REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501280851
Prof. Me. Jackson Rodrigues Damasceno1
Prof. Dr. Vanderson da Silva Costa2
Elaine Crisna Almeida Pereira Vidal3
Lucienne Bezerra Da Costa Vieira3
Maria Edênica Da Silva3
Missilene Francisca Barbosa Da Silva3
Samila Ramos De Alencar3
Prof. Dr. Francisco Cezanildo Silva Benedito4
Introdução: a infância é definida como a fase que abrange desde o nascimento até a adolescência, marcada por mudanças rápidas e fundamentais nas habilidades e nas experiências das crianças. Nesta fase, o desenvolvimento infantil é influenciado por uma interação complexa entre fatores biológicos, ambientais e sociais. Diante disso, o uso de telas durante a infância tornou-se uma realidade cada vez mais presente na vida das crianças contemporâneas, sendo crucial encontrar um equilíbrio que permita às crianças usufruírem dos benefícios tecnológicos sem comprometer seu bem-estar. Objetivo: Caracterizar os prejuízos à saúde da criança relacionados ao uso prolongado de dispositivos eletrônicos na infância. Metodologia: Este estudo foi uma Revisão Integrativa da literatura nas bases de dados LILACS, MEDLINE, SciELO e BDENF, As publicações foram selecionadas com base nos seguintes critérios: acessibilidade (disponíveis online, completas e gratuitas), originalidade, idiomas (inglês, espanhol e português) e período de publicação (entre 2020 e 2024). Foram excluídos artigos duplicados em diferentes bases de dados, revisões, teses, monografias, editoriais, cartas ao editor, documentos de projetos e outros documentos não convencionais. Foi realizada análise descritiva, que permite uma compreensão inicial e detalhada do comportamento dos dados, auxiliando na identificação de padrões, outliers e na formulação de hipóteses para análises mais avançadas, visando produzir inferências a partir dela. Resultados e Discussão: Foram identificadas nos estudos as seguintes variáveis: tempo diário de uso de telas, problemas de visão, qualidade do sono, atividade física, saúde mental, comportamento social, desenvolvimento cognitivo, obesidade infantil e repercussões musculoesqueléticas. Os estudos em conjunto indicam que o uso excessivo de telas na infância não apenas prejudica o desenvolvimento neuropsicológico, como também agrava problemas emocionais, dificultando o desenvolvimento de habilidades essenciais para a comunicação e o bem-estar emocional das crianças. Esses achados destacam a importância de orientar pais e cuidadores a limitar o tempo de tela e a promover atividades que incentivem a interação social, o desenvolvimento de linguagem e habilidades motoras. Considerações finais: Ao reunir evidências de estudos nacionais e internacionais, este artigo destacou a necessidade de ações que orientem pais, educadores e profissionais da saúde sobre a importância de limitar o tempo de tela. Medidas preventivas e estratégias educativas que incentivem o uso saudável e controlado de dispositivos eletrônicos são essenciais para minimizar os impactos negativos no desenvolvimento infantil.
Palavra-chave: Tempo de Tela. Tecnologia; Infância. Desenvolvimento Infantil.
INTRODUÇÃO
A infância é uma fase crucial do desenvolvimento humano, caracterizada por um período de crescimento físico, cognitivo, emocional e social significativo. Tradicionalmente, a infância é definida como a fase que abrange desde o nascimento até a adolescência, marcada por mudanças rápidas e fundamentais nas habilidades e nas experiências das crianças (Gondim et al., 2022).
A infância pode ser dividida em três estágios distintos: a primeira infância (0 a 3 anos), marcada pelo rápido crescimento físico, desenvolvimento sensorial e estabelecimento de vínculos emocionais; a infância intermediária (4 a 6 anos), caracterizada pelo aprimoramento das habilidades motoras, linguísticas e criativas; e a idade escolar (7 a 12 anos), onde as crianças ingressam na escola, desenvolvem habilidades acadêmicas e sociais mais avançadas, e continuam a construir autonomia e identidade pessoal para a transição à adolescência (OPAS, 2017).
