THE IMPACT OF TELEHEALTH ON MACRO JEQUITINHONHA
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202502061805
Fernanda de Paula Pereira Oliveira1
Amanda Aparecida Silva Cruz2
Bárbara Ribeiro Barbosa3
Carlos Fágner da Silva Pereira4
Helisamara Mota Guedes5
João Paulo Ribeiro Vieira6
Mariana Roberta Lopes Simões7
Maristela Oliveira Lara8
Sabrina Mayara Veloso Silva9
Santa Irene de Meira e Silva10
Liliane da Consolação Campos Ribeiro11
Resumo
A telessaúde conecta serviços de saúde a populações em áreas remotas, proporcionando consultas, diagnósticos e prevenção de doenças com o uso de tecnologias digitais. O Vale do Jequitinhonha, marcado por desafios socioeconômicos e escassa mão de obra especializada, tornou-se um cenário ideal para a aplicação do projeto Saúde Digital Móvel da UFVJM. Este programa oferece telediagnósticos cardiológicos, oftalmológicos e teleconsultas dermatológicas, possibilitando acesso a cuidados especializados sem a necessidade de deslocamentos para centros urbanos. Entre março de 2023 e dezembro de 2024, 7.483 atendimentos foram realizados, com destaque para telediagnósticos em cardiologia (3.220), oftalmologia (3.106) e teleconsultorias dermatológicas (1.157). O uso de tecnologias como eletrocardiogramas, retinografias e teledermatologia contribuíram para o diagnóstico precoce e monitoramento de doenças crônicas, além de educação continuada para profissionais de saúde. A satisfação dos usuários foi avaliada pelo Customer Satisfaction Score (CSAT), medindo aspectos como qualidade do atendimento e tempo de espera. Este estudo reforça a relevância da telessaúde como estratégia para ampliar a equidade no acesso à saúde e otimizar recursos. O projeto Saúde Digital Móvel apresenta-se como uma inovação relevante para a transformação digital do Sistema Único de Saúde (SUS), buscando superar desigualdades no Vale do Jequitinhonha e servir como modelo para outras regiões vulneráveis.
Palavras-chave: Telessaúde; Saúde Digital; Sistema Único de Saúde.
Abstract
Telehealth connects health services to populations in remote areas, providing consultations, diagnoses, and disease prevention using digital technologies. The Jequitinhonha Valley, marked by socioeconomic challenges and a scarcity of specialized labor, has become an ideal setting for the implementation of the UFVJM Mobile Digital Health project. This program offers cardiology, ophthalmology, and dermatology teleconsultations, enabling access to specialized care without the need to travel to urban centers. Between March 2023 and December 2024, 7,483 consultations were performed, with emphasis on telediagnoses in cardiology (3,220), ophthalmology (3,106), and dermatology teleconsultations (1,157). The use of technologies such as electrocardiograms, fundus photography, and teledermatology contributed to the early diagnosis and monitoring of chronic diseases, in addition to continuing education for health professionals. User satisfaction was assessed by the CSAT (Customer Satisfaction Score), measuring aspects such as quality of care and waiting time. This study reinforces the relevance of telehealth as a strategy to increase equity in access to health and optimize resources. The Mobile Digital Health project presents itself as a relevant innovation for the digital transformation of the Unified Health System (SUS), seeking to overcome inequalities in the Jequitinhonha Valley and serve as a model for other vulnerable regions.
Keywords: Telehealth; Digital Health; Unified Health System.
INTRODUÇÃO
A Telessaúde, um dos componentes da Saúde Digital (SD), é uma solução inovadora que conecta serviços de saúde a populações em regiões remotas. A iniciativa se caracteriza por aproximar os serviços de saúde das populações que muitas vezes enfrentam desafios para acessar cuidados especializados. Nesse sentido, com o uso de tecnologias de informação e comunicação são viabilizadas teleconsultas, telediagnósticos, tratamento e prevenção de doenças, de forma que amplia a cobertura e melhora a qualidade da assistência à saúde (Organização Mundial da Saúde, 2021).
O Vale do Jequitinhonha, uma região caracterizada por uma diferença socioeconômica entre a população, escassa mão de obra especializada, infraestrutura limitada e grande distância entre os municípios da região (Guimarães, 2017), apresenta um cenário ideal para a utilização da telessaúde. Nesta perspectiva surge o projeto Saúde Digital Móvel que tem o objetivo de promover o acesso à saúde de qualidade, por meio de teleconsultorias dermatológicas, eletrocardiogramas e retinografias, atendendo às principais necessidades de saúde da população local (Cruz el al.,2024).
