BODY MASS INDEX, PRESSURE LEVELS AND PHYSICAL FITNESS OF CHILDREN AND ADOLESCENTS FROM PRIVATE SCHOOLS
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202502082134
Ana Luiza Carvalho Arnhold1,
Ana Paula Carvalho Arnhold2,
Samuel Matos Nascimento3,
Victor Ferreira da Silva4,
Giancarla Aparecida Botelho Santos5
RESUMO
Diversas medidas de composição corporal são empregadas para o controle do sobrepeso e da obesidade. Essas apontam possíveis fatores de risco associados a diferentes condições patológicas relacionadas ao excesso de gordura intra-abdominal. A avaliação da composição corporal em crianças e adolescentes, além de ser um instrumento adequado para o acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, possibilita identificar fatores de riscos cardiovasculares e prevenir a obesidade na fase adulta. Dessa forma, a atual pesquisa teve como objetivo principal identificar a incidência de sobrepeso, pressão arterial elevada e sedentarismo de crianças e adolescentes de escolas privadas do Município de Lavras/MG. Foram realizadas medidas antropométricas, como massa corporal e estatura, além da aferição da pressão arterial e realização da bateria de testes Fitnessgram. Sendo avaliado 78 escolares de ambos os sexos, de 6 a 12 anos de idade, foi observado maior porcentagem de indivíduos eutróficos e normotensos. As frequências de desempenhos nas quatro provas separadas em ambos os sexos foram altas, tanto em sucesso como em desempenhos superiores aos da zona de sucesso. Contudo, quando se tratou das taxas de sucesso, foi encontrado baixas porcentagens de sucesso nas quatro provas juntas, uma vez que, para a bateria de testes Fitnessgram, a boa aptidão física é entendida como o alcance do sucesso nas quatro provas. Em conclusão, constatou-se que embora uma pequena parte dos indivíduos estão com excesso de peso e pressão arterial elevada, a maioria dos participantes se encontram eutróficos e normotensos, o que nos sugere um cenário animador. Contudo, quando se trata dos níveis de aptidão física, observou-se que a maior parte não desfruta de bons níveis de AptFS. Níveis moderados a elevados de aptidão física influenciam consideravelmente na qualidade de vida de crianças e jovens.
Palavras-chave: Pressão arterial. Fitnessgram. Sobrepeso/obesidade. Crianças. Adolescentes.
INTRODUÇÃO
A obesidade é uma doença definida pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo, no qual pode chegar ao ponto de comprometer a saúde dos indivíduos (Organização Mundial De Saúde, 1998 apud Wanderley, Ferreira, 2010). De forma preocupante, a obesidade na infância e na adolescência cresce drasticamente e representa problema de saúde pública relevante (Lavrador et al., 2011).
Segundo a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2016), a porcentagem de crianças e adolescentes diagnosticadas com hipertensão arterial (HA) dobrou nas últimas duas décadas. Seu diagnóstico e tratamento precoce associam-se ao menor risco de hipertensão na vida adulta, reduzindo a mortalidade e morbidade por doenças cardiovasculares.
O nível de aptidão física (AptFS), segundo Santos et al. (2010), trata-se da capacidade de executar atividades físicas de forma energética e vigorosa, sem excesso de fadiga e, ao mesmo tempo, a demonstração de qualidades e capacidades que conduzam ao menor risco de desenvolvimento de doenças e incapacidades funcionais. Com efeito, níveis moderados a elevados de componentes da AptFS como resistência cardiovascular, resistência, força muscular, flexibilidade e níveis baixos de massa gorda, são características de um sujeito associadas à sua saúde, pois são fatores de proteção a diversas doenças crônicas ligadas à morbidade e mortalidade. Entre os fatores que influenciam os níveis de AptFS tem-se o sobrepeso e a obesidade, bem como os níveis de atividades físicas.
