REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th1025021354
Tatyana Machado Ramos Costa¹
Cristiano Murilo Costa¹
Bruno Gonçalves Dias Moreno²
INTRODUÇÃO
Diabetes tornou-se um problema de saúde pública mundial, o Brasil é o 5° país em incidência no mundo com aproximadamente 16,8 milhões de adultos com diagnóstico de diabetes. Estima-se que em 2030 aproximadamente 642,8 milhões de adultos com idade entre 20 e 79 anos sejam diagnosticados com diabetes no mundo, com gasto anual previsto em 1.027.600,0 milhões de dólares (Federação Internacional de Diabetes, 2021).
O diabetes é uma das condições mais comuns e difundidas de cuidados primários gerenciados pelas equipes mutiprofissionais em sua prática diária (Serowik e Pantalone, 2023). Os tipos mais prevalentes são o diabetes tipo 1 ou diabetes insipidus, que ocorre em cerca de 5 a 10% dos diabéticos; e o tipo 2 ou diabetes mellitus (DM), que ocorre em cerca de 90% dos diabéticos.
O DM é uma síndrome metabólica de origem múltipla, decorrente da falta de insulina e/ou da incapacidade de a insulina exercer adequadamente seus efeitos no organismo. Fatores socioeconômicos, demográficos, ambientais e genéticos são caracterizados como fomentadores do índice crescente desta patologia no mundo. Bem como mudança nos hábitos de vida da população advindos dos processos de urbanização, envelhecimento populacional, diminuição dos níveis de atividade física e aumento do sobrepeso e obesidade na contexto mundial (FederaçãoInternacional de Diabetes, 2021; Shubrook e Johnson, 2011).
Contudo, é possível reduzir o impacto do diabetes tomando medidas preventivas, fornecendo diagnóstico precoce e cuidados adequados para todos os tipos de diabetes, o que axilia a evitar ou retardar complicações. A prática osteopática permite uma ampla gama de abordagens ao tratamento de diversas disfunções, nos últimos anos várias pesquisas surguiram com foco voltado no paciente. As experiências advindas de atendimento ao paciente apresentam oportunidades para estabelecer teorias, hipóteses testáveis, dados para avaliar um tratamento. Na osteopatia, os dados podem ser usados para avaliar o potencial uso de algum tratamemto manipilativo osteopático (TMO) em disfunções ou doenças, incluindo aqulelas que não são classificadas como distúrbios musculoesquelético (Licciardone, 2008).
Várias técnicas osteopáticas são descritas para o tratamento de disfunções como pode ser observado no caso de diabetes. No entanto pesquisas que abordam achados palpatórios osteopáticos ou TMO em pacientes com diabetes é limitado, apesar de ser recorrente seu uso nos tratamentos. Um dos primeiros estudos documentados são de Bandeen (1949), onde trás relatos de técnicas de tratamento para diabetes, através de estudos realizados em sua prática clínica (Licciardone, 2008 apud Bandeen).
Os princípios da osteopatia podem ser facilmente aplicávies na abordagem pró ativa dos pacientes com diabetes podendo fornecer diagnóstico precoce e cuidados adequados para todos os tipos de diabetes, o que axiliria a evitar ou retardar complicações. Sendo assim, como é realizada a abordagem da osteopatia no tratamento da diabetes? Quais as pesquisas que estão sendo realizadas pela osteopatia com este intuito?
O objetivo deste trabalho foi realizar uma revisão de literatura nas principais bases de pesquisa para averiguar como está sendo a abordagem de tratamento do diabetes pelos osteopatas. Destacando quais técnicas estã sendo empregadas e com que finalidade estão sendo conduzidas as pesquisas nesta área .