A implementação deste programa no Vale do Jequitinhonha reflete uma tendência global de usar a saúde digital para reduzir desigualdades em saúde. Programas semelhantes em outras partes do Brasil e do mundo têm mostrado impactos positivos na melhoria do acesso à saúde, na satisfação dos pacientes e na otimização dos recursos do sistema de saúde (Martins et al., 2023; Santos & Souza Júnior, 2020).
Assim, o desenvolvimento da Telessaúde é um exemplo de como a combinação de tecnologia e saúde pode beneficiar regiões vulneráveis. Essa abordagem é especialmente relevante para populações que carecem de acesso a serviços especializados, possibilitando um modelo de saúde mais igualitário (Guimarães & Souza, 2024).
Em 2024, o Ministério da Saúde do Brasil deu mais um passo crucial para a Transformação Digital do Sistema Único de Saúde (SUS) com a publicação da Portaria que estabelece o Índice Nacional de Maturidade em Saúde Digital (INMSD), uma ferramenta inovadora que visa avaliar a maturidade digital das regiões e elaborar planos de ação específicos para a SD do Brasil. Utilizando métricas cruciais, o índice avalia a sustentabilidade das ações e serviços, oferecendo uma visão equitativa e detalhada do panorama da SD em todo o país (Brasil, 2024).
Segundo os resultados desta pesquisa no Vale Jequitinhonha demonstraram que nenhum dos municípios alcançou a métrica almejada.
Assim sendo, o Projeto Saúde Digital Móvel, desenvolvido pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, representa uma solução inovadora e promissora para enfrentar os desafios de saúde em regiões com acesso limitado. A iniciativa utiliza a telessaúde para oferecer à população mais vulnerável serviços como teleconsultorias e telediagnósticos eliminando a necessidade de longas filas de espera ou deslocamentos para centros urbanos (Guedes et al., 2022).
Este estudo se justifica à medida que, ao relatar os atendimentos realizados nos anos de 2023 e 2024 e a avaliação dos usuários, possibilita-se não apenas documentar as ações realizadas, mas também refletir sobre a importância deste projeto para a região.
OBJETIVO
Analisar o impacto da telessaúde na macro Jequitinhonha por meio dos atendimentos realizados pelo Projeto Saúde Digital Móvel e da avaliação dos usuários.
REFERENCIAL TEÓRICO
A Saúde Digital é um campo interdisciplinar que abrange o desenvolvimento e a utilização de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) para subsidiar a saúde, conforme destaca a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2021). Esse conceito engloba desde a atenção à saúde por meio da telessaúde até o uso de plataformas digitais que promovem a interação entre os diversos atores do sistema de saúde.
No contexto da educação, da assistência e da gestão, as tecnologias em saúde desempenham um papel fundamental. Elas são aplicadas em processos de ensino-aprendizagem em diferentes cenários educacionais, mediando o cuidado nos serviços de saúde e otimizando os processos gerenciais em saúde (OPS, 2021).
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS), a SD tem o potencial de melhorar a qualidade da assistência no SUS, promover a continuidade do cuidado e reduzir as desigualdades em saúde, possibilitando que usuários acessem informações e ferramentas digitais para prevenção e atendimento no momento e formato adequados.
Na saúde pública, a Atenção Básica à Saúde (ABS), enquanto pilar do SUS, tem uma abrangência que a conecta diretamente às inovações da SD. A ABS é caracterizada como a principal porta de entrada na rede de atenção à saúde, oferecendo atendimento integral, acessível e baseado na comunidade. Estima-se que ela seja capaz de atender de 80% a 90% das necessidades de saúde de uma pessoa ao longo da vida (Silva, 2022). Seus atributos incluem a promoção da saúde, a prevenção de doenças, o controle de condições crônicas, o tratamento de agravos e a reabilitação. Nesse cenário, a integração entre SD e AB pode potencializar a oferta de serviços mais próximos das necessidades dos usuários.
O Programa SUS Digital, instituído pela Portaria GM/MS nº 3.232, de 1º de março de 2024, tem por objetivo promover a transformação digital no âmbito do SUS para ampliar o acesso da população às suas ações e serviços, com vistas à integralidade e resolubilidade da atenção à saúde. O Programa apresenta uma abordagem interdisciplinar, com escopo na intersecção entre tecnologia, informação e saúde, incorporando software, hardware e serviços, como parte do processo de transformação digital (Brasil, 2024).
