“OFICINA MANDACARU”, UM NOVO OLHAR À SAÚDE DO TRABALHADOR DA ÁREA DA SAÚDE: RELATO DE EXPERIÊNCIA SEGUNDO O ARCO DE MAGUEREZ

“MANDACARU WORKSHOP: A NEW PERSPECTIVE ON THE HEALTH OF WORKERS IN THE HEALTHCARE FIELD – AN EXPERIENCE REPORT ACCORDING TO THE ARCO DE MAGUEREZ”

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202501311456


Ana Paula Pereira Carvalho1
Alexandre Vieira de Souza1
Luane Michel Winck2
Alexandre Vaz Machado3
Diego Era4


RESUMO

O trabalho foi realizado de acordo com o método do Arco de Maguerez, que permitiu criar e incorporar novas ideias e, posteriormente, confrontá-las com a realidade, possibilitando o desabrochar de todas as suas potencialidades. Essa metodologia apresentou grande importância para alavancar a mudança necessária para os serviços de saúde pública. A transformação não se limitou aos pacientes e à estrutura, mas também focou nos profissionais e trabalhadores da área da saúde. O presente estudo teve como objetivo relatar a experiência do desenvolvimento de uma proposta de implementação de um grupo voltado à saúde do trabalhador e do profissional de saúde da UBS nº 1 de Santa Maria, baseado no Arco de Maguerez, compreendendo as seguintes etapas: observação da realidade, determinação de pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação à realidade. Durante essas etapas, foi criada e implementada uma oficina voltada para a temática central, constituída por sessões com frequência de duas vezes por semana durante as três primeiras semanas e uma última sessão na quarta semana. As práticas incluíram exercícios de ginástica laboral, ventosaterapia e auriculoterapia. Ocorreram coletas de relatos dos participantes no início e ao final das sessões da oficina. A execução dessa atividade evidenciou a relevância de trabalhar a saúde dos profissionais de saúde por meio da criação de espaços e horários dedicados ao autocuidado, resultando em uma melhora na qualidade de vida deles. A utilização dessa metodologia para a realização deste projeto, assim como em outros projetos na área, possibilitou o reconhecimento de aspectos que muitas vezes foram ignorados e pouco trabalhados, utilizando novos e mais potentes caminhos.

Palavras-chave: Saúde Ocupacional; Ginástica Laboral; Ventosaterapia; Auriculoterapia; Atenção Primária à Saúde.

ABSTRACT

Keywords: Occupational Health; Labor Gymnastics; Cupping Therapy; Auriculotherapy; Primary Health Care.

INTRODUÇÃO

Os profissionais e trabalhadores da área da saúde representaram aqueles que escolheram ter como ocupação a lida diária com os inúmeros aspectos que envolveram o processo saúde-doença. Os sentimentos de esperança e felicidade permaneceram, mesmo diante de todo o caos que se apresentou desde antes do período pré-pandêmico, sendo agravado por esse contexto (CASTRO & PONTES, 2021).

A importância do trabalho exercido por esses indivíduos pôde ser comprovada diariamente, mas, com a mesma frequência, também foram afetados pela falta de reconhecimento, violência e assédio em seus ambientes de trabalho, aspectos que promoveram o adoecimento desses profissionais. Além das longas jornadas de trabalho, a falta de profissionais ou pessoas capacitadas, a exposição a riscos químicos e físicos e o contato constante com o sofrimento contribuíram para essa situação (KOVALESKI & BRESSAN, 2012).

Os trabalhadores da saúde, nesse contexto, foram acometidos diariamente por diversas condições laborais, identificando-se uma prevalência de transtornos mentais e do comportamento, assim como doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo (DAMIANI & CARVALHO, 2020; AGARWAL et al., 2020; LIETZ et al., 2020).

Esse cenário se agravou pelo fato de que o autocuidado não foi uma prioridade para esses profissionais, especialmente para aqueles lotados nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Eles priorizaram o cuidado aos pacientes e esqueceram de si mesmos. Além disso, os serviços, muitas vezes, não ofereceram espaços e horários adequados para a realização de tais práticas (ARAUJO et al., 2016).