Consequências negativas da inatividade e inaptidão na adolescência e idade adulta podem ser altas no ponto se tratando da saúde, pois estão intimamente ligadas a fatores de risco para doenças cardiovasculares (Blair, 1993; Riecham et al. 2002; Williams, 2001, apud Opes, 2004). Santos et al., (2010) aponta que entre os fatores que influenciam os níveis de AptFS tem-se o sobrepeso e a obesidade, bem como os níveis de atividades físicas, os quais são reduzidos quando há demasiados comportamentos sedentários. Isto reflete em uma diminuição da capacidade funcional e estado de saúde.
Diante disso, a literatura dispõe de inúmeras baterias de testes que consistem em avaliar de maneira precisa e segura níveis de AptFS de indivíduos em geral, cada qual abrangendo determinados grupos com suas especificidades. Dentre esses testes, a bateria de testes Fitnessgram desenvolvida por Cooper Institute for Aerobics Research (2002), é uma forma padronizada de avaliar a AptFS relacionada com a saúde. Tem como componentes a aptidão aeróbica, composição corporal e aptidão muscular (flexibilidade, força e resistência muscular). Para Sardinha (1999 apud Pato, 2012), a melhor bateria de testes que se adequa aos critérios de avaliação da AptFS é a Fitnessgram.
Considerando o alto índice de crianças e adolescentes com sobrepeso/obesidade e sedentarismo na população brasileira e mundial e as comorbidades que acompanham o ganho de gordura corporal, o objetivo dessa pesquisa foi identificar a incidência de sobrepeso, pressão arterial elevada e sedentarismo de crianças e adolescentes de escolas privadas do Município de Lavras/MG. Foram realizadas medidas antropométricas, como massa corporal e estatura, além de aferição da pressão arterial e realização da bateria de testes Fitnessgram. Essa bateria consiste em avaliar níveis de aptidão física, como a capacidade funcional máxima e a resistência do sistema cardiorrespiratório.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa quantitativa, onde os dados foram analisados através da pesquisa descritiva para se obter os resultados e respostas acerca da problematização apresentada neste trabalho. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Lavras sob o parecer número: 855.680.
Participaram da pesquisa crianças e adolescentes de 6 a 12 anos de duas instituições de ensino privados da cidade de Lavras-MG, sendo apresentadas neste estudo como Escola 1 e Escola 2. Os testes realizados nesse trabalho foram feitos durante as aulas de Educação Física Escolar, onde os horários variaram de acordo com a disponibilidade de cada escola e professor, no período da tarde.
No teste de Par-q (Questionário de Prontidão para Atividade Física), foi questionado aos pais sobre o estado de saúde da criança, como o diagnóstico de problemas cardíaco, ósseo, muscular, articular ou neurológico e doenças que limitassem a realização de atividade física. Caso alguma resposta tenha sido positiva neste questionário, a criança foi excluída da pesquisa. Para a aferição da pressão arterial (PA) foi utilizado o esfigmomanômetro aneroide, devidamente calibrado, e estetoscópio clínico, ambos da marca Bic®. As crianças foram mantidas em repouso sentadas por aproximadamente 10 minutos em ambiente tranquilo. Uma braçadeira de tamanho apropriado para cada criança foi colocada no braço esquerdo. Com este apoiado no nível do coração, foram realizadas três aferições da PA, com um intervalo de 1 a 2 minutos entre cada medida. Foi considerada a menor medida obtida, de acordo com a 6ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2010), e os valores de referência de PA foram calculados de acordo com idade e percentil de estatura e separados por sexo, conforme a 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2016).
Foram obtidas as medidas de massa corporal, registrada em quilogramas, através da balança digital da marca Be3 Britânia® e estatura em metros, mensurada através de um estadiômetro portátil da marca Personal Caprice Sanny®. O índice de massa corporal (IMC) foi calculado através da fórmula: IMC = massa corporal / estatura².
O nível de aptidão física (AptFS) foi avaliado utilizando-se a bateria de testes Fitnessgram desenvolvida por Cooper Institute for Aerobics Research (2002). Essa bateria de testes consiste em avaliar a aptidão física relacionada com a saúde e tem como componentes a aptidão aeróbica, composição corporal e aptidão muscular (flexibilidade, força e resistência muscular).