METODOLOGIA
As estratégias de busca foram desenvolvidas de acordo com cada base de dados e a coleta foi realizada no mês Outubro de 2023. Os bancos de dados eletrônicos pesquisados foram: Pub Med, Scielo, PeDRO, Scopus, Web of Science, LILACS, Science Direct e BIREME (BVS). Os documentos deveriam ser artigos primários ou secundários que discorressem sobre osteopatia ou técnica de manipulação osteopática em portadores de diabetes. As pesquisas deveriam ser realizadas em humanos, em qualquer idioma e sem restrição quanto a data de publicação, sem restrição quanto ao delineamento do estudo. Seriam excluídos textos incompletos, artigos que relatassem pesquisa em animais ou in vitro.
Primeiramente foram avaliados título e abstract dos estudos e foram selecionados aqueles que continham os termos: osteopatia, physician osteopathic, physicians osteopathic, osteopaths, osteopathic physician, doctor of osteopathy, osteopathy doctor, osteopathy doctors associado ao termo diabetes. Na segunda etapa, foi realizada a recupeção dos estudos encontrados na primeira etapa, leitura e estração de dados dos artigos selecionados. Os artigos selecionados deveriam ter em seu título, abstract ou palavras chave os termos osteopatia* e diabetes*.
RESULTADOS e DISCUSSÂO
Foram selecionados 12 artigos que atendiam os critérios de elegibilidade (figura 1). Todos discorriam sobre osteopatia ou técnicas osteopáticas no atendimento ao paciente com diabetes. Na plataforma Scielo não foi encontrado nenhum artigo.
![](https://revistaft.com.br/wp-content/uploads/2025/02/image-10.jpeg)
Figura 1-Fluxograma PRISMA da etapa de identificação até a etapa de inclusão dos estudos elegíveis para revisão de escopo.
A extração de dados qualitativos dos 12 estudos foi realizada e editada (tabela 1) para avaliação dos artigos. Na presente revisão observamos que a literatura osteopática continua explorando pouco a temática e a realização de estudos para elucidar a aplicação das técnicas osteopáticas. As pesquisas ainda são escassas e com falta de delineamento metodológico para que os estudos possam ser reproduzidos e os dados avaliados. Em nossa pesquisa foi observado um número reduzido de estudos que avaliam a utilização da osteopatia ou TMO na abordagem/tratamento do diabetes ou diabetes melitus tipo 2 (DM 2). Sendo encontrados 03 estudos de casos, 02 relatos de experiência, 03 revisões de literatura, 02 estudos observacionais e 02 ensaios clínicos. Os trabalhos foram publicados de 2007 a 2020, em cinco peródicos eletrônicos e apenas um trabalho foi desenvolvido no Brasil.
Os desenhos dos estudos foram diversificados e a amostra em sua maioria constituiu insatisfatória. Mostrando a necessidade de estudos futuros com o objetivo de documentar a relação de sintomas musculoesqueléticos e disfunção no pâncreas ou diabetes, por meio de resultados no exame físico ou laboratorial. Se possível através de ensaios clínicos com estudos que comparem a TMO versus a TMO simulada na eficácia do tratamento do diabetes com acompanhamento a longo prazo.
Os resultados aqui apresentados são limitados porque não se baseiam em uma revisão sistemática da literatura sobre o tema. Mas demonstram a necessidade de mais estudos, melhor delineados e com dados robustos , uma vez , que há uma escassez de ensaios clínicos que avaliem a hipótese de que a osteopatia ou TMO sejam eficazes no tratamento da diabetes.
