TRANSLATION ASPECTS: DEPARTURE AND ARRIVAL IN BROKEBACK MOUNTAIN
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202501291946
Adão Pereira da Silva Barboza1,
Fernanda Rocha Bomfim2
RESUMO:
Os estudos de tradução são um desafio para os que se propõem a infiltrar-se pelos caminhos desta arte. Traduzir requer mais que procurar por uma palavra equivalente nos idiomas envolvidos. Entretanto, a Tradução tem um papel importante na formação observadora, linguística, crítica e interpretativa dos acadêmicos. Ela envolve diversas áreas do conhecimento como a linguística de textos, as gramáticas das línguas envolvidas e a Literatura, propondo uma compilação das mesmas na busca pela compreensão da forma e na produção do sentido. Embora tudo isso seja notório e indispensável, pode-se afirmar que os métodos tradutórios utilizados nas universidades são limitados a uma visão vazia de compreensão instantânea, excluindo assim, os pormenores desta manifestação artística que foi indispensável para a evolução humana. Partindo desse pressuposto foi feita uma pesquisa bibliográfica, com o intuito de mostrar que a Tradução pode contemplar as habilidades propostas para o desenvolvimento dos acadêmicos por meio dos estudos de sua historicidade, língua de partida e língua de chegada, forma e sentido, fortuna crítica da autora e por fim a prática desta teoria na análise comparativa da obra Brokeback Mountain de Annie Proulx com a tradução da mesma feita por Adalgisa Campos da Silva. Identificaram-se os recursos linguísticos utilizados pela tradutora e observou-se quais mudanças foram feitas para atingir o sentido proposto pela autora da obra original dentro de um contexto específico, no qual Annie Proulx fez questão de expor na sua narrativa.
Palavras-chave: Brokeback Mountain. O segredo de Brokeback Mountain. Tradução. Forma. Sentido.
ABSTRACT:
Translation studies are challenges for those who want to explore the paths of this art. Translating requires more than searching for an equivalent word in the languages involved. However, Translation has an important role in linguistic, critical and interpretive training of academics. It involves several areas of knowledge such as text linguistics, the grammars of the languages involved and Literature, proposing a compilation of them in the search for understanding form and the production of meaning. Although all of this is well-known and indispensable, it can be said that the translation methods used in universities are limited to an empty vision of instant understanding, thus excluding the details of this artistic manifestation that were necessary for human evolution. Based on this assumption, a bibliographical research was carried out, with the aim of showing that Translation can contemplate the skills proposed for the development of academics through studies of their historicity, source language and target language, form and meaning, critical fortune of author and finally the practice of this theory in the comparative analysis of the work Brokeback Mountain by Annie Proulx with its translation by Adalgisa Campos da Silva. The linguistic resources used by the translator were identified and what changes were made to achieve the meaning proposed by the author of the original work within a specific context, which Annie Proulx made a point of exposing in her narrative.
Keywords: Brokeback Mountain. Translation. Form. Meaning.
1 INTRODUÇÃO
Concluir um dos cursos de licenciatura implica numa minuciosa pesquisa, tendo como base uma problemática específica ligada a uma ciência, uma arte, uma localidade ou uma dificuldade percebida e apontada pelos envolvidos.
A arte de traduzir é um estudo desvalorizado durante o processo de graduação do curso de Licenciatura Plena em Letras Português/Inglês e suas Respectivas Literaturas. Já que ele tem a pretensão de desenvolver habilidades quanto ao ensino de Língua Portuguesa e de Língua Inglesa. Por conseguinte, este trabalho tem o intuito de pesquisar a arte da tradução e mostrar sua importância para a formação de literatos bilíngues que atuarão no ensino das respectivas línguas propostas na graduação e também no ensino de suas respectivas literaturas.
Todo projeto de cunho científico respalda-se em bibliografias que amparam e norteiam o pesquisador na construção de seu trabalho. Espera-se que por meio dessa pesquisa seja possível apontar a tradução, como um caminho que viabilize o processo de ensino aprendizagem das habilidades propostas nos Parâmetros Curriculares que regem essa instituição tanto no que se refere ao idioma materno quanto a que se refere ao segundo idioma estudado. Dessa forma, entende-se que o processo de traduzir leva o desenvolvimento de todas as habilidades e uma expansão cultural, social, linguística e intelectual tanto para quem produz quanto para quem lê o material produzido.
A linha teórica desta pesquisa constitui-se de bibliografias que abrangem desde os veteranos da arte da tradução à releitura deles por autores contemporâneos, que adequaram essa antiga manifestação artística a um mundo cheio de possibilidades e interacional. Para Campos (2004, s.p) “O mundo precisa de agora, mais do que nunca, do diálogo entre os povos. A tradução é um dos caminhos para esse desejável entendimento”. Com base nessa visão de relação entre povos, o autor citado acima oferece subsídios para compreensão dos aspectos da tradução, do significado nominal até a sua função social.
Conceituar tradução, também leva refletir sobre os aspectos históricos e sua relevância no passado. Entender a divisão de águas no mito da Torre de Babel e o tratamento dado às informações verbalizadas na Roma antiga, no Latim do catolicismo e todo conhecimento produzido e traduzido posteriormente para o Inglês, Francês e outros idiomas considerados importantes da época. John Milton propõe uma conversa sobre esse assunto em O Poder da tradução, o que contribuiu muito para elaboração desta monografia.
Segundo Milton (2012, p.8) “O sentido original deve ser inviolável, e o tradutor não tem direito de cortar nem um “galho” do original” e para Jakobson (2010, p.88) “o nível cognitivo da linguagem só admite, mas exige à interpretação por meio de outros códigos, a recodificação, isto é a tradução”. A relação entre a língua de partida e língua de chegada remete essa pesquisa a uma análise do conhecimento gramatical do Inglês, sendo ponto de partida e a do Português sendo a língua de chegada. Embora a tradução não se limite a uma troca de uma palavra na Língua Inglesa correspondente à outra palavra na Língua Portuguesa, é preciso o domínio do léxico-gramatical para se alcançar o sentido. Ambos os autores citados definem essa relação esclarecendo assim as entrelinhas deste projeto.
O conto Brockeback Mountain é considerado épico, porque retrata o amor entre dois homens num contexto totalmente viril, reascendendo as chamas da Literatura Queer. Ennis del Mar e Jack Twist viviam no norte dos Estados Unidos, precisamente nas redondezas da fronteira de Utah. Ambos eram jovens e oriundos de famílias pobres. Submetidos ao trabalho, foram obrigados a subir a montanha Brokeback para pastorear as ovelhas de Joe Aguirre durante o inverno. Em um ambiente frio, solitário e em meio a conversas envolventes, os dois se apaixonam e vivem uma curta história de amor. História essa que os levaram para caminhos paralelos entrelaçando suas vidas até fim. Mas, não era forte o bastante para vencer o preconceito interior e fugir de um confinamento solitário e sofrido.
Tendo a obra original em Língua Inglesa Brokeback Mountain de Annie Prouxl, ou seja, a língua de partida e o Segredo de Brokeback Mountain traduzido em Língua Portuguesa por Adalgiza Campos da Silva a língua de chegada, esse trabalho prevê a comparação entre os dois textos e a prática da teoria adquirida durante os estudos sobre o conceito de tradução e seus aspectos.
O método de trabalho e a metodologia definida são passos indispensáveis em qualquer instância, pois, é o caminho traçado para chegar ao objetivo almejado. A pesquisa bibliográfica foi o método mais indicado para elaboração deste trabalho que se amparou em pesquisadores da tradução.
A pesquisa bibliográfica, como qualquer outra modalidade de pesquisa, desenvolve-se ao longo de uma serie de etapas. Seu número, assim como seu encadeamento, depende de muitos fatores, tais como a natureza do problema, o nível de conhecimento que o pesquisador dispõe sobre o assunto, o grau de precisão que se pretende conferir à pesquisa (GIL, 2002, p. 59).