O INMSD, parte integrante do Programa SUS Digital, é um indicador de mensuração da maturidade em saúde digital do território brasileiro, que foi aplicado por todos os entes federativos que aderiram ao Programa, tanto municípios quanto estados e Distrito Federal (Ministério da Saúde, 2024).
São objetivos do INMSD: oferecer uma avaliação abrangente e equitativa do panorama de SD, considerando a diversidade geográfica e das desigualdades presentes no Brasil; impulsionar a integração eficaz da tecnologia na saúde, promovendo a equidade e aprimorando a qualidade dos serviços em todo o território nacional; e gerar evidências que apoiem estados e municípios na elaboração dos seus Planos de Ação de Transformação para a SD (Ministério da Saúde, 2024).
O INMSD surge como uma estratégia crucial diante da diversidade geográfica e das desigualdades presentes no Brasil. Motivado pela disparidade de acesso e recursos nas distintas regiões do país, o INMSD busca oferecer uma avaliação abrangente e equitativa do panorama de SD. Sua necessidade se fundamenta em um olhar holístico, baseado em um conceito fundador de SD, que transcende meramente a tecnologia e engloba aspectos como infraestrutura, capacitação profissional, inclusão digital e participação ativa da comunidade (COSEMS, 2024).
A métrica do INMSD é calculada com base nestes indicadores:
- Infraestrutura Tecnológica: Avalia a disponibilidade e qualidade da infraestrutura tecnológica necessária para a implementação de soluções digitais em saúde.
- Capacitação Profissional: Mede o nível de treinamento e habilidades dos profissionais de saúde em relação à utilização de tecnologias digitais.
- Inclusão Digital: Analisa o grau de acesso e uso de tecnologias digitais pela população, considerando fatores como conectividade e alfabetização digital.
- Governança e Gestão: Avalia a existência de políticas, estratégias e mecanismos de governança para a implementação de saúde digital.
- Privacidade e Segurança: Mede a eficácia das medidas de privacidade e segurança dos dados de saúde.
- Financiamento: Analisa a disponibilidade de recursos financeiros destinados à implementação de soluções digitais em saúde.
- Participação Comunitária: Avalia o envolvimento da comunidade na adoção e utilização de tecnologias digitais em saúde.
Cada um desses indicadores é ponderado e combinado para fornecer uma visão abrangente da maturidade digital em saúde de uma determinada região. A soma dessas pontuações gera um índice final que varia de 0 a 1, no qual 1 representa a maturidade digital ideal (Ministério da Saúde, 2024).
A métrica no Vale Jequitinhonha está apresentada no quadro abaixo, nenhum município conseguiu a média 1, no seu Índice Geral.
Quadro 1- Avaliação das Métricas do INMSD no Jequitinhonha, 2024.
![](https://revistaft.com.br/wp-content/uploads/2025/02/image-152.png)
Fonte: Superintendência Regional de Saúde, 2024.
Ao fornecer uma métrica que considera esses elementos, o questionário do INMSD se posiciona como um instrumento estratégico para impulsionar a integração eficaz da tecnologia na saúde, promovendo a equidade e aprimorando a qualidade dos serviços em todo o território nacional.
Sob esse viés, o Projeto Saúde Digital Móvel da UFVJM emerge como uma iniciativa pioneira e muito importante para esta região do país. É o primeiro projeto móvel aprovado pelo Departamento de Saúde Digital (DESD). Realizado em parceria com o Ministério da Saúde e vinculado ao programa de extensão “Universidade nas Comunidades”, o projeto tem como objetivo levar serviços especializados de saúde a populações vulneráveis e residentes em áreas remotas, eliminando barreiras de acesso (Guedes et al., 2022).
O aludido projeto, oferece telediagnósticos cardiológicos (eletrocardiograma), oftalmológicos (retinografia) e teledermatologia.
O eletrocardiograma (ECG) é um exame não invasivo, utilizado para avaliar a atividade elétrica do coração, monitorando desde a frequência e ritmos cardíacos até o diagnóstico de infarto agudo do miocárdio e de arritmias (Sandau, 2017).