Autor/Ano | Delineam ento de estudo | Objetivo | Método | Resultado | Conclusão |
Silva et al, 20201 | Estudo de caso | Verificar a eficácia TMO visceral nos portadores de DM 2. | Paciente foi submetida a uma sessão semanal durante 2 meses (8 sessões) de TMO visceral. Foi realizado exame laboratorial de hemoglobina glicada no início e no final do tratamento. | Houve diminuição estatisticamnete significativa no nível de hemoglobina glicada (valor inicial 6,3%, no valor final 5,2%) | Este estudo mostrou que a técnica de Osteopatia Visceral foi eficaz em controlar os índices sanguíneos de glicose no indivíduo tratado. |
Asahi et al, 20202 | Revisão Narrativa | Analisar a relação entre distúrbios musculoesqueléticos (DME) e a eficácia e o custo-benefício de TMO no manejo da disfunção somática em pacientes com doenças crônicas. | Os critérios de inclusão foram artigos abordando DME ou disfunção somática relacionada a doenças crônicas como diabetes e doenças cardiovasculares, dor lombar ou pescoço, disfunção somática e TMO. | Resultados imitados porque não se basearem em uma revisão sistemática completa sobre o tema. Há escassez de ensaios clínicos prospectivos que avaliem a hipótese de que a TMO é eficaz na redução da carga de doenças crónicas. Necessidade de estudos futuros devem ter como objetivo documentar sintomas DME, resultados do exame físico em ensaios clínicos de doenças crónicas com acompanhamento a longo prazo. | A TMO é eficaz no alívio de condições comuns de DME como lombalgia, e pode ter um efeito benéfico na prevenção e no tratamento de doença crônica. Pesquisas devem continuar a elucidar a relação entre as DME e seu potencial papel nos processos de doenças sistêmicas, e os médicos osteopatas devem continuar a oferecer cuidados médicos centrados no paciente e focados na saúde. |
Ravenswaay et al, 20153 | Relato de caso | Examinar o efeito do TMO sobre os sintomas de gastroparesia diabética em paciente com DM 1. | Homem de 49 anos com DM 1 foi submetiodo a 6 sessões de TMO agendadas com intervalo de 2 a 4 semanas. O investigador realizou os tratamnetos sendo supervisionado por dois osteopatas. | Após prescrição de TMO, a gastroparesia cardeal do paciente melhorou de 13 para 8, e sua internação diminuiu de uma vez a cada 6 a 8 semanas para uma vez a cada 6 meses. Com redução e subsequente alívio da diabetes e sintomas de gastroparesia e melhora da qualidade de vida. | O TMO pode ser uma opção de tratamento econômica e segura para pacientes com gastroparesia diabética, como complemento ao tratamento médico padrão ou possivelmente como único tratamento. |
Ciervo, Shubrook e Grundy, 20154 | Experiênc ia Clínica. | Discutir os Princípios da Medicina Osteopática para melhorar resultados do diabetes. | Suplemento baseado em mesa redonda para discutir o tema: princípios da Medicina Osteopática para melhorar resultados do diabetes em uma nova era de reforma dos cuidados de saúde. | Os médicos osteopatas envolvidos na prevenção e cuidados de pacientes com DM 2 precisam identificar modelos e melhores práticas e soluções para avançar em seus cuidados. | A abordagem ao paciente com DM 2 deve ser interdisciplinar, impulsionada por dados e voltada para o paciente. |
Johnson e Shubrook, 20135 | Revisão de literatura | Explorar os efeitos do diagnóstico estrutural osteopático e TMO para DM2, bem como o manejo e prevenção de complicações. | Pesquisa nos bancos de dados on line Pub Med, Google Scholar e Journal of the American Osteopathic AssociationJAOA. Utilizando as palavras-chave: “medicina osteopática”, “terapia manipulativa osteopática”, “tratamento manipulativo osteopático” e ”TMO” , cada uma dessas palavras-chave associada ao termo “diabetes.” | Os estudos tendiam a ser pequenos e tinham generalização limitada. | A literatura que revisamos fortalece o argumento de que o diagnóstico estrutural osteopático e da TMO no rastreamento e tratamento de complicações musculoesqueléticas do DM2. Embora pequenos e de âmbito limitado, estes estudos deverão constituir a base para futuras explorações. |