Os aspectos relatados anteriormente também foram identificados na UBS nº 1 de Santa Maria, por meio da observação do cenário e da escuta dos relatos dos profissionais e trabalhadores deste local. Diante desses aspectos e em busca do desenvolvimento deste estudo, utilizou-se a metodologia do Arco de Maguerez.

O método permitiu incorporar e criar novas ideias, confrontando-as com a realidade e possibilitando o desabrochar de todas as suas potencialidades. Ele favoreceu a integração das instâncias do ensino e do serviço que serviram de cenário à prática acadêmica, bem como a integração com a comunidade, à qual, em última instância, se voltaram as intervenções elencadas no processo de aprendizagem (SANTOS et al., 2018).

Portanto, este estudo teve como objetivo relatar a experiência por meio da aplicação do Arco de Maguerez, a partir do desenvolvimento de uma proposta de implementação de um grupo voltado à saúde do trabalhador e do profissional de saúde da UBS nº 1 de Santa Maria, utilizando condutas referentes aos exercícios de ginástica laboral, ventosaterapia e auriculoterapia.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo retrospectivo, descritivo e qualitativo, de amostra por conveniência, do tipo relato de experiência baseado no Arco de Maguerez. Participaram do estudo trabalhadores e servidores, incluindo terceirizados, atuantes na área administrativa, componentes de Equipes de Saúde da Família, da Equipe Multiprofissional, gerência, residentes e estagiários, de ambos os gêneros, lotados na Unidade Básica nº 1 de Santa Maria, que estavam presentes na unidade durante a execução das atividades.

Dentre os critérios de inclusão para a participação, os interessados deviam estar dispostos a participar de um protocolo de tratamento envolvendo auriculoterapia, ventosaterapia e exercícios de ginástica laboral, além de concordar com a frequência semanal das intervenções.

Foram excluídos os participantes que não compareceram às atividades da oficina por afastamentos da unidade, seja por férias, licença ou escala com horários divergentes da oficina, assim como pessoas com condições patológicas na orelha que impedissem a realização da auriculoterapia e gestantes.

O recrutamento dos participantes ocorreu a partir da divulgação da oficina, onde os idealizadores do projeto encaminharam mensagens pertinentes através das redes sociais da unidade, acessadas pelos servidores. Além disso, foram distribuídos folders, que foram fixados em locais estratégicos para disseminação de informações sobre a data e horário de cada atividade da oficina. O comparecimento dos trabalhadores aconteceu de forma espontânea.

A implementação das atividades ocorreu entre junho e julho de 2023. Foram organizados sete encontros, distribuídos em um total de quatro semanas, sendo realizadas duas práticas por semana (terças e quintas-feiras) nas três primeiras semanas e uma última prática na quarta semana (terça-feira). Nas terças-feiras, foram realizadas as práticas de auriculoterapia e ventosaterapia, enquanto nas quintas-feiras ocorreram os exercícios de ginástica laboral.

No início da primeira prática, foi disponibilizado um formulário de inscrição para participação na oficina e também foram realizadas as assinaturas do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), assegurando aos participantes o sigilo e a confidencialidade. Na última sessão, os participantes, espontaneamente, expuseram por meio de relatos verbais as suas percepções positivas e negativas sobre a realização da oficina.

A proposta compreendeu a execução de uma oficina de autocuidado, composta por exercícios de ginástica laboral, ventosaterapia e auriculoterapia, com frequência de duas vezes por semana durante três semanas. O estudo foi realizado com base na metodologia de problematização com o Arco de Maguerez, obedecendo às seguintes etapas: observação da realidade, identificação de pontos-chave, teorização, hipótese de solução e aplicação na realidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos resultados e da discussão seguiu as etapas da metodologia do Arco de Maguerez, composta por: observação da realidade concreta, determinação de pontos-chave, teorização, hipóteses de solução e aplicação prática na realidade.