Segundo a OMS (2019), mais de 2 bilhões de pessoas possuem deficiência visual, sendo que 1 bilhão dos casos poderiam ser evitados com diagnóstico e tratamento precoce. Condições como catarata, glaucoma, degeneração macular e retinopatia diabética, principais causas evitáveis de perda visual, podem ser identificadas por meio da retinografia, exame não invasivo que captura imagens detalhadas da retina, nervo óptico e vasos sanguíneos. Em regiões com acesso limitado a oftalmologistas, a retinografia é primordial para o diagnóstico precoce e a prevenção da progressão da perda visual (Guedes & Chaoubah, 2023).
Em relação às teleconsultorias, a teledermatologia possibilita a realização de exames à distância em três formatos: store-and-forward, ou sistema assíncrono, no qual as imagens são obtidas seguindo protocolos definidos, armazenadas e enviadas com informações clínicas dos pacientes, como tempo de evolução do quadro, sintomas e tamanho das lesões, para avaliação posterior por dermatologistas; sistema em tempo real, ou síncrono, no qual a avaliação dermatológica ocorre em tempo real via videoconferência entre paciente, dermatologista e médico generalista, permitindo comunicação simultânea; e o modelo híbrido, que combina os dois sistemas (Ferreira et al., 2019). Além de possibilitar o diagnóstico das lesões, a plataforma de teledermatologia oferece um importante benefício educacional. O feedback entre profissionais é mais ágil do que nos processos tradicionais de consulta, permitindo a rápida classificação de risco, orientação clínica adequada ou a indicação da necessidade de uma avaliação presencial especializada.
Dessa forma, o processo atua como um meio de diagnóstico, regulação do acesso à atenção especializada e educação contínua para os profissionais envolvidos (Pala; Bergler-Czop; Gwiżdż, 2020).
Importante destacar que após alguns atendimentos, de forma aleatória, foi aplicado um instrumento que analisa aspectos específicos da jornada do paciente como o tempo de espera para a realização dos exames e a qualidade do atendimento prestado.
A avaliação de serviços é essencial para medir a eficiência e a qualidade dos cuidados oferecidos globalmente. Esse processo envolve uma análise abrangente de diversos aspectos, como os atributos da atenção primária à saúde. Diferentes países implementam abordagens e métricas variadas para avaliar suas estratégias de Atenção Primária à Saúde com o objetivo de melhorar a prestação de cuidados, identificar lacunas e promover a equidade no acesso (D’avila et al., 2024).
No presente estudo utilizamos o Customer Satisfaction Score (CSAT). Tendo como objetivo principal verificar a satisfação dos usuários, sob a sua ótica no que se refere a qualidade do atendimento recebido. A métrica do CSAT foi escolhida devido a ser de fácil obtenção e ter um baixo custo, além de fornecer valiosos insights no quesito de satisfação dos clientes em relação a produtos, serviços ou experiências fornecidas por uma empresa ou organização (Silva, 2022).
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo retrospectivo descritivo, com abordagem quantitativa, que visa analisar o impacto da telessaúde na Macro Jequitinhonha por meio dos atendimentos realizados pelo Projeto Saúde Digital Móvel e da avaliação dos usuários.
Foram considerados como critério de inclusão os dados dos exames produzidos de março de 2023 a dezembro de 2024 nas áreas de cardiologia, oftalmologia e dermatologia e das entrevistas dos usuários do ano de 2024.
O estudo foi conduzido em municípios do Vale Jequitinhonha que foram beneficiados pelo programa. A população estudada compreendeu os moradores dessas localidades, abrangendo indivíduos de diferentes faixas etárias, condições socioeconômicas e necessidades de saúde. Durante os atendimentos, os dados foram coletados diretamente na sala de realização de cada exame. As informações ficaram registradas nos aparelhos utilizados, garantindo a documentação automatizada. Além disso, foi aplicado um formulário de pesquisa de satisfação a alguns pacientes logo após o atendimento.
A partir de janeiro de 2024, por amostra de conveniência, alguns usuários dos atendimentos de telessaúde foram convidados a auto preencher um questionário elaborado no Google Forms® e enviado pelo aplicativo WhatsApp®, sendo dada a possibilidade da não participação caso fosse a sua escolha. Para os pacientes com dificuldade para o autopreenchimento foi oferecida a possibilidade de o entrevistador (não envolvido com o atendimento) realizar a pergunta e preencher o formulário. Todas as respostas foram anônimas.
A partir da coleta de dados foi realizado o armazenamento e tabulação das informações por meio do software Microsoft Office Excel 2013 e foi realizada a análise de frequência.
