TRATAMENTO ENDODÔNTICO: SESSÃO ÚNICA X SESSÃO MÚLTIPLA EM DENTES NÃO VITAIS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102502021404


KACYA KAWANE DE OLVEIRA FERNANDES¹
MARIA BRUNA MOREIRA NORONHA²
ELIANE MARIA GONÇALVES MOREIRA DE VASCONCELOS³
ANA BEATRIZ HERMÍNIA RIBEIRO DUCATI DE SAMPAIO⁴
CICERO LUCAS GOMES RAMALHO⁵
CAIO VINICIUS TEIXEIRA NOGUEIRA⁶


Resumo: O tratamento endodôntico, trata-se de um procedimento que visa tratar a polpa infectada ou inflamada do dente. Isso envolve a remoção do tecido, limpeza e modelagem dos canais radiculares, assim como o preenchimento do espaço vazio com um material de preenchimento. O presente estudo tem por objetivo analisar as informações presentes na literatura sobre o sucesso do tratamento endodôntico em sessão única e sessão múltipla de dentes não vitais, assim como suas principais características. Esse estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre o tratamento endodôntico em sessão única em relação ao tratamento de sessões múltiplas, de caráter descritivo e abordagem qualitativa. A seleção foi realizada durante julho e agosto de 2024, atendendo aos descritores em ciências da saúde conduzida através da busca nas bases de dados como Google Scholar e SciELO, tendo como descritores em ciências da saúde DeCs: endodontia, sessão única e sessão múltipla. Foram encontrados 20 estudos dos quais, 07 foram incluídos na elaboração do trabalho, estes foram publicados nos últimos dez anos. O estudo avaliou a eficácia do tratamento endodôntico em sessão única versus múltiplas sessões em dentes não vitais, concluindo que a escolha terapêutica depende da severidade da infecção, da anatomia radicular e do histórico clínico do paciente. A pesquisa enfatiza a importância da integração de novas tecnologias e da investigação contínua sobre resistência microbiana e inovações materiais na área de endodontia.

Abstract: Endodontic treatment is a procedure aimed at treating the infected or inflamed pulp of a tooth. This involves the removal of the tissue, cleaning and shaping of the root canals, and filling the empty space with a filling material. The present study aims to analyze the available literature on the success of single-session and multiple-session endodontic treatments for non-vital teeth, as well as their main characteristics. This study is an integrative literature review comparing single-session and multiple-session endodontic treatments, with a descriptive character and a qualitative approach. The selection was conducted in July and August of 2024, based on health science descriptors through searches in databases such as Google Scholar and SciELO, using the following health science descriptors: endodontics, single session, and multiple sessions. A total of 20 studies were found, of which 7 were included in the final analysis, all published within the last ten years. The study evaluated the effectiveness of single-session versus multiple-session endodontic treatments for non-vital teeth, concluding that the therapeutic choice depends on the severity of the infection, root anatomy, and the patient’s clinical history. The research emphasizes the importance of integrating new technologies and continuous investigation into microbial resistance and material innovations in the field of endodontics.

Palavras-chave: Endodontia; Sessão única; Sessão múltipla.

1. Introdução

      O tratamento endodôntico, trata-se de um procedimento que visa tratar a polpa infectada ou inflamada do dente. Isso envolve a remoção da polpa danificada, limpeza e modelagem dos canais radiculares, assim como o preenchimento do espaço vazio com um material de preenchimento. O objetivo é salvar o elemento dentário e evitar a necessidade de exodontia dos dentes. Dentro do tratamento endodôntico é possível encontrar duas abordagens de escolha, a sessão única e sessões múltiplas (JESUS; FERNANDES, 2022). 

      Devido à limitação de instrumentais disponíveis antigamente, o tratamento endodôntico era frequentemente realizado em múltiplas sessões, uma abordagem necessária para garantir a desinfecção adequada e a cicatrização da região afetada. Entretanto, com a evolução tecnológica dos sistemas mecanizados, novas técnicas de tratamento foram adotadas, permitindo a realização do tratamento em uma única sessão, sempre considerando, a habilidade do operador, a experiência clínica, as condições do dente, o adequado tempo de tratamento, as limitações de tempo do paciente, o histórico médico e as considerações anatômicas e biológicas (SANTIN, 2021). O tratamento endodôntico de sessão única é destinado a patologias com princípios inflamatórios e todo o procedimento é concluído em um único atendimento (RESENDE-FERREIRA, 2016; JESUS; FERNANDES, 2022).