Entre treze e dezessete servidores e trabalhadores da área da saúde participaram das sessões na Unidade Básica de Saúde nº 1, localizada na Região Administrativa Santa Maria, no Distrito Federal (DF).

ETAPA 1 – Observação da Realidade

A primeira etapa do processo, conforme descrito por Colombo e Berbel (2007), inicia a apropriação de informações pelos participantes, levando-os a observar a realidade com seus próprios olhos e identificar suas características. Esse entendimento é fundamental para contribuir na transformação da realidade observada.

Ao iniciar esta fase metodológica, reconheceu-se uma realidade marcada por um alto índice de adoecimento entre servidores e profissionais, relacionado a suas funções laborais. As principais hipóteses para essa situação incluem alta demanda de trabalho, carga horária exaustiva, falta de reconhecimento e escassez de recursos humanos e materiais. Essas condições foram exacerbadas durante e após a pandemia de COVID-19.

Os processos de adoecimento abrangem tanto, condições físicas, como lesões por esforço repetitivo (LER) e doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORT), quanto condições psicológicas (VALENÇA & ALENCAR, 2015). A identificação dessas problemáticas se deu por meio dos relatos dos próprios servidores e profissionais sobre suas condições de saúde, bem como pela procura frequente pelo atendimento fisioterapêutico na unidade. Além disso, há um interesse evidente em participar de atividades de prática de exercícios, como alongamentos, oferecidas em grupo pelo serviço.

Ao avaliar o histórico de atividades na unidade, identificou-se o projeto “Cuidando do Cuidador”, que incluiu exercícios de ginástica laboral e dinâmicas para abordar questões pertinentes a cada setor. No entanto, essas ações foram realizadas de forma pontual, sem um seguimento adequado, o que limitou a obtenção de resultados mais significativos.

Diante das demandas expressas pelos servidores, do contexto em que estão inseridos e das atividades desenvolvidas, ficou evidente a ausência de locais e horários reservados para o autocuidado. Essa falta de atenção ao bem-estar integral dos trabalhadores compromete sua qualidade de vida e, por conseguinte, a efetividade no atendimento aos pacientes.

Durante a observação, surgiram questionamentos relevantes: Quais ações de autocuidado poderiam ser implementadas na unidade? Como abordar os temas de autocuidado físico e mental de forma objetiva e alinhada à carga horária dos profissionais? Quais estratégias podem ser adotadas para atraí-los a essas ações? E como converter os conhecimentos adquiridos e práticas aprendidas em hábitos na rotina laboral?

ETAPA 2 – Determinação de Pontos-Chave 

A observação da realidade permitiu a definição de pontos-chave, que constitui a segunda etapa da metodologia. Esses pontos podem ser expressos de várias formas: questões fundamentais para o estudo, afirmações sobre aspectos do problema, tópicos a serem investigados, entre outras. Assim, possibilita-se a criatividade e flexibilidade nessa elaboração, após a compreensão do problema pelo grupo. (COLOMBO & BERBEL, 2007).

Ao final da primeira etapa, discutiram-se os aspectos observados entre alguns profissionais de saúde da Equipe Multiprofissional (eMulti) da unidade. Dessa discussão, foram definidos pontos-chave que podem estar contribuindo para o agravamento ou desencadeamento das lacunas identificadas.

Os principais pontos incluem a inexistência de horários ou espaços dedicados à promoção do autocuidado dos servidores, além da falta de orientação sobre práticas de prevenção de agravos. Também foi levantada a ausência de elementos atrativos para a participação dos profissionais nas atividades, o que impactou negativamente as tentativas anteriores de ações de promoção, dificultando a adesão às sessões subsequentes.

A associação entre os pontos-chave e os fatores observados indica que, a curto prazo, os impactos negativos na qualidade de vida dos profissionais são significativos, refletindo-se também na vida dos usuários. Esse tema se apresenta como uma questão emergente no serviço.

