a encíclica Sollicitudo Rei Sociallis, na sua apresentação constata

    Os Sumos Pontífices não deixaram de ilustrar, com as suas intervenções, também aspectos novos da doutrina social da Igreja. Começando, pois, do validíssimo subsídio de Leão XIII, enriquecido pelas sucessivas contribuições magistrais, que se articula à medida em que a Igreja, dispondo da plenitude da Palavra revelada por Cristo Jesus e com a assistência do Espírito Santo (cf. Jo 14, 16. 26; 16, 13-15), vai lendo os acontecimentos, enquanto eles se desenrolam no decurso da história. Deste modo, ela procura guiar os homens para corresponderem, com o auxílio também da reflexão racional e das ciências humanas, à sua vocação de construtores responsáveis da sociedade terrena (SRS, nº 41).

    Ajuda-nos ainda no entendimento de que o magistério social da Igreja através das encíclicas sociais está inserido no contexto mais amplo da Tradição viva da Igreja, pois são parte constitutiva da Tradição que enquanto processo vivo e dinâmico, vai sendo enriquecida ao longo da história no discernimento das novas situações e no enfrentamento dos novos desafios. Essa compreensão é importante, sobretudo no contexto presente, em que muitos procuram semear dúvidas e desconfiança sobre a Doutrina Social (PUEBLA, p.31).

    3.2 PRINCÍPIO FUNDAMENTAL DA DSI: A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

    A Doutrina Social da Igreja orienta-se pelo princípio personalista e pelo humanismo integral que destacam a Dignidade da Pessoa Humana como valor absoluto.  “A mensagem fundamental da Sagrada Escritura anuncia que a pessoa humana é criatura de Deus (cf. Sl 139, 14-18) e identifica o elemento que a caracteriza e distingue no seu ser à imagem de Deus: Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher (Gn 1, 27). Deus põe a criatura humana no centro e no vértice da criação” (CDSI, nº 108).

    A preocupação da Igreja pelo ser humano é porque ela vê em cada pessoa, a imagem do prórpio Deus (cf. MESSIAS e CRUZ, p. 63). Para Bartolomeo Sorge, Jesuita, teólogo e grande estudioso da Doutrina Social da Igreja:

    A expressão “ser pessoa criada à imagem e semelhança de Deus” não significa apenas ser naturalmente inteligentes e livres, mas também ser chamados a participar na vida divina, a tornarem-se filhos no Filho, até poder dizer: “Não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Só em Cristo a pessoa humana alcança o seu pleno significado. (SORGE, 2018, p. 29).

    A Constituição Pastoral Gaudium et Spes,  ao tratar do tema da dignidade humana afirma que o homem é capaz de conhecer e amar o seu criador. Ele foi constituído Senhor de todas as criaturas terrenas para governá-las e usá-las, glorificando a Deus. Tudo quanto existe sobre a terra deve ser ordenado em função do homem, como seu centro e seu termo: neste ponto existe um acordo quase geral entre crentes e não-crentes. (cf. GS 12).

    Em outras palavras, a diginidade humana é identificada e está configuirada em uma dimensão profundamente ontológica e teológica, ou seja, o ser humano é digno, sobretudo, pelo que ele é, e não reduzidamente pelo que ele faz ou deixa de fazer (cf. MESSIAS e CRUZ, p. 64). Sorge afirma categoricamente

    O Evangelho ensina que o homem vale pelo que é e não pelo que tem ou pelo que faz. O homem merece amor e respeito porque vive, não porque possui. A sua dignidade está ligada ao fato de que é pessoa. Por- tanto, desde o momento em que se acende a primeira centelha da vida no seio da mãe, até o momento da morte física, toda pessoa conservará sempre a sua honorabilidade, mesmo se for pobre ou enferma, mesmo se erra ou é delinquente (SORGE, 2018, p. 27).

    Além do princípio personalista, a Doutrina Social ainda contempla os seguintes princípios fundamentais, dentre outros que lhes são submetidos:

    O Princípio do Bem Comum recorda-nos o conjunto de condições sociais que permitem ao indivíduo e à comunidade atingir a própria perfeição (cf. Gaudium et Spes, n. 26). Pressupõe o estabelecimento de condições estatais básicas (Estado de Direito) e a preservação das condições naturais (alimentação, habitação, saúde, educação etc.).

    O Princípio da Destinação Universal dos Bens ensina-nos que a propriedade deve ser distribuída de modo que todos tenham o necessário para viver dignamente. Esse princípio requer o cuidado especial com os pobres (cf. CDSI, 2005, nº 182).