       A principal diferença entre as abordagens de uma sessão única e de múltiplas sessões está na utilização de substâncias químicas nos canais radiculares entre as sessões, no qual o hidróxido de cálcio é o padrão ouro como escolha, associado a diferentes veículos (SANTIN, 2021). Dentre os fatores que podem influenciar no sucesso do tratamento endodôntico estão, a redução ou eliminação das infecções bacterianas nos canais radiculares, que é alcançada por meio do preparo químico-mecânico com as substâncias irrigadoras, como o hipoclorito de sódio, que é considerado a principal solução utilizada para realizar a desinfecção do canal, devido às suas excelentes propriedades de dissolução de tecidos orgânicos, sua ação antimicrobiana, além de possuir PH alcalino. (JESUS; FERNADES, 2022). 

      De acordo com Luckmann, Dorneles e Grando (2013), o insucesso no tratamento endodôntico está relacionado com persistência de bactérias nos canais radiculares.  A falha mais considerável na endodontia é apontada como a migração dos microrganismos dos canais radiculares em direção ao ápice do dente. O uso de medicação intracanal tem como principal função auxiliar na desinfecção dos canais durante o intervalo entre as sessões, a aplicação de um curativo antimicrobiano entre as consultas é crucial para o controle da infecção nos canais radiculares, especialmente em casos envolvendo polpa não vital (ROSA ET AL., 2020).

      O hidróxido de cálcio é amplamente utilizado na endodontia devido às suas propriedades antimicrobianas, sendo eficaz na neutralização de ácidos e no estímulo à formação de dentina reparadora. Quando aplicado em tratamentos de sessões múltiplas, ele auxilia na desinfecção do canal radicular após a primeira sessão de instrumentação, reduzindo a carga bacteriana antes da obturação final. Esse processo favorece a cicatrização e ajuda a prevenir reinfecções (MONTEIRO ET AL., 2016).

      Uma das principais vantagens do tratamento endodôntico em uma única sessão é a redução no número de consultas, diminuindo o risco de contaminação ou infiltração entre as sessões e permitindo ao paciente retornar à função do dente de maneira eficiente e imediata. Embora a técnica de sessão única não seja nova, ela tem sido adotada com mais frequência nos últimos anos, ganhando maior evidência na prática clínica. (SANTIN, 2021).

      Dessa forma é notável a importância de rever os efeitos do tratamento endodôntico em dentes não vitais tanto em sessão única quanto em múltiplas sessões, verificando-se quais os prós e contras da escolha. O presente estudo tem por objetivo analisar as informações presentes na literatura sobre o sucesso do tratamento endodôntico em sessão única e sessão múltipla de dentes não vitais, assim como suas principais características.

2. Metodologia

2.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente trabalho trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre o tratamento endodôntico em sessão única em relação ao tratamento de sessões múltiplas, de caráter descritivo e abordagem qualitativa.

2.2 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Os critérios de inclusão foram estudos em inglês e português, publicados nos últimos dez anos, com textos completos disponíveis na íntegra e que se enquadraram como pesquisas relatos de casos clínicos, revisão sistemática e revisão de literatura sobre o tema.

Sendo excluídos todos os materiais que não se relacionassem com o tema, que não estiverem disponíveis gratuitamente. Estudos em que o profissional fez uso da terapia em sessão única ou dupla com clorexidina, casos clínicos realizados em crianças em sessão única e ou dupla, relatos de pacientes com histórico de trauma dental e casos de pacientes com reabsorção dental interna serão excluídos da pesquisa.

2.3 PERÍODO, LOCAL E INSTRUMENTO PARA COLETA DE DADOS

A seleção foi realizada durante julho e agosto de 2024, atendendo aos descritores em ciências da saúde conduzida através da busca nas bases de dados como Google Scholar e PubMed, tendo como descritores em ciências da saúde DeCs: sessão única, sessão múltipla e tratamento endodôntico com auxílio do operador booleano AND selecionando estudos que se enquadraram em sessão única AND odontologia e sessão múltipla AND odontologia, para uma análise completa e conclusão eficaz do estudo. Foram encontrados 20 estudos dos quais, 07 foram incluídos na elaboração do trabalho.