ETAPA 3 – Teorização

Após a observação do contexto e a definição dos pontos-chave, a metodologia avançou para a etapa de teorização, com o objetivo de encontrar uma solução para a problemática identificada. Segundo Prado e colaboradores (2012), esta etapa representa o momento em que os participantes começam a perceber o problema e a indagar sobre as causas dos acontecimentos observados nas fases anteriores.

Os autores ressaltam que, se desenvolvida adequadamente, essa etapa leva os sujeitos a compreender o problema não apenas em suas manifestações, baseadas nas experiências ou situações vivenciadas, mas também em relação aos princípios teóricos que o explicam.

Adoecimento de Trabalhadores da APS 

Os trabalhadores e profissionais da área da saúde estão constantemente expostos a riscos laborais, que incluem fatores físicos, químicos, ergonômicos e biológicos (MAISSIAT et al., 2015). Esses riscos são amplificados no contexto das Unidades Básicas de Saúde (UBSs), onde frequentemente há superlotação, infraestrutura inadequada e déficits de recursos humanos e materiais. Esse cenário, aliado à fragilidade no desenvolvimento da Estratégia de Saúde da Família, torna o trabalho na Atenção Primária à Saúde (APS) potencialmente adoecedor (MAISSIAT et al., 2015).

Além disso, a acumulação de funções é uma realidade comum, com profissionais realizando turnos nas UBSs e plantões em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais, em decorrência da baixa remuneração. Esse contexto pode levar ao cansaço, esgotamento emocional e físico, além de adoecimento mental, resultando em altas taxas de afastamentos (MELLO et al., 2020).

Principais Acometimentos

A portaria vigente referente a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, é a portaria nº 1339, de 18 de novembro de 1999, que abrange 182 códigos diagnósticos, organizados nos seguintes grupos: doenças das vias aéreas, perda auditiva induzida por ruído, lesão por esforço repetitivo / distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho, intoxicações exógenas, dermatoses ocupacionais, distúrbios mentais e picadas por animais peçonhentos.

Saúde dos Trabalhadores e a Pandemia da COVID-19

Durante o contexto pandêmico, especialmente no primeiro ano, os profissionais e trabalhadores da saúde enfrentaram inúmeros riscos. A exposição ao vírus, cansaço físico intenso, estresse psicológico, insuficiência ou negligência na utilização de equipamentos de proteção, perda da qualidade do sono, aumento do uso de substâncias, sintomas psicossomáticos e medo contribuíram para um quadro de adoecimento dos trabalhadores nesse período (TEIXEIRA et al., 2020).

Além dos acometimentos relacionados à COVID-19, reconhecida como doença ocupacional com base na lei 8.213 de 1991, diversas outras doenças ocupacionais também foram foco de atenção (MAENO, 2021; CHANG et al., 2022). Isso se deveu tanto à nova dinâmica de trabalho, incluindo o teletrabalho, quanto aos desarranjos na logística dos serviços presenciais (MAENO, 2021).

Espaços de cuidado dos profissionais de saúde

A falta de espaços e horários dedicados ao cuidado dos profissionais muitas vezes se apresenta como uma barreira para a promoção de ações voltadas a essa finalidade, conforme identificado no estudo de Tavares e colaboradores (2020). Além disso, a surpresa em serem priorizados na dimensão do cuidado nos serviços de saúde também foi um ponto a ser destacado, evidenciando a negligência com a própria saúde. Muitas vezes, os trabalhadores não têm tempo ou oportunidade para buscar tratamento, mesmo atuando em unidades de saúde (RIBEIRO & AFONSO, 2020).

Ações Desenvolvidas para Promoção de Saúde e Prevenção de Agravos

Diante das questões levantadas sobre o adoecimento de profissionais e trabalhadores, exacerbado pelo contexto pandêmico e pela falta de espaços e horários para autocuidado, foram desenvolvidas ações voltadas para a prevenção e combate a essas condições. A ginástica laboral é uma dessas iniciativas, visando criar um espaço para melhorar o condicionamento físico dos trabalhadores, interromper o ritmo de tarefas repetitivas e a monotonia, além de prevenir o surgimento de doenças ocupacionais (CARDOSO, 2021).

