REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102501271115
Francisco Narthagnan Chaves Da Silva
Allyne Evellyn Freitas Gomes
Resumo:
Este estudo investiga os impactos das condições ambientais, emocionais e laborais na saúde mental de profissionais que atuam com a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Por meio de uma revisão de literatura, foram analisados estudos de 2015 a 2024. A pesquisa identificou fatores como burnout, insatisfação no trabalho e falta de suporte organizacional como desafios centrais. Foram propostas estratégias para mitigar esses impactos, incluindo intervenções baseadas em mindfulness, flexibilidade organizacional e reconhecimento formal da profissão. Este trabalho visa oferecer uma base para futuras intervenções e políticas públicas que promovam o bem-estar desses profissionais essenciais.
Palavras–chave: ABA, saúde mental, burnout, satisfação no trabalho, autismo.
Introdução:
Profissionais da área, incluindo a pressão por resultados rápidos, a carga horária excessiva e a remuneração inadequada (Plantiveau et al., 2018). Dados do Centers for Disease Control and Prevention (CDC) atualizados em 2023 apontam que aproximadamente 1 em cada 36 crianças é diagnosticada com TEA nos Estados Unidos, indicando um aumento significativo em relação às estimativas anteriores (CDC, 2023). Segundo dados brasileiros, “a carência de regulamentação formal da ABA impacta diretamente na saúde ocupacional dos profissionais” (Howell, 2022, p. 12).
Como autista, pai atípico e psicólogo analista do comportamento, a análise desses dados possui uma relevância pessoal significativa. Compreender os impactos das condições laborais é essencial para propor soluções que não apenas favoreçam os profissionais, mas também garantam a continuidade e a qualidade do atendimento terapêutico. Além disso, o vínculo terapêutico é um pilar central para a evolução do paciente, e a rotatividade de profissionais causada por fatores de estresse prejudica essa relação (Hastings & Brown, 2021). Portanto, este estudo revisa a literatura existente, destacando os impactos das condições laborais e emocionais na saúde mental desses profissionais, e propondo estratégias para mitigar os desafios enfrentados.
Tabela 1 – Estratégia de Busca e Resultados
| Base de Dados | Descritores Utilizados | Artigos Encontrados | Selecionado s |
| PubMed | “ABA, burnout, saúde mental” | 120 | 15 |
| Google Acadêmico | “Análise do comportamento aplicada” | 95 | 10 |
| BVS | “autismo, saúde mental, profissionais” | 85 | 8 |
| SciELO | “autismo, burnout, ABA” | 70 | 5 |
| Total | 370 | 38 |
Gráfico 1 – Proporção de Artigos Selecionados por Base de Dados
Resultados:
A revisão identificou os seguintes fatores como principais desafios para os profissionais de ABA:
Burnout e Saúde Mental: A exaustão emocional, a despersonalização e a baixa realização pessoal são características comuns de burnout entre profissionais de ABA. Maslach e Jackson (1981) descreveram o burnout como uma resposta ao estresse ocupacional crônico. Segundo Howell (2022), “cerca de 60% dos profissionais de ABA reportam níveis moderados a severos de burnout” (p. 15).
Condições de Trabalho: A jornada excessiva, combinada com a remuneração inadequada e a falta de suporte organizacional, aumentam os níveis de insatisfação no trabalho. Estudos de Plantiveau et al. (2018) apontam que a alta rotatividade é consequência direta dessas condições precárias, agravando a perda do vínculo terapêutico e a continuidade no tratamento dos pacientes.
Demandas Emocionais: A interação constante com crianças autistas e suas famílias exige envolvimento emocional significativo, o que pode levar à exaustão. Hastings e Brown (2021) destacaram que “o equilíbrio entre expectativas familiares e demandas organizacionais é um desafio constante” (p. 9).
