RINOSPORIDIOSE: UMA DOENÇA RARA QUE NECESSITA DE ATENÇÃO

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202501291750


Ana Flávia das Mercês Manduca Soares1,
Ana Therra Manduca Soares Roverssi2


RESUMO

A rinosporidiose é uma doença infecciosa rara, mas de grande relevância clínica, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. Ela é causada pelo parasita Rhinosporidium seeberi, que afeta as mucosas nasais e oculares, sendo mais comum em áreas rurais e aquáticas. A forma ocular da doença, uma das mais frequentes, apresenta manifestações clínicas características, como lesões pediculadas na conjuntiva e globo ocular, podendo levar a complicações graves, como a perda permanente de visão, caso não diagnosticada e tratada precocemente. O tratamento da rinosporidiose ocular é predominantemente cirúrgico, com a remoção das lesões sendo a abordagem principal para erradicar a infecção, sendo, no entanto, necessário acompanhamento contínuo devido à alta taxa de recidiva. Além disso, o uso de antibióticos tópicos como terapias adjuvantes tem mostrado benefícios no manejo da doença. A falta de diagnóstico precoce é um dos principais fatores que contribui para a gravidade das complicações, sendo essencial o reconhecimento rápido dos sintomas iniciais. A conscientização sobre a doença em regiões endêmicas, juntamente com um diagnóstico mais ágil, são fundamentais para evitar complicações graves e reduzir a incidência de casos severos. Estudos futuros devem focar em novas abordagens terapêuticas, métodos de diagnóstico mais eficazes e formas de prevenção mais adequadas. O monitoramento contínuo dos pacientes após o tratamento é crucial para detectar recidivas e prevenir a progressão da infecção. A disseminação de informações sobre a doença pode contribuir significativamente para a redução da carga da rinosporidiose ocular, melhorando o prognóstico dos pacientes e a saúde pública, especialmente nas áreas mais afetadas pela doença.

Palavras-chave: rinosporidiose, Rhinosporidium seeberi, forma ocular, diagnóstico precoce, tratamento cirúrgico, recidiva, antibióticos tópicos, prevenção, saúde pública.

1. INTRODUÇÃO 

A rinosporidiose é uma doença parasitária que apresenta uma ampla gama de manifestações clínicas, o que torna seu diagnóstico um desafio significativo. A infecção é provocada pelo Rhinosporidium seeberi, um organismo que, embora não seja classificado como um fungo verdadeiro, compartilha algumas características com esse grupo. Ele tem um ciclo de vida complexo, passando por formas esporuladas e endosporuladas que se encontram em ambientes aquáticos, como lagos, rios e pântanos, onde ocorre a infecção primária (AZEVEDO, 1958). Este parasita é capaz de invadir as mucosas das cavidades nasais e oculares, frequentemente afetando pessoas que entram em contato com águas contaminadas, como pescadores, banhistas e trabalhadores rurais (DA SILVA et al., 2021).

A rinosporidiose nasal é a forma mais comum da doença e caracteriza-se por lesões polipoides que causam obstrução nasal, secreção purulenta e, em casos graves, sangramentos recorrentes. Quando não tratada adequadamente, a doença pode evoluir para complicações sérias, como deformidades na face devido à proliferação de pólipos, além de infecções secundárias que agravam o quadro clínico (ALMEIDA, 2018). Em casos mais avançados, pode ocorrer comprometimento das vias respiratórias, dificultando a respiração e levando a uma diminuição da qualidade de vida do paciente. A forma ocular, embora menos prevalente, tem sido identificada com maior frequência nos últimos anos, especialmente em áreas endêmicas, e pode causar cegueira irreversível se não for tratada adequadamente (BONI et al., 2002).

A manifestação ocular da rinosporidiose se apresenta principalmente como lesões granulomatosas na conjuntiva, podendo afetar também a córnea e a pálpebra. Essas lesões granulomatosas são frequentemente confundidas com outras patologias oftalmológicas, o que torna o diagnóstico preciso um desafio para os profissionais de saúde. Quando a infecção ocular não é tratada, pode resultar em cicatrizes permanentes, perfuração da córnea e até mesmo perda total da visão (VALLARELLI et al., 2011). A abordagem terapêutica varia dependendo da gravidade da infecção, sendo frequentemente indicada a remoção cirúrgica das lesões para evitar a progressão do quadro. Além disso, o uso de medicamentos antifúngicos e antibióticos adjuvantes é discutido em alguns estudos, mas sua eficácia ainda é um tema de debate entre os especialistas (BENTES et al., 2024).

