REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102502041801
Olinda Beatriz Trevisol Meneghini
Orientação Elza Maria Alves Costeira
RESUMO
Um dos problemas do incentivo a doação voluntária de sangue é a falta de humanização nas salas de coleta e demais dependências dos hemocentros. Por este motivo estamos pesquisando como a arquitetura pode contribuir para que a experiência da doação de sangue seja menos traumática no Hemocentro de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A realização de estudos sobre o uso da cor, de revestimentos e texturas, objetos de decoração e mobiliário, iluminação, contato com o exterior e, ainda, o uso de vegetação onde possível, que poderiam amenizar os traumas trazendo o conforto como um aliado. Este estudo de pesquisa bibliográfica tem por objetivo analisar quais as características arquitetônicas promovem o bem-estar de doadores e profissionais envolvidos em hemocentros.
Palavras-chave: Humanização. Hemocentro. Arquitetura hospitalar.
ABSTRACT
One of the problems encouraging voluntary blood donation is the lack of humanization in collection and other dependencies of the hemocenters. For this reason we are proposing the characterization of a model of humanization in the Hemocentro de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, covering the use of color, finishes and textures, decorative objects and furniture, lighting, contact with the outside, and the use of vegetation where possible. This bibliographical research study aims to examine the architectural features promote the humanization in hemocenters.
Keywords: Humanization. Blood donation. Hospital architecture.
1 INTRODUÇÃO
A aceleração do dia a dia tem dificultado a convivência em sociedade. Os valores e atitudes influenciam diretamente na qualidade de vida dos indivíduos, consequentemente cada vez menos vem a preocupação em ajudar o próximo. Para tanto se faz necessário campanhas e projetos para determinadas comunidades no intuito de pedir auxílio. Assim também a dificuldade de regularizar os estoques de sangue no Brasil, causados pela crescente onda de violência e acidentes e a necessidade cada vez maior de hemoderivados para procedimentos na área médica cada vez mais avançados. No Brasil aproximadamente 2,0% da população em idade entre 18 a 65 anos é doador regular, porém para manter os estoques em dia Organização Mundial de Saúde preconiza que seja 3,0% a 5,0% da população (BRASIL, 2014; FREIRE, 2012; FREIRE; VASCONCELOS, 2013).
Segundo Freire e Vasconcelos (2013), a população que busca os hemocentros para doação ainda encontra muita carência no atendimento e nas salas de coleta. Em um contexto no qual urge aumentar a quantidade e a qualidade do sangue disponível, a produção científica brasileira e internacional é ainda modesta no tocante às apreciações dos doadores sobre aspectos que mostram o respeito e a consideração presentes no atendimento a doadores e seus familiares.
Por este motivo este trabalho objetiva analisar quais as características arquitetônicas que promovem a humanização de um hemocentro, para que ele se torne atrativo e menos penoso para os doadores, reunindo subsídios teóricos relacionados a arquitetura hospitalar de interiores, identificando ações que promovam a humanização em hemocentros para motivar a decisão dos doadores, reconhecendo as principais características arquitetônicas consideradas como motivação de doadores.
1.1 Justificativa
Apesar do conceito de humanização estar sendo aplicado à concepção dos projetos hospitalares há pouco tempo, a preocupação com a qualidade do ambiente hospitalar não é recente. Florence Nightingale (1820-1910), em seu livro Notes on Nursing and Notes on Hospitals (1859), já enfatizava a importância de atributos como ventilação adequada, saneamento, controle do ruído e da luz para a qualidade do ambiente; considerando que o primeiro requisito de um hospital era que seu ambiente não fizesse mal aos pacientes (MALKIN, 1991).
Evidências científicas mostram que projetos arquitetônicos sem nenhum atributo ambiental estimulante para o corpo humano, agem contra o bem-estar dos pacientes e têm efeitos negativos nos indicativos fisiológicos. Segundo pesquisas citadas por Ulrich (1991), esses ambientes causam as mesmas consequências negativas nos pacientes que a ansiedade, o delírio e a pressão alta, aumentando a admissão de drogas para controle da dor.
Por isso um projeto para instalações de saúde, principalmente de hospitais, deve ser muito mais que eficiente em funcionalidade, marketing, custo e respeito às normas. Deve promover o bem-estar criando ambientes que sejam um apoio físico e psicológico aos pacientes.
No Brasil, esta nova visão da arquitetura hospitalar ainda é muito recente e pouco se tem feito para qualificar os ambientes em prol da saúde e do bem-estar dos pacientes. Isto se deve à falta de recursos para investir no Sistema Público de Saúde, à falta de conscientização de que o ambiente é um suporte fundamental para a recuperação dos pacientes, e à falta de conhecimento teórico e projectual sobre o assunto.
Aí se insere o motivo e a justificativa desta dissertação, pois cabe ao arquiteto, responsável pela relação do homem com o ambiente construído, a tarefa de adequar o projeto do ambiente hospitalar às necessidades de seus usuários – pacientes fragilizados orgânica, física e/ou psicologicamente – e difundir os conhecimentos teóricos adquiridos para tal função. Vale lembrar que é preciso tomar conhecimento das características da população que utilizará o espaço e de como será sua rotina dentro do mesmo, ou seja, quais serão as atividades desenvolvidas, para então proporcionar um ambiente adequado.
“O ambiente construído não constitui agente passivo nem mediador; evoca respostas complexas em forma de sentimentos, atitudes, valores, expectativas e desejos […]” (GEOFFROY, 2000, p. 274). Portanto, complementa a autora, o projeto arquitetônico deve priorizar os efeitos que os atributos do ambiente irão causar nos pacientes, fazendo com que estímulos positivos atuem sobre os indivíduos evocando respostas também positivas do corpo humano. Ao atenuar o estresse e a monotonia a que fica submetido o paciente, a humanização das instalações ajuda a reduzir o tempo de internação.
Considera-se, então, relevante a integração do espaço interior com o exterior em ambientes hospitalares pelo fato da natureza possuir uma grande e variada fonte de estímulos que, se bem controlada, em contato com os pacientes só tende a acarretar benefícios à hospitalização.
A presença de áreas verdes e jardins dentro do ambiente hospitalar, ou o contato com o espaço externo – direto ou indireto (contato visual) – traz ao paciente uma distração positiva, pois os elementos presentes nesta relação causam sentimentos bons, prendem a atenção e despertam o interesse dos pacientes, bloqueando ou reduzindo os pensamentos ruins (ULRICH, 1991).
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Identificar características ambientais para incentivar o doador a fidelizar sua doação de sangue.
1.2.2 Objetivos específicos
Realizar uma investigação de biografias relacionadas a influência do design de interiores nos ambientes de doação de sangue. Identificar ações que promovam a humanização em hemocentros para motivar a decisão dos doadores. Reconhecer as principais características arquitetônicas consideradas como motivação de doadores.
1.3 Metodologia
A pesquisa caracteriza-se, segundo seus objetivos, como uma Pesquisa Exploratória, pois visa criar uma aproximação com o tema de estudo levantando a real importância do problema, o estágio em que se encontram as informações já disponíveis a respeito do assunto e as novas fontes de informação (GIL, 2002).
Ainda segundo o autor, a revisão da literatura, possibilita o conhecimento do estado atual do problema, o que permite o estabelecimento de um modelo conceitual de referência, elaborando um plano geral de pesquisa e determinando as técnicas de coleta de dados mais adequadas. Fontes como livros, publicações periódicas, páginas de web sites, relatórios de simpósios/seminários e anais de congressos são consultados para a abordagem mais completa sobre o tema em questão. A coleta de exemplos arquitetônicos, fundamental para ilustrar como a integração acontece nos mais diversos hospitais de todo o mundo, ocorre a partir da busca de projetos e imagens de hospitais em periódicos e livros especializados.