Para a pesquisa de satisfação foi utilizado o CSAT: que é um dos indicadores utilizados há mais tempo no mercado brasileiro […] pelo fato de ser uma medida mais versátil, ou seja, é mais fácil coletá-la em diversos pontos de contato entre uma companhia e seus clientes. O CSAT é responsável por compreender a satisfação do cliente para o serviço oferecido que analisa aspectos específicos da jornada do paciente como o tempo de espera para a realização dos exames e a qualidade do atendimento prestado. As respostas são registradas em escalas de 1 a 5 ou de 1 a 10, onde 1 representa “muito insatisfeito” e 5 ou 10 “muito satisfeito” (Silva, 2022, p.16). Para a análise do da média do CSAT, todas as respostas foram somadas para obter o total das pontuações.
A média do CSAT foi calculada dividindo a soma total das pontuações pelo número total de respostas. A fórmula é a seguinte:
CSAT= Soma das pontuações das respostas / Dividido pelo total de respostas
Todos os aspectos éticos definidos pela Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde para pesquisas envolvendo seres humanos foram devidamente respeitados ao longo desta pesquisa. O estudo recebeu aprovação do Núcleo de Telessaúde da UFVJM, bem como do Comitê de Ética em Pesquisa da mesma instituição, sob o número 6.864.383, em 4 de junho de 2024.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 31 municípios da Macro Jequitinhonha, 16 municípios foram contemplados com o Projeto Saúde Digital Móvel durante o período de 2023 a 2024. O projeto tem como objetivo atender às demandas da região de abrangência da UFVJM por meio da telessaúde. A iniciativa visa oferecer à população em situação de vulnerabilidade acesso a exames para monitorar doenças crônicas e realizar diagnósticos precoces de lesões dermatológicas. Tudo isso sem a necessidade de deslocamento para centros urbanos ou enfrentamento de longas filas nos sistemas de regulação municipal (Cruz et al., 2024).
Durante a execução deste projeto, foram percorridos 1.949,3 km para atender os 16 municípios contemplados. A média de quilometragem rodada por deslocamento foi de aproximadamente 130 km, evidenciando o esforço logístico necessário para alcançar comunidades remotas e garantir o acesso aos serviços de saúde. O município mais distante atendido foi Jenipapo de Minas, localizado a 283,1 km da sede do projeto.
O estudo de Guimarães e Souza (2024) mostra o impacto das soluções móveis no monitoramento de doenças crônicas, especialmente para hipertensão e diabetes, que requerem rastreamento contínuo. A coleta de dados em tempo real pode ser facilmente realizada através do uso de aplicativos e dispositivos conectados, facilitando assim, a intervenção imediata de profissionais de saúde. Essa abordagem também é significativa em áreas onde longas distâncias entre pacientes e centros de saúde podem interromper a continuidade do cuidado (Martins et al., 2023).
A Tabela 1 apresenta a distribuição dos atendimentos realizados pelo Programa Saúde Digital Móvel da UFVJM nas áreas de telediagnóstico em cardiologia, oftalmologia, teleconsultoria em dermatologia, durante os anos de 2023 e 2024. Foram realizados 7483 atendimentos.
Tabela 1 – Distribuição dos atendimentos realizados pelo Programa Saúde Digital Móvel. Diamantina, Brasil, 2025
![](https://revistaft.com.br/wp-content/uploads/2025/02/image-153.png)
Fonte: Arquivo do Projeto Saúde Digital Móvel, UFVJM, 2025.
Observa-se que a maior quantidade foi registrada na área de telediagnóstico em cardiologia, totalizando 3.220 exames. Destes, 23,22% realizados em 2023 e 76,78% em 2024.
O estudo de Costa et al. (2021) revela uma alta prevalência de doenças cardiovasculares na região do Vale do Jequitinhonha, o que torna o ECG uma ferramenta importante para o diagnóstico e acompanhamento dessas patologias. Dessa forma a Telessaúde facilita o monitoramento contínuo e o diagnóstico precoce dos pacientes, sem a necessidade de deslocamento para centros urbanos.
Em regiões com acesso limitado a oftalmologistas a retinografia é primordial para o diagnóstico precoce e a prevenção da progressão da perda visual (Guedes & Chaoubah, 2023). A retinografia é um exame de triagem por meio da tomada de fotos da retina com iluminação e já se mostrou equivalente ao exame presencial com oftalmologista na classificação e rastreamento da Retinopatia Diabética (Araújo et al.,2020). Assim, esse exame pode ser uma alternativa para centros que não dispõem da figura presencial do oftalmologista, já que possui elevado padrão de qualidade e reprodutibilidade no processo de estratificação dos pacientes diabéticos (Carneiro et al.,2024).