Em regiões tropicais e subtropicais, onde o Rhinosporidium seeberi é endêmico, a incidência de casos tem aumentado, especialmente em áreas rurais e de difícil acesso, onde as condições de saneamento e saúde pública são precárias. Este aumento pode estar relacionado a fatores ambientais e ao maior contato da população com águas contaminadas, o que eleva o risco de infecção. A falta de diagnóstico precoce e a resistência à terapia convencional também contribuem para o agravamento da doença, especialmente nos casos mais graves (DA SILVA et al., 2021). Dessa forma, é fundamental o aprimoramento dos métodos diagnósticos, como a histopatologia, a cultura do agente etiológico e a reação em cadeia da polimerase (PCR), que têm se mostrado eficazes na identificação do parasita e na diferenciação da rinosporidiose de outras patologias com sintomas semelhantes (SILVA et al., 1975).

O tratamento da rinosporidiose continua a ser um desafio, dado que a doença pode voltar a se manifestar após a remoção cirúrgica das lesões, especialmente se o parasita não for completamente erradicado. Em muitas situações, a excisão das lesões é o único tratamento eficaz, mas recidivas podem ocorrer, o que exige acompanhamento rigoroso e intervenções repetidas. Além disso, a escolha de medicamentos para complementar a remoção cirúrgica não é sempre satisfatória, com poucos estudos comprovando sua eficácia em reduzir a taxa de recidivas (PENAGOS et al., 2021). O controle da doença em áreas endêmicas também depende de medidas preventivas, como o tratamento adequado das fontes de água e a conscientização da população local sobre os riscos associados ao contato com águas contaminadas.

O objetivo deste artigo é revisar os aspectos epidemiológicos, clínicos e terapêuticos da rinosporidiose, com foco nas formas oculares da doença. Através da análise de estudos clínicos e casos relatados, busca-se entender melhor os mecanismos de infecção, diagnóstico e as opções de tratamento disponíveis para os pacientes acometidos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 
2.1 Morfologia e Ciclo Parasitário de Rhinosporidium seeberi

Rhinosporidium seeberi é um organismo de vida livre, geralmente encontrado em ambientes aquáticos como rios, lagos e pântanos, especialmente nas regiões tropicais e subtropicais. Seu ciclo parasitário é único, pois apresenta duas fases distintas: a fase esporulante e a fase vegetativa. Na fase esporulante, o parasita se apresenta na forma de esporos que são liberados na água, podendo ser ingeridos ou aspirados pelas mucosas nasais e oculares dos hospedeiros (AZEVEDO, 1958). Essa fase é crucial para a disseminação da infecção, uma vez que o esporo é o principal agente infeccioso responsável pela transmissão. A infecção ocorre quando os esporos entram em contato com as mucosas, onde se transformam na fase vegetativa.

Após a adesão às mucosas, o parasita se desenvolve e forma massas esféricas, conhecidas como esporas ou nódulos, que podem ser visualizadas clinicamente. Essas estruturas desencadeiam uma resposta inflamatória, caracterizada pela formação de granulomas, que pode evoluir para a fibrose (DA SILVA, 2021). A capacidade de Rhinosporidium seeberi de se adaptar ao ambiente mucoso humano é um dos principais fatores responsáveis pela cronicidade da doença. A inflamação resultante é muitas vezes exacerbada pela continuidade do contato com os esporos, dificultando a eliminação completa do parasita e levando ao agravamento das lesões, especialmente nas formas nasais e oculares.

Durante a evolução da infecção, o parasita pode afetar diversos tecidos, incluindo as vias respiratórias e os olhos. As lesões podem ser agressivas, levando à necrose local e à destruição das mucosas afetadas. No caso da rinosporidiose ocular, por exemplo, o comprometimento da conjuntiva pode resultar em danos permanentes, como perda de visão. A patogênese de Rhinosporidium seeberi também está associada à formação de quistos que, em algumas situações, podem se romper, liberando novos esporos no ambiente e perpetuando o ciclo infeccioso (BONI et al., 2002).

