THE BRAIN AND FUNCTIONAL NEUROPLASTICITY
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/dt10202501281845
Gustavo de Noronha
Orientador: Professor Diego Argentino
RESUMO
A plasticidade neural, ou neuroplasticidade, é caracterizada pela capacidade do sistema nervoso de alterar sua estrutura e função com base em padrões de experiência. Esse fenômeno pode ser avaliado e conceituado tanto de uma perspectiva estrutural que considera a configuração sináptica quanto de uma perspectiva funcional que leva em consideração a modificação do comportamento. A totalidade da reabilitação neuropsicológica, bem como das psicoterapias em geral, baseia-se na crença de que o cérebro humano é um órgão flexível e adaptável que pode se reconstruir em resposta a novas demandas ambientais ou às restrições induzidas por lesões cerebrais. Considerando esse conceito como se dá a neuroplasticidade funcional? Uma vez que a unidade acionada não está mais centrada nos neurônios, mas é concebida como uma extensa rede de conexões sinápticas entre unidades neuronais, além das células gliais, pode mudar de acordo com a experiência pessoal, ou seja, do nível de atividade e o tipo de estímulo recebido. O cérebro humano é constituído por cerca de 100 bilhões de neurônios. Segundo pesquisadores, acredita-se que a neurogênese, ou a produção de novos neurônios, limita-se após o nascimento. Diante desse conceito a presente pesquisa, busca analisar o cérebro e a sua neuroplasticidade funcional. Visto que, a restituição acionada é enfatizada no início e a compensação adquire maior relevância com o tempo. Uma perspectiva do desenvolvimento também é útil, ajudando a identificar as trilhas em que a autorrealização permanece viável. Todo o processo de reabilitação neuropsicológica, e psicoterapia em geral, baseia-se na crença de que o cérebro humano é um órgão dinâmico, adaptável, capaz de se auto agir em resposta a novas demandas ambientais ou limitações funcionais impostas pela lesão cerebral. Esta pesquisa analisa conceitos de mecanismos de lesão examinando o impacto da recuperação funcional na reabilitação neuropsicológica a partir de uma perspectiva dinâmica da correlação entre estrutura e função cerebral. A metodologia utilizada se deu de cunho qualitativo por meio de artigos acadêmicos e referências bibliográficas.
Palavras chaves: Neuroplasticidade. Reabilitação. Restituição funcional. Neurônio pré-sináptico e pós sináptico.
THE BRAIN AND FUNCTIONAL NEUROPLASTICITY
ABSTRACT
Neural plasticity, or neuroplasticity, is characterized by the ability of the nervous system to change its structure and function based on patterns of experience. This phenomenon can be evaluated and conceptualized both from a structural perspective that considers the synaptic configuration and from a functional perspective that takes into account behavior modification. The entirety of neuropsychological rehabilitation, as well as psychotherapies in general, is based on the belief that the human brain is a flexible and adaptable organ that can rebuild itself in response to new environmental demands or the restrictions induced by brain injuries. Considering this concept, how does functional neuroplasticity occur? Since the driven unit is no longer centered on neurons, but is conceived as an extensive network of synaptic connections between neuronal units, in addition to glial cells, it may change according to personal experience, i.e., the level of activity and the type of stimulus received. The human brain is made up of about 100 billion neurons. According to researchers, it is believed that neurogenesis, or the production of new neurons, is limited after birth. Given this concept, this research seeks to analyze the brain and its functional neuroplasticity. Whereas, triggered restitution is emphasized at the beginning and compensation acquires greater relevance over time. A developmental perspective is also useful, helping to identify the pathways in which self-actualization remains viable. The entire process of neuropsychological rehabilitation, and psychotherapy in general, is based on the belief that the human brain is a dynamic, adaptable organ, capable of self-acting in response to new environmental demands or functional limitations imposed by brain injury. This research analyzes concepts of injury mechanisms by examining the impact of functional recovery on neuropsychological rehabilitation from a dynamic perspective of the correlation between brain structure and function. The methodology used was qualitative through academic articles and bibliographical references.
KEYWORDS: Neuroplasticity. Rehabilitation. Functional restoration. Presynaptic and postsynaptic neuron.