    O Princípio da Subsidiariedade recorda-nos que os organismos sociais são estruturados em níveis, dos pequenos aos maiores, de modo que entre eles existe uma obrigação de ajuda (caráter positivo), sem que isso implique superar/invadir as competências respectivas (caráter negativo) (cf. DOCAT, 2016, nº 95 e CDSI 2005, nº 186).

    O Princípio da Participação ensina-nos que a participação na vida comunitária não é somente uma das maiores aspirações do cidadão, mas também uma das pilastras de todos os ordenamentos democráticos, além de ser uma das maiores garantias de permanência da democracia (cf. CDSI, 2005, nº 190).

    O Princípio da Solidariedade, em vista da determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum (CDSI, 2005, nº 183), recorda-nos que vivemos uma relação de interdependência, superando a “globalização da indiferença”. Por esse princípio, somos chamados a vencer as “estruturas de pecado” e construir uma “civilização do amor”.

    A Doutrina Social da Igreja, partindo desses princípios, procura nortear a edificação de uma sociedade caracterizada pela preocupação com a defesa da dignidade humana, fazendo com que cada pessoa tenha acesso aos bens necessários (Cf. MESSIAS e CRUZ, 2020, p. 12).

    3.3 CARÁTER TEOLÓGICO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

    Pelo que já temos visto até aqui, podemos dizer que “a Doutrina Social da Igreja é uma reflexão teológica, é uma fonte singular de alimentação das nossas virtudes teologais: fé, esperança e caridade” (MESSIAS e CRUZ, 2022 p. 26). O próprio Compêndio da Doutrina Social ressalta isso ao afirmar: “tal doutrina possui uma profunda unidade, que provém da Fé em uma salvação integral, da Esperança em uma justiça plena, da caridade que torna todos os homens verdadeiramente irmãos em Cristo. Ela é expressão do amor de Deus pelo mundo” (cf. CDSI, 2005, nº 3). E esse amor, toda graça da salvação que Jesus alcançou para cada um de nós no madeiro da cruz é uma salvação completa. “Deus não salvou parcialmente; pelo contrário, é uma salvação integral, que nos envolve em todo o nosso ser, em tudo que somos, com todas as dimensões de nossa existência (MESSIAS e CRUZ, 2022, p. 25).

    No centro e ao mesmo tempo o fundamento teológico dessa sensibilidade e atividade da Igreja no campo social, está o mistério da Encarnação do Filho de Deus que assumiu a totalidade do ser humano, com todas as suas dimensões. Com o mistério da Encarnação, o Filho de Deus, abraçou inteiramente o ser humano: ser corpóreo e espiritual. “Jesus Cristo, ao se encarnar em nossa história, assumiu, de fato, toda a nossa história, sendo semelhante a nós em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 4,4,15). Tal mistério manifesta a grandeza, a abrangência e a integralidade da salvação que nos foi conquistada” (Ibidem, p. 25).  

    O Compêndio da Doutrina Social da Igreja assim vai se referir

    O homem todo, não uma alma separada ou um ser encerrado na sua individualidade, mas a pessoa e a sociedade das pessoas ficam implicado na economia salvífica do Evangelho. Portadora da mensagem de Encarnação e de Redenção do Evangelho, a Igreja não pode percorrer outra via: com a sua doutrina social e com a ação eficaz que ela ativa, não somente não falseia o seu rosto e a sua missão, mas é fiel a Cristo e se revela aos homens como sacramento universal da salvação (CDSI, 2005, nº 65).

    Nessa perceptiva, podemos dizer que um ministério presbiteral desencarnado das realidades humanas, perde sua missão e seu sentido, pois para o Magistério da Igreja, a realidade social não é somente um anexo de nossa existência, nem muito mesmo, uma realidade ruim que deve ser repudiada e negada. João Paulo II assim se referia

    Se a Igreja estar presente na defesa e na promoção da dignidade do homem, o faz na linha da sua missão, que apesar de ser de carácter religioso, e não social ou político, não pode deixar de considerar o homem na integridade do seu ser. O próprio Senhor delineou na parábola do Bom Samaritano o modelo da atenção a todas as necessidades humanas; e, mais, declarou que no juízo final se identificará com os desvalidos — enfermos, encarcerados, famintos, solitários — a quem se tenha dado a mão. A Igreja aprendeu nestas e noutras páginas do Evangelho que a sua missão implica como parte indispensável a ação em prol da justiça e as tarefas de promoção do homem e que entre evangelização e promoção humana existem laços muito fortes de carácter antropológico e teológico e da ordem da caridade (PUEBLA, nº 2).  

    A partir dessa concepção teológica, entendemos que o homem, criado à imagem e semelhança de Deus, possui uma dignidade altíssima e, portanto, inviolável. Embora sujeito ao drama do pecado, a pessoa humana não perde a sua dignidade, ainda que cometa os atos mais reprováveis do ponto de vista moral ou crimes gravíssimos (cf. CIC, 2002 nº 2267).