A infecção pode ser exacerbada em ambientes onde há condições propícias para o desenvolvimento do parasita, como águas estagnadas e de baixo fluxo, que são mais comuns em áreas rurais e de difícil acesso. O ciclo de vida do Rhinosporidium seeberi é, portanto, intimamente ligado ao ambiente e à exposição contínua de indivíduos a essas águas contaminadas. Embora o ciclo seja complexo, é fundamental compreender a fase esporulante como ponto crítico na transmissão e na manutenção da infecção.

Por fim, o estudo do ciclo de vida do Rhinosporidium seeberi é essencial para o desenvolvimento de estratégias de controle e prevenção da doença. Embora a infecção seja relativamente rara, seu impacto em determinadas populações, especialmente nas áreas endêmicas, é significativo. Compreender as condições ambientais que favorecem o ciclo do parasita pode ajudar na redução da incidência da doença e na promoção de medidas preventivas, como o tratamento adequado da água e a conscientização sobre os riscos de exposição a ambientes aquáticos contaminados.

2.2 Epidemiologia da Rinosporidiose

A rinosporidiose é uma doença de distribuição geográfica restrita, prevalente principalmente em regiões tropicais e subtropicais, como áreas da América Latina, África e Ásia. Em particular, os países da América do Sul, como Brasil e Argentina, têm registrado uma maior incidência da doença, com casos diagnosticados principalmente em zonas rurais e regiões periféricas (PENAGOS et al., 2021). A exposição a ambientes aquáticos, como rios, lagos e pântanos, é um fator de risco importante para a infecção, uma vez que o parasita, Rhinosporidium seeberi, é encontrado na água e pode ser transmitido por inalação de esporos ou contato direto com as mucosas nasais e oculares.

O aumento dos casos de rinosporidiose em algumas regiões pode estar relacionado a uma maior conscientização sobre a doença, mas também à ampliação da exposição humana a ambientes naturais onde o parasita está presente. Além disso, a urbanização de áreas próximas a corpos d’água, sem a devida infraestrutura sanitária, tem contribuído para o aumento da prevalência. Estudo de ALMEIDA (2018) aponta que, em estados como o Maranhão, a prevalência é maior em áreas periurbanas, onde o acesso a tratamentos de saúde é limitado e a população tem maior contato com ambientes aquáticos contaminados.

Embora os homens, especialmente os agricultores e trabalhadores rurais, sejam mais frequentemente afetados, a rinosporidiose não discrimina gênero ou faixa etária. Há registros de infecção em mulheres e até crianças, com uma prevalência crescente nas últimas décadas. A doença pode ser mais comum em indivíduos que apresentam condições de vida mais precárias e em regiões com menor acesso a sistemas de saúde, onde o diagnóstico precoce é dificultado (VALLARELLI et al., 2011). Estudos epidemiológicos também indicam que a infecção tem maior prevalência em áreas de difícil acesso, como áreas rurais remotas, onde o contato com fontes de água contaminada é mais frequente e onde o controle da doença é mais desafiador.

A transmissão da rinosporidiose ocorre principalmente por inalação de esporos presentes na água contaminada, sendo que os principais fatores de risco são o contato com águas estagnadas ou o manuseio de água não tratada. Embora outros modos de transmissão, como contato direto com lesões, ainda estejam sendo investigados, o contato com ambientes aquáticos continua a ser o principal meio de disseminação do parasita. Estudo de SILVA et al. (2021) destaca que a doença é particularmente prevalente em áreas onde a população tem hábitos de banho em rios e lagos, onde o parasita pode ser facilmente disseminado.

A falta de medidas eficazes de controle e prevenção, como o tratamento da água e a conscientização das populações sobre os riscos, tem contribuído para a manutenção da doença em algumas áreas. A rinosporidiose é uma infecção negligenciada que, embora seja rara, continua a afetar populações vulneráveis em locais específicos. Assim, a implementação de programas de saúde pública para educar sobre os riscos de exposição a águas contaminadas e melhorar o acesso à saúde é essencial para a redução da incidência e para o manejo eficaz da doença.

Em regiões endêmicas, a doença pode ser controlada com medidas simples, como a melhoria do saneamento básico e o incentivo ao uso de água tratada. Contudo, a falta de infraestrutura e a persistência de práticas culturais que envolvem o uso de águas não tratadas dificultam os esforços de controle, tornando a rinosporidiose uma preocupação contínua em algumas localidades. A implementação de estratégias preventivas é fundamental para a diminuição da carga da doença nas populações mais afetadas.