INTRODUÇÃO
O cérebro avalia e integra as informações do ambiente externo e interno, e compara os dados resultantes com rastreamento de memória para criar representações complexas (multimodais) das diversas situações enfrentadas pelo indivíduo e suas complexidades com o repertório mnéstico. O cérebro cria informações integradas onde elabora e executa planos de ação voltados para o atendimento das necessidades individuais a causa e o motivo do efeito geral da atividade cerebral é a manutenção do organismo, que ocorre por meio de vários instintos básicos e dos reflexos condicionados que surgem desses pressupostos.
Vale salientar que, a força da conexão sináptica entre dois neurônios pode ser modificada com base em seu nível de atividade. O processo conhecido como lei de Hebb, coloquialmente referido como “construção muscular sináptica”, é caracterizado pela identificação de coincidências temporais em descargas neuronais. Quando dois neurônios exibem atividade ao mesmo tempo, suas conexões são fortalecidas. Por outro lado, se apenas um neurônio estiver ativo durante um determinado intervalo, suas conexões serão enfraquecidas.
Todo o percurso da reabilitação neuropsicológica e da psicoterapia em geral tem demonstrado que o cérebro humano é um órgão dinâmico, adaptável e capaz de se reconfigurar em resposta a novas exigências ambientais ou constrangimentos funcionais.
Tendo em vista esta estimativa, este estudo está dividido em três capítulos, cujo primeiro refere-se à neuroplasticidade: uma visão histórica conceituando a funcionalidade neural e suas evoluções. O segundo capítulo descreve a importância da neuroplasticidade na reabilitação do cérebro, através da qual é possível controlar e executar todas as ações do cérebro como um dos principais órgãos do ambiente de trabalho para desenvolver habilidades e respostas efetivas, mas à medida que ocorre dano cerebral, a atividade neural pode ser prejudicada. O terceiro capítulo retrata da neuroplasticidade: a busca de novos caminhos onde aponta que o cérebro adulto pode formar novas células, enquanto neurônios não danificados podem produzir novas terminações nervosas para se conectar a outras células.
Assim, a plasticidade neuronal pode ser vista como a capacidade do cérebro de restaurar a função por meio da proliferação neuronal, migração e interações sinápticas, enquanto a plasticidade funcional descreve até que ponto a função pode ser restaurada por meio de mudanças nas estratégias comportamentais. Esse fenômeno pode ser um mecanismo de reparo endógeno, como: O cérebro tenta minimizar a perda de células nervosas.
A metodologia utilizada para realização desta pesquisa, se deu de forma qualitativa através de referências bibliográficas e artigos científicos.
1. Neuroplasticidade: Uma visão histórica
Assim, a neuroplasticidade é definida como a capacidade de alterar a estrutura do sistema nervoso. Funciona como resultado de padrões de experiência. Por muitos anos, a localização de áreas cerebrais era inexorável, ou seja, doutrina da implementação estritamente modularizada das funções mentais em circuitos neurais específicos que desviou a atenção de clínicos e pesquisadores do potencial de recuperação funcional após lesão cerebral.
É também conhecida como maleabilidade cerebral com alta aptidão de se adequar perfeitamente a mudanças. Esse termo é relacionado à capacidade do sistema nervoso de replicar estímulos endógenos ou exógenos remodelando ou reorganizando a estrutura e função do cérebro expandindo as redes neurais. No entanto, o indivíduo que sofre danos cerebrais, podem vir até alterações estruturais no cérebro.
A flexibilidade cerebral é essencial para nos ajustarmos às alterações no funcionamento do corpo, sobretudo diante de novos aprendizados e estresse ambiental. Vale salientar que, novas experiências resultam em novidades neurais entre as células que caracterizam o sistema nervoso, responsáveis por transmitir impulsos ao cérebro adaptando-o a novas situações.
A neuroplasticidade é um processo diário que incentiva e incita a capacidade do cérebro de se modificar conforme a necessidade, estímulo e ambiente. Como qualquer processo de psicoterapia, a reabilitação neuropsicológica pode ser vista como um método de aprendizagem.
As redes neurais conexionistas, ou processamento paralelo distribuído, fornecem uma representação psicológica contemporânea de como funcionam os sistemas altamente complexos representados pelo cérebro humano. A possibilidade de modificação sináptica decorrente de correlações de atividade espacial e predominantemente temporal representa um renascimento de ideias associativas, para as quais existe atualmente uma grande documentação experimental.