Licciardone et al, 20136 | Ensaio Clínico Randomiz ado | Avaliar os efeitos do tratamento TMO em pacientes com DM e lombalgia comórbida. | Ensaio fatorial 2×2 randomizado, duplocego, controlado por simulação, incluindo intervenções de TMO e terapia de ultrassom. Amostra de 455 pacientes adultos com lombalgia crônica,um subgrupo de 34 pacientes com DM inscritos no estudo OSTEOPATHIC. | Lesões osteopáticas foram observadas em 79% dos pacientes com DM versus 58% em pacientes sem DM. Redução na gravidade da lombalgia ao longo de 12 semanas foi significativamente maior em 19 pacientes com DM que receberam TMO do que em 15 pacientes com DM que receberam TMO simulada.Bem como redução correspondente significativamente maior na concentração sérica de TNF-ÿ Nenhuma alteração significativa na gravidade da lombalgia ou na concentração sérica de TNF-ÿ foi associada à UST durante o período de 12 semanas. | A disfunção somática grave esteve presente significativamente mais frequentemente em pacientes com DM do que em pacientes sem DM. Pacientes com diabetes mellitus que receberam TMO tiveram reduções significativas na gravidade da dor lombar durante o período de 12 semanas. A diminuição dos níveis circulantes de TNF-ÿ pode representar um possível mecanismo para os efeitos da TMO em pacientes com diabetes mellitus |
Shubrook, Snow e McGill, 20117 | Estudo observaci onal | Comparar o desempenho do programa em processos de cuidado e resultados intermediários para pacientes com DM em programas de residência contribuíram com dados que para o AOA-CAP. | Avaliação programas de residência em medicina familiar osteopática que inseriram dados no registro de diabetes AOA-CAP entre 1º de julho de 2005 e 31 de dezembro de 2007 foram. Os programas de residência foram separados entre aqueles que inseriram dados no cadastro pela primeira vez durante o ciclo (2005-200) e aqueles que também inseriram dados no cadastro durante o ciclo anterior (2003-2005, ou seja, repetir programas. | Foram analisados dados de 52 programas de residência em medicina familiar osteopática, compostos por 2.568 casos de pacientes. Vinte e três programas de primeira aplicação com 992 casos e 29 programas de repetição com 1.576 casos inseriram dados no registro no ciclo 2005-2007 | Os programas repetidos tiveram um desempenho melhor estatisticamente significativo do que os programas iniciais na medida composta de processos de cuidado, em grande parte o resultado do aumento do uso de inibidores da ECA e BRA em pacientes com albuminúria. A diferença na medida composta de desfechos intermediários não foi estatisticamente significativa entre os dois grupos. | |
Shubrook johnson, 20118 | e | Revisão clínica baseada em evidência s | Examinar as evidências que apoiam os princípios da medicina osteopática à prevenção e ao tratamento do DM2. | Revisão de literatura simples e experiência clínica. | Estudo indicou algumas boas práticas para o paciente com diabetes e demonstrou que a TMO pode ser benéfica na redução dos níveis de glicose, bem como aumentando a secreção de insulina do pâncreas. Além disso, a TMO pode reduzir complicações relacionadas ao diabetes, incluindo capsulite adesiva. | Uma abordagem osteopática ao DM2 deve se concentrar em ajudar os pacientes viverem um estilo de vida saudável (limitando estímulos nocivos), incentivar a atividade física (para ajudar na prevenção de doenças e maximização da função física) e identificação precoce de complicações (com assistência adjuvante com osteopatia diagnóstico palpatório). |
Nelson, Mnabhi Glonek, 20109 | e | Ensaio clínico | Estimar valor do açúcar no sangue através da palpação tecidual da coluna cervical. | Foram avaliados 40 pacientes diabéticos quanto à alteração da textura tecidual por palpação. O grau de alteração da textura do tecido subcutâneo foi quantificado subjetivamente e comparado com o nível de açúcar no sangue aleatório obtido concomitantemente. | A análise estatística revelou um valor de correlação de Pearson de 0,210 (p 0,097), um valor de correlação de Kendal de 0,215 (p 0,042) e um valor de correlação de Spearman de 0,269 (p 0,047). Estes resultados apontam que há alterações palpatórios de alteração da textura tecidual na cervical associados ao diabetes. | Os resultados sugerem que os achados palpatórios de alteração da textura tecidual associados ao diabetes podem ser quantificados, validando assim uma contribuição osteopática distinta para o diagnóstico físico. |