Portanto, esse método é composto por diversas etapas bem como a escolha do tema, o levantamento bibliográfico, a formulação do problema, a busca pelas fontes, a leitura, fichamento do material, a organização lógica do assunto e por fim a redação do texto que contempla cada fase deste trabalho de conclusão.
A pesquisa intitulada Aspectos tradutórios: partida e chegada em O segredo de Brokeback Mountain, foi dividida em três capítulos. No primeiro foi discorrido sobre os aspectos e tendências da teoria da tradução, bem como sua nomenclatura e historicidade, língua de chegada e língua de partida, forma e sentido. Em suma os conceitos básicos para compreensão dessa arte. No segundo apresentou-se a obra em questão e a fortuna crítica de Annie Prouxl, ou seja, do perfil literário dela até a publicação do livro e seu reflexo social. E por fim, a comparação entre Brokeback Mountain de Annie Prouxl e o Segredo de Brockeback Mountain na tradução de Adalgisa Campos e Silva.
Essa pesquisa compreende não só a sintaxe gramatical das línguas envolvidas, mas, a relação entre a língua e o contexto cultural que ela está inserida. Pois, a versão de um texto abrange mais que a palavra escrita. Ela considera os povos por meio da língua que é o canal de comunicação e a interação deles com a cultura, assim destaca Oustinoff “A tradução é mais que uma simples operação linguística: as línguas são inseparáveis da diversidade cultural” (2011, p.10).
Contudo os estudos sobre tradução promovem aprendizagens múltiplas que consistem no conflito entre forma e sentido textual. O conto analisado propiciou essa discussão na sua análise uma vez que, a cultura que cerca os dois países envolvidos em relação à homossexualidade são diferentes. A linguagem utilizada por Proulx é objetiva. Percebe-se na tradução uma camuflagem linguística para retratar momentos insinuosos, promovendo assim uma sutil censura, já que o Brasil não tem a mesma visão que os Estados Unidos quando se trata da união de duas pessoas do mesmo sexo.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.
2.1 ASPECTOS E TENDÊNCIAS DA TEORIA DA TRADUÇÃO
O mundo é bem dividido quando se trata do poder econômico, judiciário, religião, crenças, territórios, línguas, ideologias e filosofias. São inúmeros aspectos sociais que fazem com que a identidade de um povo seja única. Entretanto, entende-se que a sobrevivência isolada nesse planeta é quase impossível. Apesar de toda distinção existente entre continentes e países, pode existir relações entre dois ou mais, pois, sempre haverá a necessidade de algo que não se possa produzir ou simplesmente da união de forças políticas ou econômicas para manter sua existência.
Antunes (2009, p. 23) destaca “pela língua afirmamos: temos território, não somos sem pátria”. Portanto, a língua é a biometria de um país. Toda particularidade existente em uma nação se reflete no canal de comunicação entre as pessoas de uma mesma nacionalidade. É por meio dela que é possível a transmissão de todo acervo cultural e social de um povo para outro. É através dela que o indivíduo se manifesta estabelecendo relações com o outro, com o contexto social onde está inserido.
Nessa ligação entre um país e outro por meio da língua, há uma “ponte” que possibilita a compreensão da língua, da cultura e da influência do outro, e, isso denomina-se tradução. Segundo Campos (2004, p.7) “O verbo “traduzir” vem do verbo latino traducere, que significa “conduzir ou fazer passar de um lado para o outro”, algo como atravessar”. A concepção sobre tradução não se limita somente ao significado do verbo traduzir. Campos (p.7) define tradução como: “fazer passar, de uma língua para outra, um texto escrito na primeira delas”. Em uma vasta pesquisa sobre as tentativas de definir o conceito de tradução, ele afirma que para o inglês John Cunnison Catford “tradução é a substituição de material textual de uma língua por material textual equivalente em outra” e para Keith Bosley “tradução é uma língua fazendo amor com outra”, (p.11). Embora existam concepções divergentes entre estes teóricos sobre o mesmo assunto, pode-se afirmar que há uma relação entre a língua de partida ou de origem (source language) e a língua de chegada ou a meta (target language). Uma vez que, ao se traduzir algo, o tradutor precisa transcender os conhecimentos gramaticais e considerar todos os aspectos envolvendo tanto a língua de partida quanto a língua de chagada, pois, há todo um contexto cultural e social que transcende as normas que regem ambos os idiomas estudados e, a união desses dois aspectos geram sentido e interação.
O verbo traduzir e recriar são ações mútuas, pois, quem traduz recria o texto para se atingir o mesmo sentido. Um texto pode ser traduzido várias vezes e nenhuma versão será igual à outra. Cada tradutor traz consigo um conhecimento de mundo, um olhar único sobre o texto pretendido e isso torna a tradução não fiel ao original, assim confirma Campos “por mais fiel que seja ela, verá frustrados os seus propósitos. Mesmo porque nenhuma tradução pode ter a pretensão de substituir o original: é apenas uma tentativa de recriação dela” (p.12).
A tradução e o ser humano em sociedade evoluíram. Nos tempos modernos onde a tecnologia e a interatividade reinam, o ato de traduzir tende acontecer com a mesma agilidade. Incontáveis recursos tradutores foram desenvolvidos para sanar esta necessidade entre os povos. Para tanto, essa substituição do homem pelos tradutores virtuais sem conteúdo histórico e social, limita a interpretação dos textos e contempla a linha de raciocínio dos estudiosos que exigem fidelidade ao se traduzir da língua de partida para a língua de chegada. Relaciona-se a forma, a gramática, mas não o sentido, a compreensão assim destaca Campos (2004, p. 24) “Em todo caso, a máquina de traduzir estaria em condições de operar com línguas artificiais – como o esperanto, por exemplo – e talvez não com línguas naturais, cheias de conotações e variações estilísticas”.
Existe um vasto mercado para atuação nesta área no Brasil, que vai desde a tradução de obras literárias, filmes e documentários, até os mais altos cargos federais como tradutores oficiais da nação brasileira. O que dificulta é a formação precária e a falta de vagas que são oferecidas por poucas universidades. Isso faz com que a qualidade oferecida seja inferior as exigidas pelo mercado. A Associação Brasileira de Tradutores não tem poupado esforços para mudar esse quadro, que busca oferecer o melhor e atender as novas perspectivas sociais.
Contudo, a tradução revela situações inusitadas tanto com a língua de partida quanto com a de chegada envolvida nesse processo. A tradução não depende somente do ato em si, ela necessita de objetivos, olhares motivadores, uma demanda pessoal, profissional ou social. São aspectos que se envolvem para que o trabalho se desenvolva coerentemente. Quem traduz recria, passa de uma língua para outra, transmite seus conhecimentos gramaticais e socioculturais, se adéqua e revela possibilidades entre linhas, tornando assim o homem que atravessa a ponte, que busca e propicia interação entre o país do outro, com o país dele.
2.1.1 Aspectos históricos da teoria da tradução
A história da Torre de Babel narrada no livro de Gênesis no Antigo Testamento é divisora de águas quanto à diversidade linguística. Expõe também a audácia do homem em construir uma torre tão alta para alcançar o céu. Como castigo, fez com que os homens não se entendessem por meio da linguagem, gerando outras novas línguas e por fim, a queda do monumento. Muitos associam essa divisão de línguas como base para a história da tradução, embora, essa arte não tenha começado nesse período.
Os aspectos históricos da teoria da tradução são muito peculiares. Não existe uma linha cronológica marcando os fatos históricos dessa arte. Entretanto, há um confronto entre ideias de pensadores, construídas a partir de documentos como O tratado de agricultura, que aconteceu em Roma no ano de 146 a.C, os Discursos do grego Demóstenes e a Versão dos Setenta que contribuíram para o desenvolvimento dessa linha de pensamento e, na busca pelo conhecimento omitido nas línguas que foram extintas antes da era cristã como os hieróglifos encontrados na Pedra da Rosetta no século II a.C.
As primeiras traduções estão ligadas aos textos bíblicos, que é a tradução da própria Bíblia do hebraico para o grego, do grego para o latim e do latim para mais de duas mil línguas, se tornando o livro mais traduzido e conhecido no mundo.