Buscando sumarizar as recentes descobertas na área da plasticidade adulta, destacou que existem demonstrações claras e consistentes da reorganização de mapas sensoriais através de manipulação sensorial e outras atividades neurais; esta capacidade de reorganização pode ser uma propriedade fundamental do sistema nervoso adulto e não apenas do sistema nervoso em fase de desenvolvimento. Além do mais, essa plasticidade pode abranger os vários níveis do sistema nervoso, do cortical ao subcortical, sendo que os mapas sensoriais nos diversos níveis do sistema nervoso diferem na maneira em que representam uma mesma superfície sensorial. (BENTON, TRANEL, 2000. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?hl=pt- BR&lr=&id=0Cm0PoI-7RMC&oi=fnd&pg=PR11&dq#v=onepage&q &f=false> Acesso em: 28 maio de 2023).
Existem cinco tipos de neuroplasticidade, são elas: plasticidade regenerativa, somática, axonal, dendrítica e sináptica. A primeira refere-se à plasticidade que recupera a função axonal devido ao novo crescimento de axônios danificados, e este processo é mais proeminente nos nervos periféricos. No caso de danos, dependendo do grau, de compressão vascular e da complexidade do problema, é possível uma plasticidade regenerativa e um retorno gradual às atividades cotidianas sob a supervisão de especialistas. No entanto, há lesões que comprometem severamente a estrutura de sustentação, desencadeando uma resposta inflamatória à lesão, impedindo a regeneração dos axônios que compõe esse conjunto.
A somática, é um tipo de neuroplasticidade que ocorre no período embrionário, a fim de construir um sistema nervoso e, portanto, não sujeito à influência do ambiente externo. Também está relacionado com a regulação, proliferação e morte de neurônios. A neuroplasticidade somática é importante para o equilíbrio do organismo, principalmente durante a formação do embrião, pois algumas estruturas neurais são confeccionadas provisoriamente para que o processo ocorra de forma fisiológica. Os axônios ocorrem entre o nascimento e continuam até os dois anos de idade.
Este processo é muito importante porque o sistema nervoso ainda está em desenvolvimento. À medida que a criança recebe novos estímulos externos, como experiência e aprendizagem, ocorre a formação e extensão de novos axônios, além do aumento da sociabilidade.
Os dendritos são pequenos ramos de neurônios, estruturas básicas para receber estímulos nervosos. Quanto mais esticados os neurônios, maior a neuroplasticidade. O número de conexões formadas reflete o aumento do conhecimento, a integração do conhecimento e um novo pensamento sobre as funções neurológicas perdidas em grandes lesões.
As sinapses são os meios de comunicação entre os neurônios, logo, se forem mais intensos, a função neuronal será ainda mais eficaz. Nesse sentido, a maleabilidade sináptica fortalece ou enfraquece as conexões neurais a certa superioridade de adaptação fisiológica, onde anteriormente, eram conhecidas como sinapses de Hebb, esse tipo de plasticidade é uma das chaves para melhorar a função cognitiva ou recuperar áreas importantes do cérebro. como percepção de fala e compreensão de palavras.
2. A importância da neuroplasticidade na reabilitação cerebral
As lesões do sistema nervoso central (SNC) deixam sequelas cuja gravidade depende do local acometido, da extensão da lesão e do estado físico geral do indivíduo. Como o SNC regenera pouco ou nada, a busca por novas estratégias terapêuticas é importante porque, embora o desempenho comportamental possa ser parcialmente restaurado, as melhorias funcionais observadas após a lesão devem-se a fenômenos de plasticidade sináptica e não ao reparo estrutural. Apesar da elevada relevância médica do AVC, atualmente não existem tratamentos específicos para este tipo de lesão.
Portanto, o estudo da lesão e regeneração do sistema nervoso é importante para o desenvolvimento de tratamentos futuros.
Tradicionalmente, a reabilitação tem sido o foco do tratamento de pacientes com AVE baseia-se no tratamento de déficits neurológicos primários, como fraqueza muscular e perda de coordenação, usando exercícios guiados. Após receber alta do centro de reabilitação, 60-80% dos pacientes com AVC são capazes de andar de forma independente.
No entanto, a recuperação motora da extremidade superior continua a ser um desafio neutro de reabilitação. Na área motora a perda de função da extremidade superior é consequência frequentes e incapacitantes.