    Assim sendo,  apresentamos em uma  visão panorâmica os fundamentos da Doutrina Social. Buscamos compreender como se deu o seu desenvolvimento, quais são os fundamentos teológicos  e que habilitam no Magistério a se posicionar diante das realidades sociais como seus princípios basilares  e o quanto podem contribuir na compreensão de que não há divórcio entre fé e vida. “O compromisso social daquele que professa a fé em Cristo Jesus é parte integrante da vida cristã” (MESSIAS e CRUZ, 2022, p.11).  

    4. LUZES SOBRE OS DESAFIOS DA DOUTRINA SOCIAL NO MINISTÉRIO PRESBITERAL 

    Antes de adentramos na reflexão que pretende buscar luzes para o enfrentamento dos desafios da Doutrina Social da Igreja no ministério presbiteral, apresentaremos, em linhas gerais, algumas considerações sobre o processo formativo dos presbíteros.

    Tomaremos como referência três Documentos da Igreja: Pastores Dabo Vobis (PDV, 1992), a nova Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis (RFIS, 2016) e as Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil (DFPIB, 2018).

    Nestes três Documentos, a Igreja propõe um sério caminho de formação, levando em consideração quatro dimensões, que devem ser entendidas como um percurso unitário e integral (RF, nº53): espiritual, humano, intelectual e pastoral.

    A nossa opção pela dimensão espiritual como “resposta” aos desafios do ensino e a prática social no mistério presbiteral pode parecer estranha para alguns ou mesmo gerar alguns questionamentos: por que a dimensão espiritual foi inserida dentro do contexto dos desafios da Doutrina Social da Igreja no ministério presbiteral? Por que a escolha pela dimensão espiritual como caminho de enfrentamento da problemática que nos propomos a pesquisar e como ela pode ajudar a “ascender luzes” para o enfrentamento dos desafios da Doutrina Social da Igreja no ministério presbiteral?

    4.1 A DIMENSÃO ESPIRITUAL

    Francisco de Aquino Júnior, ao explicitar o caráter salvífico-espiritual das lutas e organizações populares, defende que a “opção pelos pobres”, que é constitutiva da missão da Igreja, tem raiz no Evangelho (AQUINO, 2023, p 13). A opção pelos pobres tem como fonte de vida o seguimento de Cristo e a prática do discernimento Espiritual das primeiras comunidades cristãs: movidos pelo Espírito e desejosos de seguir Jesus Cristo, os que a Ele aderiram pela fé recebem como dom um itinerário integral de vida, que não separa o ser do fazer, mas os integra em uma única e grande síntese que aponta para a santidade, para a Bem-Aventurança ou, se desejarmos, para a Felicidade (ZACHARIAS e MANZINI, 2016, p. 82.).

    A nova Ratio Fundamentalis reconhece que a formação presbiteral é um caminho de transformação, que renova o coração e a mente da pessoa, a fim de que ela possa “distinguir o que é da vontade de Deus, a saber, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2). O progressivo crescimento interior no caminho formativo, de fato, deve favorecer especialmente que o futuro presbítero seja “um homem de discernimento”, capaz de interpretar a realidade da vida humana à luz do Espírito, e assim escolher, decidir e agir de acordo com a vontade divina (cf. RFIS, n°43).

    Em relação à identidade e a missão dos presbíteros, já em 1992, João Paulo II declarava: “os presbíteros são chamados a prolongar a presença de Cristo, único e sumo Pastor, atualizando o seu estilo de vida e tornando-se como que a Sua transparência no meio do rebanho a eles confiado” (PDV, nº 15).

    Em 2016, a Congregação para o Clero reitera que o objetivo das dimensões formativas é a “transformação ou assimilação do coração à imagem do próprio coração de Cristo” (RFIS, 2016, n. 89). São integradas, e a partir delas é articulada a formação inicial e permanente, e a vida dos ministros ordenados. “A ideia de fundo é que os seminários possam formar discípulos missionários ‘enamorados’ do Mestre, pastores ‘com o cheiro das ovelhas’ que vivam no meio delas para servi-las e conduzi-las à misericórdia de Deus” (RFIS, 2016, nº 18).

    Em 2018, as Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil reconhecia que o Povo de Deus sente necessidade de presbíteros que sejam:  configurados com o Bom Pastor e movidos pela caridade pastoral, cuidando do rebanho a eles confiados; servidores e cheios de misericórdia, atentos às necessidades dos mais pobres; profetas inseridos da realidade, atentos à solidariedade, justiça e ética (DFPIB, 2018,  nº 74).