2.4 ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO DOS DADOS E DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO

A análise foi realizada primeiramente através da seleção dos trabalhos encontrados na literatura os quais os  títulos estavam dentro da abordagem do tema e seguido da leitura dos resumos dos trabalhos selecionados. Sequencialmente, foi realizado o estudo da introdução e resultados de todos que foram selecionados e que se enquadraram nos critérios de inclusão.Visando assim, uma melhor atualização referencial e/ou bibliográfica, que objetive analisar a importância do estudo sobre o sucesso do tratamento endodôntico em sessão única e sessão múltipla de dentes não vitais e suas taxas de sucesso.

3. Revisão

3.1 POLPA DENTAL

      A polpa dentária é o tecido conjuntivo frouxo localizado no interior dos dentes, contendo nervos, vasos sanguíneos. Quando a polpa é afetada por cáries profundas, traumas ou infecções, pode levar a dor intensa e comprometimento da saúde. O tratamento endodôntico, é um procedimento que visa remover a polpa danificada ou infectada, desinfetar o canal radicular e, em seguida, realizar o preenchimento do sistema de canais. (HARGREAVES, 2016).

      Os fibroblastos são células fundamentais no tecido conjuntivo que desempenham diversas funções essenciais para a manutenção da integridade e função dos tecidos, sintetizam e secretam componentes da matriz extracelular, como colágeno, elastina e proteoglicanos, contribuindo para a sustentação e organização dos tecidos. Além disso, eles possuem um papel crucial na cicatrização de feridas, migrando para o local da lesão e auxiliando na formação de novo tecido (FREIRE ET AL., 2021).

      A inervação do tecido pulpar é outra característica fisiológica significativa, com os nervos sensoriais provenientes do sistema nervoso trigeminal. Eles fornecem sensibilidade ao dente, permitindo que ele responda a estímulos físicos e químicos. A excitabilidade das fibras do tecido pulpar é fundamento para alertar o organismo sobre possíveis danos ou infecções ao dente (AL-NAHLAWI, 2019).

3.2 MICROBIOTICA ENDODÔNTICA

      A infecção endodôntica é um dos principais desafios na prática odontológica e pode ser categorizada em primária, secundária e terciária. A infecção primária é frequentemente desencadeada por cáries não tratadas, fissuras dentárias ou traumas que permitem a entrada de bactérias no tecido pulpar do dente, essas bactérias proliferam no ambiente úmido e nutritivo do interior do dente, desencadeando uma resposta inflamatória. (LACERDA et al., 2016).  Os principais microrganismos bacterianos presentes são os anaeróbios estritos, eles estabelecem uma infecção persistente no sistema de canais radiculares. A diversidade microbiana é alta, com espécies de bactérias gram-positivas e gram-negativas. Temos que os principais microrganismos presentes na infecção são Prevotella, Porphyromonas, Fusobacterium e Treponema.

      A infecção secundária, por sua vez, ocorre durante ou após o tratamento endodôntico. Este tipo de infecção pode ser resultante da contaminação por microrganismos residuais que não foram completamente eliminados durante o tratamento ou por novos microrganismos que invadem o canal radicular devido a falhas na obturação ou à reabertura do canal. Microrganismos comumente encontrados em infecções secundárias incluem tanto bactérias Gram-positivas quanto Gram-negativas. Entre os Gram-positivos estão Enterococcus faecalis, Pseudoramibacter alactolyticus, Propionibacterium spp. Filifactor alocis e Parvimonas micra. Nos Gram-negativos, destacam-se Dialister pneumosintes, Dialister invisus, Tannerella forsythia, Prevotella intermedia e Treponema denticola.

      Enquanto a infecção terciária, também chamada de infecção persistente ou recorrente, ocorre quando há uma falha no tratamento endodôntico inicial que permite a reentrada ou a sobrevivência de microrganismos no canal radicular. Essa infecção é frequentemente causada por microrganismos que possuem alta resistência às condições adversas e aos tratamentos antimicrobianos.  O Enterococcus faecalis é um dos principais patógenos associados a infecções terciárias, devido à sua capacidade de formar biofilmes resistentes e de persistir em canais radiculares selados.

 3.3 HIDRÓXIDO DE CÁLCIO

      O hidróxido de cálcio é um material amplamente utilizado na endodontia devido às suas propriedades antimicrobianas, biocompatibilidade e capacidade de promover a remineralização dentária. Sua principal função é a destruição de bactérias presentes no interior do canal radicular, contribuindo para o controle da infecção e a descontaminação do sistema de canais radiculares. Além disso, ele possui propriedades alcalinizantes que ajudam a neutralizar a acidez no interior do dente, criando um ambiente favorável para a reparação tecidual (MONTEIRO et al., 2016).