2 HUMANIZAÇÃO DE AMBIENTES
2.1 A importância do usuário para hemocentros
Um importante indicador a ser considerado no planejamento de ações é grau de satisfação usuários com atendimento recebido em instituições de saúde. A relevância da percepção deles centra-se na possibilidade de dimensionar o reflexo das ações desenvolvidas no setor de saúde, servindo também como vetor de direcionamento e planejamento de serviço. Dessa forma, a melhoria dos programas de saúde pode ter base no programa de saúde pode ter base no processo de avaliação através da ótica do usuário, já que estudos sobre ações no campo da saúde apontam para a necessidade de ouvir quem é atendido, considerando sua concordância e aceitação (MOIMAZ et al., 2010).
Como no caso mais especifico dos centros de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentros), o doador de sangue não pode ser comparado a um paciente ou cliente, pois ele não está se submetendo a um tratamento nem adquirindo um bem, mas doando seu sangue. Assim sendo sua satisfação volta-se completamente a como os serviços lhe são prestados (BORGES et al., 2005).
2.2 O papel do arquiteto hospitalar na ambientação de espaços de saúde
Roger S. Ulrich da Texas A&M University, dos Estados Unidos, tem embasado muitas das teorias atuais sobre projetos de humanização de ambientes. Muitas teorias são baseadas nas recentes pesquisas. Seu trabalho, apresentado em 1990 no The National Symposium on Health Care Design, descreve os princípios do projeto tradicional de ambientes hospitalares que, se analisados sob a ênfase da função e da eficiência, produzem instalações que ele descreve como “psicologicamente duras” (ULRICH, 1991).
Segundo Ulrich (1991), este tipo de ambiente hospitalar é frequentemente um fracasso sob o ponto de vista financeiro por duas razões: primeiro porque não é atrativo para pacientes potenciais e então é difícil conquistá-los no mercado competitivo atual; segundo porque um “ambiente duro” é estressante, não somente para pacientes, mas também para visitantes e trabalhadores.
Pesquisadores deste campo emergente têm acumulado evidências que subsidiam grandes alterações necessárias na aparência, na funcionalidade e na sensação dos ambientes de saúde. Mesmo assim, ainda é muito difícil definir exatamente como deve ser um ambiente para a cura.
Suas hipóteses indicam que alterando o espaço hospitalar através da redução do estresse ambiental, pode-se melhorar o processo dos cuidados com a saúde e ainda, reduzir os custos dos tratamentos.
Para a equipe médica pacientes, familiares e visitantes o estresse é um problema sério. Apesar de não haver nenhuma prescrição para criar um ambiente que promova a cura, pelo menos há uma grande concordância entre os estudiosos do assunto no que se refere aos fatores que causam reações fisiológicas no corpo humano e ajudam na recuperação dos pacientes hospitalizados. Tais fatores, primeiramente delineados por Ulrich (1991), são os responsáveis pela redução do estresse e promoção do bem-estar aos pacientes, sendo considerados aqui como os atributos de humanização do ambiente hospitalar. São eles: controle do ambiente; suporte social possibilitado pelo ambiente; distrações positivas do ambiente.
Os critérios para selecionar esses três componentes levaram em consideração a influência positiva desses atributos no bem-estar dos pacientes, pois foi comprovado, através de testes realizados em grupos de pessoas e situações, que tais atributos ambientais afetam o estresse e o bem-estar (ULRICH, 1991).
2.3 Aspectos legais
A legislação, no tocante ao doador, apresenta diferentes aspectos, sendo a doação do sangue voluntaria anônima altruísta e não remunerada, seja de forma direta ou indireta. O anonimato da doação é entendido enquanto a garantia de que nem os receptores saibam de qual doador veio o sangue que ele recebeu nem os doadores saibam o nome do paciente que foi transfundido com componentes obtidos a partir da doação, em um procedimento duplo cego (SOARES, 2002).
Conforme estabelece o Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por meio da Resolução da Diretoria Colegiada n. 34, de 11 de junho de 2014, que dispõe sobre as boas práticas no ciclo do sangue, critérios relativos a vários fatores que visam a proteção do doador, dentre os quais citamos ter entre 18 e 65 anos, peso mínimo de 50 quilogramas, ter repousado no mínimo 6 horas nas 24 horas anteriores a doação, não estar gripado, com febre, gestante ou amamentando, não ter ingerido bebida alcoólica nas últimas 6 horas e estar em boas condições de saúde. Excluem-se também pessoas que tenham feito tatuagens, piercing ou tratamento com acupuntura nos últimos 12 meses, portadores de hepatite da SIDA e hepatite, aqueles que vivem situação sexuais de risco acrescido, portadores de doenças crônicas, usuário de drogas ou medicamentos contraindicados para doação de sangue, ou com anemia (obs.: Resolução da Diretoria Colegiada n. 153, de 14 de junho de 2004, foi revogada).
2.4 Atributos de humanização do ambiente em hemocentros
2.4.1 Necessidade de controle do ambiente pelo paciente
Todas as pessoas sentem necessidade de poder controlar o ambiente que as cerca. A sensação de controle é um importante fator que influencia o nível de estresse e o bem-estar em diversos grupos de pessoas, principalmente em pacientes hospitalizados que já estão fragilizados física e psicologicamente.
Situações ou condições que são incontroláveis geralmente são aversivas e estressantes em qualquer ambiente, não só no hospitalar confirmando o exemplo acima, Malkin (1991, p. 14-15, tradução nossa) menciona algumas descobertas das pesquisas a respeito da possibilidade de escolha:
Tem sido demonstrado que em qualquer estabelecimento, não apenas em hospitais, o controle do ambiente reduz o estresse. Quando você sabe que tem uma opção, por menor que seja, você se sente melhor […]. As consequências para os ambientes de saúde são enormes: pacientes que podem controlar a temperatura e a iluminação do seu próprio quarto, a privacidade necessária, a hora e a quantidade de refeições que têm durante o dia, demonstram menor estresse e apresentam recuperação mais rápida.
Um estudo conduzido por Roger Ulrich e Robert Simons, em 1986, concluiu que televisores sempre ligados, sem permitir a escolha do canal ou o controle do som pelos telespectadores, causaram aceleração do batimento cardíaco e aumento da pressão arterial na maioria dos pacientes. Da mesma forma, quadros com arte abstrata, dispostos nas paredes de um hospital psiquiátrico, causaram distúrbios psicológicos nos pacientes (ULRICH, 1986).
No ambiente de saúde, a existência de controladores de interfone, luz, telefone, televisão e rádio de fácil alcance do paciente aumentam a sensação de segurança e otimizam os trabalhos da equipe. Em hemocentros é importante que os doadores possam ter condições de usar de forma confortável seu celular ou tablet com acesso facilitado a tomadas de energia e, WiFi e apoio para seus aparelhos.
2.4.2 Benefícios do estado emociona no bem-estar do paciente
Pacientes obtém benefícios para seu estado físico e emocional a partir do contato frequente ou prolongado com familiares, amigos ou até mesmo quando fazem parte de um sistema que proporciona suporte social.
O ambiente interior de um hospital pode ou não favorecer o acontecimento deste tipo de suporte. Sendo confortável, aconchegante, com a mobília organizada de forma a promover a interação social e flexível de forma a possibilitar o rearranjo para grupos menores, o ambiente pode aumentar a interação entre pacientes-visitantes e pacientes-pacientes aumentando o suporte social.