2.3 Rinosporidiose Ocular: Manifestações Clínicas e Diagnóstico

A forma ocular da rinosporidiose é uma das mais frequentemente diagnosticadas, caracterizando-se por lesões granulomatosas na conjuntiva e, em casos mais graves, no globo ocular. As lesões podem se apresentar como massas pediculadas, esféricas ou nodulares, que se destacam na conjuntiva e podem se expandir para áreas adjacentes (BENTES et al., 2024). Embora menos comum que a rinosporidiose nasal, a forma ocular é extremamente relevante, pois, se não tratada adequadamente, pode levar a complicações sérias, incluindo a perda total da visão.

As manifestações clínicas da rinosporidiose ocular incluem sintomas como secreção ocular, dor, sensação de corpo estranho e, em casos avançados, formação de úlceras e cicatrizes na conjuntiva. Além disso, as lesões podem afetar a córnea e a pálpebra, comprometendo a visão e provocando deformidades permanentes. O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações irreversíveis. O exame clínico baseia-se principalmente na observação das lesões e, muitas vezes, é acompanhado de exames laboratoriais para confirmar a presença do parasita.

A biópsia conjuntival e o exame histopatológico são os métodos mais utilizados para o diagnóstico definitivo da rinosporidiose ocular. A presença dos esporos característicos de Rhinosporidium seeberi em tecidos humanos é o critério diagnóstico ouro. No entanto, a rinosporidiose ocular é frequentemente confundida com outras doenças oftalmológicas, como tumores benignos ou malignos e conjuntivites crônicas, o que torna o diagnóstico diferencial desafiador para os médicos. A semelhança das lesões com outras patologias exige um alto grau de suspeita clínica para um diagnóstico correto.

Além disso, a rinosporidiose ocular pode ser confundida com doenças como a vernal conjuntivitis e outras infecções granulomatosas. Isso ocorre principalmente quando as lesões são menores ou quando a doença está em seus estágios iniciais, antes que as massas granulomatosas se tornem evidentes. Portanto, é fundamental que os profissionais de saúde, especialmente os oftalmologistas, estejam atentos às características clínicas da doença, principalmente nas áreas endêmicas, para não confundir a infecção com outras condições oftalmológicas (TZELIKIS et al., 2007).

A diferenciação precisa entre rinosporidiose ocular e outras condições oftalmológicas é crucial para o tratamento adequado. Um diagnóstico incorreto pode levar a tratamentos inadequados, o que agrava o quadro clínico e aumenta o risco de sequelas permanentes. O uso de técnicas avançadas, como a PCR (reação em cadeia da polimerase), tem mostrado promessa no diagnóstico molecular da rinosporidiose, possibilitando a identificação do parasita com maior precisão e rapidez.

Por fim, é necessário que os profissionais de saúde se atualizem sobre as últimas abordagens diagnósticas e terapêuticas para a rinosporidiose ocular, garantindo que os pacientes recebam o tratamento adequado o mais cedo possível. O diagnóstico correto e precoce da doença pode ser a chave para evitar complicações graves e melhorar o prognóstico dos pacientes, além de reduzir os riscos de recidiva.

2.4 Tratamento e Prognóstico

O tratamento da rinosporidiose ocular é predominantemente cirúrgico, com a remoção das lesões granulomatosas sendo a abordagem mais comum e eficaz. A excisão das lesões é realizada em várias etapas, dependendo do tamanho, localização e extensão das massas. Em alguns casos, pode ser necessário realizar múltiplos procedimentos para garantir a remoção completa das lesões e evitar a recidiva da infecção (BONI et al., 2002). A remoção cirúrgica bem-sucedida pode levar à recuperação completa da visão e à eliminação das lesões, mas o risco de recidiva permanece alto, o que exige acompanhamento constante.

Além da remoção cirúrgica, alguns tratamentos tópicos com antifúngicos e antibióticos são frequentemente utilizados como adjuvantes no tratamento da rinosporidiose ocular. Esses medicamentos podem ajudar a reduzir a inflamação local e prevenir infecções secundárias, embora sua eficácia na erradicação do parasita ainda seja discutível. O uso de medicamentos é mais comum nos casos em que a remoção cirúrgica não é possível ou em casos de infecções secundárias graves (VASCONCELOS & MONTE, 1987). Contudo, o tratamento cirúrgico é considerado o principal método de controle da doença, especialmente em formas graves de rinosporidiose ocular.