      O hidróxido de cálcio pode ser apresentado em diferentes formas farmacêuticas para uso na endodontia, sendo comumente encontrado na forma de pasta ou pó. Essas formulações podem ser misturadas com veículos adequados, como água destilada, glicerina ou propilenoglicol, para facilitar sua aplicação e manipulação durante o tratamento endodôntico. O veículo desempenha um papel importante na consistência e na estabilidade da mistura, garantindo sua eficácia durante o procedimento (SANTOS et al., 2021).

      Além de suas propriedades antimicrobianas, o hidróxido de cálcio também é conhecido por sua capacidade de estimular a formação de dentina reparadora, auxiliando na regeneração dos tecidos dentários afetados pela cárie ou pela inflamação pulpar. Essa capacidade de promover a remineralização e a reparação tecidual torna o hidróxido de cálcio um componente valioso no arsenal terapêutico do endodontista para o tratamento de lesões endodônticas e a manutenção da saúde bucal do paciente (MONTEIRO et al., 2016).

3.4 SESSÃO ÚNICA

      A endodontia em sessão única é uma abordagem alternativa do tratamento convencional de canal realizada em apenas uma consulta. Durante essa sessão, o dentista realiza todas as etapas do tratamento, como preparo biomecânico, limpeza e desinfeção dos canais, seguidos da obturação (NASCIMENTO, 2021).

      A sessão única tem como grande vantagem o menor risco de recontaminação, pois o dente é completamente fechado no mesmo dia, reduzindo a exposição a novas bactérias. No entanto, pode-se apresentar uma taxa de recidiva ligeiramente maior em casos de infecção complexa, já que não permite o uso de medicações intracanal entre sessões para controle mais eficaz da infecção. Esse tipo de tratamento pode ser indicado antes de uma intervenção periodontal, desde que a infecção seja controlável em uma única sessão, garantindo melhor prognóstico para os procedimentos posteriores (SANTIN, 2021).

      Pesquisas sugerem que a realização do tratamento de canal em uma única sessão é indicada para casos como: polpa viva com exposição pulpar decorrente de trauma, cárie ou outras causas mecânicas; dentes com colapso subgengival, coroas comprometidas, margens cariadas ou que necessitam de reabilitação protética com pinos; dentes anteriores da mandíbula que exigem coroas completas; e situações em que há sedação, limitações de tempo ou necessidade de coroas de revestimento em dentes anteriores inferiores (CAIRES; BOER, 2018).

      Em contrapartida, existem contraindicações para a técnica de sessão única, como anomalias anatômicas, incluindo câmaras pulpares retraídas, canais radiculares curvos, bifurcados ou calcificados; complicações durante o tratamento, como danos a instrumentos ou perfurações; condições físicas ou mentais limitantes, como distrofia muscular ou doenças neuromusculares; infecção pulpar aguda; disfunção temporomandibular, que pode causar dores intensas durante o procedimento; polpa necrosada, com ou sem lesões periapicais; e a presença de exsudato ou reabsorções (ENDO et al., 2016).

      É importante a avaliação minuciosa de cada caso, levar em consideração a condição do dente, a extensão da infecção e a saúde geral do paciente, assim como o tipo de microrganismos presentes, o uso de irrigantes e medicações intracanais, e a técnica de instrumentação e obturação ao decidir se a endodontia em sessão única é apropriada. A avaliação clínica e radiográfica adequada é essencial para garantir o sucesso do tratamento (NAGATA, 2020).

3.5 SESSÃO MÚLTIPLA

       O tratamento endodôntico em sessões múltiplas é amplamente utilizado em casos de infecções complexas e quadros clínicos de difícil controle, oferecendo diversas vantagens terapêuticas. Com a possibilidade de aplicar medicações intracanal entre as sessões, essa abordagem possibilita a eliminação gradual das bactérias, promovendo um ambiente mais seguro para a cicatrização e o controle da infecção (SILVA, 2022).

      O uso de medicações antimicrobianas entre as consultas, como a hidróxido de cálcio, cria um ambiente alcalino, desfavorável para a sobrevivência das bactérias remanescentes, reduzindo significativamente o risco de recidiva. O tratamento em múltiplas sessões também permite ao profissional avaliar a evolução do caso entre consultas, ajustando a abordagem conforme a resposta do paciente, o que aumenta a eficácia no tratamento de infecções endodônticas severas (OLIVEIRA, 2019).