O encorajamento e o desenvolvimento do suporte social são possibilitados pelo ambiente quando apresenta espaços específicos destinados para este fim, como é o caso de ambientes para realização de reuniões, formação de grupos de estudo, espaços para lazer ou até mesmo para oração.
Mas este tipo de ambiente também exige algumas precauções. O design interior do ambiente não pode forçar a interação social a ponto de negar a condição de privacidade do doador se for este seu desejo.
2.4.3 Benefícios da luz além da visão
Até recentemente um projeto de iluminação visava apenas a função visual, onde a quantidade e a qualidade da luz era fundamental. Hoje, arquitetos e designers já estão cientes dos benefícios que a luz traz à saúde além da visão. A luz influencia o controle endócrino, o relógio biológico, o desenvolvimento sexual, a regulação de estresse e fadiga e a supressão da melatonina (FONSECA; PORTO; CLARK, 2000).
A iluminação natural – proveniente do sol – quanto a iluminação artificial – proporcionada por luminárias dispostas no ambiente – são importantes para a qualificação dos espaços hospitalares, principalmente quando o estado fragilizado dos pacientes e sua longa permanência na instituição são considerados. A combinação da iluminação natural com a artificial de forma a satisfazer tanto os aspectos normativos, que estabelecem as iluminâncias mínimas, quanto aos aspectos qualitativos, que visam o bem-estar dos pacientes, é considerada ideal.
[…] no país, a iluminação de hospitais frequentemente se limita à satisfação das iluminâncias mínimas estabelecidas pelas normas. A influência positiva na iluminação, como a melhoria do estado psicológico e fisiológico dos indivíduos, é geralmente ignorada. (CAVALCANTI, 2002, p. 20).
A luz do sol é importante para a absorção do cálcio e do fósforo, para o crescimento e fortalecimento dos ossos, para o controle de profilaxia viral e de infecções e para a melhora da capacidade física, diminuindo a pressão arterial e aumentando a quantidade de oxigênio.
Muitos ambientes de saúde são iluminados por lâmpadas fluorescentes, mas infelizmente a luz fria é interpretada pelo corpo humano como escuridão, pois não traz nenhum benefício à saúde. Biologicamente, a melhor luz para o interior das edificações é a luz vinda das janelas, átrios e zenitais, a luz do sol. Além disso, a luz natural influi positivamente no humor e na disposição das pessoas.
As janelas são um exemplo importante de elemento arquitetônico de ambiente de saúde, capaz de proporcionar contato com o ambiente exterior que são importantes para garantir o conforto visual, térmico e psicológico dos pacientes. As janelas com vistas para o exterior proporcionam a percepção da variação da luz do dia, o contato com a natureza, o relaxamento e consequentemente, aceleram a melhora do paciente no tratamento e melhoria nas condições de trabalho dos profissionais envolvidos.
2.4.4 Estudo da utilização da cor nos ambientes de saúde
Elementos do ambiente que estão intimamente ligados são a cor e a luz, tanto que a intensidade da luz afeta substancialmente o resultado da cor. Por isso, a escolha das cores pelo projetista precisa ser muito cuidadosa e baseada nos estudos científicos que indicam o efeito psicológico das cores nos usuários do espaço, principalmente no ambiente hospitalar, onde a escolha das cores pode fazer uma pessoa saudável parecer doente ou uma pessoa doente parecer saudável.
As cores podem ser classificadas como frias e quentes. Chamam-se “quentes” as cores que integram o vermelho, o laranja, e pequena parte do amarelo e do roxo; e “frias” as que integram grande parte do amarelo e do roxo, o verde e o azul. As cores quentes parecem dar uma sensação de proximidade, calor, densidade, opacidade, secura, além de serem estimulantes. Em contraposição, as cores frias parecem distantes, frias, leves, transparentes, úmidas, aéreas, e são calmantes (BASTOS; FARINA; PEREZ, 2006).
A natureza está sempre em busca de equilíbrio, a existência do ser humano é caracterizada por dualidades, havendo o masculino e o feminino, o positivo e o negativo, o claro e escuro, dentre outros contrastes. Nas cores também existem as polaridades, como cores frias e cores quentes. O vermelho é considerado cor quente e o azul, cor fria. Quanto mais quente for considerada a cor, mais vermelho ela contém. Quanto mais fria, mais azul ela possui, sendo esta consideração simbólica, mas real, quando aplicada ao bem-estar.
O psicológico e o emocional humano são fortemente influenciados pelas cores. Por exemplo, a cor vermelha estimula o sistema nervoso simpático, aumenta a atividade cerebral, enviando mais sangue para os músculos, acelerando o batimento cardíaco, a pressão arterial e a respiração; já a cor azul, estimula o sistema nervoso parassimpático, causando efeito tranquilizante.
Estes efeitos são tão significantes que, em alguns hospitais da Suécia, os pacientes são direcionados para os quartos com cores adequadas à natureza de sua doença; conforme o processo de cura avança, eles são transferidos gradualmente para quartos com cores que possuem maior nível de estimulação (JONES, 2015).
A cor também provoca estímulos sensoriais nas pessoas e, por isso, causa distrações positivas, conforme visto anteriormente. Ela pode ser aplicada ao ambiente com a intenção de destacar algum objeto ou elemento construtivo, com a intenção de tornar o ambiente mais aconchegante, ou simplesmente com a intenção de criar uma atmosfera de brincadeira e alegria, evitando a monotonia que poderia haver num simples corredor.
A cor também afeta a percepção dos objetos e espaços. As cores quentes parecem avançar enquanto as frias parecem distanciar-se. Com o uso de cores frias, o tempo é subestimado, os pesos parecem mais leves, os objetos parecem menores e os ambientes parecem maiores. Por outro lado, o uso de cores quentes causa efeito contrário. O conforto térmico também é afetado pela cor. Pessoas sentem mais frio em ambientes que possuem tonalidades frias e mais calor em ambientes de tonalidades quentes, embora a temperatura seja a mesma.
A percepção da cor é alterada pela idade. Crianças respondem melhor aos contrastes, preto e branco, cores primárias e secundárias, diferentes saturações e sombras. Os idosos, devido ao amarelamento das lentes dos olhos, têm a percepção das cores alterada, não podendo mais distinguir tão bem os tons de azul e verde (BASTOS; FARINA; PEREZ, 2006).
A preferência e escolha da cor depende da localização geográfica do edifício em questão, da incidência de luz solar, da cultura regional, do tamanho do espaço, das atividades que serão realizadas e da idade dos usuários. Um ambiente visual que utiliza cores e sombras variadas é um caminho para proporcionar interesse e estimulação para os usuários e constituir um espaço mais produtivo.
A simbologia das cores exerce grande influência nos ambientes hospitalares: modificando-o, animando-os ou transformando-os.
Tem-se nas cores uma grande possibilidade de transformar os ambientes, tornando-os mais confortáveis, aconchegantes e agradáveis esteticamente, favorecendo assim a realização do atendimento humanizado.
2.4.5 Som utilizado como antiestresse
Além de causar estresse, um trauma auditivo produz mudanças fisiológicas na estrutura capilar sanguínea, impedindo a circulação do sangue e obstruindo o canal vascular, tendo como resultado doenças do coração, pressão alta e úlceras (GAPPEL, 1995).