Durante a infância, ocorrem marcos importantes no desenvolvimento, incluindo o desenvolvimento motor, linguístico e emocional. É nessa fase que as crianças começam a aprender habilidades básicas, como andar, falar e interagir com os outros. Além disso, os primeiros anos de vida são essenciais para estabelecer as bases para o desenvolvimento futuro, com a infância sendo reconhecida como um período de descobertas e aquisições significativas que moldam as capacidades e competências ao longo da vida adulta (Crespi; Noro; Nóbile, 2023).
Neste sentido, o desenvolvimento infantil é influenciado por uma interação complexa entre fatores biológicos, ambientais e sociais. Os fatores genéticos determinam a base biológica do desenvolvimento, enquanto o ambiente físico e social em que a criança vive desempenha um papel essencial na modelagem de suas experiências e oportunidades de aprendizado (Crespi; Noro; Nóbile, 2023).
Diante disso, o uso de telas durante a infância tornou-se uma realidade cada vez mais presente na vida das crianças contemporâneas. Telas como smartphones, tablets, computadores e televisões oferecem acesso a uma ampla variedade de conteúdos e atividades interativas que podem influenciar significativamente o desenvolvimento e o comportamento infantil. Desde tenra idade, muitas crianças estão expostas a dispositivos eletrônicos, utilizando-os para entretenimento, educação e comunicação. (Puccinelli; Marques; Lopes, 2023). Em 2019, dados revelaram que aproximadamente 89% da população com idades entre 9 e 17 anos eram usuários da Internet, totalizando cerca de 24 milhões de crianças e adolescentes. Dessas, 95% utilizavam o telefone celular como principal dispositivo de acesso à rede (Canaltech, 2020).
Para esse cenário de uso excessivo de telas, são identificados os seguintes determinantes: fatores individuais (idade, gênero, temperamento), familiares (comportamento dos pais, acesso fácil a dispositivos, supervisão parental) e sociais (influências culturais, padrões entre amigos). Assim, levanta-se questões importantes sobre os impactos potenciais do uso extensivo de telas na infância e como isso pode afetar aspectos fundamentais do crescimento, como o desenvolvimento cognitivo, emocional, social e físico das crianças (Puccinelli; Marques; Lopes, 2023).
O uso generalizado de telas na infância apresenta desafios e oportunidades únicas para os profissionais de enfermagem, que podem desempenhar um papel crucial na educação dos pais e cuidadores sobre o uso adequado de telas, orientando sobre limites de tempo e estratégias para um equilíbrio saudável entre o tempo online e offline das crianças. Além disso, os enfermeiros podem colaborar com outros profissionais de saúde para monitorar os impactos do uso excessivo de telas no desenvolvimento infantil e oferecer intervenções preventivas quando necessário (Puccinelli; Marques; Lopes, 2023).
Compreender os determinantes do uso de telas na infância, como fatores individuais, familiares e sociais, também é essencial para os enfermeiros, permitindo-lhes identificar potenciais riscos e adaptar suas intervenções de acordo com as necessidades específicas de cada criança e família. Essa interseção entre o desenvolvimento infantil, o uso de telas e os determinantes associados destaca a importância da abordagem holística e centrada na criança na prática de enfermagem pediátrica, com o objetivo de promover a saúde e o bem-estar das crianças em todas as fases da infância (Gondim et al., 2022).
Considerando que estudos preliminares indicam uma correlação entre o uso prolongado de telas e problemas como obesidade, distúrbios do sono, déficit de atenção, além de dificuldades sociais e comportamentais, ao investigar estes aspectos, a pesquisa fornecerá dados essenciais para pais, educadores e profissionais da saúde, orientando sobre práticas mais saudáveis no uso de tecnologia pelas crianças.
Além disso, em um momento em que a tecnologia é uma parte integral da vida cotidiana, especialmente com o aumento do ensino remoto, é crucial encontrar um equilíbrio que permita às crianças usufruírem dos benefícios tecnológicos sem comprometer seu bem-estar.
Ao identificar os determinantes-chave e os impactos do uso de telas na infância, esta pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento de diretrizes e programas de intervenção direcionados à promoção da saúde e do bem-estar das crianças bem como para o avanço do conhecimento sobre o papel dos profissionais de saúde, especialmente enfermeiros pediátricos, na promoção da saúde infantil em um contexto digitalmente permeado.
Diante do cenário crescente de exposição precoce e prolongada das crianças ao uso de telas e, surge o questionamento crítico sobre os potenciais impactos desse fenômeno no desenvolvimento infantil: Quais são os impactos negativos ocasionados à criança devido a padrões excessivos de uso de telas?