Em crianças e adolescentes, os valores de referência para os resultados da bateria de testes Fitnessgram estão separados por idade e sexo, discriminados nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1 – Valores Fitnessgram para a Zona Saudável de Aptidão Física em meninos.
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Fonte: Bateria de testes Fitnessgram, Cooper Institute for Aerobics Research (2002)
Tabela 2 – Valores Fitnessgram para a Zona Saudável de Aptidão Física em meninas.
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Fonte: Bateria de testes Fitnessgram, Cooper Institute for Aerobics Research (2002)
De acordo com os valores de referência dados pela bateria de testes, adotou-se as classificações “insucesso”, “sucesso” e “desempenho superior aos da zona de sucesso” para os resultados das quatro provas físico-motoras, estratificadas por idade e sexo. Considerou-se “insucesso” (insuficiente) aqueles indivíduos que não atingiram o resultado esperado pela bateria de testes; “sucesso” (adequado) para aqueles indivíduos cujos resultados se encontraram dentro do esperado e “desempenho superior aos da zona de sucesso” (superior ao intervalo ótimo) para aqueles cujos resultados ultrapassaram o esperado.
A corrida/marcha da Milha (1600 metros) foi utilizada para avaliar a aptidão aeróbica. O teste foi realizado na quadra da escola e a metragem foi delimitada previamente pela pesquisadora, que demarcou a quadra com fita específica para que a criança ou adolescente percorresse a distância exigida. Um cronômetro foi utilizado para determinar o tempo gasto para percorrer a distância exigida no teste (1600 metros). O teste foi iniciado após o comando do pesquisador, que consistiu em “Preparar, partir”. A cada cruzamento da linha de chegada, os participantes eram informados do número de voltas dadas e quantas faltavam. Foi permitido andar, e para esses casos, o encorajamento da criança ou adolescente foi primordial na tentativa de aquisição de um ritmo mais rápido. Todas as crianças e adolescentes foram acompanhados pelo pesquisador em todo o percurso realizado.
Para avaliações da força e da resistência da musculatura abdominal utilizou-se o teste de abdominais (curl up). Foram realizados testes abdominais em uma superfície plana, além de uma faixa de 76 cm de comprimento com 11,43 cm de largura para indivíduos entre 10 e 12 anos de idade e de 76 cm de comprimento por 7,62 cm de largura para sujeitos entre 6 e 9 anos de idade. O aluno foi instruído a tentar completar o maior número possível de abdominais até ao máximo de 75 repetições ou parar à segunda execução incorreta.
Para a análise da força muscular da cintura escapular, foram realizados testes de extensões de braço (push up) em uma superfície plana com a utilização de um colchonete. O sujeito deveria executar o máximo de flexões que conseguisse e de maneira correta. O teste terminou quando a criança ou adolescente não pudesse mais executar as flexões corretamente.
A análise da força e flexibilidade de tronco foi realizada por teste de extensão de tronco (trunk lift) utilizando um colchonete e uma régua de 50 cm ou mais. O participante deveria elevar a cabeça e a parte superior do tronco, mantendo a posição durante o tempo suficiente para ser avaliado. O avaliador mediu a distância entre o queixo do sujeito e o solo com a régua. O resultado foi a distância em cm que o indivíduo conseguiu alcançar elevando a parte superior do tronco e que é medida desde o solo até o queixo.
As análises dos dados foram feitas usando como referência a última data de coleta em campo. Os dados antropométricos foram analisados no software WHO Anthro Plus 2011 versão 1.0.4, que determina percentis para as relações de estatura por idade (E/I) e índice de massa corporal por idade (IMC/I). A classificação da PA foi feita conforme o protocolo de definições e diagnósticos da 7ª Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (2016), de acordo com idade, sexo e percentil de estatura. As medidas observadas na bateria de testes foram comparadas com as diretrizes descritas no guia de referência Fitnessgram. Foram utilizados os valores 0, 1 e 2 para as classificações insucesso, sucesso e desempenho superior ao da zona de sucesso, respectivamente.