O barulho estressante causa irritação e frustração, agrava o mau humor e reduz o limiar da dor. Também afeta a percepção visual e diminui a capacidade de aprendizado. Para a equipe de trabalho, o barulho diminui a produtividade e aumenta o absenteísmo. Entre os idosos, por exemplo, altos níveis de ruídos causam insônia e desorientação. Já para os bebês, a exposição a ambientes barulhentos torna-os mais lentos, o que os faz persistir em comportamentos infantis, tendo maior dificuldade para falar e para desenvolver atividades (JONES, 2015).
Enfim, a permanência em ambientes com ruído constante é um perigo para a saúde de qualquer pessoa.
A escolha de revestimentos e móveis que não refletem, ou amplificam as ondas sonoras, podem proporcionar a melhor acústica para ambientes. Paredes e tetos com superfícies irregulares são bons para dispersar o som. Carpetes, tecidos, madeira e painéis acústicos também podem proporcionar ambientes. Cinquenta e seis sons naturais, principalmente causados pela água, além de ter efeito calmante e relaxante, ajudam a diminuir a intensidade de outros sons indesejáveis. O uso de fontes de água e de jardins internos tem aumentado consideravelmente nos projetos hospitalares por causa dos efeitos visuais e sonoros que causam.
A música, que estimula o desempenho da endorfina e diminui o batimento cardíaco, tem efeito similar. Por exemplo, música clássica tocada em ambientes cirúrgicos tem mostrado diminuir a ansiedade do paciente e até mesmo a necessidade de anestesia (JONES, 2015).
Esse lado positivo do som, proveniente de diversas fontes, causa a redução da dor e a distração para situações de desconforto. O som positivo evoca uma resposta emocional, altera o humor e aguça os outros sentidos.
2.4.6 Uso de aromas positivos
Tanto quanto o som, o aroma pode ser positivo ou negativo. É, na verdade, uma persuasão silenciosa que influencia a mente, o corpo e a saúde. O cheiro é o mais evocativo dos sentidos, tem uma relação muito íntima com o lado emocional, e faz o caminho mais rápido de ligação com o cérebro estimulando-o a resgatar memórias (GAPPEL, 1995).
Enquanto os aromas desagradáveis aceleram a respiração e o batimento cardíaco, os cheiros agradáveis reduzem o estresse. Por isso é preciso ter muito cuidado com o aroma em ambientes de saúde. O cheiro de medicamentos pode estimular a ansiedade, o medo e o estresse dos pacientes, enquanto os aromas agradáveis podem reduzir a pressão sanguínea e diminuir a percepção da dor.
Uma solução positiva para os ambientes de saúde pode ser o uso de saches, de arranjos florais e da própria vegetação que proporciona fragrâncias agradáveis. As plantas, além de exalar bons aromas, podem purificar o ar interno absorvendo toxinas, alegrando o ambiente e promovendo o contato com a natureza.
2.4.7 Escolha adequada de textura
As sensações de conforto, provindas da qualidade do ar e da temperatura, são percebidas pela pele. Sendo a pele é o maior dos órgãos dos sentidos.
Dentro dos ambientes, o conforto do corpo humano é assegurado pela escolha adequada dos móveis: design ergonomicamente correto, uso de tecidos leves e suaves, cantos arredondados.
A inabilidade para mover ou operar os móveis pode produzir estresse e ansiedade no paciente e contribuir para a sensação de insegurança e dependência. A qualidade tátil do espaço pode ser enriquecida pelo uso de tratamentos diferenciados para as superfícies, como variedade de tecidos e acabamentos e variedade e versatilidade dos móveis, proporcionando conforto.
Outra opção é proporcionar o contato do paciente com o ambiente exterior ou com plantas situadas dentro do ambiente hospitalar, pois a natureza é rica em texturas e por isso pode estimular positivamente o corpo humano
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2.4.8 Forma como estimulante sensorial
O uso de formas variadas num mesmo espaço, é outro aspecto a considerar pois provoca estimulação sensorial e criando distração positiva no ambiente. As formas podem ser destacadas pelo uso de cores, podem ser educativas ou recreativas nos hospitais infantis por exemplo, ou ainda, podem simplesmente despertar a atenção através da força das formas puras, como visto no ambiente a seguir que utiliza formas circulares, triangulares e quadradas. Incorporando os princípios da PNI (Positivo: as boas coisas, o que você gosta na ideia; Negativo: as coisas ruins, o que você não gosta; e Interessante: o que você acha interessante e que merece uma reflexão) no projeto de um ambiente, respostas fisiológicas positivas podem ser maximizadas entre os pacientes. Ambientes que produzem respostas positivas nos pacientes causam a mesma reação na equipe médica, ajudando a reduzir o desgaste, o estresse e o absenteísmo.
Um aspecto interessante da PNI é o foco nos canais sensoriais e na sua habilidade para influenciar emoções. Se os fatores emocionais predispõem pessoas a doenças, então através dos sentidos as pessoas podem aprender a canalizar suas energias para ver o mundo de uma forma melhor ou desenvolver sentimentos de autoestima e valorização pessoal. Conflitos emocionais, sentimento de impotência, e inabilidade quanto ao amor próprio, podem ao longo do tempo, alterar a química e causar prejuízos fisiológicos a qualquer sistema ou órgão do corpo humano (MALKIN, 1991).
2.5 Psicologia ambiental e os canais sensoriais
O ser humano está o tempo todo inserido num espaço onde desenvolve suas ações, seja ele um espaço destinado ao trabalho, ao lazer ou ao descanso. Uma vez que a ligação do homem com o ambiente que o cerca define-se tão estreita a ponto de abrigar todas as necessidades, expectativas e desejos humanos, estabelece-se entre eles um relacionamento de interação, onde o homem recebe os estímulos do ambiente e reage a eles.
Se todos os eventos humanos ocorrem no espaço, segundo Almeida (1995), o corpo é caracterizado como sujeito do espaço, e o espaço arquitetural como o espaço vivenciado no cotidiano. Considerando a relação homem-espaço, o edifício construído deixa de ser considerado apenas a partir das suas características físicas (construtivas) e passa a ser avaliado/discutido enquanto espaço “vivencial”, sujeito à ocupação, leitura, reinterpretação e/ou modificação pelos usuários (ELALI, 1997).
Assim ocorre a apropriação e consequentemente a ambientação dos espaços, que é o conjunto de elementos que qualificam o ambiente para a utilização humana. A apropriação envolve uma interação recíproca usuário/espaço. É nesse processo que o homem se apropria dos espaços humanizando-os, adequando-os para dá-los de sua própria natureza. Torná-los apropriados e apropriáveis, significa humanizar espaços, tornando-os adequados ao uso dos humanos (MALARD, 1993).
Essa mesma relação homem-espaço é verificada na escala urbana, ou seja, o homem também interage e se apropria dos ambientes em que os edifícios estão inseridos. Ainda por volta dos anos 1960 e 1970, o campo da Psicologia Ambiental, recebendo a colaboração dos profissionais da psicologia e da arquitetura, iniciou o planejamento de ambientes que consideram fundamental a percepção do usuário e a influência do espaço no seu comportamento. Este pensamento se concretizou através de autores como Edward Hall, Robert Sommer, James Gibson e Kevin Lynch, entre outros, e vem se desenvolvendo até os dias atuais.
Levando-se em conta a crescente taxa de urbanização mundial e o fato de que a maior parte da existência humana é despendida dentro de ambientes construídos, o papel e a responsabilidade dos profissionais envolvidos na psicologia ambiental tornam-se cada vez mais relevantes. Por isso é preciso enfatizar que quanto maior for a compreensão das implicações que o comportamento humano sofre pelo ambiente.