Apesar do sucesso na remoção das lesões, o prognóstico da rinosporidiose ocular depende de vários fatores, incluindo a detecção precoce, a gravidade das lesões e a capacidade de erradicação completa do parasita. Quando diagnosticada tardiamente, a doença pode causar danos irreversíveis, como a perda de visão e a deformidade permanente da pálpebra e da conjuntiva. O prognóstico é, portanto, muito mais favorável nos casos em que a infecção é identificada e tratada precocemente, com uma abordagem cirúrgica adequada (ALMEIDA, 2018).

Ainda assim, a recidiva é uma preocupação constante no tratamento da rinosporidiose ocular. Muitos pacientes que foram tratados com sucesso inicialmente enfrentam a reincidência das lesões, o que torna o acompanhamento contínuo uma parte essencial do manejo da doença. A recidiva pode ocorrer devido à persistência de esporos no ambiente ou à capacidade do parasita de resistir ao tratamento (VASCONCELOS & MONTE, 1987). Isso significa que o tratamento deve ser prolongado e contínuo, com o paciente sendo monitorado por longos períodos para garantir a eliminação do parasita.

Em termos de prevenção, a redução da incidência de rinosporidiose ocular passa pelo controle da exposição ao parasita, o que envolve o tratamento adequado de fontes de água e a conscientização sobre os riscos da exposição à água contaminada. Em áreas endêmicas, a melhoria da infraestrutura sanitária e o fornecimento de água potável são medidas fundamentais para prevenir a doença. O acompanhamento rigoroso e o tratamento precoce são essenciais para minimizar os impactos da rinosporidiose ocular, evitando complicações graves e melhorando o prognóstico dos pacientes.

3. METODOLOGIA 

A metodologia deste estudo foi estruturada com o objetivo de reunir e analisar informações relevantes sobre a rinosporidiose ocular, com foco nas manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento e prognóstico. Para isso, foi realizada uma revisão bibliográfica abrangente, que envolveu a busca de artigos científicos, teses de doutorado e relatos de casos publicados nas principais bases de dados acadêmicas, como PubMed, Google Scholar e Scopus. As palavras-chave utilizadas na pesquisa incluíram “rinosporidiose ocular”, “Rhinosporidium seeberi”, “tratamento de rinosporidiose” e “diagnóstico rinosporidiose ocular”, visando à seleção dos materiais mais pertinentes sobre o tema.

Além disso, foram incluídos no estudo artigos que abordam a epidemiologia da doença, suas manifestações clínicas em diferentes formas, como ocular e nasal, e os tratamentos mais eficazes relatados na literatura. A análise dos casos clínicos foi feita com base nas informações obtidas desses estudos, permitindo uma comparação entre as diferentes abordagens terapêuticas e o prognóstico dos pacientes afetados pela infecção. Dentre os autores consultados, destacam-se ALMEIDA (2018), BENTES et al. (2024) e DA SILVA et al. (2021), cujos estudos forneceram dados clínicos essenciais para a compreensão do comportamento da doença.

A revisão de literatura envolveu uma análise qualitativa dos artigos selecionados, com ênfase na descrição das manifestações clínicas da rinosporidiose ocular, como as lesões na conjuntiva e o globo ocular, além dos métodos de diagnóstico, como o exame histopatológico. Também foram analisados os tratamentos propostos, com foco nas abordagens cirúrgicas, e os prognósticos dos pacientes que receberam tratamento para a doença. A comparação entre os diferentes estudos permitiu uma visão abrangente sobre as variáveis que influenciam o diagnóstico precoce, o tratamento eficaz e o risco de recidivas.

A pesquisa também envolveu a análise de dados clínicos extraídos de casos relatados na literatura, buscando identificar padrões de evolução da doença e as melhores práticas no manejo da rinosporidiose ocular. Para isso, foram considerados estudos clínicos de diferentes regiões geográficas, com a finalidade de verificar possíveis diferenças na prevalência e nas abordagens terapêuticas. A análise qualitativa permitiu destacar as tendências observadas nos tratamentos, bem como identificar lacunas no conhecimento científico, o que contribui para o entendimento mais aprofundado da doença.