Shubrook al, 201010 | et | Análise de coorte retrospecti va | Avaliar processos e resultados do cuidado do diabetes usando indicadores agrupados de registro de treinamento em osteopatia na atenção primária. | Este estudo examinou os cuidados prestados a 7.333 pacientes em 95 programas de residência em clínica familiar e medicina interna (1º de julho de 2005 a 15 de setembro de 2008) para determinar o desempenho dos cuidados com diabetes usando medidas de processos de atendimento e resultados. | A utilização do pacote a nível de indicadores demonstrou que as metas de resultados foram alcançadas a uma taxa de 44,5%. O uso do pacote ao nível do paciente demonstrou que as metas de resultados foram alcançadas a uma taxa de apenas 16,2%. | O método de agregação de medidas de cuidados pode ter um efeito profundo no relato dos objetivos alcançados. Neste estudo, os prestadores tinham maior probabilidade de atingir os objetivos dos processos de cuidados quando os cuidados à diabetes eram agrupados ao nível do indicador do que ao nível do paciente. |
Licciardone, 2008¹¹ | Editorial | Avaliar o uso potencial do tratamento manipulativo osteopático em várias doenças. | Revisão de literatura com reanálise dos dados brutos de Bandeen de 1949 avaliando os efeitos do TMO envolvendo técnicas estimulatórias e inibitórias pancreáticas em pacientes diabéticos e não diabéticos atendidos ao longo de um período de 25 anos de prática clínica. | Achados sugerem que os dados de Bandeem demonstram uma redução nos nínveis de glicose no sangue de 30-60 minutos, em 150 pacientes diabéticos, pós estimulação pancreática; e aumento nos níveis de glicose, em 40 pacientes não diabéticos, pós inibição pancreática. | Pesquisa orientada ao paciente realizada durante a era clássica da osteopatia nos Estados Unidos fornece uma base e, em alguns casos, dados úteis para gerar hipóteses sobre os potenciais mecanismos de ação da TMO. Os investigadores osteopáticos fariam bem em redescobrir a literatura | |
osteopática clássica em sua busca para ajudar avanço da medicina baseada em evidências. | ||||||
Licciardone et al, 200712 | Estudo de caso controle | Medir a associação entre DM 2 e uma série de 30 achados palpatórios osteopáticos. | Estudo caso controle com 60 pacientes com DM 2 e 32 pacientes sem DM 2, forma utilizados para medir a associação entre DM 2 e uma série de 30 achados palpatórios osteopáticos (alterações cutâneas, alterações tróficas, alterações teciduais, sensibilidade e imobilidade nos níveis segmentares espinhais T5-T7, T8T10 e T11-L2 bilateralmente). | Análises de subgrupos de indivíduos com DM 2 e hipertensão demonstraram associações significativas com alterações teciduais em T11-L2 bilateralmente para o lado esquerdo e OR para o lado direito. Também houve um forte efeito da duração do DM e alterações teciduais em T11-L2 bilateralmente. | O único achado consistente neste estudo foi associação entre DM 2 e alterações teciduais em T11-L2 no lado direito. As possíveis explicações para esse achado incluem alterações visceros somáticas reflexas diretamente relacionadas à progressão do DM2. |
Tabela 1 – Apresentação dos estudos analisados. TMO- técnica manipulativa osteopática; DM 1-diabetes melitos tipo 1; DM 2-diabetes melitos tipo 2; DME- distúbio músculo esquelético; UST- ultrassom terapia
A osteopatia é uma Prática Integrativa Complementar de Saúde reconheida pelo Ministério da saúde, baseada na anatomia. É uma forma de terapia manual de tratamento e diagnóstico que tem como princípio que a estrutura do corpo governa a função e que através utilização de técnicas de mobilização articular, mobilização de tecidos moles e de nervos pode-se obter boa saúde do corpo e evitar doença (American Osteopathic Association,2023). Para Still, criador da osteopatia, o homem é visto como uma unidade tripla composta por um corpo material, um ser espiritual e uma mente (Moreno e Morais, 2021 apud Still).