RESULTADOS
Neste estudo foram avaliados 78 escolares de ambos os sexos, de 6 a 12 anos de idade. A amostra foi estratificada por escolas, idade e sexo, conforme ilustrado na Tabela 3. O número de participantes por escola coincidentemente foi igual (n=39), havendo predominância do sexo feminino. Após avaliação do IMC, foi observado maior porcentagem de indivíduos eutróficos. Na avaliação da pressão arterial, evidenciou se maior porcentagem de normotensos.
Ainda assim, não se pode afirmar hipertensão arterial, pois as aferições não foram feitas conforme a VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial, que impõe a necessidade de três ocasiões distintas de aferição.
Tabela 3 – Estratificação dos participantes amostrados em função da idade, sexo e por escolas. Lavras, 2017/2020.
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IMC: índice de massa corporal; PA: pressão arterial; n: número de participantes da pesquisa.
Na avaliação dos componentes da aptidão aeróbica e aptidão muscular, onde este último engloba a flexibilidade, força e resistência muscular, observou-se predomínio de sucesso em quase todas as provas, em ambas as escolas. Na prova de extensões de braço (push up), a maioria das meninas ficaram na zona de insucesso em ambas as escolas (Escola 1 = 57,1%; Escola 2 = 55,5%). Entre os meninos, observou-se que na Escola 1 houve uma predominância na frequência sucesso (64,8%), enquanto na Escola 2 predominou o insucesso (58,3%) (Tabela 4).
Na prova de abdominais (curl up) de ambos os sexos, a grande maioria obteve a maior porcentagem na frequência de sucesso, contudo, o grupo masculino da Escola 1 e feminino da Escola 2 somente atingiram uma porcentagem acima de 50% de sucesso quando somadas os valores das frequências de sucesso às de frequências de desempenho superiores aos da zona de sucesso (64,8% e 77,8%, respectivamente) (Tabela 4).
Já na prova de extensão de tronco (trunk lift), todos os grupos obtiveram 100% de sucesso, sendo encontrados nas frequências de sucesso e na de desempenho superiores a zona de sucesso. Houve apenas 1 indivíduo do sexo masculino da Escola 2 (8%) que ficou na frequência de insucesso (Tabela 5).
Na prova de corrida, a literatura recomenda que para indivíduos entre 5 e 9 anos de idade não deve ser registrado o tempo. Sendo assim, o resultado se dá como o cumprimento da prova independente do tempo gasto. Dessa forma, para padronizar os resultados, todos os participantes foram registrados desta maneira, incluindo os indivíduos com idade superior a 9 anos. A prova obteve 100% dos indivíduos nas frequências de sucesso, pois não houve nenhum indivíduo que não tenha conseguido completar (Tabela 5).
Tabela 4 – Frequências (%) de desempenho dos participantes amostrados em função da idade, sexo e por escolas, nas modalidades Extensões de braço (push up) e Abdominais (curl up) das provas físico-motoras da bateria de testes Fitnessgram (0=AptFS insucesso; 1=AptFS sucesso; 2=AptFS desempenho superiores aos da zona de sucesso). Lavras, 2017/2020.
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Tabela 5 – Frequências (%) de desempenho dos participantes amostrados em função da idade, sexo e por escolas, nas modalidades Extensão de tronco (trunk lift) e Corrida (aptidão aeróbica) das provas físico-motoras da bateria de testes Fitnessgram (0=AptFS insucesso; 1=AptFS sucesso; 2=AptFS desempenho superiores aos da zona de sucesso). Lavras, 2017/2020.
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Taxas de sucesso
Neste tópico pretende se apresentar as diferenças nas taxas de sucesso obtida pelos participantes nas quatro provas físico motoras de AptFS juntas, entre a Escola 1 e a Escola 2, separados por sexo e idade, ilustradas na Tabela 8.
Aos 6 anos de idade o sexo feminino da Escola 1 apresentou uma taxa de 100% de sucesso, já na Escola 2 não houve participantes desta idade. Já para o sexo masculino, a Escola 2 teve uma taxa de 100% de sucesso, enquanto a Escola 1, taxa de 66%.