A relevância desta pesquisa reside na sua capacidade de fornecer evidências para profissionais de saúde, pais, educadores e formuladores de políticas interessados em promover um uso saudável e consciente de telas pelas crianças. Ao identificar os determinantes-chave e os impactos do uso de telas na infância, esta pesquisa pode contribuir para o desenvolvimento de diretrizes e programas de intervenção direcionados à promoção da saúde e do bem-estar das crianças.
OBJETIVOS
Realizar uma revisão integrativa sobre os prejuízos à saúde da criança relacionados ao uso prolongado de dispositivos eletrônicos na infância; Identificar os fatores relacionados à exposição prolongada às telas durante a infância; Identificar os riscos inerentes à saúde infantil relacionados ao tempo excessivo de exposição às telas;
METODOLOGIA
Este estudo é uma Revisão Integrativa da literatura, um método de pesquisa que visa alcançar um entendimento profundo de um fenômeno específico, baseando-se em estudos anteriores sobre o tema. Este método permite a síntese de pesquisas publicadas em um único artigo, tornando os resultados mais acessíveis e compreensíveis (Lobo; Rieth, 2021).
Assim, para selecionar os estudos, foram seguidas estas etapas: primeiro, a leitura dos títulos de todos os artigos encontrados; em seguida, a análise dos resumos conforme critérios de inclusão e exclusão; depois, a leitura completa dos artigos selecionados; exploramos seus conteúdos; identificamos e codificamos os elementos emergentes e pertinentes; por fim, apresentamos os resultados organizados em categorias identificadas durante a pesquisa (Ursi; Galvão, 2006).
Para a construção da pergunta norteadora, foi utilizado o acrônimo Patient/population, Intervention or issue of interest, Comparison intervention or issue of interest, Outcomes (PICO), que consiste no estabelecimento de relações estre os descritores a fim de estabelecer um questionamento crítico para ser estudado. No presente estudo, a Estratégia PICO foi elaborada conforme exposto no Quadro 1 (Galvão et al., 2021).
Quadro 1 – Estratégia PICO.
Fonte: própria autoria (2024).
Para a realização desta revisão teórica, foram empregadas ferramentas de busca eletrônica online em diversas bases de dados, incluindo Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Biblioteca Virtual em Saúde Enfermagem (BDENF).
Ao acessar as bases através do portal Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), as autoras inseriram os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Tempo de Tela, “Infância”, “Tecnologia” e “Desenvolvimento Infantil”, cruzados pelo operador booleano AND, formando os seguintes cruzamentos: “Tempo de Tela AND Infância” e “Infância ANDTecnologia”, “Desenvolvimento Infantil AND Tempo de Tela” e “Tempo de Tela AND Infância AND Desenvolvimento Infantil AND Tecnologia”.
Foram excluídos artigos duplicados em diferentes bases de dados, revisões, teses, monografias, editoriais, cartas ao editor, documentos de projetos e outros documentos não convencionais.
Figura 1: Identificação dos estudos por meio das bases.
A coleta de dados foi realizada por meio de um instrumento desenvolvido pelas pesquisadoras, que registrou informações como o título, autores, ano de publicação, número de participantes, faixa etária, metodologia empregada, nível de evidência e malefícios associados. Esses dados foram inseridos em um banco de dados para facilitar o acesso e a utilização. Para classificar os níveis de evidência cientifica, a proposta de classificação apresentada por Melnyk e Fineout-Overholt (2010) foi utilizada evidenciando-se que quanto menor o nível, maior é a força de evidência do estudo.
Foi realizada análise descritiva, que é uma abordagem estatística que visa descrever e resumir os principais aspectos de um conjunto de dados, sem inferir ou generalizar para uma população maior. A análise descritiva permitiu uma compreensão inicial e detalhada do comportamento dos dados, auxiliando na identificação de padrões, outliers e na formulação de hipóteses para análises mais avançadas (Educação, 2022; Ferreira, 2020).