Mais de 85% dos indivíduos apresentam inicialmente um déficit motor no membro superior afetado, sendo que a recuperação funcional é reportada em somente 25 a 35% dos indivíduos para melhor compreender o impacto do AVE, é importante incorporar medidas avaliativas das incapacidades provocadas por esta doença. No córtex sadio, o equilíbrio da interação entre os hemisférios cerebrais, via corpo caloso, é necessário para a produção de movimentos voluntários normais. Após uma lesão unilateral, ocorre uma modificação deste equilíbrio resultando em hiperexcitabilidade do córtex motor não afetado. O hemisfério intacto passa a exercer ação inibitória sobre o hemisfério lesado, provocando assim o fenômeno denominado inibição inter hemisférica. (Filippo TRM, Alfieri FM, Cichon FR, Imamura M, Battistella LR, 2015 p. 93).
Entre os hemisférios cerebrais, através do corpo caloso, é necessário para o movimento voluntário normal. Após lesão unilateralmente, esse equilíbrio é alterado, levando à superexcitação do córtex motor não afetado. A inibição do hemisfério danificado começa produzindo um fenômeno conhecido como inibição inter-hemisférica. Uma estrutura para o desenvolvimento de duas conjecturas é fornecida pelo modelo de desequilíbrio inter-hemisférico. O primeiro regula positivamente a excitabilidade da parte intacta do hemisfério ipsilateral na área do córtex motor, e o segundo regula negativamente o córtex motor contralateral para modular sua inibição na área ipsilateral. Inclui estimulação cerebral não invasiva, como estimulação magnética transcraniana repetitiva (rTMS) e estimulação transcraniana por corrente contínua (tDCS).
A viabilidade e a eficácia de uma abordagem de estimulação bi hemisférica em pacientes com AVE crônico. As mudanças no índice da assimetria hemisférica do córtex motor estavam correlacionadas com mudanças na escala de Wolf Motor Function Test (WMFT). Esta significativa correlação entre comportamento e imagem fortaleceu a hipótese de que a atividade de modulação do córtex motor com simultâneas atividades sensório-motoras e periféricas leva a uma melhor reorganização funcional do córtex motor ipsilesional. (LINDENBERG et al, 2010 p. 75).
Poucos estudos avaliaram a neuroplasticidade na reabilitação pós-AVC, e a maioria mostrou melhorias tanto na função quanto na plasticidade neural. Para melhorar a eficácia do processo de reabilitação, as terapias farmacológicas, biológicas e eletrofisiológicas que melhoram a neuroplasticidade precisam ser mais exploradas para estender a reabilitação após o AVC.
3. Neuroplasticidade: A busca de novos caminhos
Novas pesquisas estão ocorrendo para melhor compreensão da neuroplasticidade e seus mecanismos de recuperação funcional e dos fatores associados às diferenças individuais. Vale salientar que o processo temporal da informação pode desempenhar um papel importante nos mecanismos de neuroplasticidade fortalecendo a importância do papel que os microcomputadores podem desempenhar no processo de reabilitação, a entrega de estímulos e o registro de respostas podem ser controlados automaticamente.
Tanto as novas abordagens conceituais quanto os dados empíricos estão gradualmente possibilitando novas visões do sistema nervoso como um órgão dinâmico que forma uma unidade funcional com o corpo e o ambiente e que se caracteriza por uma plasticidade que se manifesta em formas estruturais em ambientes variáveis.
Estas novas concepções sugerem um equilíbrio muito sutil entre fatores genéticos e ambientais na determinação no desenvolvimento e do comportamento. Se, por um lado, as características genético-constitucionais restringem o repertório de comportamentos possíveis, por outro lado, a experiência individual, sob a forma de processos de aprendizagem e recuperação funcional, regula os mecanismos de expressão gênica (KANDEL, 1998 p.457).
Ao mesmo tempo, as ações do organismo alteram o ambiente, buscando adequar as contingências às suas necessidades. Muitas vezes, os resultados disponíveis podem não ter relevância clínica direta, mas indicam um caminho a seguir para a pesquisa.
Há evidências recentes que sugerem que aprender uma nova atividade independente de ser motora, possibilita a construção de uma nova mielina. Vale salientar que existem diversas atividades além de exercícios físicos, pois existem ambientes estimulantes cognitivamente que podem promover a reestruturação cerebral e melhorar seu desempenho além de estimular a maleabilidade.
Portanto, ainda há muito a ser descoberto sobre a neuroplasticidade e os mecanismos pelos quais o cérebro compensa a inflamação e a neurodegeneração. Estudos posteriores buscarão identificar as estratégias de exercícios mais eficazes para promover a neuroplasticidade.