Aos 7 anos de idade o sexo feminino da Escola 1 se manteve com maiores taxas, apresentando 45% de sucesso, quando comparadas a Escola 2, que obteve apenas 20% de sucesso. Para o sexo masculino nesta idade alcançou-se taxa de sucesso de 57% na Escola 1 e 50% na Escola 2.
Aos 8 anos de idade o sexo feminino da Escola 2 apresentou uma taxa de 33% de sucesso, enquanto a Escola 1, de 0%. Já para o sexo masculino, o cenário foi exatamente o inverso. A Escola 1 obteve taxa de 33% de sucesso e a Escola 2, taxa de 0% de sucesso.
Aos 9 anos de idade o sexo feminino da Escola 2 foi o único com boas taxas de sucesso, 60%. O sexo feminino da Escola 1 e o sexo masculino de ambas as Escolas, apresentaram 0% de sucesso.
Aos 10 anos de idade o sexo feminino da Escola 1 apresentou taxa de 30% de sucesso, enquanto o da Escola 2 apenas 11%. A taxa de sucesso do sexo masculino da Escola 1 também se manteve maior, apresentando 50%, enquanto a Escola 2, apresentou 33%.
Aos 11 anos de idade a Escola 2 possuía apenas um indivíduo do sexo feminino participando da pesquisa, a qual obteve taxa de 0% de sucesso. Não houve participantes nos demais grupos avaliados nesta idade.
Aos 12 anos de idade apenas o sexo feminino da Escola 2 apresentou taxa alta, com 100% de sucesso, e o sexo masculino desta mesma escola com taxa de 0% de sucesso. Não houve participantes dessa idade na Escola 1 de ambos os sexos.
De maneira geral, foi encontrado que apenas 36,73% das meninas obtiveram sucesso nas quatro provas e 41,37% dos meninos, o que representa uma porcentagem baixa.
Tabela 8 – Taxas de sucesso dos participantes amostrados com seus respectivos intervalos de confiança nas 4 provas físico motoras da bateria de testes Fitnessgram (0=AptFS insucesso; 1=AptFS sucesso; 2=AptFS desempenho superiores aos da zona de sucesso) em função da idade, sexo e por escolas. Lavras, 2017/2020.
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Valores médios
A Tabela 9 apresenta os valores médios dos resultados nas provas de extensão de tronco (trunk lift),abdominal (curl up), extensões de braço (push up) e corrida, separadas por sexo, idade e escola.
Na prova de extensão de tronco (trunk lift), ambas as Escolas e sexos obtiveram médias dentro ou até acima dos valores de referência do Fitnessgram. Pelos dados do sexo feminino na Escola 2, está ocorrendo um aumento nas médias com o decorrer da idade. No sexo masculino teve oscilações, não estabelecendo um padrão de crescimento ou depressão.
Na prova de extensões de braço (push up), em ambas as Escolas e sexos as médias oscilaram, obtiveram médias baixas ou dentro ou acima dos valores de referência do Fitnessgram, de forma anão estabelecer um padrão de crescimento ou depressão.
Na prova de abdominal (curl up), ambas as Escolas e sexos obtiveram médias dentro dos valores de referência do Fitnessgram. Pelos dados do sexo feminino na Escola 2, e masculino na Escola 1, está ocorrendo um aumento nas médias com o decorrer da idade.
Na prova da corrida, as médias de tempo em minutos oscilaram e foi observado que o tempo não diminuiu de acordo com o aumento da idade, contudo, todos apresentaram um bom desempenho no teste. Como visto anteriormente, a literatura recomenda que para indivíduos entre 5 e 9 anos de idade não deve ser registrado o tempo. Sendo assim, o resultado se dá como o cumprimento da prova independente do tempo gasto. Dessa forma, para padronizar os resultados, todos os participantes foram registrados desta maneira, incluindo os indivíduos com idade superior a 9 anos.
Tabela 9 – Valores médios e seus respectivos desvios dos resultados obtidos pelos participantes amostrados nas diferentes provas físico motoras da bateria de testes Fitnessgram em função da idade, sexo e por escolas. Lavras, 2017/2020.