A análise descritiva se fundamenta na comunicação como seu ponto de partida. Ao contrário de outras técnicas, como a estocagem ou indexação de informações, ou até mesmo a crítica literária, a análise descritiva sempre se inicia com a mensagem e visa produzir inferências a partir dela.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram identificadas nos estudos as seguintes variáveis: tempo diário de uso de telas, problemas de visão, qualidade do sono, atividade física, saúde mental, comportamento social, desenvolvimento cognitivo, obesidade infantil e repercussões musculoesqueléticas.
A maioria dos estudos pertencia ao ano de 2021 (43,75%). O ano de 2022 apresentou o segundo maior quantitativo (31,25%). Os anos de 2023 e 2019 indexaram apenas um artigo cada (6,25%). O presente ano foi representado por apenas dois artigos (12,5%). A maioria dos artigos foi realizada com crianças menores de 5 anos em sua totalidade (62,5%).
Com relação ao nível de evidência, 75% foram nível IV, 12,5% do nível III, 12,5% de nível II e nenhuma publicação de nível I. As populações de crianças estudadas em todos os artigos foram significativas. Os estudos transversais e de coorte foram predominantes na pesquisa.
A presente revisão apontou que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos durante a infância tem sido associado a diversos problemas de saúde, incluindo o aumento da prevalência de obesidade. Os estudos de Cartanyà-Hueso, Àurea et al. (2020), Pires, Sofia et al. (2021) e Padmapriya, Natarajan et al. (2018) são exemplos importantes de pesquisas que analisam os efeitos do tempo excessivo de tela sobre o desenvolvimento infantil, com foco particular na obesidade. Essas investigações destacam a correlação entre o tempo de exposição a dispositivos eletrônicos e o aumento do comportamento sedentário, que por sua vez está fortemente relacionado ao risco de obesidade em crianças.
Em Cartanyà-Hueso et al. (2020), os pesquisadores observaram que o uso prolongado de telas pode reduzir a quantidade de tempo que as crianças dedicam a atividades físicas. Isso é particularmente relevante, pois as crianças que passam mais de duas horas diárias em frente às telas apresentam maior probabilidade de desenvolver hábitos alimentares irregulares e de ingerir alimentos menos saudáveis, como “snacks” e alimentos ricos em gordura, devido à influência da publicidade de produtos alimentícios que ocorrem nas plataformas digitais. A diminuição da atividade física e a ingestão de alimentos não saudáveis são fatores críticos que contribuem para o ganho de peso excessivo, um fator central na obesidade infantil (Cartanyà-Hueso et al., 2020).
De forma semelhante, Pires, Sofia et al. (2021) examinaram a relação entre o tempo de tela e a obesidade em crianças de 2 a 14 anos e encontraram uma associação clara entre o uso excessivo de dispositivos eletrônicos e o aumento do risco de obesidade. Eles sugerem que a exposição prolongada a telas substitui o tempo que poderia ser gasto em atividades físicas ao ar livre, como brincadeiras, que são essenciais para o desenvolvimento físico e a manutenção de um peso saudável. Além disso, esses estudos indicam que as crianças expostas a mais de duas horas diárias de telas são mais propensas a desenvolverem padrões de alimentação pouco saudáveis, consumindo mais alimentos processados e bebidas açucaradas, o que contribui para o ganho de peso excessivo. A pesquisa de Pires et al. (2021) é significativa porque utiliza uma abordagem multidimensional, levando em consideração não apenas o comportamento sedentário, mas também os padrões alimentares, para explicar a obesidade infantil.
O estudo de Padmapriya, Natarajan et al. (2018) também corrobora os achados de Cartanyà-Hueso et al. e Pires et al., ao identificar uma relação entre o aumento do tempo de tela e o risco elevado de obesidade infantil. A pesquisa destaca que o comportamento sedentário causado pela exposição excessiva a dispositivos eletrônicos reduz a atividade física e promove o sedentarismo, um dos principais determinantes da obesidade. Além disso, os autores observam que as crianças que passam longas horas diante das telas podem se tornar mais propensas a distúrbios no comportamento alimentar, como comer por tédio ou em excesso, o que favorece o aumento de peso. A pesquisa também sublinha que as interações sociais e familiares tendem a ser prejudicadas quando o tempo é dedicado a dispositivos eletrônicos, o que pode levar a um padrão de vida menos saudável e mais voltado ao consumo excessivo de calorias.