Adicionalmente, têm sido exploradas estratégias de enfrentamento por meio da utilização de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, com o objetivo de promover a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) (OLANDA & FONSECA, 2019). Entre as práticas que podem ser implementadas para alcançar esse objetivo, destacam-se a ventosaterapia e a auriculoterapia (BRITO et al., 2021).

ETAPA 4 – Hipóteses de Solução

Com base nas etapas anteriores, foram formuladas hipóteses para solucionar a problemática identificada. É essencial que a criatividade e a originalidade sejam estimuladas ao pensar em alternativas de solução. Como afirma Bordenave, “o aluno usa a realidade para aprender com ela, ao mesmo tempo em que se prepara para transformá-la” (BERBEL & COLOMBO, 2007).

As seguintes soluções foram propostas:

Criação de uma Oficina de Ginástica Laboral: com o objetivo de melhorar a saúde física e mental dos servidores e trabalhadores da unidade, por meio de ações voltadas para a prevenção de agravos e promoção da saúde.

Oferta de Práticas Integradas: A prática de exercícios de ginástica laboral correlacionada com auriculoterapia e ventosaterapia, visando atrair os participantes e promover a adesão à oficina, abordando a saúde de forma integral.

Construção e Distribuição de Folhetos Informativos: foram elaborados folhetos contendo orientações sobre alongamentos e outros tipos de exercícios que podem ser realizados no ambiente de trabalho, em horários compatíveis, com o intuito de garantir a persistência e intensificação dos resultados alcançados durante as sessões.

ETAPA 5 – Aplicação à Realidade

Por fim, a última etapa – a da Aplicação à Realidade – possibilitou a intervenção, o exercício e o manejo de situações associadas à solução do problema. Essa aplicação permitiu fixar as soluções geradas e demonstrou o comprometimento do pesquisador em retornar à mesma realidade, buscando transformá-la em algum grau (BERBEL & COLOMBO, 2007).

Diante da observação da realidade e do reconhecimento do adoecimento dos trabalhadores da área da saúde, foram identificados como pontos-chave a falta de orientação, a ausência de espaço e horário voltados ao cuidado, além da falta de atrativos para a participação em atividades. Considerando o processo de teorização, foram definidas algumas atividades.

A realização dessas atividades ocorreu ao longo dos meses de junho e julho de 2023, sendo divididas nas seguintes etapas:

Divulgação das Atividades: As atividades da oficina foram apresentadas na reunião do colegiado da Unidade Básica de Saúde nº 1 de Santa Maria, estendendo-se às redes sociais e grupos de WhatsApp da unidade. Convites foram distribuídos aos trabalhadores, com essas ações ocorrendo na semana anterior à realização da oficina.

Coleta de Relatos: Foram coletados relatos dos profissionais e trabalhadores da unidade sobre sua percepção em relação à própria saúde e à realização da oficina.

Realização da Oficina: A oficina teve duração de 7 sessões, com a aplicação de auriculoterapia e ventosaterapia às terças-feiras e orientações e exercícios de ginástica laboral às quintas-feiras. Os exercícios focaram nas principais regiões acometidas nos trabalhadores: cervical, lombar, membros superiores e inferiores.

Distribuição de Cartilhas: Cartilhas compostas por exercícios de ginástica laboral foram distribuídas nos consultórios e salas da unidade, entre a sexta e a sétima sessão. A cartilha encontra-se na íntegra no anexo deste projeto (Anexo 2).

Avaliação da Percepção: No final da oficina, foram realizados questionamentos relacionados à percepção dos participantes sobre sua participação nas atividades.

A escolha do período vespertino e dos dias, terças e quintas-feiras, para a execução das sessões foi influenciada pela redução das demandas da unidade observadas nesses períodos, confirmadas pelos relatos dos trabalhadores.