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DISCUSSÃO
Ao analisar as porcentagens encontradas de excesso de peso, observou-se que 37,04% dos indivíduos do sexo feminino e 33,33% dos indivíduos do sexo masculino, estavam acima do peso, sendo classificados com sobrepeso ou obesidade. Interessantemente, esses valores foram superiores aos encontrados por Lopes et al. (2004) e Miranda et al. (2015). Lopes et al. (2004), constatou em sua pesquisa, que 10,70% dos indivíduos do sexo feminino e 19,10% do sexo masculino, apresentavam se com excesso de peso. Miranda et al. (2015), por sua vez, encontrou porcentagens de 25,5% e 19,6% de excesso de peso entre os participantes do sexo feminino e masculino, respectivamente.
Destaca-se hoje o aumento do ganho de adiposidade corporal pelas crianças e adolescentes. Fatores como sedentarismo, uso exacerbado de celulares e computadores e dietas desequilibradas, têm sido apontados como os principais. Para Giugliano e Carneiro (2004), apud Miranda et al. (2015) a obesidade pode se desenvolver em qualquer fase da vida, sendo provocada também por fatores como a interrupção precoce do aleitamento materno e substituição deste por consumo de carboidratos em excesso.
O ganho de peso antes da fase adulta tem-se mostrado maléfico. Registros mostram um aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças brasileiras, e tal condição se relaciona com hipertensão arterial, hipercolesterolemia e resistência à insulina (Soar, Vasconcelos, Assis, 2004; Silva, Balaban, Motta 2005; Parente et al. 2006; Ribeiro et al., 2006 apud Miranda et al.,2015). A morbidade e a mortalidade também estão associadas ao excesso de peso e excesso de gordura corporal. Estudos atuais mostram que esses fatores também predispõem a dislipidemias, doenças biliares, osteoartrite e apneia do sono, podendo assim considerar a obesidade um quadro duplamente problemático para o indivíduo (Silva et al., 2005; Crespo, Arbesman, 2003 apud Ferreira, Aydos, 2010).
Se tratando a amostra deste atual estudo de alunos de instituições privadas, Leão et al. (2003), apud Miranda et al., (2015) apontam que sobretudo em crianças que se dispõe de maiores níveis socioeconômicos, o fácil acesso a alimentos ricos em calorias vazias e a redução da prática de atividades físicas, são hábitos notáveis e que levam ao sedentarismo precoce.
Analisando a pressão arterial, Moser et al., (2011), em sua pesquisa com crianças e adolescentes de ambos os sexos e idade entre 10 e 16 anos, encontrou que a porcentagem de PA elevada foi de 18,1% para o sexo masculino e 19% para o sexo feminino. Estes resultados em parte condizem com os encontrados nesta atual pesquisa, onde a Escola 1 obteve porcentagens mais baixas. Já a Escola 2, suas porcentagens foram mais elevadas que as encontradas por este mesmo autor.
A PA elevada é um importante fator de risco e o aumento da sua indecência se torna alarmante, visto que ela está diretamente relacionada a cardiopatias, acidente vascular cerebral, doença renal, aterosclerose coronariana e hipertrofia ventricular esquerda, e tais disfunções podem aparecer já na infância (Salgado; Carvalhes, 2003 apud Moser et al., 2011). Além disso, estas doenças podem se intensificar quando adultos (Freedman et al., 2005 apud Moser et al., 2011).
Em contrapartida, a redução do peso corporal de crianças e adolescentes obesos e hipertensos promove diminuições significativas na PA (Leite, 2005 apud Moser et al., 2011), sendo essa uma forma de tratamento não farmacológico (Gidding, 2002 apud Moser et al., 2011).
Ao analisar as provas de AptFS, destacaram-se a prova de aptidão aeróbica – corrida, e a de força e flexibilidade do tronco – extensão de tronco (trunk lift), as quais obtiveram taxas extremamente altas de sucesso. Pode-se observar concordância dos achados no estudo de Lopes et al., (2004), onde foi encontrado valores próximos de 100% também nestas duas provas.