      Essa abordagem é especialmente indicada quando o paciente passará por procedimentos periodontais, pois a eliminação completa da infecção endodôntica é fundamental para um prognóstico periodontal mais seguro. Além disso, o tempo adicional entre consultas permite uma resposta mais robusta do sistema imunológico e melhor controle do quadro inflamatório, beneficiando casos de infecção extensa ou lesão periapical significativa. Dessa forma, o tratamento em sessões múltiplas, ao permitir uma abordagem gradual e controlada, garante maior segurança e eficácia, especialmente em casos que exigem precisão e cuidado minucioso (ALMEIDA, 2020).

      A principal distinção entre o tratamento endodôntico de sessão única e múltipla está no uso de medicação intracanal, que é crucial para aprimorar a desinfecção dos canais antes da realização da obturação final (EDIONWE et al., 2014). De acordo com Leonardo e Leal (1991), a obturação imediata não é recomendada em dentes com lesões periapicais, sendo necessário o uso de hidróxido de cálcio entre as sessões. Os procedimentos de desinfecção incluem o emprego de instrumentos manuais ou mecanizados e o uso de irrigantes químicos, com ou sem a aplicação de medicação intracanal. Contudo, devido à complexidade anatômica dos canais e à eficácia limitada dos antimicrobianos, os resultados nem sempre atingem os níveis ideais (CAIRES e BOER, 2018).

4. Resultados

TítuloAutor (Ano)Objetivo do TrabalhoResultado do Estudo
Vantagens e desvantagens do tratamento endodôntico em sessão únicaNASCIMENTO (2021)Analisar os benefícios e limitações do tratamento endodôntico em sessão única.Sessão única reduz o risco de recontaminação, mas é limitada em infecções complexas e lesões periapicais.
Medicações intracanais e sua eficácia no tratamento endodônticoSANTIN (2021)Estudar os benefícios das medicações intracanais em sessões múltiplas.Medicações intracanais favorecem a cicatrização e controle da infecção em casos complexos.
Impacto do hidróxido de cálcio na microbiota endodônticaSILVA (2022)Avaliar a eficácia do hidróxido de cálcio no controle microbiano em sessões múltiplas.Hidróxido de cálcio é eficaz contra bactérias resistentes e lesões profundas.
Comparação entre abordagens endodônticas em infecções complexasOLIVEIRA (2019)Comparar eficácia de sessão única e múltipla em infecções endodônticas.Sessão múltipla é mais eficaz em casos complexos; sessão única é adequada para infecções localizadas.
Microbiologia de infecções endodônticas primárias e secundáriasLACERDA; CARVALHO; RODRIGUES (2016)Identificar micro-organismos em infecções endodônticas e sua resistência.Sessões múltiplas eliminam mais eficazmente Enterococcus faecalis e outras bactérias resistentes.
Eficácia antimicrobiana do hidróxido de cálcioMONTEIRO; SOUZA; AMARAL (2016)Investigar o efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio.Hidróxido de cálcio reduz infecções resistentes, sendo útil em tratamentos múltiplos.
Prognóstico do tratamento endodôntico: sessão única vs. múltiplaCAIRES; BOER (2018)Examinar os fatores clínicos que influenciam a escolha entre sessões única e múltipla.Sessão única é indicada para infecções controladas; sessão múltipla é mais segura para casos desafiadores.

5. Discussão

 A escolha entre tratamento endodôntico de sessão única ou múltiplas sessões tem gerado amplo debate, sendo influenciada por fatores clínicos, microbiológicos e operacionais. A sessão única é vantajosa principalmente pela redução do risco de recontaminação, uma vez que a obturação definitiva é realizada no mesmo dia, evitando a exposição do sistema radicular ao ambiente externo. Nascimento (2021) e Santin (2021) destacam que essa abordagem é eficaz em casos de infecção localizada, sendo conveniente e rápida, o que reduz o desconforto e o número de consultas. No entanto, em infecções mais complexas, como aquelas associadas a polpa necrótica ou lesões periapicais, a sessão única pode ser inadequada, pois não permite o uso prolongado de medicações intracanais, essenciais para o controle da infecção.