Diante dos achados, se observa que a obesidade infantil tem se tornado uma preocupação crescente, e a literatura científica aponta para um conjunto de fatores relacionados ao uso excessivo de telas que contribuem para esse problema. LeBlanc et al. (2017) reforçam que o aumento da exposição a telas está associado a um risco aumentado de obesidade, especialmente em crianças pequenas. Eles sugerem que é crucial limitar o tempo de tela, não apenas para reduzir o comportamento sedentário, mas também para promover melhores hábitos alimentares e mais atividades físicas.
Tremblay et al. (2011), por sua vez, destacam que o tempo de tela deve ser monitorado de forma rigorosa em crianças de 2 a 5 anos, já que esse é um período crítico para o desenvolvimento de hábitos saudáveis. Segundo Tremblay et al., a substituição de atividades físicas por comportamentos sedentários pode ter efeitos duradouros no peso corporal das crianças, além de impactar negativamente o seu desenvolvimento cognitivo e emocional.
Estudos como o de Biddle et al. (2019) também sugerem que as crianças que passam muito tempo diante das telas têm menos oportunidades de se engajar em atividades ao ar livre, como brincadeiras físicas, o que por sua vez contribui para o sedentarismo e a obesidade. Esse sedentarismo não só impede que as crianças gastem energia, mas também afeta negativamente a função metabólica, promovendo o armazenamento de gordura no corpo.
A obesidade infantil, portanto, é uma consequência multifatorial, e o uso excessivo de telas parece ser um fator chave para o desenvolvimento dessa condição. O tempo excessivo de tela contribui para a redução da atividade física, influenciando o comportamento alimentar, o que aumenta o risco de obesidade. Esses resultados são consistentes com os achados de Cartanyà-Hueso, Àurea et al. (2020), Pires, Sofia et al. (2021), Padmapriya, Natarajan et al. (2018), além de outros autores que analisaram os efeitos negativos do tempo de tela sobre a saúde física e comportamental das crianças.
Diante disso, para mitigar os riscos de obesidade associados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos, é essencial estabelecer diretrizes claras para o tempo de tela, promover atividades físicas regulares e educar os pais sobre os perigos do comportamento sedentário excessivo.
Para além disso, levando em consideração a análise dos impactos do uso de telas sobre o desenvolvimento infantil e problemas emocionais, os estudos também revelaram que o uso excessivo de dispositivos eletrônicos em crianças pequenas está significativamente associado a atrasos no desenvolvimento, incluindo habilidades cognitivas, de linguagem e sociais, além de contribuir para problemas emocionais.
O estudo de Takahashi et al. (2023) analisou o uso de telas em crianças de 1 ano e observou um impacto negativo no desenvolvimento das habilidades de comunicação e na resolução de problemas aos 2 e 4 anos de idade. Este estudo destacou que a exposição prolongada a telas nessa fase crucial do desenvolvimento afeta o engajamento da criança em atividades essenciais para a aprendizagem e a socialização, como a interação verbal e a brincadeira física, resultando em um aumento nos atrasos nessas áreas.
Pons et al. (2022), que conduziram um estudo comparativo sobre o uso recreativo de telas em crianças com transtornos de neurodesenvolvimento, confirmaram que a exposição prolongada a telas, exacerba os déficits cognitivos e emocionais já presentes nesses indivíduos. A pesquisa mostrou que crianças com diagnóstico de transtornos de neurodesenvolvimento, como o autismo e o TDAH, apresentavam mais dificuldade em manter o foco, em regular as emoções e em desenvolver habilidades sociais, com o uso de telas contribuindo para o agravamento desses sintomas.
Já o estudo de Li et al. (2021), realizado durante a pandemia de COVID-19, investigou o impacto do uso de telas na saúde mental de crianças e jovens no Canadá, e encontrou uma correlação entre o aumento do tempo de tela e sintomas de ansiedade e depressão. Os achados sugerem que a falta de interações presenciais e o uso de dispositivos como única fonte de entretenimento e socialização podem prejudicar o bem-estar emocional de crianças e adolescentes, exacerbando sintomas de solidão e desregulação emocional.
Paulich et al. (2021) também abordaram os efeitos do tempo de tela em crianças de 9 a 10 anos, enfatizando o impacto negativo no desenvolvimento acadêmico, social e emocional. Os resultados sugerem que o uso excessivo de telas afeta as habilidades de controle emocional e de interação social, com consequências negativas para o desempenho escolar e para o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais saudáveis.