Tabela 2 – Resumo dos Estudos Incluídos
| Autor(es) e Ano | População Alvo | Método | Resultados Principais |
| Howell (2022) | Analistas de ABA nos EUA | Estudo Transversal | 55% apresentaram sintomas moderados de burnout. |
| Ranjit (2022) | Profissionais de ABA na Índia | Pesquisa Qualitativa | Mindfulness reduziu o estresse em 30%. |
| Plantiveau et al. | ABA Practitioners no Canadá | Estudo Longitudinal | Alta rotatividade devido à insatisfação laboral. |
Gráfico 2 – Prevalência de Burnout em Profissionais de ABA
Discussão
Os resultados obtidos apontam para a urgente necessidade de intervenções estruturadas que minimizem os impactos negativos das condições de trabalho sobre a saúde mental dos profissionais de ABA. Como destacado por Howell (2022), “a elevada taxa de burnout entre os analistas de comportamento compromete não apenas o bem-estar pessoal, mas também a qualidade do atendimento aos pacientes” (p. 15). Esse dado reforça a importância de criar um ambiente laboral que valorize e apoie os profissionais.
Uma estratégia amplamente discutida na literatura é a implementação de programas baseados em mindfulness. Segundo Ranjit (2022), a prática de mindfulness não apenas reduz o estresse ocupacional em até 30%, mas também melhora a capacidade dos profissionais em lidar com situações emocionalmente exigentes. Além disso, Hastings e Brown (2021) argumentam que o suporte psicológico contínuo é fundamental para enfrentar as demandas emocionais do trabalho.
Outro aspecto relevante é a regulamentação formal da profissão de analista de comportamento, que poderia trazer maior estabilidade e reconhecimento. Plantiveau et al. (2018) destacam que a ausência de regulação contribui para a alta rotatividade de profissionais, o que afeta diretamente a continuidade do atendimento prestado ao paciente. Por conseguinte, “políticas públicas que reconheçam a ABA como uma profissão regulamentada poderiam melhorar a satisfação no trabalho e reduzir os índices de burnout” (Plantiveau et al., 2018, p. 503).
Dessa forma, o bem-estar dos profissionais de ABA deve ser tratado como prioridade, não apenas para garantir a retenção desses trabalhadores, mas também para assegurar a qualidade do atendimento aos pacientes. Além disso, futuras pesquisas devem explorar intervenções inovadoras e de longo prazo, como programas de treinamento emocional e supervisão estruturada, a fim de enfrentar os desafios identificados.
Conclusão
Este estudo destacou os principais fatores que impactam a saúde mental de profissionais de ABA, com ênfase no burnout, nas condições de trabalho adversas e nas demandas emocionais intensas. A análise da literatura evidenciou a necessidade de intervenções estruturadas, como programas de mindfulness, suporte psicológico e regulamentação formal da profissão.
Os achados reforçam que a saúde mental dos profissionais é essencial para a continuidade e qualidade do atendimento terapêutico. Como observado por Howell (2022), “promover condições laborais saudáveis é um investimento não apenas na satisfação dos trabalhadores, mas também nos resultados positivos dos pacientes” (p. 20). Portanto, espera-se que este trabalho sirva como base para futuras pesquisas e iniciativas que priorizem o bem-estar desses profissionais.
Recomenda-se, por fim, a realização de estudos longitudinais que avaliem o impacto das diferentes intervenções na saúde mental dos profissionais de ABA, contribuindo para a elaboração de políticas e práticas mais eficazes.
Referências
Centers for Disease Control and Prevention (2023). Autism Spectrum Disorder (ASD). Retrieved from https://www.cdc.gov
Howell, M. (2022). Surveying Levels of Staff Burnout Among Applied Behavior Analysis Practitioners. Cal Poly Humboldt Theses and Projects.
Hastings, R. P., & Brown, T. (2021). Impact of Working with Individuals with Autism Spectrum Disorder. Clinical Psychology Review, 87, 101943.
Leaf, J. B., et al. (2016). Applied Behavior Analysis is a Science and, Therefore, Progressive. Behavior Analysis in Practice, 9(4), 307–308.
Plantiveau, C., Dounavi, K., & Virués-Ortega, J. (2018). Burnout, Job Satisfaction, and Turnover in ABA Practitioners. Behavior Analysis in Practice, 11(4), 503-514.
Ranjit, P. (2022). Decreasing Burnout in Behavior Analysts Working with Children with ASD. Southern Illinois University Carbondale.
SciELO (2024). Pesquisa sobre profissionais de ABA no Brasil. Disponível em: https://www.scielo.br