“Em resumo, considera-se que tal como o ambiente diferencia e modela a forma e função das respostas de um organismo, a interação organismo-ambiente também diferencia e molda circuitos e redes neurais. Cada indivíduo tem um padrão comportamental característico, resultante de sua história pessoal de reforçamento, assim como tem um sistema nervoso com características próprias, resultantes também de sua história de interação com o ambiente externo”. (KANDEL, HAWKINS, 1992 p. 78).
3.1 A plasticidade Neuronal após processos lesionais
Modelos de reabilitação em neuropsicologia devem ser baseados no conhecimento dos mecanismos de recuperação funcional após lesão cerebral conforme demonstra a tabela abaixo:
Tabela 1 – Mecanismos de recuperação funcional após lesões cerebrais
Diásquise | Depressão funcional transsináptica Supersensibilidade (pós-sináptica) de desnervação e/ou hiperatividade pré-sináptica. |
Reativação de aferências inativas | Preservação de colaterais |
Restituição por brotamento regenerativo | Colateral |
Representação vicária | Substituição funcional |
Substituição comportamental |
FONTE: POPPEL e VON STEINBUCHEL 1992 – KERTESZ 1993 – HENNIGSEN e ENDE-HENNINGSEN, 1999.
Ao longo do desenvolvimento da medicina, pensava-se que os neurônios não se regeneravam, mas pesquisas mostraram que, além de acontecer, o processo é fisiológico e pode melhorar significativamente a vida dos pacientes. Assim, neurologistas e neurocirurgiões monitoram a neuroplasticidade com exames precisos e técnicas avançadas para intervenções que auxiliam na recuperação neuronal ou reduzem sequelas antes impossíveis.
Pesquisa desenvolvida na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) comprova que pacientes que sofrem de transtorno do stress pós-traumático apresentam uma redução de 8% a 10% em duas regiões do cérebro – córtex pré-frontal e hipocampo -, o que compromete a capacidade de concentração, raciocínio e memória. Estudos anteriores haviam identificado o fenômeno em pacientes com quadros psiquiátricos graves, mas é a primeira vez que a análise foi feita em uma amostra da população comum. Foram entrevistadas 2.700 pessoas, entre 15 e 75 anos, de diferentes regiões da cidade de São Paulo. Descobriu-se que 80% já haviam sido vítimas de violência ou vivenciado um trauma e, destas, cerca de 15% desenvolveram o transtorno”. TOLEDO, 2019 Disponível em: <https://www.estadao.com.br/emais/traumapodemodificarcerebro/#:~:text=Pesquisa%20desenvolvida%20desevolvida%20na% 20Universidade%20Federal,de%20concentra%C3%A7%C3%A3o%2C%20racioc%C3%ADnio%20e%20mem%C3%B3ri a.> Acesso em: 02 jun. 2023.
Uma crítica a esse tipo de pesquisa é que alterações cerebrais foram encontradas em pacientes hospitalizados com doença grave e, portanto, não estão relacionadas com o transtorno. Já esta é uma mostra mais próxima da realidade. Os entrevistados foram enviados para o Prove e divididos em dois grupos – aqueles que desenvolveram stress pós-traumático e os que não desenvolveram.
O que foi notificado é que alterações cerebrais foram confirmadas por ressonância magnética levando há gerar duas hipóteses cuja primeira é que poderia ocorrer desequilíbrios hormonais nos níveis de cortisol que estão associados ao estresse levando a atrofia de certas áreas do cérebro porque são muito sensíveis a substâncias. E a segunda seria que esses indivíduos poderiam apresentar alterações cerebrais antes, o que as tornariam mais propensas a desenvolver estresse pós-traumático, nesse caso, a genética estaria envolvida.
O tratamento adequado pode, portanto, melhorar os sintomas e até mesmo reverter os efeitos no cérebro, dizem os médicos. Após a lesão nervosa, os processos patológicos fazem com que as células sobreviventes liberem aminoácidos e neurotransmissores, tornando-as mais excitáveis e vulneráveis, ocorrendo uma cascata bioquímica complexa podendo resultar em morte por necrose celular.
Um cérebro lesionado quando não passa por tratamento pode no futuro apresentar desequilíbrio nos íons de cálcio e induzir o influxo em células nervosas, o que levará à ativação de enzimas tóxicas, resultando em morte neuronal ou em outros casos, rupturas de vasos sanguíneos e até isquemia cerebral, o que reduz a quantidade de oxigênio e glicose necessários para manter a vida das células.