      Por outro lado, a abordagem de múltiplas sessões favorece um controle gradual da infecção, especialmente em casos mais graves, permitindo o uso contínuo de medicações antimicrobianas, como o hidróxido de cálcio, que contribui para a desinfecção e melhora a cicatrização. Silva (2022) observa que esse modelo oferece flexibilidade, permitindo a reavaliação do quadro clínico a cada consulta e o ajuste do tratamento conforme a evolução da infecção. Contudo, Oliveira (2019) aponta aumento do tempo de tratamento e o risco de recontaminação entre as consultas, o que, apesar de controlável com boas técnicas de isolamento, continua sendo uma limitação.

      O controle microbiano também é um aspecto crítico nas duas abordagens. Lacerda et al. (2016) indicam que infecções primárias têm uma flora bacteriana diversificada, enquanto as infecções secundárias, com Enterococcus faecalis, são mais resistentes e difíceis de erradicar. O uso contínuo de medicações antimicrobianas nas sessões múltiplas é mais eficaz no combate a essas bactérias, como destacado por Monteiro et al. (2016), que demonstram o efeito antimicrobiano do hidróxido de cálcio. Assim, para infecções mais graves ou persistentes, a abordagem de múltiplas sessões tem maior potencial de sucesso.

      A escolha entre essas abordagens depende ainda das condições clínicas do paciente. Caires e Boer (2018) afirmam que a sessão única é mais adequada para casos simples, com infecção localizada e condições anatômicas favoráveis. No entanto, quando a infecção é extensa ou persistente, a sessão múltipla é preferível, pois oferece maior segurança ao possibilitar o acompanhamento e ajustes contínuos no tratamento. A decisão deve ser feita com base na gravidade da infecção e nas necessidades individuais de cada paciente.

      O tratamento de sessão única pode ser eficaz e mais conveniente em casos simples e localizados, enquanto a abordagem de múltiplas sessões é mais adequada para infecções mais profundas ou complexas, proporcionando um controle mais eficaz da infecção e melhor prognóstico a longo prazo. A escolha do método deve ser individualizada, considerando o quadro clínico do paciente, a gravidade da infecção e as características anatômicas do dente.

6. Considerações Finais

O presente estudo buscou avaliar a eficácia e os desfechos clínicos do tratamento endodôntico realizado em sessão única em comparação com o tratamento em múltiplas sessões em dentes não vitais, buscando avaliar qual abordagem oferece melhores resultados no controle da infecção. A pesquisa, realizada por meio de revisão integrativa da literatura, evidencia que ambos os métodos apresentam vantagens e desvantagens que devem ser cuidadosamente ponderadas para uma tomada de decisão clínica fundamentada. A justificativa para a escolha deste tema se baseia na importância crescente da eficiência e segurança no tratamento de dentes não vitais, considerando o avanço das tecnologias e as diferentes necessidades dos pacientes.

A análise das taxas de sucesso das duas abordagens, bem como das condições clínicas do paciente, confirmou que a escolha do tratamento depende de variáveis como a gravidade da infecção, a anatomia do dente e o histórico do paciente. A hipótese foi confirmada: a sessão única é mais indicada para infecções simples, e as múltiplas sessões para infecções graves. A coleta de dados foi adequada, mas a falta de estudos específicos sobre casos mais complexos foi uma limitação. Para futuras pesquisas, é recomendado investigar novas técnicas e materiais em endodontia.

A sessão múltipla é mais eficaz devido ao uso contínuo de medicações intracanais, como o hidróxido de cálcio, que favorecem a desinfecção e controle de infecções persistentes. Além disso, permite avaliação e ajustes progressivos, monitorando as condições periapicais e aumentando as chances de sucesso, especialmente em infecções graves. Em contrapartida, a sessão única é limitada em casos complexos, pois não permite o uso de medicações entre as consultas, dificultando o controle de infecções resistentes e a cicatrização em infecções extensas. A flexibilidade para ajustes também é reduzida, o que pode prejudicar o prognóstico. Portanto, a escolha do tratamento deve ser personalizada, levando em conta as condições do paciente e a evolução da pesquisa na área. O futuro da endodontia depende da integração de novas tecnologias e da pesquisa contínua sobre resistência microbiana e materiais. 

Referências

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 ALMEIDA, R. Abordagens em sessões múltiplas no tratamento endodôntico. 2020.

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JESUS, D. F.; FERNANDES, M. G. Comparação de sessões endodônticas: vantagens e limitações. 2022.

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