Por fim, a metodologia adotada neste estudo proporcionou uma análise integradora dos dados encontrados na literatura, permitindo uma síntese do estado atual do conhecimento sobre a rinosporidiose ocular. As informações obtidas a partir da revisão bibliográfica e dos casos clínicos analisados serão fundamentais para direcionar futuras pesquisas e aprimorar as abordagens de diagnóstico e tratamento, visando à melhoria do manejo da doença e à redução das complicações associadas à infecção.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

Os dados coletados na revisão de literatura confirmam que a rinosporidiose ocular continua a ser uma doença relevante na prática clínica, especialmente em regiões tropicais e subtropicais. A doença tem sido mais prevalente em áreas rurais e de difícil acesso, onde a exposição ao parasita é mais frequente devido à proximidade com ambientes aquáticos contaminados. O Rhinosporidium seeberi, causador da infecção, possui um ciclo de vida que favorece sua propagação em ambientes aquáticos, o que faz com que populações que frequentam esses locais estejam em risco constante de infecção.

Os estudos analisados demonstram que, apesar de a rinosporidiose ocular ser uma condição rara, ela tem mostrado um aumento na incidência, principalmente em regiões com condições ambientais propícias para a sobrevivência do parasita. A forma ocular da doença é uma das mais comuns, e suas manifestações clínicas podem variar desde lesões superficiais até comprometimentos graves, que podem resultar em perda de visão se não tratados adequadamente. As lesões características da doença na conjuntiva e no globo ocular podem causar inflamação, dor e, em casos mais severos, necrose tecidual.

O tratamento da rinosporidiose ocular, conforme descrito pelos estudos, continua sendo predominantemente cirúrgico. A remoção das lesões por meio de técnicas cirúrgicas é considerada a abordagem mais eficaz para a maioria dos pacientes. A cirurgia visa a erradicação do parasita e a remoção das massas esféricas que se formam nas mucosas oculares. A escolha da técnica cirúrgica varia conforme o tamanho, a localização e a extensão das lesões, sendo que o acompanhamento pós-operatório é essencial para evitar complicações. Em alguns casos, também é recomendado o uso de antibióticos ou antifúngicos tópicos, com o objetivo de complementar o tratamento e prevenir infecções secundárias.

No entanto, um dos principais desafios associados ao tratamento da rinosporidiose ocular é a recidiva. Embora a cirurgia tenha mostrado bons resultados iniciais, a taxa de recidiva é significativa, o que exige um acompanhamento rigoroso e a reavaliação periódica dos pacientes. A recidiva pode ocorrer devido à dificuldade em eliminar todos os esporos do parasita ou à reinfecção, especialmente em regiões onde a exposição ao ambiente aquático contaminado persiste. Esse fator torna o manejo da doença ainda mais desafiador, e a necessidade de monitoramento a longo prazo é uma consideração importante no planejamento do tratamento.

A detecção precoce da doença é, sem dúvida, um dos fatores mais críticos para o sucesso do tratamento. Estudos apontam que quando a rinosporidiose ocular é diagnosticada nas fases iniciais, antes do desenvolvimento de complicações graves, as chances de um tratamento bem-sucedido são consideravelmente aumentadas. O diagnóstico precoce permite a remoção cirúrgica das lesões antes que elas se tornem maiores ou mais profundas, o que pode reduzir significativamente o risco de complicações, como a perda permanente de visão. Além disso, o diagnóstico precoce também possibilita o uso de terapias adjuvantes, como antibióticos tópicos, que ajudam a controlar a infecção de forma mais eficaz.

No entanto, a dificuldade no diagnóstico precoce é um problema recorrente, já que os sintomas iniciais da rinosporidiose ocular podem ser confundidos com outras condições oftalmológicas, como conjuntivite crônica, tumores oculares ou infecções bacterianas. Essa sobreposição de sintomas torna o diagnóstico diferencial um desafio para os profissionais de saúde. O exame histopatológico, que revela a presença de esporos característicos do parasita, é fundamental para a confirmação do diagnóstico, mas nem sempre é realizado de forma precoce, o que retarda o tratamento adequado.

A análise de dados também revelou que a forma ocular da doença é mais prevalente em indivíduos que têm contato constante com águas contaminadas, como pescadores e agricultores, especialmente em áreas rurais e em países tropicais. A maior parte dos casos é encontrada em homens adultos, embora haja registros também de mulheres e crianças afetadas. Isso destaca a importância de conscientizar essas populações de risco sobre as medidas preventivas, como o uso de proteção ao entrar em contato com águas suspeitas, além de fomentar a educação em saúde sobre os riscos da infecção.