     Pelo que foi dito até aqui, fica evidente que os desafios no ensino e na prática da Doutrina Social da Igreja quanto à identidade e à missão dos presbíteros nas circunstâncias atuais pedem um processo de discernimento espiritual tendo em vista a integralidade do ministério presbiteral e a profunda relação que existe entre experiência de fé e caridade (Ibidem. nº 85).

    As Diretrizes para a formação dos presbíteros da Igreja no Brasil, ao tratar dos fundamentos teológicos do processo formativo, reconhece a necessidade de cultivar nos presbíteros uma espiritualidade centrada na solidariedade efetiva com os sofredores, na opção preferencial pelos pobres, num espírito de pobreza (Ibidem nº 235 e 237).

    No contexto de uma Igreja missionária e em saída, esse estilo profético de vida requerido dos presbíteros configurados como “discípulos-missionários, cheios de misericórdia, pastores e santos” (Ibidem nº 65 e 274), peritos em humanidade, homens da proximidade, da misericórdia, de oração (Ibidem n. 44), pede a atenção para a perda do senso de comunidade, para o imediatismo, a instantaneidade e a virtualidade da própria vida, a primazia das relações virtuais (Ibidem nº 224).

    Exige-se, ainda, evitar “práticas fundamentalistas marcadas por rigidez e busca de segurança em um estilo de vida próprio do passado, atitudes individualistas, marcadas pelo relativismo ético e indiferença religiosa” (Ibidem nº14), reconhecendo e corrigindo a “mundanidade espiritual: a obsessão pela aparência, uma segurança doutrinal ou disciplinar presunçosa, o narcisismo e o autoritarismo, a pretensão de impor-se, o cuidado somente exterior e ostentado com a ação litúrgica, a vanglória, a incapacidade de escutar o outro e todo o gênero de carreirismo” (Ibidem nº cf. n. 66).

    Pelo que temos visto até aqui, nota-se mais uma vez, que entre o ideal dos projetos formativos e o modo como se vive o ministério, coexistem forças opostas, distância entre o ensinamento do Magistério sobre a identidade dos presbíteros e a realidade formativa existente. Nesse sentido, como a dimensão espiritual pode nos ajudar a integrar o ensinamento social a prática dos presbíteros? Por fidelidade a Jesus e seu Evangelho, como pensar um processo formativo que enfrente os desafios no contexto atual, em vista de não vivermos alienados ou ignorando as diversas situações de vulnerabilidade que ameaçam e ferem o Reino de Deus?

    Pelo que já foi dito até aqui, sem perder o caráter unificador e integrante do processo formativo, a dimensão espiritual visa oferecer diversas contribuições que podem ajudar no enfrentamento das questões acima.

    A reflexão que faremos agora busca vislumbrar novos horizontes no enfrentamento dos desafios da Doutrina Social da Igreja no ministério presbiteral. Apresentaremos alguns elementos, tendo por base a dimensão espiritual, enfatizando o acompanhamento espiritual dos candidatos ao ministério presbiteral. Essa opção se apoia na “convicção de que o Espírito age na história e na vida de cada um, mesmo no meio de milhares de outras vozes, cujos estrépitos tentam sufocá-los” (CENCINI, 2022, p. 9).

    4.2 EDUCAR PARA TORNAR-SE LIVRES PARA AMAR E SERVIR

    Muitas vezes caímos na tentação de pensar que com a simples insistência em questões doutrinais, disciplinares ou morais, sem acompanhar a pessoa em seu processo de abertura à graça, já é o suficiente para o processo formativo. Contudo, no acompanhamento espiritual a primeira tarefa que precisamos assumir é a que propõe o Papa Francisco a toda Igreja em Amoris Laetitia: “somos chamados a formar as consciências, não a pretender substituí-las” (AMORIS LÆTITIA, 2016, nº 37). A proposta do Papa nos coloca diante de um grande desafio: fomentar entre os jovens em formação sua capacidade de serem transparentes e sinceros (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018, p. 49).

    João Paulo II, na mesma perspectiva afirmava que “não se pode esquecer que o próprio candidato ao sacerdócio deve ser considerado protagonista necessário e insubstituível na sua formação: toda e qualquer formação, naturalmente incluindo a sacerdotal, é no final das contas uma auto-formação. Ninguém, de fato, nos pode substituir na liberdade responsável que temos como pessoas individuais” (PDV, nº 69).