A divulgação da oficina ocorreu por meio da entrega de folders que continham informações sobre horário, local, atividades a serem realizadas e a importância dessas para a saúde dos trabalhadores. Convites também foram enviados através das redes sociais da unidade. A cada semana, as atividades programadas eram divulgadas de forma criativa, utilizando vídeos produzidos e gravados pelos residentes fisioterapeutas e pela farmacêutica.

A utilização de ventosaterapia e auriculoterapia teve como objetivo, além dos benefícios dessas práticas, atrair participantes e promover maior adesão. A cartilha foi elaborada com exercícios de fácil execução no ambiente de trabalho, visando incentivar a prática contínua de autocuidado.

Uma equipe de Saúde da Família da unidade participou da realização da oficina, sendo responsável pela divulgação das atividades, com o intuito de atrair participantes e colaborar na organização e planejamento dos processos de trabalho.

Em relação à participação nas atividades, esta foi mais expressiva nas sessões de ventosaterapia e auriculoterapia, com a presença de 18 a 24 participantes por sessão. Em contrapartida, as sessões de ginástica laboral tiveram uma frequência média de 13 participantes. Devido à greve dos enfermeiros e técnicos de enfermagem, a frequência na última sessão de exercícios foi reduzida a 4 trabalhadores. As sessões apresentaram grande rotatividade de participantes, em função de férias, abonos, folgas e demandas inesperadas.

Os resultados da oficina foram observados desde o final da primeira sessão e se mantiveram positivos até a última, com registros de momentos de descontração, autocuidado e alegria em meio à intensa rotina de trabalho. Ao comparar os relatos coletados no início e ao final da oficina, identificou-se a permanência da perspectiva positiva dos profissionais e trabalhadores em relação à experiência, além da continuidade da prática de autocuidado por meio da realização dos exercícios da cartilha.

Desse modo, buscou-se que a saúde do trabalhador fosse vista de uma nova forma, com foco na perspectiva de autocuidado, promovendo a disponibilização de horários e espaços para esse fim.

A coleta de assinaturas dos participantes do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ocorreu em abril de 2024. Não houve o uso de qualquer imagem que expusesse os participantes, sendo dispensada a coleta de assinatura referente ao Termo para uso de Imagem.

CONCLUSÃO

Este estudo evidenciou a importância da implementação de práticas de autocuidado, como ginástica laboral, ventosaterapia e auriculoterapia, na promoção da saúde e bem-estar dos trabalhadores da Unidade Básica de Saúde nº 1 de Santa Maria. A aplicação da metodologia do Arco de Maguerez possibilitou uma abordagem integrada e reflexiva, que contribuiu para o reconhecimento das necessidades dos profissionais de saúde em relação ao autocuidado.

Os relatos dos participantes destacaram melhorias significativas na qualidade de vida, revelando que, apesar das barreiras enfrentadas, é possível transformar a realidade laboral por meio de intervenções direcionadas e sensíveis ao contexto da saúde pública. O engajamento e a adesão dos trabalhadores às atividades propostas demonstraram que a valorização do autocuidado não apenas beneficia os profissionais, mas também reflete positivamente na qualidade do atendimento prestado aos usuários.

Portanto, a continuidade e a expansão de iniciativas como essa são essenciais para consolidar um ambiente de trabalho mais saudável e acolhedor, onde a saúde dos trabalhadores seja priorizada. Futuras pesquisas podem aprofundar a compreensão dos impactos dessas práticas em diferentes contextos da saúde, ampliando as possibilidades de intervenção e promoção do bem-estar.

REFERÊNCIAS

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1Fisioterapeuta residente pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde. Brasília (DF), Brasil.
2Farmacêutica residente pelo Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde. Brasília (DF), Brasil.
3Farmacêutico na UBS 01 de Santa Maria, Preceptor do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). Brasília (DF), Brasil.
4Fisioterapeuta na UBS 01 de Santa Maria, Preceptor do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família e Comunidade da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF). Brasília (DF), Brasil.