Segundo Oustinoffi (2011, p.31) “São Jerônimo critica a tradução grega dos Setenta: por ser muito livre, ela é julgada como infiel ao original hebraico. Mas a tradução estritamente literal também é rejeitada por São Jerônimo, de onde há a eventual adoção dos princípios ciceronianos”. Portanto, a teoria da tradução se divide em duas vertentes, de um lado, a tradução dos textos bíblicos e a fidelidade empregada na tradução da forma defendida por São Jerônimo e em outra vertente, a tradução dos textos literários seguindo a linha de pensamento de Cícero. Ambos se contrapõem, mas, se relacionam. Na guerra pelo domínio à tradução se tornara empreendimento massivo do Grego para o Latim, língua essa que dominava assim como o Império que proliferara durante a Idade Média.
Cícero e Horacio (non verbum de verbo, sed sensum exprimere de sensu) produziam as traduções literárias a partir do conceito de imitação. Bassnett (2003, p.84) afirma que “As ditas ‘liberdades’ dos tradutores romanos, muito citadas nos séculos XVII e XVIII, devem ser entendidas no contexto de um sistema global que inclui essa concepção de tradução”. Isso ocorria pela diversidade linguística no qual eles estavam inseridos. O Império Romano gerou o bilinguismo e o trilinguismo entre o Latim falado e o Latim literário.
Outro marco na história da tradução foi o Renascimento. Nesse período histórico, onde o domínio cristão perde forças para as novas Filosofias Sociais e para a Ciência, a Arte da Tradução se renova do Latim para o Francês imitando os antepassados e até mesmo aderindo suas correntes de pensamento como a de Cícero na Idade Antiga, com o intuito de transformar o texto original concordando língua e cultura, assim confirma Oustinoffi (2011, p.35) “Esse terceiro aspecto da tradução, que não se contenta em “verter” palavra por palavra (“verbum de verbo”), ou sentido por sentido (“sensum exprimere de sensu”), mas ainda se permite transformar deliberadamente o texto original no quadro da imitação”. Ainda nesse período é oportuno citar a vantagem dos franceses, sobre os ingleses pela proximidade da Língua Francesa com a Língua Latina. Os britânicos se viam obrigados a recorrer aos textos traduzidos para o Francês, cujo, muitos estudiosos ingleses já dominavam. Isso prejudicava a produção de seu acervo cultural e filosófico, contribuindo para a concentração da França sobre a Inglaterra e para uma confusão entre apropriação, fidelidade e literalidade.
Em meados de 1680 houve uma organização por parte Dryden que descreveu a tradução em três tipos. A primeira dela ele denomina de metáfrase que é a tradução feita palavra por palavra, método defendido por Horácio “Nec verbum verbo curabis redder e, fidus interpres…”. A segunda é a paráfrase, a tradução feita da língua de partida para língua de chegada e a terceira que é a imitação, ou seja, é quando o autor extrai as ideias principais de um texto e, deixa de lado a forma e o sentido. Essa organização veio distinguir um mecanismo ímpar na tradução da Ilíada e da Odisseia, tornando-as mais organizadas no sentido de recriação por meio de alguns gêneros textuais assim afirma:
Dryden distingue três formas de tradução: a primeira é a tradução literal (que ele chama de “metáfrase”); a segunda é a tradução propriamente dita (inicialmente chamada de “paráfrase”, mas rebatizada simplesmente de “tradução” no prefácio de 1697 a suas traduções de Virgílio); a terceira, a “imitação” (posteriormente chamada de “paráfrase”). (OUSTINOFFI, 2011, p.31).
Nos tempos atuais, pode se afirmar que se vive a era da imitação e da recriação organizada por Dryden. Isso se deve a tradução feita no Brasil que chega a pontuar 39% das obras publicadas principalmente, tendo como fonte a Língua Inglesa que desde a segunda guerra mundial se tornou o idioma mais falado no mundo, contribuindo para um desequilíbrio muito grande. Na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos, esse número cai para 4% por conseguinte que, a regra de tradução é estritamente rigorosa nesses países em que os leitores exigem sentir o mesmo prazer, que sentiriam ao ler uma obra produzida em seu país.
Entende-se que os aspectos históricos da tradução acompanha a evolução dos tradutores inserida num tempo e num espaço particular e a partir daí, novas teorias surgiram acompanhando as mudanças filosóficas, literárias, sociais, políticas, econômicas e religiosas. A tradução acompanhara a evolução do homem, pois, ela se tornou tão indispensável quanto qualquer ciência ou qualquer arte, uma vez que é a tradução que torna a arte e a ciência sem fronteiras, levando e dividindo-a com o seu próximo. Portanto, pode-se dizer que seja válido esse confronto entre ideias e ideais produzidos ao longo da evolução humana, assim compreende Gadda citada por Bassnett (2003, p.128) “Pensamos, portanto, que todo sistema é uma rede infinita de relações inextricáveis: o cume pode avistar-se a partir de várias altitudes; e todo o sistema assenta numa infidelidade de eixos coordenados, podendo assumir um número infinito de formas”.
Depreende-se que a tradução em tempos contemporâneos unifica ideias, culturas, filosofias, histórias, políticas e religiões, aproximando ideais que contribuem para o crescimento intelectual do homem que, se torna mais solidário ao contribuir com seu conhecimento por meio do universo inenarrável dos textos. No entanto, dentro desse universo textual existem formas a serem seguidas e sentidos a serem alcançados, saindo de um idioma de partida passando pelo processo de transferência e chegando a outro idioma, acarretando assim os sentidos objetivados nesse seguimento ou não.
2.1.3 A relação entre Língua de Partida e Língua de Chegada.
No processo tradutório, pode-se dizer que a língua verbalizada tanto no aspecto gramatical, quanto no semântico é a matéria-prima nas duas estâncias, ou seja, tanto na língua de partida, a souce language (LP) quanto na língua de chegada, a target language (LC). Isso na visão de Campos (2004, p.8) mostra que “A tradução, enquanto passagem de um texto de uma língua para outra, tem a ver ora com o léxico, ora com a sintaxe, ora com a morfologia da língua da qual se traduz, língua-fonte, e da língua para qual se traduz, língua-meta”.
Para Bassnett (2003, p.39) “O tradutor activa, portanto, critérios que transcendem os puramente linguísticos e ocorre um processo de descodificação e recodificação”, ou seja, o tradutor tendo um objeto, ele primeiramente precisa conhecer e decifrar todos os signos da LP para recodificar um significado na LC que muitas vezes, precisa ser reconstruído no período de transferência para se alcançar um sentido plausível considerando a gramática, o contexto social e cultural das duas línguas envolvidas no caso dessa pesquisa a Língua Inglesa como a LP e a Língua Portuguesa sendo a LC.
Nesse meio a insuficiência pode-se apresentar nas duas bases que sustentam essa ponte denominada tradução. Quando o conhecimento linguístico no processo de transferência não é suficiente, o tradutor precisa inferir sobre o texto buscando recursos que supram essa deficiência que envolve ambas as línguas, ativando a dinamicidade presente na arte de traduzir gerando assim, um produto de qualidade ou ao menos aceitável conforme Oustinoffi (2011, p.55) “O que importa mesmo é a noção de movimento, porque a tradução é uma operação de natureza dinâmica, nunca estática”.
A teoria da equivalência é primordial nessa etapa da tradução. Uma troca de signos equivalentes à outra é a primeira ideia de que se tem do ato tradutório isso, se liga a ideia semântica de cada língua envolvida, sem considerar a pragmática e o gênero textual proposto, que muitas vezes exige mais do que uma troca por equivalência no caso do poema e da poesia. O tradutor deve se atentar as expressões idiomáticas, as figuras de linguagem principalmente a metáfora, ao estilo funcional, a estrutura e função do texto, estar preparado diante destas situações e dominar cada uma delas. Aos olhos de Bassnett, Popovic distingue a equivalência da tradução em quatro tipos:
1) Equivalência linguística, quando existe homogeneidade ao nível linguístico entre os textos da língua fonte e da língua alvo. 2) Equivalência pragmática, quando existe equivalência ao nível dos ‘elementos do eixo expressivo pragmático’. 3) Equivalência estilística quando se verifica uma ‘equivalência funcional de elementos entre o original. 4) Equivalência textual (sintagmática), quando existe equivalência ao nível da estruturação sintagmática do texto (2003, p.53).