    Precisamente nesta linha, Amadeo Cencini afirma que o acompanhamento espiritual deve considerar, antes de mais nada, a disposição interior do sujeito que discerne, aquela disposição que emerge justamente da sensibilidade e que colabora para libertar a liberdade das pessoas a fim de torná-las sujeitos responsáveis pela própria existência (cf. CENCINI, 2015, p.11). Nesta perspectiva é fundamental ajudar os candidatos ao ministério presbiteral a crescer na consciência de que o protagonista por excelência da sua formação é o Espírito Santo que, com o dom do coração novo, configura e assimila a Jesus Cristo Bom Pastor

    nesse sentido, o candidato afirmará a sua liberdade da maneira mais radical, ao acolher a ação formadora do Espírito. Mas acolher esta ação significa também, da parte do candidato ao sacerdócio, acolher as “mediações” humanas de que o Espírito se serve. Por isso mesmo, a ação dos vários educadores só se revela verdadeira e plenamente eficaz se o futuro sacerdote lhe oferece a seu pessoal, convicta e cordial colaboração (PDV, nº 69).

    Gustavo Gutiérrez, em sua famosa obra “Beber do próprio poço”, defendia que a conversão é o ponto de partida de todo caminho espiritual. “Ela implica uma ruptura com a vida levada até então e supõe também, e sobretudo, que nos decidamos a empreender uma nova rota” (GUTIÉRREZ, 1984, p. 107). 

    Esse caminho proposto para o enfrentamento da desconfiança e mesmo a rejeição ao Ensino Social da Igreja encontra muitas dificuldades nas realidades formativas, sobretudo por causa da influência dos “formadores das redes sociais” que estimulam os formandos a fechar-se aos projetos formativos dos seminários e esconder-se nas “famosas teologias do pano e da fumaça…” (CARMO, 21 abril 2017).

     Em muitos casos, lamentavelmente, o que sustenta o processo formativo não é a consciência reta, a retidão moral que compromete a pessoa em busca da verdade (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018 p. 51), nem mesmo a abertura para ação do Espírito Santo, conforme o caminho proposto nesta pesquisa, mas um fechamento a uma ideologia ou modelo eclesiológico contrário ao  Concílio Vaticano II.

    É triste constatar que muitos jovens desejam receber o ministério presbiteral, mas não mergulham inteiramente na formação intelectual; não estão inteiros na pastoral, vivem a vida comunitária de modo superficial e fazem dos momentos de oração uma exigência formal a ser cumprida, mais do que uma resposta vocacional ao Deus que chama a um encontro diário com Ele; escondem-se no fundamentalismo e na rigidez (Ibidem, p. 17).

    A superação dessa triste realidade só é possível pelo educar para a verdade, que liberta a pessoa das amarras do mundanismo espiritual que corrompe a Igreja (FRANCISCO, 2023) e os torna livres para amar e servir. Ameaças a desligamento do processo formativo, apelar para a Doutrina ou ensinar regras não garantem que o processo formativo esteja acontecendo. É preciso que os destinatários da formação assumam em primeiro lugar a responsabilidade do próprio caminho (cf. COELHO, 2013, p. 17).

    A solidariedade e o compromisso com os mais pobres e excluídos, a defesa e a promoção da pessoa humana, passam precisamente por evangelizar o próprio interior, pelo reconhecimento do próprio pecado de não reconhecer o Senhor nos desvalidos, nos enfermos, encarcerados, famintos, solitários (cf. Mt 25). A experiência de compromisso com os mais pobres e desfavorecidos exige a conversão, ponto de partida de todo seguimento de Jesus. A alegria do dom gratuito do amor de Deus nos impele a rompermos com o pecado, com a injustiça e a morte (cf. GUTIÉRREZ, 2000, p. 106).

    A formação para o compromisso com os mais pobres deve estar baseada na intenção de formar pessoas livres, maduras e responsáveis, capazes de assumir compromissos que exigem as mesmas condições ou valores (TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018, p, 72). Assim constata Cencini:

    Uma autêntica ação formativa é bastante exigente. Deve ser capaz de conjugar verdade e liberdade, para formar pessoas não apenas corretas e responsáveis, obedientes e rigorosas, mas felizes, que amam aquilo que fazem, que aprenderam o gosto de fazer as coisas por amor, pessoas sempre mais livres para escolher o que é verdadeiro, belo e bom, e de amar o que lhes dá verdade, beleza e bondade (ou seja, a identidade delas), e por isso mesmo veem e vivem sempre mais a sua vocação, e Deus mesmo e a relação com Ele, que é o máximo da liberdade (CENCINI, 2015, p. 32).

    É necessário que o processo formativo, em todas as suas etapas, proporcione aos vocacionados larga possibilidade de evangelizar a própria interioridade por meio de profundo contato com a Palavra de Deus, ajudando-os a trocar um estado de conforto por um espírito capaz de se compadecer das misérias humanas, especialmente dos mais pobres e vulneráveis, e construir assim um estilo de vida que testemunhe a opção feita pelo próprio Cristo, o qual se fez pobre para nos enriquecer (cf. 2Cor 8,9), numa busca constante e incansável de conhecimento e, sobretudo, de sabedoria. Se, por um lado, é preciso considerar a disciplina dos estudos, a qual favorece o aprofundamento da filosofia, da teologia e das demais ciências, por outro, é preciso deixar-se interpelar pela realidade concreta, pelos desafios que surgem a cada momento, sobretudo pela escuta atenta das pessoas (cf. TRASFERETTI; MILLEN; ZACHARIAS, 2018, p.12).