Autores consagrados por seus estudos a respeito dos conceitos de territorialidade, conceito de espaço pessoal, percepção visual e imagem da cidade e mapas mentais, respectivamente.
Área da Arquitetura dedicada ao projeto de espaços interiores. Arte ou técnica de projetar o interior de edifícios residenciais, comerciais ou industriais. O projeto de arquitetura de interiores inclui a escolha de móveis, o seu posicionamento, especificação de revestimentos interiores, definição de acabamentos a serem aplicados e iluminação interior, entre outros. (ENGENHARIA CIVIL.COM, 2017).
E, por fim, o projeto de arquitetura de interiores nada mais é que um conjunto de normas que envolvem fatores como ergonomia, luminotécnica, acústica e térmica, a serem implantados no interior de ambientes residenciais, comerciais ou corporativos, de acordo com as necessidades do espaço e das pessoas que irão compor esse espaço (CASA 3, 2017). Sendo assim, o ambiente precisa ser pensado, planejado, personalizado e partir de escolhas específicas para a sua utilização, os gostos dos moradores, a sua localização e claro, a otimização de espaços. Para Peter G. Rowe, em Design Thinking (1991), “[…] o projeto de interiores funciona como um meio fundamental de questionamento pelo qual o homem realiza suas idéias [sic] de morar ou estabelecer-se […]” (ZALESKI, 2006, p. 50).
Neste sentido, falar de Arquitetura é falar em pensar o ambiente, é refletir sobre suas possibilidades. É fazer o máximo por ele, dentro das necessidades de quem vai usufruir do espaço. Logo, a Arquitetura de Interiores vem ao encontro do propósito de fazer do ambiente um lar ou um local de trabalho confortável, tranquilo e produtivo.
2.6 O espaço arquitetônico e o contexto de conforto e bem-estar do doador
Por esta vertente, “O desenvolvimento das potencialidades humanas depende, entre outras coisas, da qualidade do ambiente onde são desenvolvidas as atividades humanas.” (ZALESKI, 2006, p. 27). Ainda segundo Zaleski (2006, p. 48, grifo nosso), para o arquiteto suíço Mário Botta, o objeto arquitetônico possui três tempos, salientando que o terceiro momento é o mais importante:
[…] o primeiro é quando ele é percebido dentro da paisagem e quando o diálogo se estabelece entre ambos; o segundo momento é aquele em que o telespectador entra na sombra do objeto, ou seja, é o instante em que ele se relaciona com o edifício – altura, largura, peso, caráter, transparência e solidez são aspectos então apreendidos, e o terceiro tempo é aquele em que o observador adentra o objeto, que em última instância, é a própria razão de ser da Arquitetura: […]
Conforme visto anteriormente, o ambiente é capaz de influenciar tanto positivamente como negativamente o morador. Segundo Lopes (2015), pensar no ambiente surge inicialmente no contexto corporal para diminuir a dor; depois no contexto psico-espiritual, por meio da busca pelo consolo e mais recente, nos contextos sociocultural e ambiental, assim como suas técnicas de adequação. O autor apresenta o que ele chama de estratégias relacionadas à fatores ambientais. Visto isso, para proporcionar o conforto característico ao lar, nos diversos contextos apresentados, algumas estratégias de composição precisam ser observadas. Estas estratégias estão relacionadas à fatores ambientais, como temperatura, qualidade do ar, controle sanitário, luz e som; e de composição do ambiente, como acabamentos, mobiliários e objetos.
O processo de Arquitetura de Interiores, segundo Dalledone (2005 apud PADILHA, 2016, p. 5), tem seu início com a definição por parte do usuário, dos anseios e das necessidades para ocupação do espaço:
A partir daí o arquiteto desenvolve propostas que incluem o “layout” com o posicionamento de móveis; equipamentos e definição das circulações. A adequação dos pontos de energia, lógica e comunicação é importante ser feita com antecedência, bem como a especificação de acabamentos (piso, parede, forro, metais, maçanetas, interruptores etc.).
A definição das luminárias técnicas e decorativas deve ser acompanhada pelo projeto luminotécnico. No desenvolvimento de detalhes de mobiliário e especificação de peças prontas é fundamental a assessoria do arquiteto, evitando problemas de adequação de medidas e funcionalidade.
Retomando Zaleski (2006), a autora orienta que ao fazer uma simples conta que leve em consideração oito horas por dia de sono e oito horas por dia de trabalho e/ou estudo, é visível que a maior parte do tempo (75,0%) é passada dentro das edificações. A autora afirma ainda que ao avaliar a edificação, o processo consiste em uma abordagem ampla:
A avaliação do desempenho de uma edificação é uma abordagem complexa, em que interagem diversos fatores. Consiste em prever o comportamento potencial do edifício, seus elementos e instalações, quando submetidos a condições normais de exposição e avaliar se tal comportamento satisfaz as exigências do usuário […] (p. 26).
Os aspectos subjetivos, também variáveis mais objetivas que são as sensações térmicas, acústicas, lumínicas e dimensionais, fazem parte dessa harmonização ambiental. Segundo Trevizan (2004, p. 1), “[…] Essa combinação de variáveis objetivas e subjetivas é que serão determinantes na característica, na funcionalidade e na personalidade particular e única de cada residência.”
Para Trevizan (2004), a Leitura Reichiana do caráter da pessoa vem a ser um bom aliado nas decisões e definições dos projetos de arquitetura e interiores, pois uma vez que se percebe que os indivíduos são movidos a estímulos internos e externos e sabendo reconhecer o caráter do usuário de um determinado espaço físico, pode-se interferir nesse espaço de forma que o estímulo externo contribua para sua melhoria do bem-estar físico e mental. A Leitura Reichiana, assim como outras formas e métodos de psicanálise, procura descobrir, por meio de entrevistas e observações comportamentais, o caráter da pessoa.
Os atributos de contexto subjetivo são interligados por estarem correlacionados às sensações que o ambiente residencial pode trazer. O lar é o território destinado à família, que dele se apropria dotando-o de identidade. É onde a família encontra aconchego e privacidade diante do mundo exterior. É também um refúgio para as lembranças. Para que se constitua o conforto, tais atributos deverão estar ligados aos de contexto físico, ou seja, um lar é um território seguro e adequado do ponto de vista ambiental. Beleza e eficiência são atributos que complementam a noção do conforto, sendo a busca dos moradores em suas moradias. (SILVA; SANTOS, 2012, p. 150).
Portanto, a Arquitetura de Interiores é de fundamental importância para que o morador encontre conforto e bem-estar, e acima de tudo, sinta que aquele ambiente se transformou em seu lar, seu lugar. Nesta perspectiva, apresenta-se a seguir possibilidades de ambientação relacionando teorias sobre os principais aspectos da Arquitetura de Interiores para moradias.
2.7 Possibilidades de ambientação em edifício de saúde
Segundo Trevizan (2004, p. 2), “Para ser adequado e funcional, um projeto deve estar, portanto, o mais próximo possível de traduzir as necessidades e desejos atuais de seus usuários.” Desta forma, as possibilidades de ambientação são muitas, variáveis e infinitas, o que torna as escolhas do usuário muito amplas dentro de suas preferências e desejos. A autora afirma ainda que os estímulos internos e externos devem estar presentes nessas escolhas de ambientação:
Percebendo, portanto, que somos movidos a estímulos internos e externos (energia) e sabendo reconhecer o caráter dos usuários de um espaço físico, poderemos interferir neste espaço para que o estímulo externo contribua para sua melhora e bem-estar físico-mental. (p. 2).