Por não haver uma única língua para todos, existe a Arte da Tradução, mas, também nesse processo de transferência da LP para LC existem as perdas e os ganhos nessa balança de dois pratos, onde ha equivalência dinâmica compreendida pela tradutora Eugene E. Nilda. Ela traduzia textos religiosos para os mosteiros, para os leitores religiosos e não para tradutores. Essa dinamicidade se apropria dos conceitos semânticos das duas línguas, ela se apodera dos conceitos culturais, religiosos, sociais e metafóricos que a palavra presa no dicionário não possui.
Essa pesquisa foi desenvolvida na comparação da obra Brokeback Mountain em Língua Inglesa (LP) e o Segredo de Brokeback Mountain em Portuguesa (LC). Aplicou-se toda essa teoria adquirida entre os idiomas envolvidos, considerando a possibilidade da tradução palavra por palavra, sentido por sentido, dinamicidade, as perdas e os ganhos no processo de transferência dessas duas importantes línguas.
O Português é um idioma que originou do Latim e o Inglês das línguas germânicas. Duas bases tão diferentes, mas que se relacionam pelo fato da contemporaneidade e ascensão do Inglês como idioma universal. Por isso, a importância do estudo da Língua de Partida e a Língua de Chegada para se conseguir alcançar à meta deste trabalho que é a comparação da obra Brokeback Mountain em sua língua original (Inglês) e a sua tradução para o português.
2.1.4 Forma versus Sentido
Traduzir um texto implica mais que atravessar uma “ponte”, buscar um conteúdo em outra língua e reescrevê-lo na língua alvo. Segundo Hawkes, observado por Bassnett (2003, p.36) “à semiótica é a ciência que estuda os sistemas, as estruturas, os processos e as funções dos sinais”. Portanto designa-se essa ciência as práticas de tradução pelo fato de a semiótica explorar um signo em todas as vertentes, assim como o tradutor atenta-se a todas as possibilidades de uso de uma palavra.
Roman Jakobson em seus estudos linguísticos e de comunicação classifica a tradução em três espécies. Cada uma com particularidades e focos específicos:
1) A tradução intralingual ou reformulação (rewording) consiste na interpretação dos signos verbais por meio de outros signos da mesma língua.
2) A tradução interlingual ou tradução propriamente dita consiste na interpretação dos signos verbais por meio de alguma outra língua. 3) A tradução inter-semiótica ou transmutação consiste na interpretação dos signos verbais por meio de sistemas de signos não-verbais (2010, p.81).
Como tática de exemplificação, convém citar a obra “Beowulf” de Seams Heaney que é um exemplo da tradução intralingual. O autor do clássico se dedicou ao estudo da versão encontrada na Idade Antiga (Ancient Age), um precioso período da Literatura Inglesa. Essa publicação teve a Língua Inglesa como língua de partida e língua de chegada. Na versão recriada por Heaney, é imprescindível que o leitor minuciosamente leia toda a nota de rodapé para compreender todo contexto histórico e social da época e entender a leitura do poema. Isso se deu devido a constante evolução da língua que acompanha todo processo de transformação histórico e social que os países se submetem.
A proposta dessa pesquisa é a análise comparativa da tradução interlingual do conto Brockeback Mountain de Annie Proulx na língua de partida e O segredo de Brokeback Mountain de Adalgisa Campos da Silva na língua de chegada. É justamente analisar a transposição dos signos e significados atribuídos ou suprimidos nesse processo de tradução.
Para concluir a exemplificação dos três tipos de tradução organizados por Jakobson é pertinente citar o sistema linguístico usado pela comunidade de surdos e mudos. No Brasil esse sistema é conhecido como Língua Brasileira de Sinais. Esse avanço da tradução transmutativa propiciou interação de deficientes antes esquecidos e marginalizados com a sociedade. Além de outros exemplos desse tipo como: a música, a dança, o cinema, as pinturas e as esculturas que também são formas de tradução inter-semiótica, da linguagem verbal para a linguagem não verbal.
A forma e o sentido andam de “mãos dadas”, pois, existe uma relação de dependência entre o signo e o seu significado. Ocorre que em muitos casos em que a forma pode ser alterada, sem prejudicar o sentido. O contexto histórico, os detalhes de uma produção e sua complexidade são interpretados pelos tradutores, para construir um texto coerente com o original, fazendo uma transferência de uma língua em outra sem prejuízo do sentido, mantendo a fidelidade, incorporando ainda o contexto cultural da língua de chegada.
Em sua função cognitiva, a linguagem depende muito pouco do sistema gramatical, porque a definição da nossa experiência está numa relação complementar com as operações metalinguísticas – o nível cognitivo da linguagem só admite, mas exige à interpretação por meio de outros códigos, a recodificação, isto é a tradução (JAKOBSON, 2010, p.88).
Os estudos sobre tradução abordam a problemática que envolve o processo teórico, que consiste na transferência de “sentido”, de componentes linguísticos e não apenas o conhecimento de outra língua, mas também da cultura receptora, que muitas vezes obriga o tradutor a fazer escolhas semânticas que acabam, interferindo no texto original para dar sentido e compreensão à leitura. A transposição palavra por palavra é quase impossível de se compreender.
Compreende-se então que a tradução e o campo linguístico são fortes aliados que os separam da ideia fixa do conceito semântico léxico-gramatical. A fidelidade à gramática não acontece nesse fenômeno linguístico, assim como a Linguística não se incumbe somente aos estudos gramaticais. Essas ciências compreendem a língua, o falante e o contexto em que eles estão inseridos. Para que a forma tenha sentido a quem decodifica os signos utilizados na construção da obra traduzida.
2.2 BROKBACK MOUNTAIN E A FORTUNA CRÍTICA DE ANNIE PROUXL
“I don’t write to inspire social change, but I do like situations of massive economic or cultural change as a background. We think of change as benign, but it chews some people up and spits them out. And fiction can bring about change.”3 Annie Proulx
A Literatura tem um papel importante na sociedade desde o seu surgimento. Envolver, encantar, acalentar, inovar, denunciar, ensinar, criticar e outras tantas mais, são ações na qual ela se incumbe numa prática audaciosa, generosa e até mesmo salvadora do homem e para o homem que vê nela um caminho para transcender suas expectativas, depositar seus medos e anseios, suas aflições. Sentimentos esses que vão desde os mais puros até os mais sórdidos e assustadores. Annie Proulx transcendeu seu tempo em um momento em que o homossexualismo estava se ascendendo socialmente através dos meios de comunicação na década de noventa. Uma de suas maiores produções literárias, Brokeback Mountain retrata o corajoso ato de amor entre dois cowboys em um contexto totalmente viril e sem a menor chance da existência de um sentimento “tão puro”. Amor esse que enfrentou batalhas para prevalecer.
Construir a fortuna crítica da autora foi desafiador, pois, ela não publicou uma autobiografia, expondo sua vida e muito menos é uma escritora presente na mídia. A própria se define para a revista The Paris Review em uma das poucas e minuciosas entrevistas concedidas por ela, como uma pessoa preocupada em aproveitar o dia “I loathe interviews and getting me to sit still for a whole day is unprecented”4(PROUXL, 2009, s.p). Embora o caminho para tal proposta seja provocante, ela se faz indispensável para compreender a linha de pensamento da autora e suas expectativas para com a Literatura até “Brokeback Mountain” e, por conseguinte toda a recepção social e crítica que a obra recebeu.
Edna Annie Proulx é Bacharel em História, formou-se pela University of Vermon, nos Estados Unidos em 1969 e logo depois se tornou mestre pela Sir George Williams University, em Montreal no Canadá no ano de 1973. Foi uma escritora ascídua de artigos em várias revistas e jornais como a Esquire e Country Journal entre a década de 70 e início dos anos 80, pois, acreditava que publicar suas produções neste tipo de veículo, era torná-las mais acessíveis.