“A depender do grau de lesão cerebral, o estímulo nocivo pode dar ensejo à necrose das células nervosas, ocasionando a ruptura da membrana celular e a liberação de seu material intracitoplasmático, que podem lesar o tecido vizinho. Ademais, é possível que haja o desencadeamento de apoptose, que é um tipo de “autodestruição celular”, no qual não haverá a liberação de substâncias pró-inflamatórias, evitando, assim, a agressão de outras células”. (LINDEN, 1996 p. 20).
Ocorrendo uma lesão os mecanismos de reparação e reorganização começam a atuar de forma imediata, que podem ocorrer de várias maneiras, dentre as quais citamos (i) a recuperação da eficácia sináptica; (ii) a potencialização sináptica; (iii) o aumento da sensibilização das células desaferentadas; (iv) a persistência de inervação; (v) recrutamento de sinapses que estavam inativas; (vi) brotamento regenerativo; (vii)brotamento de colaterais; e (viii) Adaptação. (PRESTES, 1998 p. 35-36).
A reestruturação e reabilitação do sistema nervoso são fundamentais para a sua recuperação. O que todos têm em comum é o objetivo de restaurar a função cerebral em áreas específicas. Para isso, é necessário oferecer os impulsos adequados ao sistema nervoso para que ele possa funcionar de maneira correta no sentido de processar e armazenar informações e integrar-se adequadamente com outras áreas.
A terapia reparadora cerebral requer atenção às informações fornecidas ao paciente para que sejam relevantes e favoráveis à estimulação positiva e consequente reestruturação neural.
Além disso, deve-se notar que não há limite de idade para o uso de intervenções terapêuticas neste contexto, mas há evidências de que quanto mais velha a pessoa, menos eficientes são os mecanismos de regeneração cerebral.
3.2 A Estimulação Precoce e Neuroplasticidade
No curso do desenvolvimento humano, ocorre a chamada circuncisão neural. A primeira e mais importante circuncisão ocorre, em média, aos três anos de idade. Ao nascer, o cérebro, como a criança ainda não sabe que rumo tomará seu estilo de vida, é projetado para se desenvolver em todas as áreas básicas do cérebro (neurônios, passando informações de um neurônio para outro), as famosas sinapses que carregam e continuo a descobrir o mundo à minha volta.
Nessa fase, as crianças têm o dobro de ramificações que os adultos, como se o cérebro estivesse criando uma “reserva extra” para o aprendizado. Com o passar dos anos, alguns ramos são mais utilizados do que outros, enquanto os demais ramos passam por essa poda, e os neurônios não utilizados pelo corpo são naturalmente descartados para dar lugar a outros ramos.
As sinapses que são úteis para uma pessoa e estimuladas com frequência são reconhecidas pelo cérebro como importantes, então as informações são consolidadas nesse circuito neural em forma de memória. Isso significa que, se uma criança é exposta a novas oportunidades de aprendizado, ela tende a fortalecer mais os circuitos neurais e reter mais informações em sua memória, o que pode ser muito importante ao longo de seu desenvolvimento.
A poda de neurônios ocorre ao longo da vida, integrando constantemente novos conteúdos. No entanto, a infância é a fase mais importante e crítica do desenvolvimento humano, dada a organização global do cérebro que existe durante os primeiros anos de vida. Assim, se uma criança apresenta atrasos em determinadas áreas do desenvolvimento desde tenra idade, é aconselhável iniciar a intervenção precoce o mais cedo possível. Envolva-se em várias atividades que melhorem o potencial da criança e desenvolvam a criança no domínio socioemocional, melhora as habilidades cognitivas, de linguagem e motoras e facilita a aquisição de novas habilidades nos primeiros anos de vida, fundamentais para o desenvolvimento global.
“A estimulação precoce é uma ciência baseada principalmente nas neurociências, na pedagogia e nas psicologias cognitiva e evolutiva, é implementada através de programas construídos com a finalidade de favorecer o desenvolvimento integral da criança”. (NAVARRO, 2008, p.5).
O aprimoramento antecipado é uma das mais importantes formas de intervenção que, com base em observações e escalas, aumenta a eficácia e eficiência do indivíduo permitindo o desenvolvimento de um plano de ação que visa, ao vincular o organismo e o meio, sob os princípios da neuroplasticidade.