A Arquitetura de Interiores, vem neste sentido, a se tornar a responsável pela criação de um espaço aconchegante que transmita sentimentos bons a quem ali permanecer, com o intuito de dar-lhe conforto e a sensação de bem-estar. Para que este objetivo seja alcançado, é preciso um ambiente totalmente planejado e pensado nos detalhes.
3 INTEGRAÇÃO INTERIOR EXTERIOR
3.1 Distrações positivas no bem-estar dos pacientes
As distrações positivas são proporcionadas por um ambiente formado por elementos que provocam sentimentos positivos no paciente, prendendo sua atenção e despertando seu interesse para outras coisas além da sua doença ou de seu desconforto, o que reduz ou até mesmo bloqueia os pensamentos ruins (ULRICH et al., 1991). É importante tomar conhecimento das características da população que utilizará o espaço, como por exemplo, idade, sexo, nível cultural e social, e também tomar conhecimento de quais atividades serão desenvolvidas no local. Algumas sugestões, segundo Malkin (1991), para proporcionar distrações positivas no ambiente são: presença de átrios, jardins internos ou espaços abertos ao exterior; uso de elementos, tais como fontes, lareiras e aquários; janelas baixas.
3.2 Os benefícios do contato com a natureza
Tendo em vista os positivos efeitos causados pela natureza na recuperação de pacientes hospitalizados, cabe agora estudar como a arquitetura do ambiente hospitalar pode promover o contato do paciente com o ambiente externo, permitindo-lhe tirar proveito de todos os estímulos sensoriais que a natureza oferece.
Algumas diretrizes projetuais com significado terapêutico, segundo Gruffydd (1967), devem estar presentes nos espaços exteriores em contato com os pacientes do ambiente hospitalar, tais como:
Amplitude: os principais elementos da paisagem devem ser agrupados de forma a atrair o olhar do observador, mas ao mesmo tempo devem permitir que ele tenha uma visão geral de todo o espaço;
Complexidade: a organização espacial e os arranjos formados com os elementos que compõem o espaço devem ter um certo nível de complexidade, para evitar a monotonia e despertar a curiosidade e o interesse do observador, por exemplo através da integração de variados níveis, e da disposição dos seus elementos;
Variedade: atribuída ao ambiente pela exploração de diversas e contrastantes formas, tipos, texturas e cores das plantas presentes; entretanto com a necessidade de haver um ponto de equilíbrio para evitar que essa variedade seja exagerada e prejudicial;
Movimento: necessário para dar vida aos elementos estáticos do projeto e então proporcionar estimulação aos pacientes de acordo com suas necessidades perceptivas.
Ritmo Circadiano: sendo o mais básico dos fenômenos naturais, o repetitivo ritmo do dia e noite tem valor terapêutico. Confinado à cama, o paciente pode perder a sensação de movimento e o tempo tornar-se estagnado para ele
Cor: terapeuticamente importante, pode ser proporcionada pela presença de diversas árvores, folhagens e flores em variadas formas e combinações. É importante considerar as diferentes estações do ano para evitar que, no outono ou inverno por exemplo, a paisagem não se torne monótona ou sem vida pela falta de folhas e flores, e, portanto, de cores;
Fragrância: árvores, plantas e flores com essências agradáveis devem ser sempre utilizadas em qualquer ambiente em que os pacientes e a equipe de trabalho possam senti-las;
Ordem e eficiência: induz um senso de confiança em pacientes e visitantes.
Para isso são definidas aqui as características arquitetônicas, consideradas pelo autor como responsáveis pela integração interior/exterior no edifício hospitalar. Essas características nada mais são do que alguns ambientes e seus elementos construtivos que, atribuídos ao edifício hospitalar têm o objetivo de promover o contato do paciente com o exterior.
3.3 Características arquitetônicas de integração interior/exterior
Um ambiente ao ar livre ou simplesmente o quarto de internação que, a partir de uma janela e/ou de um terraço, permite contato visual e/ou físico do paciente com o exterior.
Os benefícios ocasionados pelo contato com o exterior, dependem da forma, dimensão, arranjo espacial e localização da característica, o tipo de contato promovido entre o paciente e o ambiente externo pode variar.
O importante é analisar de que maneira estas características – ambientes e/ou elementos construtivos – podem ser atribuídas ao projeto de uma edificação hospitalar, avaliando as vantagens e desvantagens no contato do paciente com o exterior, e a configuração espacial mais adequada dentro do partido arquitetônico adotado.
Vale lembrar que a utilização da paisagem natural pelos pacientes hospitalizados depende de vários fatores, dentre eles o tempo de internação dos pacientes, o desenvolvimento da doença, o tipo e a idade do paciente, e é claro, a especialidade do hospital, o tratamento que está sendo desenvolvido e a organização das tarefas da equipe. Decisões de projeto podem somente ser tomadas após uma investigação e análise detalhada dos padrões de tratamento da rotina que está sendo desenvolvida em cada hospital especificamente. De que serve, por exemplo, um imenso terraço, com plantas diversas, flores, sol e vento, se o paciente não tem condições de se deslocar até ele, ou então, se a equipe de enfermagem não o leva até lá.
Além disso é preciso salientar que a integração da paisagem exterior ao edifício hospitalar também varia de acordo com alguns condicionantes físicos, como por exemplo, o terreno em que está implantado, sua dimensão, forma e entorno; o clima local, que pode ou não permitir a utilização de áreas ao ar livre; a disponibilidade de recursos financeiros; e, principalmente, o partido arquitetônico adotado, consequentemente, a anatomia do edifício hospitalar.
A seguir são definidos os ambientes e/ou elementos construtivos que constituem as características arquitetônicas responsáveis pela integração interior/exterior.
3.3.1 Jardim externo com possibilidade de visão do interior
Este tipo de espaço ao ar livre consiste numa área livre, externa, entre os edifícios do complexo hospitalar, projetada especificamente para a utilização por pacientes, visitantes e equipe. Geralmente apresenta passeios para caminhadas, mobiliário para sentar e esperar, e principalmente uma paisagem agradável para contemplação. Esse é o mais espaçoso de todos os tipos de área exterior destinada ao uso na edificação hospitalar e é descrito pelos usuários como “o parque” ou “o campus”, sendo na maioria das vezes o centro do complexo hospitalar. Uma de suas grandes vantagens é que serve ao uso variado tanto de pessoas quanto de atividades; outra é que faz a ligação entre todos os edifícios do complexo de forma harmônica e prazerosa para quem utiliza apenas como passagem. Entretanto, a maior dificuldade, além da demanda por grandes terrenos, é seu alto custo de manutenção.
É a área em frente à entrada principal do edifício, com a função de proporcionar a separação entre a edificação e a rua, e à formação de um ambiente agradável para quem se aproxima da entrada. Está geralmente associado a alguns serviços de apoio do hospital como estacionamentos, transporte público, segurança.
Pode atribuir uma imagem familiar e confortante ao hospital, e proporcionar privacidade aos ambientes voltados para a rua. É bem visível e tem acesso facilitado, aproveita para o uso um espaço que poderia ser apenas pavimentado para a passagem de veículos, proporciona uma imagem agradável ao ambiente de entrada, permite o uso por pessoas que querem se distrair vendo um pouco de movimento na entrada principal. Entretanto, precisa ser planejado cuidadosamente para evitar a exposição excessiva dos pacientes ao público e o cruzamento de fluxos, onde as pessoas precisam atravessar a rua de acesso dos veículos para chegar até o jardim.