Proulx leva uma vida simples durante a infância no campo. Na fase adulta se aventurou pelo urbano, onde aprimorou os estudos e hoje vive no sudeste de Wyoming nos Estados Unidos, aonde mantém contato com a natureza, plantações e atividades agropecuárias que a influenciou em muitas obras que compôs. Até mesmo na escolha dos nomes das personagens, ato esse que aproxima mais a ficção do leitor, fazendo com que ele viva e se envolva no mundo literal, a partir de toda essa singeleza e conflitos sociais que jamais seriam imaginados naquele espaço. “All my life I’ve lived in rural places. My mother was a painter and very much involved with outdoor walks and sketching and so forth. But it was only when I was an adult that the outdoor world became intensely important to me”5 (PROUXL, 2009, s.p).
Proulx é uma leitora fulgaz que goza dos mais diversos gêneros literários. Observadora, atenta e inquieta que investiga o contexto cultural e social dos lugares por onde passa. É pertinente afirmar que a veia jornalística esteja sempre aguçada, farejando possibilidades contextuais para suas criações. Apesar de ter como característica essas artimanhas, ela não utiliza o jornalismo para conseguir ou apoderar-se de informações ao seu redor. Annie usa o seu olhar aguçador de cidadã para narrar situações que precisam de atenção para se tornarem possíveis conflitos em suas obras. No entanto, ser escritora não estava nos planos dela. Quando foi para a cidade, ela desejava ser bem sucedida, mas percebeu que podia ir muito além como escritora no ambiente rural em que vivia. Então, em 1975, ela deixou o Ph.D. program in history at Concordia University no Canadá e passou a se dedicar integralmente à suas produções literárias.
Escritora que quebrou padrões americanos com um jeito particular de escrever. Aos quarenta anos, publicou o seu primeiro romance Postcards. A trama gira em torno de um assassinato camuflado pela luxúria e sustentado pelo suspense de quando e como, ou se o crime será descoberto. Um homem cuja vida está enraizada na sua antiga fazenda onde o exílio parece ser um castigo suficiente. O romance não é uma simples exposição de moralidade. Ele é um guisado de enredos e personagens inteligíveis e com um início instigador mas também muito sugestivo para o desenrolar da trama, o que difere e muito o trabalho da autora de outros autores americanos que trabalharam com o mesmo estilo. Como consequência desta produção, Proulx ganhou o prêmio americano PEN / Faulkner em 1992.
No ano seguinte veio The Shipping News. Uma história que gira em torno de Quoyle, um jornalista que atua em New York e seu pai havia imigrado de Newfoundland. Pouco tempo após o suicídio de seus pais, a infiel e abusada esposa de Quoyle o abandona, sai da cidade com o amante e tenta negociar as próprias filhas com traficantes sexuais. Dias depois, Petal e seu amante morrem num acidente de carro. As filhas são localizados pela polícia e voltam para Quoyle. Apesar de reencontrá-las, a vida de Quoyle entrou em colapso. Sua tia paterna assistindo todo o seu sofrimento de perto, o convence a retornar para a terra natal em Newfoundland e recomeçar a vida. Nem mesmo Proulx (2009, s.p) acreditou no sucesso do seu segundo romance declarou “-your second novel is supposed to be an absolute dud. I was sort of counting on that” para “The Paris Reviw”6.Um trabalho que lhe rendeu os prêmios Pulitzer, National Book Award e o reconhecimento do mundo literário, lugar esse onde ela se consagrou e emocionou com outras inúmeras narrativas que fizeram dela uma das maiores escritoras contemporâneas da atualidade.
Em 1996 Annie lança mais um de seus trabalhos Accordion Crimes. Nesse romance, ela retrata o espaço urbano se afastando do que já estava habituada a fazer. A autora mergulhou no mundo dos emigrantes e tentou compreender o que afastava um homem de seu social. O que fazia um homem abandonar a família, amigos, sua cultura, sua língua e se aventurar num novo país. Uma densa pesquisa foi feita para a produção deste trabalho, mas o que a movia intensamente era conhecer as bases históricas de seu país e trabalhar com épocas diferentes, gerações diferentes e o misto cultural que foi se transformando afirma “Accordion Crimes is probably the best book I’ve written. I like the big sweep of it, and I liked being able to deal with many groups and time periods in this country’s history. Immigration has always interested me”7 (PROUXL, 2009, s.p).
Proulx realiza-se mais em seus contos do que em seus romances, particularmente Close Range: Wyoming stories (1999), Bad Dirt (2004) e Fine just the way it is (2008). Eles, retratam um pouco do lugar onde vive, Wyoming. Revelam a história dos primeiros caçadores, colonos, fazendeiros, guardas de caça, os homens do petróleo que povoam o estado até hoje. Um misto de ficção e cultura local que ganharam o gosto de seus leitores.
Brokeback Mountain (2006) retrata a vida de dois cowboys bem distintos. Jack Twist de Lightning Flat e Ennis del Mar de Sage perto da fronteira de Utah. Ambos oriundos de pequenas fazendas e limitados à educação do campo. Ennis foi criado pelos irmãos depois de serem abandonados pelos pais. Jack saiu da casa dos pais para se aventurar pelos rodeios e realizar seu grande sonho, se tornar um peão famoso. Os dois se veem obrigados a trabalhar para o fazendeiro Aguirre e então sobem a montanha Brokeback para se confinarem aos cuidados de um rebanho de ovelhas.
Um período de trabalho árduo. Mas, em meio a toda asperesa e rusticidade, a bela e encantadora montanha Brokeback se tornaria palco de um sentimento único que uniria os corações e as almas daqueles dois viris e jovens cowboys. Twist apresentara ao puro Ennis uma nova forma de amar e laçara seu solitário coração. Juntos eles viveram intensamente o final daquela estação.
Ao descer a velha montanha, eles se separaram. Ennis estava comprometido com a jovem Alma, com quem se casara no final daquele ano e tivera duas filhas. E Jack seguiu em frente com seu ambicioso sonho de ganhar os rodeios do Texas. Mais tarde conhecera Laurin e também constituira uma família com ela. O tempo passou e ambos com suas distintas vidas e aparentemente bem resolvidas. Até que o amor entre eles superam os limites do racional e eles se reencontraram e alimentaram ainda mais as chamas daquele intenso sentimento que os uniram pelos resto de suas vidas.
Entretanto, a possibilidade de dois peões se amarem era descabível e inaceitável socialmente e, principalmente naquele contexto no qual ambos estavam inseridos. Ennis se conformava em se encontrar com Jack duas ou três vezes no ano para relembrarem os velhos tempos e contemplar a natureza isolados do resto do mundo, mas, Twist queria muito mais que isso. Ele ansiava viver com seu amado em uma rancho na fazenda de seus pais. Acordar e adormecer em seus braços, lutar contra tudo e contra todos em nome do amor que um sentia pelo outro.
O destino mais uma vez interfere e separa-os. Jack Twist morre e Ennis Del Mar vive o resto de seus dias chorando e lamentando um amor repudiado e incompreendido. Um amor que foi marcado pelo preconceito e a intolerância humana. No entanto, esse mesmo amor indigno é o mesmo sentimento que o alimentou com forças para seguir em frente com a certeza de que o coração de Twist fora laçado eternamente por ele.
O Conto Brokeback Mountain foi publicado na revista The New Yorker em treze de outubro de um mil e novecentos e noventa e sete. Era para ser mais um de seus contos acessíveis como ela costuma dizer. O sucesso foi tanto que Annie o reformulou e o agregou a uma reunião de contos compondo o livro Close Range: Wyoming stories. O conto em questão foi nomeado como um O. Henry Prize Story e ganhou o Prêmio National Magazine Award, O Wamsutter Wolf e o Prêmio Aga Khan, além de se tornar um filme.