Estudos realizados em diversas regiões indicam que a prevalência da rinosporidiose ocular é especialmente alta em locais com acesso limitado a cuidados médicos, o que contribui para a falta de diagnóstico e tratamento precoce. Em países da América Latina, como o Brasil, a doença tem sido mais comum em áreas periurbanas, como relatado por ALMEIDA (2018), com grande envolvimento da forma ocular. A transmissão do parasita ocorre principalmente por meio da inalação de esporos que são liberados na água contaminada e podem ser aspirados pelas vias respiratórias ou entram em contato direto com as mucosas oculares.

Os estudos também sugerem que o uso de antibióticos tópicos, em combinação com a cirurgia, tem mostrado ser eficaz na maioria dos casos, ajudando a controlar a infecção e prevenindo novas lesões. O tratamento antibiótico auxilia na eliminação de qualquer componente bacteriano secundário que possa agravar o quadro, complementando a abordagem cirúrgica. No entanto, a resistência bacteriana e a dificuldade em erradicar todos os esporos do parasita tornam a prevenção de recidivas um desafio contínuo.

Além disso, o prognóstico dos pacientes com rinosporidiose ocular é geralmente positivo quando o tratamento é iniciado precocemente e o acompanhamento pós-operatório é feito de maneira adequada. A maioria dos pacientes apresenta uma boa recuperação, com a remoção bem-sucedida das lesões e a preservação da visão. No entanto, como já mencionado, as recidivas podem ocorrer, exigindo a repetição do tratamento. A persistência do parasita nas mucosas e a reinfecção devido à exposição contínua ao ambiente aquático são fatores que contribuem para essas recidivas.

A análise qualitativa dos estudos revisados também destaca que a falta de conhecimento sobre a rinosporidiose ocular em algumas regiões pode dificultar a implementação de medidas preventivas eficazes. O fortalecimento das políticas de saúde pública, com ênfase na educação das populações em risco e no diagnóstico precoce, é crucial para reduzir a incidência e os impactos da doença. A conscientização sobre a doença, seus sintomas e as formas de prevenção pode fazer uma diferença significativa na redução da prevalência, principalmente em comunidades vulneráveis.

É importante destacar que, apesar dos avanços no tratamento da rinosporidiose ocular, a falta de pesquisas mais aprofundadas sobre a doença, especialmente em relação a métodos alternativos de tratamento e prevenção, ainda limita o controle efetivo da infecção. A investigação de novas terapias e a realização de estudos longitudinais para monitorar o comportamento da doença e a eficácia dos tratamentos disponíveis são áreas que precisam de maior atenção.

Os dados coletados também indicam que o prognóstico dos pacientes com rinosporidiose ocular é melhor quando há uma combinação de abordagem cirúrgica eficaz e o uso de antibióticos tópicos. Esse tratamento combinado oferece um controle mais completo da infecção, com maior chance de recuperação e menor risco de complicações a longo prazo. Entretanto, o acompanhamento contínuo continua sendo uma necessidade para evitar a reincidência da doença.

Em termos de políticas de saúde, é essencial que as autoridades sanitárias adotem medidas específicas para a prevenção e o tratamento da rinosporidiose ocular, com o intuito de minimizar os casos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes afetados. A implementação de programas de saúde pública, incluindo a educação sobre os riscos da doença e o incentivo ao diagnóstico precoce, pode ser um passo importante na luta contra essa infecção.

O tratamento cirúrgico, que é a principal estratégia terapêutica, deve ser realizado por profissionais especializados, com experiência no manejo da rinosporidiose ocular, para garantir que as lesões sejam removidas de forma eficaz e segura. Além disso, a utilização de medicamentos tópicos para complementar a cirurgia tem mostrado ser uma abordagem eficaz na maioria dos casos, mas o monitoramento rigoroso é essencial para garantir o sucesso do tratamento e prevenir novas infecções.