    Para que a evangelização do interior, que conduza os candidatos ao ministério presbiteral a torna-se livres para amar e servir, faz-se necessário um acompanhamento de discernimento mais próximo e periódico, com uma teoria que lhe informe como funciona a pessoa humana e, tratando-se de acompanhamento psicoespiritual, de como é a pessoa cristã; portanto, noções de psicologia e de antropologia cristã.

    A teoria de referência que indicaríamos e que pode ser desenvolvido em outra oportunidade, é a “Antropologia da Vocação Cristã” (AVC) – elaborada com método indutivo e interdisciplinar, a partir dos anos 1960 e ainda em vigor, pelo Instituto de Psicologia da Pontifícia Universidade Gregoriana restritamente conhecida como “Escola de Rulla”.

    Para educar a tornarem-se livres para amar e servir é fundamental que o acompanhador no discernimento dos vocacionados seja capaz de usar estratégias que conduza os acompanhados a reconhecerem-se onde se encontra atualmente e os passos que precisam serem dados em seu processo de conversão.

    4.3 EDUCAR PARA A SOLIDARIEDADE

    A Formação Espiritual é orientada a promover no discípulo de Jesus a paixão pela edificação da civilização do amor, da justiça e da paz. Conforme vimos no capítulo anterior, há uma íntima relação entre evangelização e promoção humana. A evangelização tem como foco a pessoa que não está isolada, mas inserida numa realidade social.

    O presbítero, como Cristo, não pode reduzir seu raio de ação à Igreja apenas. Tem que olhar para fora, para o mundo. A esse envia o Espírito, para levar-lhes a Palavra do Evangelho da graça e da salvação. Portanto, o presbítero não é somente homem de Deus e da Igreja, mas também homem do mundo, no sentido de que está a serviço de todos os homens e mulheres de hoje (CNP, 2001, p. 430)

    O compêndio da Doutrina Social da Igreja é claro ao afirmar que entre evangelização e promoção humana há laços profundos: laços de ordem antropológica, dado que o homem que há de ser evangelizado não é um ser abstrato, mas é sim um ser condicionado pelo conjunto de problemas sociais e econômicos; laços de ordem teológica, porque não se pode nunca dissociar o plano da criação do plano da Redenção, um e outro a abrangerem as situações bem concretas da injustiça que deve ser combatida e da justiça a ser restaurada; laços daquela ordem eminentemente evangélica, qual é a ordem da caridade: como se poderia proclamar o mandamento novo sem promover na justiça e na paz o verdadeiro e autêntico progresso do homem? (CDSI, 2005, nº 66)

    Não há dúvidas que pela natureza do ministério ordenado e da Doutrina Social da Igreja, o presbítero deve estar a serviço da promoção da vida e da missão do discípulo de Jesus Cristo que está inserido numa história concreta com sua cultura, economia, política etc. Por isso deverá, onde vive, ser “sal e luz”, sabendo testemunhar sua fé em Jesus Cristo.

    Para o Papa Francisco, a formação dos presbíteros deve ter o compromisso de salvar os excluídos, os vulneráveis e os pobres. Assim o Papa reconheceu em seu discurso por ocasião da celebração dos 50 anos da promulgação dos decretos conciliares Optatam Totius e Presbyterorum Ordinis

    O processo formativo deve colaborar para que o jovem candidato ao presbiterado não fique alienado dessas questões, tenha coragem e audácia para dar passos no seu discernimento vocacional, capacidade de sair de si e voltar-se às necessidades dos outros, pondo-se ao lado dos mais pobres e marginalizados (FRANCISCO, 25 jan. 2016).

    Para que os presbíteros não se omitam no ensino e na prática social, é fundamental que no processo formativo ofereça-se um estilo de vida próximo das realidades de periferias geográficas e existenciais, em vista de os ajudar a tornar-se sensível à problemática social, superando desta forma a tentação de viver apenas a dimensão ad intra da evangelização. “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo. Nenhuma definição parcial e fragmentada, porém, chegará a dar razão da realidade rica, complexa e dinâmica que é a evangelização, a não ser com o risco de a empobrecer e até mesmo de a mutilar” (EG, nº176).

    A compreensão da dimensão social não pode ser entendida como acréscimo ao Evangelho, um momento sucessivo a esse, mas sim como uma realidade interior, propriamente intrínseca.