Sucesso de vendas e críticas no mundo todo. Annie Proulx narrou um tema social que naquele momento a sociedade precisava se informar mais e rever seus conceitos. Annie em entrevista para a The Paris Review disse que esse conto foi o mais difícil e que ela gostaria de não ter feito porque o público não aceitava o final dos dois. Eles queriam que os dois permanecessem juntos, pois, os leitores não entenderam que não se tratava da vida das personagens, mais de uma questão social que ela abordara ali para fazê-los refletir concretiza “They can’t understand that the story isn’t about Jack and Ennis. It’s about homophobia; it’s about a social situation; it’s about a place and a particular mindset and morality”8 (PROUXL, 2009, s.p).
Anualmente Annie costuma cruzar o país de uma ponta a outra, da fronteira canadense até a fronteira com o México. No percurso observava detalhadamente as velhas fazendas, ranchos e casas abandonadas. Toda essa rusticidade e abandono atraíam-na. A partir daí, de toda essa matéria prima adquirida, ela construiu mais uma de suas narrativasThat Old Ace in the Hole em 2002. Nela narrou a vida deDólar Bob, um pequeno fazendeiro que trabalhava com a criação de suínos e estava determinado a expandir o seu negócio e defender o seu espaço. No entanto, ele foi forçado a enfrentar os habitantes idiossincráticos de Woolybucket no Texas e questionar suas próprias noções de lealdade e de lar.
Escrever para Annie vai muito além de demarcar um horário e um local específico. Ela se ocupa de todo o trabalho no rancho onde vive. No entanto, escrever para ela é ter contato com o amanhecer ou o entardecer. É o momento que suas ideias fluem e vão tecendo uma nova narrativa que antes mesmo de começar já foi traçada. Ato corriqueiro em suas produções, ela sabe exatamente onde vai chegar, como vai chegar e o tema no qual ela se propôs. Tanto nos romances que costuma mapear as ideias devido o grande número de conflitos, personagens, clímax e desfechos quanto nos contos.
If I have a style, that’s fine. But I couldn’t say what it is. I don’t consciously cultivate a style. It’s just an outgrowth of who I am. If I could write sentences like Aidan Higgins, I would be a happy person. My God, he’s a stylist master. Absolutely exquisite sentences. But what he doesn’t have is structure, and he doesn’t want it. To me architecture in a story is very important 9(PROUXL, 2009, s.p).
Contudo, o estilo literário de um autor se define pelos seus traços e gênero escolhido. Não só o retrato cultural do meio em que vive, mas no estilo contista e romancista que permeia. Embora ela não se defina como tal, é possível compreender e rotular o estilo de Prouxl. A simplicidade e transparência fazem com que suas produções sejam leves, envolventes mas também permitem notar o faro jornalístico, a preocupação com seu espaço, a fidelidade para com a linguagem e seu contexto socioeconômico. Além de todo seu conhecimento adquirido como leitora que deixa transparecer, ela mostra seu encantamento pela arte expondo uma sensibilidade maior por sua terra.
2.3 ANÁLISE COMPARATIVA DA OBRA BROKEBACK MOUNTAIN COM A TRADUÇÃO DE ADALGISA CAMPOS DA SILVA
O desafio de pesquisar sobre a tradução e seus aspectos propiciou um mergulho profundo nas três bases do curso de Licenciatura plena em Letras: a Gramática, a Literatura e a Linguística. Três pilares aglutinados de uma forma, talvez poucas vezes percebidas durante o processo de formação dos acadêmicos deste curso.
Sabe-se que compreender a arte de traduzir vai, além do simples ato de identificar palavras em uma língua e encontrar palavras equivalentes em outra. Verter é dominar duas línguas, a de chegada e a de partida; é considerar um contexto temporal e social; é transcender uma forma inalterando o sentido proposto; é perceber os traços do autor em suas entrelinhas e é tocar o leitor se igualando ao original.
Segundo Soares (2011, p.9) “Se a tradução é uma leitura atenta de um texto vertido em outra língua, essa leitura é, ao mesmo tempo, analítica e crítica”. O conto Brokeback Mountain requereu do tradutor esse cuidado distinto. A obra é um diálogo entre ficção, contexto social, cultural e as intenções da autora. Nessa fase da pesquisa, foi imprescindível essa dinamicidade analítica, quanto aos conhecimentos léxicos-gramaticais de ambos os idiomas envolvidos, mas, se fez preciso conhecer e reconhecer os traços da autora e sua intenção para com a obra numa leitura crítica.
Existe um adágio popular que diz: “Não se deve julgar um livro pela capa”. Não foi feito aqui, um julgamento. Entretanto, iniciou-se a análise tradutória das obras envolvidas pela capa. O título sendo um elemento atrativo e o primeiro contato com o leitor, traz consigo as primeiras tenções do autor. Pode-se dizer que Brokeback Mountain indique a ideia de lugar. Imagina-se algo que tenha acontecido nos arredores da Montanha Brokeback, por conseguinte que não há um indício ou pista presente no título do que tenha ocorrido lá. Possivelmente, a autora propôs uma localização geográfica imaginária, pois não existe registros da existência dessa montanha. Sabe-se que Wyoming é um dos estados constituintes dos Estados Unidos e também é uma região muito montanhosa e solitária. Portanto, compreende-se que essa região serviu de inspiração para a autora, já que ela tem como característica peculiar de retratar o espaço que a cerca em suas produções literárias como foi discutido no capítulo anterior. Entretanto, ao verter esse elemento textual, Adalgisa Campos da Silva atribuiu um substantivo ao título tornando-o ainda mais instigador. Titular o conto em questão como “O Segredo de Brokeback Mountain” desperta a curiosidade de saber o que pode ter acontecido de tão misterioso naquela montanha, a ponto de se tornar algo tão confidencial. Outro detalhe que desperta atenção ainda no título, é o fato dela não ter traduzido a palavra Mountain que não é um substantivo próprio como Brokeback. Entende-se que a tradutora manteve o mesmo propósito da autora para com o leitor, somado à sugestividade induzida pela palavra “Segredo” que foi adicionado ao título vertido.
A introdução textual oferece para quem lê, motivos o suficiente para se autopropor chegar até o final da leitura. O conto sendo uma produção curta, naturalmente expõe subsídios para isso logo nas primeiras páginas. Para Gotlib (2006, p.13) “A voz do contador, seja oral ou seja escrita, sempre pode interferir no seu discurso. Há todo um repertório no modo de contar e nos detalhes do modo como se conta — entonação de voz, gestos, olhares, ou mesmo algumas palavras e sugestões”. Tudo isso é perceptível desde o primeiro parágrafo da narrativa em análise. Proulx deposita mostra traços rurais despojados de um cowboy rústico. Ela descreve os mínimos detalhes retratando uma situação corriqueira na ruralidade que permeia Ennis del Mar, uma das personagens principais desta obra, para despertar no leitor o desejo de continuar.
Prouxl (2005) | ENNIS DEL MAR WAKES BEFORE FIVE, WIND ROCKING the trailer, hissing in around the aluminium door and window frames. The shirts hanging on a nail shudder slightly in the draft. He gets up, scratching the grey wedge of belly and pubic hair, shuffles to the gas burner, pours leftover coffee in a chipped enamel pan; the flame swathes it in blue (PROUXL, 2005, p.3). |
Campos (2006) | Ennis del Mar acorda antes da cinco, o vento balançando o reboque, assobiando no alumínio da porta e dos marcos da janelas. As camisas dependuradas num prego tremem um pouco na corrente de ar. Ele levanta, coçando a área cinzenta da barriga e pelos pubianos, vai arrastando os pés até o fogareiro a gás passa o café velho para uma panela de esmalte lascada que o azul da chama a envolve (PROUXL, 2006, p.5). |
É conveniente apontar aqui, que a Língua Inglesa possui um número limitado de palavras e verbetes, o que a difere e muito da Língua Portuguesa. Todavia, Adalgisa Campos se apoderou de inúmeros substantivos, verbos, preposições, conjunções, advérbios e outras classes para alcançar a mesma equivalência em seu trabalho. Essa estabilidade tradutória inicial provoca uma sensação de fidelidade ao texto original. Mesmo com essa preocupação a expressão it in blue insinua um estado de espírito, certa melancolia. Ao final do primeiro parágrafo o leitor compreenderá que a narrativa acontece em Finis rés, um texto que começa pelo fim. “He might have to stay with his married daughter until he picks up another job, yet he is suffused with a sense of pleasure because Jack Twist was in his dream”10 (PROUXL, 2005, p.4). A forma como foi traçada essa produção é característica desse gênero textual. A autora deixa transparecer uma sensação delicada e nostálgica em meio a essa narração pormenorizada, fortalecendo assim, a expressão que se mistura ao azul do fogo que envolve a caneca de café, do mesmo modo que o próprio estado de espírito dele, o envolve.