Pode ser muito utilizado se for o único espaço ao ar livre proporcionado; e, inutilizado, se o acesso principal ao espaço se der a partir de um estacionamento localizado no subsolo. Se este for o único espaço externo da edificação, a falta de bancos, calçadas e outros mobiliários pode ser frustrante para a equipe de trabalho e para os visitantes que gostariam de utilizá-lo.
3.3.2 Jardim central
Quando presente numa edificação, geralmente é o espaço principal. Deve ser visível a partir da entrada do edifício para que os visitantes e doadores saibam imediatamente de sua existência e possam utilizá-lo. Árvores para sombrear, flores para colorir, um elemento com água para promover o prazer visual e auditivo, um mobiliário flexível para proporcionar qualquer tipo de arranjo, são elementos básicos para compor este espaço.
Sendo totalmente pavimentado, reduz as qualidades terapêuticas dos espaços exteriores, além de remeter à imagem de praças de shopping center ou de edifícios corporativos muito mais do que a um espaço de paz, redutor de estresse e prazeroso para passar o tempo.
Tem como vantagens ser um local semiprivado e seguro, cercado pela edificação hospitalar. Dependendo da sua localização no edifício, pode ser facilmente visível e acessado. É um espaço protegido dos ventos e sombreado pela edificação ao seu redor, além de proporcionar ao edifício a relação de escala humana. Tem também algumas desvantagens: dependendo do seu tamanho e localização pode fazer com que as pessoas que utilizam o espaço se sintam dentro de um aquário, observados por todos ao seu redor; se muito pequeno para incluir plantas que formem uma barreira visual, as salas adjacentes podem precisar de persianas ou cortinas para isolar visualmente os ambientes e garantir privacidade.
3.3.3 Terraço-jardim espaço para proporcionar conforto visual ao paciente
Localizado na cobertura das edificações, é geralmente aberto para todos os lados ou fica margeado em um dos seus lados pela edificação, caracterizando-se como uma grande sacada. É um ambiente/paisagem projetado especificamente para o uso de pacientes, equipe e visitantes, tendo como princípios básicos para sua formação a existência de vegetação e mobiliário atrativo e confortável em diferentes localizações, permitindo a opção de sol e sombra, privacidade e integração, acessibilidade e visibilidade para os usuários.
Aproveitam espaços que poderiam estar inutilizados na edificação e proporcionam ótimas vistas do entorno, mas dependendo da sua localização e dos prédios ao redor podem ter temperaturas desagradáveis, muito vento, muito sol ou muita sombra.
3.3.4 Jardim com propriedades curativas ou terapêutico
Sobre os jardins terapêuticos, Marcus e Barnes (1999), comentam ser irônico que quando chamadas a imaginar um ambiente regenerador, quase todas as pessoas fazem referência à natureza, ainda assim quando procuramos tratamento médico, encontramo-nos em ambientes desprovidos de natureza ou acesso a ela.
As propriedades curativas, restauradoras e terapêuticas associadas à natureza, são conhecidas desde tempos ancestrais, tendo por exemplo, adquirido associações: às propriedades medicinais de extratos vegetais, animais e minerais utilizados na produção de medicamentos; às propriedades medicinais das águas termais; aos benefícios do ar puro e da luz natural; ao acesso físico e visual para jardins e paisagens naturais; e ao envolvimento em atividades de horticultura e jardinagem. Consequentemente, o conceito de jardim terapêutico, representa um cimentar de conhecimentos empíricos validados pela investigação científica concretizada desde finais do século XX (MARCUS; BARNES, 1999; SPRIGGS; KAUFMAN; WARNER, 1998;
STIGSDOTTER; GRAHN, 2003).
É com a criação desta tipologia de jardins, (na literatura internacional também designados healing gardens, therapeutic gardens ou restaurative gardens) que os arquitetos paisagistas procuram nas últimas décadas, compreender e maximizar os benefícios do contato com a natureza em unidades de saúde (BURTON, 2014; MARCUS; SACHS, 2014).
O jardim terapêutico não constitui um evento preciso, podendo tomar diversas formas, ser encontrado em diferentes espaços, ser palco das mais diversas atividades e servir diferentes tipologias de utilizadores no contexto das unidades de saúde, designadamente: utentes, visitas e funcionários. Independentemente destas variáveis, são jardins projetados para satisfazer as necessidades específicas dos seus utilizadores, contribuindo para a promoção do seu bem-estar físico e psicológico. Esta promoção é conseguida através da estimulação: do contato direto ou indireto, ativo ou passivo, autónomo ou auxiliado, com a natureza e outras distrações positivas; dos sistemas sensoriais; das sensações de controlo, segurança e suporte social. Não obstante, apesar de contribuírem para a 15 melhoria do estado da saúde, estes jardins não substituem quaisquer regimes terapêuticos ou tratamentos atuando, pelo contrário, como espaços complementares à ação dos mesmos (MARCUS; BARNES, 1999; STIGSDOTTER; GRAHN, 2003).
Esta é uma categoria que inclui espaços ao ar livre ou jardins internos especificamente projetados para ajudar no tratamento dos pacientes, por isso designados jardins terapêuticos pelos administradores e paisagistas. As plantas que compõe o jardim, são na sua maioria, plantas com propriedades de cura, que despertam os sentidos e provocam estímulos positivos nos usuários. É um lugar quieto, tranquilo, suave e aconchegante que tira grande proveito de pequenas áreas dentro do complexo hospitalar.
O Silver Cross Hospital, em Illinois, Estados Unidos, acrescentou um jardim terapêutico, com grande diversidade de plantas e outros elementos estimulantes, às instalações do hospital de forma a criar um “complexo provedor da cura”, com generosos e agradáveis ambientes (VASCONCELOS, 2004).
A proprietária da MC Paisagismo, Mara Condolo, salienta que “O verde é capaz de amenizar a rigidez de um local de trabalho, criando ambientações mais acolhedoras, contribuindo para o aumento da produtividade pelo efeito tranquilizante que as plantas causam nas pessoas.” (BERTOLAZZI, 2009).
O fator positivo é que os usuários sabem que aquele espaço foi pensado exclusivamente para o seu bem-estar e isso lhes garante segurança e conforto psicológico durante a utilização do jardim. Por outro lado, algumas pessoas podem ter a sensação de serem vistas como doentes por utilizar este espaço.
A aplicação de jardins terapêuticos é tão vasta e complexa quanto a rede de unidades de saúde existente na atualidade. Uma vez que estes constituem espaços verdes pensados tanto para utilizadores saudáveis, como com saúde fragilizada, qualquer funcionário, visita ou utente: em hospitais públicos e privados, de prestação de serviços gerais ou especializados; lares residenciais e centros de dia; unidades de tratamentos paliativos; centros de reabilitação entre outros, pode beneficiar da sua existência (MARCUS; BARNES, 1999; HARTIG; MARCUS, 2006; SPRIGGS; KAUFMAN; WARNER, 1998).