                Para que o educar para solidariedade aconteça se faz necessário oferecer experiências pastorais que conduzam os candidatos à vida ministerial a deixarem-se afetar pelas situações sofridas dos mais pobres. Em uma outra oportunidade poderíamos discutir melhor onde e como oferecer essas experiências pastorais. Por agora, é suficiente dizer que com essas experiências inseridas na vida dos mais pobres, é fundamental que o acompanhador no discernimento vocacional realize encontros de partilha de vida e pastoral, organize momentos de espiritualidade, para que à luz da Palavra de Deus (Lectio divina), o candidato ao ministério possa ir integrando fé e vida. 

    É fundamental que a equipe de formação empreenda esforços para ajudar àqueles que querem dar uma honesta e reta resposta ao chamado, a assumirem seriamente a preparação específica para o ministério presbiteral tendo como modelo Jesus Cristo, o Bom Pastor, o Ensino Social da Igreja, as concepções eclesiológicas do Concílio Vaticano II, das Conferências Latinas Americana e da CNBB.          

    4.4 EDUCAR PARA SER PERITO EM HUMANIDADE

    A Igreja, seguindo os gestos, palavras e atitudes de Jesus Cristo que veio para salvar a humanidade, em todos os contextos é servidora da humanidade, promotora e defensora da sua dignidade. Assim, a DSI tem como objetivo propor princípios éticos, definir critérios e apresentar diretrizes gerais a respeito do desenvolvimento humano integral em vista da promoção da paz e da justiça no mundo.

    Há uma íntima união da Igreja com toda a família humana. Por isso, o Concílio Vaticano II declarou – “As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja se sente real e intimamente ligada ao gênero humano e à sua história” (GS, nº 1).

    Deve haver sempre uma profunda relação entre o ministério presbiteral e a tarefa de promoção da sensibilidade humana. Quando os conteúdos das homilias só ficam na cabeça e não atingem o coração, não contribuem para a formação do bom samaritano, capaz de compaixão e misericórdia para com as pessoas, sobretudo as mais vulneráveis. 

    A atenção da Igreja para com o ser humano é em vista de salvaguardar a sua dignidade inalienável, preservando a sua totalidade de dimensões de qualquer forma de reducionismos ideológicos, violência política e religiosa, ou agressão cientificista e utilitarista.

    A Igreja, à luz da Vida de Cristo, reconhece a dignidade da vocação humana, acolhe suas mais profundas aspirações, defende seus direitos naturais, respeita seus limites, educa, acompanha e orienta a humanidade. Por isso, o Papa Paulo VI ousou afirmar que a Igreja é “perita em humanidade” (cf. PP, 1998, nº 13).

    Para que o educar a ser peritos em humanidade aconteçam, entre outros aspectos que poderíamos sugerir futuramente, sugerimos que os candidatos ao ministério presbiteral conheçam a experiência de tantos presbíteros e bispos que se converteram ao se permitirem entrar na realidade e na vida dos mais pobres. O legado histórico de bispos como Hélder Câmara, José Maria Pires e Luciano Mendes de Almeida, e padres como Ibiapina e Antônio Chevier, precisa ser conhecido pelas novas gerações. É importante ver nestes e tantos testemunhos, verdadeiros peritos em humanidade.

                Nessa perspectiva, oferecer leituras espirituais de verdadeiros pastores é fundamental para que os candidatos ao ministério ordenado possam ir, através da admiração por testemunhos vivos, constituindo uma espiritualidade encarnada. Como é edificante conhecer o testemunho de Dom Helder e como ele cultivou uma força místico-espiritual.

    Conhecer a vida de Dom Helder e tantos outros leva-nos à conclusão de que esse pastor foi um modelo de pessoa que se doou na caridade, por amor a Cristo e à sua Igreja. Seu profundo relacionamento pessoal com Cristo era expresso no calor de seu amor, na bondade de seu coração, na verdade de suas palavras, no alento dado à esperança, no cuidado aos mais pobres.

    Em suma, procuramos apresentar algumas luzes que podem ajudar a enfrentarmos os desafios do Ensino Social da Igreja no ministério presbiteral. Buscamos, à luz da dimensão espiritual, indicar caminhos pedagógicos que colaborem na superação dos desafios em toda essa pesquisa.   

    5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Toda essa nossa reflexão nos colocou diante do urgente, enorme e complexo desafio: enfrentar as desconfianças e as resistências à Doutrina Social da Igreja na formação e no exercício do ministério presbiteral. Além de ser pouco conhecida, compreendida e assumida pelos próprios presbíteros, o ensino social é muito contestado por pensamentos do tipo: “a Igreja não deve preocupar-se e ocupar-se com as questões sociais, pois sua missão é salvar as almas”.