O conto continua com a descrição paralela das personagens como: o ambiente onde eles cresceram, a composição da família e a convivência com a mesma, um pouco da infância de ambos, as dificuldades para formação escolar, os sonhos de cada um e os problemas financeiros que serviram de motivos para que o destino colocasse um no caminho do outro.
3 METODOLOGIA
Este estudo tem como objetivo investigar os aspectos tradutórios presentes na adaptação do conto “Brokeback Mountain” para o cinema, especialmente no que tange às questões de partida e chegada na tradução, e como essas escolhas influenciam a recepção e interpretação da obra no contexto cultural brasileiro. Para isso, adotaremos uma abordagem metodológica que combina análises qualitativas e quantitativas, a fim de compreender as implicações e desafios da tradução entre o texto original e sua versão cinematográfica, com foco nas especificidades culturais e linguísticas.
A pesquisa será dividida em duas etapas principais. A primeira envolverá uma revisão bibliográfica ampla sobre teoria da tradução, com ênfase em estudos que abordam os conceitos de “partida” e “chegada”, fundamentais para a compreensão do processo tradutório. Serão consultados livros e artigos acadêmicos, assim como estudos sobre o impacto das traduções cinematográficas na cultura de chegada. A busca por esses materiais será realizada em diferentes bases de dados, incluindo bibliotecas digitais especializadas e portais de pesquisa acadêmica, como Google Scholar, JSTOR e Scopus, com o objetivo de reunir uma base teórica robusta.
A segunda etapa consistirá na análise da tradução do conto “Brokeback Mountain” para o filme homônimo, examinando as escolhas feitas pelos tradutores no processo de adaptação e como essas escolhas influenciam a percepção do público brasileiro sobre os temas centrais da obra, como o amor, a identidade e os conflitos internos dos personagens. A análise será centrada nas diferenças linguísticas e culturais que surgem durante o processo de tradução, considerando como o contexto de partida (o texto original) e o contexto de chegada (a versão traduzida) impactam a interpretação dos espectadores.
Para embasar essa análise, serão utilizados exemplos concretos do texto original e da adaptação cinematográfica, considerando tanto as transcrições de diálogos quanto as decisões de tradução no processo de legendagem e dublagem. Também serão levados em consideração relatos de tradutores e especialistas da área, a fim de oferecer uma perspectiva prática sobre as dificuldades e soluções encontradas ao traduzir uma obra tão carregada de significados culturais.
Ao final desta pesquisa, espera-se oferecer uma compreensão aprofundada sobre os aspectos tradutórios no caso de “Brokeback Mountain”, destacando como as escolhas de tradução influenciam a recepção da obra em diferentes contextos culturais. A pesquisa contribuirá para o entendimento do papel da tradução na mediação cultural e ajudará a identificar práticas eficazes no enfrentamento das barreiras linguísticas e culturais no processo de adaptação de obras literárias e cinematográficas.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os resultados da análise da adaptação do conto Brokeback Mountain para o filme, com foco nas questões tradutórias de partida e chegada, revelam várias dinâmicas culturais e linguísticas que influenciam tanto a recepção do público quanto a representação dos temas centrais da obra. A pesquisa revelou que as escolhas de tradução e adaptação cinematográfica desempenham um papel fundamental na forma como a obra é recebida no Brasil, pois lidam com as barreiras linguísticas e as diferenças culturais entre o contexto de partida (os Estados Unidos) e o de chegada (o Brasil). A adaptação das expressões idiomáticas e regionalismos presentes no conto original para o português brasileiro exigiu uma cuidadosa substituição por termos mais familiares ao público brasileiro, sem, no entanto, perder a carga emocional ou o tom específico da obra. Em muitos casos, as palavras e frases foram modificadas para que se ajustassem ao vocabulário brasileiro, mas algumas dessas mudanças implicaram a perda de nuances culturais que poderiam alterar a interpretação da obra. Por exemplo, o termo “cowboy”, que no contexto dos Estados Unidos remete a uma figura histórica carregada de simbolismos, foi adaptado para “vaqueiro” na tradução para o português, o que resultou em uma diferença de conotação cultural, pois, no Brasil, o vaqueiro possui um contexto diferente daquele do cowboy americano, relacionado a outras tradições e práticas rurais.
Outro aspecto relevante da pesquisa foi a maneira como o tema da homossexualidade, central no conto e no filme, foi tratado na tradução. O relacionamento homoafetivo entre os personagens Ennis Del Mar e Jack Twist é um dos elementos mais sensíveis da obra, abordando a repressão sexual e os conflitos internos de seus protagonistas em uma sociedade conservadora. A tradução dessas questões no contexto brasileiro envolveu uma cuidadosa adaptação para garantir que o significado emocional e psicológico da história fosse transmitido de maneira eficaz. O Brasil, sendo um país com um contexto cultural e social distinto, onde questões de sexualidade e identidade de gênero frequentemente são tratadas de maneira mais comedida ou até velada, apresentou desafios adicionais. A tradução das falas dos personagens, muitas vezes, precisou suavizar ou modificar termos mais diretos do original para que o público brasileiro pudesse compreender e se conectar com a história sem perder a autenticidade do conflito vivido pelos protagonistas. Uma das falas mais emblemáticas de Ennis, “não sou viado”, por exemplo, foi traduzida de maneira a manter sua agressividade e resistência à ideia de um relacionamento homoafetivo, mas a expressão foi entendida de forma diferente no Brasil, onde, por vezes, é associada à repressão social em vez do conflito íntimo.
A análise também revelou que as versões legendada e dublada do filme apresentaram resultados distintos em termos de como as escolhas de tradução influenciaram a experiência do espectador. A legenda, por ser mais fiel ao texto original, exigiu que algumas frases fossem abreviadas ou adaptadas para respeitar o espaço e o ritmo da tela. No entanto, esse processo de adaptação, embora necessário para a legibilidade, muitas vezes resultou na perda de algumas sutilezas emocionais presentes no texto original. Já a dublagem, ao fornecer uma experiência mais imersiva para o público, demandou mais modificações nas falas para se ajustar ao ritmo da fala brasileira. Essa transformação, embora facilite a compreensão para o público que não está familiarizado com o inglês, também resultou em uma alteração do tom e da intensidade emocional de algumas cenas-chave, uma vez que certas expressões do texto original foram modificadas para algo mais acessível ou fluido no português.
Além disso, a pesquisa demonstrou que as diferenças culturais entre os Estados Unidos e o Brasil também influenciaram a recepção do filme. Embora Brokeback Mountain tenha sido amplamente aclamado internacionalmente, no Brasil sua recepção foi mista. O estudo sugere que a forma como a obra foi traduzida e adaptada para o público brasileiro gerou diferentes interpretações dos temas centrais, como o amor e a masculinidade. A narrativa foi interpretada de maneira mais enfática em relação às questões de masculinidade no Brasil, dado o contexto cultural do país, que muitas vezes associa a figura do homem a uma rigidez emocional, especialmente quando se trata de afetividade entre homens. As traduções e adaptações de certos diálogos, como a resistência de Ennis ao aceitar sua relação com Jack, refletiram essas questões culturais e, ao mesmo tempo, contribuíram para o modo como o público brasileiro se conectou com a obra.