No estudo de McArthur et al. (2022), observou-se que crianças em idade pré-escolar expostas a telas por períodos prolongados apresentaram atrasos no desenvolvimento comportamental e social. O uso excessivo de telas comprometeu o desenvolvimento de habilidades de autocontrole e cooperação, fundamentais para a socialização e o sucesso escolar.
Rocha et al. (2021) corroboram esses achados com um estudo populacional realizado no Ceará, Brasil, onde o uso de telas foi associado a atrasos no desenvolvimento infantil, especialmente em famílias de baixa renda. Esses atrasos foram evidentes em áreas como linguagem e habilidades motoras, o que sugere que o tempo de tela reduz o tempo dedicado a atividades de interação e exploração do ambiente, essenciais para o desenvolvimento infantil.
Outro estudo relevante é o de Van den Heuvel et al. (2019), que encontrou uma relação entre o uso de dispositivos móveis e atrasos na linguagem expressiva em crianças de 18 meses. A exposição a telas interferiu na aquisição de vocabulário e na capacidade de expressão verbal das crianças, o que pode impactar a comunicação e o desenvolvimento social a longo prazo.
Esses estudos em conjunto indicam que o uso excessivo de telas na infância não apenas prejudica o desenvolvimento neuropsicológico, como também agrava problemas emocionais, dificultando o desenvolvimento de habilidades essenciais para a comunicação e o bem-estar emocional das crianças. Esses achados destacam a importância de orientar pais e cuidadores a limitar o tempo de tela e a promover atividades que incentivem a interação social, o desenvolvimento de linguagem e habilidades motoras.
5 CONCLUSÃO
A presente pesquisa reforçou a crescente preocupação com os malefícios do uso excessivo de dispositivos eletrônicos para a saúde infantil, destacando os impactos negativos no desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças. O tempo de tela prolongado, especialmente na infância, tem sido associado a uma série de problemas de saúde, como obesidade, atrasos no desenvolvimento da linguagem, dificuldades de socialização, instabilidade emocional e até sintomas de ansiedade e depressão. Esses efeitos prejudiciais são agravados em crianças pequenas e naquelas que já apresentam vulnerabilidades, como transtornos do espectro autista ou dificuldades de comportamento.
Ao reunir evidências de estudos nacionais e internacionais, este artigo destaca a necessidade de ações que orientem pais, educadores e profissionais da saúde sobre a importância de limitar o tempo de tela. Recomenda-se que os responsáveis estimulem atividades que promovam o desenvolvimento motor, a interação social e o fortalecimento das habilidades emocionais e cognitivas, como brincadeiras ao ar livre, leitura e jogos interativos sem o uso de telas.
Para futuras pesquisas, é relevante explorar intervenções eficazes para reduzir o tempo de tela entre crianças e investigar os efeitos de diferentes tipos de conteúdo digital, considerando a qualidade e o contexto de uso. O conhecimento aprofundado sobre as consequências do uso excessivo de telas pode embasar políticas públicas e diretrizes voltadas à promoção de uma infância saudável e equilibrada, prevenindo problemas de saúde de curto e longo prazo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações finais desta pesquisa enfatizam a urgência de uma abordagem interdisciplinar para enfrentar os desafios associados ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos por crianças. É imprescindível que famílias, escolas e profissionais da saúde atuem de forma colaborativa, adotando práticas que priorizem o bem-estar integral infantil.
Além disso, a conscientização sobre os malefícios do tempo de tela e a valorização de atividades que promovam o desenvolvimento holístico das crianças são passos fundamentais para construir uma base sólida para a saúde e o aprendizado futuros. Assim, este estudo contribui para o fortalecimento do diálogo sobre a saúde infantil em um mundo cada vez mais digitalizado.
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1 – Mestre em Enfermagem – Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Docente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Paulista – Fortaleza-ce. Docente do curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual do Ceará.
2 – Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos – Universidade Federal do Ceará. Docente do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Paulista – Fortaleza-ce.
3 – Acadêmica do 8º semestre do curso de graduação em Enfermagem da Universidade Paulista – Fortaleza-ce.
4 – Doutor em Ciências Morfofuncionais – Universidade Federal do Ceará.