Segundo Shubrook e Johnson (2011), os princípios da osteopatia podem ser facilmente aplicáveis a uma abordagem proativa aos pacientes com diabetes. Uma vez que: o corpo é uma unidade; a pessoa é uma unidade de corpo, mente e espírito; o corpo é capaz de autorregulação, autocura e manutenção da saúde; estrutura e função estão reciprocamente inter-relacionadas; e o tratamento racional baseia-se na compreensão destes princípios básicos.
A prática da medicina prevetiva e “holística” são consideradas uma carcterística da osteopatia (Johnson e Shubrook, 2013). Os osteopatas têm a oportunidade de usar as técnicas osteopáticas manuais em uma diversidade de distúrbios, incluindo condições musculoesqueléticas e não musculoesqueléticas. O diabetes é um desses distúrbios comumente tratado por médicos osteopatas; no entanto, pesquisas que abordam achados palpatórios osteopáticos ou TMO em pacientes como diabetes é limitado (Licciardone, 2008).
Em estudo de Shubrook e Johnson (2011) foram observadas alterções teciduais à palapação de T11 a L2 em pacientes DM2 . O que demonstra que o diabetes não é uma doença com manifestação apenas pancreática. Mas uma doença multissistemica que manifestará somáticamente por todo o corpo. Mudanças nos tecidos moles e da fáscia ao logo do tempo podem iniciar manifestações sistêmicas.
Licciardone et al, 2007, em estudo caso-controle realizou medição para avaliar associação entre DM 2 e uma série de 30 achados palpatórios osteopáticos, em 92 pacientes (30 controle e 62 com DM 2). Foi avaliado alterações cutâneas, alterações tróficas, alterações teciduais, sensibilidade e imobilidade nos níveis segmentares espinhais T5-T7, T8-T10 e T11-L2 bilateralmente, em associação com DM 2. O único achado consistente neste estudo foi associação entre DM 2 e alterações teciduais em T11-L2 no lado direito. Inesperandamente, essas alterções detectadas não estão ao nível deo pâncreas, mas ao nível do rim direito, ao que os autores sugerem ser uma achado atribuído à progessão da doença, como disfunção renal, que pode predizer a nefropatia.
Em 2013, Licciardone e colaboradores realizaram um ensaio (OSTEOPATHIC) para avaliar tratamento manual osteopático em pacientes com DM e dor lombar crônica comórbida. Foi um estudo randomizado (ensaio fatorial 2×2), duplo-cego, controlado por simulação, incluindo intervenções de TMO e terapia de ultrassom, com amostra de 455 pacientes. Os autores obtiveram resutados estaticamente significativas (Licciardone et al, 2013) sendo que disfunção somática grave esteve presente significativamente mais frequentemente em pacientes com diabetes mellitus do que em pacientes sem diabetes melitus. Pacientes com diabetes melitus que receberam TMO tiveram reduções significativas na gravidade da dor lombar durante o período de 12 semanas. Também houve diminuição dos níveis circulantes de TNF-ÿ, o que pode representar um possível mecanismo para os efeitos da TMO em pacientes com diabetes melitus. Mesmo assim os autores salientam a necessidade de um ensaio clínico maior de pacientes com diabetes melitus e lombalgia crônica comórbida, para avaliar de forma mais definitiva a eficácia e os mecanismos de ação da TMO na mesma.
Ravenswaay et al, 2015, em estudo de relato de caso demonstrou que a utilização de osteopatia para correção estrutural, liberação do vago e osteopatia craniana para “tratamento de gatroparesia diabética” obtiveram resultado significativo na dimiuição da intensidade e gravidade dos sintomas e no número de internações do paciente. Silva et al, 2020, também em estudo de caso piloto relatou a eficácia da osteopatia visceral nos portadores de DM 2, através da manipulação do pâncreas. Obtendo diminuição significativa da taxa de hemoglobina glicada.