Investigadores nos ramos da psicologia do ambiente, da arquitetura paisagista, da medicina e da horticultura terapêutica, defendem que a soma das características do jardim (a vegetação, a vida animal, as formas, as cores, as fragrâncias) em conjunto com as atividades que podem nele ser realizadas, conduzem a que um utilizador tenha uma visão mais positiva de si e das suas capacidades. Esta escola defende, assim, que os benefícios do contato com o jardim para a saúde dos utilizadores, derivam das oportunidades para envolvimento em experiências passivas e ativas, estando os benefícios fortemente dependentes do estado mental do utilizador (STIGSDOTTER; GRAHN, 2003). Nesta perspectiva, estes espaços devem facilitar atividades passivas como: observar, ouvir, sentar, descansar, fazer refeições, ler e trabalhar; e ativas: passear, explorar, reabilitação física (sessões de terapia ocupacional, fisioterapia e horticultura terapêutica, por exemplo), brincar, praticar exercício físico; de forma a satisfazer as necessidades de um mais alargado grupo de utilizadores (MARCUS; BARNES, 1999).
O projeto de jardins terapêuticos advém da interconexão de duas componentes conceituais: o processo, derivado da ação terapêutica que conduz ao estímulo do bem-estar geral, e o lugar em que este decorre. O processo terapêutico, ou healing, é complexo e está longe de ser totalmente compreendido. No entanto, é certo que resulta de alterações emocionais que afetam a percepção e influenciam a forma como um indivíduo responde aos estímulos do ambiente em que está inserido. Compreender a relação delicada entre o ambiente real ou observado e o ambiente percepcionado, isto é, compreender a forma como um indivíduo vê e reage a um ambiente, é uma componente fulcral do projeto de jardins terapêuticos (MARCUS; BARNES, 1999).
3.3.5 Jardim no interior dos ambientes
Alguns hospitais, devido a limitações de espaço e de recursos financeiro, incorporam pequenos jardins, que podem ser encontrados dentro da edificação. Ocupam geralmente uma área que pode ser vista e acessada a partir das salas de espera do hospital. Por ser um espaço verde, mesmo em pequenas áreas, proporciona uma visão agradável para as pessoas que estão esperando ou passando pelo local. Pode ser contemplado a partir de ambientes confortáveis no interior do edifício – protegidos da chuva, do calor ou do frio – e tem baixos custos de manutenção. Quando não estão cercados por vidro nas laterais, a vegetação e as flores podem ser tocadas e suas fragrâncias experimentadas, assim como as fontes de água ou pássaros, se presentes, podem ser ouvidos.
3.3.6 Jardim de entrada do edifício
Também chamado “saguão principal”, é o ambiente principal, geralmente localizado na entrada do edifício. Diferencia-se do pátio central por ser um ambiente coberto e interno ao edifício. É amplo, distribui as circulações e apresenta, na maioria das vezes, acabamentos nobres e iluminação zenital, floreiras e mobiliário para descanso. É também o local onde acontecem diversas atividades dentro do hospital pois é onde se localizam o café, as lojas de souvenirs, as obras de artes expostas. É movimentado por ser um ambiente de passagem, de visita, de distração.
Por ser implantado na maioria das vezes em prédios verticais, se configura como o único ambiente de lazer; mistura diversas atividades e ao mesmo tempo não proporciona contato direto com o exterior. No átrio do Condell Medical Center, por exemplo, nota-se o contato visual proporcionado com o exterior, através do imenso pano de vidro, e a presença de alguns vasos com vegetação para substituir o contato direto com a natureza (VASCONCELOS, 2004).
4 INFLUÊNCIA DA AMBIÊNCIA DE INTERIORES NA FIDELIZAÇÃO DE DOADORES EM HEMOCENTROS
A ambiência adequada auxilia na da produção de saúde e está afinada com a possibilidade de se potencializarem, na arquitetura, na organização do espaço e das pessoas (sejam profissionais ou usuários), as trocas sociais, os vínculos, os processos de identificação e as referências no cuidado e atenção à saúde. Desde as primeiras visitas ao Hemocentro, percebemos o quanto o ambiente influenciava na rotina da equipe de funcionários e também sobre os doadores. O ambiente monótono que se apresentava, não acolhia nem motivava os doadores que já chegam tensos para realização dos procedimentos. Partindo disso, e nos baseando na teoria ambientalista de Florence Nigthingale – que diz respeito à influência do ambiente na saúde das pessoas, verificamos que pequenas mudanças no local poderiam transformar o mesmo e torná-lo mais acolhedor.
A parte mais emotiva do processo visual é a cor. Seu potencial de expressar e reforçar a informação visual constitui uma poderosa força do ponto de vista sensorial. A cor carrega consigo significados universalmente compartilhados através da experiência, bem como significados que se lhe adicionam simbolicamente (Figura 5).
É provado através de estudos que pequenas mudanças podem ser significativas no dia-a-dia dos funcionários do Hemocentro e doadores. Uma vez que tais modificações podem auxiliar no resgate o entusiasmo, muitas vezes, perdido pelos profissionais decorrentes da rotina e do ambiente sem vida.
Em síntese, o agir em saúde é complexo, uma vez que, leva em consideração o outro e para isso em pensar a saúde como compromisso social. É nesse contexto que o enfermeiro com visão global insere-se nesses múltiplos espaços de atuação desenvolvendo atividades que vão além de cunho assistencialista e curativista, mas que também são pautadas na valorização do ambiente do acolhimento e na interação desses no processo saúde doença.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As características arquitetônicas são capazes de transformar os espaços e as emoções modificar as sensações de bem-estar dos doadores e consequentemente influenciar para que seu retorno seja prazeroso. Fazer uma interferência positiva, como profissional de arquitetura, requer criatividade que possibilite um projeto humanizado na tentativa de melhorar o bem-estar dos doadores e profissionais envolvidos. As características arquitetônicas apresentadas, sugerem alguns fatores capazes de melhorar o aspecto da humanização de uma unidade de hemocentro não se constituindo, portanto, em um encerramento das possibilidades.
O projeto arquitetônico não deve estar voltado para o momento presente, mas para o futuro e para as diferentes necessidades dos pacientes, dos profissionais e dos ambientes de saúde. Para as unidades de hemocentro do futuro cada doador será visto individualmente e utilizando a moderna tecnologia, o uso dos espaços através do controle individual de intensidade da luz, escolha de músicas, privacidade entre ambientes ou controle do funcionamento de um móvel. Deste modo o doador passa a ter escolhas.
Assim sendo, o objetivo, desta pesquisa possibilitou-me compreender o que ocorre em uma unidade de doação de sangue e encontrar estudos acerca de fatores arquitetônicos que possibilitem a humanização dos espaços de doação de sangue.
Para os doadores, é importante o estabelecimento de um ambiente seguro contribuindo para a diminuía, o do medo e ansiedade presentes no momento da doação. Deste modo, no atendimento ao doador, deve-se recebê-lo com simpatia e cordialidade, tratando-o pelo nome completo, dando-lhe atenção e assistência constante, de maneira que ele se sinta bem e queira retornar, tornando-se um doador de sangue habitual. Portanto, é importante que sejam dadas informações suficientes e necessárias sobre todos os procedimentos a serem adotados, visando a diminuir a ansiedade, o nervosismo e o medo.
Numa pesquisa realizada no Brasil, de 2004, intitulada Perfil do Doador de Sangue Brasileiro, patrocinada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, apenas 5,7% dos entrevistados disseram que ficaram insatisfeitos na última doação de sangue (BRASIL, 2005). O motivo predominante foi o mau atendimento. Diante disto, para a conquista de uma clientela fiel, deve-se evitar a boca a boca negativo. Nesta mesma pesquisa, foi possível identificar que, dos clientes insatisfeitos, apenas 4,0% reclamam. Os demais (96,0%) ficam calados, porém, trocam de produto ou de serviço e, ainda, fazem a boca a boca negativo, passando uma visão negativa do serviço para outros possíveis clientes.
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