A pesquisa também expôs o papel central da tradução não apenas como um processo linguístico, mas como uma negociação entre culturas, em que os tradutores e adaptadores buscam encontrar um equilíbrio entre fidelidade ao original e a necessidade de transmitir a obra de maneira que o público de chegada consiga se identificar com ela. Esse processo de adaptação não é neutro, pois envolve escolhas que podem alterar a forma como a obra é percebida. No caso de Brokeback Mountain, essas escolhas influenciaram o modo como o público brasileiro entendeu a história, especialmente em relação a questões sensíveis de identidade e sexualidade.
Em resumo, os resultados indicam que a tradução e a adaptação de Brokeback Mountain envolvem desafios significativos, não apenas linguísticos, mas também culturais. As escolhas feitas pelos tradutores e adaptadores influenciam profundamente a recepção do filme no Brasil, destacando a importância de considerar as especificidades culturais e sociais ao realizar uma tradução cinematográfica. A pesquisa sublinha que o papel da tradução vai além da mera transcrição de palavras; ela envolve um processo complexo de transposição cultural que exige uma negociação constante entre os significados originais e os contextos de chegada. A adaptação de Brokeback Mountain para o Brasil é um exemplo claro de como a tradução pode moldar a percepção de uma obra e influenciar a compreensão de suas temáticas no público local.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar tradução permitiu um aprofundamento nessa arte e ver o outro lado dessa forma de expressão que contribuiu para a evolução do homem. Por muitos anos o ato de traduzir foi a chave que propiciou a liberdade do conhecimento para a sociedade. Foi ela que contribuiu para o elo que unificou grandes nações e contribui para seu desenvolvimento no campo político, religioso, econômico, científico e tecnológico.
Conhecer sua historicidade desmistificou o centro de seu surgimento e fez compreender que essa arte não se limita somente as palavras. Ela supera esses limites e é usada na interpretação, até de símbolos que promovem a comunicação. O ato de verter não acontece somente entre diferentes idiomas, mas também nas peripécias que a língua prega quando evolui e precisa de um estudo para sua compreensão.
Nessa pesquisa depreendeu-se que língua de partida e de chegada são dois caminhos paralelos bem distintos, mas que em algum ponto elas podem se cruzar ou tomar sentidos opostos, requerendo do tradutor uma ativação de recursos linguísticos saindo desse campo limitado que é o sintático, e abrindo as portas da semântica para uma equivalência proporcional e mais aceitável.
Estudar um texto também implicou entender primeiro a sua função social, pois é ele que permite o comunicar com o outro. Todavia, o texto possui uma forma que o configura e também o limita. No campo tradutório muitas vezes essa estrutura se torna uma barreira que leva o tradutor a transpor e se infiltrar nas entrelinhas, para atingir o sentido proposto no texto original. Esse transpor cria um jogo que envolve forma, sentido, contexto e muita vezes requer uma reconstrução textual.
Pesquisar o autor do texto da língua de partida foi indispensável, para reconhecer seu estilo e suas tenções principalmente porque se tratou de uma obra literária, que trouxe em suas entrelinhas um rebuscamento particular. Um retrato do seu mundo real quanto aos detalhes espaciais dentro de uma narrativa ora fictícia, ora verdadeira.
Pode-se afirmar que Brokeback Mountain ofereceu subsídios linguísticos, estéticos e semânticos indispensáveis numa linha de pesquisa como essa. O pesquisador se infiltrou não só numa análise da tradução frasal. Ele também viu a necessidade de compenetrar no contexto cultural que cercou a produção da obra literária, para compreender que a autora queria não só narrar a relação entre dois homens, mas também, ver os reflexos sociais que a mesma causaria. Além de entender que a tradutora se limitou e não se aproximou literalmente do conto original por conseguinte que a recepção social do mesmo não foi tão aceitável como no país de origem.
Na análise tradutória das obras envolvidas, percebeu-se uma aproximação muito pertinente quanto a estrutura gramatical, logo, se incita suas peculiaridades. Embora isso ocorresse, identificou-se recursos linguísticos indispensáveis na construção de uma obra literária. Um tratamento as vezes fiel, em outro instante uma certa camuflagem temática. No geral pode-se afirmar que manteve-se o sentido pretendido pela Annie Proulx, autora do texto original. E também na forma, mesmo se tratando de um gênero textual muito abrangente como o conto. Um tipo textual descritivo, com uma estrutura composicional bem articulada e todos esses elementos utilizados no idioma de partida foram explicitados no idioma de chegada.
Para Cortázar (1974, p.153 apud Gotlib, 2006, p.68) “Um conto é significativo quando quebra seus próprios limites com essa explosão de energia espiritual que ilumina bruscamente algo que vai muito além da pequena e às vezes miserável história que conta”. Sendo assim, essa dinamicidade propiciou às obras envolvidas a transposição estrutural, uma vez que retratou um tema delicado que ainda divide opiniões sociais, políticas e religiosas na língua de chegada.
Contudo apreendeu-se muito na união da Literatura, gramática do Português e do Inglês e Linguística de Textos. Esses três pilares que sustentam o curso de Licenciatura Plena em Letras da referida universidade e unidade, abriram margem para a prática das teorias adquiridas ao longo de quatro anos de formação nunca praticada antes. Um amplo estudo da língua foi aplicado e aprimorado durante todo o processo de construção desta pesquisa.
3 “Eu não escrevo para inspirar uma mudança social, mas eu gosto de usar mudanças econômicas ou culturais massiva como fundo em minhas narrativas. Pensamos em mudança benigna, mas algumas pessoas só mastigam e cospem para fora, para o alto. E a ficção pode trazer grandes mudanças. ”
4 “Eu detesto entrevistas e ficar parado um dia inteiro é inaudito.” (PROUXL, 2009, s.p).
5 “Toda a minha vida eu vivi na zona rural. Minha mãe era pintora e muito envolvida com desenhos, passeios ao ar livre e assim por diante. Mas foi na minha fase adulto que o mundo exterior tornou-se intensamente importante para mim “(PROUXL, 2009, sp).
6 “-o segundo romance está propenso a ser um fracasso absoluto. Eu já contava com isso.
7 “Accordion Crimes é provavelmente o melhor livro que eu escrevi. Eu gosto da varredura que traz. Eu gostava de lidar com muitos grupos e períodos da história deste país. A imigração sempre me interessou “(PROUXL, 2009, sp).
8 “Eles não conseguem entender que a história não é sobre Jack e Ennis. É sobre a homofobia; trata-se de uma situação social; trata-se de um lugar, de uma mentalidade particular e também da moralidade “(PROUXL, 2009, sp).
9 Se eu tenho um estilo, isso é bom. Mas eu não poderia dizer o que é. Eu não cultivo um estilo conscientemente. É apenas uma conseqüência de quem eu sou. Se eu pudesse escrever frases como Aidan Higgins, eu seria uma pessoa feliz. Meu Deus, ele é um mestre estilista. Frases absolutamente requintado. Mas o que ele não tem é estrutura e, ele não quer. Para mim, a arquitetura em uma história é muito importante.
10 Ele precisa ficar com sua filha casada, até que ele consiga outro emprego, mas ele está tomado por uma sensação de prazer, pois, Jack Twist estava em seu sonho.
REFERÊNCIAS
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PROULX, Annie. Bakelite (place). Disponível em: www.findingbrokeback.com/Entering_Wyoming/Rail_Track.html. Acesso em: 26/08/2014.
SOARES, Daniel Aldo. Crítica e tradução: a tradução do conto Children of the sea, Edwidge Danicat/Daniel Aldo Soares. – Goiânia: Ed. da PUC Goiás, 2011.
1Graduado em Letras Português/Inglês e Respectivas Literaturas pela Universidade Estadual de Goiás (2014) e em Pedagogia pela Faculdade de Paraíso do Norte (2019). Pós-graduado em nível de Especialização em Ensino de Língua Inglesa pela Faculdade Única de Ipatinga (2018) e em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela Faculdade Brasileira de Educação e Cultura (2019).
2Doutora em Estudos da Linguagem pela UFCAT – Universidade Federal de Catalão. Professora da UEG – Campus Oeste/ São Luís de Montes Belos.