“De 1990 a 2019 no mundo, houve acréscimo significativo no número absoluto de casos de AVE: aumento de 70% na incidência, de 102% na prevalência e de 43% nos óbitos. É notório que os pacientes residentes em países de menor renda constituem maior taxa de mortalidade nesse período (FEIGIN et al., 2022).
No entanto, existe uma área de tecido ao redor da lesão denominada reparo isquêmico que fornece sangue suficiente para os neurônios sobreviverem, no entanto, para manter a função celular esse processo não é suficiente onde alguns neurônios são funcionalmente silenciados, mas estruturalmente intactos e potencialmente recuperáveis.
Pacientes que sofreram um derrame dos grandes vasos perderão 120 milhões de neurônios por hora em comparação com a taxa normal de perda durante o envelhecimento. Um cérebro isquêmico envelhece 3,6 anos por hora se um derrame não for tratado. Com a estimulação precoce, é possível estimular a neuroplasticidade para apoiar mudanças nos circuitos neurológicos nas áreas cinzentas sensoriais e áreas motoras do cérebro.
Graças a esses estímulos precoces, os neurônios podem mudar suas funções, perfil químico e estrutura, o que é essencial para facilitar a recuperação da lesão do SNC.
Essa maleabilidade pode intercorrer por meio de propagação de novos terminações axônicas, da organização dos dendritos e da ativação de sinapses existentes cujas funções estavam bloqueadas por influências inibitórias. Também possibilita a reorganização dos mapas corticais, favorecendo a comunicação neurológica diante de uma alteração específica.
“Tais formas podem ocorrer tanto em estruturas já existentes, que nesse caso se tornarão capazes de exercer funções de outras áreas, como podem estimular células neurais a terem um poder plástico, recompondo conexões úteis e funcionais, permitindo assim que funções desejadas sejam exercidas” (FONSECA, 2008).
CONCLUSÃO
O campo da neurociência avançou muito nos últimos 30 anos, então o velho conceito de que o cérebro é “estático” foi substituído por uma palavra que capta fielmente a enorme adaptabilidade dos circuitos neurais que é a neuroplasticidade. Essa explicação se relaciona com a capacidade dos neurônios de alterar suas funções, organização química e estrutura, o que pode favorecer a recuperação após uma lesão no sistema nervoso central.
O cérebro não é um órgão rígido, mas uma estrutura dinâmica em constante reorganização. Corpo, mente e cérebro são expressões de uma mesma estrutura, assim fenômenos psicológicos também podem se manifestar em processos neurobiológicos. O progresso nas pesquisas em neurobiologia permitiu estabelecer a correlação das funções psicológicas nos aspectos genéticos e cognitivos.
A pesquisa sobre a plasticidade estrutural e funcional mudou e levou a uma compreensão mais profunda do que é possível e alcançável através de várias formas de psicoterapia. Pesquisas apontam que a neuroplasticidade pode alterar a função neuronal, o perfil químico e a estrutura. E a plasticidade do sistema nervoso central ocorre em condições normais ou patológicas nas quais o cérebro se adapta e se reorganiza às mudanças ambientais.
Nesse sentido, o cérebro humano está em constante mudança, mesmo na idade adulta. E as mudanças ocorridas levam a alterações em sinapses individuais, circuitos ou caminhos neurais alternativos. A neuroplasticidade é a habilidade inerente do cérebro de se ajustar a diferentes ambientes e contribuir para o desenvolvimento estrutural do sistema nervoso e a recuperação funcional após uma lesão cerebral.
Estudos têm mostrado que vários graus de complexidade produzem alterações cerebrais nos níveis neuroquímico, neuronal e neuro anatômico. A esse respeito, o presente estudo observou que, embora o cérebro se mostre neuro plástico e se regenere ao longo da vida, precisa-se experimentar novas experiências, pois foi comprovado que, para ocorrerem mudanças, o cérebro precisa ser exposto a estímulos ambientais para que os neurônios sejam ativados e reorganizados.
A maleabilidade do cérebro é fundamental para o bom funcionamento humano, para mudanças na terapia e para transformações nas relações de casais e familiares. No que diz respeito à possibilidade de neuroplasticidade e que a mesma permite alterações, inclusive na terapia sendo importante analisar, de forma mais específica, quais elementos estimulam a neuroplasticidade funcional.
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