Nelson et al, 2015, realizou estudo piloto com 40 pacientes diabéticos que foram avaliados quanto à alteração da textura tecidual por palpação. O grau de alteração da textura do tecido subcutâneo foi quantificado subjetivamente e comparado com o nível de açúcar no sangue aleatório obtido
concomitantemente. Sendo observado resultados estatisticamente significativos de correlação entre aumento da quantidade de açúcar no sangue e achados palpatórios de alteração da textura tecidual (turgidez nos tecidos subcutâneos da coluna cervical). Demonstrando que alterções associados ao diabetes podem ser quantificados e obtidas pelo diagnóstico físico osteopático. Apesar dos resultados positivos, nestes estudos a amostra não é significativa sendo necessário estudos com grupo maior e com grupo controle para melhor elucidação dos achados.
Alguns estudos realizados foram para reportar avaliação de programas de saúde da família, uma vez que nos Estados Unidos da América médicos osteopatas geralmente ingressam nas especialidades de cuidados primários, de acordo com a American Osteopathic Association (2023). Em 2023 mais da metade dos osteopatas (57%) do país atuam nas especialidades de atenção primária de medicina da família, medicina interna e pediatria. Sendo que nos últimos cinco anos houve um aumento de 30% no número de osteopatas atuando nos EUA.
Shubrook et al, 2010, realizou estudo de coorte retrospectiva para avaliar os cuidados com o diabetes em programas de residência em medicina familiar e residência em osteopatia em medicina interna em Ohio, através do agrupamento de dados. Relatando que o agrupamento pode fornecer uma estatística resumida que pode ser usada ao longo do tempo para acompanhar o progresso e demonstrar melhoria de desempenho no atendimento de pessoas com diabetes.
Relatos de experiência também foram encontradas em nossa pesquisa. Ciervo, Shubrook e Grundy (2015) relataram sobre a importância da relação de respeito e confiança entre terapêuta-paciente no atendimento de DM 2 e outras doenças crônicas. Sobre a importancia do conjunto de ações que estes tipos de problemas requerem, necessitando de abordagem baseada em equipe multiprofissional para garantir que os profissionais estejam em comunicação para garantir atendimento ideal ao paciente.
Foram encontradas 03 revisões de literatura. Licciardone (2008) em um editorial relata a importância da investigação da literatura osteopática clássica para avançar na pesquisa contemporânea. Asahi et al, 2020, realizou uma revisão narrativa que resumiu a literatura publicada de 2008 a 2019 relacionando distúrbios músculo esqueléticos e sistêmicos em doenças crônicas e diabetes melitus, e a eficácia/ custo benefício da TMO no manejo de disfunções somáticas em pacientes com doenças crônicas. A pesquisa com os termos “dor lombar e risco de diabetes e doenças cardiovasculares” resultou em 76 resultados, dos quais apenas um ensaio (Licciardone et al, 2013) foi comentado devido ao tamanho da amostra e resultados obtidos.
Johnson e Shubrook (2013), também realizaram revisão de literatura simples para explorar os efeitos do diagnóstico estrutural osteopático e tratamento manipulativo osteopático para DM 2. Sendo pesquisado os termos
“medicina osteopática”, “terapia manipulativa osteopática”, “tratamento manipulativo osteopático” e ”TMO” , cada uma dessas palavras-chave associada ao termo “diabetes”. Dos quais foram encontrados 19 estudos relacionando diagnóstico osteopático e TMO em relação ao DM 2 e suas implicações. Os autores relataram que os estudos tendiam a ser pequenos e com generalização limitada mas que fortalecem argumento que o diagnóstico estrutural osteopático e da TMO no rastreamento e tratamento de complicações musculoesqueléticas do DM 2. E que estes estudos deverão constituir a base para futuras explorações.
CONCLUSÃO
As pesquisas na área da osteopatia sobre o tratamento do diabetes são escassas e com poucas informações sobre TMO e achados palpatórios relevantes. Sendo necessário estudos com metodologia melhor delineada e com grupo amostral relevante para comprovação na eficiência do tratamento.
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¹- Aluno VII turma especialização em Osteopatia EBRAFIM/ Goiânia;
²- Professor orientador EBRAFIM.