Finalmente, é fundamental que a comunidade médica e os profissionais de saúde se envolvam ativamente na busca por novas formas de tratamento e prevenção para a rinosporidiose ocular. O avanço na pesquisa científica e a disseminação de informações sobre a doença são passos cruciais para o controle dessa infecção e para a melhoria do prognóstico dos pacientes afetados. A combinação de esforços em pesquisa, educação e tratamento é a chave para o manejo bem-sucedido da rinosporidiose ocular.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

A rinosporidiose, apesar de ser considerada uma condição rara, representa um desafio clínico significativo, particularmente nas regiões tropicais e subtropicais, onde a prevalência é mais alta. A forma ocular da doença é uma das mais comumente observadas, com manifestações clínicas que incluem lesões nas mucosas oculares, que podem variar desde lesões superficiais até comprometimentos mais graves, que, se não tratados adequadamente, podem levar à perda permanente de visão. Isso torna o diagnóstico precoce uma condição imprescindível para evitar complicações graves e para um tratamento mais eficaz.

O tratamento da rinosporidiose ocular é predominantemente cirúrgico, com a remoção das lesões como a abordagem principal para erradicar a infecção. Contudo, a taxa de recidiva da doença, que pode ocorrer devido à persistência do parasita ou à reinfecção, demonstra a necessidade de um acompanhamento contínuo após a cirurgia. O monitoramento rigoroso dos pacientes é fundamental para detectar recidivas precocemente e evitar que a infecção evolua para formas mais graves, o que poderia resultar em complicações como a perda da visão.

A literatura indica que, embora a remoção cirúrgica seja eficaz na maioria dos casos, a combinação dessa abordagem com terapias adjuvantes, como o uso de antibióticos tópicos, pode melhorar ainda mais os resultados do tratamento e ajudar a prevenir infecções secundárias. A conscientização sobre a doença em regiões endêmicas é crucial, uma vez que o diagnóstico precoce e a intervenção adequada dependem do conhecimento da população local sobre os sintomas iniciais e os fatores de risco associados à doença. A educação sobre a importância do tratamento precoce pode reduzir significativamente a incidência de complicações graves, além de melhorar a eficácia do tratamento.

O monitoramento contínuo e a revisão periódica dos pacientes tratados são, portanto, essenciais para garantir que a infecção não se reestabeleça. A alta taxa de recidiva observada entre os pacientes com rinosporidiose ocular enfatiza a necessidade de um acompanhamento de longo prazo. Para isso, é importante que os profissionais de saúde, especialmente os oftalmologistas, estejam bem treinados para identificar os sinais de recidiva e agir rapidamente para evitar a progressão da doença.

Estudos futuros sobre a rinosporidiose ocular devem explorar novas abordagens terapêuticas, incluindo o uso de medicamentos mais eficazes ou métodos alternativos que possam complementar a cirurgia, bem como aprimorar as técnicas de diagnóstico precoce. Avanços na pesquisa também são necessários para o desenvolvimento de métodos mais eficazes de prevenção, dado que a doença é mais prevalente em áreas com condições ambientais favoráveis à sobrevivência do parasita. Assim, além da melhoria nas opções de tratamento, políticas públicas de saúde voltadas à prevenção da rinosporidiose ocular podem ter um impacto significativo na redução da incidência da doença e na melhoria da saúde ocular da população.

Por fim, é essencial que os esforços na prevenção e no tratamento da rinosporidiose ocular sejam complementados com a disseminação de informações sobre a doença, a fim de aumentar a conscientização nas comunidades afetadas. A colaboração entre médicos, autoridades sanitárias e a população local pode ser a chave para a redução da carga dessa infecção, ajudando a minimizar seus impactos na saúde pública e garantindo melhores resultados para os pacientes afetados.

REFERÊNCIAS

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AZEVEDO, Paulo Cordeiro de. Rhinosporidium seeberi: considerações sobre morfologia, ciclo parasitária e posição sistemática. 1958.

BENTES, Gilson Lima et al. Rinosporidiose ocular: relato de caso. Brazilian Journal of Health Review, v. 7, n. 1, p. 4140-4144, 2024.

BONI, Eurico Semedo et al. Rhinosporidiosis of the conjunctiva: case report. Arquivos Brasileiros de Oftalmologia, v. 65, p. 103-105, 2002.

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1Acadêmica do Curso de Medicina na Faculdade Presidente Antônio Carlos – FAPAC/ITPAC – Porto.

2Graduação em Medicina pela Faculdade Presidente Antônio Carlos (FAPAC/ITPAC – Porto) (2013). Médica infectologista pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor (IAMSPE). Atualmente Membro da Comissão de Infecção Hospitalar do Hospital Regional de Porto Nacional – Tocantins e Membro da Comissão do Serviço de Atenção Especializada de Porto Nacional – Tocantins.