Além disso, o impacto do Programa de Telessaúde também pode ser observado na educação em saúde. Durante as teleconsultorias, a interação entre os pacientes e os prestadores de cuidados de saúde tem ajudado a criar consciência sobre como prevenir doenças crônicas. Isso é especialmente importante onde a literacia em matéria de saúde é limitada (Marcolino et al., 2021).
Em relação a avaliação dos atendimentos responderam ao questionário 547 usuários.
A Tabela 2 mostra a avaliação dos atendimentos realizados no ano de 2024, por 547 usuários, em uma escala de 1 a 10 em que um é muito insatisfeito e 10 muito satisfeito.
Tabela 2 – Satisfação dos Pacientes com o Projeto Saúde Digital Móvel, no ano de 2024, Jequitinhonha, Brasil.
![](https://revistaft.com.br/wp-content/uploads/2025/02/image-154.png)
Fonte: Arquivo do Projeto Saúde Digital Móvel, UFVJM, 2025.
Assim, após fazer o cálculo do CSAT o resultado final do indicador foi de 98,3% indicando alta satisfação com o serviço oferecido.
Em relação ao tempo de espera 74% consideraram o atendimento muito rápido, 15% nem rápido e nem demorado, 10% rápido e 1%, demorado.
Lopes (2019) descreveu o tempo de espera como ponto negativo na avaliação da qualidade da assistência. Assim deve se ressaltar que a estrutura do ambiente e os profissionais envolvidos na assistência são capazes de amenizar a insatisfação ou satisfação dos usuários (Ferreira, Souza, Santos, 2021).
Esses resultados evidenciam a eficácia do projeto em oferecer atendimento de qualidade, reforçando seu papel fundamental na saúde pública e na promoção de um modelo de atendimento mais eficiente e adaptado às necessidades das populações remotas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Projeto Saúde Digital vem se mostrando uma solução promissora para ampliar o acesso aos serviços de saúde, principalmente nas regiões mais remotas no Vale do Jequitinhonha. No presente estudo, os dados apresentados vêm comprovar o impacto positivo da implantação da telessaúde por meio do projeto de extensão da universidade, da oferta dos exames e das teleconsultorias. Contata-se, portanto, que o projeto vem reduzindo as barreiras geográficas e as filas de espera nas regulações municipais para os serviços especializados.
Todavia, a alta taxa de satisfação dos usuários, comprovada pelo índice CSAT de 98,3%, denota a relevância do projeto para a comunidade, reforçando assim a importância da inserção das tecnologias digitais no âmbito da saúde pública.
No entanto, ainda há desafios no que se refere a infraestrutura digital e a capacitação das equipes de saúde. Visto que o INMSD apontou que nenhum município do Vale do Jequitinhonha atingiu a métrica ideal, fica evidente que ainda há necessidade de investimentos na SD nos municípios da região.
Diante disso, este estudo evidenciou o impacto positivo da telessaúde por meio do Projeto Saúde Digital Móvel, demonstrando que houve significativa ampliação do acesso aos serviços de saúde e redução das distâncias percorridas para os atendimentos.
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1Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
E-mail: fernanda.pereira@ufvjm.edu.br
2Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Mestranda em Ensino em Saúde. Enfermeira.
Email: amanda.silva@ufvjm.edu.br
3Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Mestranda em Reabilitação e Desempenho Funcional.
E-mail: barbara.ribeiro@ufvjm.edu.br
4Acadêmico de Enfermagem da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
E-mail: carlos.fagner@ufvjm.edu.br
5Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Professora Associada. Doutora. Enfermeira.
E-mail: helisamara.guedes@ufvjm.edu.br
6Acadêmico de Medicina da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
E-mail: vieira.joao@ufvjm.edu.br
Mariana Roberta Lopes Simões
7Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Professora Associada. Doutora. Enfermeira.
E-mail: mariana.roberta@ufvjm.edu.br
8Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Professora Adjunta. Doutora. Enfermeira.
E-mail: maristela.lara@ufvjm.edu.br
9Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri.
E-mail: sabrina.veloso@ufvjm.edu.br
10Enfermeira. Técnica em Saúde do Projeto Saúde Digital Móvel e Núcleo em Telessaúde.
E-mail: santairenemeira@yahoo.com.br
11Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Professora Associada. Doutora. Enfermeira.
E-mail: liliane.consolacao@ufvjm.edu.br