Os resultados da prova de aptidão aeróbica – corrida são animadores, uma vez que este é um dos componentes da AptFS. Barros et al., (1997) apud Hobold et al., (2016), apontam que a aptidão cardiorrespiratória é um parâmetro básico para atribuir valores ao desempenho aeróbio de um indivíduo. Assim “A aptidão cardiorrespiratória é uma medida que melhor representa quantitativa e qualitativamente a capacidade funcional do indivíduo em relação ao exercício físico, e habilidade de regulação das necessidades energéticas que cada intensidade demanda para sua realização” (Denadai, 1996; Laurentino; Pellegrinoti, 2003 apud Hobold et al., 2016).
Na prova de abdominais (curl up) de ambos os sexos, a grande maioria obteve a maior porcentagem nas frequências de sucesso e de desempenho superiores aos da zona de sucesso. Esses valores, de forma geral, foram sutilmente superiores ao encontrados por Lopes et al., (2004) em sua pesquisa.
Houve um resultado na prova de abdominais (curl up) que se fez relevante. Uma participante da Escola 1 realizou um número de execuções nesta prova extremamente alto – 110 execuções. É importante destacar que essa participante é praticante de ginástica aeróbica, demonstrando a importância da realização de exercício físico de forma regular na vida da pessoa. Valores altos de AptFS se relacionam com uma boa condição cardiovascular (Santos et al., 2010).
Ainda no estudo de Lopes et al., (2004), foi encontrado que os indivíduos do sexo feminino obtiveram elevadas taxas de insucesso na prova de extensões de braços (push up), o que condiz com os resultados encontrados neste estudo. Das quatro provas de AptFS, apenas essa evidenciou maiores taxas na zona de insucesso para indivíduos deste mesmo sexo.
Ao analisar as taxas de sucesso em AptFS – a qual o valor desta é mensurado quando o indivíduo obtém sucesso em todas as quatro provas, observou-se que houve em ambos os sexos oscilações nas taxas de sucesso em função da idade, contudo, não houve um padrão de crescimento ou depressão. Tais dados contradizem o de Lopes et al., (2004), que observou decréscimo acentuado ao passar dos anos (6 aos 10 anos de idade) em ambos os sexos.
Uma vez que, para a bateria de testes Fitnesgram, a boa aptidão física é entendida como o alcance do sucesso nas quatro provas, feito isso, percebeu-se que os participantes deste estudo de maneira geral, não desfrutam de bons níveis de AptFS, pois foi encontrado que apenas 36,73% das meninas obtiveram sucesso nas quatro provas e 41,37% dos meninos, o que representa uma porcentagem baixa.
Logo, este quadro precisa ser invertido rapidamente, pois ter uma população inativa e inapta na sua AptFS já em idades baixas, é certamente torná-las suscetíveis às consequências negativas na sua saúde, pois estas estão diretamente ligadas a fatores de risco para doenças cardiovasculares, tanto na adolescência quanto na fase adulta (Blair,1993; Riecham,2002; Williams, 2001 apud Lopes et al., 2004). Um dos benefícios da elevação da AptFS é a prevenção de doenças hipocinéticas quando associadas a um estilo de vida sedentário (Costa 2001, apud Pato 2012).
CONCLUSÃO
Em conclusão, a hipótese desta pesquisa foi confirmada parcialmente. Constata-se que embora uma pequena parte dos indivíduos estão com excesso de peso e pressão arterial elevada, a maioria dos participantes se encontram eutróficos e normotensos, o que sugere um cenário animador.
Contudo, quando se trata dos níveis de aptidão física – que para a bateria de testes Fitnessgram, a boa aptidão física é entendida como o alcance do sucesso nas quatro provas, conclui-se que a maior parte não desfruta de bons níveis de AptFS.
Estes achados nos remetem a possibilidade de a sociedade estar sentindo uma maior preocupação com a saúde, mas em razão dos resultados de AptFS, reforça-se a necessidade de ações direcionadas a este público, não somente como forma de prevenção, mas também de combate. Se faz importante realizar novas pesquisas em escolas públicas e entidades filantrópicas, a fim de conhecer os parâmetros deste público.
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