    Tal desafio, revelado ao longo da dissertação, vai exigir dos processos formativos diversas estratégias para superar essas mentalidades equivocadas e despertar nos candidatos ao ministério presbiteral, a sensibilidade para estudar com seriedade a Doutrina Social da Igreja e aplicar esse ensinamento como parte integrante da vida e missão dos presbíteros.

    Para que isso aconteça, não será suficiente a aplicação mecânica de uma orientação sobre o Ensino Social, mas um processo de construção conforme cada realidade e iluminada pelo caráter salvífico-espiritual da Doutrina Social da Igreja, tendo em vista a unidade, a coerência e a gradualidade do processo formativo.

    Os entraves para a acolhida e prática do Ensino Social da Igreja, como o clericalismo, eclesiologias contrárias ao Espírito do Vaticano II e planos de pastoral diocesanos sem compromisso com a promoção humana, só poderão ser superados com a formação da consciência, de que, nada neste mundo é indiferente a Deus e ao seu desígnio salvífico, nem poderá ser indiferente à Igreja. Isso só será possível por uma educação que os torna livres para amar e servir. Vimos outrossim ao longo de nossa exposição, a importância de formar a consciência moral, que consiste em educar aos que assumem o ministério presbiterial, a mergulhar no mistério da oração como diálogo com Deus, deixando-se guiar ao mesmo tempo pelo Espírito de Deus, que os torna livres para amar e responder aos seus apelos de conversão e mudança.

    Nossa reflexão sobre a natureza da Doutrina Social da Igreja e a identidade dos presbíteros, nos proporcionou compreender que o ministério presbiteral, não pode se reduzir à dimensão sacramental e litúrgica, mas deve abraçar a totalidade da vida do discípulo de Jesus Cristo em todos os seus níveis de relação. Deve iluminar as relações sociais, em suas múltiplas dimensões, como a econômica, política, profissional, cultural, lúdica e todas as realidades do bem comum, dentre elas, a natureza e o cuidado com os pobres.

    Por tudo que foi dito, podemos dizer que a presente dissertação colabora para o enfrentamento dos desafios do Ensino Social no ministério presbiteral, uma vez que deixa evidente que o ensino e a prática social são parte integrante do ministério presbiteral. Colabora ainda, apontando alguns elementos que contribuem no enfrentamento da dicotomia entre ensino social e ministério presbiteral, através do cultivo de uma espiritualidade encarnada, capaz de ajudar os candidatos ao ministério presbiteral a saírem de si mesmos e voltarem-se para os mais necessitados, através do contato íntimo com a Palavra de Deus, que evangeliza o próprio interior e que os educa para amar e servir, serem solidários e ser peritos em humanidade.

    Mesmo o presente artigo oferecendo uma relevante contribuição, cabe-nos reconhecer que dado a complexidade do tema, sobretudo os entraves para acolhida e prática do ensino social no ministério presbiteral, caberá em uma outra oportunidade buscar as possíveis causas que levam uma boa parte do clero jovem a duvidar, desconfiar e rejeitar a Doutrina Social da Igreja. Caberá em uma outra ocasião aprofundar essa realidade, pois pode ter diversas razões que precisam ser compreendidas por diferentes abordagens, entre elas sociológica, psicológica e teológica.

    O presente trabalho sempre permanecerá aberto, pois o Espírito de Deus suscitará processos de conversão e mudanças aos que assumem o ministério presbiterial. Para quem se deixa guiar pelo espírito de Deus, não será possível manter todo o tempo seus olhares voltados aos céus. O convite insistente vem do próprio Jesus que os convoca a regressarem à Galileia e recomeçar uma caminhada ao lado dos pobres e sofredores. Os ensinamentos do Papa Francisco hão de oferecer-lhes luzes e nortear um “caminhar juntos” por presbíteros de corações abertos às novidades de um Deus imprevisível. A Doutrina Social da Igreja estará sempre no horizonte de todo presbítero que deseja servir e amar a Igreja e aos pobres, na liberdade que Cristo veio nos trazer.

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    [2] AQUINO. Francisco Junior. Encíclicas sociais: um guia de leitura. São Paulo, Paulinas, 2023.

     Francisco Junior Aquino é Presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE; professor de teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

    [1] Mestre em Discernimento Vocacional e Acompanhamento Espiritual pela Pontificia Universidade de Comillas, Espanha. Doutorando em Teologia Sistemática, pela PUCRS,E-mail: carlosmarcal1@yahoo.com.br, Currículo Lattes: https://lattes.cnpq.br/6906516424837797 e ORCID ID: https://orcid.org/0009-0001-7628-2572